Com as lágrimas
do tempo
E a cal do meu dia
Eu fiz o cimento
Da minha poesia
E na perspectiva
Da vida futura
Ergueu em carne viva
Sua arquitetura
Não sei bem
se é casa
Se é torre
ou se é templo
(um templo de Deus)
Mas é grande
e clara
Pertence ao seu tempo.
- Entrai, irmãos
meus!
Soneto de Amor Total - Vinícius
Amo-te tanto, meu
amor...não cante
O humano coração
com mais verdade...
Amo-te como amigo
e como amante
Nunca, sempre diversa
realidade.
Amo-te afim, de um
calmo amor prestante,
E te amo além,
presente na saudade.
Amo-te, enfim, com
grande liberdade
Dentro da eternidade
e a cada instante.
Amo-te como um bicho,
simplesmente
De um amor sem mistério
e sem virtude
Com um desejo maciço
e permanente.
E de amar assim muito
amiúde
É que um dia
em teu corpo de repente
Hei de morrer de
amar mais do que pude.
Soneto de Fidelidade - Vinícius
De tudo ao meu amor
serei atento
Antes e com tal zelo
e sempre e tanto
Que mesmo em face
do maior encanto
Dele se encante mais
meu pensamento
Quero vive-lo em cada
vão momento
E em seu louvor hei
de espalhar meu canto
E rir meu riso e
derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu
contentamento
E assim quando mais
tarde me procure
Quem sabe a morte,
angústia de quem vive
Quem sabe a solidão,
fim de quem ama
Eu possa lhe dizer
do amor que tive
Que não seja
imortal, posto que é chama
Mas, que seja infinito
enquanto dure.
Soneto de Separação - Vinícius
De repente do riso
fez-se o pranto
Silencioso e branco
como a bruma
E das bocas unidas
fez a espuma
E das mãos
espalmadas fez o espanto
De repente da calma
fez-se o vento
Que dos olhos desfez-se
a última chama
Da calma fez-se o
pressentimento
Do momento imóvel
fez-se o drama
De repente não
mais que de repente
Fez-se de triste
o que se fez amante
E de sozinho o que
se fez contente
Fez-se do amigo próximo
o distante
Fez-se da vida uma
aventura errante
De repente não
mais que de repente.
Soneto do amor demais - Vinícius
Não, já
não amo mais os passarinhos
A quem, triste, contei
tanto segredo
Nem amo as flores
despertadas cedo
Pelo vento orvalhado
dos caminhos.
Não amo mais
as sombras do arvoredo
Em seu suave entardecer
de ninhos
Nem amo receber outros
carinhos
E até de amar
a vida tenho medo.
Tenho medo de amar
o que de cada
Coisa que der resulte
empobrecida
A paixão do
que se der à coisa amada
E que não sofra
por desmerecida
Aquela que me deu
tudo na vida
E que de mim só
quer amor - mais nada.
Soneto do amigo - Vinícius
Enfim, depois de tanto
erro passado
Tantas retaliações,
tanto perigo
Eis que ressurge
noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre
reencontrado.
É bom sentá-lo
novamente ao lado
Com os olhos que
contem o olhar antigo
Sempre comigo um
pouco atribulado
E como sempre singular
comigo.
Um bicho igual à
mim, simples e humano
Sabendo se mover
e comover
E a disfarçar
com meu próprio engano.
O amigo: um ser que
a vida não explica
Que só se
vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha
alma multiplica...
A Rosa de Hiroshima - Vinícius
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não
se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e
inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada
Procura-se um amigo - Vinícius
Não precisa
ser homem, basta ser humano, basta ter sentimento, basta ter coração.
Precisa saber falar
e calar, sobretudo saber ouvir.
Tem que gostar de
poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto dos ventos
e das canções da brisa.
Deve ter amor, um
grande amor por alguém, ou então sentir falta de não
ter esse amor.
Deve amar o próximo
e respeitar a dor que os passantes levam consigo.
Deve guardar segredo
sem se sacrificar.
