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BOLETIM DE HISTÓRIA DEMOGRÁFICA

Ano VIII, no. 21, março de 2001

 

 

 

 

SUMÁRIO  

 

 

 

Apresentação

Artigos

 Resumos

Notícia Bibliográfica 

Publicações Recebidas

 Notícias e Informes

   

 

Apresentação

 

Além de manter o elevado padrão informativo que caracteriza nosso BHD, este número traz dois artigos que o distinguem como instrumento de grande valia para todos os pesquisadores que estejam a se defrontar em suas pesquisas com questões relativas aos preços dos bens produzidos no período colonial brasileiro, ou com o problema dos pesos e das medidas de que serviam nossos antepassados. No corpo do Boletim encontra-se artigo de Francisco Vidal Luna e Herbert Klein concernente à conversão, para o sistema métrico decimal, das antigas medidas de grãos, passo esse essencial para a uniformização dos dados coletados nas diversas fontes documentais das quais nos servimos, bem como para o estabelecimento de confrontos entre séries de informações concernentes a áreas e/ou momentos distintos. O segundo texto publicado neste número, também produzido pelos autores nomeados  acima, acha-se, dada sua extensão maior, disponível para download. Nele são tratados, sobretudo, os preços de uma variada gama de bens característicos de nossa economia colonial. O valioso contributo ora oferecido por esses nossos dois colegas a todos que se debruçam sobre as fontes primárias de dados deve servir, pois, como estímulo para que elaboremos novas notas e artigos que venham a cobrir as lacunas existentes no campo da metrologia referente à vida econômica brasileira dos séculos passados. É este o repto que dirigimos a todos, do pesquisador que se inicia na leitura e interpretação dos manuscritos, ao estudioso mais experiente que, certamente, já domina um repertório mais alentado de informações a serem socializadas. 

 

Artigos

 

 

NOTA A RESPEITO DE MEDIDAS PARA GRÃOS UTILIZADAS NO PERÍODO COLONIAL E AS DIFICULDADES PARA SUA CONVERSÃO AO SISTEMA MÉTRICO

Francisco Vidal Luna
Herbert S. Klein

A questão das unidades de medida representa um dos mais complexos problemas a se resolver ao estudarmos a história econômica no Brasil, particularmente para o período anterior a 1862, quando implantou-se o sistema métrico no país. Área, distância, peso e volume eram anotados em unidades de difícil conversão. Nem sempre as unidades apresentavam valor homogêneo por todo o país, por vezes diferiam de significado em relação às mesmas medidas praticadas em Portugal e também ocorriam mudanças ao longo do tempo. Vários pesquisadores procuraram encontrar formas de conversão dessas medidas. Iraci del Nero da Costa, nesse mesmo Boletim de Demografia Histórica (BHD - número 1) publicou uma nota a respeito do tema, discutindo as dificuldades normalmente enfrentadas e arrolando obras que versam sobre o assunto, bem como algumas tabelas de conversão.(1) Em outro número do Boletim (BHD - número 9) transcreveu-se o capítulo de Metrologia de Luis Lisanti Filho, incluído na obra Negócios Coloniais: uma correspondência comercial do século XVIII.(2)

Em nosso caso, dedicamo-nos nos últimos anos a uma ampla pesquisa a respeito de São Paulo, entre 1750 a 1850, baseada particularmente nas Listas Nominativas dos Habitantes. Esta rica documentação manuscrita pertence ao acervo do Arquivo do Estado de São Paulo e contém dados de natureza demográfica e também informações relacionadas com a produção agrícola. Estes dados econômicos são, infelizmente, menos sistemáticos se comparados aos demográficos, limitam-se, ademais, ao período posterior a 1798, embora as Listas existam com regularidade a contar de 1765.

Na análise da agricultura enfrentamos diversos problema relacionados com a conversão de unidades de medida, alguns dos quais pretendemos expor nesta nota.(3) Determinados produtos como o café, açúcar, tabaco, algodão, toucinho, eram medidos, por via de regra, em arrobas, embora também houvesse registros pouco sistemáticos em outras unidades de medida. E a arroba, unidade de peso, apresentou estabilidade no seu conceito, tento em termos espaciais como temporais. Sua conversão foi claramente definida pela Lei 1157, de 1862, que institucionalizou o sistema métrico no Brasil: uma arroba correspondia a 14,689 quilos. O problema reside com outros produtos, como milho, arroz, feijão, farinha de mandioca e aguardente.

Nesta nota vamos nos concentrar na análise dos grãos, que eram medidos por unidade de volume e não por unidade de peso. O alqueire representava sua medida costumeira, mas haviam outras, particularmente para o milho, anotado em carros, cavalos, mãos, cargas etc. Pela maior importância do uso do alqueire, analisamos essa unidade de medida, que apresentou consistência de valor durante os séculos XVIII e XIX e cuja conversão foi claramente definida na Lei de 1862. Entretanto como o alqueire representava volume sua conversão deu-se para litros, também unidade de volume. Como na atualidade os grãos são medidos em unidade de peso, havia a necessidade de transformar litros de milho, arroz ou feijão em quilos. O processo exigia saber a densidade relativa de cada um desses produtos. Ou seja, saber quanto pesa um litro de milho, um litro de feijão e um litro de arroz.

Procuramos obter tal informação em inúmeras instituições de pesquisa agrícola. E obtivemos informações de três fontes:

1) A Embrapa, no seu serviço de atendimento à comunidade respondeu que “com relação à densidade do milho grão informamos-lhe que um litro de milho pesará entre 780 e 800 gramas, dependendo do tipo de grão”.

2) O Instituto Agronômico de Campinas também respondeu: “Para feijão, tenho informações daqui mesmo do IAC, do Setor de Produção de Sementes, para dois cultivares recentemente lançados, com sementes de  boa qualidade:

a) cultivar IAC-Carioca Eté: 786 kg/m3 ou peso hectolítrico (PH) de 78,6.
b) cultivar IAC-Carioca Aruã: 833 kg/m3 ou peso hectolítrico (PH) de 83,3.
Também, segundo informações de colegas da Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais, em livro recentemente publicado e intitulado Feijão: aspectos gerais e cultura no Estado de Minas. Vieira, C.; Paula Jr., T. J. de; Borém, A., eds. Viçosa, UFV, 1998, 560 p., para feijão de boa qualidade tem-se um valor de cerca de 780 kg/m3 ou PH 78. Conforme esses autores, o PH é um conceito "utilizado como parâmetro de qualidade na comercialização do produto e no dimensionamento de silos secadores, depósitos e sistemas de transporte”.

3) O Núcleo de Agronomia da Alta Paulista, enviou a seguinte mensagem: “Na publicação- Produção de sementes em pequenas propriedades- Circular Nº 77- do IAPAR - página 49 existe a seguinte informação: Em termos de capacidade, a lata e a caixa de madeira de 18 litros podem armazenar, aproximadamente 12 kg de arroz ou 15 kg de feijão ou milho... Na página 376 - Cultura do Arroz de Sequeiro- POTAFOS - a densidade do arroz tem o valor de 0,65.”

