Maria Conceição Monteiro
Universidade Federal Fluminense
Resumo:
O texto provoca o encontro e o confronto entre Moll Flanders, uma heroína criminosa que circula em um mundo marginal de roubo e prostituição, e Lucíola, que foi obrigada a marginalizar-se como prostituta. As obras, embora identificadas pela temática, mantêm entre si uma divergência no modo de tratar o problema da mulher estigmatizada pela ordem social.
Palavras-chave: Literatura Comparada, Gênero
Abstract:
The text stimulates the encounter and confrontation between Moll Flanders and Lucíola. The former is a criminal heroine who circulates in a marginal world of theft and prostitution, whereas the latter is forced to become a prostitute. Although these texts can be identified thematically, they differ in the treatment given to women who are stigmatized by the social order.
Keywords: Comparative Literature, Genre, Gender
Moll Flanders (1722) é uma heroína criminosa que circula num mundo marginal de roubo e prostituição. Esse fato se deve principalmente a uma crescente ideologia individualista na sociedade inglesa do séc. XVIII, período de florescimento da indústria manufatureira e de crescimento das cidades, onde nem todos têm chance de obter sucesso.
Moll, como produto do sistema acima referido, se julga no direito de usufruir de uma posição econômica e social digna, e para atingir esse fim se utiliza de todos os recursos disponíveis. Torna-se na verdade, uma metáfora do conflito moral entre fins e meios que se instala na sociedade em que vive.
Observa-se em Moll Flanders que a heroína se beneficia do individualismo econômico apesar de ter consciência de que seu modo de agir constitui uma transgressão das leis em vigor. Pela atividade criminosa em que se envolve, Moll é suscetível de enforcamento, pena aplicada à sua própria mãe, de cujo crime ela nos fala:
"... minha mãe foi acusada de felonia por um roubo insignificante que nem vale a pena mencionar... obteve o favor de ser transportada para as plantações, e me deixou com 6 meses de idade em más mãos". (p. 2)
Moll, também, por ter roubado ' duas peças de brocado de seda', tem o mesmo destino da mãe.
A vida de Moll, de uma certa forma não lhe pertence; é jogada na vida delinqüente pela própria sociedade que a gerou. O mesmo cerceamento de liberdade pode ser observado nas páginas de Lucíola, romance alencariano, escrito em 1862. Eis o que diz Lúcia, a protagonista da obra: "esqueci-me que, para ter o direito de vender o meu corpo, perdi a liberdade de dá-lo a quem me aprouver. O mundo é lógico!". (p. 382). Também Moll Flanders gostaria de ter o direito de escolha do seu homem, alguém de quem gostasse e com quem pudesse se assentar na vida, mas o que a faz decidir com quem ficar é a sua condição financeira.
Por outro lado, Moll é diferente de Lúcia. A primeira, embora ame um dos maridos, deixa-o por um outro que lhe acena com um futuro mais promissor. Ela é afetuosa mas não é sentimental. Lúcia, entretanto, é capaz de renunciar a toda uma condição de vida e dedicar-se ao homem que ama, porém sem tê-lo. E como é impossibilitada de tê-lo, pelas leis que regem o sistema, ela opta por conhecer a si mesma. Ela se desprende do dinheiro, o que marca o início do seu processo de regeneração.
Tanto o romance de Defoe, Moll Flanders, quanto o de Alencar, Lucíola, são narrativas feitas em primeira pessoa. No primeiro, todavia, é a própria protagonista quem narra em tom de confissão, enquanto no segundo a narrativa é feita pela boca de um homem, Paulo, que desvenda os mistérios de Lúcia e desvela a sua alma.
Apesar de terem histórias diferentes, são também levadas por circunstâncias diferentes a mundos similares. Moll Flanders nasce no mundo do crime. Aos 3 anos chega com alguns marginais, que poderiam ter sido boêmios ou ciganos, à paróquia de Colchester de onde é encaminhada à casa de uma senhora que era encarregada de educar crianças. Com essa senhora vem a aprender trabalho de agulha e de fiar lã, que era a principal indústria dessa cidade, e o que lhe garante o sustento. Essa casa representa para Moll, então Mrs. Betty, a chance de passar de um mundo clandestino para um mundo do trabalho.
