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Pouco antes de Otto Nathan morrer, em 1987, uma ação judicial tirou os Arquivos Einstein de suas mãos e abriu-os aos pesquisadores. São milhares de documentos, uma pequena parcela do material, principalmente a correspondência de Einstein com sua segunda mulher, Elsa, e com os filhos, ainda continua interditada. A parte tornada visível oferece material tão farto que, certamente, com o tempo, tornará públicas novas e surpreendentes revelações. Denis Brian mergulhou nesses arquivos e, com pertinácia de repórter linha de frente, foi atrás de pessoas que conviveram com Einstein, cientistas, amigos, discípulos. A abertura dos arquivos e a circunstância de a maioria dos envolvidos mais diretamente já estarem mortos romperam as barreiras do silêncio obsequioso, e desta pesquisa resultou uma biografia reveladora e inteira sobre o Einstein "terreno".
Em seus primeiros anos de estudo, Albert Einstein demonstrou tamanhas dificuldades que seus professores chegaram a aventar que sofresse de retardo mental. Quando cursava a escola secundária, praticamente só demonstrava interesse pela matemática. Seu baixo rendimento nas demais disciplinas o obrigou, na verdade, a sair da escola. Seus pais então o levaram à Suíça, para estudar. Ali, ao concluir o curso (ao que consta, auxiliado pelas notas de um amigo), tentou se tornar professor. Tudo o que conseguiu, porém, foi tornar-se funcionário do Escritório de Patentes da cidade de Berna, em 1901. Nesse ano ele também se naturaliza suíço. Quatro anos mais tarde, entretanto, Einstein publicou nada menos que cinco trabalhos científicos no Anuário Alemão de física. Um deles oferecia uma explicação para o efeito fotoelétrico.. Nesse fenômeno, a luz, ao incidir sobre certos metais, provoca emissão de elétrons. Quanto maior é a intensidade da luz, maior é a quantidade de elétrons liberados. A energia dessas partículas, porém, não aumenta, e esse fato permanecia inexplicável pelas teorias então disponíveis. Einstein conseguiu elucidar esse problema aplicando a teoria quântica de Max Planck. Isso abriria o caminho que mais tarde levaria ao desenvolvimento da Física Quântica. Em outro dos cinco trabalhos de 1905, Einstein oferecia uma explicação matemática do movimento browniano. Essa análise também serviria, mais tarde para permitir os primeiros cálculos confiáveis dos tamanhos dos átomos. Num terceiro trabalho, abordou a velocidade da luz, que se revelara, em experimentos, surpreendentemente constante, independendo do movimento da fonte luminosa. Einstein admitiu que, de fato, essa velocidade independia tanto da fonte quanto do observador. Admitiu também que a luz tinha características quânticas. Essa concepção encerrava a velha disputa sobre a natureza da luz. Ele também suprimiu a necessidade do conceito de éter ao advogar que no universo não existem nem movimento absoluto nem repouso absoluto, mas que movimento e repouso são sempre relativos. Essa idéia o levaria à formulação da teoria da Relatividade Restrita. Essas novas concepções mudaram rapidamente a visão de universo que se tinha desde Newton. Um dos aspectos mais notáveis dessa mudança é que afetava as próprias idéias de espaço e de tempo, que deixavam de ser considerados entidades absolutas. Na teoria da Relatividade Restrita, Einstein determinou a relação existente entre massa e energia, expressando-a na igualdade E = m . c2 (onde E é a energia, m a massa e c a velocidade da luz). Massa e energia passam a ser vistas como aspectos diferentes que as leis de conservação da massa (de Lavoisier) e de conservação da energia (de Helmholtz). Foi com essa teoria que se pôde explicar de onde provinha a energia liberada pelos elementos radiativos. Ela se faz à custa de uma diminuta perda de massa do núcleo atômico.
Em 1930, Einstein visitou os Estados Unidos para proferir palestras, mas preferiu ali permanecer, já que o nazismo iniciava sua ascensão na Alemanha. Em 1940, naturalizou-se norte-americano. Durante a Segunda Guerra Mundial, diante da possibilidade de que a Alemanha construísse uma bomba atômica, foi convencido a escrever uma carta ao presidente Franklin Roosevelt explicando ser necessário criar um programa de pesquisas para adiantar-se àquela ameaça. Seis anos depois disso, em 1945, a primeira bomba atômica era detonada em teste num deserto dos Estados Unidos. Com a derrota da Alemanha na guerra, a nova arma não chegou a ser utilizada na Europa, mas no Japão, que ainda permanecia no conflito. Mais tarde, Einstein passou a trabalhar para o estabelecimento de acordos internacionais que afastassem a possibilidade de guerras atômicas, mas seus esforços tiveram pouco resultado. O acúmulo de artefatos bélicos nucleares continuou a crescer, e só na década de 1980 se iniciaria o desmonte de parte desse arsenal. Características
Albert Einstein, os longos cabelos brancos eriçados, os olhos brilhantes, mostra a língua para o mundo que nunca mais foi o mesmo depois dele. Queiramos ou não, entendamos ou não, vivemos no universo pôr ele decodificado quando, no início do século, definiu a teoria da relatividade. Séculos se passaram até que a concepção geocêntrica de Aristóteles fosse trocada pelo universo heliocêntrico de Copérnico, Kepler e Galileu que, por sua vez, foi modificado e quantificado pelo universo mecânico de Newton, até que Einstein, no amanhecer deste século poente, o substituísse pôr sua equação a um tempo magnífica e assustadora. Formulou uma teoria que o levou próximo à descoberta do mistério da Criação e, paradoxalmente, também o aproximou de Deus, não da divindade reverenciada pelas religiões organizadas, mas de Deus como uma metáfora para o incompreensível, o inexplicável. Um dos obstáculos à melhor compreensão de Einstein, além da complexidade de seu pensamento, é o fato de ter sido o primeiro cientista a viver sob os refletores da mídia, transformado que foi em uma espécie de superstar da ciência. Outro paradoxo entre os muitos que emolduram a biografia deste homem raro. No capítulo a ele dedicado em Gigantes da Física (Jorge Zahar Editor, 1998) Richard Brennan lembra que as teorias de Einstein tornaram-se os primeiros assuntos científicos que os meios de comunicação de massa, emergentes nos anos 30, tentaram popularizar. " Mas como até as mais simples explicações das teorias pareciam à imprensa contrárias ao bom senso e de difícil entendimento, a atenção se voltou para o próprio homem. Os refletores da mídia criaram uma espécie de caricatura, que se transformou na imagem popular de um cientista moderno ". |