Neste último caso, efetuando as conversões, obtiveram-se as seguintes densidades: 0,8333 para o milho; 0,8333 para o feijão; 0,6667 ou 0,65 para o arroz, a depender da fonte utilizada. 

Se compararmos estes últimos resultados com as outras informações obtidas teríamos para o milho as seguintes informações: densidades de 0,8333, para o Núcleo de Agronomia da Alta Paulista, e densidade a variar entre 0,780 a 0,800, para a Embrapa.

Para o feijão, o Núcleo de Agronomia da Alta Paulista sugeria 0,8333 e o Instituto Agronômico de Campinas obtinha em suas pesquisas 0,786 e 0,833. Havia também a informação constante em Feijão: aspectos gerais e cultura no Estado de Minas a sugerir uma densidade de 0,780 para feijão de boa qualidade.

Deve-se observar que tais informações referem-se a variedade de produtos cultivados na atualidade, certamente diferentes das existentes no passado. Como não encontramos nas fontes do passado outras referências, servimo-nos destas informações para a continuidade do trabalho. Para simplificação, e em face da relativa homogeneidade das informações, servimo-nos em nosso estudo de uma mesma fonte para os três produtos; ou seja utilizamos a resposta do Núcleo de Agronomia da Alta Paulista, e que teve por base a Circular Nº 77- do IAPAR. A partir de tais referências efetuamos a conversão entre alqueires e quilos discriminada abaixo.

O alqueire de milho, com densidade de 0,8333, corresponderia a 30,225 quilos, pois um alqueire representava 36,27 litros; o alqueire de feijão representariam 30,225 quilos e o alqueire de arroz  24,18 quilos.

TABELA 1

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Produto          Unidade Original         Densidade         Em Litros         Em quilos 

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Milho                     Alqueire                     0,8333                 36,27               30,225

Feijão                    Alqueire                     0,8333                 36,27               30,225

Arroz                     Alqueire                     0,8333                 36,27               24,18

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Apenas em estudo um de Alice P. Canabrava encontramos tal tipo de conversão. (4) Sugeria essa autora transformar o alqueire de milho em 25,2 quilos; como partiu da mesma relação entre alqueire e litros, podemos admitir que utilizou a densidade de 0,6948 para o milho. Infelizmente não há explicações no texto que permitam avaliar esse resultado, que continuaria a divergir das nossas estimativas mesmo se utilizássemos a menor das densidades sugeridas nos três estudos agronômicos apresentados (0,786). Em nosso caso utilizados informações relativas ao milho atualmente cultivado e não sabemos se a autora  utilizou fontes de melhor qualidade. Assim, caberá a futuros estudos o aprofundamento da questão.

 

NOTAS

 (1) COSTA, Iraci del Nero da (compilador). Pesos e medidas no período colonial brasileiro: denominações e relações. Boletim de História Demográfica. São Paulo, FEA-USP, 1(1), 1994.

(2) LISANTI FILHO, Luís. Negócios Coloniais: uma correspondência comercial do século XVIII. Brasília/São Paulo, Ministério da Fazenda/Visão Editorial, 1973, 1.o volume, p. 79-94.

(3) Dois outros pesquisadores relataram seus problemas ao tratar com as Listas Nominativas para o estudo da produção agrícola: RANGEL, Armênio de Souza. Escravismo e Riqueza - formação da economia cafeeira no Município de Taubaté - 1765/1835. São Paulo, Tese de Doutorado, FEA-USP, 1990, p. 315; FERNANDÉZ, Ramón Vicente Garcia. Transformações econômicas no litoral norte paulista (1778-1836). São Paulo, Tese de Doutorado, FEA-USP, 1992, p. 303-312.

(4) CANABRAVA, Alice P. Uma economia de decadência: os níveis de riqueza na Capitania de São Paulo, 1765-67. Revista Brasileira de Economia. Rio de Janeiro, 26:4 (out./dez. 1972), p. 116. No mesmo estudo a autora também efetua a conversão para a farinha de mandioca, cujo alqueire igualaria 23,5 quilos.

       

OBSERVAÇÕES A RESPEITO DOS PREÇOS AGRÍCOLAS EM SÃO PAULO (1798/1836), F. V. LUNA & H. S. KLEIN. Para fazer o download

  Resumos

 

ANDREAZZA, Maria Luíza. Casamento, solidariedade e compaixão, nota prévia a um estudo das relações familiares de povoadores dos sertões de Curitiba (séculos XVII e XVIII). XII Encontro Nacional de Estudos Populacionais (Caxambu, MG, outubro de 2000), Brasil, 500 anos:mudanças e continuidades, Anais de resumos e CD-ROM. Belo Horizonte, ABEP, 2000.

RESUMO. Domingas Fernandes de Siqueira Cortes morreu com 73 anos, na povoação dedicada a Santo Antônio da Lapa, freguesia de Curitiba, em 17 de setembro de 1792. Como era de hábito, dispôs em testamento que o remanescente de sua "terça" fosse repartido entre os pobres. A condição dos beneficiados foi avalizada por autoridades eclesiásticas, e as quantias doadas arbitradas pelos testamenteiros. A benevolência de Domingas favoreceu 141 pobres que receberam importâncias entre 1$200 e 12$042, totalizando uma esmola de 438$638. O testamento e o auto de contas do formal de partilha dos bens de Domingas serviram de base para a problematização desta pesquisa. Trata-se, inicialmente, de um estudo acerca da compaixão, focalizada sobretudo pelo prisma dos que se sentem no direito a recebê-la (no caso, aproximadamente 10% da população de Santo Antônio da Lapa). Interessa penetrar nos meandros da carência social, identificando quais atributos alegados pelos pedintes os diferenciariam de seu entorno, tornando-os merecedores da piedade alheia. Interessa ainda, considerada a variação e certas concentrações das quantias distribuídas, verificar como se valorava a necessidade alheia. Num segundo momento, o propósito será rastrear mecanismos de exclusão social. Afirma-se que durante o século XVIII consolidou-se, nos Campos Gerais, uma estrutura social marcada pela dominação de famílias fazendeiras que detinham o poder político por meio de oligarquias parentais. Domingas pertenceu a uma dessas famílias e, às vésperas da morte solicitava aos testamenteiros atenção especial aos parentes pobres. Isto posto, interessa reconstruir as gerações que antecederam a de Domingas para identificar relações entre estratégias matrimoniais, preeminência e exclusão social e, talvez, entrever como a "solidariedade" parental se transformava em "compaixão".

 

BACELLAR, Carlos de Almeida Prado. Os reinóis na população paulista às vésperas da independência. XII Encontro Nacional de Estudos Populacionais (Caxambu, MG, outubro de 2000), Brasil, 500 anos:mudanças e continuidades, Anais de resumos e CD-ROM. Belo Horizonte, ABEP, 2000.

RESUMO. O autor discute alguns aspectos da presença de portugueses do Reino na Capitania de São Paulo, caracterizando, assim, o movimento de sua penetração na área em um marcante processo de expansão da lavoura monocultora e nos quadros de progressiva inserção no mercado atlântico. Para tanto, recorre às listas nominativas de habitantes da totalidade das vilas paulistas, efetuando um corte cronológico no ano de 1801, momento em que a grande lavoura canavieira já se encontrava consolidada. Desta maneira, podem ser destacadas as principais características desse deslocamento populacional, tal como o local de nascimento, a repartição por sexo, as ocupações exercidas nas vilas em que se instalaram, a posse de escravos e as possibilidades de inserção na sociedade local via alianças matrimoniais. Por fim, os resultados obtidos foram comparados aos conhecidos para o movimento imigratório português da segunda metade do século XIX, permitindo sua melhor compreensão.

