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Entrevistas: actualizado a 7 Fev   
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Sculpture com novo álbum para 99


"O nome de Sculpture está registado, bem como todo o material por nós editado..."



A banda de Setúbal, Sculpture, que é um dos raros exemplos peculiares de sucesso à nascença. Os Sculpture são essencialmente uma banda de Doom Metal com influências claramente Góticas, banda essa que tem como impulsionador o conhecido Carlos D'Água, ex-membro dos Evisceration. Durante a entrevista a banda explica todos os promenores sobre o seu passado, futuro, preocupações e finalmente sobre as suas merecidas ambições. Fomos falar com a banda, sobre o novo álbum que se avizinha.

A formação da banda como ocorreu, quando, porquê e como era o panorama musical na altura?
O nascimento dos Sculpture remonta a 94 e 95, teve sempre um objectivo delineado. Nessa altura, Carlos D´Água, o nosso anterior vocalista, trabalhava ainda a 100% com os Evisceration, que tinham acabado de lançar o seu álbum de estreia "Hymn to the Monstrous". Sendo uma banda já com alguma maturidade e experiência, e com uma estrutura interna capaz de se gerir de forma auto-suficiente, o Carlos sentiu que precisava de explorar caminhos completamente diferentes daqueles que moviam os Evisceration. Há já algum tempo que ele andava a descobrir novas sonoridades no Metal e não só, que de certa forma o impeliram a pôr de pé um projecto de tendências Doom e Góticas. O primeiro line-up foi resultado de uma série de contactos que o Carlos mantinha com vários elementos de diversas bandas de Setúbal, que ele considerou adequados a nível humano e técnico para iniciar tal projecto. Na altura, deu-se um autêntico boom a nível de lançamentos underground em Portugal, dos quais os Evisceration foram um dos primeiros. No entanto, a nível daquilo que os Sculpture queriam iniciar, não havia, pelo menos de uma forma mais ou menos afirmada, uma cena Doom propriamente dita, e as bandas que existiam estavam também a dar os primeiros passos, de modo que surgiu a oportunidade de começar algo mais ou menos inédito. Hoje em dia, verificou-se um certo abrandar a nível de lançamentos feitos por editoras, mas por outro lado, uma explosão a nível de novas bandas, principalmente no campo do Black Metal. A cena Doom, apesar dos lançamentos de Sculpture, Desire e Heavenwood se é que pudemos chamar Doom, continua sem se constatar que tenha passado a ser uma moda, pelo menos a nível de lançamentos por editoras. É uma questão de épocas e fases, nem acho que seja uma questão que mereça análise necessariamente pertinente.

Porquê o nome da banda? Têm consciência que existe uma outra banda com esse nome?
Bem, o nome da banda partiu do Carlos D'Água, e sendo uma questão um pouco subjectiva, só ele te poderia responder com exactidão. De qualquer modo, posso dar-te a minha interpretação e aquilo que significa para mim. Uma escultura, no seu significado mais purista e elementar, é algo que foi criado para durar para a eternidade, a partir do espírito criador do seu autor. Uma escultura procura a imortalidade de algo, de alguém, de um momento congelado no tempo, e que será admirado, adorado e interpretado por tantos quanto possível. É esse conceito de beleza imortal que quisemos captar e transmitir com o nome de Sculpture. Não é a imortalidade de uma escultura que queremos para nós, mas conseguir contemplar algo com tais características. A escultura é apenas uma metáfora física, porque essa contemplação arrasta-se a tudo aquilo que nos rodeia, à Natureza, à Vida e à Morte... Em relação à outra banda que falaste, estamos tranquilos. Lembro-te que o aparecimento dessa banda foi muito posterior à nossa, e o nome de Sculpture está registado, bem como todo o material por nós editado. Houve um comunicado feito à Nuclear Blast que é a editora responsável, mas não houve qualquer resposta. Lembro também que a N.B. recebeu muito antes material promocional de Sculpture, com críticas bastante positivas e não fez absolutamente nada para tentar resolver esta questão pela melhor maneira. Existe um mercado para todos, espero que eles sejam sensatos e tenham a ética suficiente para compreenderem tal coisa.