Morre a senhora e Moll vai trabalhar em casa de família, onde observa:
aqui tinha todas as vantagens para uma educação que imaginara. A senhora tinha tutores para suas filhas que lhes ensinavam dança, falar francês e escrever, e outros que lhes ensinavam música. Como estava sempre com elas, aprendia tão depressa quanto elas"(p. 11).
A narrativa nesse momento começa a mudar: "até aqui foi fácil contar a minha história" (p. 12). A mudança na narrativa é conseqüência da mudança no estilo de vida que começa e que ela própria confessa: "a minha vaidade foi a causa da minha perdição" (p. 13). Com o que viria concordar Machado de Assis em D. Casmurro (1899): "a vaidade é um princípio de corrupção" (Assis, 1958: 828).
Daí por diante nos deparamos com uma protagonista para quem a transgressão social torna-se o meio de atingir a sua independência econômica. Antes de ingressar no mundo do roubo, Moll casa-se várias vezes (muda o nome, passa a chamar-se Moll Flanders), uma delas com o próprio irmão, incesto este que só descobre na América depois de já ter tido 3 filhos. No mundo do roubo é presa e condenada à morte, mas consegue ser deportada graças a um padre que lhe arranja um indulto. Viaja para a Virgínia com o 5o marido, James, que reencontrara na prisão e que é também deportado. Lá revê o filho. Recebe a herança que a mãe lhe havia deixado e reorganiza a sua vida na Carolina. Depois volta à Inglaterra e conta a sua história.
Moll é prisioneira da situação imediata, por ser mulher objetiva. Ao longo da obra opta por contar sua história numa narrativa prática e moralista como forma de estilo. Em tom de confissão, Moll Flanders usa a primeira pessoa para narrar o percurso de uma mulher das classes subalternas em busca da sobrevivência e da ascensão social. A inconsistência moral observada no romance deve-se, a princípio, ao distanciamento temporal entre o estado da mente na hora da ação e o estado da mente no momento em que a registra. Moll revela a sua vida passada como parte de uma etapa já superada que se tornara objeto de reflexão. Por outro lado, temos a narradora-personagem que desnuda a própria vida no mundo marginal; por outro, esse discurso é posterior ao arrependimento da ex-prisioneira de Newgate.
Lúcia, ao contrário de Moll, vive numa sociedade cuja produção é agrícola e baseada no trabalho escravo. Ela é obrigada a prostituir-se a fim de arranjar dinheiro
para ajudar a família que sofrera uma epidemia . Aos 14 anos de idade, quando ainda ignorava o que era a honra e virtude de mulher e desde que os seus véus se despedaçaram, passa a não sentir nada mais,"nada, senão o contato frio das moedas que encerrava na minha mão crispada" (p. 436).
Moll atribui seu ingresso no mundo marginal à necessidade de satisfazer sua vaidade, o que pode ser comprovado pelo fato de que mesmo com dinheiro suficiente para desistir do mundo do crime, não encontra forças para resistir à sedução que este tem sobre ela:
É evidente para mim, que quando uma vez nos tornamos insensíveis ao crime, nenhum medo nos afeta, nenhum exemplo pode nos servir de advertência (p. 201).
Tanto em Defoe quanto em Alencar existe uma grande preocupação em relação aos padrões morais de suas épocas. Defoe mostra em Moll Flanders a luta do indivíduo contra a sociedade e encobre este fato com uma camada moralizadora. O autor reintegra sua heroína à sociedade através da sua dedicação ao trabalho e à vida honesta. O arrependimento de Moll é condição suficiente para a sua reintegração social. Todavia, isto só acontece quando Moll é confrontada com a punição máxima, que é a própria morte.