 

BASSANEZI, Maria Sílvia Casagrande Beozzo. Migrantes no Brasil da segunda metade do século XIX. XII Encontro Nacional de Estudos Populacionais (Caxambu, MG, outubro de 2000), Brasil, 500 anos:mudanças e continuidades, Anais de resumos e CD-ROM. Belo Horizonte, ABEP, 2000.

RESUMO. Documentos de época evidenciam que a mobilidade espacial era muito comum -- e não um fato extraordinário -- na vida dos indivíduos e famílias brasileiras do passado. No entanto, o tema da migração interna ainda não recebeu a devida atenção por parte dos estudiosos da população brasileira do passado. O presente trabalho é uma tentativa de começar a reverter esse quadro. Tem como objetivo fornecer subsídios ao estudo do fenômeno migratório no passado, privilegiando duas fontes, dois locais e duas décadas da segunda metade do século XIX. Em um primeiro momento, traça o perfil do contingente migrante que se dirigiu à Província de São Paulo, no período que antecede a imigração internacional em massa, a partir de informações extraídas do primeiro Recenseamento Geral do Império de 1o. de agosto de 1872. Diga-se de passagem, este censo é o único levantamento de população publicado do século XIX e das primeiras décadas do século XX que nos dá uma fotografia da população brasileira (escrava e livre) nascida em províncias do Império, diferentes daquelas em que vivia por ocasião do recenseamento. Em seguida, o trabalho retrata um grupo específico de migrantes --  os refugiados da seca -- que deixou o Ceará, rumo ao norte ou ao sul do Brasil, quando já estava em curso a imigração internacional de massa no país (1887-1889), utilizando como fonte os Livros das Companhias de Vapores que fazem parte do acervo do Arquivo Estadual do Ceará. Paralelamente, demonstra que estes deslocamentos de população articulavam-se às oportunidades de trabalho oferecidas pela Província de São Paulo e Províncias do Norte, no período.

 

BIVAR, Vanessa dos Santos Bodstein. O perfil demográfico da população não nativa nos testamentos paulistas (séculos XVIII e XIX). XII Encontro Nacional de Estudos Populacionais (Caxambu, MG, outubro de 2000), Brasil, 500 anos:mudanças e continuidades, Anais de resumos e CD-ROM. Belo Horizonte, ABEP, 2000.

RESUMO. Mostramos os resultados alcançados até o presente momento em  pesquisa na qual analisamos os testamentos deixados por reinóis e estrangeiros capitania (depois província) de São Paulo entre os anos de 1763 e 1878 de modo a resgatar o papel dessa população na sociedade paulista da época, traçando, para isso, o perfil demográfico desses testadores não nativos. Com essa finalidade estão sendo utilizados os testamentos pertencentes ao 3o. Ofício da Família do Tribunal de Justiça de São Paulo. Esta apresentação está dividida em duas partes: na primeira, intitulada Testamentos: fonte de riqueza documental, procuramos ressaltar a importância dos testamentos para a análise e reconstrução histórica de uma sociedade, ao mesmo tempo descrevemos seus diferentes tipos e as diversas partes que os compõem, acentuando os variados dados que essa fonte pode oferecer; a segunda, sob o título Os não nativos nos testamentos da sociedade paulista - primeiros dados, é dedicada à análise e exposição dos resultados alcançados pela pesquisa até o momento, procuramos, ademais, inferir reflexões acerca dos não nativos mediante o exame de gráficos e tabelas elaborados a partir das informações hauridas nos testamentos.

 

BOTELHO, Tarcísio Rodrigues. População e escravidão nas Minas Gerais, C. 1720. XII Encontro Nacional de Estudos Populacionais (Caxambu, MG, outubro de 2000), Brasil, 500 anos:mudanças e continuidades, Anais de resumos e CD-ROM. Belo Horizonte, ABEP, 2000.

RESUMO. A descoberta do ouro nos sertões da América portuguesa provocou a interiorização do seu povoamento, o rápido aumento da sua população e o reforço do sistema escravista. Em cerca de três décadas, constituiu-se toda uma sociedade peculiar na região das Minas Gerais, gerando inclusive sua autonomia administrativa. Entretanto, poucos têm sido os estudos sobre a sua população nas décadas iniciais da extração aurífera. Neste trabalho investigo alguns aspectos da sua dinâmica populacional, utilizando uma fonte pouco explorada pelos demógrafos historiadores: as listas de escravos para cobrança dos quintos reais. A partir das informações existentes para São João Del Rei (1717), Vila Rica (1721), Sabará (1721), Vila do Carmo (1721), São José Del Rei (1722) e Pitangui (1722), traço um painel da propriedade em escravos e caracterizo os proprietários destes cativos. Ademais, procuro apresentar uma proposta para estimar a população destas regiões mineradoras em princípios da década de 1720.

 

BRÜGGER, Sílvia Maria Jardim. Legitimidade e comportamentos conjugais (São João D´El Rei, séculos XVIII e primeira metade do XIX). XII Encontro Nacional de Estudos Populacionais (Caxambu, MG, outubro de 2000), Brasil, 500 anos:mudanças e continuidades, Anais de resumos e CD-ROM. Belo Horizonte, ABEP, 2000.

RESUMO. Os estudos de história da família sobre Minas Gerais, no período escravista, têm construído um quadro no qual a regra teria sido o predomínio das relações ditas ilícitas. O casamento legal, frente à Igreja Católica, seria possível apenas para uma restrita minoria. Esta característica da família mineira é explicada pela própria forma de ocupação da região, ligada à atividade mineratória. Afluxo de enorme contingente de população masculina, falta de mulheres brancas, caráter errante das empresas mineradoras, presença marcante de núcleos urbanos, freqüência de movimentos migratórios, entre outros, seriam fatores que levariam a família mineira a se constituir à margem da legalidade de então. No entanto, parece-me que este quadro precisa ser matizado, levando em consideração diferenças regionais dentro de Minas, diferenças de comportamento conjugal entre os diversos grupos sociais, bem como transformações ocorridas no correr de um período longo e díspar como os séculos XVIII e XIX. Neste sentido, os resultados da pesquisa que venho desenvolvendo, com base em documentação paroquial de São João del Rei, têm-se mostrado distintos dos apontados pela historiografia. Uma legitimidade relativamente alta entre a população livre, no período de auge da atividade mineradora, declinando este ao se aproximar o fim daquele século e durante a primeira metade do seguinte. Explicações para comportamentos demográficos como este parecem-me que se encontram tanto nas características próprias da região (como a sua importância de centro de produção de alimentos e comercial, especialmente no século XIX), bem como em fatores relacionados  aos deslocamentos populacionais. Por outro lado, os comportamentos conjugais de escravos e forros merecem análise específica, mas também demonstram importante relação com as atividades econômicas desenvolvidas e o ingresso de novos cativos na região. Parece-me, pois, ser preciso matizar as generalizações concernentes à família mineira de então.

