Altamira : A terra prometida

Texto e fotos : Rogerio Pedroni

  Por do Sol no rio Iriri

Foi com grande satisfação que no final de julho , do amigo Fernando Lopes de Oliveira , grande pescador esportivo e editor do Diário do pescador -  Diário do Pará , recebi o convite para integrar um grupo de pescadores esportivos , formadores de opinião em visita a cidade de Altamira , região oeste do estado do Pará onde após alguns dias de pescaria deveríamos avaliar o potencial da região em desenvolver o mercado da pesca esportiva .
Os Rios a serem analisados seriam os rios Xingu ( acima da cidade de Altamira ) e o rio Iriri , afluente do Xingu ( aproximadamente 3 horas de voadeira com motor de 40 Hp Xingu acima ) , região onde esta em estudo pela prefeitura a implantação de uma região destinada exclusivamente a exploração do Eco – Turismo , e da Pesca Esportiva .
Nossa comitiva seria composta de aproximadamente 20 pescadores entre eles pescadores conhecidos das revistas e programas de TV especializados no setor , como Rubens de Almeida Prado ( Rubinho ) da Pescaventura , Marcos Reche da revista Pescador , Ian-Arthur de Sulocki da revista Troféu Pesca – Bíblia do Pescador  , Elza Queiroz presidente da Exatur e organizadora do TOPAM ( Torneio de pesca Amazônico ) e de outros companheiros como o René van der Kleij e Jordeci Santos , equipe vencedora de uma das edições do TOPAN , Felipe Bogomoltz webmaster da Black Bass in Brazil , e o amigo Manuel Guiu que nesta viagem representou a TFW ( The Fishing World ) .
  Marcos Reche e Piranha de papo vermelho rio Xingu

Em clima de festa nossa aventura começou no dia 3 de setembro no aeroporto de Congonhas , São Paulo onde nos encontramos com os amigos que chegavam de outros estados e a partir daí seguiríamos viagem todos juntos até a cidade de Marabá onde se juntaria ao grupo os demais integrantes da comitiva , os amigos de Belém .
Do aeroporto de Marabá , seguimos até Altamira num avião Brasília da Penta transportes aéreos onde logo na chegada fomos recebidos pelo pessoal da prefeitura e associação comercial local , que nos aguardava para um curto passeio de reconhecimento da cidade até a residência do prefeito de Altamira o Sr. Claudomiro Gomes  onde foi servido um farto lanche e tivemos a oportunidade de conhecer mais alguns integrantes do grupo e autoridades locais .
Com tudo preparado seguimos para as instalações do 51º Batalhão de Infantaria de Selva , onde ficaríamos hospedados  até o dia seguinte por volta das 5:00 hs da manhã horário de nosso embarque nas voadeiras que nos levaria até o destino final .
Sairíamos apenas na manhã seguinte rumo ao local de acampamento armado com antecedência pelos organizadores e ainda nesta mesma noite tivemos o prazer de assistir a uma palestra do Rubinho , onde com maestria nosso palestrante demonstrou a importância de se pensar na Pesca Esportiva , não apenas como nosso esporte predileto , mas sim pensar como um mercado promissor que movimenta milhões em todo o mundo e que ainda esta engatinhando no Brasil .
Chegada a hora combinada no dia seguinte , embarcávamos ansiosos nas voadeiras e rumávamos para o paraíso pesqueiro anunciado pelo amigo Fernando Lopes .
O rio Xingu mostrava seus encantos a cada curva que dobrávamos !
Águas rápidas num leito repleto de pedras e vegetação intocada nas margens , faziam de nossa viagem uma espécie de sonho , e a vontade era de parar ali mesmo , montar a tralha e começar a pinchar as iscas nos recortes das pedras , tudo ali era ponto a ser explorado cuidadosamente em busca de um belo troféu !
Algumas perigosas corredeiras se apresentaram no caminho , com o rio baixo ideal para a pesca mas de navegação complicada os experientes piloteiros venciam as corredeiras dando verdadeiros shows de pilotagem e confirmavam minhas suspeitas de que esta não seria uma pescaria fácil , mas sim mais uma aventura no meio da floresta Amazônica .
Chegamos com algum atraso ao acampamento onde um barco mãe nos aguardava com uma grande barraca montada , gerador de energia , fogões etc. , montamos nossas barracas nas areias da praia longe das arvores pois se durante o dia deixaríamos de desfrutar da sombra amiga  a noite estaríamos descansando em área mais ventilada , o que se mostrou excelente decisão pois no calor do dia estaríamos fora pescando só retornando ao acampamento ao entardecer .
Não suportava mais a ansiedade e assim que montei minha barraca , procurei os amigos que seriam meus parceiros de pesca neste dia , colocamos a tralha no barco e rumamos Iriri acima num primeiro reconhecimento do rio .
Pesquei neste primeiro dia com os amigos Luís e Fábio , era a primeira pescaria do Fábio com iscas artificiais e como sorte de principiante é algo a ser levado a sério não demorou para que o Fábio fisgasse o primeiro Tucuna do dia , um exemplar de aproximadamente 3 Kg fisgado numa isca de meia água ( barbela ) .
Os Tucunarés da região não impressionam pelo porte , são relativamente pequenos se comparados aos gigantes que conheci em Manaus e Roraima , mas impressionam pela quantidade !

