Lago central : O Paraiso da pesca
Lagos Centrais , o paraíso da pesca !
Texto : Rogerio Pedroni
Fotos : Rogerio Pedroni , Manuel Guiu , André
Seis meses de ansiedade se passaram desde que retornei da Amazônia
, muitas horas de conversa pela Internet com o amigo Igor Ferreira , de
Manaus , e com o amigo Manuel Guiu , de São Paulo e a data
e local da próxima pescaria finalmente foi marcada .
A viagem foi marcada para o dia 30 de outubro de 1998 , e o destino
seria o Rio Joaperi , no estado de Roraima , logo acima da reserva indígena
dos Waimiri – Atroari , deveríamos desta vez encontrar o Joaperi
um pouco mais cheio e navegável , o que nos permitiria ir muito
mais longe do que foi possível ir em março com o rio quase
seco .
Desembarcamos no Aeroporto Eduardo Gomes em Manaus por volta das 15:00
hs e nosso anfitrião já nos aguardava , ficamos sabendo que
os rios em Manaus estavam muito baixos e que era a pior seca dos últimos
100 anos naquela região e esta condição tornaria muito
proveitosa a pesca do Tucunaré nestes rios , mas resolvemos não
mudar os planos e seguir rumo a Roraima , onde mesmo estando em plena temporada
de pesca não teríamos de disputar peixes e pedaços
de lago com outros barcos .
Seguimos até a casa dele onde descarregamos nossa Tralha de
pesca e logo em seguida já estávamos fazendo as compras dos
alimentos , cordas , gelo , e tudo que precisaríamos em nossa expedição
no meio da floresta .
Outro amigo de Manaus nos acompanharia desta vez , o André ,
e faríamos sua iniciação na pesca esportiva !
Compras feitas , retornamos a casa do Igor onde jantamos e repousamos
até as 4:00 hs , horário marcado para nossa saída
de Manaus rumo ao inexplorado rio Joaperi .
A viagem transcorreu tranquila , tomamos o café da manhã
em Presidente Figueiredo , atravessamos os mais de 100 Km por dentro da
reserva indígena Waimiri - Atroari e por volta das 11:00 hs
chegamos a vila de Jundiá , ultimo contato com o que poderíamos
chamar de civilização .
A vila de Jundiá , é uma região onde as relações
entre os moradores e os índios são tensas ainda hoje
, pois não se passou sequer uma geração desde o conflito
sangrento entre o exército e os índios , durante a construção
da estrada que atravessa a reserva indígena e que resultou em espantoso
massacre , historia esta pouco conhecida dos livros de história
, mas que explica muito bem as relações nada amistosas entre
brancos e índios na região .
Em Jundiá , pegamos a esquerda uma estrada de terra até
a barranca do Rio Joaperi , e esperamos pacientemente um grupo de índios
carregarem uma grande quantidade de gasolina para os seus motores de popa
, que estava sendo fornecida por um caminhão da FUNAI , ( enquanto
os índios estivessem presentes não poderíamos descer
o nosso barco até o rio , nem sequer tirar fotos dos índios
, que segundo nos foi informado , imaginam ter seus espíritos aprisionados
nas imagens fotográficas ! ) .
Barco na Água , subimos o rio até o nosso já conhecido
local de acampamento , distante a apenas 1:30 hs rio acima ( com o rio
em condições navegáveis , em março demoramos
mais de 14 horas para percorrer a mesma distancia ) e depois de armada
as redes , ainda deu tempo de batermos a lagoa atrás do acampamento
, mas nenhum Tucunaré se dignou a atacar nossas iscas , e nos surpreendemos
com isso pois nesta lagoa tivemos muitos ataques da ultima vez !
No dia seguinte bem cedo , resolvemos explorar o rio Joaperi mais acima
e identificar outras lagoas e talvez termos mais sorte , enquanto subíamos
o rio , achamos uma saída de água , que poderia ser duas
coisas : um igarapé ou uma saída de lago central !
Resolvemos arriscar , e começamos a entrar pelo igarapé
navegando de forma quase impossível , por cima de arvores caídas
ou por baixo de espinheiros .
Começava assim a verdadeira aventura !
Atravessar com o barco este suposto igarapé , não era
coisa fácil , estávamos entrando no coração
da floresta , e a medida que avançávamos descobríamos
arvores seculares em um ambiente sombrio , aves que ainda não tínhamos
visto na beira do rio , agora nos acompanhavam atentas , curiosas e pouco
assustadas com o estranho grupo que invadia seus domínios !
Muitas vezes descemos do barco , para arrastar por cima de troncos
caídos e galhadas nosso barco , a hélice do motor de popa
enroscava nas plantas e cipós fazendo com que avançássemos
muito vagarosamente igarapé acima .