 

DAVES, Alexandre Pereira. Vaidade das vaidades - os homens, a morte e a religião mediante os testamentos da Comarca do Rio das Velhas (1716/1755). Dissertação de mestrado, Belo Horizonte, Departamento de História da FAFICH/UFMG, 1998, 310 p., mimeografado.

RESUMO. Pesquisa desenvolvida junto ao acervo arquivístico da Casa de Borba Gato de Sabará/IPHAN, envolvendo leitura paleográfica, levantamento dos dados, informatização e análise do material estatístico referente a 1.350 testamentos produzidos na antiga Provedoria dos Defuntos e Ausentes da Comarca do Rio das Velhas, entre os anos 1716 e 1785. A dissertação divide-se em 3 capítulos e representa um estudo exaustivo sobre a população que morria com testamento, na aludida região da Capitania de Minas Gerais. Dentre os principais pólos mineradores destacam-se: a Vila de Nossa Senhora da Conceição do Sabará, Vila Nova da Rainha do Caeté, Vila de Pitangui e de Santana do Paracatu, com seus respectivos termos. No conjunto, observa-se enorme diversidade dos quadros econômicos e populacionais, além de gradativa expansão dos fatores de demanda, expansão monetária, formação de fortunas localizadas, o que contribuiu para acelerar a formação das estruturas do cotidiano no sertão de Minas Gerais de antanho. Mostraram-se relevantes  as mudanças observadas com relação aos ritos fúnebres e às heranças, sobretudo quando seriamos os dados relativos às atitudes frente à morte (movimento cada vez mais enquadrado na trama urbana das relações sociais).

 

ENGEL, MAGALI GOUVEIA. Paixão, crime e relações de gênero (Rio de Janeiro, 1890-1930. TOPOI: Revista de História, UFRJ, Viveiros de Castro Editora, n. 1, 2000, p. 153-177.

RESUMO. A autora avalia os conflitos relacionados às relações amorosas e/ou sexuais ocorridas na cidade do Rio de Janeiro entre 1890 e 1930. Baseada na pesquisa dos julgamentos de crimes passionais, propõe uma reflexão sobre as tensões entre os valores dominantes e os padrões culturais das relações de gênero disseminados na sociedade brasileira da época.

 

ESPÍRITO SANTO, Cláudia Coimbra do. Estratégias de sobrevivência nas Minas Setecentistas: considerações historiográficas. XII Encontro Nacional de Estudos Populacionais (Caxambu, MG, outubro de 2000), Brasil, 500 anos:mudanças e continuidades, Anais de resumos e CD-ROM. Belo Horizonte, ABEP, 2000.

RESUMO. O objetivo central do texto é colocar em discussão alguns estudos historiográficos que analisam a participação de escravas e libertas na sociedade mineira Setecentista. Pretende-se dessa forma demonstrar que, ao contrário da visão generalizadora que permaneceu na historiografia até recentemente, essas mulheres não foram passivas e submissas à vontade de seus senhores, e nem pervertidas e devassas como acreditavam as autoridades coloniais. Sustenta-se a tese de que essas mulheres adotavam estratégias para resistirem e sobreviverem, ao mesmo tempo em que desempenharam importantes atividades econômicas no contexto do mercado interno das Minas Setecentistas. Consultando a historiografia percebem-se perspectivas diferenciadas no que tange à participação dessas mulheres na dinâmica da sociedade e da economia mineira do século XVIII. Na primeira parte do texto os autores foram divididos em três grupos, de acordo com as tendências verificadas em seus trabalhos. O primeiro grupo, contemporâneo da descoberta do ouro e imbuído da mentalidade religiosa e colonizadora, era portador de uma imagem extremamente preconceituosa em relação às escravas e libertas. Em seus registros elas eram consideradas representantes do mal e da perversão, agentes da desordem, responsáveis pelos descaminhos do ouro. Assim, percebe-se que os representantes desse primeiro grupo compreendiam a vivência dessas mulheres como transgressão aos limites do projeto econômico da Metrópole e normatizador da Igreja. Na década de trinta do nosso século a historiografia brasileira foi revista por autores que ressaltaram a participação dos negros na formação da sociedade brasileira. A contrapartida para a rejeição da noção de inferioridade dos negros foi a introdução da idéia da democracia racial. Entretanto, a função sexual das escravas e libertas continuava a ser a tônica dos trabalhos. Nas décadas de 80 e 90, surgiria um terceiro grupo que continuaria a reconhecê-las como objeto sexual, mas ressaltaria sua força de trabalho ao exercer diversas funções. Todavia conservaram enquadradas como prostituição as práticas conjugais das camadas populares que não se ajustavam às prescrições das autoridades coloniais. Do confronto dessa produção historiográfica com as evidências reveladas pelas fontes primárias constatou-se a impropriedade da compreensão indiscriminada de todas estas relações ilegítimas na categoria prostituição. A documentação compulsada mostrou um universo muito mais amplo, no qual os diversos e complexos tratos ilícitos eram percebidos das mais variadas formas, jamais reduzidos a categoria única. Na realidade, a sexualidade ilícita vivenciada por escravas e libertas representava muito mais do que contravenção a normas. Tratava-se de estratégia de sobrevivência.

 

FRAGOSO, João. A nobreza da República: notas sobre a formação da primeira elite senhorial do Rio de Janeiro (séculos XVI e XVII). TOPOI: Revista de História, UFRJ, Viveiros de Castro Editora, n. 1, 2000, p. 45-122.

RESUMO. O autor analisa a formação da primeira elite senhorial do Rio de Janeiro e de sua economia (séculos XVI e XVII). Parte do pressuposto de que tal formação deu-se em um contexto marcado por dificuldades em Portugal e no seu Ultramar. Em meio a este cenário, os conquistadores utilizaram os velhos elementos, porém eficientes, da antiga sociedade lusa: a conquista (de homens e terras), o Senado da Câmara e o sistema de mercês. Como resultado desse processo tem-se a formação de uma economia de plantation como derivação de uma hierarquia social e econômica que excluiu parte dos colonos.

 

FRANCO NETTO, Fernando. Senhores e escravos no Paraná provincial: os padrões de riqueza em Guarapuava (1850 - 1880). Dissertação de mestrado. Guarapuava - Universidade Estadual do Centro-Oeste & Assis - Universidade Estadual Paulista, 2000, mimeografado.

RESUMO. O autor avalia os padrões de riqueza em Guarapuava bem como as características da sociedade a partir da análise dos inventários arrolados no período em que as relações escravistas eram predominantes na região. As transformações na órbita interna e externa, advindas das grandes revoluções inglesa e francesa, foram determinantes para a decadência nas relações de produção baseadas no trabalho escravo. O recorte cronológico proposto priorizou o período 1850-1880 porque nele iniciaram-se e firmaram-se as transformações das quais decorreu a emergência das relações de trabalho e de produção baseadas na mão-de-obra assalariada, mudanças estas aceleradas com o fim do tráfico internacional de escravos, a implantação da Lei de Terras e a implementação da política de imigração. Os processos de inventário apresentam dados ricos para avaliarmos as formas de riqueza que os proprietários possuíam; consegue-se avaliar os bens arrolados e suas características; quanto aos escravos, além de avaliar seus preços, pode-se determinar, para cada cativo, a origem, idade, sexo, cor, qualificação e estado físico.