Não é
preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível
que seja de segunda mão.
Pode já ter
sido enganado, pois todos os amigos são enganados.
Não é
preciso que seja puro, nem que seja de todo impuro, mas não deve
ser vulgar.
Deve ter um ideal
e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir
o grande vácuo que isso deixa.
Tem que ter ressonâncias
humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo.
Deve sentir pena
das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários.
Deve gostar de crianças
e lastimar as que não puderam nascer.
Procura-se um amigo
para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo.
Que saiba conversar
de coisas simples, de orvalhos, de grande chuvas e das recordações
de infância.
Precisa-se de um
amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo
e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos
sonhos e da realidade.
Deve gostar de ruas
desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira
de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.
Precisa-se de um
amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é
bela, mas porque já se tem um amigo.
Precisa-se de um
amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado
no passado em busca de memórias perdidas.
Que nos bata nos
ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a
consciência de que ainda se vive.
Para Viver um Grande Amor - Vinícius
Para viver um grande
amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita
seriedade e pouco riso - para viver um grande amor.
Para viver um grande
amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de
muitas, poxa! é de colher... -não tem nenhum valor.
Para viver um grande
amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama
por inteiro-seja lá como for.
Há que fazer
de corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora
com uma espada – para viver um grande amor.
Para viver um grande
amor, vos digo, é preciso atenção como o “velho amigo”,
que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande
amor.
É preciso muitíssimo
cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não
está, está sempre preparado para chatear o grande amor.
Para viver um grande
amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não
existe amor sem fieldade - para viver um grande amor. Pois quem trai seu
amor por vanidade é desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível
liberdade que traz um só amor.
Para viver um grande
amor, il faut, além de ser fiel, ser bem conhecedor de arte culinária
e de judô - para viver um grande amor.
Para viver um grande
amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso
também ter muito peito - peito de remador. É preciso olhar
sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também,
amortalhada no seu finado amor.
É muito necessário
ter em vista um crédito de rosas no florista - muito mais, muito
mais que na modista! – para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande
amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo;
depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...
Conta ponto saber
fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões , sopinhas, molhos, estrogonofes
- comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra
cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha,
para o seu grande amor?
Para viver um grande
amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser,
se possível, um só defunto - para não morrer de dor.
É preciso um cuidado permanente não só com o corpo
mas também co a mente, pois qualquer “baixo” seu, a amada sente
- e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia;
doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia -
para viver um grande amor.
É preciso
saber tomar uísque ( com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser
impermeável ao diz-que-diz-que – que não quer nada com o
amor.
Mas tudo isso não
adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar
a bem-amada - para viver um grande amor.
Receita de Mulher - Vinicius de Moraes
As muito feias que me perdoem
Mas beleza e fundamental.
E preciso
Que haja qualquer
coisa de flor em tudo isso
Qualquer coisa de
dança, qualquer coisa de “haute couture”
Em tudo isso ( ou
então
Que a mulher se socialize
elegantemente em azul, como na
Republica Popular
Chinesa).
Não ha meio-termo
possível. E preciso
Que tudo isso seja
belo. E preciso que súbito
Tenha-se a impressão
de ver uma garça apenas pousada e que um rosto
Adquira de vez em
quando essa cor só encontravel no terceiro minuto
da aurora.
E preciso que tudo
isso seja sem ser, mas que se reflita e desabroche
No olhar dos homens.
E preciso, e absolutamente preciso
Que seja tudo belo
e inesperado. E preciso que umas pálpebras cerradas
Lembrem um verso
de Eluard e que se acaricie nuns braços
Alguma coisa alem
de carne: que se toque
Como no âmbar
de uma tarde. Ah, deixai-me dizer-vos
Que e preciso que
a mulher que ali esta como a corola ante o pássaro
Seja bela ou tenha
pelo menos um rosto que lembre um templo e
Seja leve como um
resto de nuvem: mas que seja uma nuvem
Com olhos e nádegas.
