Texto e fotos : Rogerio Pedroni
Por do Sol no rio Iriri
Em clima de festa
nossa aventura começou no dia 3 de setembro no aeroporto de Congonhas
, São Paulo onde nos encontramos com os amigos que chegavam de outros
estados e a partir daí seguiríamos viagem todos juntos até
a cidade de Marabá onde se juntaria ao grupo os demais integrantes
da comitiva , os amigos de Belém .
Do aeroporto de
Marabá , seguimos até Altamira num avião Brasília
da Penta transportes aéreos onde logo na chegada fomos recebidos
pelo pessoal da prefeitura e associação comercial local ,
que nos aguardava para um curto passeio de reconhecimento da cidade até
a residência do prefeito de Altamira o Sr. Claudomiro Gomes
onde foi servido um farto lanche e tivemos a oportunidade de conhecer mais
alguns integrantes do grupo e autoridades locais .
Com tudo preparado
seguimos para as instalações do 51º Batalhão
de Infantaria de Selva , onde ficaríamos hospedados até
o dia seguinte por volta das 5:00 hs da manhã horário de
nosso embarque nas voadeiras que nos levaria até o destino final
.
Sairíamos
apenas na manhã seguinte rumo ao local de acampamento armado com
antecedência pelos organizadores e ainda nesta mesma noite tivemos
o prazer de assistir a uma palestra do Rubinho , onde com maestria nosso
palestrante demonstrou a importância de se pensar na Pesca Esportiva
, não apenas como nosso esporte predileto , mas sim pensar como
um mercado promissor que movimenta milhões em todo o mundo e que
ainda esta engatinhando no Brasil .
Chegada a hora combinada
no dia seguinte , embarcávamos ansiosos nas voadeiras e rumávamos
para o paraíso pesqueiro anunciado pelo amigo Fernando Lopes .
O rio Xingu mostrava
seus encantos a cada curva que dobrávamos !
Águas rápidas
num leito repleto de pedras e vegetação intocada nas margens
, faziam de nossa viagem uma espécie de sonho , e a vontade era
de parar ali mesmo , montar a tralha e começar a pinchar as iscas
nos recortes das pedras , tudo ali era ponto a ser explorado cuidadosamente
em busca de um belo troféu !
Algumas perigosas
corredeiras se apresentaram no caminho , com o rio baixo ideal para a pesca
mas de navegação complicada os experientes piloteiros venciam
as corredeiras dando verdadeiros shows de pilotagem e confirmavam minhas
suspeitas de que esta não seria uma pescaria fácil , mas
sim mais uma aventura no meio da floresta Amazônica .
Chegamos com algum
atraso ao acampamento onde um barco mãe nos aguardava com uma grande
barraca montada , gerador de energia , fogões etc. , montamos nossas
barracas nas areias da praia longe das arvores pois se durante o dia deixaríamos
de desfrutar da sombra amiga a noite estaríamos descansando
em área mais ventilada , o que se mostrou excelente decisão
pois no calor do dia estaríamos fora pescando só retornando
ao acampamento ao entardecer .
Não suportava
mais a ansiedade e assim que montei minha barraca , procurei os amigos
que seriam meus parceiros de pesca neste dia , colocamos a tralha no barco
e rumamos Iriri acima num primeiro reconhecimento do rio .
Pesquei neste primeiro
dia com os amigos Luís e Fábio , era a primeira pescaria
do Fábio com iscas artificiais e como sorte de principiante é
algo a ser levado a sério não demorou para que o Fábio
fisgasse o primeiro Tucuna do dia , um exemplar de aproximadamente 3 Kg
fisgado numa isca de meia água ( barbela ) .
Os Tucunarés
da região não impressionam pelo porte , são relativamente
pequenos se comparados aos gigantes que conheci em Manaus e Roraima , mas
impressionam pela quantidade !
Neste rio , temos
uma mistura de diversos peixes esportivos coisa que deixou a todos impressionados
: Tucunarés , Trairões , Bicudas , Cachorras e Matrinchãns
no mesmo trecho de rio !
