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Mensagens para Net-listas
Nesta página, vou recolhendo algumas das mensagens enviadas a diversas listas de discussão na Internet






ASSUNTOS:
Etimologia e Linguagem (Ocidente e Oriente)
Brasil
Filosofia e Teologia
Tempo litúrgico e datas especiais

Mensajes en Español
Messages in English





Etimologia e Linguagem (Ocidente e Oriente)
"Simples" e "Coração", 17-05-01
Shalom, salam, 18-05-01
Jeito brasileiro de falar (diminutivos & Cia.), 26-05-01
Nota sobre a saudade
Voz Média - Repetição intensiva, 30-04-01
Pindaíba, 21-08-01

Brasil
Bahia, Brasil levado às últimas conseqüências? 08-05-01
Duas do Papa no Brasil, 29-05-01
"Nos varais do Mundo", de C. Castilho, 05-04-01
A Penúria de nosso tempo - Posfácio a Nos Varais do Mundo, de C. Castilho, out-00
Nosso parceiro em Havana I e II, 5-8-01, 14-08-01
CCE-USP, perguntar não ofende, 23-08-01
Piadas de Português, 12-9-01

Filosofia e Teologia
Antropologia do dhikr: terço, masbah etc. 13-10-99
O cristão, o mundo e a política, 11-06-01
¡¡Oléééé!! - Deus, a beleza e a Arte, 21-08-01
Terrorismo e atentado contra os EUA, 12-09-01
A Igreja e os eclesiásticos, 15-09-01

Tempo Litúrgico e datas especiais
Carnaval - Olha o Santo Tomás aíí, geeente!, 27-02-01
Quaresma e fatos de linguagem, 22-02-01
Páscoa - Por que os dias são: 2a. feira, 3a. f. etc.?, 13-04-01
Agostinho e os 153 peixes - 6af. de Páscoa,  19-04-01
"Conversão já!": S. Agostinho e "S. Expedito", 18-04-01
Um poeta genial - Dia das Mães, 12-05-01
Mês de maio - As mayas, 05-05-01
O Evangelho em Aramaico - Visitação, 31-5-01
Rahama, misericórdia de Deus em coração maternal , 16-6-01
Perdão - uma jóia litúrgica (do 26o. domingo do TC), 25-9-00
Natal 99 - Glória a Deus nas alturas...?, 7-12-99
Natal 2000, Deus que brinca!
Mundo e Política - Cristianismo e Islam, 5-8-01 (18o. DTC)
 

"Simples" e "Coração",  17-05-01
Homenagem aos integrantes da Banda "Simples de Coração"  que participam da lista
Nota de homenagem 1 - Simples...
Já há algum tempo que -intrigado pelo nome- eu queria, por meio de um par de pequenas notas, prestar uma singela homenagem à "Simples de Coração". Prá variar, uma nota de linguagem: sobre o Simples e sobre o Coração.
SIMPLES
Simples é para os antigos um enorme valor, "ser simplex" é uma grande virtude, o próprio núcleo da principal virtude cardeal: a prudentia...
O original grego do famoso versículo não fala em puro, mas em simples (haplous) Mt 6,22: "Se teu olho for simples, todo teu corpo será luz"
Na análise etimológica de Tomás de Aquino (interpretando esse versículo), encontramos: "simplex, idest sine plica duplicitatis" (Sermones 3, ps 3)  Ou seja, simples é o cara "sem-plicas". "Plicas",
em latim, são as dobras, as pregas, e, assim quando p. ex.  v. vai dobrando uma folha de papel: du-plicas; quadru-plicas, multi-plicas (já quando se tira para fora -tirar para fora em latim é designado pelo prefixo "ex"-  "explicas"); e quem está "envolvido" nas "dobras" de um crime é cúm-plice; e um filme cru (sem dobras) traz cenas ex-plícitas. (daí também -talvez- a sú-plica: pedir de joelho dobrado) etc. etc. etc.
Para os antigos, simplex é um homem capaz de ver limpidamente a realidade e transformar essa realidade vista "sem plicas" (as plicas da inveja, do egoísmo, do preconceito, do interesse interesseiro, da  avareza etc.) que impedem de ver a realidade, o outro e a Deus....
Ichhh...., quanta com-plicação a propósito simples...
[]
LJ
P.S.: É nesse sentido profundo de visão da realidade, que se entende que o grego do Ev. fale de simples (haplous): "Se teu olho for haplous, todo teu corpo estará na luz" (Mt 6, 22), pois a simplicitas de espírito (2 Cor 11, 3) é condição de captação do objeto, única fonte autêntica do filosofar...
P.S2.: Os etimologistas atuais em vez de sine (em sine-plicas) preferem semel (um só), "uma só face", dá na mesma... (como no alemão Einfach)

PARTE 2 - CORAÇÃO
O profundo conceito bíblico de coração traz riquíssimas sugestões.  Coração nas línguas semitas é QALB (árabe; Lav em hebraico), é uma palavra de uma incrível sugestividade: Qalb significa: o girador, "turner", o que dá voltas. Há até um provérbio árabe que diz: "Wa ma sumya al qalbu qalban..." O girador (coração) se chama girador (coração) porque gira.
É curioso que, mesmo sem a etimologia, nossos poetas captem esse aspecto "girador" do coração:
AUTOPSICOGRAFIA   -     Fernando Pessoa,
"O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
  ...
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração."

VELETA   -      Federico García Lorca
Las cosas que se van no vuelven nunca,
todo el mundo lo sabe,
y entre el claro gentío de los vientos
es inútil quejarse.
¿Verdad, chopo, maestro de la brisa?
¡Es inútil quejarse!

Sin ningún viento.
¡hazme caso!
gira, corazón;
gira, corazón.

E em "Roda viva" de Chico Buarque - "Roda mundo roda gigante roda moinho roda pião o tempo rodou num instante nas voltas do meu coração".
Também aquela outra canção brasileira "Ai gira girô meu coração navegador" acerta na mosca: o coração é um girador.
Daí que a Bíblia fale mil vezes de girar o coração para Deus, girar o girador para Deus (tal rei endureceu-se em vez de girar seu coração para Deus).
Daí um 2o. aspecto: a idéia - quase pleonástica de conversão do coração - con-versão, girar, voltar-se para o lugar certo. A conversão do leme, dirigir nosso núcleo central para Deus.
Quando realmente estamos determinados a amar a Deus com todo o nosso coração, com toda nossa giração; quando, como na literatura espiritual clássica, somos um girassol que gira a cada momento em sintonia com o Sol que é Cristo, nossa giração se descomplica e nos tornamos Simples
de Coração.
Um forte abraço
jean
 

Shalom, Salam, 18-05-01
Gabriel caríssimo, como vai "brimo"? Na sua ausência, andei enchendo as paciências do pessoal aqui com as metáteses bíblicas e com o conceito bíblico (e árabe - qalb) de coração.  Como sei que v. gosta, farei uma nota (breve) sobre a palavra Shalom, que você e muita gente na lista gosta de usar para saudação.
SHALOM
Um dos problemas de tradução das línguas semitas (hebraico, aramaico e árabe) decorre do fato de que freqüentemente uma mesma palavra (isto é, o radical tri-consonantal) nessas línguas acumula em si uma série de significados que, para nossas línguas ocidentais estão distribuídos em palavras diferentes.
Assim, para o Oriente, há "confusões" maravilhosas, como a da palavra S-D-Q, que significa ao mesmo tempo: amizade e confiança.
É o caso também do radical S-L-M da palavra salam (ou, em hebraico, Sh-L-M de Shalom: como é a mesmíssima coisa prefiro falar do Salam árabe), que o ocidental costuma traduzir por "paz".
Em torno desta raiz S-L-M (ou Sh-L-M), confundem-se na linguagem - e no pensamento... (e na realidade(?)) -, entre muitos outros, os significados de:
1) integridade no sentido físico e
2) moral (SaLiM -quem diria?-  é "o íntegro", o que não se
corrompe...);
3) saúde (e fórmula universal de saudação),
4) normalidade (o plural SáLiM na gramática é o plural regular);
5) salvação ("sair-se são e salvo"), mas também
6) salvação no sentido religioso;
7) submissão, aceitação (de boa ou má vontade), daí iSLaM;
8) acolhimento;
9) conclusão de um assunto;
10) paz
etc.
Na Bíblia, encontramos o radical S-L-M (Sh-l-m) "confundindo" diversos conceitos (para o pensamento ocidental totalmente distintos). Assim, de Salomão (SaLuMun ou SuLaiMan), Deus diz a seu pai Davi (este, sim, um homem de guerras): "Este teu filho será um homem de PAZ, pois
Salomão é o seu nome" (1 Crn 22,9). E Deus, apesar da infidelidade do rei, mantém a "integridade", a "união" do reino de Salumun e diz: "Não tirarei da mão de Salumun parte alguma do reino..." (1 Reis 11,34).
S-L-M, no sentido de concluir, acabar, aparece no livro de Esdras, onde encontramos Sesabassar encarregado da construção do templo, "que ainda não está CONCLUÍDO" (Esd 5,16). S-L-M, como entregar completamente, colocar ao inteiro dispor, é usado em: "Deposita diante
de Deus, em Jerusalém, os utensílios que te foram ENTREGUES, para o
serviço do templo do teu Deus" (Esd 7,19). Etc. etc.
Sem esses múltiplos sentidos de Salam/Shalom (como os de união, integração, remoção de barreiras), como entender, p. ex., a sentença do apóstolo Paulo: "Cristo, nossa paz (ele escreve em grego, mas pensa em semita: nosso Shalom), de dois fez um, derrubando o muro que os separava" (Ef 2,14). Se, para um ocidental, esta sentença é enigmática, para um semita ela é clara: nossa paz é o mesmo que "nosso integrador".
A paz, a salvação, a união(e muito mais) nos desejamos quando dizemos:
Shalom
Salam
jean
 

Jeito brasileiro de falar (diminutivos & Cia.), 26-05-01
Uma amiga portuguesa, ilustre jurista, ingressou numa lista de adolescentes católicos brasileiros. Junto com a msg de saudação, escrevi uma série de msg Linguagem Brasil, como introdução ao brasileirês.
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Viva! Sê bem-vinda, ó Maria!
Suponho que és a querida amiga Maria N., a ilustre jurista da estupenda lista portuguesa LLLi, pois não? Em nome de todos, muito obrigado pela grande honra que nos dás ao integrar este grupo.
Como podes ver, esta lista é muito engraçada!! (calma, brasileiros, "engraçada" em Portugal não significa "engraçada" nem esquisita , mas: simpática, "legal" ). Uma lista transbordante d'alegria, de
criatividade e de carinho e -ao menos para mim que já não sou tão jovem- faz muito jeito dialogar com os mais novitos (cuidado, brasileiros, "os putos" em Portugal significa simplesmente: "os garotos", "as crianças", cfr. p. ex. :  http://www.gazeta-digital.com/_disc2/00000103.htm
ou   http://jornal.publico.pt/2001/03/05/Publica/TMMIUD.html )
[]
jl
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Caríssima Maria,
Primeiramente, há de perdoar a inevitável informalidade do tratamento  (é algo que se impõe numa lista de jovens brasileiros) e o "você" que soa tão estranho em Portugal, principalmente no uso brasileiro que mistura 2a. e 3a. pessoas, como por exemplo: "eu já TE disse que VOCÊ  precisa se cuidar". E mais uma enorme quantidade de gírias e expressões idiomáticas à primeira vista talvez bizarras, mas que depois, muitas vezes, se revelam maravilhosas. Na Faculdade de Letras
da Univ. do Porto, um ilustre intelectual português me comentava encantado "a riquíssima expressão idiomática" que aprendera no Rio: "não é minha praia".
E não esqueçamos que a gíria jovem brasileira resgatou profundissimamente o neutro (do latim e do grego): "Qual é a tua?" "Qual é a dele?" etc. Ou em bom paulistês: "Ô meu, qual é a tua?".
Mais uma vez bem-vinda,
jean
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A tão ilustre presença portuguesa em nossa lista, convida-me a -eu que sou perdidamente apaixonado por Portugal- redigir algumas notas sobre a linguagem (mesmo correndo o risco de "ensinar o Pai Nosso para o vigário", afinal a Dra. Maria N. é especialista em relações
internacionais) que, pelo menos, podem talvez ser "engraçadas".
DIMINUTIVO - 1
Em primeiro lugar, costuma chocar aos não brasileiros o uso e a enorme quantidade de diminutivos neste país.
Por ex., na (curta) msg anterior a esta,  figuram: "parabéns, maninho"; "20 aninhos, hein";  "de voz fininha", "um anjinho que veio alegrar a terra" etc.
Para um espanhol, por ex., para o modo machista (e do nosso ponto de vista: rude) espanhol de falar, a fala brasileira (num homem) parece, no mínimo, "meio esquisita" e inaceitável: quando o RonaldINHO foi jogar no Barça, a primeira coisa foi mudar (ou melhor, restabelecer) o nome: Ronaldo (diminutivo é coisa de maricón...). Há até uma conhecida piada espanhola com mexicanos (no México também usa-se muito o diminutivo).
Já em Portugal usa-se o diminutivo, mas nada comparado a nós outros, campeões mundiais nesse quesito.
Tchauzinho e até a próxima mensagenzinha jean
P.S.: acaba de chegar uma msg, convidando para um  "barzinho de Jesus"
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DIMINUTIVO - 2
Não se trata só de quantidade (onde somos medalha de ouro; México, prata; Portugal, bronze) mas de uso. Mas, antes que me esqueça: a piada (espanhola) do mexicano:
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O mexicano (em trajes típicos) entra no retaurante (em Espanha)e pede:
- Camarero (garçon), pues quiero um pollito (franguinho) con salsita (molhinho) de mayonesita y dos panecitos y agüita y ...
- (O garçon saca o revólver e diz:)Un diminutivo más y le abraso. Qué más quiere?
- (o mexicano emudece)
- (O garçon com o revólver e nervoso): Qué le pasa? No va a seguir? Qué más quiere?? Digame!!!
- (o mexicano continua emudecido)
- (O garçon insiste): Qué más quiere????? Digame!!! Qué le pasa???
- Es que he perdido el "apeto"...
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Claro, se ele dissesse: - Es que he perdido el apetito... (apetITO, apetite poderia parecer diminutivo e ele tomaria um tiro)
[]
jean
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Uma participante da lista elogiou a piada: "Muito boa essa do mexicano... mas o mais engraçado foi a explicação no final da piada, hehehehehe..".
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Sua resposta provocou-me um desafio: o de tentar compreender um pouco melhor nosso Brasil, "traduzindo" essa piada espanhola. Vamos tentar a "versão"?
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Num quartel de cavalaria, o recruta novato é encarregado de servir a comida (por que será que em rodízio de churrasco, tudo é diminutivo? Talvez para não se ter a culpa de gula?) na cantina dos oficiais:
- Tenente, o senhor aceita maminha?
- Tenente, o senhor aceita um arrozinho? [e assim vai, coraçãozinho, polentinha, batatinha, fraldinha, franguinho etc.]
Lá pelas tantas, o tenente se enche e diz: -Soldado, pára de falar como um %$#@*!!! Mais um diminutivo e você está &@#$%@!!! Qual é seu nome??????
(O soldado, após um certo silêncio, diz:)
- José Agosto, senhor! [poderia ser também Marto, para evitar AgostINHO e MartINHO...]
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A delicadeza brasileira é tanta que o normal da Espanha, tem de ser localizado aqui num quartel da cavalaria. Valeu?
[]
jean
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DIMINUTIVO 3
Não se trata só de quantidade, mas de uso. Nós, brasileiros, estamos tão acostumados, que nem reparamos no espantoso fato de que usamos o diminutivo até para aumentar!!!!
Qquando o pão de queijo acaba de sair do forno -e, portanto, com temperatura Máxima- dizemos: "aproveita, que está quentINHO". Se uma moça está maximamente apaixonada por um rapaz, dizemos que ela está caidÍNHA por ele. Quando um vendedor nos quer convencer de que a outra marca é absoltamente idêntica à que procurávamos ele nos diz que as duas são iguaizINHAS.
De onde será que pegamos este jeito "engraçadinho" de falar?
Não perca o cap. 4
[]
jean
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DIMINUTIVO 4
Pois é, usamos o diminutivo para tudo porque a linguagem brasileira quer impregnar tudo de carinho (até mesmo "nossos" traficantes são objeto desse afeto: Fernandinho Beira-Mar; Marcinho VP etc.). E por mais rudes que sejam os jogadores de um time de futebol, se houver 3 Marcelos no mesmo time para diferenciá-los o primeiro será Marcelinho (mesmo que seja enorme), o segundo Marcelinho Baiano, o terceiro Marcelinho canhoto (e se aparecer um 4o. xará, talvez fique Marcelo
mesmo).
Às vezes, se usa o diminutivo por modéstia, o arquiteto do Maracanã pode dizer: eu projetei um estadiozinho...
[]
jean lauand
P.S.: Quando v. tiver um tempinho, dá uma passadinha no sitezinho da nossa editora, que está novinho em folha. A URLinha dele é:
http://www.hottopos.com/
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DIMINUTIVO 5 - Kalunga: DEUS
O fato de usarmos o diminutivo até para aumentar parece ser influência africana no português do Brasil.
Com as línguas bantu, as línguas africanas sub-saharianas, ocorre um fenômeno misterioso e fascinante: as palavras (/realidade) estão divididas em 10 classes e a 1a. sílaba de cada palavra já indica a que categoria -DA REALIDADE- a palavra pertence (ser humano, animal, árvores, ações verbais etc.).
No kimbundu, a língua africana que mais influenciou o português do Brasil, KA é o indicador da 10a. classe: a dos diminutivos.
Daí tantos brasileirismos: karimbo é marquinha, kaximbo (pocinho, buraquinho), kamundongo, kafuné, kafangar (criticar, diminuir) etc.
O curioso é que este ka da 9a. classe, faz o diminutivo e o aumentativo. O verbo lunga significa juntar e a palavra para Deus (como a famosa papelaria que patrocinou o Corínthians) é Kalunga: o grande juntador, o superlativo juntador (o juntadorzinho, no sentido de máximo juntador...)
Bom, chega que eu tenho que dar uma saídINHA
[]
jean
P.S.: Maiores comentários num artigo (que publiquei na África):
http://www.hottopos.com/notand6/jean.htm#_ftnref17
 