Quais são as influências musicais e ideológicas da banda?
Se me perguntares quais são as influências que se podem à primeira vista evidenciar em Sculpture, é natural que serão as bandas mais recentes dentro da sonoridade que são evidenciadas, mas existe por trás um universo musical bastante mais vasto, e que de uma forma ou de outra foram e são determinantes para o que se ouve hoje em Sculpture. Para nós são tão importantes nomes como Rodrigo Leão, Maria João Pires, The Cranes, Pink Floyd, Black Sabbath ou Iron Maiden como o são os mais ou menos "óbvios" Anathema, My Dying Bride ou Arcana. Por isso é que se torna difícil enunciar uma lista, e por isso é que normalmente não presto muita atenção aquilo que se diz acerca das bandas no que diz respeito às suas influências. "Things are not quite as they seem...". Ideologicamente posso dizer-te que existe sobretudo uma grande paixão pela Vida. Essa é a melhor forma de a viver. Sermos honestos com aquilo que defendemos e lutamos, e não pensar que as nossas acções são julgadas por quaisquer entidades divinas. Acredito que apenas nós como indivíduos devemos ser responsáveis pelas nossas acções e responder por elas.

Aproveito agora para saber como se auto-definem musicalmente?
Quando os Sculpture começaram, o nosso objectivo era desenvolver um projecto que assentasse nas bases do que se chama o Doom, numa vertente mais atmosférica, à semelhança daquilo que os Desire acabaram por lançar (evidentemente com as suas diferenças). Com a saída do nosso teclista, ainda na primeira fase do projecto, decidimos partir para um tipo de sonoridade mais dependente de guitarras, e dos jogos de harmonias que se podia tirar partido com elas, e com um andamento rítmico não tão arrastado. Assim acabámos por assentar num som, que alguns consideram por identificar com Anathema, mas que tem obviamente grandes diferenças (mas isso é outra história). Hoje, posso dizer-te sem dúvida que continuamos a explorar os ambientes melancólicos que caracterizam o Doom, e que quaisquer semelhanças com estes ou aqueles que possam ter sido apontadas no MCD estão hoje amplamente esfumadas. Não estou a dizer que somos originais ou que vamos surpreender, porque não gosto de levantar expectativas, estou só a dizer que, para esta fase da nossa existência encontrámos aquilo que queríamos fazer, somos honestos no trabalho que está a ser desenvolvido e estamos bastante satisfeitos com isso.

A banda teve diversas alterações na sua formação, a que se deveu esse factor e principalmente o que veio trazer de novo à banda, e claro o que trouxe de mal à banda?
A primeira grande alteração no line-up foi a saída do nosso primeiro baterista, o Luís, que foi substituido pelo Filipe Oliveira. Esta mudança foi radicalmente positiva no sentido em que tecnicamente foi dado um grande salto em frente, a nível de secção rítmica, que obviamente implica ramificações à própria estrutura musical dos temas. A nível de método de trabalho foi certamente a pessoa certa na altura certa. Naturalmente nessa altura houve um abrandamento, visto que tinhamos uma pessoa nova na banda, que tinha de ambientar-se, e estávamos a reestruturar os temas e a criar outros de raiz. Os temas que tinhamos composto ainda com o teclista foram relegados para segundo plano, e práticamente começámos do zero. Depois da gravação do MCD "Like a dead flower", o Carlos D'Água teve alguns problemas pessoais que o levaram a afastar-se temporáriamente da banda e posteriormente à sua saída de Sculpture. Nesse período tivémos ainda um tempo de inactividade devido a problemas de salas de ensaio e afins. No início de 1998, coincidindo com a saída do MCD para o mercado e a saída do Carlos da banda, retomámos o trabalho, já com uma série de novos temas e letras, mas ainda sem vocalista. Há cerca de 2 meses, ingressou nas fileiras um novo vocalista, já em adiantada fase de adaptação nos velhos e novos temas. É claro que todas estas paragens têm as suas consequências negativas...

A banda ao gravar o seu primeiro MCD "Like a Dead Flower", assinou imediatamente com a editora Art Music, foi tudo muito rápido, querem explicar como tudo se processou? Ou seja tíveram o que todas as bandas querem, contrato à nascença?
Bem, os contactos que o Carlos manteve ao longo do tempo com os Evisceration foram sem dúvida relevantes para o nascimento de Sculpture. Ao começar o projecto ele tinha já uma certeza de que iria ter um contrato com a Art Music (na altura Dark Records), de modo que todos tinhamos uma motivação e um objectivo muito mais concretos do que muitas bandas que têm de andar vários anos a tentar provar o seu valor. Antes da gravação do MCD, estivemos uma primeira vez em estúdio para gravar a primeira versão do "Like a dead flower", mas a Dark Records cessou a sua actividade, de modo que as gravações ficaram incompletas. Quando nasceu a Art Music, mantinha-se o interesse em assinar connosco, de modo que esse tempo foi passado a reescrever e reestruturar o material que já tinhamos, e finalmente irmos para estúdio de novo.

