Projeto Político Pedagógico: moda, exigência ou tomada de consciência?

Edmerson dos Santos Reis

Pensar um projeto de educação implica pensar o tipo e qualidade de escola, a concepção de homem e de sociedade que se pretende construir.

Ultimamente temos observado uma correria enorme por parte de escolas e sistemas educacionais na busca da construção de seus projetos políticos pedagógicos. As discussões vão desde a importância de um projeto para escola até mesmo a louca corrida pela execução da antiga pedagogia de projetos, mais só agora descoberta por algumas autoridades da educação que a todo custo, mais uma vez tentam às pressas implantá-la, como se esta fosse novamente o ovo de Colombo da educação brasileira, que no decorrer da sua história já descobriu outros ovos que também a todo custo tentaram empurrá-los garganta a dentro dos professores.

Já estamos cansados de compreender que as mudanças na educação dependem fundamentalmente de vontade política, no que diz respeito a encara-la como prioridade nacional – não enquanto lema, mas praticamente – e da vontade e empenho dos professores, que são de fato os responsáveis para no dia-a-dia tornar em prática os projetos e concepções de educação que sempre foi idealizado por alguns e não por eles, o que contribui para que tenhamos tantas propostas interessantes no papel, mas que no fazer pedagógico se mantém a uma distância enorme do idealizado.

As nossas escolas num sentido amplo e os dirigentes políticos, poucos se preocupavam com a existência de um projeto político pedagógico, já que a nossa educação ao logo do tempo, salvo raras exceções, sempre foi um dos caminhos mais fáceis para se praticar os desvios de recursos para outros setores e em muitos casos para o enriquecimento ilícito, o que nos surpreende essa busca geral em que se encontram os sistemas de ensino para concretizarem os seus projetos.

A necessidade de um projeto político pedagógico na escola antecede a qualquer decisão política ou exigência legal, já que enquanto educadores e enquanto membros da instituição escola, devemos ter claro a que horizonte pretendemos chegar com os nossos alunos, com a comunidade e com a sociedade, caso contrário não estaremos exercendo o nosso papel de educador, mas simplesmente de "aventureiro", que não sabe onde quer chegar.

Como na educação a moda é uma constante, principalmente por parte daqueles que na verdade ficam esperando um pacote pronto de técnicas e métodos de ensino, em vez de buscarem desenvolver a criatividade e na prática irem recriando a sua própria prática pedagógica, questiono: será mais uma moda? Será que a educação "entenda-se educadores e dirigentes dos sistemas educacionais" acordaram e resolveram de fato assumirem o pacto pela qualidade da educação? Ou será apenas mais uma corrida para que cumpramos mais uma vez as exigência legais e dos acordos internacionais? Será que cada escola vai assumir ou ter apenas um projeto escrito? Ou continuaremos com as mesmas e velhas práticas autoritárias e alienantes dos nossos alunos e no dia seguinte, com o peito aberto sairmos profetizando a mudança, pregando a demagogia e falando de formação para a cidadania e para o viver da democracia?

Claramente, não acredito nas mudanças da educação quando elas acontecem de cima para baixo. Se a escola é fruto da sociedade, é conseqüência dos saberes construídos socialmente, culturalmente, subjetivamente pelas pessoas que estão fora e dentro da escola, como podemos pensar em mudanças a partir daqueles que não estão diretamente ligados a esta realidade. Alunos, professores, comunidades, não podem figurar apenas nos papéis e nas propostas, devem fazer parte do sistema de reformulação do pensar a educação e a escola.

Sendo assim, a mola pricipal das mudanças, é a postura e crença do educador num repensar a educação e a sua própria caminhada, senão, como já disse ex Ministro da Educação Carlos Chiarelli em 1992 "os professores fingem que ensinam, os alunos fingem que aprendem e o governo finge que controla", quando na verdade deveríamos assumir o papel de educador, para tentarmos envolver e empolgar a sociedade a lutar por uma educação mais real, digna de um país de 500 anos de "descobrimento".