Nota sobre a saudade, 31-05-01
Alguém na lista falou de saudade. Após uma mensagem breve que enviei sobre o assunto, a Maria, a colega portuguesa (que não notou minha msg) provocou-me a falar sobre o tema: "Espero que Jean dê o seu magnifico contributo sobre esta matéria"

Quero fazer uma nota a propósito de "saudade" (também como homenagem a Portugal: saudade é o conceito superlativamente português...).
Nesta semana, perguntei (nas diversas classes em que leciono) se sabiam definir saudade e ninguém
sabia!
É incrível: um conceito tão nosso (português e brasileiro) e ninguém atina que saudade é mais do que a mera dor da ausência...:
Mais detalhes (graande S. Tomás!) em: "Tomás de Aquino e a saudade" em:
http://www.hottopos.com.br/videtur9/renlaoan.htm
[]
jean

Bom dia/boa tarde, Ó Maria,
O Jean já tinha dado um humilde contributo ao tema saudade: algumas msgs antes dessa tua: a vantagem desta lista em relação àquela nossa é que cá as msgs ficam visíveis a qualquer momento.
Por acaso (no sentido brasileiro de "por acaso" e no português também...) tinha até citado, no meu estudozito linkado, como epígrafe o mesmo verso de Garrett que lembraste...
Já agora lembro uma quadrinha (maravilhosa, mas que infelizmente devo citar de memória e sem saber sequer o autor):
                            Saudade, ainda que doa
                            É, nesta vida fugaz,
                            A única coisa boa
                            De todas as coisas más
E do grande poeta sertanejo brasileiro José Gilberto Gaspar: "Sôdade" (está pouco depois da metade do arquivo):
                 http://www.hottopos.com.br/videtur11/opoeta.htm
Um forte abraço
jean
P.S.: Outra peculiariedade encantadora (que só se dá na língua portuguesa) é chamar os jovens de "novos". Tu tens uma juventude maravilhosa, porque sabes (sabemos) renovar-nos com estes (encantadores) mais novitos...

Voz Média - Repetição intensiva, 30-04-01
Um jovem amigo comentou de uma canção que fala do perigo de afogamento e repete o refrão: "glub, glub"

J. caríssimo,
Obrigado pela explicação e pela bela canção. Só de brincadeira, um pouco de filosofia barata (feriadão dá nisso) em cima da sua mensagem: filosofia do glub, glub!

1. A repetição intensiva
O bis de "Glub, glub", como ocorre freqüentemente com os bis em diversas línguas, parece indicar um intensivo: "estou me afogando mesmo, de verdade, prá valer". Nas línguas semitas, o intensivo é também feito pela repetição: desejar muito é "desejar desejando", bater forte é "bater batendo" etc.
Também em nossa língua dizemos: "começou um corre corre" (muita correria); "quebra quebra" (muita quebradeira) etc.
Assim, você, que está exposto a naufrágios e afogamentos, tem mais é que cantar "Glub, glub"...

2. A voz média
Aí ocorre uma segunda consideração filosófica (sempre no âmbito da filosofia de feriadão): tanto o naufrágio como a salvação são ações protagonizadas por você, mas nas quais você não é senhor da situação: tanto o teu naufrágio como a tua salvação não são atos ativos teus.
Explico. As línguas antigas dispunham de uma fantástica terceira voz: a voz média. Emprega-se a voz média para ações que não se enquadram propriamente na voz ativa nem na voz passiva.
Quer dizer que há ações que não são ativas nem passivas? É, é isto mesmo! O verbo nascer p. ex. não é ativo nem passivo: eu nasço ou sou nascido? Sim ,certamente sou eu que nasço, mas não exerço ativamente esta ação ("Dá licença, abram alas que eu vou nascer...); por isso o inglês fala do nascer na passiva: I was born in 1980...
O mesmo acontece, p. ex. com o morrer (excetuando o caso do suicida): a ação é minha, mas não é minha...
A língua espanhola procura suprir a lacuna da voz média, tornando reflexivos verbos que em português não o são: Yo me muero etc.
O príncipe Paulinho da Viola trabalha muito com esse conceito de voz média; p. ex. de seu último disco são os maravilhosos versos: "Não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar..."
Assim são voz média em latim: nascer (nascor), morrer (morior); falar (loquor: é falando com você que eu falo comigo mesmo); confessar (confessando eu ME arrependo) etc.
Como já dá para perceber, a voz média permite solucionar uma série de problemas cristãos -sim a ação é minha mas não é minha: é de Deus- que ficariam sem solução no binômio voz ativa/voz passiva. É Deus quem me navega, ou, para citar de novo o mestre Paulinho (vocês, jovens, talvez nem conheçam): "Foi um rio que passou em minha vida e meu coração se deixou levar".

Bom, isto já foi longe demais. Quero deixar meus parabéns: Congratulor (a forma latina de parabéns, "congratulor", é voz média e significa: uma alegria sua -que não é minha- é também minha porque é sua...) e pedir desculpas pelo "oba oba"...
Abraça-te abraçando
jean

Pindaíba - Estar na Pindaíba, 21-08-01
Brincadeiras à parte, você tocou a mais sensacional metáfora do pensamento tupi: pindaíba, estar na pindaíba...
O sufixo "iba" (não confundir com "tiba" de Curitiba, etc.) significa:  imprestável, que não serve, que não funciona. Assim, Paraíba é o rio que não serve; piraíba é o peixe ruim etc.
Pindá é o anzol (Popindá, p. ex., é o ladrão "mão de anzol"; pindamonhangaba é onde se fabricam os anzóis etc.)
Pindaíba = anzol estragado (a pior situação possível para o índio)
[]
jean
 

Bahia, Brasil levado às últimas conseqüências? 08-05-01
(a propósito do escândalo do Painel do Senado, e do apoio dado a  Antônio Carlos Magalhães por artistas baianos etc.)

De te fabula narratur (a fábula, a carapuça, se aplica a ti), diz o antigo provérbio latino. Nestes dias, ao atirarmos as (merecidas) pedras "na Bahia" e nos artistas baianos, vejamos em que medida esse problema de mentalidade também nos afeta a nós.
Observador incomparável (e apaixonado pelo Brasil), um dos principais filósofos da atualidade, Julián Marías, fez a seguinte aguda observação, tão inesperadamente atual:
"(Em minhas diversas visitas ao Brasil) eu achava que, mais ou menos, com aproximações sucessivas, ia entendendo o que é a realidade brasileira, mas a Bahia foi uma revelação. Por ser diferente? Não, muito pelo contrário: porque a Bahia é a forma mais intensa e forte do Brasil que eu achava que conhecia (...): confirmava, acentuava, exercia o papel de um revelador que mostra o Brasil" (Hispanoamérica, Madrid, Alianza, 1986, p. 221)
Claro, que a observação vale para o bem e para o mal...
[]
jean lauand
P.S.: Nossa editora tem a honra de publicar com exclusividade as conferências de Julián Marías:
http://www.hottopos.com/4.htm#julian
 

Duas do Papa no Brasil, 29-05-01
Em todas as línguas, o que é evidente "goes without saying", sobre o que é óbvio não se gasta uma palavra. E, reciprocamente, quando se fala é porque é necessário. Em sua viagem ao Brasil em 91, o Papa já tinha deixado dois recados "sutilíssimos":

1) Dirigindo-se aos políticos (Presidente, Senadores, Deputados, Ministros, governadores etc.) em Brasília (14-10-91):
"Que as questões levantadas pela sociedade sejam sempre examinadas à luz dos critérios da justiça e da moralidade cristãs, antes que de interesses particulares. *Creio* que *não* é esta a motivação do vosso agir político, pois tal postura *seria* incoerente com a visão do bem comum que *certamente* vos move..."
Não é ótima?

2) Dirigindo-se aos leigos (Campo Grande, 17-10-91):
"Rejeitai a tentação do desestímulo provocada pelo exemplo negativo dos que, à margem de critérios éticos, procuram a maior vantagem com o menor trabalho".

A "Lei de Gérson" já naquele tempo tinha chegado aos ouvidos do Papa...
[]
jean lauand

"Nos varais do Mundo" de Cristina Castilho",  05-04-01
São Paulo, 5 de abril de 2001
Queridos todos da lista (Portugal e Brasil)
São 22:00h e acabo de voltar do lançamento do livro "Nos Varais do Mundo" da Cristina Castilho, que recolhe sua experiência nas pastorais carcerária e das mulheres de rua. Jundiaí é uma cidade perto (para os padrões brasileiros...) de São Paulo e a 1 hora de viagem sob intensa chuva não foi suficiente para dissipar o impacto da forte emoção (mesmo para mim, que não sou dado a emoções) desse evento.
Chegamos pontualmente (um amigo e eu)  às 19:30h  e -no amplo salão do Clube jundiaiense- já havia centenas de pessoas (pouco antes de receber o autógrafo da autora,  contei 156 pessoas na fila, fora outro tanto que estavam sentados e chegando gente sem parar): nos meios editoriais brasileiros costuma-se comentar que 50  pessoas para um lançamento está ótimo; que dizer dos mais de mil que por lá terão passado hoje?
Mas o número -e a maciça presença da mídia entrevistando a autora para desespero da fila que esperava o autógrafo - não é o mais importante: muito mais importante era a cara de felicidade de todos e de cada um dos presentes (muitas crianças, idosos, os bispos de Jundiaí -que educadamente postaram-se no fim da fila, até que alguém os conduziu diretamente à autora- , catedráticos e juízes, prostitutas e parentes dos presidiários; gente de todas as classes sociais,  todos felizes, muito felizes de estar lá). Ali realizava-se, quimicamente pura, aquela maravilhosa fraternidade brasileira -parte importante de nossa herança portuguesa-  que não quer nem saber de cores, raças, condições... - sentia-se fortemente a presença de Deus. E sentíamos um intenso orgulho da Cristina (particularmente luminosa e serena e, discretamente, senhora da situação: como se não fosse ela o centro da festa - dedicando a cada um toda a atenção como se não houvesse uma fila com 150 pessoas...), orgulho desse Brasil verdadeiro (que, por vezes, chega-se a pensar que estava extinto e que de repente se redescobre...), orgulho de nossa Igreja...
Via-se, palpava-se,  a força de um amor muito mais forte do que todas as misérias humanas: redescobria-se a verdadeira riqueza da alma ingênua, simples, boa, portuguesa/brasileira, profundamente de bem com Deus e com o mundo. Lembrei do que tinha citado para a autora: que esse seu trabalho é a prova cabal de que nada nem ninguém estão perdidos, que no fundo de cada criatura há paz salvação e glória; que nas mãos de Deus - como diz Platão - estão o começo, o meio e o fim de todas as coisas.
O efeito imediato (no feliz comentário desse meu amigo que não conhecia de nada a autora) do impacto foi o de cada um sentir-se fortemente chamado a realizar também esse amor (humano/de Deus) no lugar onde está (se não temos pastoral carcerária, temos nossos alunos, clientes etc.).
Muito obrigado Cristina, por nos manifestar tão limpidamente a luz do amor de Deus,
Um forte abraço a todos e desculpem a confidência (que vai por conta do impacto da emoção)
jean lauand
 

