ÍNDICE

 

OS WEBLOGS

 

 

Desde a invenção da palavra articulada o homem vem aperfeiçoando seus modos de comunicação. Inventaram a escrita, depois a imprensa, depois o telefone, depois a Internet e o telefone celular.

Chegamos num ponto de extrema tecnologia comunicacional. Hoje já é possível se comunicar sincronicamente através de som e imagem com qualquer lugar do mundo. A comunicação quebrou a barreira do espaço e do tempo.

A cada invenção reporta-se uma inteligência coletiva, uma série de características que denotam o espírito humano de uma época. Portanto, quando da invenção da escrita, a sociedade por ela beneficiada passaria por transformações que até a pouco tempo não se associava ao poder desta invenção.

Depois do surgimento da Internet Comercial[1] por volta de 1995, buscou-se, cada vez mais, uma universalização do saber humano acumulado. A Internet seria antes de tudo uma gigantesca enciclopédia viva, acessível de qualquer lugar do globo. Então a mais remota tribo poderia se informar e se comunicar com a mais avançada sociedade através da interface técnica do microcomputador pessoal.

 

“...a mudança técnica não altera apenas os hábitos da vida mas também as estruturas do pensamento e da valoração...” (Understanding Media, pg.83).

 

As empresas e indústrias da informática e da comunicação correram no intuito de conquistar novos mercados de consumidores e para isso desenvolveram modelos comunicacionais e geradores de conteúdo online. Muito cedo os especialistas da comunicação de massa perceberam que uma mudança grave estava se configurando no domínio das relações sociais e na relação das pessoas com os meios de comunicação.

 

“...a cultura de massa (...) é cosmopolita por vocação e planetária por extensão. Ela nos coloca os problemas da primeira cultura universal da história da humanidade...” (Cultura de Massas no século XX: Neurose, pg.16).

 

Essa cultura universal nascente deu agora seu primeiro salto com a transformação qualitativa da comunicação humana. Dá-se novamente o que Havelock[2] chamou de um ‘novo estado da mente’. O alto poder interativo da Web fez supor que estaria surgindo uma nova sociedade: a Sociedade do Conhecimento.

Dispuseram na rede formas de se comunicar e armazenar dados cada vez mais rápidos e eficientes.

A Internet é comumente confundida com a World Wide Web[3], que é apenas uma fração da Internet propriamente dita. Esse segmento da Internet é o mais popular e o mais acessível ao cidadão comum. É na Web que podemos comprar, vender, conversar, ver fotos e vídeos, participar de fóruns e comunidades, receber e enviar cartas de e-mail, ler e criar revistas, jornais, periódicos, dicionários, páginas pessoais, e Weblogs.

Estes últimos são o nosso foco.

Os Weblogs surgiram em meados de 1998 e se caracterizam por sua facilidade em atualização e comunicação assíncrona.

Antes, um jornal online ou um portal, que têm sua página inicial modificada todo dia, denotava um trabalho minucioso e softwares específicos de design e conteúdo, além de uma equipe altamente especializada em informática.

Hoje , esse mesmo jornal ou portal, já não precisa de tantos especialistas em informática para gerar seus conteúdos. Os problemas com a publicação na Web foram absolutamente resolvidos, e hoje qualquer leigo em informática, sabendo apenas interpretar pequenos textos e comandos objetivos pode criar seu próprio site, página pessoal, jornal ou revista online.

O Weblog surgiu como uma ‘rede de registros’. Apontamentos individuais que colocados na Web transformam-se em hipertexto pessoais de uso estritamente particular. Ainda hoje chamam-se os Weblogs de diários pessoais eletrônicos, e de fato o são quando não são usados em todo seu potencial.

O advento dos Weblogs possibilitou um novo modelo de comunicação e armazenamento de dados. Uma das características fundamentais dos blogs é a possibilidade de ‘feedback’ do visitante da página. Através de um sistema de comentários, um visitante qualquer pode deixar uma mensagem para o autor do blog e este responde-lo de o desejar.

