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Reserva Indígena do Parque do Jaraguá

Comunidade em preto e branco Visita a reserva indígena do Parque do Jaraguá

Em visita a reserva indígena do Parque do Jaraguá, realizada em 01/05/1999, pela turma da sétima série do Ensino Fundamental da EE Professora Marilena Piumbato Chaparro, Parque Anhanguera – São Paulo/SP, sob orientação das professoras Aldenira Pinto Silva, Elaine Cristina Pontelli, Marcia Sirelli dos Santos Igarashi e Marisa de Lourdes Silva Bueno, foi dado inicio ao projeto de pesquisa sobre população indígena na cidade de São Paulo.

A entrada da reserva localiza-se na Estrada Turística do Jaraguá, no número 3860/3750, o local da reserva é hostil, impróprio para a realização de atividades agrícolas, as margens de um Igarapé nascido no Pico Jaraguá. Vivendo em harmonia com os índios há diversos animais entre eles: quati, esquilos, etc. Ao chegarmos, fomos recebidos pelo Sr. Isaque Karaí Mirim, que nos relatou alguns fatos referentes ao histórico da tribo.

O Pai (do índio Karaí Mirim), veio do Rio Grande do Sul trazido pelo Marechal Rondon para região de cidade Dutra, onde hoje é um bairro residencial, vivia da venda de artesanato em feiras livres. Uma pessoa trouxe-o para trabalhar como caseiro no local da atual reserva. Durante a administração do então governador André Franco Montoro, as terras indígenas do Estado de São Paulo foram demarcadas, desde então existe oficialmente a Reserva Indígena do Parque do Jaraguá.

O grupo vive de doações, da venda de artesanatos e de trabalhos esporádicos. Diversas famílias residem no local, sendo que apenas alguns adultos trabalham, em atividades de “branco”, como relatou Karaí Mirim. Quando morre alguém, segundo costumes do grupo, ocorre uma cerimônia de despedida, pois mesmo que haja a morte física, a “mente” continua viva. O corpo é levado para o cemitério indígena mais próximo, no caso dessa reserva, os mortos seguem para a aldeia de Parelheiros, um bairro existente na cidade de São Paulo. Existem no estado de São Paulo 14 tribos guaranis, sendo que na Capital há três. Duas em Parelheiros e uma reserva no Pico do Jaraguá

Na reserva tem um pequeno lago do qual Karaí Mirim e seu povo pretendem usar para a criação de peixes. A água que abastece o lago nasce sob a raiz de uma das árvores que o rodeiam. O consumo de água potável é feito através da SABESP (Empresa de Saneamento Básico de São Paulo). Karaí Mirim divulga os artigos artesanais que a tribo produz, um CD e a cultura guarani em escolas, com a finalidade de conscientizar através da informação as pessoas em geral e manter vivas as tradições culturais guaranis. Algumas tribos de São Paulo elaboraram canções em sua língua para um Compact Disk (CD), atualmente compõem novas canções para o lançamento de outro CD.

Diversas tribos sobrevivem nas regiões mais urbanizadas do Brasil, principalmente na região Centro-sul, sem disporem de recursos suficientes para a sua manutenção. Basta citarmos o ocorrido no estado de Minas Gerais há anos atrás, quando diversos membros de uma tribo, cometeram suicídio por não ter o que comer. Pois, não tinham lugar suficiente para produzir os alimentos necessários para sua subsistência, e viviam as margens de uma sociedade que os rejeitava como força de trabalho e como cidadãos. Assim como todos os remanescentes da população indígena que vive nas regiões mais urbanizadas do país. A comunidade visitada no Pico vive de doações e recursos fornecidos por grupos solidários. A elite, utilizando seu poder de controle sobre os meios de comunicação, prepara uma grandiosa festa para comemorar a invasão ocorrida há 500 anos, esquecem de chamar para a comemoração os verdadeiros donos dessa terra.

– Será vergonha!

O grupo indígena da reserva do Pico do Jaraguá enfrenta dificuldades, como preconceitos, insuficiência de recursos estruturais, materiais e financeiros. Isso a alguns quilômetros do maior centro financeiro da América Latina, próximo de comemorarmos os 500 anos de ocupação européia do continente americano.

Contribuição para a Comunidade Indígena da Reserva do Pico do Jaraguá. Endereço: Estrada Turística do Jaraguá, 3860/3750. Aceita-se – emprego, cesta básica, respeito e educação.

http://members.nbci.com/m_bueno/indio.htm



O Indio na Cidade

Crime contra Índio Pataxó comove o país

Dois dias depois de receber de braços abertos a marcha pacífica e heróica dos Sem Terra, a Capital do País está chocada com o ato monstruoso de cinco jovens de classe média alta contra um indígena indefeso, poucas horas após o "Dia do Índio".

Galdino Jesus dos Santos, 44, Pataxo Ha-Ha-Hae da área indígena Caramuru / Paraguassu, sul da Bahia, chegou a Brasília, DF, na manhã do dia 18 último. Participava de uma delegação junto a outras sete lideranças daquele povo para, com o auxílio do Secretariado Nacional do Cimi, dialogar com autoridades do poder público a respeito da grave situação da sua terra indígena. A delegação Pataxó passou a tarde de sexta-feira reunida com a assessoria jurídica do Cimi, programando os contatos que seriam feitos na semana seguinte, após o feriado de 21 de abril.