A Penúria de nosso tempo -
Posfácio a  Nos Varais do Mundo, de C. Castilho

Lendo as crônicas de Cristina Castilho, vêm à mente as teses de dois dos principais filósofos alemães da arte deste século: Martin Heidegger e Josef Pieper, ambos apoiando uma estética num clássico verso de Hölderlin, aquele decisivo verso – do poema “Pão  e Vinho”- que diagnostica profundamente a perplexidade da arte, mas também a do homem do nosso tempo: “Wozu Dichter in dürftiger Zeit?”- “Para que poetas em tempos de penúria?”
A perplexidade reside, antes de mais nada, na reta avaliação da penúria: “Nosso tempo – diz Heidgger, comentando esse verso – mal compreende a pergunta; como vamos compreender a resposta dada por Hölderlin?”
A resposta de Hölderlin incide certeiramente sobre o núcleo essencial da grande tradição estética : a verdadeira arte, em última instância, só floresce como expressão de afirmação e de louvor a Deus pelo mundo: “Ah, meu amigo, chegamos tarde demais... Sim, ainda há deuses mas acima de nossas cabeças, em outro mundo...Que dizer? Não sei. Para que poetas em tempos de penúria?”
Em nossa época, a penúria chegou a extremo tal, comenta Heidegger – que nem sequer é capaz de sentir que a falta de Deus é uma falta. Pois a penúria dos tempos não está só nem principalmente na escassez material, mas na ausência “para nós” de Deus, que pode até existir, mas “in anderer Welt”, “em outro mundo, que não o nosso.
Somente quando se vê o mundo como criação – como obra de Deus, presente e fundante - e o homem como participante no que está acima do humano, somente então podem as musas surgir para festejar um mundo, afinal, pleno de sentido.
Pois a festa e a arte se alimentam do amor que, afinal, é aprovação, afirmação e – como tão bem formulou Pieper – pôr-se diante da pessoa amada e dizer : “Que bom que você exista! Que maravilha que você esteja no mundo!”
O amor humano, porém, é ainda algo de provisório; na verdade, ele é como que continuação, participação e prolongamento de um outro Amor : o Amor de Deus, que desde o princípio profere a frase criadora por excelência : “É bom que existas!”
É deste mundo-projeto de Deus que nos falam as crônicas (e a militância) de Cristina Castilho : precisamente ao pôr diante de nossos olhos a dura realidade e a presença do mal ou dos problemas sociais tão acentuados em nosso tempo. O segredo de sua arte está em que para além da violência e da exclusão, o coração de Cristina Castilho adivinha (e faz entrever...) o caráter criado – e maravilhoso – do ser humano.
Vem a propósito o comovente discurso que Louis Armstrong fez (em resposta às críticas de que foi alvo por parte da “arte engajada” do final da década de 60), no final da carreira (e da vida), como introdução à gravação da canção “What a Wonderful World!”. Nesse “testamento espiritual”, Armstrong reafirma o caráter fundamentalmente bom do mundo, e a arte como testemunho e expressão do amor: “O problema não é que o mundo seja mau, mas que nós o estamos tornando mau. Na verdade, o que minha canção diz é: vejam que maravilhoso seria o mundo se não lhe déssemos um chance de amor. Amar: este é o segredo!... “And I think to myself: ‘What a wonderful world!’”
Chamar a atenção para esse “segredo”- com toda a pontencialidade transformadora que encerra – é a missão do escritor. Como ensina Pieper (a quem sigo nesta breves reflexão): a afirmação da contemplação terrena supõe a convicção de que no fundo das coisas – apesar de todos os pesares, com que nos deparamos a cada momento – há paz, salvação e glória; que nada nem ninguém estão irremediavelmente perdidos; que nas mãos de Deus, como diz Platão, estão o princípio, o meio e o fim de todas as coisas.
É dessa superação das penúrias que nos fala  a arte (e a vida...) de Cristina Castilho.

Nosso parceiro em Havana, 5-8-01
Esta msg é para informar sobre um novo e diferente projeto editorial. "El Instituto de Filosofía de Cuba" lança, nesta semana, em parceria com nosso departamento de Filosofia da Educação da USP, dois números especiais da revista Videtur-Letras, que estarão disponíveis também na NET, no site da Editora Mandruvá: http://www.hottopos.com/ , sob a coordenação geral do Prof. Gabriel Perissé, doutorando em Filosofia da Educação, na FEUSP.
Perissé no editorial (sugestivamente intitulado "Sin embargo"), explica que se trata de romper embargos e de dar voz aos pensadores daquele país, ao mesmo tempo que integramos esse órgão oficial de Cuba às 20 prestigiosas instituições acadêmicas que coeditam conosco (universidades como as de Frankfurt, Freiburg, autónomas de Madrid e Barcelona, Porto, Harvard etc.) facilitando, por outro lado, aos colegas cubanos o acesso ao amplo leque de pensamento (são já cerca de 70 volumes e 700 artigos publicados) disponível em nosso site.
O próprio fato de poder parecer, para alguns, um pensamento com um viés próprio, acaba por informar-nos sobre a produção dos colegas cubanos por suas próprias palavras e não pelos apaixonados (pró ou contra) discursos "sobre".
Um forte abraço
jean lauand
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Nosso parceiro em Havana-II, 14-8-01
É com imensa satisfação que comunico (sobretudo àqueles que apoiaram a  iniciativa de coeditarmos um par de revistas com Cuba...), que na própria Home-page de "El Portal de la Filosofía y el pensamiento cubano",   http://www.filosofia.cu/  , Portal que abriga todas as instituições de filosofia daquele país (entre elas nosso parceiro, "El Instituto de Filosofía de Cuba", um destacado e longo comentário e links para nossas edições (é o primeiro convênio editorial da USP com Cuba) e para nosso site em geral,  convidando, assim, todos os intelectuais de Cuba a lerem o amplo leque   de centenas de artigos de pensamento filosófico que oferecemos.
JL
 P.S.: Este é o texto que se encontra no Portal
              Videtur-Letras Nos. 3 y 4 en edición conjunta!!!
                 Ha sido publicado por la Editorial Mandruvá de Brasil -
                 http://www.hottopos.com/ -, en coedición con la Faculdade de Educação
                 de la Universidad de Sao Paulo, la Escola de Escritores de Brasil y el
                 Instituto de Filosofía de La Habana, los números 3 y 4 de la revista
                 Videtur-Letras. El Instituto de Filosofía de La Habana es la 20a.
                 institución universitaria extranjera que se une a los proyectos
                 editoriales de la USP. Videtur-Letras 3 y 4 están disponibles en:
                 www.hottopos.com/vdletras3/index.htm y
                 www.hottopos.com/vdletras4/index.htm

CCE-USP, perguntar não ofende, 23-08-01
Queridos colegas e pós-graduandos,
Como é de todos sabido (e sofrido...) ficamos sem e-mail por três dias: desde aproximadamente 8:30 h de 2a.f., 20-8, até às 15:00h de ontem, 22-8.
Reclamando insistentemente junto ao CCE, desde as 8:31h  de 2a. f. (afinal, já vimos essa mesma novela ainda recentemente: na qual não faltam lances surrealistas do tipo: "o sistema já voltou, é a sua máquina que deve estar com algum problema de configuração" e a sucessão daqueles aqueles avisinhos na HP do CCE, "o sistema voltará ao ar tal hora...", substituído depois por "tal hora +1",  etc. ), fui informado que os técnicos da Compaq vieram na 2a.f. à tarde (!)  ëtc. etc.
Naturalmente, não culpo ao CCE  (provérbio árabe: "'Prego, por que me machucas?', perguntou a parede; 'Pergunte ao martelo', respondeu o prego"), mas há alguma instância da USP que não está respeitando nosso trabalho. Pergunto: se o sistema de, digamos, um Bradesco, tivesse saído do ar, a Compaq  levaria três dias para restaurá-lo?
Um forte []
Jean Lauand
P.S.: Na próxima vez que isto ocorrer, acho que é interessante um maciço volume de reclamações telefônicas, pelo menos para que saibam que se a própria instituição não valoriza (faticamente) nosso trabalho, nós, sim,  prezamos nossa dignidade profissional...  Para tanto, aí vão alguns ramais do CCE: 6339 , 6400 (Rose, plantão de apagamento de incêndios) , 6441 , 6380  , 6381 , 6436  , 6442 , 6443  , 6436 , 6405 (central técnica: 24 h)  etc.
 

Piadas de Português, 12-09-01
N. enviou para uma lista de jovens cristãos, sob o título "Portugas", algumas piadas de português...

N. caríssimo,
Se do ponto de vista meramente humano é já manifestação de imaturidade acolher e difundir preconceitos; do ponto de vista cristão, parece-me inadmissível.
Por mais atenuantes que alguns encontrem para difundir essas piadas, especialmente a que se referem a portugueses (a quem tanto devemos!) parece-me de um absurdo, de um mau gosto, de uma injustiça e de uma ingratidão absolutamente inaceitáveis.
Aliás, diz o provérbio: "Quem tem telhado de vidro, não jogue pedras no vizinho". Muitos brasileiros nem suspeitam, mas "o brasileiro" é - pois é - objeto de piadas na Europa... Se for do interesse da lista - pra aprendermos a deixar de ser besta - posso -com fontes e referências, "matar a cobra e mostrar o pau" - posso enviar algumas: da Espanha, França (essas são especialmente cáusticas), Alemanha etc.
Ah! E as (inteligentíssimas) portuguesas sobre brasileiros, que pelo menos têm fundamento na realidade.
Em resumo: que o brasileiro não é tão issshpéérrrto quanto ele se imagina.
Aos irmãos desse queridíssimo Portugal (a quem, insisto, devemos o melhor do que temos e somos), peço em nome de toda esta lista  a grandeza de seu perdão.
Um forte abraço
jean
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Caríssimo amigo e irmão Jean:
Confesso que pensei bem antes de responder a este ei-mail, afinal ele não parece digno de resposta. É o típico caso em que podemos usar o ditado "tempestade em copo de água". A propósito: sabe de quem recebi estas piadas? De um padre, que de preconceituoso não tem nada. E numa piada você pode simplesmente rir, pois este é o objetivo dela, ou analisá-la e chegar a milhares de  conclusões.
Jean, já parou para pensar em quantos preconceitos você alimentou de mim ao receber estas piadas? Já mandei várias mensagens a este grupo e não me lembro de que você as tenha comentado. Porém basta que eu mande algumas piadas e torno-me um besta, um imaturo e
sabe-se lá o que mais.
Tenho colegas de origem portuguesa, alemã e italiana (meu caso) no Seminário e nos divertimos juntos nas horas de lazer contando piadas de português, alemães e italianos sem que ninguém se sinta ofendido ou trate alguém diferente por ter esta ou aquela origem. Mas se um de nós tivesse "maldade" interior, então não riríamos. Somente ficaríamos ofendidos.
Somos vários membros do grupo e apenas você manifestou-se contra as piadas. Não é de se refletir? Ah, se puder, mande-me as piadas de brasileiros. não ficarei ofendido.
Um grande abraço
N.
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Caríssimo N.
Em primeiro lugar, obrigado por ter respondido (mesmo que minha observação não te parecesse digna de resposta...).
Naturalmente, ao falar de imaturidade, referia-me a um particular aspecto lamentável de NÓS brasileiros (não a você, pessoalmente). E o mesmo quanto à frase feita "aprenderMOS a deixar de ser besta" ("besta " nesta frase feita - cfr. Aurélio - significa "pretensioso, pedante e
presunçoso"). Se tive de ser um pouco enfático em meu comentário foi em atenção aos portugueses desta lista...
Tempestade em copo d'água... do ponto de vista de quem, cara pálida? Há um provérbio árabe (antigo) que diz: "Um é o que conta as chibatadas; outro, o que as recebe...".
O fato de você ter recebido aquelas piadas de um padre não acrescenta nem tira nada ao fato objetivo em si: devemos ou não continuar contando "piadas de português", chamando o português de burro? Esse fato pode significar simplesmente que o padre pode, nisso como em
outras coisas, estar errado... Ou não?
O fato de essas piadas serem correntíssimas não acrescenta nem tira nada ao fato objetivo em si: devemos ou não continuar contando "piadas de português", chamando o português de burro? Esse fato pode significar simplesmente que o hábito brasileiro pode, nisso como em outras coisas, estar errado... Ou não?
O argumento de que vocês, aí no Seminário, se divertem nas horas de lazer, contando piadas de português, italiano e alemão, a meu ver não atinge o ponto. Eu, que sou descendente de árabes, acho graça em algumas "piadas de árabes" (o Salim, afinal, é engenhoso e sagaz); as piadas de alemão não atingem propriamente o alemão - ele, em geral, entra nas piadas simplesmente como alguém que não conhece nossa língua ou simplesmente como "o outro". Quanto às "piadas de italiano", não me lembro de as ter ouvido e não sei se são pejorativas ou não...
Agora, não conto (nem tolero...) piadas sobre negros (neste caso, além do mais, dá cadeia inafiançável...) e - embora compreenda que se trate de algo correntíssimo - também não conto (nem ouço...) "piadas de português".
Paremos para pensar: estamos declarando - de uma maneira jocosa, "sem maldade", "numa boa" "pô, não vê que é brincadeira?" - pura e simplesmente que o português é burro... Isto é cristão? Isto é fomentar os valores da convivência?
Eu, que conheço muitos portugueses no Brasil e em Portugal, posso te assegurar que eles não acham graça nenhuma em ser constante e gratuitamente chamados de burros pelos brasileiros. Numa entrevista, relativamente recente, o José Saramago dizia: "O português para o brasileiro é objeto de constantes anedotas, e anedotas que são sempre depreciativas. Creio que devíamos é acabar com isso. Evidentemente que nós, em Portugal, também contamos anedotas de brasileiro. Mas tudo isso o que é? Significa que as pessoas acham que são superiores aos outros, significa manifestações de inveja ou de despeito? Seja o que for, positivo não é".
Você diz:
>>>>> Somos vários membros do grupo e apenas você (Jean)
>>>>> manifestou-se contra as piadas. Não é de se refletir?
É, N. , parece-me que é bem o caso de se refletir. Eu, aceito o seu desafio: gostaria de saber se na opinião da lista as "piadas de português": são inofensivas, não fomentam preconceito e não
atrapalham a convivência com nossos irmãos portugueses.
E uma perguntinha mais: o que cada um responderia se falando a uma numerosa platéia de estudantes numa universidade portuguesa, fosse perguntado: "É verdade que no Brasil, contam-se anedotas em que o português é tipificado como burro?"
Um forte e agradecido abraço
jean lauand
 
 

Antropologia do dhikr: terço, masbah etc. 13-10-99
Sou novo na lista, mas lendo a mensagem do N. - se o terço é, contra o que diz o Evangelho, ficar "multiplicando" palavras - que pede passagens bíblicas que legitimem as orações de repetição, lembro de que as orações de repetição são algo muito arraigado na tradição bíblica, cristã e oriental em geral (para os muçulmanos - e sobretudo os sufis -, o "masbah" e o "dhikr" (em hebraico zakhara) é tradicionalíssimo meio de oração.
Os salmos estão repletos de repetições (p. ex. o sl 136 (135) vai repetindo inúmeras vezes o dhikr: "Porque o seu amor é para sempre")
E o próprio Jesus o faz: diz Marcos (cap. 14) que, na oração do Horto, ele repetia a mesma frase: "Abbá, Pai, tudo te é possível..." e após encontrar os Apóstolos dormindo,volta a orar "com essas mesmas palavras" ("auton logon...").
A razão para a repetição (que aliás é o oposto de "multiplicar palavras") é - - algo também arraigadíssimo na tradição oriental (e ocidental) e cristã - a consideração do homem como "um ser que esquece", em oposição a Deus, que não esquece (Is. 49, 14; Alcorão XX).
(Tudo isso encontra-se bem desenvolvido no discurso "Memory and Education" http://www.hottopos.com/harvard1/memory.htm)
E sendo o homem um esquecente, é necessário - é o Pensamento 250 de Pascal - "unir o exterior" (as palavras repetidas p. ex.) ao interior para relacionarmo-nos com Deus: apostar só nesse exterior é superstição; prescindir dele é excluirmo-nos do relacionamento com Deus...
Desculpem a mensagem longa,
Jean