O blog pouco se diferencia de um site. Um blog é uma página da Web como outra qualquer, mas com algumas diferenças peculiares. Uma delas é a personificação da página que geralmente revela um perfil do autor, com dados pessoais, gostos e desejos do autor. Outra característica é o que se chamou de linkania, ou seja, um blog só era verdadeiramente um blog quando devidamente ligado a outros Blogs, criando assim uma rede de Weblogs, a Blogosfera.

Outra característica dos Blogs é a extrema facilidade em atualização de conteúdo, que podemos chamar de usabilidade. Um texto qualquer ou imagem pode ser acrescido ao blog com poucos cliques do mouse ou através de celular e sem precisar para isso de nenhum software específico, ou seja, de qualquer lugar do mundo com uma conexão à Web e um PC ou um celular qualquer pessoa pode publicar sues apontamentos, pareceres, artigos, textos em geral, imagem e mesmo sons.

 Assim, milhões de pessoas passaram a criar blogs indiscriminadamente. Derivados desta onde de criação de blogs surgiram outros modelos de publicação online a que chamaram de ‘fotoblogs’, ‘audioblogs’ e ‘videoblogs’, cada um com aspectos relativamente diferenciados, mas de igual facilidade em publicação.

Os blogs são totalmente gerenciados online e possibilita ao autor torna-los público ou privado, ou mesmo, restringi-lo a apenas algumas pessoas escolhidas pelo autor.

A febre de geração de Blogs possibilitou que uma mesma pessoa criasse uma infinidade deles, cada um com um tema específico ou com temas gerais.

A tecnologia que possibilita a criação de Blogs também permite compartilhar sua autoria. É comum vermos na Web, Blogs gerenciados por três, quatro, cinco ou mais pessoas.

O auge da febre blogueira se deu em 2003 quando começaram a se organizar grupos de blogueiros para criação de Blogs destinados a falar, divulgar, informar e reunir outros blogueiros. Começou-se a se organizar encontros de blogueiros e com essa facilidade em se comunicar e se informar surgiram no mundo inteiro manifestações diversas.

Uma delas surgiu apenas como intuito de formar multidões em locais públicos em horários pré-determinados, esses movimentos foram apelidados de ‘Flashmobs’, ou seja, a mobilização de pessoas para um local para dali se dissiparem.

Curiosamente os ‘Flashmobs’ duraram pouco tempo, mas ocorreram nas maiores cidades de muitos países. No Brasil ocorreram alguns ‘Flashmobs’ em São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Florianópolis, Salvador e outras cidades. Toda a organização era feita através dos Blogs pessoais dos participantes que se comprometiam em divulgar e promover o encontro através do seu Blog e dos seus links.

Várias outras ações foram promovidas através dos Blogs. Campanhas em prol de crianças carentes, para proliferação da leitura, para beneficiar doentes, para promoção de ONG’s, para acabar com a exclusão digital, contra a guerra do Iraque e a ocupação americana, em favor dos israelitas, pela diversidade sexual, contra o racismo e neo-nazismo, enfim, os Blogs tornaram-se promotores da cultura individual agora globalizada através da Internet.

Confirmou-se o que Lévy previa com avanço desta tecnologia da inteligência. Um novo modo pensar e proceder derivava de um aparato técnico específico.

Confirmou-se, mais do que nunca, o que Marshall McLuhan chamou na década de 1960 de ‘aldeia global’:

 

“...eletricamente contraído, o globo já não é mais do que uma vila...” (Understanding Media, pg.19).

 

O período histórico em que vivemos denota a importância da identidade, no seu sentido sociológico, como o reforça Castells, em sua obra ‘A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura’, vivemos num:

 

“...período histórico caracterizado pela ampla desestruturação das organizações, deslegitimação das instituições, enfraquecimento de importantes movimentos sociais e expressões culturais efêmeras...” (A Sociedade em Rede, pg.23).