 

GODOY, Marcelo Magalhães. DINOSSAUROS DE MADEIRA E FERRO FUNDIDO – Os centenários engenhos de cana de Minas Gerais (séculos XVIII, XIX e XX). VARIA HISTORIA, nº 21, julho de 1999 – Número Especial Códice Costa Matoso. Belo Horizonte: Departamento de História da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG, 1999, p. 307/331. Também publicado no volume HISTÓRIA E TECNOLOGIA DO AÇÚCAR. Funchal: Centro de Estudos de História do Atlântico, 2000, p. 275-300

RESUMO. A demonstração da sobrevivência de uma realidade de longa duração e a perspectiva da adoção de método regressivo são a essência do pequeno texto. As fontes históricas colocadas em paralelo praticamente correspondem aos extremos de um tempo longo. Alguns documentos do códice Costa Matoso descrevem a fabricação de açúcar e aguardente nas primeiras décadas de funcionamento dos engenhos de cana em Minas Gerais. Depoimentos orais e registros fotográficos compõem imagem atual da produção de derivados da cana, imagem do crepúsculo de seculares permanências e sobrevivências.

 

GODOY, Marcelo Magalhães. OS ENGENHEIROS ENTRE A NORMA E A CLANDESTINIDADE – As relações entre o Estado e a agroindústria canavieira de Minas Gerais no século XIX. Anais do IX SEMINÁRIO SOBRE A ECONOMIA MINEIRA. Belo Horizonte: CEDEPLAR/UFMG, 2000, p. 213-256. Também publicado: Anais da XVII JORNADAS DE HISTORIA ECONOMICA. Tucuman: Facultad de Ciencias Economicas da Universidad Nacional de Tucuman, Asociacion Argentina de Historia Economica.

RESUMO. Colocam-se em discussão as estratégias tributárias adotadas pelas administrações provinciais e municipais de Minas Gerais, no decorrer do século XIX, com relação a produção, circulação e comercialização de derivados da cana-de-açúcar. Pretende-se demonstrar que em realidade onde o cultivo e a transformação da gramínea voltavam-se, preferencialmente, para o abastecimento do mercado interno, o Estado exacerbou sua preocupação fiscalista. Sustenta-se a tese de que a contrapartida para a multiplicidade de fórmulas tributárias adotadas, a voracidade fiscal e os vigorosos debates na Assembléia Legislativa Provincial, foram os surpreendentes resultados negativos das arrecadações, a expansão permanente do número das unidades produtivas e da produção e a consolidação de mecanismos de corrupção e sonegação. Compulsando a legislação provincial e as posturas das câmaras municipais, os repertórios documentais da Fazenda Provincial (relações de engenhos a serem tributados, orçamentos e balanços das receitas e despesas provinciais, registros de cobrança de impostos em recebedorias de fronteira  e coletorias municipais), os Anais da Assembléia Legislativa da Província, a vasta literatura de viagem, dados estatísticos do início do período republicano, documentação censitária da década de 1830, os Relatórios dos Presidentes da Província e os cronistas, memorialistas e inquéritos municipais da segunda metade do dezenove pretende-se reconstituir as relações entre o Estado e os engenheiros, tropeiros e negociantes de derivados da cana, sobretudo de aguardente. Também serão discutidas aquelas características da agroindústria canavieira mineira que direta ou indiretamente relacionam-se com a atuação do governos provinciais e municipais, especialmente a diversificação produtiva das unidades, a desconcentração espacial da produção, a complexidade da rede de circulação dos derivados da cana e a natureza dos estabelecimentos e das formas de comercialização, notadamente da aguardente. Por último, ressaltar-se-á a cristalização e a longevidade do simulacro que caracterizou, e ainda caracteriza no presente, as relações entre o Estado e os produtores de aguardente, bem como suas conseqüências: opressão fiscal, sonegação e clandestinidade.

 

GODOY, Marcelo Magalhães. UMA PROVÍNCIA ARTESÃ – O universo social, econômico e demográfico dos artífices da Minas do oitocentos. Anais do XII ENCONTRO NACIONAL DA ABEP. Belo Horizonte: CEDEPLAR/UFMG, 2000.

RESUMO. Três são os propósitos essenciais deste trabalho: apresentar avaliação geral de vasto conjunto de dados demográficos e econômicos referentes à população de artífices da Província de Minas Gerais; colocar em discussão as opções de caráter metodológico, bem como as definições técnicas que orientaram o tratamento dos dados; inventariar uma série de possibilidades de exploração de informações históricas de natureza censitária. As listas nominativas de 1831/32 conformam o mais rico acervo de informações para o estudo da população das Minas do dezenove. Nesta investigação são colocados em paralelo dados provinciais, compreendendo toda a população das listas remanescentes (aproximadamente 400.000 indivíduos), dados para o setor ocupacional atividades manuais e mecânicas, abarcando toda a população de artífices (por volta de 70.000 indivíduos) e dados para cada um dos grupos ocupacionais que compunham este setor, definidos segundo as matérias-primas empregadas pelos oficiais. São analisadas as principais variáveis (sexo, condição social, idade, cor/qualidade e estado conjugal), também são examinadas a estrutura ocupacional e a estrutura da posse de escravos, os dados são recortados segundo a posição de arrolamento dos indivíduos em seus fogos (chefes/não-chefes), os domicílios são segmentados segundo a localização espacial (urbano/rural) e as listas são agrupadas segundo a distribuição dos distritos de paz pelas regiões da Província. Apreciação panorâmica dos resultados corrobora tendências interpretativas recentes, aquelas nas quais a diversidade regional é apresentada como a principal característica de Minas Gerais no oitocentos. São encontradas fortes evidências de importantes traços distintivos entre as características das populações e das organizações econômicas dos espaços rurais e urbanos. Delineiam-se vários elementos conformadores da identidade do setor ocupacional atividades manuais e mecânicas em relação ao conjunto da população provincial. Constata-se que o agrupamento dos artífices segundo a matéria-prima utilizada possibilita a compreensão de relevantes aspectos do exercício dos ofícios.

 

GODOY, Marcelo Magalhães. NO PAÍS DAS MINAS DE OURO A PAISAGEM VERTIA ENGENHOS DE CANA – Aguardente, escravidão, mercado interno e diversificação produtiva da fazenda mineira oitocentista. Comunicação apresentada no I SEMINÁRIO DE HISTÓRIA QUANTITATIVA E SERIAL, realizado no período de 30 de novembro a 1 de dezembro de 2000 em Ouro Preto, Minas Gerais. Publicação dos anais prevista para fevereiro de 2001.