¡¡Oléééé!! - Deus, a beleza e a Arte, 21-08-01
Toda a beleza e toda a arte remetem a Deus. Acaba de ser publicado  meu:
                             ¡¡Oléééé!! - Deus, a beleza e a Arte
                             http://www.hottopos.com/mp2/allah.htm
  artigo sobre estética e Deus.
  []
JL
            > Caro Jean:
                 > Adorei seu artigo sobre a estética de Deus e o sentido
                 > maravilhoso do grito olééééé!!! Agora podemos saborear
                 > o sentido do nosso grito. Obrigado, P, Javier sj
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Caríssimo N.
Muito obrigado pelo amável comentário.
A idéia já há muito tempo estava fermentando:
1) Há uns dois ou três anos assistindo a uma tourada en Madrid, uma cena impressionante: ia ser toureado o 4o. touro e "a torcida"  indignada ante a "retranca" dos toureiros, protestava (ainda por cima  era o auge de Cristina Sánchez, a toureira que estava dando de 10 a 0  nos toureiros) e ante as queixas da "torcida" o toureiro se põe de  joelhos diante da portinhola de onde vai sair o touro... Silêncio  total na Plaza (o pessoal já meio arrependido das vaias e  xingações...); investe o touro e o toureiro continua imóvel... quando   falta 1 mm para ser chifrado, o homem voa e ainda passa a capa no    focinho do touro. O estádio vemabaixo: Olé! (Wa-llah!)
2) Ouvindo, no carro de um amigo: "España Cañí" - Allah do começo ao fim...
3) Lendo a notícia de que o Ministério do Vício e da Virtude do governo Talyban do Afeganistão -entre outras tantas restrições ao  futebol- só permite no estádio dois gritos da torcida:
Allah - para lances favoráveis
 Allahu Akbar (Deus é grande...) - para lances desfavoráveis.
 --
 De tudo isto, saiu o artigo...  E o mais interesante é que o Dicc. de la Real Academia aponta também   a origem Wa-llah, para a popular saudação: Hola! (equivalente ao   nosso "oi!"), como se se dissesse: Como Deus é bom: você por aqui?  E já há alguns etimologistas ingleses querendo jogar no Wa-llah o  Hello! inglês.
 Um forte e agradecido abraço
 jean

Terrorismo e atentado contra os EUA, 12-09-01
N. lançou na lista:
02 perguntas ao jean...
o que voce acha dos ataques terroristas?
voce eh decentente de povos do oriente medio?
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N., carissimo,
Que perguntas!! Espero que você não tenha preconceitos contra árabes  ou imagine que todo muçulmano é pró-terrorismo...

Em todo caso, respondendo:
1. Meus quatro avós eram libaneses, de antiga tradição cristã.  Para saber mais sobre mim e sobre eles, leia a Introdução de meu  livro, publicado na Austrália:
 http://www.deproverbio.com/DPbooks/LAUAND/

2.Sobre o terrorismo,sigo as reiteradas condenações do Papa, p.ex. em:
 ENCÍCLICA SOLLICITUDO REI SOCIALIS (30-12-97) - JOÃO PAULO II
 No. 24. Nem se podem fechar os olhos perante outra chaga dolorosa do  mundo actual: o fenómeno do terrorismo, entendido como propósito de matar e distruir homens e bens, sem distinção, e de criar precisamente  um clima de terror e de insegurança, não raro com a captura de reféns.  Mesmo quando se aduz como justificação desta prática desumana uma  ideologia qualquer ou a criação de uma sociedade melhor, os actos de  terrorismo nunca são justificáveis. Mas, são-no ainda menos, quando,  como acontece hoje, tais decisões e gestos, que por vezes se tornam  verdadeiras chacinas, bem como certos raptos de pessoas inocentes e  alheias aos conflitos, têm como fim a propaganda, em favor da própria  causa; ou, pior ainda, quando são fim em si mesmos, de modo que se  mata apenas por matar. Diante de tanto horror e de tanto sofrimento,  as palavras que pronunciei há alguns anos e quereria ainda repetir,  mantêm todo o seu valor: "O cristianismo proíbe [...] o recurso aos  caminhos do ódio, ao assassínio de pessoas indefesas e aos métodos do
 terrorismo". (Homilia em Drogheda, Irlanda - 29 de Setembro de 1979)
 http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/encyclicals/documents/h f_jp-ii_enc_30121987_sollicitudo-rei-socialis_po.html

 Salam
 jean

A Igreja e os eclesiásticos, 15-09-01
Caríssimos N. e todos,
Nesse sentido (N., em sua mensagem, distinguia entre a Igreja e os eclesiásticos...), há uma passagem maravilhosa de S. Agostinho. Os hereges interpelavam os católicos simples (Hipona era uma cidadezinha de pescadores...): como podeis estar naverdade se vosso bispo Agostinho foi isso e aquilo etc.
Agostinho ensinava-os a responder:
Augustinus episcopus est in Ecclesia Catholica, sarcinam suam portat, rationem redditurus est Deo. In bonis eum novi. Si malus est, ipse novit; si bonus est, nec sic spes mea est. Hoc ante omnia didici in Catholica, ut spes mea non sit in homine (En in Ps. 36, in fine).
"Agostinho é bispo na Igreja Católica. Ele carrega sua carga, da qual ele há de dar contas a Deus. Eu o conheci entre os bons. Se ele é mau, isso é lá com ele; e se ele é bom, nem por isso é ele a razão da minha esperança. Porque a primeira coisa que aprendi na Igreja Católica foi que minha esperança não repousa sobre um homem"
[]
jean
 

Carnaval - Olha o Santo Tomás aíí, geeente!,  27-02-01
Nem tudo é baixaria no Carnaval.
Na linha de estarmos atentos às manifestações culturais (implícitas, tantas vezes) do pensamento cristão -por mais inusitadas que possam parecer!!!- está o belíssimo samba-enredo da Gaviões da Fiel (foto) para este carnaval: "Mitos e Magias na Triunfante Odisséia da Criação",
Apesar da alegada referência ao poeta Hesíodo (e da substituição da pomba da paz pelo gavião e outras meio "Samba do Crioulo Doido"), o enredo baseia-se, na verdade, em concepções genuinamente cristãs: - a criação como obra do Pensamento, do Logos (cap. I de João), a
"magia" do Logos-Ludens (S. Tomás), cfr. p. ex.: http://www.hottopos.com/notand7/jeanludus.htm
-  o chamado ao homem a colaborar na obra criadora, dando continuidade
ao Amor Criador (Espírito Santo), Veni Creator Spiritus ... Digitus Paternae dexterae,  o dedo da obra escultural do Pai...:cfr.: O que é o Amor?  Josef Pieper, parte 3 de: http://www.hottopos.com.br/notand4/crer.htm
[]
jl
Anexo:
"Mitos e Magias na Triunfante Odisséia da Criação"
José Rifai - Alemão do Cavaco - Ernesto Teixeira

Trago amor e esperança
Nesta odisséia triunfal
Voa Gavião, faz a festa pro povão
Arrebenta neste Carnaval

Iluminando a Imensidão
Com perfume da magia e sedução
O pensamento divaga no infinito
É um sonho tão bonito que conduz à criação

E então, brilhou um céu
Cravejado de estrelas
Surgiu a Terra, O Sol, O Mar,
E a Lua que clareia o teu olhar
Da Singeleza em fim
Há de nascer um novo ser
Que com o amor irá se eternizar

Esculturado
Pela mão divina
De barro ou de metal
Do criador é a obra prima

Porém a humanidade desprezou
Todo o poder do criador
Que a castigou com piedade
Uma nova era floresceu
Brotando a felicidade

Trago amor e esperança
Nesta odisséia triunfal
Voa Gavião, faz a festa pro povão
Arrebenta neste Carnaval

Quaresma e fatos gramaticais, 22-02-01
Como diz Santo Isidoro de Sevilha, sem a etimologia a realidade não pode ser conhecida e com ela pode-se recuperar a força expressiva das palavras:
[1."Nisi enim nomen scieris, cognitio rerum perit" (Et. 1,  7,1) e "Nam dum videris unde ortum est nomen, citius vim eis intellegis" (Et.1,29,2)].
Às portas da Quaresma é interessante lembrar que a reconcialiação com Deus pela penitência é designada em inglês pela palavra "atonement", que eimologicamente remete a: "at-one-ment" (Oxford English Dict.), recuperar a unidade, a integridade perdida, quebrada pelo pecado.
Também não é por acaso que "holy" proceda de "whole" - (de novo o Oxford English
Dictionary: "holy -  A deriv. of the adj. hailo-, OE. hál, free from injury, WHOLE, )"
O pecado quebra a unidade do homem - para outros registros análogos cfr.;
http://www.hottopos.com.br/videtur10/luizjean.htm
- resgatada pela atonement da Quaresma
 

Páscoa - Por que 2a. feira, 3a. f. etc.?, 13-04-01
João Paulo II (Dies Domini, Nota 22) destaca -entre outros encantadores fatos da língua portuguesa- o de que os nomes dos dias da semana em nossa língua são: segunda feira, terça feira etc.
Quando observamos os nomes dos dias da semana nas outras línguas, são baseados em deuses pagãos: italiano: lunedi; espanhol: lunes; francês: lundi; alemão: Montag; inglês : monday. Ou seja, o dia da lua. Thursday é o dia de Thor, o deus do trovão (Donners-tag).
S. Gregório Magno (o grande papa, falecido em 604), para converter ao catolicismo os bárbaros, adotou uma pastoral de ceder em tudo o que é acidental (mas não no essencial da doutrina): dessa "política" resultou que a Páscoa seja ainda hoje chamada em inglês Easter (al.: Oster, festa na primavera, perto da Páscoa...), a deusa pagã da fertilidade (acho que é aí que se enquadram os "ovos" e o coelho de Páscoa etc.)
"Feria" em latim é a palavra para festa. Ora, como genialmente faz notar Josef Pascher: para a liturgia todo dia é dia de festa e é por isto que a liturgia chama o dia comum (/que não é comum: é sempre de festa) de feria ...
Festa porque o culto cristão -o sacrifício de Cristo, a Santa Missa- se realiza em meio à criação: toda a criação (e particularmente cada um de nós, os que participamos cada dia -ou cada domingo- da Missa) é -por Cristo, com Cristo e em Cristo- oferecido ao Pai. Daí que, para nós (que somos "novas criaturas" pela Ressurreição de Cristo), tudo o que fazemos (ou sofremos...) adquire um valor infinito: "Já não sou eu que vivo; é Cristo que vive em Mim" (Gal 2, 20).
E mesmo as dores -as incompreensões, a doença, as injustiças,  o desemprego- são vividas por Cristo em nós e "enviadas" (é o que significa "missa", do mesmo étimo de míssil, emissário, missão etc.) ao Pai que as aceita, porque reconhece em nós a Seu filho Jesus. É por isso que João XXIII dizia: "A Igreja é uma enamorada, que sempre canta. Para ela, até o Requiem é canto"
Festa, porque todas as realidades do meu dia (minhas alegrias, louvores, agradecimentos, agradecimentos e mesmo as contrariedades e desgostos -"Eu completo em minha carne o que falta à cruz de Cristo", dizia S. Paulo- unem-se ao valor infinito da Cruz de Cristo, que as assume: Cristo vive o trânsito neurótico de São Paulo nos cristãos que se unem a Ele na Missa; Cristo sofre a dor da derrota para o Equador nos cristãos brasileiros -desculpem o exemplo prosaico, mas é assim
mesmo: a nossa religião centra-se no Verbo Encarnado; Verbo pelo qual Tudo foi criado...).
O essencial da missa é a união das 24h de nosso dia ao sacrifício de Cristo. Cristo leva ao Pai meus trabalhos e meu dia: é festa!. Assim se compreende que se fale em feria, festa pela liturgia; já que
em vez das superstições dos astros, temos a Cristo. Comentando o Salmo 93 (En. in PS. 93, 3), S. Agostinho diz (a tradução é meio rápida): "O primeiro dia depois do sábado é o domingo, dia do
Senhor; o segundo é a secunda feria, à que os profanos chamam diem Lunae; a tertia feria, diem illi Martis; a quarta feria é o que os pagãos chamam de dia de Mercúrio e o pior é que muitos cristãos
também... Não admitamos isto! Oxalá se corrijam e abandonem este modo de falar e usem a linguagem que é nossa (...) pois Cristo aboliu as superstições".
Nessa mesma linha, S. Tomás diz (Super Ev. Io. cp 20 lc 1)  que o domingo é prima feria e isso por causa da Páscoa: assim como o Gênesis começa com O dia, assim também a Páscoa em que principia o mistério da nova criatura e se renova a face da terra é O DIA, A FERIA. A Páscoa é
o dia da Ressurreição no qual inchoabitur dies aeternitatis, "começa o dia da eternidade, no qual já não se alternam dia e noite, pois o Sol que faz esse dia, já não morre"
Feliz Páscoa e até segunda feria
JL
 

"Conversão já!": S. Agostinho e "S. Expedito", 18-04-01
Amanhã (19-4) é a festa de S. Expedito.A imensa popularidade de S. Expedito entre nós (outro dia vi na minha rua uma faixa já de máxima intimidade com o Santo: "Grande, S. Expedito, te devo mais uma...), deve-se ao fato de que ninguém mais agüenta demoras e enrolação("expeditus" em latim -e em português- é o cara que vai e resolve: sem enroscos, burocracias etc.). Um taxista devoto me explicou que ele (S. Expedito) NÃO aceita novenas, nem orações longas e, se alguém que obteve uma graça com promessa, deixar para "pagar" a promessa no dia seguinte, ele - o Santo - reverte a
graça... ("se ele te arrumou R$ 5000 eo senhor adia a vela para ele, ele te dá um prejuízo de R$ 10000...")
Folclores à parte, a imagem de S. Expedito traz em si uma profunda lição espiritual. Quem observar o "santinho", reparará que o Santo segura uma cruz na qual está escrito HODIE (em latim: hoje) e esmaga com o pé um corvo que diz CRAS (que em latim significa: AMANHÃ, além
de ser o onomatopéico do corvo).
Independentemente do Expedito, esse jogo de palavras com o duplo sentido de CRAS ("amanhã" e o som emitido pelo corvo, que aliás representa o diabo...) é comentado por padres da Igreja, como
Agostinho e Cesário de Arles.
Queremos nos converter, mas o diabo -em forma de corvo- não nos diz: NÃO; sugere-nos: CRAS, amanhã, até que o esmaguemos e digamos HODIE, "É HOJE!".
Agostinho (En. in Ps. 102, 16) comenta: "Irmão, não fiques adiando tua conversão. Há aqueles que ficam protelando e cumpre-se neles a voz do corvo: "cras, cras". (...) Até quando ficarás no cras, cras...? Atente para teu último cras. Não sabes quando será teu último cras".
E em outro sermão (224, 4) : "Os pecadores devem corrigir-se enquanto vivem. A morte vem de repente e ninguém poderá converter-se. Quando será nossa última hora, não o sabemos. Quem fica dizendo "cras, cras", torna-se corvo: vai e não volta [como o de Noé], nunca se converte (224,4)
Que vocês (e principalmente S. Expedito) me perdoem a msg longa...
jl
 