Galdino estava orgulhoso. Afinal, Gerson - um de seus companheiros de delegação, participou da comitiva de convidados do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) da audência com o presidente da República, Fernando Henrique Cardoso. Provavelmente, aproveitariam os dias de folga na cidade para visitar o acampamento do movimento, trocar idéias e informaõees sobre suas experiências na luta pela terra.

Em mais um triste "Dia do Índio", Galdino saiu `a noite com outros indígenas para uma confraternização na Funai. Ao voltar, perdeu-se nas ruas de Brasilia e chegando tarde `a pensão onde estava hospedado foi impedido de entrar no local. Cansado, sentou-se num banco de parada de ônibus e adormeceu.

Às 5 horas da manhã, Galdino acordou ardendo numa grande labareda de fogo. Um grupo "insuspeito" de cinco jovens de classe média alta, entre eles um menor de idade, residentes no Plano Piloto da Capital Federal, parou o veículo na avenida W/2 Sul e, enquanto um manteve-se ao volante, os outros quatro dirigiram-se até a avenida W/3 Sul, local onde se encontrava a vítima. Logo após jogar combústivel, atearam fogo no corpo. Foram flagrados por outros jovens corajosos, ocupantes de veículos que passavam no local e prestaram socorro `a vítima. Os criminosos foram presos e conduzidos `a 1ª. Delegacia de Polícia do DF onde confessaram o ato monstruoso. Ai', a estupefação: os jovens "queriam apenas se divertir" e "pensavam tratar-se de um mendigo, não de um índio", o homem a quem incendiaram.

Levado ainda consciente para o Hospital Regional da Asa Norte - HRAN, Galdino, com 95% do corpo com queimaduras de 3º grau, faleceu `as 2 horas da madrugada de hoje.

Neste mundo "civilizado" das grandes cidades brasileiras, as elites parecem insistir na velha máxima do general Kuster, matador de índios no século passado nos Estados Unidos, que se adaptada a este caso exclamaria: "mendigo bom é mendigo morto". Os jovens monstros de Brasília parecem ter aprendido bem a lição. Erraram apenas num "detalhe": aquele homem, humildemente vestido, de sandália havaiana e que ali dormia, não era um mendigo, mas um importante membro de uma comunidade indígena que estava na cidade para uma missão especial.

Este homem dormia num banco ao relento por puro descaso do orgão indigenista oficial (Funai), que não lhe proporcionou o abrigo e a proteção devidos contra os perigos do meio urbano, aos quais não estava acostumado. Descaso também do poder público por não ter garantido a efetivação dos direitos territoriais do seu povo, com a qual não teria sido necessaria a sua viagem.

Galdino não veio `a Brasília passear, nem mendigar. Veio para tratar da grave situação em que vive sua comunidade, exposta a toda sorte de violências causadas pela permanencia de invasores de suas terras, muitos deles membros da elite rural para quem "índio bom é índio morto". Por isso assassinaram o líder Joao Cravim, seu irmão, dez anos atrás, num crime ainda impune, bem como tantos outros Pataxoó Ha-Ha-Hae, nestes mais de vinte anos de conflitos pela posse da terra com fazendeiros do gado e do cacau. Também por descaso e por omissão, morrera, como ainda morrem boa parte das crianças da comunidade, vítimas inclusive da sede, ja que fazendeiros invasores lhes impedem o acesso `a água potável - reservada ao gado de sua propriedade.

Por tudo isso, Galdino de Jesus estava na Capital Federal reivindicando o cumprimento do dever constitucional da União Federal de proteger e fazer respeitar os direitos territoriais e a integridade física e moral das comunidades indígenas e seus membros.

Muitos são os indígenas que, a exemplo de Galdino e seus parentes, vem a Brasília e outras cidades imbuidos desta missão de falar em nome de seu povo, com a esperança de verem o poder público voltar a atenção para os problemas de suas comunidades. Reivindicam demarcações de terra, desintrusamento, justiça, assistência `a saúde, educação e subsistência. Tudo aquilo que o governo federal tem lhes negligenciado. Nas cidades, ficam expostos `a violência praticada no mundo "civilizado" e "moderno": assassinatos, atropelamentos, assaltos, roubos, estupros. Segundo o último relatório de Violência Contra os Povos Indígenas, publicado pelo Cimi, nos últimos três anos 118 índios foram assassinados. Galdino foi queimado vivo. Não poderá mais expor os problemas de seu povo aos representantes do poder público, como havia planejado.

Parte deixando um recado: para as elites economicas e políticas deste país não ha lugar neste mundo para os pobres e humildes, sejam índios ou mendigos.

Profundamente consternado e chocado com a monstruosidade que assistiu no dia de ontem, o Cimi vem expressar aos Pataxo Ha-Ha-Hae e a todos os povos índigenas do país a solidariedade e compromisso de não deixar impune mais um crime.

Assassino "bom" é assassino condenado e preso. Pena máxima para os monstros incendiários de Brasília.

Brasília-DF, 21 de abril de 1997. Conselho Indigenista Missionário - Cimi

http://www.sindicato.com.br/artigos/cimi.htm