Releva notar, porém, que o romance apresenta uma desunidade moral. No prefácio do livro, Defoe mostra que "não existe em nenhuma parte da estória, uma ação perversa que não tenha redundado em infelicidade ou infortúnio." A narrativa, contudo, não confirma a idéia de que é preciso pagar pelo vício e de que o crime não compensa. O grande conflito do autor reside exatamente em não permitir que a sua heroína caia em desgraça, a qual seria fazer trabalho doméstico! Em todas as situações que vive, quer seja como esposa, adúltera, prostituta ou ladra, Moll é bem sucedida e mesmo na perda consegue salvar parte de seus ganhos ilícitos.
A moral que emerge sugere que a honestidade pode não ser a melhor política: se a pessoa quiser viver de um modo digno, o crime como forma de empreendimento pode ser mais efetivo do que a costura. Essa perspectiva material grosseira é revelada na cena de transformação moral que ocorre quando Moll revela ao marido toda a riqueza legada por sua mãe:
Os cavalos, porcos, vacas e outras provisões para nossas plantações; tudo isso acrescentou para sua surpresa e encheu seu coração de agradecimento; e desse momento em diante acredito que tornou-se sincero e penitente, e tão completamente um homem reformado, quanto a bondade de Deus resgatou um homem imoral, salteador e ladrão (p.324).
O que Defoe deixa de avaliar é a moralidade mercantil da qual o romance parece ser um exemplo.
Em Lucíola observa-se também a necessidade que tem Alencar de usar a literatura como uma representação da realidade, ou seja, uma "denúncia de corrupção dos costumes que ele via desembarcar ao lado do progresso" (Marco, 1986:186).
O romance de Alencar mostra a rigidez dos padrões sociais. Uma cortesã não tem direito à realização pessoal, pois o seu pecado é mortal. Por outro lado, o fato que leva Lúcia a prostituir-se é uma epidemia. Aqui Alencar deixa escapar a realidade e oculta a relação entre a prostituição e o trabalho. A prostituição de Lúcia nada mais é do que o retrato do mercado "reduzido de trabalho para as mulheres livres, sem fortuna ou herança, de onde saíam as prostituta brancas" (Marco, 1986:188)
Moll, por sua vez, se defronta com uma mudança das relações de trabalho da pré-revolução industrial em que a "sobrevivência das classes subalternas implica o trabalho produtivo" (Marco, 1986:79). Daí, ela ser treinada para trabalhar, o que lhe possibilita retornar à tranqüilidade da família. Entretanto, conformando-se aos princípios do individualismo econômico, Moll se distancia cada vez mais das formas tradicionais de relacionamento. Quem racionalmente examina, como diz Yan Watt, os próprios interesses econômicos, pode se sentir bem pouco ligado à pátria e à família. Moll acredita que com dinheiro se está bem em qualquer parte, a pobreza é aterrorizante.Tanto que quando Moll enviúva, ela fica à margem das relações organizadas do trabalho e da família. Sua meta passa, então, a ser caçar o homem com dinheiro ou roubar.
As duas protagonistas se regeneram e a recompensa dessa regeneração é processada de forma adversa pelos seus autores. Lúcia se sente purificada quando Paulo a beija e santificada quando este a olha pela primeira vez. Naquele momento Paulo era ainda um simples provinciano, e por ter o olhar "desprovido dos trejeitos urbanos e dos vícios de interpretação da corte, poderia ver em Lúcia a menina e não a mercadoria " (Marco, 1986:179). Lúcia então, mercadoria altamente cotada, passa a chamar-se depois de regenerada, Maria da Glória. Trata-se de mulher, que ao renascer como Maria da Glória, descarta a bacante. Por um lado essa purificação de Lúcia faz com que ela e Paulo se abstenham do comércio sexual. Por outro, o toque moralizante de Alencar impede que um corpo incasto possa ser unido a um outro dentro do matrimônio. A mancha no corpo de Lúcia é indelével e conseqüentemente, o casamento jamais seria possível.