Varias vezes perdemos o caminho correto , pois o igarapé se
alargava e a água parecia vir de todos os lados nos deixando completamente
sem uma referencia do caminho a seguir !
Uma arvore caída com uns 30 cm de diâmetro teve de ser
cortada para que o barco passasse e como não tínhamos levado
um facão o obstáculo foi vencido com uma faca de caça
de não mais de 25 cm de lamina .
Quando estávamos perto de desistir , a luz do sol voltou a brilhar
forte a nossa frente , e nossas suspeitas se confirmaram , para nossa alegria
estávamos em um grande lago central !
Marcamos a entrada do lago com um saco plástico branco para não
nos perdermos na volta , e começamos imediatamente a pinchar nossas
iscas na margem direita do lago , sem no entanto obter sucesso com estes
arremessos .
Já era quase meio dia e não havia sinal de Tucunaré
, paramos para um lanche a sombra das arvores desta mesma margem , e sugeri
ao Igor que depois do almoço , deveríamos tentar as cabeceiras
do lago , o que foi aceito por todos . ficamos um bom tempo parados lanchando
e tentando localizar algum Tucunaré caçando nas margens distantes
.
Quando chegamos na cabeceira , não demorou muito para o Igor
fisgar um belo Aruanã , e minha isca também foi visitada
pelo outro , era um casal , mas não tive sorte e o que estava na
minha isca se soltou .
Fotos batidas , peixe devolvido a água , chegamos ao fundo do
lago , onde tive de recolher minha isca muito rapidamente , evitando que
um pequeno jacaré , atacasse a isca !
Se este jacaré abocanhasse a isca teríamos certamente
que sacrificar o bichinho pois seria quase impossível retirar dele
as garatéias sem que ele ou alguém no barco se machucasse
seriamente !
Foi quando vimos seguidas explosões na água , e
nosso animo foi redobrado , Tucunarés enormes caçando na
margem !
Seguimos com o motor elétrico até o ponto onde avistamos
os peixes e a festa começou !
O manuel , fisgou um Tucunaré de 6,2 Kg e foi grande a comemoração
, entravamos com o pé direito !
Tucunarés de 3 , 4 , 5 e 6 Kg começaram a explodir em
cima de nossas iscas e o barco virou uma festa .
O Manuel , pescava com um molinete , e a pratica mostrou que a facilidade
para trabalhar os peixes foi enorme , o molinete não só resistia
muito bem aos arranques , como por Ter um recolhimento maior do que
as carretilhas ele segurava a primeira corrida com muito maior facilidade
e rapidez !
Um fato curioso foi notado por nós , os peixes se concentravam
em apenas quatro pontos do lago , todos relativamente próximos uns
dos outros , e tinham em comum uma área alagada que se estendia
para dentro da mata .
isto fez com que não pescássemos todos os dias neste
lago , pois esgotaríamos os pesqueiros rapidamente , deixando os
Tucunarés ariscos demais e não atacariam mais as iscas .
No segundo dia de pesca dentro do lago , tive um ataque cinematográfico
em minha isca campeã ( uma Maria , miss carna , de dorso Azul e
40 gramas de peso ) , um Tucunaré enorme explodiu em cima da isca
, correu e saltou alto , caindo em cima de uma arvore na beira do rio ,
e ficou como se estivesse enroscado nos galhos por alguns instantes a uma
altura de 1,5 metros da superfície da água , se debatia e
finalmente conseguiu cair na água e se livrar da garatéia
voltando ao seu refugio dentro da mata !
O Igor não conseguiu grande sucesso pescando de fly e logo trocou
o equipamento para sua carretilha normal , os peixes preferiam atacar as
iscas que faziam grande barulho ao caírem na água , acabando
com toda a teoria da apresentação suave da isca na água
!
Quando percebemos isso , arremessávamos as iscas de forma a
fazer uma grande parábola e as iscas entre 30 e 60 gramas caiam
na água como um pedaço de tijolo , fazendo grande estardalhaço
e chamando a atenção dos Tucunarés em sua direção
!
Nunca em minha vida pensei um dia dizer isso : “ estou cansado de pescar
Tucunarés de 4 Kg ! “
Esta frase pode parecer verdadeira heresia , mas tanto eu como o Manuel
a dissemos varias vezes , e com a maior cara de pau do mundo chamávamos
estes Tucunarés de “ Popoca “ ou “ Popoquinha “ ( nome dado
na Amazônia aos Tucunas pequenos )
Vendo estas frases e brincadeiras , o Igor se divertia orgulhoso pois
ele sabia que o responsável pela descoberta do lago central fora
ele e sabia que daquela pescaria em diante seus amigos Paulistas veriam
os Tucunarés com olhos Amazonenses
!
tucunaré sendo solto