História do Ritual Maçónico em Portugal no século XIX (1820-1869)

O Rito Escocês Antigo e Aceite

É de supor que os maçons da loja Regeneração I e das várias outras do mesmo nome que obedeceram à Grande Loja de Dublin e a quem se deve a introdução do Rito Escocês em Portugal se tenham servido de textos rituais manuscritos, traduzidos do inglês. Nenhum sobreviveu até hoje. Já os "escoceses" de 1840-41, tanto os que obedeciam a Silva Carvalho como os que lhe preferiram Costa Cabral, dispunham de bons textos impressos e em língua portuguesa. De facto, fora publicado no Brasil, em 1834, um Guia dos Maçons Escocezes, ou Reguladores dos Três Graos Symbolicos, em três partes separadas ou separáveis, destinadas, respectivamente, ao Venerável e ao 1º e 2º Vigilantes. Em cada uma delas se continham os rituais de Aprendiz, Companheiro e Mestre, com os textos relativos à "Abertura da Loja", "Recepção", "Oração", "Encerramento da L:.", "Instrucção", "Loja de Mesa, ou de Banquete", etc. É natural que este Guia tenha sido habitualmente usado em Portugal até às últimas décadas do século XIX, quando surgiram os primeiros rituais escoceses de lavra genuinamente nacional.

Paralelamente, imprimiram-se por conta e em função das duas principais Obediências "escocesas" textos descritivos que serviam de aditamentos esclarecedores ou complementares dos rituais mencionados. Foi assim que, em finais de 1841 ou começos de 1842, o Grande Oriente do Rito Escocês (facção Silva Carvalho) publicou um conjunto de folhas ou páginas volantes de 120x190mm, uma para cada um dos graus de 1 a 29, num total de 66 pp. Estas folhas não tinham outro título que não fosse o indicativo do respectivo grau. Para cada caso, com maior ou menor rigor e pormenor, indicavam a decoração do templo, os nomes dos dignatários, os sinais, o toque, a bateria, os passos, a idade, o tempo de trabalho, as insígnias e as palavras sagradas e de passe. Num trigésimo caderno, de 4 páginas, espécie de introdução, definia-se Maçonaria, resumiam-se os seus princípios e objectivos, e indicavam-se os deveres e os direitos do maçon escocês. Num exemplar existente hoje no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa, acrescentam-se às páginas impressas atrás indicadas mais de 8 páginas manuscritas com um decreto regulamentar datado de Maio de 1842, 14 páginas, também manuscritas, com as descrições relativas aos graus 30 a 32, e 27 estampas coloridas com a representação de todas as insígnias, do grau 1º ao grau 33º.

Também Miguel António Dias veio a dedicar ao Rito Escocês Antigo e Aceite, a partir da segunda edição da sua Bibliotheca Maçonica, dois tomos completos, que numerou com 5 e 6. No tomo V, tratou dos graus 1º a 18º, no tomo VI dos graus 19º a 33º. Porém, ao contrário do que fizera nos volumes anteriores, limitou-se a expor, em cada grau, a respectiva filosofia, as insígnias, a decoração dos templos, os sinais, os toques, as palavras, os passos, as baterias e outros elementos descritivos, omitindo os textos dos rituais em si. Quanto a ilustrações, o tomo V inseria apenas a do lado esquerdo da pedra cúbica, mas já o VI, além de apresentar a parte superior da mesma pedra, exibia os hieróglifos do grau 31, as insígnias do grau 27 e o painel do grau 28.

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