O BRASIL QUE NÃO TEM O QUE COMER
Depoimentos de quem tem FOME
Mostrado no Jornal Nacional
junho de 2001
* "A gente estando desesperada de fome, não tem amor a nada, não tem resistência pra fazer coisa nenhuma, acredita?".
* "A gente não consegue explicar o que é a fome em si. Só mesmo quando as pessoas passam por ela, que é pra poder sentir".
* "Quando meu filho pede um pãozinho, uma rosquinha que é R$ 0,10, e eu não tenho, aí meu coração dói. O corpo chega a arrepiar".
* Uma tragédia a conta-gotas, dispersa, silenciosa, escondida nos rincões e nas periferias. Tão escondida que o Brasil que come não enxerga o Brasil faminto. E aí a fome vira só número, estatística. Como se o número não trouxesse junto com ele dramas, histórias e nomes.
* "Meu nome é Antonieta Luísa Alcântara Rodrigues, eu perdi uma criança com nove dias de nascida. Fiquei muito horrorizada".
* "Meu nome é Maria Pereira dos Santos. Perdi uma criança com sete dias de nascido".
* "Os anjos, todos os anjos", elas cantam durante um enterro. É a crendice dos grotões. Bebê que morre vira querubim.
* Cemitério só deles. Cemitério de anjos. Do norte de Minas ao sertão do Nordeste existem centenas. Ainda assim, ninguém se conforma. "Se passa bem ou passa mal, comendo ou sem comer. Mas acho que todas as mães queriam o seu filho ao lado delas", diz a lavradora Maria Alice dos Reis.
* Na inversão do ciclo da vida, proeza é criança viva. Bebê recém-enterrado é acontecimento banal. "Trouxeram pra cá e nós vimos. Numa caixa de papelão", contam as crianças.
* No Brasil, a cada cinco minutos morre uma criança. A maioria de doenças da fome. "Cerca de 280, 290 por dia. O que corresponderia, de acordo com o Unicef, a dois Boeings 737 de crianças mortas por dia", diz Flávio Valente.
* Médico, voluntário em campanhas contra a desnutrição e obcecado pelos números. Flávio Valente pesquisou dados oficiais: existem pelo menos 36 milhões de brasileiros que nunca sabem quando terão a próxima refeição. Nossa maior contradição.
* "Nós temos aqui todas as condições técnicas pra garantir a erradicação da fome. E uma enorme acomodação da sociedade, inclusive da classe média, nesse esquema de acreditar que isso é natural. A fome é uma coisa criada pelo ser humano porque ninguém nasceu pra morrer de fome", afirma Valente.
* Povoado de Santa Úrsula, no sertão da Bahia. Tem um bocado de casa vazia aqui? Estão abandonadas? "Abandonadas porque aqui é muito pobre. Não tem salário, o povo larga a casa e vai embora. Aqui já teve muita gente, mas é tanto fracasso de seca e fome que se arrancaram tudinho. Quase tudo", conta a dona-de-casa Maria Baião.
* Santa Úrsula virou cidade-fantasma. Maria só ficou porque recebe pensão. Sirene também ficou. Apesar do salário atrasado, ele tem um compromisso moral: "Tem que aumentar uns dois quilos, e tá sendo difícil pra eles aqui". Agente de saúde, ele tenta, sozinho, conter a mortalidade provocada pela fome.
* "Meus menino nasce tudo fraco. Essa aqui ainda foi das que nasceu mais fortinha um pouquinho", mostra a dona de casa Ana Cláudia dos Santos.
- Mas ela tem que ganhar um pouquinho mais de peso,
né?
- Verdade.
- Você sabe como é que você vai fazer pra ela ganhar um pouquinho de peso?
- Sei não. Mas o que você acha que é pra eu fazer?
* O que mais poderia fazer Evangelista, sem roça e sem emprego? "O pai esforça, o salário que ele tem é os braços", afirma Ana Cláudia. "Tirando madeira pra ver se eu consigo vender pra comprar algo pra gente comer", diz Sirene.
* Oitocentos quilômetros ao sul, mais um povoado pobre, no Vale do Jequitinhonha, Minas. Aqui, onde as crianças compartilham favas contadas, adultos comem bofe de bode. A lavadeira Maria Rita mal se segura em pé:
- Eu estou sentindo é anemia, acho que é profunda.
- O médico diz que a senhora tem que se alimentar bem, é isso?
- É.
- E a senhora diz o que pra ele?
- Eu falei com ele: onde é que eu acho?
* O filho, Gilmar Costa, cortador de cana, não consegue ajudar. "De outubro pra cá, pra falar a verdade, eu não ganhei nem um real aqui assim trabalhando". Vai tentar a vida em alguma cidade grande: "Sair pra lá e deixar ela doente aí. Eu não sei nem o que pode acontecer".
* A vida na cidade grande seria melhor? Nos alagados de Salvador uma pergunta do repórter provoca comoção. "O que vai ter hoje no almoço?". Comoção e constrangimento. Vergonha de dizer que simplesmente não haverá almoço. "É triste. Dar meio-dia e você não ter", diz Marinalva da Silva, desempregada.
* A vizinha, a dona de casa Maria Senhora de Oliveira tem almoço.
- a senhora acha que esse pirão alimenta?
- alimenta. E é nutritivo.
- é nutritivo? Mas tem farinha e água.
- não importa.
*Pelo menos ela come. Embora não esteja livre da doença.
* Desde o início desta reportagem já se passaram cinco minutos e meio. Na contagem regressiva da fome, mais luto, mais uma perda. Nossa maior fortuna indo embora. Nosso óbvio tesouro esquecido em lugarejos e favelas.
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