Há muito o que se dizer e poucos modos de se expressar quando
se trata de descrever o talento de Teresa Salgueiro. Sua imagem e a do MadreDeus fundiram-se de tal modo que boa parte dos álbuns
do grupo apresentam, na capa, a imagem de Teresa como ícone desta música sem rótulos, beatífica e pacificadora. Mas o que
mais encanta em Teresa, além da sublime voz, é, sem dúvida, a forma como, mesmo interpretando apaixonadamente cada canção,
ela mantém-se a serviço do grupo. Jamais se viu em Teresa, nas apresentações em diversas partes do mundo, nenhuma demonstração
de afetação ou soberba. Ela guarda ainda hoje o mesmo ritual de sempre: recolher-se na penumbra do palco para que a música
sobressaia à sua imagem de vocalista do grupo. A voz maravilhosa de Teresa, na verdade, é tratada em cada composição como
mais um instrumento do quinteto. Sim, ela está ali, apaixonada, mas contida em sua posição de porta-voz da alma nossa.
Talvez este seja o motivo pelo qual, em diversas partes do mundo, Teresa tenha se tornado objeto de culto. Todos dela falam
com reverência e carinho. Mais que isto, o perfeito casamento entre a música do MadreDeus e a voz de Teresa, além da própria
postura humilde da artista, colocaram-na ao lado, em nosso imaginário, das grandes intérpretes da música universal. Teresa
já foi apontada, por diversas vezes, como a herdeira de Amália Rodrigues , a estrela maior do fado lisboeta (até pela própria
Amália, que reconhecia na voz do Madredeus sua "legítima herdeira"), e suas interpretações remetem-nos aos arrebatamentos
vocais de uma Edith Piaf, à sinceridade de uma Cesária Évora e à emoção transbordante de uma Elis Regina... mas Teresa difere
de todas estas grandes artistas por ser a porta-voz de um mundo de paz, harmônico e indissoluto, que envolve a música do Madredeus.
Teresa é visceral, sincera, arrebatada e emocionada, mas as emoções que canta são a saudade calma, a melancolia quieta e a
comoção interior vindas do amor mais puro. São emoções que requerem um outro tipo de interpretação, diverso do que estamos
acostumados a ver no cenário pop atual...
Teresa Salgueiro é lisboeta, nascida no ano de 1969 e começou sua vida artística de forma casual. A jovem de dezessete
anos, que gostava de cantar fados e música brasileira com amigos, foi descoberta pelos integrantes do Madredeus (que então
iniciavam o projeto do grupo e buscavam uma voz feminina que lhes atendesse aos anseios artísticos) em uma dessas ocasiões,
em que cantava fados despretensiosamente em um café, cercada de amigos. Aquele encontro tiraria Teresa das ambições
de ser bióloga para o sucesso e o reconhecimento mundiais.
Desde 1986, Teresa Salgueiro, uma das fundadoras do Madredeus, mantém sua rotina atarefadíssima de concertos, entrevistas
e gravações com o grupo, sem, contudo, deixar de participar de alguns projetos paralelos como convidada. Sua voz já
emprestou o calor para projetos musicais do italiano Angelo Branduardi, do japonês Koba e do mestre da guitarra portuguesa
António Chainho, para citar apenas alguns. Recentemente, Teresa Salgueiro e o Madredeus participaram de concertos conjuntos
com o grande tenor espanhol José Carreras, que declarou posteriormente à imprensa que trabalhar com Teresa "foi uma das melhores
experiências profissionais até hoje". A opinião é compartilhada pelo maestro italiano, radicado no Brasil, Aldo
Brizzi, que contou com a participação de Teresa Salgueiro em seu mais recente projeto, "Brizzi do Brasil", um álbum que reuniu
as melhores vozes brasileiras e portuguesas, dentre elas a vocalista do Madredeus.
Duas novas oportunidades de ouvir a voz maviosa de Teresa Salgueiro são os álbuns do Madredeus "Um Amor Infinito", lançamento
em maio de 2004 e já disponível no mercado brasileiro, e "Faluas do Tejo", lançado em 2005. Nestes álbuns há diversas
surpresas para os fãs que acompanham a trajetória do Madredeus. A sonoridade do grupo é a mesma, mas algumas canções são
prova de que o Madredeus segue em evolução: as faixa "Vislumbrar - O Canto Encantado" (de "Um Amor Infinito") e "No
Caminho de Santiago" (de "Faluas do Tejo") são, sem sombra de dúvida, as mais encantadoras e surpreendentes - Teresa Salgueiro
viaja dos tons graves aos agudos, passando por belíssimos trechos em recitativo... É ouvir para compreender tamanho
encantamento!A surpresa de 2005 veio por conta de "Obrigado", o primeiro álbum assinado por Teresa Salgueiro como solista.
Em verdade, o álbum é um presente para os fãs, por reunir diversas canções gravadas por Teresa Salgueiro em trabalhos de
diversos músicos e compositores em todo o mundo. As parcerias incluem o italiano Angelo Branduardi, o japonês Coba, o italiano
Aldo Brizzi e o galego Carlos Nuñez, além dos cantores Maria João, Caetano Veloso, José Carreras e Zeca Baleiro. A variedade
de estilos e o fato de serem faixas que abrangem um largo período de tempo mostram a versatilidade e o frescor da voz de Teresa
Salgueiro.
Em 2006, ao término da turnê "Um Amor Infinito", o Madredeus anunciou para 2007 um "ano sabático", no qual o
grupo fará uma pausa para reprensar sua agenda e também para que seus integrantes desenvolvam projetos paralelos. A primeira
a surpreender os fãs do Madredeus foi justamente Teresa Salgueiro, que já em janeiro trouxe ao Brasil, mais especificamente
para São Paulo, o espetáculo "Você e Eu", com repertório inteiramente dedicado à bossa nova e à MPB! Os ingressos esgotaram-se
rapidamente e a repercussão da imprensa e dos fãs foi a melhor possível. O álbum "Você e Eu" tem lançamento previsto para
março de 2007 e o DVD da temporada paulistana, para abril de 2007.
Mas Teresa Salgueiro parece guardar ainda mais surpresas
para os fãs: há rumores de um outro projeto solo, chamado "La Serena", no qual ela seria acompanhada pelo Quinteto de Cordas
Lusitânia... é esperar para ouvir a voz de Teresa Salgueiro em novos repertórios, mas sempre encantadora como poucas!