 

Sendo a identidade cultural, e pessoal, a derradeira fronteira entre cada um e o resto do mundo. Os WeBlogs refletem o mundo conectado em sua total diversidade. Não é raro vermos Blogs de pré-adolescentes e mesmo de pessoas da melhor idade. Hoje é comum encontrarmos pai, mãe, filhos e irmãos blogando juntos ou individualmente.

Raro mesmo é encontrar um analfabeto blogueiro. Os Blogs estimulam o escritor que há em cada um, então, para os disléxicos e não-letrados não é uma arte muito interessante.

Existem Blogs de ­todos os gostos para todos os paladares. Existem Blogs de pessoas fictícias que narram seus cotidianos e explicitam as mais sórdidas ações; existem Blogs que simulam o dia-a-dia de celebridades; existem Blogs extremamente pessoais, que contam sem pudores todas as dúvidas e crises existenciais; existem Blogs que a princípio não se sabe se diz respeito a uma pessoa real ou fictícia, se homônimo ou heteronômio...

Alguns blogueiros fazem questão de comemorar o aniversário de seu Blog com festas online e mesmo offline.

É hábito comum dos blogueiros navegar entre os links dos Blogs alheios. Assim passam a conhecer, mesmo que apenas online, pessoas que de outra forma jamais tomariam conhecimento. Existem sites especializados só na linkania. Sites como o ‘arredores.com’ só existem na função de levar o navegante da blogosfera de um link a outro, aleatoriamente de preferência.

De um modo geral os Blogs tendem a espelhar a identidade do seu autor. Muitas vezes uma identidade quebrantada em diversos Blogs, separados apenas por links ou isolados e escondidos para não haver associação entre o conteúdo e seu autor.

A multiplicidade da psique-humana se reflete na blogosfera pelas redes de relacionamento associada aos links de cada Blog.

Como cada um tem liberdade para criar quantos Blogs desejar, acontece freqüentemente de um Blog morrer. Alguns blogueiros chegam a ritualizar a ‘morte’[4] de seu Blog, mas a maioria simplesmente o abandona por motivos pessoais, isto é, falta de assunto, tédio, desinteresse, etc.

Verifica-se que os Blogs, de um modo geral, são vazios de conteúdo contendo o cotidiano de pessoas comuns que falam de assuntos corriqueiros do seu dia-a-dia, assuntos esses que interessariam no máximo a um amigo (a) próximo (a).

Mas a diversidade humana não permite que existam só Blogs desinteressantes. Navegando na linkania encontramos a maior diversidade possível na ecologia do ciberespaço.

Todas as tribos estão lá representadas: os regueiros, roqueiros, surfistas, ciclistas, atletas, punks, cinéfilos, engenheiros, médicos, publicitários, músicos, skatistas, poetas, capoeiristas, literatos, jornalistas, noveleiros, ufólogos, advogados, políticos, geólogos, enfim, toda a variedade da inteligência humana se encontra na blogosfera à distancia de alguns cliques.

Sabemos que mesmo dentro de cada uma destas que chamei de ‘tribos’ encontram-se os que estão digitalmente incluídos e os excluídos digitais, seja por opção ou por força maior (propositalmente ou involuntariamente). Mas o fato é que cada um, sujeito do conhecimento, que queira reforçar sua identidade, encontrará no mundo dos Blogs sua voz, sua pilastra, seu eco. 

Sabemos também que mesmo aqueles que ojerizam as tecnologias tendem a ceder espaço a elas, afinal vivemos no informacionalismo, neste novo modo de desenvolvimento, moldado segundo Castells, pela reestruturação do modo capitalista de produção. E como McLuhan afirmou:

 

“...incorporando continuamente tecnologias, relacionamo-nos a elas como servomecanismos (...) é como se o homem se tornasse o órgão sexual do mundo das máquinas, como a abelha do mundo das plantas...” (Understanding Media, pg.65).