Falemos um pouco do vosso MCD "Like a Dead Flower, teve distribuição mundial? Receberam excelentes criticas por todos, o que desejavam com esse MCD?
O MCD é composto por 5 faixas, sendo a primeira uma introdução à base de um coro de vozes, denominada "Arid Life", muita gente tem perguntado o significado da letra, mas temos sempre deixado isso ao critério de cada um. O segundo e terceiro temas são "At the Gates of Shadows World" e "Autumn Serenades", o quarto é o tema acústico instrumental "The Remains of the Day", com um pequeno apontamento vocal feminino, e o último é "Our Crying Earth". Sim, o MCD foi distribuído mundialmente, ou pelo menos promovido, pelos canais habituais da editora. Sim , de facto estamos muito satisfeitos com a reacção das pessoas que tiveram contacto com o nosso trabalho. Cremos que aquele objectivo primordial de um músico que é atingir o seu público foi atingido. Conseguimos aquela empatia que nos dá a força para querer continuar.

Falando sobre o novo álbum, sempre chegaram a ir para estúdio em Novembro? Continuam com a intenção de que o vosso primeiro longa duração fosse um cd essencialmente ambiental?
Infelizmente não, apesar de termos feito planos para entrar em estúdio em Novembro tivemos certas condicionantes exteriores que nos impediram de o fazer, apesar de o album estar 99% pronto. Este atraso compensa-nos no sentido de que temos mais tempo para amadurecer os temas e chegar ao estúdio mais bem preparados. Deveremos entrar definitivamente para gravar em Janeiro de 1999. Em termos de temática, com a saída do Carlos como vocalista e letrista, deu-se uma certa alteração a nível de temática (excluindo dois temas que foram compostos ainda com ele na banda). Como actual letrista, posso dizer que saímos daquilo que o Carlos propunha, não por não gostar, mas por evidentes questões de espírito e experiências de vida. Por enquanto não vou ser mais concreto... Posso dizer-te que o nosso objectivo está a ser atingido, estamos a fazer aquilo que queremos, longe desta ou daquela influência imediata, mas isso não é um objectivo que se escreva num papel e se marque um prazo para atingir, as coisas vão acontecendo. Creio que o futuro trabalho vai responder melhor à pergunta do que mil palavras minhas.

Pelos vistos a banda não tem tocado ao vivo os seus trabalhos, a que se deve esse facto?
Como te disse atrás, as alterações no line-up e condicionantes incontornáveis têm atrasado um pouco aquilo que poderíamos ter ou não feito no passado. A questão da falta de concertos é um resultado prático dessas situações. Mas posso garantir-te que as coisas serão bastante diferentes com o próximo trabalho.

A banda tem frequentemente criticado a Art-Music, passo a citar "A acção deles a nível de distribução é fraca...", o que tem a dizer sobre isso?
Essa crítica é um pouco mais complexa do que parece. Eles não são directamente responsáveis pela distribuição, e, a distribuidora encarregue dessa tarefa falhou enormemente, por vários motivos, desde falta de profissionalismo, ética e negligência. Sabemos pelas críticas recebidas que não é por falta de valor do trabalho. Essas falhas na distribuição existiram noutras situações em que a Art estava envolvida, mas pelas quais não é directamente culpada. Todavia, essas são questões que já foram discutidas e resolvidas entre nós e a Art, de modo que não queria aprofundar mais sobre este problema.

Quando é que o vosso álbum vai estar disponível, podem adiantar alguma informação sobre o mesmo?
Esperamos que a partir de finais de Fevereiro, princípios de Março o álbum esteja disponível, vamos fazer todos os esforços nesse sentido. O álbum já tem nome, mas por enquanto é segredo...

O que a banda pensa sobre o panorama musical português?
É realmente bastante positivo o grande número de bandas que povoam o nosso underground. É uma actividade sempre em renovação, e que ciclicamente proporciona o aparecimento de algumas surpresas. É bom ver que as bandas investem mais no primeiro passo para sair da garagem em direcção ao estúdio e afirmarem-se. É também bom saber que finalmente o Metal nacional começa a marcar uma forte posição fora do País.

Para terminar gostaria de perguntar se a banda tem conhecimento do panorama musical açoreano?
É com grande vergonha que confesso a minha ignorância em relação ao underground nos Açores. A última banda do Açores que ouvi falar foram dos Morbid Death, que ainda não os ouvi. Não é por falta de interesse, apenas falta de conhecimento.



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