RESUMO: Do zelo de centenas de magistrados que atenderam às solicitações de ofício da Presidência da Província de Minas Gerais, datado de 16 de junho de 1836, resultou documentação que provavelmente é inexcedível no gênero. Dispersos pelo vasto território mineiro, os diligentes juizes de paz realizaram trabalho cujo mais precioso legado foi a compilação desta que é, de longe, a mais extensa relação nominal de proprietários de engenho de cana para os períodos colonial e imperial brasileiros. Nos 295 documentos remanescentes, que perfazem 95% de todos os que efetivamente chegaram a Capital da Província, foram arrolados quase 2000 engenheiros de cana. Entretanto, o potencial informativo deste repertório documental resulta, fundamentalmente, de sua localização no tempo e, por decorrência, de sua posição intermediária entre dois recenseamentos populacionais, também nominais, realizados no princípio e final da década de 1830. A reconstituição dos proprietários de engenho de 1836 nas listas nominativas de 1831/32 e 1838/40 é a senha que dá visibilidade a uma atividade que normalmente passou despercebida ou foi mal dimensionada pelos pesquisadores do dezenove mineiro. O cruzamento das fontes possibilita o refinamento do conhecimento das unidades agrícolas com engenhos, permitindo verificar em que medida a diversificação produtiva era, de fato, traço indissociável da fazenda onde se elaboravam os subprodutos da cana, facilitando o dimensionamento da posição relativa do engenho no conjunto da unidade produtiva na qual estava inserido, viabilizando a avaliação do nível de associação da atividade com a escravidão, reunindo subsídios a testar a proposição de que a produção de derivados da cana estava preferencialmente orientada para o atendimento do mercado interno e franqueando o estudo de eventuais especificidades regionais. A identificação dos fogos dos engenheiros é o passaporte para o conhecimento de suas características sócio-demográficas e dos membros de seu domicílio, tornando exeqüível a determinação da composição dos proprietários de engenho segundo o sexo, idade, cor/qualidade e estado conjugal, facultando o estudo das características de suas famílias, permitindo dimensionar o tamanho e composição geral de seus fogos e combinando elementos para acompanhar a dinâmica, no tempo, dos mecanismos de repartição dos bens familiares. Desta forma, tenciona-se com este escrito a sistematização da metodologia que informou o trabalho com a documentação de 1836 e orientou sua articulação com os censos da década de 1830. Para tanto, segmentou-se o texto em oito partes conexas. Primeiro a contextualização do tema, os traços distintivos do cultivo e transformação da cana-de-açúcar em Minas Gerais no século XIX, contemplando também a circulação e comercialização dos derivados, bem como algumas características gerais da economia e sociedade mineira que direta ou indiretamente contribuíam para a conformação da identidade do setor canavieiro. Também nesta parte acompanha-se, de forma sintética, a evolução das políticas fiscais atinentes à atividade; percorre-se a legislação, confrontam-se orçamentos com receitas, avaliam-se os resultados da arrecadação, abordam-se os mecanismos de sonegação fiscal. Segue, na segunda parte, a apresentação das fontes. São focalizados o contexto em que foram produzidas as solicitações oficiais e realizado o recolhimento das informações, as determinações que orientaram o trabalho de campo, os objetivos ou motivações claramente explicitados ou que subjaziam à decisão de realizar as enquêtes, os agentes locais responsáveis pela coleta, a natureza dos dados solicitados e dos que efetivamente foram recolhidos. Apreciam-se, de forma panorâmica, os dados comuns que conferiam identidade a cada repertório documental, bem como a natureza das informações adicionais resultantes de características locais e regionais e, principalmente, da diferenciada dedicação dos responsáveis pela coleta. Na parte seguinte estão descritas, para as Relações de Engenhos e Casas de Negócio de 1836, as atividades de recolhimento das informações nas fontes manuscritas e sua transferência para meio eletrônico. Contempla-se também o longo e minucioso processo de codificação dos dados de 1836. Os ensaios de reconstituição são objeto da próxima parte. Apresenta-se o complexo roteiro que orientou o dilatado processo de cruzamento das fontes da década de 1830. São descritas e ilustradas as etapas percorridas até alcançar a reconstituição de centenas de engenheiros. Na quinta parte são relatadas as atividades desenvolvidas para a conformação, em meio eletrônico, dos bancos de dados. São apresentadas as variáveis do Banco de Dados Principal e dos três bancos complementares. A exposição do conteúdo, significado e potencial informativo das variáveis que compõem os bancos de dados é a matéria da sexta parte. Também são delineadas as etapas do tratamento estatístico, as freqüências e cruzamentos a serem processados. Apresenta-se roteiro para a articulação dos dados das diversas fontes da década de 1830 e as principais implicações metodológicas do tratamento, isolado ou combinado, de suas variáveis. Resultados preliminares compõem a sétima parte. São realizadas explorações panorâmicas do Banco de Dados Principal e de um dos bancos complementares. Mesmo sem ultrapassar a superfície dos dados, reafirma-se a proficuidade da articulação das fontes. Na última parte avalia-se a participação do cultivo e transformação da cana-de-açúcar na fazenda mineira. Reúnem-se fortes evidências de que a atividade figurava na pauta produtiva de expressiva parcela das unidades agrícolas escravistas. Consolida-se imagem segundo a qual os engenhos de cana definiam-se como componente indissociável da paisagem rural do dezenove mineiro.

 

GODOY, Marcelo Magalhães. Uma província artesã: o universo social, econômico e demográfico dos artífices da Minas do Oitocentos. XII Encontro Nacional de Estudos Populacionais (Caxambu, MG, outubro de 2000), Brasil, 500 anos:mudanças e continuidades, Anais de resumos e CD-ROM. Belo Horizonte, ABEP, 2000.

RESUMO. Três são os propósitos essenciais deste trabalho: apresentar avaliação geral de vasto conjunto de dados demográficos e econômicos referentes à população de artífices da Província de Minas Gerais; colocar em discussão as opções de caráter metodológico, bem como as definições técnicas, que orientaram o tratamento dos dados; inventariar uma série de possibilidades de exploração de informações históricas de natureza censitária. As listas nominativas de 1831/32 conformam o mais rico acervo de informações para o estudo da população das Minas do dezenove. Nesta investigação são colocados em paralelo dados provinciais, compreendendo toda a população das listas remanescentes (aproximadamente 400.000 indivíduos), dados para o setor ocupacional atividades manuais e mecânicas, abarcando toda a população de artífices (por volta de 70.000 indivíduos) e dados para cada um dos grupos ocupacionais que compunham este setor, definidos segundo as matérias- primas empregadas pelos oficiais. São analisadas as principais variáveis (sexo, condição social, idade, cor/qualidade e estado conjugal), também são examinadas a estrutura ocupacional e a estrutura da posse de escravos, os dados são recortados segundo a posição de arrolamento dos indivíduos em seus fogos (chefes/não-chefes), os domicílios são segmentados segundo a localização espacial (urbano/rural) e as listas são agrupadas segundo a distribuição dos distritos de paz pelas regiões da Província. A apreciação panorâmica dos resultados corrobora tendências interpretativas recentes, aquelas nas quais a diversidade regional é apresentada como a principal característica de Minas Gerais nos Oitocentos. São encontradas fortes evidências de importantes traços distintivos entre as características das populações e das organizações econômicas dos espaços rurais e urbanos. Delineiam-se vários elementos conformadores da identidade do setor ocupacional atividades manuais e mecânicas em relação ao conjunto da população provincial. Constata-se que o agrupamento dos artífices segundo a matéria-prima utilizada possibilita a compreensão de relevantes aspectos do exercício dos ofícios. 

