"Eles Tiveram um ao Outro" por Paul R. Zook (t.c.c. Peter Bunny) Como sou um estudioso sobre o Titanic assim como um fã de Tiny Toons, não muito tempo atrás eu imaginei o que poderia acontecer se os dois fossem combinados. A idéia, uma vez concebida, não me deixaria em paz até que eu a escrevesse. O drama de época a seguir é o resultado disto, sendo que eu combinei comédia com tragédia, fato com ficção, o presente com o passado. Um agradecimento especial vai para Kevin Mickel e Jamie Wilmoth, sendo que sem a ajuda de ambos isso não seria possível. Para acurância histórica e técnica, eu utilizei como referências "Titanic: An Illustrated History" por Don Lynch e Ken Marschall e "A Night To Remember" por Walter Lord. Meu endereço eletrônico é: critters2@hotmail.com. Mande-me algumas linhas e deixe-me saber o que você acha. Eu prometo que eu responderei tudo o que eu puder. Espero que você goste! Personagens originais de Tiny Toon Adventures, seus nomes e material relacionado são (c) Time-Warner Inc./Amblin Entertainment e são usados sem permissão. Este arquivo não pode ser alterado de maneira alguma mas pode ser gratuitamente distribuído eletrônicamente. Adicionalmente, este arquivo não pode ser arquivado em nenhum produto comercial (CD-ROM, etc.) sem a minha expressa permissão por escrito. Por favor sinta-se livre para fazer tantas cópias particulares no seu disco rígido quantas quiser, se isto preencher os seus propósitos! Esta era uma viagem que nenhum deles jamais esqueceria. Um cruzeiro de uma semana para a Europa, uma jornada de três semanas pelos lugares mais famosos da Europa, e agora um cruzeiro para casa, no maior e mais luxuoso navio em todo o mundo. No entanto, a Acme Looniversidade não enviou Perninha Coelho, Lilica Coelho, Leiloca Pataquada e Plucky Duck em uma viagem de férias. Não, era esperado deles *aprenderem* sobre os países que eles estudaram na classe de Cultura Européia - longos, tediosos relatórios os aguardavam até o retorno para a classe! Ainda assim, para os quatro a bordo do RMS _Titanic_ isto ainda era muito como as férias de uma vida inteira! Já era tarde naquela noite de abril, e Perninha, Lilica, Plucky e Leiloca estavam todos se preparando para a noite. Havia sido um dia cheio. De fato, todos os dias haviam sido cheios, desde que eles embarcaram. Este navio era tão grande! Tantos lugares para ir! Tantas coisas para fazer! Tantas coisas para se admirar! Certamente, não haviam tido nenhum momento desperdiçado por toda a viagem de volta, ao contrário da viagem de vinda, quando o grupo havia feito tudo o que se podia no terceiro dia de uma viagem de sete. Ou, talvez porque fosse Domingo, um dia que os desenhos se recolhiam cedo de qualquer maneira, quando havia escola no dia seguinte. Ansiosamente, em suas cabines conjugadas na Primeira Classe no Deck C, Perninha e Plucky aguardavam na cama pelo retorno de seus respectivos amores. No quarto de Perninha e Lilica, as luzes já estavam apagadas e Perninha estava deitado com sua cabeça descansando em suas mãos, naquela terra-de-ninguém entre estar acordado e adormecido. Lilica desligou a luz e saiu do banheiro. O brilho do aquecedor elétrico instalado oposto à cama fornecia um brilho alegre e adicionavam uma suave, romântica meia-luz ao quarto escurecido. Ela andou até a cama aquecida e parou ali, suas mãos em seus quadris, vestindo apenas uma camisola de seda vermelha muito sensual. - Vá mais para lá, Garoto Azul. Eu estou com frio, - ela arrulhou. Perninha virou sua cabeça e sorriu. Então ele deslizou de lado. Lilica deitou-se na cama e se aconchegou perto de Perninha. Ela suspirou. - Oh Perninha, não foi maravilhoso que a greve do carvão fez com que fossemos transferidos do _Philadelphia_ aqui para o _Titanic_? - ela respirou. - Eu ainda não posso acreditar que quando eles nos transferiram eles realmente nos moveram uma classe *acima*! Ohh, de todas as coisas que já experimentamos, ir para casa no _Titanic_ *têm* que ser a melhor de toda a viagem! - Perto de fazermos coisas aqui, certo? - Perninha adicionou com um largo sorriso. Lilica riu levemente. - Claro que sim! - ela disse carinhosamente. - Falando nisso... sentindo-se disposta para um round ou três...? - Lilica, contudo, não estava mordendo esta isca. - Ohh, não esta noite, amor, - ela disse quieta mas tenramente. - Eu estou meio cansada. - Então, aumentando um pouco o volume de sua voz, - Ademais, eu preciso de um pouco de tempo para recuperar-me de ontem à noite... - Aww, está bem, Liliquinha, - Perninha disse, um pouco desapontado. - Mas não se preocupe, amanhã é outro dia, - Lilica reassegourou, suave e sedutoramente. Depois de uma breve pausa ela adicionou, - Eu quero o meu chapéu! - O seu o *quê*? - Perninha perguntou, tomado totalmente de surpresa. - Meu chapéu. O que eu consegui em Paris. Perninha já estava acostumado aos rampejos imprevisíveis de Lilica à esta altura, mas este em particular o tomou completamente de surpresa! - O que... porque você quer o seu chapéu? - Eu gosto do meu novo chapéu! - Lilica disse e inesperadamente começou a sair da cama. Quase imediatamente, Perninha pegou o seu braço e parou ela. - NããOO, deixe o seu chapéu lá! - Perninha repreendeu, sentindo-se um pouco contrariado pela sua namorada quebrar aquele momento romântico. - Você vestiu ele o suficiente por hoje. De fato, você não parou de vesti-lo desde que você o conseguiu. Lilica aconchegou-se de volta à seu namorado, e riu para si mesma por sua própria piada. - Desculpe, Perninha, eu não consigo conter a mim mesma! - Agora comporte-se. Lilica abaixou levemente seu olhar e gentilmente trouxe a face de Perninha para perto da dela. - Certo, que tal isto? - ela perguntou, sua voz apenas um pouco mais forte do que um sussuro. - Mmm, bem melhor... Ambos os coelhos desfrutaram um bom, longo beijo. Perninha passou o seu braço direito pelo travesseiro de Lilica e ela descansou por cima dele, com Perninha a abraçando. - Boa noite, Perninha, - ela sussurrou. - 'Noite, garota. No seu suntuoso compartimento ao lado, Plucky e Leiloca estavam também confortando-se um ao outro. Como Perninha, Plucky estava também usando um pijama de algodão. Ele sentou-se na cama e ajeitou o seu travesseiro o mais confortável possível. Leiloca concentrou-se em ajeitar o seu cabelo amarrado com um lenço. Ela vestia uma camisa masculina de flanela maior do que o seu tamanho, com as mangas enroladas até aproximadamente metade de seus braços, e com *apenas* os botões fechados que eram suficientes para ocultar aquilo que necessitava ser ocultado. Mas apesar de tudo o que ela estava intencionando fosse dormir, Plucky estava intencionando *outras* idéias! Plucky provavelmente tinha *aquele* olhar em sua face, pois Leiloca achou importante afirmar: - Tipo, não venha com idéias, cara-de-pato. Eu não acredito que iremos fazer *aquilo* esta noite, ou algo assim! - Ah, qualéé, doçura! - Plucky protestou. - Você *disse* que iríamos! Poooorfavor! Vamos lá! - Plucky, suas lamúrias estão deixando minha aura *totalmente* estressada! Ademais, eu disse que *possivelmente* iríamos. Agora comporte-se antes que essa possibilidade desapareça para sempre! Enquanto Leiloca falava, Plucky espremeu, apertou, socou e amassou o seu travesseiro ate que este estivesse exatamente da maneira que ele desejava. Mas cada vez que ele colocava sua cabeça nele, ele tinha que sentar novamente e reajustá-lo novamente até que ele praticamente ouvia o travesseiro dizer 'quer fazer o favor de colocar sua cabeça em mim e dormir de uma vez?!!' Leiloca deitou-se e colocou as cobertas por cima de si. - Tipo, quando você terminar de brincar com esse tolo travesseiro quer por favor apagar as luzes, querido? - Então, mudando o seu tom de repreensor para sedutor, - e então venha aqui e mantenha-me aquecida, ou algo assim... Plucky, um pouco contrariado mas finalmente satisfeito com o seu travesseiro, alcançou até a lâmpada na penteadeira e a desligou. O quarto estava lançado em escuridão, salvo por um morno brilho vindo do aquecedor. Plucky procurava seu caminho de volta para a cama quando tropeçou em uma cadeira, quase indo ao chão. - Ooop! Er! Eu estou indo...! - ele chamou. Leiloca não conseguiu evitar de sorrir para si mesma. Apesar dos melhores esforços de Plucky para ser suave e afável, ele sempre dava algumas mancadas. Mas mesmo com o seu orgulho ferido, ele nunca parou de pretender que tem o controle das situações em que se encontra, mesmo que ele tenha consiência de que não está. E isto é o que ela amava sobre ele. Esta viagem em que eles estavam tornaram ambos os casais mais perto uns dos outros. Mas, apesar do sincero desejo de Plucky, a relação que ele tinha com Leiloca - especialmente por ele mesmo - ainda não estava no ponto que havia entre a de Perninha e Lilica. Plucky ouvira suaves sons vindo do quarto deles a noite passada, muito suaves, e ele sabia muito bem o que eles estavam fazendo ali, mas quando ele tentara a mesma coisa com Leiloca, ela não permitia a ele conseguir o que queria. Claro que ela o amava, Leiloca pensava. Mas ela apenas queria ter certeza de que eles não fizesem nada antes do devido, ou ao menos tudo de uma vez. Plucky chegou até a cama e deslizou pelas cobertas. - Tipo, você tem certeza que vai se comportar? - perguntou Leiloca. - Certamente, minha querida! - Plucky demonstrou confidência. - Tipo, não me venha com carícias até que você tenha terminado as anotações que você está por terminar. Plucky sentou-se e pegou um pacote de anotações, aparentemente detrás de si. - Elas estão todas aqui, amor, você pode dar uma olhada se desejar! - Ele não achou ser necessário dizer para ela que se tratavam de várias cópias da mesma página de anotações. Leiloca também sentou-se e levantou sua cabeça. - Certo, mas se você for longe demais esta noite, você vai, tipo, dormir no chão, ou algo assim, - ela disse, olhando ele cautelosamente. - Meu amor, você tem a minha palavra! O pequeno relógio de viagem de Plucky estava se aproximando de 11:00. Pelas 11:40, ambos os casais dormiam, exceto por Leiloca, que não conseguia ter uma noite completa de descanso desde que o navio deixara Southampton quatro dias antes. Ao invés disto, ela dormira muito pouco, e o menor ruído a acordava. Repentinamente, pareceu que algo estava chacoalhando todo o quarto; ela acordou justo em tempo de ouvir todos os objetos no quarto vibrarem por algum tempo. Por um momento, ela pensou estar de volta à Califórnia e estar experimentando um pequeno tremor. Ela escutou, e em algum lugar distante abaixo do chão e bem dentro do navio ela ouviu um rangido, bem fraco e indistinto. Nisto, tão rapidamente como começou, o som se fora. Repentinamente ela se inquietou. - Plucky? Plucky! Tipo, acorda, Plucky! Rolando no chão da cabine à frente do aquecedor, Plucky mexeu-se ligeiramente. - Umm? Mmmm, - ele murmurou. - Acorde, Plucky! Você sentiu isso? - Leiloca perguntou com algum temor. - Mmm? Senti o quê? - A sacudida! Tipo, algo estava agitando o quarto, e eu estou, tipo, captando vibrações terríveis disto, ou algo assim! - O Presidente apenas caiu da cama, certo? - murmurou Plucky, sonolento. - Plucky! O Presidente Taff não está a bordo...! - Mas ela não pode continuar; Plucky rolou de lado e cobriu a sua cabeça com o seu cobertor. Então ele começou a roncar. Leiloca olhou ao redor da cabine deles, tentando determinar se havia algo para se preocupar. Ela saiu da cama, andou até o banheiro, e parou na porta que dava acesso ao quarto de Perninha e Lilica. Imaginando