Era uma vez... 


@ NATAL ALÉM DOS LIMITES

lualuaA noite veio acompanhada de uma chuva forte que perdurou até os primeiros raios da manhã. A Cidade dos Anões começava a aparecer em meio a uma bruma que brotava do chão coberto de folhas, e atingia até a copa das árvores mais altas. O vento anunciava em palavras frias e silenciosas, que o inverno estava chegando.

- Bruno, venha tomar o seu café da manhã.
- Já vou mãe.
- Acho que seu amigo não virá hoje, pois a floresta está alagada, devido a forte chuva que caiu essa noite.
Bruno olhou para sua mãe, com um sorriso sorrateiro, e antes que ele dissesse uma só palavra, a porta se abriu e um anão com os sapatos encharcados entrou na casa, dizendo com entusiasmo:
- Bom dia!
Era Ricardo, um amigão de Bruno, que todas as manhãs tomava um café da manhã leve, em sua própria casa, e corria para complementar com um delicioso leite com chocolate e essência de limão na casa de Bruno.
Enquanto isso conversavam muito, até chegar o horário de irem juntos para a escola.
Dona Dulce, a mãe de Bruno, era muito caprichosa e uma excelente cozinheira. Era uma das únicas casas da vila, onde não se encontrava a tradicional bagunça de uma casa de Anões.

Mas.., essa amizade não era somente entre dois anões, pois havia um terceiro amigo que tornava esse vínculo ainda mais forte e raro, pois ele morava fora dos limites da cidade dos anões, e para falar a verdade nem era um anão...
O nome dele era Rafael, um jovem elfo que vivia na Vila dos Elfos, somente há alguns minutos da Cidade dos Anões. Elfos e Anões normalmente não são amigos, nem tão pouco inimigos, mas também não se interessavam em manter contato.

Bruno e Ricardo saiam da aula e corriam para a Vila dos Elfos para brincar com Rafael, que sempre tinha alguma história para contar ou aventura nova para se divertirem. Cada encontro era um momento mágico, principalmente para os dois anões que vinham de uma cidade sentimentalmente velha, em todos os sentidos.

Os Elfos são mais livres nas atitudes e pensamentos, são conhecidos como "Seres do Ar", cultuam que cada dia é como uma vida e que deve ser aproveitada plenamente. São muito afetivos, valorizam o sentimento do amor e da amizade acima de tudo.

Certo dia, em meados de Dezembro quando os dois chegaram na casa do elfo para brincar, perceberam que a cidade estava decorada. Algumas portas já estavam com guirlandas feitas com varetas de canela, arbustos e árvores também tiveram seus ramos decorados com cristais de quartzo envoltos em fios brilhantes e saquinhos com ervas aromáticas. A natureza também colaborava na decoração, com um leve manto branco de neve.

- Oi Rafael! - Que dia vai ser a Festa do Yule esse ano? - perguntou Bruno curioso, enquanto Ricardo já tinha se atirado em um montão de almofadas no chão.
- Esse ano vai ser no dia 22 de Dezembro, e... - Será que vocês vão poder comemorar conosco? - perguntou o elfo esperançoso.
Os anões nunca conseguiram permissão para festejar essa data mágica, em que é comemorado o Solstício de Inverno no Hemisfério Norte.
- Não sei não... - disse Bruno já meio bravo e descontente. - Acho difícil...
- Já pensou que bom que seria... - ficou imaginando Ricardo.
Bruno viu o amigo viajando nos pensamentos, e resolveu jogar uma almofada nele. Isso foi o suficiente para que começasse uma pequena batalha de almofadas: Anões versus Elfo.