   Tucunaré do rio Iriri

Neste rio , temos uma mistura de diversos peixes esportivos coisa que deixou a todos impressionados : Tucunarés , Trairões , Bicudas , Cachorras e Matrinchãns  no mesmo trecho de rio !
A Paisagem deslumbrante , os sucessos dos amigos nesta tarde e a promessa de fisgarmos peixes tão variados foi o tema que embalaram as conversas nesta noite e a medida em que as horas avançavam fomos nos recolhendo as barracas , preparando o necessário repouso para encarar o dia seguinte .
No segundo dia de pesca repetimos a equipe da tarde anterior , todo o grupo deveria subir o rio , até uma grande cachoeira onde nossos piloteiros subiriam no braço as voadeiras cachoeira acima e num paralelo ao conhecido lema de “ Jornada nas estrelas “ , estávamos “ audaciosamente pescando onde o homem jamais pescou “ !
Entravamos com a devida autorização da FUNAI , e conhecimento prévio dos índios “ Araras dentro da  reserva indígena , pois seria muito interessante avaliar o potencial desta região  “ completamente “ virgem e compara-la a parte de baixo do rio , onde embora relativamente pequena notamos a presença de pescadores profissionais .
Para nossa surpresa não encontramos exemplares maiores , nem em maior quantidade  dentro da reserva , o que me leva a concluir que ou demandaria mais tempo para encontrarmos os melhores pontos de pesca dentro da reserva , ou o rio Iriri não sofre ainda uma grande pressão de pesca  profissional , sendo a média dos exemplares capturados rio abaixo predominante em todo o rio .
Não contávamos com piloteiros experientes em indicar os melhores pontos de pesca , eram excelentes conhecedores do rio mas nada sabiam sobre as melhores estruturas o que exigia dos pescadores um trabalho de leitura do rio e com o passar dos dias a medida que nossos piloteiros iam entendendo o que estávamos procurando foram apresentando novos recantos acertando em cheio pontos mais produtivos .
Fundamentais eram as conversas no cair da noite , onde a troca de experiências com os demais pescadores iam apontando os melhores locais para encontrar determinado peixe , ou a melhor isca a ser utilizada .
As brincadeiras entre os membros da comitiva , tornavam o ambiente muito agradável e descontraído , o que fechava os dias de pesca com chave de ouro !

   Trairão do rio Iriri

O sol ainda não havia aparecido e acordo com o Rubinho batendo em minha barraca : - Acorda Roger ! Embora pescar !
Tínhamos combinado na noite anterior , que sairia com o Rubinho e o Nash para explorar novamente a região da reserva indígena , acima da cachoeira e certamente fiquei contente pela oportunidade de observar em ação este experiente pescador a quem muito respeito pelo profissionalismo e por ser no Brasil o percursor do Pesque e Solte .
Surpreso fiquei quando logo acima do acampamento entramos por um braço a esquerda do Iriri , um raseiro onde logo a seguir tivemos de arrastar a voadeira por mais de 300 metros de água pouco acima do joelho !
Rubinho havia tomado conhecimento com nosso piloteiro da existência deste caminho alternativo para se contornar a grande cachoeira saindo logo acima dela , a vantagem é que teríamos de superar umas 5 corredeiras e alguns raseiros , mas estas corredeiras seriam mais amenas do que a cachoeira e demandaria menos trabalho bruto para chegar ao nosso destino .
Pescador é sempre pescador !
Na beira do rio , não importa se é o famoso apresentador de TV ou um simples e desconhecido  pescador esportivo , o que manda é o espirito de aventura , o preparo físico e acima de tudo a paixão pelo esporte !
Arrastamos barco por pequenas cachoeiras rio acima , raseiros que pareciam intermináveis e a cada formação de pedras , a cada galhada promissora , nossas iscas iam caindo e trabalhando as iscas de hélice recomendadas pelo experiente companheiro de aventura .
Os ataques as iscas iam se sucedendo um após outro  e nosso alvo principal eram os Trairões , pois buscávamos ali o que tínhamos de diferente para se fisgar , já que os Tucunas embora fartos não impressionassem com muita freqüência  .