Agostinho e os 153 peixes - 6af. de Páscoa,  19-04-01
Na história da Igreja, há coisas que ficam e coisas que passam. É comovente reparar no fato de que em tempos de S. Agostinho o evangelho da missa da 6a. f. da oitava da Páscoa é exatamente o mesmo (Jo 21) que será lido para nós na missa de amanhã (uma continuidade de 1600 anos...).
É interessante reparar também que as preocupações exegéticas mudaram: para a mentalidade alegorista da época era importante explicar o porquê dos exatos 153 peixes, milagrosamente pescados... Todos os anos Agostinho repetia a explicação dos 153 (naturalmente, hoje, tanto as
respostas como o "problema" nos fariam sorrir porque nos parecem "forçados"...).
Seus sermões eram tão incisivos que, numa sexta-feira da oitava de Páscoa, ao iniciar a curiosa exegese aritmética sobre o número daqueles peixes, 153, transcorrido um ano transcorrido desde a última explicação, alguns dos ouvintes ainda se lembram e antecipam-se a Agostinho e começam a gritar: "Vai somando de um em um, do 1 até o 17!". E ele tem de humildemente pedir-lhes silêncio: "A explicação do fato de serem 153 peixes é a que costumo fazer-vos e muitos tomam-me a
dianteira; no entanto, eu vou repeti-la solenemente. Muitos esqueceram; e alguns nem a conhecem. Já aos que não esqueceram, peço paciência e consideração para com os que esqueceram ou ignoram. Quando dois andam por um caminho e um é mais rápido e outro mais lento, está em poder do mais veloz que não deixem de caminhar juntos (Sermão 250,3).
Por que 153? Transcrevo resumidamente uma das interpretações alegóricas de Agostinho (Sermão 252 A):
"Este número tem sua origem no 17. Quem somar todos os números de 1 a 17 obterá 153. Comecemos com o 1, somemos 2 e já dá 3. Somamos o 3 e dá 6. Com 4, 10. E, assim, até o 17, obteremos 153. Falta agora explicar o significado desse 17. Decifrando o mistério deste número menor - 17 - aparecerá claramente o do número maior: 153! 17 é a raíz, 153 é a árvore. Qual é, então, o significado do 17? O 10 simboliza a Lei [(...) os 10 mandamentos... e ninguém pode cumprir a lei sem a misericórdia etc. etc.] Mas de onde procede a misericórdia? Do Espírito Santo, que é indicado nas Escrituras pelo número 7 [os 7 dons indicados por Isaías etc.]. Assim, somando o Espírito temos o 17 (...) ajuntamos a misericórdia à lei. Etc.".
[]
jl
 

Mês de maio - As mayas, 05-05-01
Nós aqui no Brasil não levamos as estações muito a sério (só por um esforço consciente diríamos que estamos no outono e não no verão, p. ex.). Já na Europa, o mês de maio é nitidamente o esplendor da primavera (flores, cores, perfume etc.) e, desde há muitos séculos é
o mês de Maria.
É costume muito antigo, por ex., compor as Mayas, poesias de maio, saudando a Maria.
Já entre os primeiros documentos da língua portuguesa (do galaico-português - no séc. XIII - encontramos as Mayas do rei D. Alfonso o Sábio, entre suas Cantigas de S. Maria (com profunda emoção tive o privilégio no Escorial de passar um dia com um dos dois únicos exemplares que restam no mundo dos originais dessas Cantigas):
Bem vennas, Mayo, et con alegria; (Bem vennas= "Bem-venhas")
poren roguemos a Santa Maria (poren= por isso)
que a seu Fillo rogue todavía (todavia=intensamente)
que él nos guarde d'err e de folia  (do erro e da loucura)

E assim prosseguem as mayas, pedindo ingenuamente a N. Senhora favores materiais e espirituais:
Bem vennas, Mayo, con toda saúde / virtude ,con muitas riquezas / nos livre das tristezas
(e até: Bem vennas, Mayo, com vacas e touros e que possamos expulsar os mouros)
Folclores à parte, o mês de maio é ocasião especial de irromper em canto a Nossa Senhora, pedindo-lhe também a alegria:
Bem venhas Mayo, con bons maniares
e nos roguemos em nossos cantares
a Santa Virgen ant' os seus altares
que nos defenda de grandes pesares
[]
jean
 
 

Um poeta genial - Dia das Mães, 12-05-01
Do interior de Minas,o poeta sertanejo Gilberto Gaspar ("Juquinha") nos brinda uma poesia simples e forte que -a meu ver- realiza maravilhosamente a concepção de arte de Tomás de Aquino (na USP, o ele é meu "laboratório": http://www.hottopos.com.br/videtur11/intro.htm).
Com tanta abobrinha no "dia das mães", quero partilhar com vocês, "Cadê meu doce" (mais poesias dele -"Sôdade" p. ex. é imperdível- em: http://www.hottopos.com.br/videtur11/opoeta.htm )
[]
jl

Cadê meu doce

Mamãe, cadê meu doce,
Meu terno de marinheiro,
O meu traje domingueiro,
Minha botina de amarrar?

Mamãe, cadê a Néia,
Que escondeu meu canivete,
Onde está o meu casquete?
Eu não acho o meu pião!

Mamãe, cadê as crianças?
Não viram minha fieira?
Terminou a brincadeira,
Vou fazer minha lição.

Mamãe, cadê seus cuidados?
Mamãe, cadê seu menino,
Debaixo do pente fino,
Ouvindo o seu coração?

Mamãe, cadê o meu galo,
Que cantava todo dia?
Onde está minha alegria?
Não ouvi mais a canção!

Mamãe, eu quero meu doce.
Eu já cheguei da escola,
Vem lavar minha sacola
Que eu deixei cair no chão.

Mamãe, cadê o papai,
Que o tempo levou embora?
Mamãe, cadê a senhora?
Ainda sou o seu menino,
Vem cuidar do meu destino
Eu preciso de vocês
---------------------------------
- Nota para o pessoal mais urbano: Os versos: " Mamãe, cadê seu menino / Debaixo do pente fino / Ouvindo o seu coração?" referem-se à (dolorida) ação materna de tirar piolho com pente fino, apertando o filho contra si...
 

O Evangelho em Aramaico - Visitação, 31-5-01
Hoje, 31-5, dia da Visitação (e do Magnificat), cabe a seguinte reflexão:
Freqüentemente na Bíblia vale o "Nomen, omen", dos romanos, "o nome indica um destino ou uma missão". Claro que nós não acreditamos nisto (por que um nome, convencional, teria que ver com o que a pessoa é?), mas, seja como for, a Bíblia estã cheia de passagens em que Deus faz questão do nome ("E por-lhe-ás o nome de Jesus porque..." "E por-lhe-ás o nome João" etc. etc.).
Nesse sentido, um dos estudos bíblicos mais interessantes é o da (re-)tradução do Ev. de Lucas para o aramaico (e funciona perfeitamente em árabe ou hebraico também).
Nessas línguas, a  parte inicial, da infância de Jesus (narrada a Lucas por Maryam), aparecem uma série de trocadilhos que o original grego (ou: na versão grega!! talvez o original seja aramaico e, claro, Maria, narrou a Lucas em aramaico) passa batido.
Assim, em qualquer dessas línguas semitas: Zakarias (dhakhara) significa "lembrar"; Isabel, "Deus jurou" e João é a ternura, a misericórdia de Deus.
O Benedictus (o cântico de Zacarias) como o Magnificat, têm -no original aramaico- encantadores jogos de palavras envolvendo os nomes dos protagonistas: Bendito seja Deus porque pela misericórida (João) lembrou (Zacarias) do juramento de Deus (Isabel).
Lucas deve ter dado boas risadas com o engenho e a graça de Maria ao contar a infância de Jesus. Soa como um verso tipo: "Sou caipira Pirapora Nossa Sra. de Aparecida, ilumina a mina escura etc." Ou: "Pedro pedreiro penseiro esperando trem" - claro que em outra língua não tem graça: em espanhol, p. ex.,ficaria "Pedro, el albañil viene temprano esperando por el tren..."
Um forte []
jean lauand
P.S.: Vale uma 2a. edição: Outro dia em aula, saiu a seguinte (ainda melhor do que a do Pedro pedreiro): "Deve sê legal sê negão no Senegal"...

Rahama, misericórdia de Deus em coração maternal , 16-6-01
A Igreja celebrará dentro de poucos dias as festas dos corações de
Jesus e de Maria; o coração de Jesus, no qual, como se diz na oração
Colecta "Deus quis depositar infinitos tesouros de misericórdia".
A misericórdia na Bíblia é descrita por diversos termos: *hesed*, que
indica uma atitude de bondade e que, quando se estabelece entre duas
pessoas, passa a significar também compromisso de fidelidade: tal como
na Aliança de Deus com Israel. É a fidelidade de Deus a si próprio
(mesmo ante a infidelidade de Israel): *hesed we'emet* é uma ligação
de 2 termos coordenados: "fidelidade e verdade" (fidelidade é verdade)
"Eu faço isto, não por causa de vós, ó casa de Israel, mas pela honra
do meu santo nome" (Ez 36,22). Esse tipo de misericórdia é uma
característica mais masculina.
A Bíblia fala também de *hamal*, originariamente a misericórdia de
"poupar a vida (do inimigo derrotado)", mas que também significa em
geral "manifestar piedade e compaixão" e, por conseguinte, perdão e
remissão da culpa. Já o termo *hus*  exprime igualmente piedade e
compaixão, mas isso sobretudo em sentido afectivo. É oportuno ainda
lembrar o já citado vocábulo *'emet* , que significa: em primeiro
lugar "solidez, segurança" (no grego dos Setenta, "verdade"); e
depois, também "fidelidade"; e desta maneira parece relacionar-se com
o conteúdo semântico próprio do termo *hesed*.
Mas em Deus há também a misericórdia *rahamim*, que já pela própria
raiz, denota o amor da mãe (rehem= seio materno). Do vínculo mais
profundo e originário, ou melhor, da unidade que liga a mãe ao filho,
brota uma particular relação com ele, um amor particular. Deste amor
se pode dizer que é totalmente gratuito, não fruto de merecimento, e
que, sob este aspecto, constitui uma necessidade interior: é uma
exigência do coração. É uma variante como que "feminina" da fidelidade
masculina para consigo próprio, expressa pelo *hesed* . Sobre este
fundo psicológico, *rahamim* dá origem a uma gama de sentimentos,
entre os quais a bondade e a ternura, a paciência e a compreensão, ou
, em outras palavras, a prontidão para perdoar. O Antigo Testamento
atribui ao Senhor estas características quando, ao falar d'Ele, usa o
termo *rahamim*. Lemos em Isaías: "Pode porventura a mulher
esquecer-se do seu filho e não ter carinho para com o fruto das suas
entranhas? Pois ainda que a mulher se esquecesse do próprio filho, eu
jarnais me esqueceria de ti" (Is 49,15). Este amor, fiel e invencível
graças à força misteriosa, da maternidade, é expresso nos textos do
Antigo Testamento de várias maneiras: como salvação dos perigos,
especialmente dos inimigos, como perdão dos pecados e, finalmente,
prontidão em satisfazer a promessa e a esperança (escatológicas), não
obstante a infidelidade humana, conforme lemos em Oséias: "Eu os
curarei das suas infidelidades, amá-los-ei de todo o coração" (Os
14,5).

Daí que a encíclica "Dives in Misericordia" (da qual copiei as
discussões semânticas acima - nota 52), conclua falando do amor e da
misericórida incondicionalmente maternais do coração de Maria:

DM V,9  -  Precisamente deste amor "misericordioso", que se manifesta
sobretudo em contacto com o mal moral e físico, participava de modo
singular e excepcional o coração daquela que foi a Mãe do Crucificado
e do Ressuscitado. Nela e por meio dela o mesmo amor não cessa de
revelar-se na história da Igreja e da humanidade. Esta revelação é
particularmente frutuosa, porque se funda, tratando-se da Mãe de Deus,
no singular tacto do seu coração materno, na sua sensibilidade
particular, na sua especial capacidade para atingir todos aqueles que
aceitam mais facilmente o amor misericordioso da parte de uma mãe.
Cordialmente,
jean lauand
 

Perdão - uma jóia litúrgica (26o. domingo do TC), 25-9-00
Apesar de tudo, no Ocidente, os valores cristãos marcam toda a cultura. O ateu José Saramago diz em seu diário: "Há uma evidência que não deve ser esquecida: no que respeita à mentalidade, sou um cristão".
Esses valores foram impregnando a vida não só por conta do ensino formal, mas também pela liturgia. Apesar de todas as mudanças, a liturgia conserva intactos alguns tesouros milenares.
Um deles é a Oratio que será lida na missa do XXVI domingo do tempo comum e que tem uma extraordinária importância.
Essa oração diz que a máxima manifestação da onipotência de Deus é... (sempre que pergunto em aula, ou mesmo a amigos católicos, qual é -para a Igreja - a máxima manifestação da onipotência divina, ninguém nunca acerta a resposta).
E é que - é o que diz aquela maravilhosa oração - a maior manifestação da onipotência divina é...:
Perdoar!!: "Deus qui omnipotentiam tuam parcendo maxime manifestas..." "Ó Deus, que manifestas tua onipotência principalmente pelo perdão...")
Mas não se trata somente de uma bela e piedosa consideração.  Numa conferência que proferi em diversas universidades da Península Ibérica  - Porto, Madrid, Barcelona etc. - e cujo texto está
em: http://www.hottopos.com/notand1/antropologia_e_formas_quotidiana.htm
- procuro mostrar como o cristianismo penetrou na vida ocidental: concretamente como o pensamento de Tomás de Aquino -contemporâneo da formação das línguas nacionais - entrou (ou pelo menos é visível) na linguagem e nas formas de convivência quotidianas (de gratidão,
felicitação, condolencias etc.): quando dizemos: "Parabéns" ou "Obrigado" ou "enhorabuena" ou "thank you" ou "congratulations" ou "merci" ou "my dear friend" etc. estamos usando fórmulas cristãs.
A parte final dessa conferência é precisamente: "Perdão", da qual recolho o trecho em que Tomás se vale da oratio do próximo domingo:

"Perdonare" é uma forma tardia que não se encontra em Tomás. A palavra correspondente e usual, por ele empregada, é parcere. No entanto, encontramos em S. Tomás as razões filosóficas que justificam a grandiosa etimologia das formas modernas: "perdoar", "perdão", "perdonar",
"pardon", "pardonner" etc.
O prefixo "per" acumula os sentidos de "por" ("através de") e de plenitude, grau máximo: como em perlavar (lavar completamente) perfulgente (brilhantíssimo), per-feito, per-manganato etc. E, assim, o perdão aparece como o superlativo da doação. O mesmo se dá com as formas inglesa e alemã: for-give, vor-geben.
Como o Aquinate pensa o tema do perdão e como o relaciona com o máximo da doação? Há aí influências litúrgicas. Na liturgia, Tomás impressiona-se com a oração, por ele freqüentemente citada(19), da missa do X domingo depois de Pentecostes (e, ainda hoje, preservada no XXVI domingo do tempo comum), que diz: "Deus qui omnipotentiam tuam parcendo maxime
manifestas" ("Deus, que manifestais vossa onipotência, principalmente perdoando..."). E afirma que o perdão de Deus é poder superior ao de criar os céus e a terra (II-II, 113, 9, sc). (...)
Perdoem a mensagem longa...
JL