A Paisagem deslumbrante
, os sucessos dos amigos nesta tarde e a promessa de fisgarmos peixes tão
variados foi o tema que embalaram as conversas nesta noite e a medida em
que as horas avançavam fomos nos recolhendo as barracas , preparando
o necessário repouso para encarar o dia seguinte .
No segundo dia de
pesca repetimos a equipe da tarde anterior , todo o grupo deveria subir
o rio , até uma grande cachoeira onde nossos piloteiros subiriam
no braço as voadeiras cachoeira acima e num paralelo ao conhecido
lema de “ Jornada nas estrelas “ , estávamos “ audaciosamente pescando
onde o homem jamais pescou “ !
Entravamos com a
devida autorização da FUNAI , e conhecimento prévio
dos índios “ Araras dentro da reserva indígena , pois
seria muito interessante avaliar o potencial desta região
“ completamente “ virgem e compara-la a parte de baixo do rio , onde embora
relativamente pequena notamos a presença de pescadores profissionais
.
Para nossa surpresa
não encontramos exemplares maiores , nem em maior quantidade
dentro da reserva , o que me leva a concluir que ou demandaria mais tempo
para encontrarmos os melhores pontos de pesca dentro da reserva , ou o
rio Iriri não sofre ainda uma grande pressão de pesca
profissional , sendo a média dos exemplares capturados rio abaixo
predominante em todo o rio .
Não contávamos
com piloteiros experientes em indicar os melhores pontos de pesca , eram
excelentes conhecedores do rio mas nada sabiam sobre as melhores estruturas
o que exigia dos pescadores um trabalho de leitura do rio e com o passar
dos dias a medida que nossos piloteiros iam entendendo o que estávamos
procurando foram apresentando novos recantos acertando em cheio pontos
mais produtivos .
Fundamentais eram
as conversas no cair da noite , onde a troca de experiências com
os demais pescadores iam apontando os melhores locais para encontrar determinado
peixe , ou a melhor isca a ser utilizada .
As brincadeiras
entre os membros da comitiva , tornavam o ambiente muito agradável
e descontraído , o que fechava os dias de pesca com chave de ouro
!
O sol ainda não
havia aparecido e acordo com o Rubinho batendo em minha barraca : - Acorda
Roger ! Embora pescar !
Tínhamos
combinado na noite anterior , que sairia com o Rubinho e o Nash para explorar
novamente a região da reserva indígena , acima da cachoeira
e certamente fiquei contente pela oportunidade de observar em ação
este experiente pescador a quem muito respeito pelo profissionalismo e
por ser no Brasil o percursor do Pesque e Solte .
Surpreso fiquei
quando logo acima do acampamento entramos por um braço a esquerda
do Iriri , um raseiro onde logo a seguir tivemos de arrastar a voadeira
por mais de 300 metros de água pouco acima do joelho !
Rubinho havia tomado
conhecimento com nosso piloteiro da existência deste caminho alternativo
para se contornar a grande cachoeira saindo logo acima dela , a vantagem
é que teríamos de superar umas 5 corredeiras e alguns raseiros
, mas estas corredeiras seriam mais amenas do que a cachoeira e demandaria
menos trabalho bruto para chegar ao nosso destino .
Pescador é
sempre pescador !
Na beira do rio
, não importa se é o famoso apresentador de TV ou um simples
e desconhecido pescador esportivo , o que manda é o espirito
de aventura , o preparo físico e acima de tudo a paixão pelo
esporte !
Arrastamos barco
por pequenas cachoeiras rio acima , raseiros que pareciam intermináveis
e a cada formação de pedras , a cada galhada promissora ,
nossas iscas iam caindo e trabalhando as iscas de hélice recomendadas
pelo experiente companheiro de aventura .
Os ataques as iscas
iam se sucedendo um após outro e nosso alvo principal eram
os Trairões , pois buscávamos ali o que tínhamos de
diferente para se fisgar , já que os Tucunas embora fartos não
impressionassem com muita freqüência .
Reservado o Tucuna
que nos serviria de almoço , perto do meio dia encostamos numa sombra
amiga para que nosso piloteiro acendesse o fogo e preparasse o “ avoado
“ ( nome dado pelos ribeirinhos locais ao peixe assado na fogueira na hora
do almoço ) , aproveitamos o descanso para um refrescante banho
nas águas cristalinas do rio e saudável bate papo a beira
da fogueira .
