Gondoleiro
do amor
Castro
Alves
Teus
olhos são negros, negros,
Como
as noites sem luar...
São
ardentes, são profundos,
Como
o negrume do mar;
Sobre
o barco dos amores,
Da
vida boiando à flor,
Douram
teus olhos a fronte
Do
Gondoleiro do amor
Tua
voz é a cavatina
Dos
palácios de Sorrento,
Quando
a praia beija a vaga,
Quando
a vaga beija o vento;
E
como em noites de Itália,
Ama
um canto o pecador,
Bebe
a harmonia em teus cantos
O
Gondoleiro do amor. |
Teu
sorriso é uma aurora,
Que
o horizonte enrubesceu,
—
Rosa aberta com biquinho
Das
aves rubras do céu.
Nas tempestades da vida
Das rajadas no furor,
Foi-se a noite, tem auroras
O Gondoleiro do amor.
Teu seio é vaga
dourada
Ao tíbio clarão
da lua,
Que, ao murmúrio
das volúpias,
Arqueja, palpita nua;
Como é doce, em
pensamento,
Do teu colo no langor
Vogar, naufragar, perder-se
O Gondoleiro do amor!?
…
Por isso, eu te amo, querida,
Quer no prazer, quer
na dor.
Rosa! Canto! Sombra!
Estrela!
Do gondoleiro do amor! |