 

A humanidade vem criando máquinas cada vez mais rápidas, complexas e eficientes, e em maior quantidade a cada ano. Passamos do modo de produção capitalista chamado industrialismo, onde o princípio era voltado para a maximização da produção e o crescimento da economia, para o:

 

“...informacionalismo, que visa, o desenvolvimento tecnológico, ou seja, a acumulação de conhecimento e maiores níveis de complexidade do processamento da informação...” (A Sociedade em Rede, pg.35).

 

Após passear pela linkania propiciada pelos Weblogs, não podemos deixar de constatar que nossas sociedades estão definitivamente, ou pelo menos enquanto houver Internet, interconectadas e culturalmente inter-relacionadas.

Mas os Blogs não apresentam apenas relatórios pessoais de pessoas comuns. Hoje, cada vez mais, vemos membros das chamadas elites da sociedade blogando.

A ferramenta chamada Weblog surgiu também como um filão para a divulgação rápida e barata de informações, especialmente no que se refere a política e as celebridades.

George W. Bush em sua campanha para a presidência dos EUA já contava com um Blog associado ao seu site de campanha para estimular uma aproximação entre eleitorado[5] e o seu candidato.

Isso foi verificado também nas últimas campanhas para o pleito municipal no Brasil em 2004, quando diversos partidos políticos criaram seus próprios Blogs, candidatos à prefeitura tinham também seus Blogs individuais e mesmo candidatos à vereador usaram os Weblogs para divulgar suas propostas de campanha.

Claro que a maioria destes ‘Blogs funcionais’ não eram gerenciados pelos personagens principais do Blog[6], mas existiam, em sua maioria, como consenso e permissão dos maiores beneficiários, que tinham nos Blogs um instrumento de marketing poderoso, complexo e acessível 24 horas por dia de qualquer lugar do mundo. Hoje, muitos destes Blogs funcionais já morreram, ou foram desativados, ou tirados do ar.

Os Blogs mais interessantes e curiosos são de fato os mais antigos. Muitos destes Blogs já se transformaram em livros. Aqueles que conservaram seus endereços originais ou preservaram seu passado[7], serão sempre mais interessantes do que os Blogs criados recentemente.

Um diferencial bastante significativo entre um Blog e um site, são os arquivos do Blog. Num Blog todas as informações publicadas no corpo do Blog são armazenadas por ordem cronológica, sendo possível acessa-las através de um link.

Assim, se queremos saber o que tal blogueiro viveu, pensou e escreveu em junho de 2001, por exemplo, basta um clique e lá está toda a informação que ele disponibilizou naquela época.

Em alguns dos Blogs mais antigos do Brasil identificamos figuras proeminentes da sociedade, sejam músicos como Léo Jaime[8] ou Roger do Ultraje á Rigor[9], ou atrizes da Globo como Samara Felipo[10].

Os Weblogs revelaram-se um importante canal de aproximação entre fãs e ídolos. No Blog da atriz mencionada encontramos, a cada atualização dela, dezenas e mesmo centenas de comentários de fãs que abordam os mais diversos assuntos, chagando neste caso até a conversarem. Uma conversa fora de sincronia, mas uma troca de informações, de perguntas e respostas, elogios e críticas, complementações e concordâncias e discordâncias que instigam a imaginação.

Note-se que as ações que partem dos blogueiros através dos Blogs provêem exclusivamente de uma atitude mental deliberada. Os intelectos de cada um, motivados por sua própria natureza, os levam a criar associações e relações que não existiriam sem os artefatos tecnológicos da informática.

Um outro movimento pensado, gerido e acionado através, exclusivamente, dos Blogs foi o que se convencionou chamar de ‘Flashblog[11]’. A idéia,originalmente pensada pelo blogueiro ‘Matusca[12], era a de congestionar o sistema de comentários de uma amiga e convocou, na medida do possível, todos os amigos para fazê-lo. As pessoas gostaram e começou a onda de festas na blogosfera.