ser mais prudente bater na porta antes de entrar, ela o fez, levemente. Nada. Ela colocou seu ouvido próximo à porta e escutou. Ainda nada. Cautelosamente ela abriu a porta. Ela parou para escutar novamente, mas desta vez ela ouviu apenas o som de dois coelhos dormindo. Silenciosamente ela fechou a porta e retirou-se novamente em seu próprio quarto. Leiloca ficou parada ali, pensando. Então ela foi até a porta que leva ao corredor e procurou escutar por alguma atividade. Não obtendo nada, ela voltou. Preocupada, ela subiu na cama, procurando esquecer os seus temores, e voltar à dormir. Quinze minutos após a meia-noite, uma forte batida veio da porta do quarto de Perninha e Lilica. Ambos os coelhos mexeram-se. - Perninha, veja o que é... - Lilica disse sonolenta. Uma sucessão de batidas mais fortes, seguidas por uma voz: - Todos de pé, por favor! Por favor, coelhos! - Então mais batidas. Perninha resmungou e colocou sua cabeça por debaixo do travesseiro. Lilica arrulhou como uma pomba quando gemeu no que o camareiro deles continuou a bater. - Perninhaaaa, *levanta*! - ela resmungou. Prontamente ela empurrou ele fora da cama com o seu pé, derrubando ele de joelhos no chão. - Todos de pé, por favor! Vocês tem que levantar! - Mais batidas se seguiram. - Tá, tá, tá, eu estou indo... - murmurou um sonolento Perninha levantando-se. Ele andou até a porta, destrancou-a, e a abriu algumas polegadas. O brilho da luz vindo do corredor fez ele cerrar seus olhos um pouco. - Sim? - ele questionou. - Descupem por esta inconveniência. Nós estamos com alguns problemas com gelo e o Capitão ordenou a todos reunirem-se no convés! - Tá, certo. Nós estamos indo... - disse Perninha bocejando. Ainda não completamente desperto, ele abriu a porta um pouco mais. Antes que Perninha ou Lilica soubessem o que estava acontecendo, o camareiro deles andou rapidamente para dentro e logo acendeu as luzes. Ambos os coelhos resmungaram em protesto. - Rapidamente! Levantem-se e aprontem-se, por favor! - ele disse em alta voz. - Ei, o que está havendo? - perguntou Lilica zangada. Cautelosamente ela colocou as cobertas sobre seu busto enquanto ela sentava-se. - O que está havendo Sr. Higgins? - Estão falando sobre um iceberg, senhorita. Nos simplesmente trombamos com algum deles. Sob ordens do Capitão Smith, todos os passageiros devem reportar-se para o convés dos salva-vidas. Steward Higgins andou até o closet deles e o abriu completamente. Retirando dois coletes salva-vidas ele continuou: - Agora vistam-se com abrigos quentes, e assegurem-se de estarem usando estes aqui. Vamos, vamos! Vistam-se, por favor! Eu irei acordar Sr. Duck e Srta. Pataquada. - Você sabe realmente como arruinar uma boa noite de sono, não sabe? - Perninha disse acidamente enquanto Higgins movia-se para a porta. Higgins riu. - Eu posso dizer, Senhor, essa é boa, ou o quê? Eu retornarei em instantes para verificá-los. - Isso é sério? - perguntou Perninha, coçando a cabeça. - Oh, eu não acredito que seja, - Higgins disse enquanto girava a maçaneta e abria a porta. - Meramente uma precaução. - Ele virou-se e deixou o quarto, fechando a porta atrás de si. - Mas que tolo... - Perninha resmungou para si mesmo. Ele virou-se e olhou para Lilica. Ela esfregou os olhos enquanto bocejava. - Bem, eu acho que é melhor nos vestirmos, - ele disse. - Considerando que já estamos ACORDADOS agora! - e então sorrindo de orelha a orelha ele adicionou, - e eu acredito que é melhor você vestir algo mais do que apenas *isso*! Lilica notou que uma das alças de sua camisola havia caído fora de seu ombro. Ela a recolocou no lugar e espreguiçou-se. - É, eu aposto que se fosse por você eu continuaria desse jeito, não *queriiiiiido*? - Claro que você continuaria! O que é que você pensa que eu sou... - Um porco! - Lilica interrompeu com uma risada. - Não, eu não sou! Presuntinho é um porco. Eu sou um coelho! - Ah, é mesmo? Pois você age como um porco! - sem aviso, Lilica alegremente arremessou seu travesseiro em seu sorridente namorado. Lentamente eles se vestiram como recomendado. Uma vez que estavam vestidos o suficiente, Perninha atravessou o banheiro e bateu na porta. - Sim? - perguntou Plucky. Perninha entrou. Muito para sua surpresa, ele encontrou Leiloca completamente vestida - colete salva-vidas e tudo - e pronta para ir. - Ao que parece Howlin Higgins esteve aqui! - Perninha zombou. - É? Como é que você sabe? - Plucky respondeu sarcasticamente. - Eu juro, eu vou jogar aquele cara para fora do navio antes que chegarmos a Nova Iorque! - Me avise quando você vai - eu vou ajudá-lo! - riu Plucky. - Mas o que há com aquele cara? Plucky produziu detrás de si um grande malho de madeira e o balançou na frente de si. - Nada que um bom golpe disto não resolva, - Plucky sorriu. - Ha! Ha! Nós não podemos fazer isso! Precisamos demais dele - para o serviço de quarto! - Perninha disse rindo. Foi Leiloca que quebrou a leviandade naquilo tudo: - Vocês rapazes, isso é, tipo, totalmente sem graça, ou algo assim! - a expressão no rosto dela demonstrou aos dois surpresos desenhos que ela não estava brincando. - Mas o que há, doçura? - perguntou Plucky com um leve tom de preocupação. - Eu tenho captado, tipo, vibrações totalmente hostis esta noite, e minha áura esta me dizendo que está acontecendo algo a mais do que Sr. Higgins está nos dizendo. - O que poderia ser o problema? - Perninha perguntou casualmente. - Então, nos batemos em algum gelo. E daí? Não é como se fossemos naufragáveis ou qualquer outra coisa assim. - É, o que poderia ser a pior coisa que poderia acontecer com nós? Sermos colocados nos botes salva-vidas e forçados a aguardar ali até que o navio fosse reparado ou algo assim. Vai estar tudo bem. - Plucky disse impertinentemente. - É, vai estar tudo bem, - Perninha reassegurou, quase tenramente. - Afinal de contas, nós temos um ao outro. Você sabe, todos por um e um por todos. E juntos nós podemos sair de *qualquer* problema! Nós temos conseguido até agora! - Tipo, certo, rapazes... onde está Lilica? - Ela vai estar aqui em um segundo. - disse Perninha. Então, nesta deixa, Lilica apareceu no banheiro, toda vestida - salva-vidas, chapéu e tudo o mais. - Eu estou aquiiiii! - ela anunciou. Posando como uma modelo, ela disse na sua melhor voz de mundo da moda: - A nova tendência para o verão *este* ano são salva-vidas branco-cortiça utilizados por *cima* e com uma aparência *completamente* horrível com qualquer coisa que você esteja usando! Reduzindo seus amigos a sacos de risos, Lilica retirou o salva-vidas e segurou na frente dela. - Phew, isso não me faz *nenhum* bem! - ela resmungou. - Eu vou apenas carregar o meu. - Eu também. - disse Plucky. Leiloca continuou usando o dela e não iria retirá-lo. - Estamos, tipo, prontos agora? - ela perguntou com um tom cheio de impaciência. Uma forte batida na porta anunciou o retorno de Steward Higgins. Leiloca abriu a porta e o deixou entrar. - Oh, Senhor Coelho e Senhorita Coelho! Vocês estão prontos! Vamos para cima, então? - Nós estamos indo, estamos indo! - os quatro disseram juntos. - Oh, só um segundo, - Perninha disse quando ele retornou para a sua cabine. - Eu preciso pegar o meu casaco. Uma vez que estavam a caminho, eles juntaram-se à muitos outros no corredor, todos encaminhando-se para o Convés dos Botes, dois decks acima. Enquanto caminhavam, eles foram percebendo mais e mais pessoas, todas vestidas de várias maneiras diferentes. - Ao que parece pode levar algum tempo até retornarmos para a cama novamente. - Perninha disse secamente. Assim que eles se aproximaram do elevador para subirem para o convés, a multidão tornou-se mais densa. Vendo o congestionamento nos elevadores, Plucky chamou, - Olhem para todas essas pessoas! Ah, esquecam isso aí e vamos pelas escadas! - É, boa idéia, - concordou Perninha. - Pelo tempo que teremos que esperar pegar o elevador nós já podemos estar lá. Eles começaram a ascender pelo magnífico ferro forjado e pelo trabalhado carvalho polido da Escadaria Principal, e os quatro fizeram uma pausa apenas o suficiente para verificarem o horário no relógio instalado em um elegante painel no topo da parede pela Escadaria. Era um pouco depois de 12:30. Um tripulante pediu para Lilica e Plucky colocarem seus coletes salva-vidas, o que eles fizeram sem diminuir o passo. A orquestra de cinco instrumentos do navio, liderada pelo violinista Wallace Hartley, estava no convés dos botes e tocava uma música ragtime em um rápido ritmo. Enquanto o grupo passava por eles enquanto saiam para o convés, era difícil de imaginar por ouvir eles que algo sério estava ocorrendo. Mesmo Leiloca foi acalmada um pouco pela música. Mas quando eles finalmente alcançaram o deck, Perninha, Lilica, Leiloca e Plucky não estavam preparados para o que aguardava por eles. Primeiro veio o ronco do vapor. Grandes nuvens disto estava espalhando-se através das ventilações próximas ao topo das primeiras três das quatro chaminés do _Titanic_, e o ruído era tão alto que as pessoas tinham que gritar para serem ouvidas. Abaixo, na Sala das Máquinas a pressão nas caldeiras tinha estado constantemente alta uma vez que o navio estava a toda velocidade, até que as válvulas de segurança liberavam o excesso de vapor que ventilava agora para fora. O encanamento que levavam isto para as chaminés mal conseguia conter toda a pressão. Então havia o frio. A última vez que Perninha, Lilica, Plucky e Leiloca estiveram no convés fora esse entardecer, quando eles apreciaram o espetacular por do sol antes do jantar. A temperatura então estivera cerca de 8 graus centígrados. Nas últimas horas, contudo, a temperatura caíra para cerca de meio grau abaixo de zero. Quando o grupo emergiu no convés dos botes eles adiantaram-se alguns passos e ficaram perto de todo a movimentação ao redor deles. Lilica foi a primeira a falar. - Uau! O que é tudo isso? - ela perguntou para ninguém em particular. - O quê? - disse Perninha. - EU DISSE O QUE É TUDO ISSO?? - repetiu Lilica mais alto, tentando competir com o vapor exalindo. - EU NÃO SEI, MAS ESTÁ MUITO FRIO AQUI FORA! - adicionou Plucky, também falando alto. - Então, tipo, o que nós devemos fazer? - perguntou Leiloca. - Hein? - ENTÃO, TIPO, O QUE NÓS DEVEMOS FAZER AGORA? - EU NÃO SEI, - gritou Perninha enquanto ele observava a ação ao redor dos botes salva-vidas. - PARECE QUE ELES ESTÃO COLOCANDO AS PESSOAS NOS BOTES! - ele percebeu que haviam sido retirados dos botes as lonas cinzas que os cobriam, e haviam sido posicionados em para um nível quase o mesmo do passadiço. Tripulantes aparentavam estar tentando convencer as pessoas a embarcarem neles. - EMBARCAR ELES NELES? - perguntou Lilica duvidosamente. Ela olhou para lá e de fato parecia ser o caso. Plucky e Leiloca também olharam. Repentinamente, os olhos de Leiloca arregalaram-se enquanto ela olhava algumas pessoas relutantemente embarcarem nos botes. - Bem, eles não parecem estar muito propensos a isto! - observou Plucky. - O QUÊ? - perguntou Perninha. - EU DISSE, ELES NÃO PARECEM ESTAR MUITO PROPENSOS A ISTO! Lilica olhou para sua amiga com os olhos arregalados. Ela viu uma grande dose de temor neste olhar. - Leiloca? O que há, garota? Cê parece que viu um fantasma! - mas Leiloca não conseguia responder. Ela apenas continuava a olhar, petrificada de terror. - Leiloca...? Vamos, LEILOCA! - Lilica passou sua mão na frente do rosto de Leiloca, e isto pareceu conseguir a atenção dela, mas quando ela tentou dizer algo ela não conseguiu. Lilica ficou preocupada. - VENHA, VAMOS VOLTAR