 

GRAÇA FILHO, Afonso de Alencastro. Os convênios da carestia: crises, organização e investimentos do comércio de subsistência da Corte (1850-1880). Rio de Janeiro, UFRJ, Departamento de História - IFCS, mestrado, 1992, vi+305p. 
RESUMO. Este estudo vota-se à análise do comércio de abastecimento da cidade do Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX, compreendendo o período no qual se deram o auge e o declínio da cafeicultura fluminense. Na abordagem do setor comercial de subsistência foram privilegiados os aspectos organizacionais, de acumulação e investimento de capitais realizados por sua elite, situando-os na dinâmica sócio-econômica da província. A carestia de 1857 e as crises comerciais de 1864 e 1875 foram abordadas com o intuito de se lançar luz sobre o papel desempenhado pelo comércio de abastecimento na economia do Rio de Janeiro. Também foram consideradas suas relações com a estrutura financeira e creditícia, bem como sua participação na formação do sistema bancário e das companhias fabris no segundo Império.

 

LOVEJOY, PAUL E. Jihad e a escravidão: as origens dos escravos muçulmanos da Bahia. TOPOI: Revista de História, UFRJ, Viveiros de Castro Editora, n. 1, 2000, p. 11-44.

RESUMO. A configuração étnica da população baiana modificou-se bastante de fins do século XVIII para o século seguinte, quando povos islâmicos africanos tornaram-se comuns entre os escravos, em especial a partir dos grandes desembarques de cativos de fala Ioruba. As origens desses muçulmanos podem estar relacionadas ao contexto próprio das áreas interioranas da Baía de Benin e à jihad do Xeque Usman dan Fodio, fundador do Califado de Sokoto. Neste estudo o autor examina o material biográfico disponível, e procura oferecer subsídios adicionais acerca da comunidade muçulmana para, assim, se estabelecer mais claramente as ligações entre os padrões de resistência à escravidão na Bahia, que culminaram na insurreição Malê de 1835, e o movimento da jihad no interior da Baia de Benin.

 

MATTOS, Regiane Augusto de. A prática da alforria e o perfil do liberto nos testamentos paulistas do século XIX. XII Encontro Nacional de Estudos Populacionais (Caxambu, MG, outubro de 2000), Brasil, 500 anos:mudanças e continuidades, Anais de resumos e CD-ROM. Belo Horizonte, ABEP, 2000.

RESUMO. Apresentamos questões referentes à prática da alforria e o perfil do liberto na sociedade paulista do século XIX. Para tanto, foram utilizados como fonte 620 testamentos pertencentes ao Arquivo do Tribunal de Justiça de São Paulo (ATJSP)-3o. Ofício da Família referentes ao século XIX. Nosso trabalho divide-se em duas partes bem definidas. Na primeira, trabalhamos com a figura do escravo no discurso testamentário, adquirindo ou tendo reforçada a sua liberdade, na segunda, verificamos a presença do alforriado enquanto testador. Dessa maneira, acompanhamos as trajetórias de vida desses alforriados, percebendo como ocorria o processo de libertação desses indivíduos, o papel que desempenharam em tal processo, quais eram as condições propiciadas para estes alcançarem a alforria e, mais adiante, como estes escravos, agora libertos, apresentavam-se na sociedade, qual era o seu lugar nesta última, quem fazia parte das suas relações e como se comportavam perante a instituição escravista. 

 

MOTTA, José Flávio & MARCONDES, Renato Leite. A família escrava em Lorena e Cruzeiro (1874). XII Encontro Nacional de Estudos Populacionais (Caxambu, MG, outubro de 2000), Brasil, 500 anos:mudanças e continuidades, Anais de resumos e CD-ROM. Belo Horizonte, ABEP, 2000.

RESUMO. Estudamos a família em início da década de 1870. Baseamo-nos na Lista de Classificação dos Escravos para Emancipação referente a Lorena e Cruzeiro (Vale do Paraíba, SP). Comparamos os dados dessa fonte com os da matrícula de escravos e com os do Recenseamento Geral do Império, ambos de 1872. Confrontamos também tais informes com a situação de Lorena em 1801. observamos a expressiva presença das famílias escravas e o aumento no tempo dos vínculos não legitimados pela Igreja. Analisamos, em especial, os casais, as mães e os filhos (escravos ou ingênuos). Por  força da legislação vigente, os escravistas mostrar-se-iam mais contrários às uniões religiosas entre seus cativos, o que não implica, necessariamente, maior resistências às famílias que, legitimadas ou não, eram ainda, amiúde, fator importante para o aumento dos plantéis. 

 

NADALIN, Sergio Odilon & GALVÃO, Rafael Ribas. Bastardia e ilegitimidade: murmúrios dos testemunhos paroquiais durante os séculos XVIII e XIX (nota prévia). XII Encontro Nacional de Estudos Populacionais (Caxambu, MG, outubro de 2000), Brasil, 500 anos:mudanças e continuidades, Anais de resumos e CD-ROM. Belo Horizonte, ABEP, 2000.

RESUMO. A proposta da comunicação está relacionada à necessidade de aprofundar análises críticas a respeito dos registros paroquiais, fontes privilegiadas para estudos de história social e demográfica. As questões que a norteiam concernem à relação entre as normas legais e as ações dos vigários do passado brasileiro. Assim, enfocando em especial os registros de batismos, e com ênfase nos nascimentos tidos como "ilegítimos", pretendemos ampliar questões relacionadas, por exemplo, à atitude dos vigários em relação aos seus paroquianos. Ou seja, tendo à frente as "Constituições do Arcebispado da Bahia", em que medida todos liam da mesma forma seu conteúdo e executavam da mesma maneira suas ordenações? No nosso horizonte, delineia-se o objetivo de contribuir para a melhoria da comparabilidade, no tempo e nas diversas regiões brasileiras, dos números extraídos dos registros paroquiais. E, de modo igual, aprofundar reflexões relacionadas ás possibilidades de informações de caráter "qualitativo", a partir da perquirição deste tipo de fonte.

 

PERARO, Maria Adenir. A imigração para Mato Grosso no século XIX - mulheres paraguaias: estratégias e sociabilidades. XII Encontro Nacional de Estudos Populacionais (Caxambu, MG, outubro de 2000), Brasil, 500 anos:mudanças e continuidades, Anais de resumos e CD-ROM. Belo Horizonte, ABEP, 2000.

RESUMO. Estudamos a imigração paraguaia dirigida à Província de Mato Grosso no pós-guerra. Centramos atenção especial nas estratégias utilizadas por parte dos paraguaios, particularmente por parte das mulheres, para poder sobreviver à guerra e à sua inserção na  cidade de Cuiabá. Os recenseamentos de 1872 e 1890 constituem as fontes principais de pesquisa. Dentre os primeiros resultados observamos que o impacto da guerra do Paraguai não impediu que essas mulheres, jovens ou idosas, solteiras ou viúvas, reconstituíssem suas vidas em um espaço social diferenciado e preservassem suas características culturais.   