A coisa acontecia assim: num dia específico, combinado com o dono do Blog, o maior número de pessoas visitaria o Blog do escolhido e começariam a postar mensagens no sistema de comentários do ‘flashblogueiro’. Este teria que estar online para acompanhar as mensagens respondendo e instigando as pessoas que vinham chegando a festa. No final das 24 horas desde o inicio da festa, o blogueiro anfitrião combinaria com algum outro blogueiro a data e a hora do próximo ‘flashblog’.

A intenção era só fazer farra e novos amigos. Através dos ‘flashblogs’, muitas amizades foram feitas e fortalecidas sem necessariamente conhecerem-se pessoalmente. Num ‘flashblog’ destes encontrávamos pessoas que moravam nos mais remotos lugares do Brasil e do mundo[13]. Os ‘flashblogs’ duraram alguns meses mas, para não desmentir Castells[14], eles tiveram seu fim. Foi até criado um Blog de gerenciamento coletivo só para divulgar as datas dos próximos ‘flashblogs’. Era um evento curioso onde se reuniam homens e mulheres de todas a idades em torno de uma reunião online alegre e motivadora, basicamente lúdica, que promovia a poesia, a música, a comunicação e especialmente a cultura peculiar de cada um[15]. Através da linguagem escrita manifestavam-se hábitos, comportamentos e pensamentos que fortaleciam a cultura de cada região e a identidade de cada um.

E o que leva a pessoas comuns, que nem se conhecem pessoalmente, a se encontrarem na Internet para fazer uma festa online? O que motiva essas pessoas senão um desejo, ainda místico, de coletivização da inteligência e valorização do humano?

O curioso dos ‘flashblogs’ é que eles conseguiam reunir pessoas que de um modo geral valorizavam-se umas às outras e até incentivavam as potencialidades recíprocas. Era como se uma consciência virtual e subjetiva futurasse um bem-estar coletivo. Faltava então um direcionamento objetivo das competências, como deseja Pierre Lévy quando trata da inteligência coletiva, que segundo ele:

 

“...é uma inteligência distribuída por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma mobilização efetiva das competências...” (A Inteligência Coletiva, pg.28).

 

Diferentemente das salas de bate-papo, os Blogs reúnem pessoas que se interessam principalmente pelo conteúdo compartilhado e não por um desejo ou curiosidade repleto de libido ou sensualidade.

Diversos estudos já foram realizados enfatizando as salas de chat (bate-papo), tentando traçar perfis dos freqüentadores e das relações  sociais propiciadas pelas salas, assim como das motivações e interesses desses freqüentadores e dessas relações, e nota-se facilmente uma clara distinção entre blogueiros e freqüentadores de bate-papo.

Nos primeiros a busca é por um lugar na Web onde possam se encontrar consigo mesmo, onde possam guardar e trocar informações que julgam relevantes para si. Nos segundos a busca é de encontrar o ‘outro’, de achar um complemento para si, seja apenas virtual ou real, seja informacional ou lascivo.

Existem, como não poderia deixar de ser, Blogs sexuais e eróticos, mas neste segmento não se percebe grandes profundidades além da vulgarização de pornografia. Os Blogs eróticos mais sérios , tratam do tema sexual com mais rigor, exibindo fotos e textos mais elaborados, mas de um modo geral não tecem as relações sociais como os Blogs pessoais. De um modo geral os Blogs temáticos restringem seus posts a temas que só interessam a grupos específicos e um público reduzido, diminuindo a incidência de construção de novas relações e restringindo-se a esses grupos de interesse. O que não é uma desvantagem, pois assim estimulam ainda mais o diálogo, a troca de informações e a inteligência coletiva, mas, neste caso, já seria tema de um outro trabalho.