Nádegas e importantíssimo. Olhos, então
Nem se fala, que
olhem com certa maldade inocente. Uma boca
Fresca (nunca úmida!)
e também de extrema pertinência.
E preciso que as
extremidades sejam magras; que uns ossos
Despontem, sobretudo
a rotula no cruzar das pernas, e as pontas
pélvicas
No enlaçar
de uma cintura semovente.
Gravíssimo
e porem o problema das saboneteiras: uma mulher sem
saboneteiras
E como um rio sem
pontes. indispensável
Que haja uma hipótese
de barriguinha, e sem seguida
A mulher se alteie
em cálice, e que seus seios
Sejam uma expressão
greco-romana, mais que gótica ou barroca
E possam iluminar
o escuro com uma capacidade mínima de cinco velas.
Sobremodo pertinaz
e estarem a caveira e a coluna vertebral
Levemente a mostra;
e que exista um grande latifúndio dorsal!
Os membros que terminem
como hastes, mas que haja um certo volume de
coxas
E que elas sejam
lisas, lisas como a pétala e cobertas de suavíssima
penugem
No entanto, sensível
a caricia em sentido contrario.
E aconselhável
na axila uma doce relva com aroma próprio
Apenas sensível
(um mínimo de produtos farmacêuticos!).
Preferíveis
sem duvida os pescoços longos
De forma que a cabeça
de por vezes a impressão
De nada ter a ver
com o corpo, e a mulher não lembre
Flores sem mistério.
Pés e mãos devem conter elementos góticos
Discretos. A pele
deve ser fresca nas mãos, nos braços, no dorso e na
face
Mas que as concavidades
e reentrâncias tenham uma temperatura nunca
inferior
A 37* centígrados,
podendo eventualmente provocar queimaduras
Do primeiro grau.
Os olhos, que sejam de preferencia grandes
E de rotação
pelo menos tão lenta quanto a da terra; e
Que se coloquem sempre
para lá de um invisível muro de paixão
Que e preciso ultrapassar.
Que a mulher seja em principio alta
Ou, caso baixa, que
tenha a atitude mental dos altos píncaros.
Ah, que a mulher
de sempre a impressão de que se fechar os olhos
Ao abri-los ela não
mais estará presente
Com seu sorriso e
suas tramas. Que ela surja, não venha; parta, não vá
E que possua uma
certa capacidade de emudecer subitamente e nos fazer
beber
O fel da duvida.
Oh, sobretudo
Que ela não
perca nunca, não importa em que mundo
Não importa
em que circunstancias, a sua infinita volubilidade
De pássaro;
e que acriciada no fundo de si mesma
Transforme-se em
fera sem perder sua graça de ave; e que exale sempre
O impossível
perfume; e destile sempre
O embriagante mel;
e cante sempre o inaudível canto
Da sua combustão;
e não deixe de ser nunca a eterna dançarina
Do efêmero;
e em sua incalculável imperfeição
Constitua a coisa
mais bela e mais perfeita de toda a criação inumerável.
Operário em Construção
Vinicius de Moraes
Era ele que erguia
casas
Onde antes só
havia chão.
Como um pássaro
sem asas
Ele subia com as
asas
Que lhe brotavam
da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia
por exemplo
Que a casa de um
homem e’ um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa quer ele
fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.
De fato como podia
Um operário
em construção
Compreender porque
um tijolo
Valia mais do que
um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá’, cimento
e esquadria
Quanto ao pão,
ele o comia
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário
ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa
aqui
Adiante um apartamento
Alem uma igreja,
‘a frente
Um quartel e uma
prisão:
Prisão de
que sofreria
Não fosse
eventualmente
Um operário
em contracto.
Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário
faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo
dia
‘A mesa, ao cortar
o pão
O operário
foi tomado
De uma súbita
emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela
mesa
? Garrafa, prato,
facão
Era ele quem fazia
Ele, um humilde operário
Um operário
em construção.
Olhou em torno: L
gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que
existia
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário
Um operário
que sabia
Exercer a profissão.