Na volta para casa, já bem no final da tarde, os anões estavam quase chegando na cidade quando encontraram um ancião que caminhava com muita dificuldade, amparando o seu corpo em um velho cajado.
- O senhor precisa de ajuda? - perguntou Ricardo.
- Nós moramos aqui pertinho - completa Bruno.
- Eu gostaria de um local para passar a noite. - diz o ancião, com uma voz cansada e rouca.
Os dois o acompanharam até a cidade, mas como era de se esperar, foram recebidos com a típica hospitalidade dos anões dessa cidade: caras e portas fechadas e olhares desconfiados por entre frestas.
- Vamos para minha casa! - disse Bruno. - Minha mãe, com certeza vai nos ajudar.
- Mãe, temos visita! - disse ele já entrando com o ancião em casa.
Dona Dulce o acolheu, e preparou uma deliciosa sopa quente, enquanto Bruno e Ricardo se divertiam acendendo a lareira, pois o frio já estava forte.

Conversaram até tarde, e nem mesmo o sono apareceu com o passar das horas. Principalmente porque eles descobriram que o ancião gostava de contar histórias, sobre lugares e tempos inimagináveis. Os dois ficavam quietinhos só ouvindo.

No dia seguinte pela manhã, o ancião manifestou a vontade de partir.
O que foi até bom, pois a cidade já sabia sobre o "intruso", e os rumores eram pressentidos no ar.

- Muito obrigado pela hospitalidade e pela deliciosa comida. - disse o ancião para a mãe de Bruno, que ficou lisonjeada.
- Para onde o senhor vai agora? - perguntou Ricardo preocupado.
- Bem, vou continuar a minha jornada... - disse ele enquanto caminhava vagarosamente.
Os dois anões, conversaram baixinho, por uns instantes, e logo correram na direção dele, dizendo numa só voz:
- O senhor gostaria que nós o levássemos para conhecer a Vila dos Elfos?

As palavras ecoaram no ar, e naquele momento o ancião parou apoiado em seu cajado. O vento cessou, os pássaros silenciaram por alguns instantes, o próprio tempo parecia ter parado também. O ancião se virou, e olhou perplexo para os dois anões. Sua expressão era praticamente indescritível. Seu olhar percorreu lentamente a cidade e suas casas, com os anões espreitando a sua partida, e depois olhou novamente para Bruno e Ricardo. Deu um leve sorriso, e concordou em ir com eles.

Quando Rafael viu os amigos chegando na vila, com o ancião, veio logo para encontrá-los.., com a sua habitual curiosidade de elfo.
Acompanharam o ancião para falar com Ymitry, a "Senhora dos Elfos", que fez as honras em recebê-lo na vila, e logo o acomodaram em uma pequena e aconchegante casa, próximo de onde Rafael morava.
Nem preciso dizer que os três, adoravam visitá-lo para ouvir suas histórias. Também, quem não gosta de ouvir um... "Era uma vez..."

Alguns dias se passaram, e certa vez os anões chegaram muito tristes.
- O que aconteceu? - perguntou Rafael. - Porque vocês estão assim?
Os dois se olharam, como que decidindo quem iria contar primeiro, quando Ricardo disse:
- Bem, vou falar logo. Não conseguimos permissão para festejar o Yule com você...., de novo!
- Como assim? - perguntou o Elfo indignado.
Bruno estava muito bravo, mas conseguiu dizer:
- Você sabe como eles são. - Tudo é proibido, só conhecem a palavra "não". - disse ele ironizando.
- Mas é só uma festa. Que mal há nisso? - desabafou o elfo, que não suportava vê-los tristes.
Apesar dos esforços de Rafael em alegrá-los, Bruno e Ricardo estavam muito desanimados e resolveram ir embora mais cedo.

O elfo ficou sozinho pensando como poderia ajudá-los, e então resolveu fazer uma visita ao ancião, mesmo sabendo que já era tarde, e sua mãe Roseli o aguardava para o jantar.
- Pode entrar, jovem elfo. - disse o ancião. - Estou estranhando a sua presença sem os seus amigos anões. - Aconteceu algum problema? - perguntou ele com uma qualidade que cativava a todos: Atenção e interesse em ouvir, e a certeza de que naquele momento o que se tinha a dizer era o mais importante.
O elfo explicou tudo o que tinha acontecido, e quando terminou, já se sentia um pouco mais aliviado em compartilhar o problema.

