Sarapatel dos Estetas
 
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Em São Francisco
 
Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior
Belo Horizonte - M.G..
 
 
 
Poemas  A cidade preguiçosa, branca,
A igreja pálida diante d'água
Os santos anfíbios coaxam.
Libélulas caçam em torno do verde úmido.

Os mosquitos cantam noite adentro -
O macho zumbe
A fêmea-vampira suga
E fecunda os ovos.

Nas fachadas, arabescos históricos &
Leques de pedra se abrem,
Hieróglifos gritam por compreensão,
As paredes tagarelam sobre o passado.

Na beira do velho Chico
Dança um casal
Ele, adolescente, enlaça,
O rapaz repete um  samba diferente,
Está vestido de azul-celeste,
Ignorante do mundo.

O boto loiro tem nos olhos
O roteiro completo da busca
Do coito das origens

Ao fundo, o rio da integração nacional,
O símbolo do amor eterno do Brasil.
Mas as estrelas da roupa do moço cruzeirense
São brancas e indiferentes.

Ave, São Francisco, carpe diem
Depois o rapaz voltará para a capital,
Depois voltará para o estádio,
Depois abraçará os amigos bêbados.

O rio é uma veia aberta lamacenta
Não é motivo para axé
Nem para risos velozes.
No ar quente, os sapos estalam,
Pululam batráquios,
Ovários.

Os nomes belos se desvinculam das pessoas,
Põem velas e somem no horizonte.

O chafariz sem água da praça,
As fachadas descoloridas:
Não há liberdade para nós
& sim para os predadores.

As pessoas aqui são limitadas por rio, carne e céu.

   
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