A inteligência coletiva humana está em toda parte. Como afirma Lévy: "Ninguém sabe tudo, mas todos sabem um tanto". Sua idéia é complementar à máxima de Paulo Freire quando ele dizia que: "Ninguém ensina nada a ninguém, e ninguém aprende nada sozinho".

Cabe a cada um buscar o seu desenvolvimento, e é no diálogo com o outro, na troca de informação, na valorização e no uso efetivo de cada competência que o homem evolui.

Os Blogs representam assim a maior aproximação possível da idéia original do projeto da World Wide Web, quando Tim Berners-Lee a imaginava como um meio de aprimorar a experiência humana coletiva dizendo a que a imaginava como 'browser'[16] e 'editor' simultaneamente. Em suas palavras:

 

"...a Web é mais uma criação social do que técnica. Eu a desenhei para obter um efeito social - ajudar as pessoas a trabalharem juntas - e não como um brinquedo eletrônico. O objetivo final da Web é o de dar suporte e aperfeiçoar nossa existência..." (Ética Hacker, pg.159).

 

A blogosfera, como um todo, realiza[17] as previsões futuristas de Marshall McLuhan quando ele afirmava há quarenta anos atrás:

 

"...Nesta era da eletricidade, nós mesmos nos vemos traduzidos mais e mais em termos de informação, rumo à extensão da consciência..." (Understanding Media, pg.77)

 

E o que são esses diários virtuais, senão a exteriorização de nossas consciências e de nossas percepções? E complementa:

 

"...tendo prolongado ou traduzido nosso sistema nervoso central em tecnologia eletromagnética, o próximo passo é transmitir nossa consciência para o mundo do computador..." (Understanding Media, pg.81).

 

Este passo nós já demos. O próprio conceito de consciência não nos deixa dúvidas quanto essa factibilidade:

 

"...a consciência é considerada a marca do ser racional, mas nada existe de linear ou seqüencial (...) a consciência não é um processo verbal ..." (Understanding Media, pg.104).

 

Para completar esse pensamento é preciso reforçar a idéia de que, apesar de não ser um processo verbal, a consciência só é possível e inteligível devido à linguagem e a cultura:

 

"...a cultura, entendida aqui como nossos sistemas de códigos e crenças, e mediada e determinada pela comunicação..." (A Sociedade em Rede, pg.366).

 

 Assim, só podemos concluir que a Internet está passando por uma mudança radical. Os Weblogs estão se mostrando divisores de águas quanto à forma como o internauta vê e usa a Web.

 

"...rara mistura de estratégia militar, grande cooperação científica e inovação contracultural..." (A Sociedade em Rede, pg.375).

 

A Internet demonstra que estamos vivendo, não numa aldeia global mas, numa aldeia globalizante, homogeneizante. Este fato nada tem de bom ou mal, mas a forma como será empregado é que determinará seu valor.

 

 

 

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[1] World Wide Web.

[2] Ip. Cit. Castells, Manuel, A Sociedade em Rede, pg.353.

[3] Rede de Alcance Mundial, www, ou simplesmente, Web.

[4] Diz-se que um blog ‘morreu’ quando ele deixa de ser atualizado por mais de três meses.

[5] Que usavam os sistemas de comentários como um canal para suas questões e opiniões.

[6] Que no caso dos políticos, são, muitas vezes, analfabetos digitais.

[7] Apesar de já terem mudado de layout e servidor quantas vezes o autor permitiu.

[8] http://leojaime.blog.uol.com.br

[9] http://roxmo.blog.uol.com.br

[10] http:://www.samarafelippo.blogger.com.br

[11] http://www.flashblog.blogger.com.br

[12] http://matusca.blogbrasil.com

[13] Neste caso, brasileiros que viviam na Europa, nos EUA, no Japão, na Austrália, etc.

[14] A Sociedade em Rede, pg.23.

[15] Era engraçado ver uns reclamando de muito frio e outros de muito calor.

[16] Navegador de páginas da Internet.

[17] Materializa ou virtualiza?