O ancião ficou pensativo por alguns instantes, mas logo ergueu os olhos, olhou para o elfo, e disse:
- Bem..., Rafael, a Cidade dos Anões nem sempre foi assim, como você a conhece hoje.
- Como assim? - perguntou o elfo surpreso.

O ancião continuou:
- Há quase um século atrás, os anões eram seres alegres, adoravam festas, sua cidade estava sempre aberta para visitantes, enfim, bem diferentes de hoje.
Certo dia um estranho chegou na cidade, e eles o acolheram com toda a hospitalidade habitual. O estranho ficou com eles por um longo tempo, e ninguém desconfiava que suas reais intenções não eram boas. Até que os anões descobriram que o estranho estava roubando suas minas de ouro.
A cidade ficou muito abalada com a traição. Se reuniram, e o visitante foi julgado e banido para sempre.

Depois dessa data, com o passar dos anos, tudo foi mudando na Cidade dos Anões. Há quem diga que forças obscuras também colaboraram, mas isso não é tão importante, quanto o que realmente aconteceu com eles:
Os sentimentos se tornaram mais fechados, abraços e carinhos eram raros; a hospitalidade foi substituída pela desconfiança; o trabalho virou uma obsessão, e nem mesmo contemplar o pôr do sol, os motivava mais para saírem das minas; o interesse pelas festas e tradições se perdeu, e... até mesmo a maior festa dos anões, foi esquecida...

- Que festa era essa? - disse Rafael, que até agora não tinha conseguido dizer uma só palavra.

- Os anões comemoravam no dia 25 de Dezembro uma festa que eles chamavam de Natal, onde era celebrado o nascimento do filho do Criador de todas as coisas. Era uma festa símbolo da solidariedade, alegria e amor.
- Quem era esse estranho que causou todo esse mal? - perguntou o elfo curioso.
- O nome dele era Walkur - respondeu o ancião.
O elfo fez mais uma pergunta, mas esta era supostamente esperada pelo ancião.
- Mas deve haver uma forma de desfazer esse mal.
O ancião olhou para o elfo, e disse em um tom forte e misterioso:
- Eu acho que nós estamos mais perto da solução do que você imagina.
Nesse momento o ancião mostrou um certo entusiasmo, retirou do bolso um papel desgastado pelo tempo, e o entregou ao elfo.

Estava escrito:

"Uma amizade forte entre a terra e o ar,
despertará a vontade de libertar.

Buscando a Caverna da Revelação
encontrará a Chave para a libertação.

O poder só vai despertar,
quando o Olho, a chave encontrar.

Finalmente livre da Escuridão,
O céu anuncia o fim da maldição.
"

O elfo ficou sem saber o que dizer, e o ancião continuou:
- Rafael, quando eu conheci você e seus amigos anões, percebi que era uma amizade muito rara, e logo lembrei da profecia, pois os anões são conhecidos como seres da terra, e vocês elfos, como seres do ar.
O elfo já tinha decidido que iria ajudar, e logo começou a fazer muitas perguntas, sobre o que fazer, o que era o olho, e outras dúvidas.
O ancião ouviu todas elas, mas..., com uma voz que transmitiu muita confiança, disse:

- Não se preocupe, pois na hora você saberá o que fazer.

Rafael decidiu partir em busca da caverna, mas precisou sair escondido da Vila dos Elfos, pois mesmo com a liberdade deles, a caverna ficava em um local distante, envolto em mistérios e proibições.
Ele estava entusiasmado com a esperança de poder ajudar os anões.
Deixou um bilhete para sua mãe e um para seus amigos, que dizia assim:

 

Bruno e Ricardo,
Parti bem cedo para preparar uma surpresa para vocês.
Não se preocupem comigo, pois retorno amanhã pela manhã.

Um abraço do amigo
Rafael.

 

A preocupação apareceu logo que a mãe de Rafael leu o bilhete, e assim também com os anões, que apesar de terem ficado curiosos pela surpresa, estranharam muito a ausência do amigo.
Foram logo fazer perguntas para o ancião, mas ele disse somente que eles não deveriam se preocupar. Infelizmente isso não foi o bastante para tranqüilizarem seus corações.