Demoramos mais do
que imaginávamos a principio para chegar a parte superior da grande
cachoeira pois pinchamos o tempo todo , explorando este braço de
rio que tinha a peculiaridade de apresentar uma paisagem completamente
distinta da que encontramos no leito principal do rio Iriri , e do leito
do rio Xingu .
A vegetação
se apresentava mais densa , arvores milenares recobertas por trepadeiras
transmitiam a sensação de um lugar ainda mais virgem , as
corredeiras formavam lagoas como as frequentes em toda a região
mas as águas eram correntes e sua temperatura era muito próxima
a do rio , ao contrario das lagoas quase fechadas do Iriri onde a temperatura
das águas das lagoas eram tão altas que chegava a causar
mal estar caminhar por elas .
Chegamos as lagoas
da parte de cima da cachoeira principal , já beirando as 14:30 hs
e nesta região desembarcamos de vez e seguimos a pé pelas
pedras explorando as águas rasas e quentes , a procura dos Trairões
que ali certamente se escondiam .
Embora o horário
não ajudasse muito , trabalhando as iscas junto a sombras das pedras
maiores ou junto a sombra de algumas arvores , tive o ataque do dia : Percebi
o monstro caçando num fundo de lagoa e aproximando com cuidado pelo
meio da rasa lagoa arremessei a pesada isca com maestria exatamente junto
a estrutura onde ela deveria cair e no primeiro trabalho da barulhenta
hélice um enorme trairão explodiu na isca !
Infelizmente para
mim o bote não foi certeiro e como de costume , uma vez que os peixes
erravam o primeiro bote , não mais voltavam a atacar as iscas .
Perdi assim a chance
de fotografar com o que penso seria o maior exemplar de trairão
encontrado pelo grupo , mas sabe como é : O maior sempre escapa
mesmo !
O dia de pescaria
alem da agradável paisagem e boa companhia foi muito produtivo em
peixes , novamente não cheguei a me espantar com o tamanho dos peixes
fisgados pois foram raros os ataques de peixes realmente grandes , mas
sem sombra de duvidas a quantidade de fisgadas e explosões nas iscas
garantiram um dia de pesca fabuloso !
Sai nos dias seguintes
a procura das famosas Cachorras e Bagróides do rio Xingu .
Não tive
sorte em fisgar as tão sonhadas Cachorras , faltou experiência
acredito , pois outros amigos conseguiram encontrar os cardumes nas corredeiras
certas e as iscas prateadas de barbela garantiram o sucesso com este peixe
.
O segredo pelo que
vim a saber depois era arremessar as iscas na “ água branca “ e
deixa-la correr rio abaixo algumas dezenas de metros até que atingissem
a beirada da água branca e recolhia-se a isca de forma a cobrir
ao máximo esta região divisória das águas !
Não sou fanático
pelos peixes lisos ( Pirararas , Barbados , Surubins , Piraíbas
) , mas num lugar destes não poderia deixar passar a oportunidade
de tentar engatar um monstrinho destes !
Foi pescando junto
com os amigos René e Joderci que as Pirararas apresentaram seu colorido
e magnifica força , comprovando a fama de serem o “ Trator
do rio “ !
Segundo os conhecedores
da região por lá tem Piraíba , e das grandes !
Nos poços
do rio Xingu ou mesmo no Iriri , tem verdadeiros monstros e espero numa
próxima visita a região dedicar mais tempo a este tipo de
pesca , e quem sabe conseguir posar na foto ao lado de um destes troféus
que não da para erguer sozinho !
É impossível
narrar numa só vez , em detalhes tudo o que se passou nestes dias
de pescaria , espero que tenha deixado nestas linhas ao menos uma pálida
noção do potencial pesqueiro desta região ainda inexplorada
e aguardo ansioso por ver nestas águas uma estrutura séria
e competente , gerando empregos , divisas , sendo explorada de forma racional
e garantindo assim o que pode vir a ser um dos
maiores pólos de pesca
esportiva do Brasil , talvez do mundo !