No romance de Defoe, Moll conta a sua história depois de ter vivido o vício. O seu arrependimento é posterior, e não durante os seus atos sombrios. Lúcia, ao contrário, apesar de buscar a purificação depois de experimentar o amor, mostra, ao revelar o seu passado a Paulo, que sempre viveu o conflito entre vício e virtude:
"Eis a minha vida. O que se passava em mim é difícil de compreender, e mais difícil de confessar. Eu tinha-me vendido a todos os caprichos e extravagâncias; deixara-me arrastar ao mais profundo abismo da depravação; contudo, quando entrava em mim, na solidão de minha vida íntima, sentia que eu não era uma cortesã como aquelas que me cercavam. Os homens que chamavam meus amantes valiam menos para mim do que um animal; às vezes tinha-lhes asco e nojo. Ficaram gravados no meu coração certos germes de virtude..., e que ainda nos excessos do vício não me deixaram cometer uma ação vil." (p.438, grifos meus).
Lúcia precisa recorrer ao passado para encontrar-se como mulher-ser, que sente, e também para negar-se cortesã.
É comum no romantismo do século XIX o matrimônio dar um desfecho feliz à narrativa. Em Lucíola, todavia, este fato é irrealizável. Observa-se assim que Alencar mantém toda a rigidez do padrão moralista da época. Em momento algum da narrativa Paulo ou Lúcia mencionam a idéia do casamento. O seu corpo manchado é para sempre punido. Mesmo regenerada e usufruindo de uma vida digna, o seu pecado nunca será perdoado: seu corpo profanado servirá apenas de túmulo de um filho fruto do pecado. Alencar, ao contrário de Defoe, mostra que a nobreza dos fracos só poderá ser conquistada "pelo sacrifício de suas vidas" (Bosi, 1992:179) e, assim, mata a sua criação. Essa punição não é surpresa para a heroína que tem consciência de que transgredira as regras impostas pela sociedade.
Enquanto Lúcia sacrifica o bem material pelo moral, a penitente Moll Flanders tem a prosperidade garantida pela sua carreira criminosa. Além disso, nunca se vê no dilema de ter que provar sua regeneração sacrificando o bem material pelo moral, o que de uma certa forma contribui para contradizer o objetivo moralizante manifestado pelo autor. É importante ressaltar que na estrutura do romance de Defoe, se entrecruzam dois discursos.
O primeiro é o da própria Moll Flanders, que relata a sua vida no vício; o segundo é o de "rememoração posterior ao arrependimento" (Marco, 1986:83). Combinando esses dois discursos, observamos que eles resultam na confissão velada de uma culpa.
Depois de arrependida, já na América, tendo acumulado um certo capital, fruto da herança e de alguns roubos, Moll dedica-se ao trabalho agrícola. Defoe mostra claramente que a recuperação e readaptação social de sua protagonista estão ligados à sua integração no trabalho produtivo. Para isso ela teve que abandonar o submundo da marginalidade e dedicar-se ao aprendizado do trabalho que leva à construção da família e da propriedade, ficando assim claro o projeto social de Defoe para combater os problemas marginais da sua Inglaterra. É preciso notar que a prostituição, dentro de um quadro social, não se encaixa ao trabalho produtivo e muito menos à organização familiar. Porém, nessa Inglaterra o processo de produção de riquezas gerava à sua volta prostitutas e ladrões. Esse quadro nos leva a questionar se a corrupção de Moll foi simplesmente impulsionada pela sua vaidade, como ela declarara, ou se pela sutil separação que nos mostra o romance entre o mundo do trabalho e o mundo marginal.
Defoe, dentro de um puritanismo protestante moralizador deixa bem claro a importância dos fatores constituintes de uma sociedade, ou seja, propriedade e família. Por outro lado, cria uma heroína rebelde e transgressora que buscava a independência e que, para alcançar tal objetivo, não aceitava as desvantagens impostas ao seu sexo. Arrepende-se, sem dúvida, mas tendo essa independência garantida.