O problema é que na manhã do dia seguinte, Rafael não retornou, e nem mesmo na manhã do outro dia. Os elfos começaram a se organizar para uma busca pela floresta toda.
Dia após dia, a falta de notícias estava torturando Bruno e Ricardo, que começaram a ter problemas para comer e dormir, devido a preocupação com o desaparecimento de Rafael.
Tentaram até pedir permissão para sair em busca do elfo, mas só ouviram de Gabil Burk, "o anão mais velho" e líder da Cidade dos Anões:
- Isso não é assunto nosso, não vamos nos envolver.

Mas..., uma força inesgotável os impedia de desistir.
- Bruno, e se nós fôssemos procurá-lo escondidos? - disse Ricardo.
- Mas não sabemos nem por onde começar... - disse Bruno um pouco desanimado.
Depois de conversarem muito, os dois resolveram partir pela manhã rumo a um destino desconhecido, pelo menos tendo a satisfação de estarem fazendo algo pelo amigo elfo.

Mas..., essa não foi uma noite de sono comum, pois quando Ricardo acordou pela manhã, havia um mapa sobre a sua cama, e sobre a cama de Bruno um artefato muito estranho com uma pedra incrustada.
Os dois só se lembravam de vestígios de um sonho com alguém lhes trazendo esses estranhos presentes. Correram ansiosos para se encontrarem e poderem contar o que tinha acontecido. Pelo menos agora o mapa lhes tinha dado um rumo a seguir, e como o outro objeto ainda era um mistério, Bruno o carregava em seu bolso, com todo o cuidado.

Andaram sem parar, motivados pela certeza de poder encontrar o elfo, e no final da tarde, chegaram até a caverna.
Parecia ter havido um desmoronamento, pois muitas pedras obstruíam a entrada.
Gritaram para chamar pelo elfo, e logo puderam ouvir o que seus corações mais desejavam em todos esses dias.
- Estou aqui dentro, amigos - disse Rafael, com uma voz distante.
Os dois se emocionaram de alegria e logo começaram a retirar as pedras, com uma determinação inabalável, e uma habilidade natural dos anões, em lidar com o reino mineral.

A Cidade dos Anões percebeu que Bruno e Ricardo haviam desaparecido, e resolveram começar a busca na Vila dos Elfos. Já que eles sempre estavam por lá.
O ancião também estava ficando preocupado, e resolveu contar onde Rafael havia ido, mas não os motivos que o levaram até lá.
Os elfos se organizaram rapidamente, e já estavam de partida, quando encontraram os anões chegando na vila.
- Estamos procurando Bruno e Ricardo que desapareceram. Vocês o viram? - disse Gabil Burk para Ymitry.
- Infelizmente não os vimos. - Também temos um elfo desaparecido há quase sete dias, e estamos partindo para procurá-lo. - disse ela com pesar nas palavras, enquanto explicava para onde eles estavam indo.

- Mas essa área é proibida. - disse Gabil Burk enfurecido.
- Talvez Bruno e Ricardo tenham ido procurar o elfo. - disse alguém em meio ao tumulto.
- Eu os havia proibido de sair nessa busca. - completou Gabil Burk, que já estava com as orelhas vermelhas de raiva.
Ymitry respondeu sabiamente:

- Muitas vezes a amizade está acima da lei.

Elfos e anões não disseram mais nada, e pela primeira vez na história, ambos saíram juntos nessa jornada.

Já no início da noite, sob a luz de tochas que eles haviam levado, Bruno e Ricardo conseguem finalmente libertar Rafael, após muito trabalho.
Foi um momento de muita emoção, muitos abraços, e tentar descrevê-lo em palavras seria impossível.
Agora mais calmo, Rafael contou tudo sobre a profecia, e a surpresa que ele pretendia fazer.
Os anões ficaram lisonjeados com tamanha demonstração de amizade, bem como Rafael em ver os amigos quebrando regras da Cidade dos Anões, e se aventurando tão longe de suas casas.

