MORMAÇO que com toda a mata, no sol de abril castiga o lombo da tropa e da troupe. Escorre sem fim a água gelada do alto da serra cantando para oxigenar a vida, de longe as fracas badaladas do relógio restaurado da estação espera dias que os trens voltem a circular. - NUNCA MAIS! exclamam na estação terminal de Rio Grande da Serra. - Agora é museu! E a vila cheia de vida preserva o património que se quer da humanidade. MONUMENTO DE QUE, DE QUEM? Ninguém responde e os habitantes que mantiveram as casas vivas têm saudade do abandono que a ferrovia privatizada aqui deixou. SAUDADE, sòmente nós brasileiros podemos entender tal sentimento e defini-lo. Saudade do Brasil indígena cheio de matas e diversidade, saudades de Vila Rica de ouro e diamantes, saudade na diáspora de negros que ainda hoje buscam alforria. Consumissão e amor, Brasil bilingue não mais Tupi, Guarani ... e Português. Brasil bilingue Inglês e Latino, o que querer? Turistas para consumir nossas últimas reservas ou a vocação ferroviária já sem valor? Talvez restem algumas moedas do ouro lavrado e enviado para a matriz, para a capital. O caminhar é lento e a vida se renova na maioria da população jovem, muito jovem. ESPERANÇA, AMOR E AMBIGUIDADE colocam todos contra a parede e a vida plena das águas que cantam no intuito de oxigenar a vida é entremeada do rádio tocando alto e dos alarmes de veículos, enquanto o nevoeiro do ciclo das águas da terra que resfria não vem. PARANAPIACABA, 18 de abril de 2002, 12:15 hs. |
"NA LUZ de CINEMA" Acredito ter sido o filme o primeiro longa metragem nacional que aborda a ficção, ficção futura e a problemática ambiental. Muitas foram as dificuldades na época para que o projeto fosse concluido. A Embrafilme, co-produtora não tinha interesse, mas o roteiro de José de Anchieta e Roberto Santos, a luz do Francisco Botelho contaram no elenco com atores como: Cleyde Yaconis, Yara Amaral, Regina Duarte, Joel Barcellos, Sérgio Mamberti, Egydio Eccio, Osmar Di Pieri, Clemente Viscaino com música de Egberto Gismonti toda gravada pela orquestra sinfônica de Campinas e regência de Benito Juarez. Já na primeira etapa das filmagens, em São Paulo o orçamento pouco deixou os produtores, atores, diretores e equipe técnica com o projeto interrompido; a solução foi empenhar esforços, reduzir e focar os acontecimentos da narrativa na vida e drama da família do personagem Joaquim Porfírio. Durante as filmagens em PARANAPIACABA nós assumimos o compromisso de finalizar a produção contando com o apoio que os habitantes da vila nos deram: apoio técnico com eletricistas da rede que ajudaram nos muitos cabos do estranho cenário, apoio de infra estrutura, ficamos durante mais de um mês instalados onde hoje é o entreposto de arte e artezanato e principalmente apoio na composição dos personagens onde jovens, adultos e idosos da vila de Paranapiacaba figuraram completando o elenco e o contexto da narrativa dramática. O filme foi finalizado, montado e teve estréia para em seguida ser engavetado. Trabalhei nas filmagens fotografando, still, e preservei originais em negativos preto e branco junto aos diversos arquivos de meu trabalho de pesquisa fotográfica, (a camera sempre foi um instrumento de fazer apontamentos); de leitura da paisagem urbana e da relação do homem com a cidade, seus objetos e seu olhar. Aprendi com mestres da faculdade de Arquitetura a ser um passante vivaz, que se poucas e selecionadas imagens realizei em 30 anos que fotografei pude desenvolver o difícil exercício da cidadania e acreditar; "não é só a casa da família que é lugar da ordem", ruas, praças, lugares comuns e públicos não devem ser lugar da desordem; embora reste muito para que na "rés pública" tenhamos o cuidado que cada um tem em seu ambiente privado. UMA EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIAS, um documento para a memória que constrói o futuro, uma justa homenagem a todos os figurantes do cinema brasileiro que dão sua espontâneidade para tornar mais verdadeira a narrativa filmada, IN MEMÓRIA a YARA AMARAL e ao FRANCISCO BOTELHO com o primeiro longa de tão curta carreira? Todas as razões me fizeram rever os arquivos e após a triagem eis a mostra neste sítio que mantenho na web desde 1998. Resta identificar em definitivo os nomes de habitantes da vila, são êles: Calazans, Justino esposa e filha, dona Hortência, Dinha, Rosinha, Mauro, Antonio Marques, Raimundo ... resta trabalho ... As fotografias ficarão neste sítio que contém diversas fases de meu trabalho e espero que façam sentido.
ABELARDO ALVES, 15 de maio de 2002. vila de Paranapiacaba, Brasil.
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