Natal 99 - Glória a Deus nas alturas...?, 7-12-99
(baseado em Ed. Delebecque).
O cântico dos anjos, que sempre se recorda no Natal (Lc 2,14), tem, talvez, um significado mais profundo do que o da tradução tradicional: "Glória a Deus nas alturas e na terra paz aos homens de boa vontade".
A Nova Vulgata, mais próxima do texto grego ("Doxa en ypsistois Theo kai epi ges eirenen en anthropois eudokias"), diz: "Gloria in altissimis Deo et super terram pax in hominibus bonae voluntatis".
Adiantemos, desde já o sentido que parece ser o do texto grego: "A glória de Deus nas alturas (está) também sobre a terra; a união (com Deus) nos homens de Sua Escolha".
O uso do copulativo "e", em grego "kai", frequentemente nos evangelhos é -entre muitos outros aramaísmos- um calque semântico do "wa" semítico, que pode significar: "também", "portanto", "então" etc. (é frequente encontrarmos nos Evangelhos um grego aramaicizado, como quando dizem a Jesus na cruz: "és o filho de Deus E desce da cruz" Mt 27, 40).
Em nosso Lc 2, 14, o KAI grego não liga céus e terra, não é uma conjunção coordenativa de duas orações; não é para ser lido: "No céu isso e na terra aquilo"... É um "kai" advérbio, que significa: "também": "A gloria dos céus (está) também na terra..."
Outro claro semitismo é o do uso da palavra "paz" (eirene). O sentido primário da palavra "shalom" (pensada no aramaico, língua materna de Lucas) não é o de paz, mas o de união, integração, remoção de barreiras.
Aliás, não se entende a "paz" -em diversos textos bíblicos- senão nesse sentido de "união". É o caso p. ex. de: "Cristo, nossa paz, que de dois fez um, derrubando o muro de separação" (Ef 2,14). Se para um ocidental, esta sentença é enigmática, para um semita ela é clara:
Cristo, "nossa paz", quer dizer "nosso integrador". Esta "paz", portanto, é a união e -tal como em Ef 2- união de Deus aos homens: quebra do muro: Deus irrompe na história dos homens: Deus se faz homem e o homem se "shalomiza" com Deus. Isto porque, pela Encarnação do Verbo, os homens podem participar da vida divina de Jesus (Hb 3, 14; II Pe 1, 4): O Filho de Deus se fez homem, para que o homem pudesse vir a ser filho de Deus.
Observemos, ainda, que a frase grega não tem nenhum verbo e nenhum artigo. Se vamos restituir os verbos ocultos não há nada que exija o imperativo (tipo: "Seja dada a Deus gloria nos céus etc...), mas – e este fato é super-importante- cabe perfeitamente o indicativo, a descrição de uma situação de FATO...
Finalmente, a eudokia (a "boa vontade"). A eudokia não é de modo algum uma atividade dos homens, eles são antes seus beneficiários. Eudokia, do verbo eudokein, aplicado a Deus significa escolher, adotar, eleger. A eudokia de Deus é soberanamente boa, por ser Deus quem a faz: é uma
adoção, uma opção, a Seu "bel-prazer", gratuita , de Graça; não no sentido de capricho, mas toda feita de amor e bondade (no Batismo de Jesus -Lc 3,22-, Deus diz -"en sou eudokesa"- que nEle recaiu a escolha).
Resumindo: o canto dos anjos soa assim:
"A glória de Deus nas alturas está também sobre a terra; a paz (a união com Deus) nos homens da (Sua) Escolha".
Esta escolha é em certa medida dos homens (no sentido de que a podem recusar): a melhor preparação para o Natal, para esta conexão em Deus que vem a nós, oferecendo-nos a participação na sua vida, é a disposição de identificar-nos com Cristo: aquele "Cristo vive em mim" (Gal 2, 20).
O cântico angélico adquire pleno sentido na noite de Natal, a grande linha divisória na história dos homens: a glória que Deus possui no Céu, agora, está também sobre a terra: no menino Jesus. E por Ele aos que O acolhem.
Os pastores não entenderam o conteúdo dessas palavras, obscuras mesmo em
aramaico. Compreenderam melhor ao ver o Menino no presépio. Lucas registra-as no evangelho para  que nós as compreendamos: mas isto é tarefa de cada um...
 

Mundo e Política - Cristianismo e Islam, 5-8-01 (18o. DTC)
O cap. 3 da conferência "Ciência e Weltanschauung - a Álgebra como Ciência Árabe": http://www.hottopos.com.br/notand5/algeb.htm
está dedicado a resgatar e discutir uma importantíssima (porém esquecida) passagem evangélica, que nos é recordada pela liturgia da missa deste domingo. Ao mesmo tempo que o cristão está chamado a transformar o mundo e suas estruturas, só pode fazê-lo respeitando a legítima autonomia da realidade temporal.
Trata-se daquele episódio evangélico aparentemente intranscendente: "um da multidão" aproxima-se de Cristo e faz um pedido: que Jesus use Sua autoridade para convencer seu irmão a repartir com ele a herança (Lc 12, 13). Para surpresa daquele homem (e contrariando a mentalidade antiga e a oriental, que uniam o poder religioso a questões temporais...), Cristo recusa-se terminantemente a intervir nessa questão: "Homem, quem me estabeleceu juiz ou árbitro de vossa partilha?" (Lc 12, 14). O máximo a que Cristo chega é a uma condenação genérica da cobiça, contando a esses irmãos a parábola do homem rico cujos campos haviam produzido abundante fruto e com o célebre convite à contemplação dos lírios: "Olhai os lírios do campo...".
Por coincidência, o mesmo problema da herança é contemplado pelo Alcorão: sob uma perspectiva totalmente diferente: sob a legislação direta e concreta de Allah.
E essa passagem esquecida do evangelho de Lucas esclarece como deve ser um dos mais decisivos compromissos do cristão de hoje.

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Mensajes en Español
Navidad 2000, Dios que juega - En Mont Serrat
Poesía brasileña - Adelia Prado, 25-12-99
Navidad: Gloria a Dios en el Cielo, 15-12-99
Una fábula de D. Alfonso el Sabio, 14-12-99
Cuaresma e integridad del ser, 7-3-00
Una joya de la cultura cristiana - Domingo 26 TC, 25-09-00
S. Tomás en el carnaval de Brasil, 1-03-01
Repeticiones: dhikr, rosario..., 11-06-00
Fiesta de S. Tomás de Aquino, 27-01-01
La Logse en otros países 14-12-99
Rahama: misericordia maternal, 17-06-91
Y nuestros corazones..., 17-06-91
Mundo y Política - Cristianismo e Islam (18 DTC), 5-8-01
Nuestro Partner en La Habana, 5-8-01
 
 
 

Poesía brasileña - Adelia Prado, 25-12-99

A proposito del tema "Dios en la poesía contemporánea", permitánme daros a conocer una buena noticia de Brasil: la poeta (o mejor, "poetisa") que es la mejor y la más conocida en nuestro país hoy es Adelia Prado (su provincia, la de Minas Gerais es tradicionalmente la cuna de los grandes escritores de Brasil, a la vez que es católica hasta los tuetanos).
Sus poemas son a la vez sencillos e inmensamente profundos aunque (mejor dicho: "precisamente porque") tratan del cotidiano, visto (desde su punto de vista feminino) como obra de Dios -Creador y Redentor- y eso sin nada de beaterías...
Para daros una muestra, y sin presumir de traductor para nada (ya el cura y el barbero han echado al fuego las traducciones de poesía) pongo en (mal) castellano un par de versos de Adelia:

PAIXÃO
De de vez em quando Deus me tira a poesia.
Olho pedra, vejo pedra mesmo.
PASIÓN
Por veces, Dios me quita la poesía
Y entonces miro piedra y no veo sino piedra...

SOLAR
Minha mãe cozinhava exatamente:
Arroz, feijão-roxinho, molho de batatinhas
Mas cantava.
SOLAR [acumula los sentidos de casa de hidalgo y de perteneciente al sol]
Mi madre cocinaba exactamente
Arroz, garbanzos y patatas [o sea la rutina de la comida de todos los días]
Pero cantaba

DUAS HORAS DA TARDE NO BRASIL
(...)
Frigoríficos são horríveis
mas devo poetizá-los
para que nada escape à redenção
Frigorífico do Jibóia
Carne fresca
Preço jóia.

A LAS CUATRO DE LA TARDE EN BRASIL
Las carnicerías me causan horror
Pero debo poetizarlas
Para que nada se pueda sustraer a la redención
"Carnicería 'El ternero'
Carne fresca
Por poco dinero"
---
Para quien se anime a leer el portugués:
http://www.hottopos.com.br/videtur9/renlaoan.htm
(una entrevista con Adelia en el punto 3)
http://www.hottopos.com.br/videtur11/aprado.htm
(un estudio sobre sus últimos libros)

Navidad: Gloria a Dios en el Cielo, 15-12-99
He escrito un -nada original- pequeño estudio de Navidad. Me gustaría compartirlo con vosotros...

LA GLORIA DE DIOS EN LAS ALTURAS... - Navidad-1999
Jean Lauand (basado en el exégeta Ed. Delebecque).

El cántico de los ángeles, que siempre se recuerda en Navidad (Lc 2,14), tiene, quizá, un significado más profundo que aquel que aprendemos de niños: «Gloria a Dios en el Cielo, y en la tierra paz a los hombres de buena voluntad». La Neovulgata, se acerca más al texto griego ("Doxa en ypsistois Theo kai epi ges eirene en anthropois eudokias"), y dice:
«Gloria in altissimis Deo et super terram pax in hominibus bonae voluntatis».
Pues el sentido del texto griego parece ser: "La gloria (que se da a )Dios en las alturas (está) también sobre la tierra; la  unión (con Dios) en los hombres de la Elección".
El empleo del conectivo 'y' (en griego "kai"), está a menudo en los  evangelios -entre otros muchos aramaísmos- calcado semánticamente del "wa" semítico, que puede significar 'también', 'por tanto',  'luego', etc. (es frecuente encontrarse en los evangelios un griego  aramaizante, como cuando se dice a Jesús en la cruz: «Eres el hijo de Dios Y baja de lacruz». Mt 27, 40).
En Lc 2, 14, elKAI griego no conecta cielos y tierra, no es una  conjunción que coordine dos oraciones. No se debe leer: "En el cielo  tal y en la tierra tal otro". Es un "kai" adverbio, que significa  'también': la gloria de los cielos también en la tierra...
Otro evidente semitismo es el empleo de la palabra 'paz' ("eirene"). El sentido primario de "Shalom" no es paz, sino 'unión', 'integración'...
Ni  siquiera cabe la traducción 'paz' en diversos textos bíblicos, como es  el caso, p. ej., de «Cristo, nuestra paz, que de dos hizo uno, derribando  el muro de separación" (Ef2, 14). Si para un occidental esta  sentencia es enigmática, para un semita es clara: Cristo, nuestra paz, es decir, 'nuestro integrador'. Esta 'paz', por tanto, es la unión,  y -tal como en Ef2- unión de Dios y los hombres: derribar el muro.
Dios irrumpe en la historia de los hombres: Dios se hace hombre y el hombre se "shalomiza" con Dios. Esto porque, por la Encarnación del Verbo, los hombres pueden participar en Cristo (Hb 3, 14) de la vida divina: «...vive en mí Cristo» (Gal 2, 20).
Fijémonos en que la frase griega no tiene verbo ni artículo. Si vamos a restituir los verbos ocultos, no hace falta para nada el imperativo ('Sea dada a Dios gloria en los cielos...'), sino -y esto es muy importante- que cabe perfectamente el indicativo, la descripción de una situación de HECHO...
Finalmente, la "eudokia" (la 'buena voluntad'). La "eudokia" no es algo de los hombres; ellos son más bien sus destinatarios. "Eudokia", del verbo "eudokein", aplicado a Dios significa 'elegir', 'adoptar'.
La "eudokia" de Dios es soberanamente buena, por ser Dios quien la hace: es una adopción, una opción gratuita (de Gracia), no en el sentido de capricho, sino en el de amor y bondad (en el Bautismo de Jesús, Lc 3, 22,  Dios dice "en soi eudokesa": en Ti recayó mi elección, mi complacencia).
Total, que el cántico de los ángeles suena: 'La gloria de Dios en las alturas está también sobre la tierra; la  unión (con Dios) en los hombres de la Elección'. Esta elección es en alguna medida de los hombres (que la pueden rechazar). La mejor preparación para Navidad es esta conexión con Dios -que viene a nosotros, ofreciéndonos la participación en su vida-, es la  disposición a identificarnos con Cristo: el Hijo de Dios se hizo  hombre, para que el hombre pudiera hacerse hijo de Dios...
El cántico de los ángeles cobra plenitud de sentido en la noche de Navidad: la gloria que Dios posee en el Cielo está ahora también sobre la tierra. Los pastores no comprendieron el significado de esas palabras, oscuras aun en arameo. Las comprendieron mejor al ver al Niño en el pesebre. Lucas las pone en el Evangelio para que nosotros las comprendamos, pero esto es tarea que toca personalmente a cada uno...

Una fábula de D. Alfonso el Sabio, 14-12-99
F. ha enviado a la lista el siguiente mensaje:
Cuentan -me imagino que no será cierto, pero el ejemplo nos vale-  que ciertas tribus africanas emplean un sistema verdaderamente ingenioso para cazar monos. Consiste en atar bien fuerte a un árbol una bolsa de piel llena de arroz, que, según parece, es la comida favorita de determinados monos. En la bolsa hacen un agujero pequeño, de tamaño tal que pase muy justa la mano del primate. El pobre animal sube al árbol, mete la mano en la bolsa y la llena de la codiciada comida. La sorpresa viene cuando ve que no puede sacar la mano, estando como está abultada por el grueso puñado de arroz. Es entonces cuando aprovechan los nativos para apresarlo porque, asombrosamente, el pobre macaco grita, salta, se retuerce... pero no se le ocurre abrir la mano y soltar el botín, con lo que quedada inmediatamente a salvo. Creo que, salvando las distancias con este pintoresco ejemplo, a los hombres nos puede pasar algo parecido. Quizá estamos a veces aprisionados por cosas que valen muy poco, y ni se nos pasa por la cabeza abandonarlas para poder ponernos a salvo, porque nos falta dominio propio y estamos -igual que ese pobre mono- como cegados, impedidos para razonar.