- Rafael, mas você encontrou a chave que veio procurar? - perguntou Bruno.
- Encontrei sim!, estava dentro de uma caixa de madeira lá dentro da caverna. - Venham comigo.
Os três entraram na caverna novamente e Rafael lhes mostrou a chave.

Enquanto isso anões e elfos se aproximavam do local, carregando tochas sob um céu estrelado.

- O que temos que fazer agora? - perguntou Ricardo.
- A profecia fala de um olho, mas eu não sei do que se trata. - disse Rafael.
Bruno ficou pensando por uns instantes.
- Esperem um pouco, acho que sei o que é o olho. - disse ele mostrando o artefato misterioso, que estava em seu bolso.
- O que é isso? - perguntou Rafael surpreso.
- Não sei bem o que é, só sei que apareceu sobre a minha cama, na noite anterior à nossa saída. - disse Bruno.
Ricardo aproveitou e também comentou sobre o mapa que os ajudou a encontrar o local da caverna.

Bruno tentou encaixar o artefato em uma cavidade que havia na chave, e ele encaixou-se perfeitamente.
- É isso! - disse Ricardo empolgado.
- Esse é o olho da profecia. - completou Rafael.
- E agora, o que faremos? - Será que já aconteceu alguma coisa? - indagou Ricardo, que esperava algum efeito mágico.

- A profecia fala que "O céu anuncia o fim da maldição", talvez se nós levássemos a chave lá para fora... - disse Bruno que era muito bom com enigmas.
- Boa idéia! - concordou Rafael.

No momento que eles saíram da caverna, os três seguraram a chave, e a ergueram instintivamente na direção do céu estrelado, como que aguardando algum efeito.
Logo ao longe já se podiam ver as tochas dos elfos e anões que se aproximavam rapidamente.
- Olhem! - eles estão lá.

Nesse momento uma luz tênue e azulada começa a emanar da chave, e foi envolvendo os três amigos, até formar uma esfera brilhante.
Elfos e anões se aproximaram em silêncio ao verem tal magnitude de poder. Foi um momento contemplativo, quando da esfera saíram pequenas centelhas de luz azul, como se fossem vaga-lumes, que flutuavam suavemente na direção dos anões.
No momento que elas os tocavam, cada um sentia seu coração liberto da mágoa, rancor e raiva acumulados pelo tempo.
A esfera foi desaparecendo lentamente, e todos correram para o encontro dos três amigos. A emoção dos anões, aprisionada por décadas, estava livre novamente, e muitos abraços e beijos fraternos abençoaram esse momento, onde somente o céu e as estrelas poderiam descrevê-lo plenamente.

Após isso, já em suas casas, todos desfrutaram de uma noite de tranqüilidade. Era manhã do dia 22 de Dezembro e a radiância do sol e da natureza, pareciam comemorar o Yule dos elfos.
Rafael acordou muito animado, mas reservava uma alegria maior, caso os amigos anões, aparecessem para a festa. Ele estava muito esperançoso.
De repente um elfo anunciou:
- Uma comitiva de anões se aproxima da cidade!

O coração de Rafael bateu mais forte, e ele correu para ver....
Sabem quem estava na primeira fila? : Bruno, Ricardo e Gabil Burk.

- Noooossa, nem sei o que dizer... - disse Rafael emocionado, quando se aproximou e os abraçou.
- Nós também não... - disseram Bruno e Ricardo.

Ymitry veio recepcioná-los, e Gabil Burk se curvou em reverência dizendo:
- Estamos honrados pelo seu convite para que viéssemos festejar o Yule com vocês, mas antes eu gostaria de dizer algumas palavras, pois acho esse momento muito importante para todos nós. - Fomos vítimas de forças ruins num passado que deve ser esquecido, mas elas só conseguiram sufocar os nossos sentimentos verdadeiros, pois nossos corações haviam se fechado por mágoas e rancores. - Em nosso próprio meio, alguns não foram afetados por esse mal, mas ao invés de seguirmos seus exemplos, os sufocamos com críticas e proibições. - disse ele enquanto olhava com admiração para Bruno e Ricardo.
O silêncio era absoluto, parecia que toda a natureza havia parado para ouvir as palavras do anão, e ele concluiu:
- Só posso dizer que temos muito a aprender com vocês três. - disse ele os reunindo em um abraço de gratidão e respeito pela amizade que os unia.
Nesse momento o semblante de Gabil Burk se alterou, quando ele percebeu a presença de um rosto conhecido, dentre todos. Ele caminhou lentamente na direção do ancião e o observava em silêncio. Parou próximo a ele, olhou fixamente em seus olhos e murmurou baixinho:
- Walkur!