PARA DENTRO! - chamou Perninha. Quando ele e Plucky viraram-se para retornar o abrigo do convés dos botes, eles notaram como estava Leiloca pela primeira vez. - O QUE HÁ DE ERRADO COM *ELA*? - Perninha perguntou para Lilica. - ELA POR ACASO ESTÁ ENTRANDO EM OUTRO TRANSE PSIQUICO OU COISA DO TIPO? - EU NÃO SEI! ALGO REALMENTE A DEIXOU TRANSTORNADA! - disse Lilica. - EI, LEILOCA, AMOR...! - disse Plucky. Ele olhou na delicada face de sua namorada e percebeu imediatamente que algo estava errado. - EU NUNCA VI ELA DESSE JEITO ANTES! - ele disse para Perninha. - VENHAM, VAMOS ENTRAR! - Perninha tentou novamente. - Vamos, Leiloca! Nós estamos voltando para dentro! - ele disse para ela, tentando ser gentil mas ainda assim ser ouvido aquém do vapor escapando. Plucky tomou a mão dela e juntos todos voltaram para o morno e relativamente silencioso Boat Deck foyer. Eles se posicionaram em um local oposto aos dos músicos, que continuavam tocando uma animada música. Observando a ação do lado de fora através de uma janela, Perninha, Lilica e Plucky então procuraram pensarem no próximo movimento do grupo. Finalmente Leiloca voltou a si e estava conseguindo falar novamente. - Tipo, *que coisa terrível*! - ela murmurou, a sua voz tremulando. - Eu vi tudo isso, pessoal. Minha aura teve essa tipo, premonição que tudo isso iria ocorrer, ou algo assim! Oh, vocês não vêem? Eu vi tudo isso acontecer! Nós precisamos ir para um bote salva-vidas! - Viu tudo isso? Do que é que você está falando, Leiloca? - Plucky perguntou com um olhar confuso em seu rosto. - Doçura, você está apenas delirando. - A outra tardezinha, quando nós estavamos andando aqui... meu karma juntamente com minha áura viram tudo isso. Os botes descobertos... pessoas entrando neles... o barulho... as luzes pelo convés... eu vi tudo isso acontecendo! Perninha olhou para Plucky, que em resposta apenas encolheu os ombros. - O que mais você... *viu*... ou, a quanto tempo você tem se sentido assim? - perguntou Perninha. - Bem, isso começou em Southampton, quando eu vi o navio pela primeira vez... minha áura, tipo, estava tentando me avisar naquela hora, mas eu não conseguia perceber a que ela estava se referindo. Aquilo era, tipo, uma sensação de medo *total*, ou algo assim... mas isso veio, tipo, de sopetão, sabe? Algo estava me atingindo - minha *áura* estava me atingindo, tentando me avisar... mas exatamente do que eu não conseguia perceber. Quando aquele navio quase nos atingiu quando estávamos deixando Southampton, eu pensei que era sobre *aquilo* que ela estava tentando me avisar. Mas essa noite, eu tive essa, premonição. E mais tarde, minha áura, tipo, continuou a me cutucar, ou algo assim... mas eu não dei ouvidos a ela. Eu quero dizer, tipo, esse navio é insubmergível, certo? - no que ela olha pela janela, aparenta estar prestes a chorar. - Então é isso? - perguntou Plucky. - Eu tenho notado que você não tem se divertido tanto quando nós. Porque você não disse isso antes? - Ohhhh... tipo, eu não sei... supostamente esse navio é insubmergível, ou algo assim... eu não queria aparentar estar doida ou coisa do tipo... - Você quer dizer mais do que o normal? - Lilica ofereceu a ela um sorriso, tentando alegrar a situação um pouco. Leiloca respondeu com um forçado, fraco sorriso. - Mas nós poderíamos *por favor*, tipo, irmos para os botes, ou algo assim? Perninha olhou pela janela e coçou uma orelha, pensando. Então ele olhou para Lilica e Plucky. - Bem... eu creio que nos *poderíamos* aguardar em um bote salva-vidas. Mas não se preocupe, minha amiga Pataquada! Vai ficar tudo bem! - É, vai acabar tudo bem! - Lilica exclamou confiante. Ela deu alguns tapinhas nas costas de Leiloca enquanto continuava: - Você lembra-se do que Tomas disse hoje de manhã. Vai ser preciso mais do que apenas um pouco de gelo para afundar *esse* navio! - É! Ha! Ha! Um pouco de gelo! Ho! Ho! Se não é para rirmos! - gargalhou Plucky. - Eu acho que a sua áura se enganou nesta! Hee! Hee! Hee! - *Mas* se isso a faz se sentir melhor, nós estamos indo para um bote. - sorriu Perninha. Leiloca aparentou estar visivelmente mais aliviada. - Tipo, obrigada, pessoal. - Ainda assim eu acredito que deveríamos pegar nossos objetos de valor, no caso de nos separarmos do navio. - Certo, Perninha. Mas, tipo, não vamos demorar demais, ou algo assim. Assim decidido, o quarteto saiu em direção das escadas. O mesmo tripulante que havia anteriormente requerido para Lilica e Plucky vestirem seus coletes salva-vidas os viu passando por ele e fez uma expressão de "onde é que vocês estão *indo*?" em seu rosto. Notando isso, Perninha disse para ele enquanto desciam, - Não se preocupe! Nós só estamos indo pegar algumas coisas. Vamos retornar logo. No que eles passaram pelo iluminado corredor do Deck C, eles encontraram-se com Thomas Andrews, Diretor Administrativo dos Estaleiros Harland & Wolff e construtor do _Titanic_, que havia guiado o grupo em um tour personalizado pela sua obra-de-arte naval naquela manhã. Um charmoso e tradicional sujeito, ele parecia ter um carinho especial por Lilica, que em troca usou um pouco do seu próprio charme e personalidade para conseguir com ele visitarem partes do navio que normalmente são de acesso restrito à passageiros. Mas agora ele tinha uma triste expressão em seu rosto que eles tinham que descobrir sobre o que era. - Thomas, aquiiiii, - Lilica chamou alegremente. - Ora, você parece tão triste, rapaz! Vamos, conte para Lilica o que há de errado. - É Tom, - Plucky disse rapidamente. - Você até parece que descobriu que Felícia seria sua filha! - Lilica! Plucky! Perninha! Leiloca! O que vocês estão fazendo aqui embaixo? - Andrews perguntou preocupado. - Vocês deviam todos estarem embarcando nos botes salva-vidas! - Uh, nos *estávamos* lá em cima, mas nós estamos indo de volta para nossas cabines pegarmos nossas coisas. - explicou Perninha. - Você não tem nada registrado na Tesouraria, têm? - Não. Andrews suspirou aliviado. - Graças a Deus! Eu estou com uma dúzia de senhoras lá agora requisitando suas jóias, e eu estou tendo maus momentos em convencê-las a irem para cima! - O que está acontecendo por aqui, Sr. Andrews, - Plucky perguntou, demonstrando impaciência em seu tom de voz. - Nós ouvimos que o navio trombou com algum gelo mas que isso não era nada sério. Então nós vimos os tripulantes colocando as pessoas nos botes salva-vidas. Agora, se isto não é serio, devemos nos trocarmos o luminoso e aconchegante navio pela fria escuridão nos botes? Andrews soltou um cansado, triste suspiro, passando a mão pelo seu rosto, e colocando eles mais perto da parede. Um grande temor demonstrava pela sua expressão. Ele começou lenta e quietamente: - Agora escutem-me muito cuidadosamente. Vocês tem que todos irem para um bote imediatamente. Aconteceu mais do que apenas trombarmos em um iceberg. Nos estamos fazendo água rápido - *por favor*, vocês *têm* que se apressarem! - Tipo, eu *sabia* que isso era sério! - Leiloca lamentou impacientemente. - Mas esse navio supostamente é insubmergível! - disse Lilica ainda não convencida daquilo. Andrews mordeu levemente seu lábio e continuou: - Nós perdemos a capacidade de flutuação... lembram-se hoje à tarde quando estivemos em meu escritório? E vocês lembram-se quando os mostrei as plantas e diagramas do _Titanic_? Todos os quatro acenaram que sim. - Lembram-se quando eu disse que o _Titanic_ poderia flutuar com quaisquer dois compartimentos consecutivos inundados, ou com os primeiros três ou até mesmo os primeiros quatro compartimentos inundados? Bem, essa noite aquele iceberg abriu os primeiros *cinco* e parte do *sexto* compartimentos - todo um terço de nosso comprimento total! Nós podemos flutuar com *quatro*, mas *não cinco* compartimentos inundados! Está é uma certeza matemática! - M-mas e quanto as anteparas de contenção? Não irão elas conter a água? - Perninha perguntou incrédulo. - Cerca de metade das anteparas só estendem-se até a altura do Deck E. Quando o quinto compartimento inundar-se totalmente a água vai fluir para dentro do sexto. Do sexto para o sétimo, do sétimo para o oitavo, e assim por diante, como os espaços em uma forma de gelo. - Isto é realmente tão ruim assim? - Sim! Sim! - Andrews fez uma pausa enquanto um passageiro passava por eles. - Não se enganem sobre isso, meus amigos; esse navio *vai* afundar! Mas *por favor*, guardem para si o que disse; não *pode* haver pânico. Agora, por favor, vão todos - e Perninha, Plucky, tenham certeza que vocês conseguem colocar estas senhoritas em um bote salva-vidas. - Mas e quanto a você, Thomas? - Lilica perguntou, ficando mais preocupada. Andrews fez o possível para sorrir. - Não se preocupe; eu irei em tempo, - ele disse. Mas antes que mais alguém pudesse acrescentar algo ele disse, - Então até logo, meus amigos. Que Deus os abencôe. - Então ele rapidamente virou-se e se foi. Ambos os casais observaram Andrews andando pelo corredor, verificando cabines e tendo certeza que mais ninguém restava ali. Então eles olharam uns para os outros, silenciosamente. Repentinamente, e pela primeira vez, eles perceberam toda a gravidade da situação. Perninha foi o primeiro a reencontrar sua voz. - Bem, eu acredito que é melhor irmos, - ele disse com a garganta seca. Os outros apenas acenaram concordando. Cerca de vinte minutos após eles terem deixado o Boat Deck foyer, Perninha, Lilica, Plucky e Leiloca estavam voltando, um pouco mais apressados do que antes. No que eles se aproximaram da base da Grande Escadaria, Perninha percebeu algo que ele não havia notado antes: - Digam, vocês não estão percebendo nada de errado com o chão, pessoal? - É, há algo de errado com estes degraus, - Lilica disse enquanto eles subiam. - Eles parecem estar fora do prumo ou algo parecido! Plucky adicionou, - É como se o navio estivesse... - Inclinando-se... para a proa... - Leiloca terminou, com sua voz dispersando-se. Todos os quatro olharam uns para os outros. O _Titanic_ havia desenvolvido uma considerável inclinação, o que apenas servia para ilustrar mais ainda o que Thomas Andrews os havia dito. Sem mais delongas todos eles continuaram. No que o grupo alcançou o topo, Hartley e seus músicos estavam ainda no foyer, mas estavam entre músicas. Leiloca podia ouvir trechos da conversa entre eles enquanto eles decidiam que músicas iriam tocar em seguida. De algum modo ela imaginou se eles estavam cientes do perigo que corriam. Perninha, Lilica, Plucky e Leiloca chegaram no Convés dos Botes e observaram a movimentação ao redor deles. Ainda estava frio, obviamente, mas o ruído do vapor ventilando das chaminés do _Titanic_ havia cessado. Mas o que era ainda mais notável do que o vapor era a atitude geral dos passageiros. O desinteresse havia desaparecido, as reações humoradas dos desenhos quando haviam sido chamados ao deck. A relutância - até mesmo em alguns casos resistência - de ser embarcar nos botes havia desaparecido. E talvez o mais importante de tudo, havia desaparecido também a impressão de que o navio de aço seria mais seguro do que qualquer bote de madeira. Não, poucos ali no Convés dos Botes ainda acreditavam que o _Titanic_ não estivesse realmente afundando. Perninha viu que, do grupo de quatro botes regulares e um desmontável que se alinhavam perante ele, dois haviam partido e um estava prestes a sair. Rapidamente, o quarteto se aproximou detrás da multidão, ficando próximos ao tripulante que ainda lidava com as cordas para as correias do Bote Número 4. Notando os recém-chegados, um marinheiro