Queridos F. y todos,
Antes de todo, muchas gracias por la bellísima parábola que has enviado. Lo que no sabes es que -tras casi 50 años- me has dado la alegría de saber lo que significa realmente uno de los dichos más populares en Brasil: "Macaco velho não mete a mão em cumbuca"
"Mono viejo no mete la mano en 'cumbuca' (la cáscara de un fructo que hace las veces de la bolsa en tu relato)"
La expresión "macaco velho" sigue significando hoy (aunque muchos de los más jóvenes quizá ya no conozcan el dicho completo - lamentablemente los proverbios van desapareciendo...): la persona experimentada, que no se deja engañar, que ya sabe todo, en el sentido que "está de vuelta", que "tiene los colmillos retorcidos".
Una parábola algo semejante a la africana está en el clásico árabe, traducido en el siglo XIII bajo Alfonso el Sabio, "El Libro de Calila e Digna":
Del ximio con las lentejas
Dijo Beled: - Dicen que un home traía lentejas en un zurrón, e entró en una espesura de árboles, e puso el zurrón en tierra, e dormióse, e decendió un ximio de un árbol e tomó de las lentejas su puño lleno.
Desí subióse en el árbol para comerlas, e cayósele una, e descendió del árbol para buscarla, e trabándose a las ramas del árbol para decender, abrió la mano e derramáronsele todas las otras que tenía, e non ovo la primera nin  las otras. Et, tú, señor, has diez e seis mil mujeres e dejas de solazarte con ellas e buscas la que nunca fallarás.

Cuaresma e Integridad del ser 7-3-00
En este tiempo de Cuaresma es oportuno recordar que el fundamento de la ética es para el pensamiento cristiano: el mismo ser del hombre. No por casualidad Juan Pablo II resumió la ética en aquella sentencia de Píndaro: "¡Tórnate lo que eres!". El pecado aparece así (además) como una agresión al ser de uno mismo.
Esa misma convicción esencial, la afirmación de que la moral tiene sus raíces en el ser -y, más aún, con él se confunde- es de extensión universal. Es, por ejemplo, el sentido profundo del to be or not to be shakesperiano (that is the question...)
Es muy bello el tratamiento de la penitencia en la Divina Comedia (Purg. XXIII, 31-33): al tratar de la recomposición del ser, desfigurado por el pecado, encontramos el enigmático terceto:

 "Sus ojos parecían anillos sin gemas
Y quien lee en el rostro 'hombre'
Bien podría reconocer la M"
¿Qué significa esta misteriosa M? (emme que rima con gemme). El sentido de los versos es que la acción injusta atenta contra el mismo ser de quien la comete, le desemeja, le roba el to be, el rostro humano - poéticamente figurado, en concretismo, en la palabra "OmO" (omo, en la lengua de Dante, significa hombre).
También para Confucio -y aún mismo para las lenguas del Extremo Oriente- la moral es el ser-hombre (ren, en chino / jin, en japonés), y el hombre inmoral (fei-ren / hi-nin - la grafía japonesa es idéntica a la china) es el "no-hombre", como de modo gráfico indica el ideograma de la negación (y de la falsedad, de la desestabilización desde dentro, de la desagregación), antepuesto al ideograma ren: hombre. (se puede ver el sugerente ideograma chino en el N. 1 de: http://www.hottopos.com.br/videtur10/luizjean.htm)
Esa misma idea fundamental se encuentra en la sabiduría de la lengua inglesa: cuando llama a la expiación "atonement", cuya etimología es clara: at-one-ment, rescatar la unidad del ser destrozada por el pecado.
Un fuerte abrazo
Jean

Una joya de la cultura cristiana - Domingo 26 del TC, 25-09-00
A pesar de todo, en Occidente, los valores cristianos afectan a toda la cultura. El ateo José Saramago dice en su diario: "Hay una evidencia que no se debe olvidar: en lo que toca a la mentalidad soy cristiano".
Esos valores han ido impregnando la vida no solamente por la filosofía o por obras de pensamiento, sino que también por la liturgia. A pesar de todos los cambios, la liturgia conserva intactos algunos tesoros milenarios.Uno de ellos es la Oratio que se leerá en la misa del XXVI domingo del tiempo comun y que tiene extraordinaria importancia.
En ella se dice que la más grande manifestación de la omnipotencia divina es... (cuando les pregunto a amigos cristianos o a docenas de estudiantes en clase, cual es -según la Iglesia - la más grande manifestación de la omnipotencia divina, nadie da la respuesta correcta).
Y es que -así lo dice esa estupenda oratio- la más grande manifestación de la omnipotencia divina es...: perdonar!!:
"Deus qui omnipotentiam tuam parcendo maxime manifestas..."
"Oh Dios que manifiestas tu omnipotencia sobre todo por el perdón...")
Pero no se trata solamente de una bella y piadosa consideración. En una conferencia que he pronunciado en diversas universidades de la Peninsula -Oporto, UAM, UAB etc.y cuyo texto se encuentra en: http://www.hottopos.com.br/notand4/filotoma.htm
- he intentado demostrar comoha penetrado en la vida de Occidente el cristianismo: concretamente el pensamiento de Tomás de Aquino -contemporáneo de la formación de las lenguas nacionales- ha entrado (o por lo menos es visible) en el lenguaje y en las formas de convivencia quotidianas (de gratitud, felicitación, condolencias etc.): cuando decimos "enhorabuena" o "thank you" o "obrigado" o "my dear friend" o "merci" etc. estamos hablando en cristiano.
El apartado final de esa conferencia es precisamente "Perdón", de lo cuál recojo el trecho en que Tomás se sirve de la oratio del próximo domingo:

"Perdón"
"Perdonar" (perdonare) es una forma de expresión tardía en latin que no se encuentra en Santo Tomás. La palabra correspondiente y usada por él es "parcere". Sin embargo encontramos en Santo Tomás los argumentos filosóficos que justifican la etimología de las modernas expresiones de "perdonar", "pardon", "pardonner", "perdão" etc.
El prefijo "per" encierra los sentidos de "por" (a través de) yde plenitud, de grado máximo". En composición con adjetivos y adverbios y tal vez con verbos les confiere la fuerza de superlativo o encarece la idea que encierra la palabra simple. Como en el caso de las expresiones "perdurar" (durar por mucho tiempo), "perorar" (orar, hablar con mucho énfasis), "permanganato" (sal del ácido en el que el magnesio interviene con su mayor valencia de siete), etc.
Y así el perdón aparece como un acto de donación superlativa. Lo mismo ocurre con las formas inglesa y alemana: for-give, vor-geben. Cómo piensa el Aquinate el tema del perdón y como lorelaciona con la máxima donación? En la liturgia Tomás queda impresionado con la oración a menudo por él mencionada, y que forma parte de la plegaria de la misa del X domingo después de Pentecostés (actual XXVI domingo del tiempo común), que dice:"Deus qui omnipotentiam tuam parcendo maxime manifestas" "Oh Dios que manifiestas tu omnipotencia sobre todo por el perdón..."), y prosigue "el perdón de Dios configura un poder superior al hecho de crear los cielos y la tierra" (II-II,113,9,sc.). (...)
Perdonad el mail largo...
Jean Lauand
 

S. Tomás en el carnaval de Brasil, 1-03-01
No todo ha sido juerga en el Carnaval de Brasil (ha habido también
teología, y de la buena!).
El Carnaval de São Paulo a cada año crece y se acerca del de Río en arte y belleza (y también en las disfunciones...!). Una de las principales "escolas de samba" de Sao Paulo, la "Gaviões da Fiel" (una facción de hinchas "de elite", gavilanes, del equipo de fútbol de Corintians - la "fiel" es la hinchada de ese equipo que permaneció fiel a lo largo de los 23 años en que Corintians no ha sido campeón) ha compuesto este año un "samba enredo" (el samba -compuesto por gente sencilla del pueblo- que marca el compás del desfile (foto) de los miles de integrantes de la escuela) estupendo (lástima que uno de los coches alegóricos se eestropéo y han quedado en tercer lugar...), bellísimoy de alta densidad teológica: Mitos y magia en la triunfante Odisea de la Creación; lo podéis oir en:   Mitos e Magias na Triunfante Odisséia da Criação
A pesar de aludir a Hesíodo, la poesía presenta, de hecho, concepciones profundamente cristianas:
- La creación como obra del Pensamiento de Dios, del Logos; pensamiento que es luz (capítulo I de Juan); pensamiento que crea, jugando (Prov. 8, 30-31): es Santo Tomás puro, cfr. p. ej.:
http://www.hottopos.com.br/rih1/ludico.htm
- Pero la creación es además obra del Espiritu Santo, el Amor creador, "esculturador" de Dios,
("Veni Creator Spiritus ... Digitus Paternae dexterae", canta la Iglesia), un amor a lo cual el hombre está llamado a continuar y a colaborar con elamor humano, cfr. p. ej. el final del ensayo de
Pieper: http://www.hottopos.com.br/notand4/crer.htm
El samba trata también del drama de la redención y de la reconciliación (cambiando, "naturalmente" la paloma por el gavilán) etc.
Un fuerte abrazo
Jean Lauand

"Mitos e Magias na Triunfante Odisséia da Criação"
José Rifai - Alemão do Cavaco - Ernesto Teixeira

Iluminando a Imensidão / Iluminando el Infinito
Com perfume da magia e sedução / Con perfume de magia y seducción
O pensamento divaga no infinito/ El pensamiento divaga en el infinito
É um sonho tão bonito/Es un sueño tan bello
Que conduz à criação/Que conduce a la Creación

E então, brilhou um céu/Y entonces, brilló un cielo
Cravejado de estrelas /Con estrellas incrustadas
Surgiu a Terra, O Sol, O Mar /Surgió la tierra, el sol, el mar
E a Lua que clareia o teu olhar/ Y la luna que da claridad a tumirada
Da Singeleza em fim/ De la Simplicidad en fin
Há de nascer um novo ser/Nació un nuevo ser
Que com o amor irá se eternizar / Que por el amor se irá eternizar

Esculturado/ "Esculturado"
Pela mão divina/ Por la mano de Dios
De barro ou de metal/ De barro o metal
Do criador é a obra prima / Del Creador es la obra maestra

Porem a humanidade desprezou/ Pero la humanidad despreció
Todo o poder do criador / Todo el poder del Creador
Que a castigou com piedade / Que la castigó con piedad
Uma nova era floresceu / Y una nueva era floreció
Brotando a felicidade / Brotando felicidad

Trago amor e esperança / Traigo amor y esperanza
Nesta odisséia triunfal / En esta Odisea triunfal
Voa Gavião, faz a festa pro povão / Vuela, gavilán,
faz a festa pro povão / Haz la fiesta para el pueblo
Arrebenta neste Carnaval / Dale, dale en este carnaval
 
 

Repeticiones: dhikr, rosario... 11-06-00
L. y todos,
Tras leer tu mensaje (y sobretodo las distintas contestaciones...) en contra del rosario, os propongo algunas consideraciones que quizá nos ayuden a comprender -por decirlo así- la antropología filosófica que subyace a ese estilo de oración.
Es un modo humano (no somos ángeles, aunque los mismos ángeles por lo visto repiten) de inducir (libremente) sentimientos y disposiciones en relación a Dios. Naturalmente, en eso como en todo se pueden dar abusos.
En todo caso, sigue vigente lo que dice Pascal -refiriendose a la oración vocal, a arrodillarse etc.- en su Pensamiento 250: hay que unir lo exterior al interior para llegar a Dios: contar sólo con el exterior es superstición, querer prescindir de él es tontería de soberbios...
La repetición no la ha inventado New Age ni la Iglesia Católica; es la base de la oración de todo el Oriente, sobretodo de la de los judíos en la Biblia. El Salmo 118, por ej. repite una y otra vez (como en una litanía): "...Porque es eterno su amor". Y -para quedarnos solamente con los Salmos- "Yo repetía mi oración"(Sl 35, 13); "Repitan sin cesar: 'Grande es Yahveh'" (Sl 40,17) etc. No estoy tan seguro como Fulano que Mt 6,7 ("Y al orar no hagáis...") se deba traducir por repeticiones": lo que se dice es "polylogía" hablar mucho (incluso se puede pensar que en las repeticiones se habla poco: la fórmula que se repite).
En todo caso: el mismo Jesucristo repite fórmulas de oración: En el capítulo 26de Mateo, él ora diciendo: "Padre mío... no la mía voluntad sino la tuya". Encuentra a los apóstoles durmiendo y vuelve a orar "repitiendo las mismas palabras" ("auton logon", Mt 26, 44).
Y en el Apocalipsis (4,8) vemos a los 4 vivientes "repitiendo sin descanso día y noche: 'Santo, Santo, Santo..."
Un saludo,
Jean Lauand
 

Fiesta de Santo Tomás de Aquino 27-01-01
En este año la fiesta de S. Tomás de Aquino (28 de enero) cae en un domingo y no será celebrada liturgicamente. Precisamente por eso, cabe recordarlo y me atrevo a indicar un pequeño texto en que se enlazan sus ideas sobre: fiesta, creación, amor y arte. Pues la teoría del arte de Tomás decorre directamente de su doctrina sobre la creación: la estupenda metafísica de la participación:
http://www.hottopos.com/convenit/jp3.htm
jean lauand

La Logse en otros países 14-12-99
La reciente reforma curricular de Brasil (lleva ya un par de años),  que ha introducido los PCNs - Parámetros Curriculares Nacionales (asignaturas transversales etc.) es semejante a la de España (la LOGSE). De ahí que nos interesen especialmente las discusiones en España ("de te fabula narratur...")sobre el tema y por tanto hemos publicado  en nuestras revistas (coediciones de mi Universidad de Sao Paulo con la  Harvard Law School Ass. of Br.; UNav etc.) diversos artículos y entrevistas (de distintos puntos de vista) de educadores españoles (y  brasileños) sobre el tema.
Os envío los links siguientes (dos en castellano y dos en portugués, por si hay alguien que lo lea...) porque nos gustaría conocer (lleváis diez años con el tema; mientras nosotros estamos apenas empezando) las valiosas experiencias de los educadores de este grupo. Recebid un fuerte y agradecido abrazo,
Jean Lauand
Links en castellano
Cómo Lograr una Formación Integral- Modo Óptimo de Realizar la LOGSE A. López Quintás
http://www.hottopos.com/harvard1/como_lograr_una_formacion_integr.htm
La Educación que nos Trajo la LOGSE - Miguel Ángel García Olmo
http://www.hottopos.com.br/videtur10/logse.htm
En portugués:
Entrevista- A. López Quintás  A Filosofia da Educ. e a Reforma Curricular
http://www.hottopos.com/harvard1/quintas.htm
Entrevista - César Coll - A Reforma Curricular Brasileira (hay un momento divertido en la entrevista: cuando le pregunté sobre el problema de Matemáticas, por poco me pega...)
http://www.hottopos.com/harvard1/coll.htm
 

Rahama: misericordia maternal, 17-06-01
Se acercan las fiestas de los corazones de Jesús y de María. El corazón de Jesús, en el cual, como dice la oración Colecta"Dios quiso depositar infinitos tesoros de misericordia".
La misericordia en la Biblia es descrita por distintos términos y es natural porque hay distintas misericordias: desde la que ahorra al enemigo vencido hasta la infinita misericordia de la madre. El Papa en la "Dives in misericordia" habla de las misericordias de Dios (*hesed*, *rahama*, *hamal*, *hus*, *hanan*...); de misericordias "masculinas" y "femeninas".