O ancião não respondeu nada, mas baixou o olhar.
Bruno e Ricardo vieram correndo para encontrar o ancião e disseram com entusiasmo:
- Ele conta histórias muito boas, Gabil Burk!
- Foi ele quem me ajudou a encontrar a caverna. - disse Rafael, que tinha se aproximado também.
Ymitry se aproximou:
- Esse é o ancião que esteve um dia em sua cidade, e agora está morando em nossa vila. - Você o conhece?
- Bem..., eu pensei que o conhecia, mas me enganei. - Acho que já aprendemos muito com vocês, disse ele enquanto afagava o cabelos dos dois anões. - Eu gostaria de me desculpar se você não foi bem recebido na Cidade dos Anões, e dizer que nossas casas e nossos corações sempre estarão abertos.

O ancião não se conteve e derramou uma lágrima de emoção, dizendo:
- Eu agradeço muito e me sinto honrado pelo seu ato de compaixão. - Tenho certeza de que todos já aprendemos muito com tudo isso. Muito mesmo !
O ancião se aproximou lentamente de Gabil Burk, e logo os dois se abraçaram.

O momento foi mais importante para eles do que para todos os elfos e anões presentes, pois somente Gabil Burk, conhecia pessoalmente Walkur e o seu passado, mas..., naquele momento isso não importava mais.

Depois disso, todos foram comemorar o Yule, num clima de harmonia e amor fraterno, além de serem abençoados pela magia da Mãe Natureza.

Dois dias se passaram, e era noite de 24 de Dezembro.
Agora era a vez dos elfos partilharem da comemoração da ceia de Natal, e eles foram recebidos com todas as honras na Cidade dos Anões.
O vermelho, o verde e o dourado estavam presentes nas decorações de toda a cidade e contrastavam magicamente com o manto branco de neve que cobria todo o chão e os ramos das árvores.
Muitas velas ajudavam a tornar o ambiente acolhedor e receptivo para a expressão dos sentimentos mais puros de todos.

No meio da celebração, Gabil Burk pediu silêncio, pois já era quase meia-noite e se aproximava o grande momento da chegada de Veynar, que ele chamava carinhosamente de Papai Noel.
De repente, por entre as árvores, ele apareceu. Era um pouco maior do que um anão, tinha cabelo e barbas brancas, e bochechas coradas. O clima era de muita felicidade, paz e presentes que Veynar trouxe para todos.
Logo chegou a vez de Bruno, Ricardo e Rafael se aproximarem de Veynar que lhes disse bem baixinho:
- Espero que naquela noite o mapa e o "olho" tenham ajudado o suficiente - disse ele dando uma piscada.
Os três sorriram emocionados, e o abraçaram em sinal de agradecimento.

Com o passar dos anos, muitas amizades entre elfos e anões surgiram, e agora felizmente já não era mais um sentimento raro.

A tradição das comemorações do mês de Dezembro se mantém até os dias de hoje, com todos comemorando juntos o Yule e o Natal, simplesmente porque seus corações se abriram para comemorar um Natal além dos limites.



Autor: Ricardo Namur Claro

Gostaria de agradecer à minha esposa Rita Aubim pelo incentivo e amor para escrever esse Conto de Natal,
e aos meus amigos:

Rafael Spudat e Bruno Luiz Pereira Di Nardo,

pela inspiração, amizade e carinho,
que eu espero ter a benção de poder desfrutar
por muitos e muitos anos.

 


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by Leandro Amaral e Ricardo Namur
Ilustrações em aquarela: Sérgio Ramos