discretamente falou com Perninha: - Se eu fosse você, rapaz, eu levaria estas senhoritas para o Promenade. Nós vamos embarcar as pessoas neste aqui de lá. - Obrigado! Uh, *há* outros navios em rota por esta área, não há? - Três que eu saiba, rapaz. - Chegarão eles a tempo? - Perninha tentou o melhor que pode não soar preocupado demais. - Oh, não há dúvida sobre *isto*, senhor! Certamente! Ora, você pode ver um agora mesmo à frente da proa - um cruzeiro apenas à dez milhas de distância! Perninha olhou. Com certeza, ele viu aquilo - uma brilhante luz vermelha no horizonte, mais brilhante do que qualquer estrela. Perninha esticou seu braço e colocou a mão sobre os ombros de Lilica e Plucky. - Vamos, ele disse em voz baixa. - Este bote vai ser carregado do deck abaixo. Vamos tentar descer até lá. Repentinamente, enquanto ambos os casais faziam seu caminho para descerem a série de escadas até o Promenade, um foguete riscou o céu acima do navio. Eles pararam para observarem ele fazer um arco acima da série de mastros, chaminés e equipamento, até explodir em seis brilhantes bolas brancas, que iluminaram a área perto deles com uma pálida, fantasmagórica luz. Apesar da capacidade de Plucky ser de um pássaro aquático, ainda assim ele considerava-se mais um sujeito de terra. Vendo o foguete branco explodir acima do navio, ele sabia o que aquilo significava - mensagens de socorro por rádio não estavam tendo sucesso e aquilo era uma último esforço desesperado para conseguir socorro. Aproximando-se da orelha de Perninha ele disse, - Ei, Perninha, você viu aquele foguete, certo? - Sim... - Não pensa você que eles estão os lançando por causa que eles não estão conseguindo contatar outros navios por telegrafo para pedir socorro? Perninha sentiu uma sensação amedrontadora o percorrer. Talvez aquele navio que ele vira não sabia que eles estavam afundando! - É, pode ser! Escute Plucky... um dos membros da tripulação me disse que há um navio por perto - você pode ve-lo no horizonte. Mas ele está, tipo, à dez milhas de distância. Se ele não sabe que estamos afundando, talvez ele não nos alcance a tempo. - Talvez eles observem o foguete e venham em nosso resgate. - Bom Deus, eu espero que sim! - Voltando sua atenção para o restante do grupo, Perninha chamou, - Por aqui, garotas. Vamos continuar indo! No que eles continuaram na direção da escadaria Plucky notava o agrupamento de marinheiros trabalhando em um bote desmontável estocado na base da primeira chaminé, no teto da cabine dos oficiais. Uma vez no Promenade, os quatro viram um grande grupo de passageiros já agrupados. Eles também viram o Bote No. 4, contudo ele ainda não estava abaixado o suficiente para ser embarcado. Um tripulante estava ocupado em destravar as janelas do deck enquanto outros dois pareciam estar em um dilema. Um exame mais perto mostrava porque - um dos mastros do _Titanic_ estava diretamente abaixo do bote e impedia-o de ser abaixado mais. Quando Perninha, Lilica, Plucky e Leiloca tomaram posições perto do largo grupo de desenhos, Perninha anunciou, - Escute, pessoal; nós vamos ficar bem aqui. Se e quando mais pessoas aparecerem, cetifiquem-se que todos nós fiquemos juntos uns aos outros. Eu acho que nós perderíamos tempo em tentarmos achar outro bote para irmos, então vamos aguardar aqui até que eles comecem a embarcar neste. - O que nós vamos fazer neste meio-tempo? - perguntou Plucky. Perninha estava começando a responder mas ele foi cortado por Lilica: - Ei! Ei! Ei! Olhem! Ali está John Jacob Astor! - ela gritou. - É! - Plucky disse, seus olhos arregalando-se pela excitação de estar próximo do homem mais rico à bordo do _Titanic_. - Digam, não está com ele ali a sua *nova* esposa que é tipo, da nossa idade e *grávida*? - Não há nada de errado em ela estar grávida, - Perninha disse. - Ao menos se ele *tivesse* se divorciado da sua outra esposa para casar com ela. - Ele é velho o suficiente para ser o *pai* dela, pelo amor de Deus...! Ela não *aparenta* estar tão grande-*Aiii*! Plucky tremeu quando Leiloca acertou uma boa nele em seu braço. - O quê foi? O quê foi? Eu ouvi dizer que ela estava redonda como um balão- AIII! Ei! - ele lamentou-se de dor quando Lilica socou ele no outro braço. - PORCO! - Lilica e Leiloca disseram juntas. - Perninha... - ele choramingou indefeso, acariciando ambos os braços. - Ei, não espere que *eu* salve você dos próprios buracos que você se enfia, - Perninha avisou espantado. - Eu acho que é melhor você manter o seu grande bico fechado antes que elas arremessem você para fora! - Oh Leiloca, eu *tenho* que conseguir o autógrafo dele! - disse Lilica, esquecendo-se de Plucky e começando a ficar toda derretida como um pudim rosa. - Esqueça o autógrafo! Eu tenho que conseguir é um pouco do seu *dinheiro*! - Plucky disse enquanto suas penas ficavam em um tom mais verde ainda. - Pluckyyyy.... E então assim foi. Por quase uma hora a multidão no Promenade aguardou, esperando por alguém retornar com um machado para cortar o mastro do sino... esperando pelo Bote No. 4 começar a ser carregado... esperando para alguém competente os giar para longe dali. A inclinação no próprio deck passou de um pouco para bastante acentuada. Além da crescente inclinação havia também o barulho da comoção que havia no deck acima. O humor das pessoas ajuntadas lá começara como despreocupação, até mesmo indiferença. Mas despreocupação havia tornado-se preocupação quando os foguetes começaram a ser disparados. E agora preocupação estava tornando-se pânico enquanto os botes estavam começando a se afastarem. Mas as luzes ainda brilharam, e a música da rquestra de Wallaca Hartley - agora agrupada do lado de fora próximos a entrada que leva à Grande Escadaria - continuava a soar pelo frio ar noturno. Perninha, Lilica, Plucky e Leiloca ficaram juntos. Aqui e ali eles falaram... sobre o quão maravilhosa as "férias" deles haviam sido (até que eles foram acordados pelo seu camareiro naquela noite)... sobre pela inevitável perda de suas bagagens e as intenções de reclamarem isto contra a White Star Line... sobre isto e aquilo. Eles observaram um foguete atrás do outro serem lançados acima das águas próximas. A inclinação do passadiço deixava-os desconfortáveis, e os sons vindos de cima apenas serviam para aumentar o senso de urgência da situação. Mas eles também sabiam que enquanto eles tivessem um ao outro, de alguma forma as coisas iriam ficar bem. E enquanto eles ouviam os acordes de valsas da banda do _Titanic_ eles não sentiam-se tão mal. Finalmente um tripulante do _Titanic_ chamou, - Atenção, todos?! Todos?! Vocês tem que todos subirem ao convés dos botes! Poderiam vocês todos irem para o convés dos botes? Obrigado! Nós vamos organizar vocês de lá! Rapidamente, a multidão fez como ordenado. Enquanto Lilica subia as escadas ela notou que, como ela mesma, os outros estavam tendo problemas para subir os inclinados degraus. - *Cara*, esses degraus estão estranhos! - ela disse em voz alta para si mesma. Tão logo os desenhos alcançaram o convés dos botes eles foram todos ordenados novamente a descerem novamente por um tripulante. - Apenas nos digam aonde temos que ir e nós seguiremos! - exclamou uma mulher com impaciência. - Vocês nos ordenaram a subir para cá e agora estão mandando retornarmos novamente! - É! - juntou-se Lilica. - Decidam de uma vez, Marinheiros! Aonde vocês querem que fiquemos, em cima ou abaixo? - Abaixo no Promenade, por favor! Resmungando, todos voltaram pelo mesmo caminho. Quando eles chegaram, o mastro estava finalmente sendo cortado e o Bote 4 sendo abaixado para receber passageiros. A 1:45 da manhã o Segundo Oficial Charles Lightoller retornou para cuidar da situação, muito para o alívio de todos. Algúem empilhou cadeiras de praia para servirem como degraus e Lightoller tomou sua posição - um pé no Bote 4 e o outro na armurada. Rápida e silenciosamente os homens conduziram suas esposas, suas crianças e suas amadas para o bote salva-vidas... e ficaram de lado. Enquanto a multidão movia-se, nunca ocorreu realmente à Perninha, Lilica, Plucky e Leiloca que todos os passageiros homens não estavam entrando no Bote 4. Até o momento em que eles se aproximaram para embarcarem. Eles assim fizeram, e Perninha ajudou Lilica a subir a improvisada escada. Quando Lightoller começou a si mesmo ajudá-la a entrar no bote, Perninha começou a seguir ela. Lightoller o impediu rapidamente com as amedrontadoras palavras que selariam os destinos dele e de Plucky: - Me desculpe, senhor. Homens não estão sendo permitidos nos botes até que todas as mulheres e crianças estejam embarcadas primeiro. - O QUÊ?!! - gritou Lilica zangada enquanto ela se apoiava na armurada. - Oquecêquer *DIZER* que eles não podem vir conosco?! Eles são nossos NAMORADOS, pelo amor de Deus! São *apenas* nós quatro! Eles são tudo o que temos! Eles *tem* que vir conosco! - subtamente ela pulou novamente no passadiço. - Me perdôe, senhorita. Ordens do Capitão. Mulheres e crianças primeiro, - Lightoller explicou. Lilica cerrou o olhar. - Certo, mas então o que vai ser de nossos namorados?! - ela grunhiu. Perninha sabia que ele tinha que resolver a situação, e rápido. Ele colocou as mãos nos ombros dela e a virou. - Ei, ei, Lilica! Calma, doçura, - ele disse confortadoramente. - Você e Leiloca devem embarcar. há outro navio perto. Eles já devem estar vindo para cá. Nós iremos nos encontrar com vocês depois. Plucky e eu ficaremos bem. - É verdade, Plucky? Sobre este outro navio? - Lilica perguntou cautelosamente. - É! Quero dizer, você pode ver por si mesma, bem ali no horizonte, - Plucky disse, apontando e sorrindo o seu melhor sorriso de político. - Mas, tipo, e quanto à vocês rapazes? - Leiloca perguntou, ainda não totalmente segura. - Eu quero dizer, o que você rapazes vão fazer, ou algo assim? - Você realmente não acredita que vamos ficar dentro dessa coisa até o fundo, acredita? - perguntou Plucky amigavelmente. - Nós vamos tirar nossas caudas fora daqui, não se preocupe. Há mais botes acima. Nós apenas iremos embarcar em um deles. Vocês garotas já devem ir indo. - Vamos, por favor! Não podemos perder tempo! - impaciência estava claramente surgindo na voz de Lightoller. Ambos os casais rapidamente abraçaram-se, então beijaram um rápido beijo de despedida. - Não se preocupe, Liliquinha, - Perninha sussurou. - Nós iremos estar juntos novamente. Sempre lembre-se que, uh, eu amo você. - Oh, Perninha, eu amo você também. A despedida para Plucky não foi menos difícil. - Escute, Leiloca, - ele sussurou. - Me perdôe sobre hoje à noite. Não se preocupe, amor; nós iremos nos encontrar de novo. Você vai ver. Eu realmente te amo. - Oh, querido, eu também te amo. - Rápido, por favor, não há muito mais tempo! - Lightoller interrompeu. Perninha e Plucky ajudaram suas namoradas a subirem e observaram elas entrarem nos botes. Então, como todos os outros homens, eles se afastaram. Então foi a vez dos Ryersons. Depois de alguma deliberação sobre se o filho de 13 anos poderia entrar no bote com a sua mãe, Lightoller perguntou se não haviam mais nenhuma mulher ou criança. Instantâneamente, uma idéia atingiu a cabeça de Plucky. Antes que Perninha pudesse perceber o que havia acontecido, Plucky fez um giro de interpretação e surgiu vestido como uma mulher. Mas Perninha não foi enganado. - Plucky, o que você está *fazendo*? - ele perguntou incrédulo e zangado. - Shhh! Perninha! Não me comprometa! - Plucky sussurou. - O quecêtá fazendo? Prentendendo ser uma garota só para conseguir entrar no