No romance de Alencar a presença do dinheiro mediador das relações entre os personagens, leva à desilusão perante os princípios implacáveis dessa ordem social metálica. Apesar de Lúcia se prostituir por uma grande causa e a sua permanência nessa profissão residir exclusivamente na falta de outras opções de trabalho, o sistema ideológico não permite que ela seja absolvida da sua transgressão, mesmo depois de regenerada. Alencar usa, então, a metáfora do amor para mascarar essa diferença. Num contexto impregnado de romantismo, Alencar elimina a sua heroína, garantindo assim a estabilidade social em nome da família e da identidade da Pátria.
Defoe poupa a sua protagonista de um final trágico, ou seja, a redenção pela morte, optando por fazê-la narrar a sua própria trajetória pelo mundo do crime, a sua expiação. A possibilidade de regeneração que ele lhe concede não deixa de ser uma continuação verossímil para a narrativa.
Enquanto Alencar reserva para o seu personagem um final trágico, ensopado de romantismo, onde a penitência é recompensada com a morte, Defoe não abre espaço para o amor romântico; tudo é jogo mercantil e a penitência é acompanhada de prosperidade para garantir a família e os valores sociais com os quais estava comprometido.
Em Cultura e Imperialismo, Said afirma que os escritores não são "mecanicamente determinados pela ideologia, pela classe ou pela história econômica ", mas que estão de uma certa forma comprometidos com à história de suas sociedades, "moldando e moldados por essa história e suas experiências sociais em diferentes graus" (Said, 1993: 23). Nessa perspectiva, a questão do imperialismo nas obras analisadas merece maior atenção.
Para Defoe, que vivia num contexto imperialista, a condição do império vai além de uma sedutora perspectiva do ultramar, servindo como um veículo de possibilidade de redenção do personagem no novo mundo, que o resgatará da vida de delinqüente impregnando-o dos valores moralizantes da vida privada. Observa-se aqui que a retórica do poder, quando exercida no cenário imperial, gera uma ilusão de benevolência.
Como uma forma cultural incorporadora, o romance, segundo Said, gera um "mecanismo altamente preciso de enredo quanto um sistema inteiro de referência social que depende das instituições existentes da sociedade burguesa, de sua autoridade e poder " (Said, 1993:117). Os personagens dos romances vão agir e interagir de acordo com os mecanismos desse sistema.
Em Moll Flanders, Defoe transgride o sistema e recupera o seu personagem, readaptando-o através do casamento, enquanto em Lucíola, Alencar leva o seu personagem à morte.
Instala-se, dessa forma, no texto alencariano uma relação paradoxal entre a denúncia e a cumplicidade: ao mesmo tempo que aponta as feridas sociais, revela-se também adepto da ideologia imperialista dos seus dias. Vê-se claramente que Alencar não se sente confortável ao lidar com a fragilidade e ambigüidade do sistema estabelecido pelas elites brasileiras; mesmo assim, como diz um crítico, a sua ficção está envolvida com o projeto de formação nacional traçado pelas elites.
Para concluir, podemos afirmar que nos dois romances, cada um ao seu modo, vê-se a literatura caminhando de braços dados com a realidade de seus tempos, cada um defendendo, ao seu modo, interesses que, se bem analisados, são fundamentalmente os mesmos, ou seja, a manutenção de certa ordem social, a segurança da família, a garantia do trabalho produtivo e a consolidação da identidade da Pátria. Moll Flanders e Lucíola, obras escritas com uma diferença de 140 anos da primeira para a segunda, mostram, apesar das suas diferenças, a temática da prostituta regenerada, engendrando uma intertextualidade enriquecedora e transformadora do ato de ler. Tanto Defoe quanto Alencar fazem do texto literário espelho de reflexão e discussão da realidade, ainda que diversamente manipulem os fios que dão vida e movimento às suas bonecas de papelão.
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Maria Conceição Monteiro é professora de Literatura Inglesa na Universidade Federal Fluminense, Mestra em Língua Inglesa e Doutoranda em Literatura Comparada, e autora de, entre outros trabalhos, "Literature in the Class Room", "Jane Eyre: um personagem feminista feminino", "Morrer e Renascer em 'Surfacing' de Margaret Atwood".
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