Nossa Cama

Olho nossa cama. Palco vazio
sem o drama, sem a comédia,
do nosso amor.

A nossa cama branca,
branca página, em silêncio,
de onde tudo se apagou...

(Meu Deus! quem poderia ler aquelas ânsias, aqueles gemidos,
aqueles carinhos
que a mão do tempo raspou, como nos velhos pergaminhos? ... )

A nossa cama
imensa, como a tua ausência,
tão ampla, tão lisa, tão branca, tão simplesmente cama,
e era, entretanto, um mundo,
de anseios, de viagens, de prazer,

- oceano, que teve ondas e gritos encapelados,
e nele nos debatemos tanta vez 
como náufragos
a nadar... e a morrer...

Olho a nossa cama, palco vazio,
em nosso quarto, - teatro fechado -
que não se reabrirá nunca mais...

Nossa cama, apenas cama, nada 
mais que cama
alva cama, em sua solidão
em seu alvor...

Nossa cama:
- campa (sem inscrição)
do nosso amor.

( J.G.  de Araujo Jorge - coletânea -

"Poemas do Amor Ardente " 4a ed. 1972  )
 
 
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