bote? - Escute, Perninha, agora é a nossa última chance - - Não! Não! Escute você! - Perninha interrompeu, sua voz ficando mais zangada. - Pelo amor de Deus, Plucky! Seja um homem pela primeira vez na sua vida! Olhe ao redor de você! Olhe quantos outros caras estão perdendo suas namoradas! Eles ainda estão aqui! - Eles são todos uns tolos! - Plucky disse. - Eles estão ficando porque eles não são espertos o suficiente para encontrarem uma saída! Mas *este* patinho verde *é* esperto o suficiente! - Plucky, Plucky, pense nas consequências de seus atos! - Perninha avisou. - Eu ser resgatado. - Talvez! Mas você acha que *Leiloca* vai querer alguma coisa com você assim que ela souber que você saiu desta como um *covarde*? - Ela provavelmente está esperando isso de mim. Covardice é algo com o que eu posso viver. Com a morte é algo muito mais difícil de se 'conviver'. - Plucky! - Perninha exclamou. - Ela *não* está esperando *isto*! Você pode sair dessa vivo, mas você sabe tão bem quanto eu que quando ela souber que você foi um covarde ela não vai mais querer ver você! Lilica não vai querer mais ver você! E se *eu* sobreviver, *eu* não vou querer mais ver você também! Não, Plucky! Esta não é a maneira de sairmos disso! Nós temos que encontrar algum outro jeito! Plucky pode perceber que Perninha estava certo. Ele não queria perder Leiloca. Ele não queria perder as amizades de Perninha e Lilica. E ele *certamente* não queria perder a sua recentemente conquistada fama que ele sabia que tinha naquela nova mídia de entreterimento que era chamada de filmes para cinema, que ele sabia que a perderia quando o que ele teria feito fosse descoberto. Não, teria que haver outro jeito. Plucky suspirou, e então girou rapidamente em torno de si mesmo. Reaparecendo em suas roupas normais, ele tinha uma arrependida expressão em sua face. - Você está certo, Perninha. Me desculpe. Perninha sorriu e deu alguns tapinhas no ombro de Plucky. Não encontrando mais nenhuma mulher (verdadeira ou não), Lightoller ordenou o número 4 ser abaixado. Era agora 1:55 e o mar, normalmente a consideráveis 15 metros de distância, estava agora a apenas 5 metros abaixo. A medida que o bote rangia em seu caminho abaixo até a água, Perninha e Plucky foram até uma aberta janela e apoiaram-se com parte do corpo para fora, olhando abaixo para localizarem suas amadas. Eles a viram, e as chamaram: - Lilica! - Leiloca! - Perninha! - Plucky! - Se ficar muito apertado neste bote, apenas jogue seu chapéu para fora e sente-se nele! - Perninha gritou para sua amada. - Esse chapéu deve ser grande o suficiente para nós dois! - Agora, por *este* comentário, seu grosseirão, seu tonto! - Lilica falou brincando. - Eu empurraria você para fora! Talvez inspirado por Perninha, Plucky da mesma maneira teve que adicionar algum comentário: - E não se esqueça, Lilica, você ainda me deve aquela dança de hoje à noite! - Tipo, está prometido, Plucky! Perninha e Plucky acenaram então adeus. Assim que terminaram, Plucky perguntou ao pé-do-ouvido, - Você realmente acha que aquele outro navio vai conseguir chegar aqui há tempo? - Você realmente acha que nós temos alguma chance que conseguirmos entrar em algum bote com todas essas pessoas à bordo - *se* houverem outros botes ainda? - Perninha respondeu sarcásticamente, também ao pé-do-ouvido. Plucky não respondeu. Eles observaram o Bote N. 4 ser solto de suas amarras e começar a se afastar do navio. Plucky saiu da janela e puxou a manga do casaco de Perninha. - Vamos! - ele disse. - O quê? - Nós temos que cair fora desse navio, isso sim! - O que você tem em mente? - Eu não sei, mas não podemos ficar aqui! - Isso é certeza. Subimos as escadas? - Sim, acho melhor. - Perninha e Plucky foram até a escada. Assim que chegaram no topo, a melhor maneira de se descrever o cenário que eles encontraram seria como caótico. Multidões de desenhos enchiam as áreas ao redor das amarrações dos botes, todos empurrando e puxando na tentativa de alcançarem o bote desmontável D, colocado nas amarras de desembarque que o Bote N. 2 usara. Além dos desmontáveis A e B (que ainda estavam sem utilização, amarrados no telhado do compartimento dos oficiais), D era o último bote restante para quase 1500 pessoas. Pânico estava resultando desta situação, e a tripulação não estava tomando chances; eles seguravam a multidão e permitiam apenas mulheres e crianças passarem. Mais de uma vez Lightoller teve que conter a multidão passando seu revólver na frente deles. Ainda que as luzes continuavam acesas, e que a orquestra do navio continuava tocando a música. Perninha e Plucky observavam a cena de seus vantajosos pontos abaixo do toldo que cobria as escadas. - Droga, Plucky! Não há *jeito* de nós conseguirmos entrar naquele bote! Nos não conseguiremos sequer chegar até ele! - É... - Plucky olhou para o telhado e observou vários homens ainda trabalhando furiosamente nos botes desmontáveis ainda amarrados ali. - E eu não acredito que teremos melhor chance com aqueles ali, também! - ele disse, apontando. - Vamos, Plucky! Tem que haver outros botes disponíveis! Nós temos que apenas descer as escadas, passar todo o caminho até a Grande Escadaria, e ver se conseguimos passar através da entrada do outro deck. - Certo... - Enquanto o Bote número 4 se afastava do navio, uma espantosa cena encontrava seus ocupantes - o _Titanic_ bastante inclinado para a proa. Sentadas à beirada do bote Leiloca e Lilica mal podiam acreditar em seus olhos. Em Southampton o _Titanic_ parecia tão grande e poderoso que parecia poder sustentar o próprio céu. Agora elas observavam a água do mar avançar através do Deck C, e entrar pelas abertas portas atrás. Lilica olhou para a inundada superestrutura na proa e viu apenas o mastro de vante, o gindaste da âncora de emergência, equipamentos e o topo dos gindastes de carga para fora da água. De alguma maneira a lembrou do Rio Acme perto da sua casa, quando enchentes acontecem no outono. - Oh, Lilica, isto é terrível! - Leiloca lamentou-se enquanto observava a ação se desenrolando nos decks do _Titanic_. - Eu estou recebendo, tipo, vibrações *totalmente* hostis daquilo! Eu não vejo nenhum navio por perto! E eu não vejo nenhum outros botes se afastando do navio, também! Eu penso que nossos namorados, tipo, não vão conseguir, ou algo assim! - Escute Leiloca, - Lilica disse com a voz carregada de emoção. - Nós temos que sermos fortes. Nós temos que acreditar que eles estão bem. Que eles *estarão* bem! E que nós vamos nos juntar a eles mais tarde. - É, você está, tipo, certa, Lilica. - olhando para a popa Leiloca disse abismada, - Ohmeudeus! Olhem *aquilo*...! Lilica virou-se e notou que o casco estava tão inclinado para fora da água que as colossais hélices propulsoras estavam começando a se exporem. - Leiloca, - ela conseguiu dizer, - Ai está algo que nós nunca mais vamos ver novamente em nossas vidas... Andando na direção da popa pelo deck dos botes, Plucky e Perninha estavam também percebendo que não haviam mais nenhum outros botes restantes. - Isso é *loucura*, Plucky! - disse Perninha zangado. - Não há mais nada no navio que possamos usar para sairmos daqui! - Eram pouco mais de 2:05 e a inclinação no convés estava tornando-se pronunciada. Barris, cadeiras de praia - mesmo pessoas - estavam começando a deslizarem para a água. Cinco minutos antes o bote desmontável D - o último bote utilizável de todos - fora carregado, e uma vez que ele se fora uma curiosa calmaria se deu no _Titanic_. Pessoas começaram a fluir para a proa para se afastarem o mais que pudessem dali. E ainda que os decks da popa eram na sua maioria áreas da Terceira Classe, repentinamente se tornou um popular local para desenhos de todas as três classes. Perninha e Plucky pararam por um momento para observarem a cena em volta deles. Plucky percebeu um repentino aumento no número de pessoas no deck dos botes. - De onde toda essa gente veio? - ele perguntou. - Não haviam tantas assim aqui antes, eu sei *disso*! Perninha observou e percebeu que realmente havia um crescente número de desenhos ali. Ele observou como eles estavam vestidos, em uma maneira muito mais simples e barata do que aqueles da Primeira Classe. Repentinamente, ele percebeu do que se tratava, - Plebe, Plucky. - ele disse. - Da Terceira Classe! Olhe para as roupas deles, Plucky! Eles não são passageiros da Primeira Classe - eles sequer são da Segunda Classe! Eles estavam na Terceira Classe. - Terceira Classe? - perguntou Plucky. - O que eles estão fazendo aqui - *agora*? Onde eles estavam antes? Perninha pensou por um momento, e então empalideceu. - Bom Deus! Os portões! Plucky não pareceu compreender. - Portões...? - Os portões, Plucky! Lembra-se depois do jantar que nós estávamos indo para a Terceira Classe para organizarmos um show mas nós não pudemos porque os portões estavam todos trancados? Não percebe, meu chapa? Estas pessoas foram *presas* ali embaixo - pelos portões trancados! - E somente *agora* eles foram permitidos aqui em cima? Bom Senhor! - Plucky exclamou. - O que nós vamos fazer, Perninha? Eu acho que estamos ficando sem tempo! Realmente, com o passadiço agora tão inclinado que estava se tornando difícil ficar-se em pé, o tempo realmente estava acabando. De dentro do navio sons de rachaduras, como louças quebrando-se, eram ouvidos. As luzes, ainda que estavam acesas, não mais estavam tão brilhantes. - Você acha que nós poderíamos pular e flutuar em alguns dos destroços? - Plucky perguntou esperançosamente. Perninha andou alguns passos até a armurada próxima aos agora vazios guindastes do Bote N. 10 e olhou para fora, pelo aço do costado do casco do _Titanic_, até o escuro mar muito abaixo. - Uau! Não daqui! - ele disse. - Deve ser pelo *menos* uns 20 metros até a água! Ademais, a água está congelante, de qualquer maneira. Plucky juntou-se a Perninha na armurada e também olhou para baixo. - Uau! Cara, está alto aqui! - ele disse surpreso. - Você está vendo alguma coisa que poderíamos usar como balsa? - Uh-uh. - Perninha disse após uma breve pausa. - Nada que conseguisse suportar o nosso peso, de qualquer jeito. E você? - Uh-uh. Vamos lá, Perninha, você é quem sempre tem algum plano! O que nós vamos fazer? Perninha ficou batendo um dedo em seu grandes dentes de coelho, pensativo, e Plucky também pensava, ambos tentando imaginar algo. - Eu já sei! - Perninha disse finalmente. Apontando para um bote vagamente visível no horizonte, ele disse, - Está vendo aquele bote ali? Deve estar a uns 100 metros de distância. Vamos aguardar até o último momento para então nadarmos até ele. - É isso? Isso é o seu plano? - Você tem alguma idéia melhor? - Bem... não... - Certo, então! Não é *tão* longe assim. A piscina da Acme Looniversity é mais longa do que isso. Lembra-se daquela vez que fizemos aquela corrida no último verão? Aquilo foi mais de 200 metros, e você quase me venceu! - Você trapaceou, - Plucky grunhiu. - É, eu acho que é a melhor saída. Ao menos eu não estou vendo nenhum bote por perto, e eu *não acho* que aqueles caras lá em cima vão conseguir liberar aqueles desmontáveis a tempo! - É melhor nos aproximarmos da água, - Perninha apressou-os, adiantando-se. - Com o deck da maneira que está, eu acho que não seria bom esperar até o navio ficar inclinado demais e acabarmos escorregando em algo e nos ferindo. Assim decidido, Perninha e Plucky fizeram seu caminho até a ponte. Eles podiam escutar ruídos de todos os tipos emanando de algum lugar abaixo deles, enquanto mobiliário começava a cair. As 2:15 o