História do Ritual Maçónico em Portugal no século XIX (1820-1869)

O Rito Eclético Lusitano

Em 1843, ante a divisão da Maçonaria portuguesa, Miguel António Dias concebeu o audacioso projecto da sua reforma total, "reduzindo todos os ritos e todos os Orientes a um só rito e a um só Oriente". Criou assim o Rito Eclético Lusitano, ou simplesmente Rito Lusitano, articulando em três classes e sete graus: 1ª classe (Maçonaria Primária e Simbólica), com os graus 1 (Aprendiz Consagrado), 2 (Companheiro) e 3 (Mestre), cujas alegorias eram, respectivamente, Deus, Trabalho, e Génio; 2ª classe (Maçonaria Mística e Templária), com os graus 4 (Cavaleiro Rosa-Cruz) e 5 (Cavaleiro Kados) e alegorias ligadas à Igualdade, e à Fraternidade; e 3ª classe (Maçonaria Lusitana), com os graus 6 (Eleito Português) e 7 (Grande Eleito Português) e as alegorias da Liberdade e da União. As bases sobre as quais assentava o novo rito eram, quanto aos graus simbólicos, "a teogonia, artes e ciências dos povos primitivos", quanto aos graus místicos, "a doutrina e história do cristianismo" (grau 4) e "a doutrina e história dos Cavaleiros Templários" (grau 5) e, quanto aos graus lusitanos, "o processo de Gomes Freire de Andrade" (grau 6) e o "Sinédrio de Manuel Fernandes Tomás" (grau 7).

Assim, o Rito Lusitano, sem inovações no que respeitava aos graus simbólicos, fundia os ritos Francês e Escocês nos graus 4º e 5º, equiparando o primeiro ao grau de Rosa-Cruz e o segundo ao de Cavaleiro Kados, e criando dois superiores especificamente portugueses, o 6º e o 7º. Os graus 4º, 5º e 6º seriam atribuídos por uma Comissão Mística ou de Ritos, composta pelo Grão-Mestre e por seis representantes das lojas. A atribuição do grau 7º caberia apenas ao Grão-Mestre ou a um delegado seu.

Para além da sua curiosidade nacionalista, este Rito não tinha quaisquer condições de se impor, nem a nível nacional nem muito menos a nível internacional. Não admira, pois, que tenha desaparecido sem deixar rasto, poucos anos após a sua efémera vigência em algumas lojas devido à vontade de um maçon prestigiado.

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