El término hesed, indica una actitud profunda de « bondad ». Cuando esa actitud se da entre dos hombres, éstos son no solamente benévolos el uno con el otro, sino al mismo tiempo recíprocamenre fieles en virtud de un compromiso interior, por tanto también en virtud de una fidelidad hacia sí mismos. Si además hesed significa también « gracia » o « amor », esto es precisamente en base a tal fidelidad. Cuando en el Antiguo Testamento el vocablo hesed es referido el Señor, esto tiene lugar siempre en relación con la alianza que Dios ha hecho con Israel. Esta fidelidad para con la « hija de mi pueblo » infiel (cfr. Lam 4, 3. 6) es, en definitiva, por parte de Dios, fidelidad a sí mismo. Esto resulta frecuente sobre todo en el recurso frecuente al binomio hesed we'emet (=gracia y fidelidad), que podría considerarse una endíadis (cfr. por ej. Ex 34, 6; 2 Sam 2, 6; 15, 20; Sal 25 [24], 10; 40 [39], 11 s.; 85 [84], 11; 138 [137], 2; Miq 7, 20). « No lo hago por vosotros, casa de Israel, sino más bien por el honor de mi nombre » (Ez 36, 22).
El segundo vocablo, que en la termenología del Antiguo Testamento sirve para definir la misericordia, es *rahamim*. Este tiene un matiz distinto del hesed. Mientras éste pone en evidencia los caracteres de la fidelidad hacia sí mismo y de la « responsabilidad del propio amor » (que son cartacteres en cierto modo masculinos ), rahamin, ya en su raíz, denota el amor de la madre (rehem= regazo materno). Desde el vínculo más profundo y originario, mejor, desde la unidad que liga a la madre con el niño, brota una relación particular con él, un amor particular. Se puede decir que este amor es totalmente gratuito, no fruto de mérito, y que bajo este aspecto constituye una necesidad interior: es una exigencia del corazón.
Es una variante casi « femenina » de la fidelidad masculina a sí mismo, expresada en el hesed. Sobre ese trasfondo psicológico, rahamim engendra una escala de sentimientos, entre los que están la bondad y la ternura, la paciencia y la comprensión, es decir, la disposición a perdonar. El Antiguo Testamento atribuye al Señor precisamente esos caracteres, cuando habla de él sirviéndose del término rahamim. Leemos en Isaías: « ¿Puede acaso una mujer olvidarse de su mamoncillo, no compadecerse del hijo de sus entrañas? Aunque ellas se olvidaran, yo no te olvidaría » (Is 49, 15). Cuando Zacarías habla de las « entrañas misericordiosas de nuestro Dios », se expresa claramente el de rahamim (traducción latina: viscera misericordiae), que identifica más bien la misericordia divina con el amor materno.

Y así, la encíclica "Dives in Misericordia" (de la cual he tomado las notas arriba - nota 52), hable de la misericordia incondicionalmente maternales del corazón de María:

DM V,9- Precisamente, en este amor « misericordioso », manifestado ante todo en contacto con el mal moral y físico, participaba de manera singular y excepcional el corazón de la que fue Madre del Crucificado y del Resucitado —participaba María—. En ella y por ella, tal amor no cesa de revelarse en la historia de la Iglesia y de la humanidad. Tal revelación es especialmente fructuosa, porque se funda, por parte de la Madre de Dios, sobre el tacto singular de su corazón materno, sobre su sensibilidad particular, sobre su especial aptitud para llegar a todos aquellos que aceptan más fácilmente el amor misericordioso de parte de una madre. Es éste uno de los misterios más grandes y vivificantes del cristianismo, tan íntimamente vinculado con el misterio de la encarnación

Cordialmente
jean lauand

Y nuestros corazones..., 17-06-01
El concepto bíblico de corazón es muy sugerente. Corazón en las lenguas semitas es QALB (árabe; *Lav* em hebraico). Qalb significa: el girador, "turner", lo que da vueltas. Hay incluso un  proverbio árabe que dice: "Wa ma sumya al qalbu qalban..." - El girador (corazón) se llama girador (corazón) porque gira.
Lo curioso es que aún sin esa etimología, nuestro poetas atinen con ese aspecto "girador" del corazón:

VELETA -Federico García Lorca
Las cosas que se van no vuelven nunca,
todo el mundo lo sabe,
y entre el claro gentío de los vientos
es inútil quejarse.
¿Verdad, chopo, maestro de la brisa?
¡Es inútil quejarse!

Sin ningún viento.
¡hazme caso!
gira, corazón;
gira, corazón.
 

AUTOPSICOGRAFIA - Fernando Pessoa,
"O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
...
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração."

Y son del poeta brasileño Chico Buarque los versos: "Roda mundo, roda gigante, roda moinho, roda pião o tempo rodou num instante nas voltas do meu coração". Y otra canción brasileña: "Ai gira, girô, meu coração navegador" da en el blanco: el corazón es un girador!
La  Biblia habla con frecuencia de "girar" el corazón para Dios, girar el girador para Dios ("tal rey se ha endurecido en vez de girar su corazón para Dios"). De ahí que sea casi pleonástico hablar de conversión del corazón - pues con-versión es girarse, volverse: hacia lo debido.
Cordialmente,
jean

Mundo y Política - Cristianismo e Islam (18 DTC), 5-8-01
El cap. 3 de la conferência "Corán y Ciencia - El Álgebra como Ciencia Árabe": http://www.hottopos.com/collat2/el_coran_y_la_ciencia.htm
está dedicado a discutir una importantísima (aunque olvidada) escena evangélica, que se recoge en la liturgia de la misa de este domingo. A la vez que el cristiano está llamado a transformar el mundo y sus estructuras, debe hacerlo respetando la legítima autonomia de la realidad temporal.
Se trata de un pasaje evangélico en apariencia poco importante; muchísimo más conocido es, por ejemplo, aquel otro versículo del mismo pasaje: "Mirad los lirios del campo...". Pero me atrevería a decir que más importante es el episodio olvidado que además es la clave para entender por qué Jesucristo invita a mirar los lirios o las aves del cielo... De hecho, casi nadie se acuerda de la razón por la cual Jesucristo invita a mirar las aves del cielo... El hecho es que -lo narra el evangelio de Lucas- "uno de la muchedumbre" se acerca a Jesucristo y le hace una petición: que Jesús se valga de su autoridad para convencer a su hermano a repartir con él la herencia (Lc 12, 13). Para sorpresa de aquel hombre (y en contra de la mentalidad antigua y oriental, que ligaban el poder religioso a cuestiones temporales...), Jesucristo se niega rotundamente a tomar partido en esa cuestión, como se niega también a dar cualquier criterio concreto sobre este problema. Y dice: "Hombre, ¿quién me ha establecido árbitro o juez de vuestra repartición?" (Lc 12, 14). Lo único que hace es una condenación genérica de la codicia, de la avaricia, de la injusticia y cuenta a esos hermanos la parábola del hombre rico cuyos campos habían producido abundante fruto etc. Y concluye con el célebre: "Mirad los lirios del campo...".
Lo curioso es que el mismo problema de la herencia está también en el Corán: bajo una perspectiva totalmente distinta: bajo la legislación directa y concreta de Allah.
Y ese olvidado versículo de Lucas aclara como debe ser uno de los más decisivos deberes del cristiano de hoy.

Nuestro Partner en La Habana, 5-8-01, 15-08-01
Este mensaje es para informar de un nuevo proyecto editorial. "El Instituto de Filosofía de Cuba" lanza, en esta semana, en coedición con nuestro departamento de Filosofia da Educação da Universidade de Sao Paulo, dos números especiales de la revista Videtur-Letras, que estarán disponibles también en Internet, en el site de Editorial Mandruvá: http://www.hottopos.com/ , bajo la coordenación del Prof. Gabriel Perissé, doctorando en Filosofía en la FEUSP.
Perissé en la nota de presentación (de sugerente título "Sin embargo"), dice que se trata de romper embargos y de dar voz a los pensadores de aquel país, a la vez que integramos ese órgano oficial de Cuba a las 20 prestigiosas instituciones académicas que coeditam con nosotros (universidades como las de Frankfurt, Freiburg, autónomas de Madrid y Barcelona, Porto, Harvard etc.) facilitando a los colegas cubanos el acceso al amplio abanico de pensameinto (son ya 70 volumenes y 700 artículos publicados) que está en nuestro site.
El mismo hecho de poder parecer el cubano un pensamiento con una "determinada tendencia" acaba por informarnos sobre la producción de esos colegas cubanos por sus mismas palabras y no por apasionados (en pro o en contra) discursos "sobre" Cuba.
Un fuerte abrazo
jean lauand
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Esta circular es para informar que el "Instituto de Filosofía de Cuba" ha lanzado en coedición con nuestra Faculdade de Educação de la Universidad de Sao Paulo las revistas Videtur-Letras 3 y 4.
El "Instituto de Filosofía" es la 20a. institución universitaria del  exterior que se une a nuestros proyectos editoriales de USP.
V-L3 y V-L4 están ya disponibles en Internet en:
                 http://www.hottopos.com/vdletras3/index.htm
                 http://www.hottopos.com/vdletras4/index.htm
 

15-08-01  Con gran alegría os comunico (sobre todo a los que han incentivado la   iniciativa de coeditarmos un par de revistas con Cuba) que  en la  misma Home Page de "El Portal de la Filosofía y el pensamiento cubano" - http://www.filosofia.cu/ -, portal de todas las instituciones de ilosofía de aquel país (como nuestro coeditor "El  Instituto de Filosofía de Cuba"), un largo comentario y links para  las ediciones que hemos hecho con ellos y para nuestro site en general, invitando así a todos los intelectuales de Cuba a leeren el  amplio abanico de cientos de artículos de pensamiento filosófico que  ofrecemos.
 Un fuerte abrazo
jean lauand

 P.S.: Este es el texto que se encuentra en el Portal

                 Videtur-Letras Nos. 3 y 4 en edición conjunta!!!
                 Ha sido publicado por la Editorial Mandruvá de Brasil -
                 http://www.hottopos.com/ -, en coedición con la Faculdade de Educação
                 de la Universidad de Sao Paulo, la Escola de Escritores de Brasil y
                 el Instituto de Filosofía de La Habana, los números 3 y 4 de la
                 revista Videtur-Letras. El Instituto de Filosofía de La Habana
                 es la 20a. institución universitaria extranjera que se une a los
                 proyectos editoriales de la USP. Videtur-Letras 3
                 y 4 están disponibles en: http://www.hottopos.com/vdletras3/index.htm
                 y http://www.hottopos.com/vdletras4/index.htm

P.S2.: Con esta iniciativa, buscamos secundar el llamamiento lanzado por Juan Pablo II, por ocasión de su visita a aquella isla:
                 "Que Cuba se abra con todas sus magníficas posibilidades al mundo y
                 que el mundo se abra a Cuba, para que este pueblo, que como todo
                 hombre y nación busca la verdad, que trabaja por salir adelante, que
                 anhela la concordia y la paz, pueda mirar el futuro con esperanza".
                 Juan Pablo II - Discurso en la llegada al aeropuero de  La Habana, 21
                 de Enero 1998
                 http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/travels/documents/hf_jp
                 -ii_spe_21011998_lahavana-arrival_sp.html

                 "En nuestros días ninguna nación puede vivir sola. Por eso, el pueblo
                 cubano no puede verse privado de los vínculos con los otros pueblos,
                 que son necesarios para el desarrollo económico, social y cultural,
                 especialmente cuando el aislamiento provocado repercute de manera
                 indiscriminada en la población, acrecentando las dificultades de los
                 más débiles en aspectos básicos como la alimentación, la sanidad o la
                 educación. Todos pueden y deben dar pasos concretos para un cambio en
                 este sentido. Que las Naciones, y especialmente las que comparten el
                 mismo patrimonio cristiano y la misma lengua, trabajen eficazmente por
                 extender los beneficios de la unidad y la concordia, por aunar
                 esfuerzos y superar obstáculos para que el pueblo cubano, protagonista
                 de su historia, mantenga relaciones internacionales que favorezcan
                 siempre el bien común. De este modo se contribuirá a superar la
                 angustia causada por la pobreza, material y moral, cuyas causas pueden
                 ser, entre otras, las desigualdades injustas, las limitaciones de las
                 libertades fundamentales, la despersonalización y el desaliento de los
                 individuos y las medidas económicas restrictivas impuestas desde fuera
                 del País, injustas y éticamente inaceptables".
                 Juan Pablo II - Discurso de Despedida en La Habana, 25-01-98
                 http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/travels/documents/hf_jp
                 -ii_spe_25011998_lahavana-departure_sp.html
 

Messages in English

Some language facts related to Lent 1 - "Atonement" 15-02-00
As St. Isidore of Seville says, without etymology reality cannot be known and with it we at once feel the expressive force of words ["Nisi enim nomen scieris, cognitio rerum perit" (Et. 1,7,1) and " Nam dum videris unde ortum est nomen, citius vim eis intellegis" (Et. 1,29,2)].
And so it may be useful in catechesis to remind our students the original sense of some words. In Lent we think about atonement and it is useful to remind that atonement is: "at-one-ment" (Oxford English Dict.), to recover the unity lost by sin.
And it is not by fall that "holy" is after "whole" - the Oxford English Dictionary says: "Holy - A deriv. of the adj. *hailo-, OE. hál, free from injury, WHOLE...).
Sins break our human integrity; the grace of Lent allows to rebuild it by penance and atonement!

Some language facts related to Lent 2 - Pardon and forgiveness15-02-00
In St. Thomas Aquinas we find the (christian) reasons for the birth of  words like "Pardon" and "Forgive".
"Perdonare" (to forgive) is a late Latin form and is not found in Aquinas' writings. The usual  correspondingword used by him is "parcere". However we do find in Aquinas the philosophical reasons which explain the etymology of the modern forms: perdoar (Port.),perdonar (Cast.), perdonare (Ital.), pardonner (Fr.) etc.
In defining the meaning of this Latin prefix per, theOxford English Dictionary says "Thoroughly,perfectly, extremely, very: with adjs. and advbs., as peracutus very sharp, peracute, perdiligens very diligent, perdiligent, perfervidus, perfervid".
And so "perdonare" appears as the superlative ofdonare (to give). The same happens in English and German: "forgive" and "vorgeben".
What is Aquinas' thought in connection with the theme of pardon and how he relates it to the  maximum of giving? There are biblical and liturgical influences in his ideas. In liturgy Aquinas is impressed by the prayer which he often quotes, from the Mass of the 10th Sunday after Pentecost (in the revised liturgy, the 26th Sunday of the Ordinary Time) which goes: "Deus qui omnipotentiam tuam parcendo maxime manifestas" ("God, you show your omnipotence principally in forgiving..."). And he affirms that God's pardon is asuperior power to that of creating heaven and earth(II-II, 113, 9, sc). And the Latin translation of the epistle to the Ephesians(4, 32) says: "...be kind and 'give' yourselves to one another as also God has 'given' you in Christ". And in II Cor 2, 10 "To whom you 'give', I also 'give', and what I have 'given' etc."(13). Aquinas has no doubts in this matter: giving, above all, is not the giving of money, or time, or any other thing; it is forgiving. And he concludes in his usual terse way, with significant id est "Donate, id est parcite" (Super II ad Cor. cp
12, lc 4) and "Donantes, id est parcentes"(Super ad coloss. cp 3 lc 3).

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