maestro Hartley bateu em seu violino e o alegre som cessou. A doce, lenta melodia de "Songe de Autumn" começou a cobrir o deck e o frio ar da noite. Repentinamente, algo dentro do _Titanic_ ocorreu e o navio pareceu fazer um balanço para a frente, e a velocidade da inclinação aumentou dramaticamente. A ponte mergulhou rapidamente dentro da água e uma onda grande o suficiente para se surfar em cima começou a avançar à popa. Todos que foram pegos por ela ou que não eram ágeis o bastante para saltarem fora do seu caminho foram engulfados pela água e carregados para fora. Na base da primeira chaminé, os botes desmontáveis A e B foram finalmente liberados pela tripulação, mas não a tempo de serem utilizados por algúem. A estibordo algúem apoiou tábuas contra as paredes do compartimento dos oficiais e os homens ali intencionavam a deslizarem o Bote A primeiro. Mas com a acentuada inclinação do _Titanic_ eles estavam tendo muito trabalho tentando empurrá-lo para a beirada do deck. Quando a onda atingiu o deck apenas uma pessoa - um marinheiro - conseguiu pular antes que o bote simplesmente flutuou para fora. No outro lado, outros tripulantes tentavam abaixar o Bote B da mesma maneira que o A. Na pressa, contudo, o bote caiu e atingiu o deck de cabeça para baixo. Alguns marinheiros trabalharam rapidamente para colocá-lo na posição correta, mas quando a onda os atingiu, tripulantes e botes foram juntos arremessados para fora. O mar continuou a avançar para a popa, entrando pela redoma acima da Grande Escadaria. Sem nenhum aviso, a primeira chaminé começou a inclinar-se para a frente com um estalo metálico agudo como um gemido. A sua queda esmagou a parte de estibordo da ponte e golpeou a água com força, criando uma nuvem de faísca e fuligem. Dúzias de pessoas infortunadas o bastante por estarem logo abaixo da chaminé de sete andares de altura foram mortos instantâneamente, ou afogados na onda que subsequentemente ocorreu. Perninha e Plucky assitiram espantados a chaminé cair e sabiam então que o fim estava próximo. - Bem, meu chapa, eu acho que é isso aí, - Perninha disse e sorriu. - Lembre-se, o bote salva-vidas é nossa meta. Apenas pense nisto como uma revanche do verão passado. E você *sabe* como você detesta perder! Plucky riu. - É, eu acho que sim. Perninha suspirou. - Bem, foi ótimo trabalhar com você. - ele disse. - O mesmo. - oferecendo sua mão Perninha perguntou. - Vejo você no deck de manhã, cara-de-bico? Pegando a mão de Perninha e a apertando amigavelmente Plucky respondeu, - Pode contar com isso, bafo-de-cenoura! Podia-se dizer que aqueles sentados nos botes e os que estavam na água próximos ao navio estavam na primeira fila para assistir o _Titanic_ começando a sua agonia final para a destruição. No Bote 4, Leiloca não mais aguentava observar aquilo; ela virou-se e cobriu a sua face com suas mãos. Lilica, contudo, assitia a tudo, atravessada por horror e fascinação. Eram 2:17. A proa continuou a afundar e a popa continuou a levantar-se, até que o navio estava a praticamente a 45 graus de inclinação em relação à água. A orquestra do navio parou abruptamente de tocar quando o deck ficou inclinado demais para os músicos ficarem em pé. Eles não eram os únicos. Desenhos de todas as classes e importância - todos caíram juntos em uma única massa. Alguns escorregaram para fora do navio. Alguns saltaram, fosse sozinhos, em pares ou em grupos. Mas a maioria tentava continuar a bordo, agarrando-se em armuradas, bancos, sistemas de ventilação - qualquer coisa que pudesse aguentá-los. - Para aqueles na água, as pessoas pareciam rodear a popa como abelhas em uma colméia, todos visíveis em seus brancos coletes salva-vidas. Diversos sons e ruídos, como vidro quebrando-se, aumentavam mais e mais à medida que a popa erguia-se mais e mais. Um minuto depois, as luzes do _Titanic_, que estavam continuamente enfraquecendo durante os últimos vinte minutos mas que ainda assim mantiveram-se acesas durante todo o tempo, repentinamente apagaram-se completamente. Acenderam-se novamente por um segundo, para definitivamente apagarem-se de novo. Um duro, seco "CRACK!" e um ruído como uma explosão veio do _Titanic_, e o navio repentinamente aparentou nivelar-se novamente quando o seu casco quebrou-se em dois entre a segunda e terceiras chaminés. Grupo de pessoas que flutuavam abaixo da proa ou que haviam de alguma forma sobrevivido à queda de mais de 30 metros de altura até a água foram esmagadas quando as milhares de toneladas de aço caíram em cima delas. Por um segundo, quando o _Titanic_ voltou quase ao nível da água, muitas pessoas pensaram que o navio iria de alguma maneira flutuar afinal de contas. Mas tão rapidamente quanto antes o navio começou a inclinar novamente. Continuamente, uma montanha de aço começou a surgir contra o céu estrelado. Na extremidade do _Titanic_, haviam parafusos que estavam brilhando mesmo na escuridão, até que o navio ficou completamente perpendicular à água. Do monstruoso casco negro veio um ensurecedor estrondo, enquanto tudo o que era móvel começou a cair - de carvão para caldeira à bagagem... de caixas do melhor vinho à engradados de ovos para o café-da-manhã... dos vasos no corredor do Café estilo Parisiense aos cristais nos salões de jantar... do relógio despertador de Plucky aos lenços para cabelo de Leiloca, no C-38. A popa ficou em posição vertical e imóvel pelo que pareceu ser vários minutos, mas na realidade foram menos que 60 segundos, então começou a avançar para baixo - lentamente no início, então aumentando a velocidade. Tão rápido havia deslizado que quando o mar se fechou acima do mastro de bandeira na extremidade da popa, o leve som de um trago pode ser ouvido. Quatro rúidos como disparos de armas de fogo vieram de algum lugar assim que o _Titanic_ havia desaparecido da superfície. Às 2:20 da manhã o navio se fora completamente. Então apresentava-se para aqueles nos botes um espetáculo ainda mais horrificante do que o navio afundando - o som de centenas de desenhos perecendo na escuridão do gelado Atlântico. Aqueles que eram aquáticos aguentavam-se mais do que aqueles que não o eram, mas com a temperatura da água a mortais dois graus negativos, mesmo os com capacidade aquática não aguentariam muito. - Remem por suas vidas ou vocês vão ser sugados pela água! - avisou um tripulante no Bote 4, que estava mais próximo da cena do que os outros. Mas por mais que eles podiam remar, os afortunados por estarem nos botes não podia se afastar de algo - não podiam escapar - dos gritos... choros... lamentos... congelamento... afogamento... vozes morrendo na noite. Os lamentos daqueles na água formou um grito sem nome ou rosto, para aqueles nos botes, e que continuaria a ser escutado por estes pelo resto de suas vidas. Sentadas na beirada do Bote 4, Lilica e Leiloca abraçaram uma a outra enquanto as lamúrias daquele pesadelo as perfurava mortalmente. Alguém passou para cada uma delas um cobertor cinza, com os quais elas se cobriram. Mas à medida que os minutos passavam, as lamúrias das pessoas na água parecia ficar cada vez mais alto - e ainda não havia nenhum sinal de Perninha e Plucky. Leiloca colocou suas mãos em seus ouvidos em uma fútil tentativa de evitar os gritos que parecia que a cercava. - Ohh, isto é terrível, Lilica! Eu, tipo, não aguento mais isso! - ela lamentou. Lilica estava inconsientemente cerrando os dentes pelos sons. - Oh Leiloca, nós temos que *fazer* algo! Perninha e Plucky estão aí fora! Nós - Lilica foi interrompida quando algúem se aproximou. Debatendo-se na água, uma voz chamou, soando muito familiar: - P-p-pr fav-vor d-deixem eu s-subir! Eu eu est-t-tou com t-tanto fr-rio! - a voz trilitava, sufocada. - PLUCKY!! - gritaram Lilica e Leiloca juntas. Lágrimas começaram a se formar nos olhos de Leiloca. Mãos esticadas ajudaram Plucky a subir, que estava tão completamente exausto pelo frio e por ter nadado que ele mal conseguia se mover no passadiço do bote. Lilica e Leiloca ajudaram Plucky a sentar-se e Leiloca passou o seu cobertor por entre eles dois. - Oh, querido, - Leiloca disse com lágrimas rolando por suas bochechas, - Eu pensei que iria perder você! - Ela beijou e o abraçou fortemente. - Aonde está Perninha? - Lilica perguntou esperançosa. Adrenalina começou a jorrar por seu sangue, e o seu coração disparou. - Aonde está Perninha, Plucky? - P-Perninha? - gaguejou Plucky batendo os dentes. - Ele-ele estava b-bem at-trás de m-mim. Nós p-pulamos antes que, que o, o nav-v-io af-fundasse. Nós est-t-tavamos nad-dando juntos. Ele d-deveria est-t-ar aqui. O coração de Lilica pareceu subir pela garganta enquanto ela freneticamente olhava ao redor pelo seu amado. Seus olhos lacrimejaram. - Perninha! - ela chamou pela escuridão. - PERNINHAAAA!! Um minuto passou. Então dois. Então cinco. E nada. - Oh, Leiloca, - Lilica gemeu. - Aonde ele está? Aonde ele está, Plucky? - Tipo, eu não o vejo! - Ele estava logo atrás de mim! Aonde ele poderia estar? Enquanto ela ouvia os lamúrios pela noite, os seus pensamentos ficaram negros. E se Perninha *estivesse* ainda lá fora? E se Perninha foi empurrado para o fundo por alguma outra pessoa? E se ele ficou muito cansado e não conseguiu mais nadar? E se ela o perder...? Racional ou irracional, ela começou a ficar doente por toda aquela ansiedade. Leiloca e Plucky tentaram manter seu espírito otimista mas eles perceberam estarem lutando uma batalha perdida; pessoalmente, eles começaram a pensar pelo pior também. Uma ponta de esperança surgiu quando a liderança do impulsivo Quinto-Oficial Harold Lowe tomou para si mesmo a tarefa de preparar alguns botes salva-vidas para o solene propósito de voltar para localizar sobreviventes. Um pouco depois das 2:30 ele conseguiu que organizassem-se os botes 10, 12, D e finalmente o 4 - todos amarrados juntos como uma corrente. Mas levou-se tempo para transferir e distribuir as pessoas de e para os botes, e pareceu ser um longo tempo antes que o grupo de Lowe voltasse para o local aonde estavam os destroços e as pessoas; era depois das três horas quando ele finalmente chegou ali. No bote 4, Lilica, Leiloca e Plucky começaram a perder as esperanças enquanto eles observavam Lowe trabalhar. No momento que ele finalmente *partiu*, as lamúrias daqueles na água começaram a desaparecer. Meia hora depois, elas desapareceram por completo. Para Lilica, a ansiedade e o medo que ela sentia pelo seu namorado apenas aumentavam à medida que os minutos passavam agonizantemente. Na medida que as lamúrias diminuíam, o sentimento de perda dela aumentava, até o ponto que seu pobre coração não poder aguentar mais, e ela começou a lamentar-se amargamente. O coração de Leiloca doía ao ver sua amiga chorando, e lágrimas rolaram em seus próprios olhos. Ela disse quietamente para Plucky, - Aqui, querido, fique com o cobertor. - Passando o cobertor em torno de seu pato silvestre, ela então moveu-se para baixo do cobertor de Lilica. Fechando o cobertor em torno de ambas, Leiloca segurou Lilica fortemente, e descansou a sua cabeça no ombro de Lilica. As estrelas estavam desaparencendo agora, uma por uma. Lilica levantou seus vermelhos, inchados olhos para o céu e observou a vasta área de estrelas ali. Na falta de lua ou nuvens, ela nunca havia visto tantas antes. Parecia até ser o fundo de um cartão de Natal. Enquanto ela continuava a olhar, ela percebeu que nunca havia visto tantas estrelas cadentes antes, também. Mas então ela lembrou-se de uma velha superstição que diz que toda a vez que você vê uma estrela cadente