  Luis , Rubinho , Roger

Reservado o Tucuna que nos serviria de almoço , perto do meio dia encostamos numa sombra amiga para que nosso piloteiro acendesse o fogo e preparasse o “ avoado “ ( nome dado pelos ribeirinhos locais ao peixe assado na fogueira na hora do almoço ) , aproveitamos o descanso para um refrescante banho nas águas cristalinas do rio e saudável bate papo a beira da fogueira .
Demoramos mais do que imaginávamos a principio para chegar a parte superior da grande cachoeira pois pinchamos o tempo todo , explorando este braço de rio que tinha a peculiaridade de apresentar uma paisagem completamente distinta da que encontramos no leito principal do rio Iriri , e do leito do rio Xingu .
A vegetação se apresentava mais densa , arvores milenares recobertas por trepadeiras transmitiam a sensação de um lugar ainda mais virgem , as corredeiras formavam lagoas como as frequentes em toda a região mas as águas eram correntes e sua temperatura era muito próxima a do rio , ao contrario das lagoas quase fechadas do Iriri onde a temperatura das águas das lagoas  eram tão altas que chegava a causar mal estar caminhar por elas .
Chegamos as lagoas da parte de cima da cachoeira principal , já beirando as 14:30 hs e nesta região desembarcamos de vez e seguimos a pé pelas pedras explorando as águas rasas e quentes , a procura dos Trairões que ali certamente se escondiam .

  Rubinho e Tucunaré do Iriri

Embora o horário não ajudasse muito , trabalhando as iscas junto a sombras das pedras maiores ou junto a sombra de algumas arvores , tive o ataque do dia : Percebi o monstro caçando num fundo de lagoa e aproximando com cuidado pelo meio da rasa lagoa arremessei a pesada isca com maestria exatamente junto a estrutura onde ela deveria cair e no primeiro trabalho da barulhenta hélice um enorme trairão explodiu na isca !
Infelizmente para mim o bote não foi certeiro e como de costume , uma vez que os peixes erravam o primeiro bote , não mais voltavam a atacar as iscas .
Perdi assim a chance de fotografar com o que penso seria o maior exemplar de trairão encontrado pelo grupo , mas sabe como é : O maior sempre escapa mesmo !
O dia de pescaria alem da agradável paisagem e boa companhia foi muito produtivo em peixes , novamente não cheguei a me espantar com o tamanho dos peixes fisgados pois foram raros os ataques de peixes realmente grandes , mas sem sombra de duvidas a quantidade de fisgadas e explosões nas iscas garantiram um dia de pesca fabuloso !
Sai nos dias seguintes a procura das famosas Cachorras e Bagróides do rio Xingu .
Não tive sorte em fisgar as tão sonhadas Cachorras , faltou experiência acredito , pois outros amigos conseguiram encontrar os cardumes nas corredeiras certas e as iscas prateadas de barbela garantiram o sucesso com este peixe .
O segredo pelo que vim a saber depois era arremessar as iscas na “ água branca “ e deixa-la correr rio abaixo algumas dezenas de metros até que atingissem a beirada da água branca e recolhia-se a isca de forma a cobrir ao máximo esta região divisória das águas !
Não sou fanático pelos peixes lisos ( Pirararas , Barbados , Surubins , Piraíbas ) , mas num lugar destes não poderia deixar passar a oportunidade de tentar engatar um monstrinho destes !
Foi pescando junto com os amigos René e Joderci que as Pirararas apresentaram seu colorido e magnifica força , comprovando a fama de serem o  “ Trator do rio “ !

  Pirarara do rio Xingu

Segundo os conhecedores da região por lá tem Piraíba , e das grandes !
Nos poços do rio Xingu ou mesmo no Iriri , tem verdadeiros monstros e espero numa próxima visita a região dedicar mais tempo a este tipo de pesca , e quem sabe conseguir posar na foto ao lado de um destes troféus que não da para erguer sozinho !
É impossível narrar numa só vez , em detalhes tudo o que se passou nestes dias de pescaria , espero que tenha deixado nestas linhas ao menos uma pálida noção do potencial pesqueiro desta região ainda inexplorada e aguardo ansioso por ver nestas águas uma estrutura séria e competente , gerando empregos , divisas , sendo explorada de forma racional e garantindo assim o que pode vir a ser um dos maiores pólos de pesca esportiva do Brasil , talvez do mundo !