Ah, homens de pensamento
Não sabereis
nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário
emocionado
Olhou sua própria
mão
Sua rude mão
de operário
De operário
em construção
E olhando bem para
ela
Teve um segundo a
impressão
De que não
havia no mundo
Coisa que fosse mais
bela.
Foi dentro dessa
compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também
o operário
Cresceu em alto e
profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu
em vão
Pois alem do que
sabia
? Excercer a profissão
-
O operário
adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão
da poesia.
E um fato novo se
viu
Que a todos admirava:
O que o operário
dizia
Outro operário
escutava.
E foi assim que o
operário
Do edifício
em construção
Que sempre dizia
“sim”
Começam a
dizer “não”
E aprendeu a notar
coisas
A que não
dava atenção:
Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque
do patrão
Que seu macacão
de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde
morava
Era a mansão
do patrão
Que seus dois pés
andarilhos
Eram as rodas do
patrão
Que a dureza do seu
dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.
E o operário
disse: Não!
E o operário
fez-se forte
Na sua resolução
Como era de se esperar
As bocas da delação
Começaram
a dizer coisas
Aos ouvidos do patrao
Mas o patrao nas
queria
Nenhuma preocupacao.
? “Convencam-no”
do contrario
Disse ele sobre o
operario
E ao dizer isto sorria.
Dia seguinte o operario
Ao sair da construcao
Viu-se subito cercado
Dos homens da delacao
E sofreu por destinado
Sua primeira agressao
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braco quebrado
Mas quando foi perguntado
O operario disse:
Não!
Em vao sofrera o
operario
Sua primeira agressao
Mouitas outras seguiram
Muitas outras seguirao
Porem, por imprescindivel
Ao edificio em construcao
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construcao que
crescia.
Sentindo que a violencia
Não dobraria
o operario
Um dia tentou o patrao
Dobra-lo de modo
contrario
De sorte que o foi
levando
Ao alto da construcao
Enum momento de tempo
Mostrou-lhe toda
a regiao
E apontando-a ao
operario
Fez-lhe esta declaracao:
? Dar-te-ei todo
esse poder
E a sua satisfacao
Porque a mim me foi
entregue
E dou-o a quem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher
Portanto, tudo o
que ves
Sera’ teu se me adorares
E, ainda mais, se
abandonares
O que te faz dizer
não.
Disse e fitou o operario
Que olhava e refletia
Mas o que via o operario
O patrao nunca veria
O operario via casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrao
E em cada coisa que
via
Misteriosamente havia
A marca de sua mao.
E o operario disse:
Não!
? Loucura! - gritou
o patrao
Não ves o que
te dou eu?
? Mentira! - disse
o operario
Não podes dar-me
o que e’ memu.
E um grande silencio
fez-se
Dentro do seu coracao
Um silencio de martirios
Um silencio de prisao.
Um sielncio povoado
De pedidos de perdao
Um silencio apavorado
Com o medo em solidao
Um silencio de torturas
E gritos de maldicao
Um silencio de fraturas
A se arratarem no
chao
E o operario ouviu
a voz
De todos os seus
irmaos
Os seus irmaos que
morreram
Por outros que viverao
Uma esperanca sincera
Cresceu no seu coracao
E dentro da tarde
mansa
Agigantou-se a razao
De um homem pobre
e esquecido
Razao porem que fizera
Em operario construido
O operario em construcao
Soneto da Fidelidade
Vinicius de Moraes
De tudo, ao meu amor
serei atento
Antes, e com tal
zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face
do maior encanto
Dele se encante mais
meu pensamento.
Quero vive-lo em cada
vao momento
E em seu louvor hei
de espalhar meu canto
E rir meu riso e
derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu
contentamento.
E assim, quando mais
tarde me procure
Quem sabe a morte,
angustia de quem vive
Quem sabe a solidao,
fim de quem ama
Eu possa me dizer
do amor (que tive):
Que não seja
imortal, posto que e chama
Mas que seja infinito
enquanto dure.