alguém morre. Então ela começou a pensar em Perninha... Uma sensação vazia surgiu em Lilica enquanto outra onda de pesar atingiu ela novamente. Ela não mais se importava se eles seriam resgatados ou não. Com Perninha perdido, ela não mais se importava sobre a carreira de teatro deles... sobre a nascente carreira deles no cinema... sobre a escola... sobre a sua família ou amigos. Não, ela não se importava mais sobre nada. Toda a sua alma desejava ter-se juntado a Perninha em sua morte. De uma só vez, em sua dolorida mente, ela viajou de volta... de volta à momentos diferentes no tempo, em diferentes lugares. Repentinamente era primavera novamente. De volta em casa, em Acme City. Bem quente. O sol brilhando, nuvens como algodão no céu. Ela esta viajando com Perninha, à seu lado enquanto eles viajam de carro por uma estrada. Bem despreocupados. Vento soprando bem refrescante através deles, através de suas orelhas-de coelhos, revoando sua roupas... a face de Perninha volta-se para a dela, toda iluminada por raios de sol dourados... - Eu amo você... - ela disse. - Eu amo você também, Liliquinha. - ele disse. Eles descem do seu Ford Modelo T. Perninha pega a sua cesta de piquenique... ela deita-se na sombra com ele. Cochilam na sombra... é primavera. Quente. Flores formam um grande caledoscópio de cores. Andam lado a lado, de mãos dadas, algumas vezes os braços pelos ombros um do outro, por entre as flores... descendo o Rio Acme naquela mesa virada de cabeça para baixo... a vez em que eles se conheceram. Partes de conversa... - Oi! Eu sou Lilica Coelho! - Oi... eu sou Perninha Coelho. - Ei! Nós temos o mesmo último nome! Não somos parentes, eu espero! - É! Eu realmente espero que não...! O primeiro encontro deles... eles estão em seu dormitório de novo. Paixão quente. Perninha olha tenramente para ela enquanto ele desliza por debaixo das cobertas. Ele passa uma sensação quente. - Eu amo você, Lilica...! (vão ser eles ouvidos?) É verão novamente. Quente. Tudo tão luxuriante, verde e vívido. Despreocupados, dias banhados de sol. Doces, apaixonados entardeceres... - LILICA!!! Ele ainda está vivo! Oh, Lilica, ele, tipo, ainda está vivo! - falou Leiloca excitava, retirando a sua amiga coelha de seus devaneios. - O, o quê? - articulou Lilica inexpressivamente. Ela acordou para encontrar-se em um bote salva-vidas em uma congelante, fria escuridão. O Bote número 10 foi cuidadosamente aclopado ao deles, e agora os dois botes estavam posicionados em um ângulo de 45 graus em relação um ao outro. - Ele ainda está vivo! Tipo, Perninha ainda está totalmente vivo!! - Leiloca mal podia conter sua excitação, e lágrimas estavam por seus olhos. - Ele, ele ainda está vivo? - Lilica sussurou, ainda não completamente certa se ela estava sonhando ou se aquilo era realmente realidade. - Sim! Ele ainda está vivo! Ele, tipo, conseguiu, ou algo assim! - Leiloca limpou as suas lágrimas com o cobertor. A expressão de Lilica começou a modificar-se enquanto Plucky explicava, - Quando este bote se aproximou, Leiloca escutou alguem perguntar se o marido dela estava à bordo e pensou em perguntar se Perninha estava lá também! Ele conseguiu! Ele apenas foi para o bote errado! Rapidamente as palavras de Leiloca fizeram efeito e Lilica não podia conter sua alegria. - Ele ainda está vivo! PERNINHA! - ela chamou em voz alta, olhando em volta do Bote N. 10. Lágrimas desciam livremente por suas bochechas. - desta vez, lágrimas de alegria. Mas esta alegria foi momentânea. - Aqui vem ele, Senhorita. Mas ele não aparenta estar bem, - um tripulante disse. Quando Lilica, Leiloca e Plucky olharam, um vulto completamente envolto em um cobertor estava sendo gentilmente carregado na direção deles. Com alguma dificuldade, Perninha foi entregue para Leiloca e Plucky, que o levaram até os amáveis braços de Lilica. Ela retirou o capuz que havia em torno de sua cabeça e o abraçou fortemente. - Oh, Perninha, eu pensei que eu havia perdido você para sempre! - Lilica balbuciou entre beijos. - Oh, doce Perninha, eu pensei que havia perdido você para sempre...! Mas Perninha não respondia. No lugar, ele sentia-se congelado, quieto e como um trapo molhado. Se ela não tivesse o segurado, Perninha talvez tivesse caído no chão do bote. Ele abriu os seus olhos apenas um pouco. - Quem é você? - ele perguntou leve e vagamente. - Me deixe. Quem é você...? - Perninha! Sou eu - Lilica! - a coelha tentou ansiosamente. - Não somos parentes? Vamos! Acorda, Perninha, *Por favor*!! - Me deixe... quem é você? - Perninha murmurou vagamente. Sua expressão estava sem qualquer indício de compreensão. Lilica olhou par Leiloca. Esta draga emocional estava se tornando demais para ela aguentar! Quietamente, sem palavras, Leiloca olhou para Perninha, seu treinamento no Acme Hospital instintivamente assumindo lugar. - Oooh, Lilica, - ela disse seriamente. - Ele, tipo, está em hipotermia avançada. Eu não acho que essa brisa que está, tipo, ajudando muito as coisas também, ou algo assim. Ele está tilitando forte? - Não... ele só está crispando um pouco. Leiloca cerrou os dentes. - Ohh, isto é mal. É bem avançado. Nós temos que aquecer ele e, tipo, *muito* rápido, - ela disse, - Ou ele não vai aguentar. - Ela tentava desesperadamente evitar ficar emocionada demais. - O que nós vamos fazer? Leiloca pensou rapidamente. - Aqui, Lilica. Fique em torno dele e o segure forte. Você tem que usar o seu corpo para aquecer o dele. Eu vou colocar o cobertor em torno de vocês. Lilica fez como Leiloca orientou. Então Leiloca passou primeiro o cobertor quente de Lilica, depois o frio cobertor de Perninha em torno deles. - Agora nós aguardamos... e rezamos, - Leiloca sussurou. Momentos depois, cerca de 3:30, um cansado mas entusiasmado murmúrio era ouvido de alguns dos botes mais afastados. Rapidamente, isto se espalhou através da água para reanimar todos nos botes: - É um navio! No horizonte! Está vindo na nossa direção! - alguém gritou excitado. Todos no Bote 4 deram alegres gritos de alívio. Todos os olhos viraram-se na direção do horizonte e então viram um, depois duas pequenas luzes, e então uma luz verde. Uma luz vermelha seguiu-se, então linhas de luzes. Rapidamente tornou-se claro - um grande navio de cruzeiro estava realmente se aproximando rápido, disparando foguetes pelo caminho para assegurar ao pessoal do _Titanic_ que o socorro estava a caminho. Alguns sobreviventes acenderam algumas tochas. O Quinto-Oficial Harold Lowe acendeu um flare de iluminação verde. Alguém levantou uma bengala com uma pequena lanterna elétrica. O outro navio era o _Carpathia_, indo de Nova Iorque para o Mediterrâneo. Um pequeno, eficiente navio de cruzeiro, a lista de passageiros do _Carpathia_ consistia basicamente de idosos turistas Americanos e alguns Italianos e Eslavos retornando para casa. Contudo, quando recebera os pedidos de resgate do _Titanic_, o Capitão Arthur Rostron ordenou uma abrupta mudança de curso. Rostron sabia que a velocidade máxima do _Carpathia_ era de apenas 14 nós e meio - lento demais para alcançar o _Titanic_ antes que este afundasse. Mas com uma grande dose de esforço, os motores dele estava fazendo agora 17 nós. Lilica viu o navio indo na direção dele e imediatamente sentiu renovar-sem suas esperanças, assim como Leiloca e Plucky, que se beijaram e abraçaram-se fortemente quando o _Carpathia_ ficou visível. Ela sabia que Perninha provavelmente não a estava escutando ou entendendo, mas ela iria tentar de qualquer forma: - Olha, Perninha! Um navio está vindo! Vamos, aguente firme, amor! Você tem que ser forte e conseguir...! Foi uma longa meia hora a que se seguiu. A noite, que parecia não ter fim, estava finalmente terminando. Eventualmente o céu começou a brilhar com mornos raios rosas e dourados, e aqueles nos botes puderam finalmente perceber a silhueta do _Carpathia_ enquanto este se aproximava pelo sul. As 4:00 o navio estava bem perto. Lilica aguardou e observou ansiosamente enquanto ela continuava a segurar Perninha. Era uma completa tortura para ela olhar aquele navio tão longe com Perninha lentamente morrendo em seus próprios braços! Ela rezou para que ele conseguisse. Leiloca, Plucky e Lilica observaram o _Carpathia) gradualmente parar à meia distância do bote deles. Leiloca perguntou à Lilica, - Tipo, como está Perninha? Ele começou a ter calafrios, ou algo assim? - Não! - Lilica respondeu preocupada. - Ele parou de trilitar e não tem feito mais nada. - Gentilmente ela o sacudiu. - Perninha? Perninha! - ela chamou. Sem resposta. Lilica o chacoalhou um pouco mais forte. - Perninha! Perninha! Acorde, amor! Perninha emitiu um curto, fraco murmúrio. Freneticamente, Lilica o sacudiu ainda mais forte, sua voz aumentando. - Vamos, Perninha! Acorda! Sou eu, Lilica... Perninha! Desta vez, Perninha não abriu seus olhos. Ao invés disto ele simplesmente murmurou suave e incoerentemente. Lágrimas começaram a surgir nos olhos de Lilica. - Isso é ruim, não é? - ela perguntou para Leiloca, sua voz quase inaudível. Lágrimas começaram a surgir nos olhos de Leiloca também. Tudo o que ela conseguiu fazer foi concordar com um aceno de cabeça. Plucky estivera estranhamente passivo pela maior parte daquilo. A si próprio perto de lágrimas também, ele foi até ele e deu tapinhas nos joelhos de Perninha. - Vamos lá, Perninha! - ele disse, sua voz falhando. - Fique conosco! Não nos deixe agora...! A medida que os raios dourados do sol intensificavam-se e continuavam a levar a noite cada vez mais para o oeste, o _Carpathia_ continuou a se aproximar. Leiloca pensou em quão pequeno ele era se comparado ao _Titanic_. Enquanto eles observavam fumaça dissipando-se da única chaminé do _Carpathia_, Plucky - e especialmente Lilica - imaginavam porque, com a nova luz da manhã, o navio não pudesse ativar seus motores e se aproximar mais deles. Mas Rostron não conseguia discernir os botes salva-vidas do _Titanic_ do vasto campo de gelo usando a luz do amanhecer, então ele parou seu navio apenas em frente dos primeiros botes por segurança. Os demais teriam que se aproximar por si próprios. Lilica assitiu enquanto o _Carpathia_ parou totalmente a algumas centenas de metros de distância. Ela viu que outros botes já estavam alinhados ao lado do casco, com desenhos sendo levantados e colocados para dentro. Mas o seu Bote N. 4 parecia fazer estar dolorosamente lento, e Perninha estava cada vez mais indo-se. Ela sabia que ela tinha que fazer algo. Mas o quê? Ela rangia os dentes enquanto os minutos passavam, a tensão aumentando à cada tique-taque. Finalmente ela não podia aguentar mais. - Vocês não podem remar mais rápido, pessoal?! Meu namorado não vai conseguir! - ela falou alto. - Nós estamos remando o mais rápido que podemos! - alguém gritou de volta friamente. A ácida resposta cortou Lilica como uma faca. Normalmente ela teria tomado aquilo como um desafio, mas Lilica não tinha mais forças nela para lutar. - Está tudo bem, Lilica, - Leiloca a confortou. - Ele, tipo, não teve má intenção. Toda esta provação tem, tipo, deixado a todos nós muito atordoados, ou algo assim. O olhar em Lilica parecia dizer, - Obrigado, cara amiga. Eu precisava disto! - Lilica segurou Perninha mais firmemente. - Por favor, Deus, - ela rezou desesperadamente. - *Por favor* não tire Perninha de mim! *Por favor* não o leve...! - A manhã de Segunda feira, 15 de abril prometia um bonito dia. Quando o sol surgiu logo além do horizonte, seus quentes raios levaram a noite completamente para o oeste e coloriram o céu de dourado e azul. Os icebergs no brilhante mar azul estavam em tonalidades brancas, rosas, azuis escuros, dependendo de como a luz os atingia e as sombras. Pedaços de gelo flutuavam por todo lado. Alguns eram do tamanho de um punho, enquanto outros ao fundo tinham mais de 30 metros de altura. A cena lembrava muito algo como um desenho em um livro de criança sobre o Ártico. A bordo do _Carpathia_, os sobreviventes do _Titanic_ estavam se alojando em suas novas acomodações. Passageiros do _Carpathia_ emprestaram cobertores, linhos, até mesmo suas roupas e camarotes - qualquer coisa que pudesse provir algum conforto para aqueles desgastados desenhos do _Titanic_. Muitas pessoas - na maioria esposas - foram retiradas da armurada do _Carpathia_ assim que o navio reativou seus motores. Elas separaram-se de seus maridos à bordo do _Titanic_ e, uma vez resgatadas, posicionaram-se no passadiço do _Carpathia_, com a esperança de verem seus maridos vivos novamente. Agora elas entravam para dentro... como viúvas. Sobreviventes continuavam a ansiosamente procurar uns aos outros. Ocasionalmente, pessoas amadas alegremente reencontravam-se, e alguns momentos de ternura se seguiam. Mas para a vasta maioria, contudo, a busca por familiares ou amigos seria em vão. Das 2228 pessoas à bordo do _Titanic_, apenas 705 chegariam em Nova Iorque vivos. Dentro da pequena enfermaria de duas camas do _Carpathia_, Perninha estava deitado em uma macia, quente cama, com as mãos cuidadosamente envoltas nos lençois colocados até o seu pescoço. Próxima à cama, uma tigela de sopa quente estava no topo de um criado-mudo entre as camas, e em frente dela estava uma cadeira. Lilica entrou na sala, moveu a cadeira de lado, e ficou ao lado da cama, com as mãos em seu quadril. Então ela sentou-se na cama, próxima à cabeça de Perninha, com as suas costas contra a proteção de metal da cama. Gentilmente ela acariciou a bochecha dele com as costas de seus dedos. Perninha abriu seus olhos, e encontrou ela sorrindo alegremente à ele. - Oi, amor, - ela disse quietamente. - Ei, - Perninha sorriu fracamente. - Você está com fome? Eu tenho alguma sopa quente para você. - Certo... Lilica pegou a tigela e a trouxe próximo à ele. Rapidamente ela achou o aroma tão apetitoso! - Mmmm, isso está cheirando bem! Eu me esqueci o quão faminta eu estou! - ela disse e cautelosamente tomou uma colherada. - Mnnn....! Perninha observava a sua namorada tomar uma segunda colherada, então uma ainda mais rápida terceira colherada. Muito fraco para impedi-la, ele pode apenas lamentar, - Não deveria ser *eu* a estar tomando disto? Neste momento Lilica estava desfrutando a sua refeição com gosto. - Mm, arranje uma para você mesmo! - Ela disse com a boca cheia. - Essa *é* a minha própria! Instantâneamente ela parou, com a boca aberta e a colher em posição de entrar nela. Lentamente ela virou seus pálidos olhos azuis na direção dele. Então ela riu. - Desculpa Perninha, eu não consigo *conter* a mim mesma! Cuidadosamente ela alimentou seu amado com uma colherada, certificando-se que ela não derramasse nada nele nem nos imaculados lençois brancos. - Dr. McGhee disse que isso é exatamente o que você precisa. - Você é a minha enfermeira agora? - Perninha perguntou com um modesto sorriso em sua face. - Sim eu sou, - replicou Lilica com um maroto sorriso. - Ou você preferiria a "Olá Enfermeira" - e antes de você responder apenas lembre-se que eu posso tirar a sua vida tão rapidamente como a salvei! - Uhh, eu acredito que você faria isso sim. - Bom menino! - Lilica gargalhou. Ela continuou, tanto a alimentar Perninha como naquilo que ela estava pensando: - Sério, eu realmente pensei que iria perder você lá... eu estava ficando completamente insana pensando naquilo. Nós todos estávamos muito assustados. - Você, Leiloca e Plucky? - Hum-hum. Perninha gemeu timidamente. - Para ser honesto, quando eu acordei e vi você, eu pensei que você era um anjo. (glup) Você me pareceu tão linda. - Depois de um par de colheradas, ele adicionou, - Eu não desejaria deixar essa vida... sem você, Lilica. Lilica fez uma pausa, sorriu, e então lhe deu um suave, tenro beijo em sua testa. Uma batida na porta intrusivamente interrompeu o momento. - Entra! - chamou Lilica. Plucky e Leiloca entraram. - Ei, ei, Perninha! - cumprimentou Plucky. - Tipo, olá, Perninha! Sentindo-se melhor agora? - Yeah, eu acho que sim, pessoal. Obrigado, - Perninha disse. Com dificuldade ele se virou um pouco para o lado. Leiloca sentou-se na cama próxima à de Perninha. - Apenas vá com calma, cara, - Plucky disse, dando tapinhas no coberto tornozelo de Perninha. - Porque à apenas algumas horas atrás você estava quase um sorvete de coelho. Enquanto Lilica continuava a alimentar Perninha, Plucky voltou-se e se jogou na cama próximo à Leiloca. A força dele atingindo o colchão quase catapultou Leiloca fora da cama, prontamente a fazendo golpear o seu desconsiderado pato no queixo e o arremessando contra a parede. Um alto "knock" foi ouvido quando o esqueleto de Plucky encontrou-se contra a parede de aço. - OOphh...! Ei! - disse um atordoado Plucky. Estrelas e naviozinhos podiam ser vistos girando em torno da sua cabeça. Chacoalhando-a ele rapidamente retornou a si. - Porque você fez *isso*? - Tipo, isso foi por agir como um pato-sapo, seu pato-sapo! - respondeu Leiloca, tentando se recompor novamente. Lilica riu aos acontecimentos detrás dela. Perninha estava muito fraco para rir, todavia ele chacoalhou a cabeça sorrindo. - Vamos, querido. Seja um bom garoto e coma a sua sopa, - Lilica disse depois de uma pausa. - O que foi a última coisa que você se lembra sobre a noite passada, de qualquer jeito? Eu esqueci de perguntar isso à você. Perninha engoliu e então virou sua cabeça, pensando. - Uh... a última coisa que eu lembro foi de estar nadando... Plucky e eu pulamos alguns momentos antes do _Titanic_ afundar por completo, quando se tornou inclinado demais para se ficar em pé. Eu lembro de estarmos nadando juntos, mas alguém me agarrou e começou a me empurrar para baixo, e eu tive que chutá-lo algumas vezes antes que ele finalmente me largasse. Eu perdi Plucky de vista as eu vi outro bote. Ooooohh, aquela água estava fria! - Perninha tremeu enquanto lembrava-se - Eu lembro-me de nadar na direção do outro bote, e vagamente me lembro de ser colocado à bordo... mas isto é tudo do que lembro. Até eu acordar aqui... por quanto tempo eu fiquei inconsiente? - Um longo tempo! - disse Lilica, mexendo a tigela e o alimentando com outra colherada. - Você teve sorte. Dr. McGhee disse que não há muitas pessoas que poderiam sobreviver à exposição ao frio pela qual você passou, e por tanto tempo quanto passou. - Ao que parece eu venci a nossa pequena corrida de natação, - disse Plucky. - Mas qualquer hora que você quiser uma revanche, eu estou no jogo - só certifique-se de que não seja em água congelando! - Certo, Plucky, - sorriu Perninha. - Nós já estamos indo para casa? Quando nós vamos voltar para Nova Iorque? - Bem, aí é que está, - explicou Lilica. - Eu acho que estamos agora no local aonde o _Titanic_ afundou para primeiro verificarmos se não há mais ninguém, e então eu acho que iremos para casa. Havia outro navio lá fora. - Não, nós já partimos de lá, - Plucky cortou - Nós falamos com um tripulante. Ele disse que estamos a caminho de Nova Iorque agora. - Ele disse quando nós vamos chegar? - perguntou Lilica. - Ele acha que pela quinta-feira à noite. - Aonde vocês vão ficar até lá? - Perninha perguntou. - *Totalmente* cósmico! - estusiasmou-se Lilica. - Nossas estrelas estão, tipo, alinhadas umas com as outras! Há um maravilhoso simpático casal que concordaram em, tipo, nos abrigar, ou algo assim! E o vizinho deles tem uma cama extra para, tipo, você também, Lilica! Nós podemos ficar com eles até nós chegarmos à Nova Iorque! - Sério? Uau, - disse Lilica. - Mas o Dr. McGhee disse que enquanto ele não ter mais ninguém que precise daquela cama eu posso ficar aqui com Perninha, até que ele esteja recuperado o suficiente para levantar-se por si próprio. Ele disse que você vai estar bom em alguns dias, Perninha. Então eu acho que pelo momento em que chegarmos de volta aos Estados Unidos você vai estar conseguindo andar por si próprio! - Isto está bom para mim, - disse Perninha entre colheradas. - Mas como nós vamos voltar para Acme City? As nossas passagens de trem afundaram junto com o navio, não afundaram? Eu não acho que pegamos as nossas. Vocês pegaram? - Pode ser, mas isto realmente não importa, porque isso é, tipo, cósmico, também, ou algo assim! - Leiloca disse. - Não apenas estas pessoas com quem estamos ficando são da Califórnia, eles também já viram nossas peças e nossos filmes nos cinematórios de um níquel! Eles são, tipo, grandes fãs nossos! - - *Eu* sou o favorito deles! - interrompeu Plucky convencidamente. - Caia na real, cara-de-pato! Tipo, Mr. Turner gosta mais da Lilica! - Leiloca disse de volta, tentando abaixar a bola daquele ego rapidamente inflado. - De qualquer modo, eles disseram que ficarão felizes em emprestar-nos dinheiro para arrajarmos tickets sobressalentes, ou algo assim! E as pessoas próximos a eles estão arranjando para nos emprestarmos uma muda de roupas, ou dinheiro para comprarmos roupas. Tipo, você pode acreditar? - Nos dar dinheiro para novos tickets? - perguntou Lilica incrédula. - Eles são ricos? Isso é muito dinheiro! Leiloca chegou a abrir seu bico para falar mas Plucky roubou-lhe a fala: - Sim, eles são ricos! Eu acho que eles são donos de um par de concessionárias de carros da Buick ou algo assim. Eles são bem abastados! - Cuidado, Plucky, seus olhos estão ficando da mesma cor das suas penas, - zombou Perninha. Então ele disse para Lilica, - Não quero mais sopa, Liliquinha. Eu já estou cheio. - Não! Uma bocadinha a mais! - Lilica ordenou com um sorriso. - Bem, tem algo bom a se tirar de tudo isto. - Tipo, o que pode ser? - Não precisamos fazer relatórios nenhum quando chegarmos em casa. Todas as nossas anotações afundaram junto com o navio, não afundaram? Todos pareceram concordar. - Digam, isso é verdade! - Plucky disse e riu. - Que alívio! - Você poderia dizer isso de novo, - disse Lilica - Eu estava temendo ter que fazer aquela coisa estúpida de qualquer maneira! Repentinamente, Leiloca sentiu-se muito triste. - Oh Lilica, - ela disse em um tom que desanimou a todos, - Há tanto mais que afundou também. Tipo, todas aquelas pessoas, ou algo assim. Há tantas pessoas lá fora que perderam tudo para eles. E eu não estou falando de, tipo, bagagens ou algo assim. Há, tipo, tantas mulheres que perderam seus maridos ou namorados ou irmãos e tudo isto. Sério. Eu estou tendo tantas vibrações negativas agora mesmo, e minha áura está, tipo, de coração partido... - Verdade, - disse Perninha. - Mas pelo menos *nós* conseguimos. Eu não disse ontem à noite à bordo do _Titanic_ que nós estaríamos juntos novamente? Embora fracos e cansados nós estamos juntos. Nós *temos* um ao outro. E enquanto nós tivermos um ao outro - por tanto tempo que tivermos nossas amizades - nós podemos passar por qualquer coisa que a vida nos colocar pela frente. Então que o mundo possa ir para o inferno até, é o que eu digo! Enquanto nós tivermos um ao outro, nós sequer vamos saber a diferença! Sentindo-se um pouco melhor, Lilica, Leiloca e Plucky concodaram com um aceno de cabeça. * * * 6 de julho, 1998 --------------------------------------------------------------------------- Tradução para o Português por Leandro M. Pinto 1o. Edição, 12 de julho, 1999.