 

TEIXEIRA, Heloísa Maria. Reprodução e famílias escravas em Mariana - 1880/1888. XII Encontro Nacional de Estudos Populacionais (Caxambu, MG, outubro de 2000), Brasil, 500 anos:mudanças e continuidades, Anais de resumos e CD-ROM. Belo Horizonte, ABEP, 2000.

RESUMO. Esta apresentação resulta das primeiras impressões acerca de nossa pesquisa que analisa a reprodução e as famílias escravas em Mariana no período de 1880 a 1888. Nessa primeira amostragem, obtida através da análise quantitativa dos inventários post-mortem entre 1880 e 1888, encontramos uma população jovem em sua maioria, sendo os plantéis formados predominantemente por nativos inseridos em laços familiares. A pesquisa orienta-se na direção da corrente historiográfica que defende a reprodução natural como forma significativa de garantir a continuidade do sistema escravista. Não há como duvidar da contribuição da reprodução natural para a manutenção do sistema escravista no momento que antecede a abolição. Encontramos elevados índices de filiação conhecida nas diferentes faixas etárias, além de percebermos, principalmente entre os mais jovens, um grande número de indivíduos frutos da reprodução endógena. Essa informação nos indica a mudança de política adotada para o plantel. O tráfico interno mostrava-se cada vez menos representativo na formação/manutenção dos plantéis enquanto a reprodução natural crescia em importância. Nem mesmo a instituição da lei que garantia a liberdade para os filhos de escravas nascidos após 1871 parece ter sido empecilho para a manutenção da mão-de-obra dos plantéis, visto que os senhores tinham o direito de utilizá-los até que completassem vinte e um anos. 

 

TERUYA, Marisa Tayra. A família na historiografia brasileira, bases e perspectivas de análise. XII Encontro Nacional de Estudos Populacionais (Caxambu, MG, outubro de 2000), Brasil, 500 anos:mudanças e continuidades, Anais de resumos e CD-ROM. Belo Horizonte, ABEP, 2000.

RESUMO. A história da família, que no início da década de 70 com contornos mal definidos e freqüentemente confundida com o que poderia ser considerado alguma de suas partes, chegou aos anos 90 renovada, movimentando-se de uma visão limitada da família como uma unidade estática no tempo, para ser examinada como um processo ao longo da vida inteira de seus membros. O estudo da família brasileira está vinculado a dois posicionamentos conceituais específicos: um primeiro, que se projeta a partir do modelo de família patriarcal como sendo um modelo a-histórico e um segundo, em que este modelo é revisto. Este trabalho pretende acompanhar as transformações entre os dois momentos citados, realizando um balanço teórico sobre as pesquisas na área da história da família no Brasil ao longo do século XX e ao mesmo tempo propor novas abordagens para o tema. 

 

TRINDADE, Jaelson Bitran. Demografia de povoamento. XII Encontro Nacional de Estudos Populacionais (Caxambu, MG, outubro de 2000), Brasil, 500 anos:mudanças e continuidades, Anais de resumos e CD-ROM. Belo Horizonte, ABEP, 2000.

RESUMO. Trazemos à discussão o problema do estudo de uma demografia de colonização (do século XVI a meados do XVIII) relativa ao território do atual Estado de São Paulo (antiga capitania de São Vicente, depois capitania de São Paulo) e examinamos, criticamente, o potencial que oferecem os estudos genealógicos, tomando por base a grande obra em nove volumes denominada Genealogia Paulistana, editada no começo deste século (1903-1905), de autoria de Luis Gonzaga da Silva Leme. Durante anos, Silva Leme vasculhou todo aquele conjunto de fontes que ultimamente o Núcleo de Estudos da População da Universidade do Minho aborda para realizar -- como alternativa a estudos globais de agrupamentos sociais em nível local, regional e nacional, na ausência das listas nominativas e censos de população, o que se verifica, em Portugal, para os anos anteriores a 1864 -- o que denomina de "Reconstituição de Paróquias": inventários, testamentos e registros paroquiais. Evidentemente, na metodologia desenvolvida pelos investigadores do Minho, rigorosa em termos de formação sistemática de bases de dados, os objetivos, o método, as condições, são diferentes daqueles que condicionaram a elaboração da Genealogia Paulista  e, por outro lado, o leque de fontes ampliou-se procurando-se, ainda, o cruzamento de dados coletados em passaportes, fontes fiscais, livros de registros de mesteres etc. A vantagem do brilhante esforço do genealogista Silva Leme está em que, estabelecendo-se a crítica pertinente, oferece, de pronto, um ponto de partida para um projeto da mesma natureza que o desenvolvido pela Profa. Norberta Amorim e seus colegas e que, evidentemente, forçará a intercâmbios com as bases de dados minhotas, pois que a origem dos colonos de São Paulo, bem como os fluxos migratórios Reino-Colônia são perceptíveis na Genealogia Paulistana. A Genealogia Paulistana é apenas um estudo das elites? Creio que não, ainda que se desenvolva a partir dos tais 52 troncos  fundadores, ainda que deixe de fora as populações escravas, nativas ou afro-negras e os bastardos despossuídos que povoaram a terra; o evolver dessas famílias no espaço e no tempo histórico e social, apontam para situações diferenciadas na hierarquia social e nas relações de poder do que vem sendo chamado de "antigo regime". 

 

TROITIÑO RODRIGUEZ, Sonia Maria. Números da bastardia: os ilegítimos nos testamentos paulistas oitocentistas. XII Encontro Nacional de Estudos Populacionais (Caxambu, MG, outubro de 2000), Brasil, 500 anos:mudanças e continuidades, Anais de resumos e CD-ROM. Belo Horizonte, ABEP, 2000.

RESUMO. Expomos algumas informações referentes aos resultados alcançados pelo projeto de pesquisa Família e estratégias de transmissão do legado: os ilegítimos nos Testamentos paulistas do século XIX, que teve por objetivo estudar o papel ocupado pelos filhos ilegítimos na sociedade paulista do Oitocentos. Nesse sentido, dirigimos nosso foco de atenção ao âmbito familiar, abordando, em especial, questões referentes à transmissão do legado e à participação dos herdeiros nesse processo. Com este propósito, utilizamos como fonte documental, basicamente, os Testamentos paulistas oitocentistas pertencentes ao Arquivo do Tribunal de Justiça de São Paulo e a legislação da época: o Código Philippino, além do Tratado de Testamentos e Sucessões, cuja edição data de 1881. Verificamos que a bastardia aparece como fenômeno importante dentro da composição da sociedade brasileira. Reconhecer publicamente um filho ilegítimo e instituí-lo como herdeiro é mais do que, simplesmente, transmitir bens. Significa inserir este ilegítimo no campo pertencente à família, restrito apenas às relações de consangüinidade legítima ou de afinidade, que estruturavam a rede de solidariedade necessária à sobrevivência. 

 

TUPY, Ismênia Spínola Silveira Truzzi. A demografia histórica e o estudo da condição feminina no Brasil. XII Encontro Nacional de Estudos Populacionais (Caxambu, MG, outubro de 2000), Brasil, 500 anos:mudanças e continuidades, Anais de resumos e CD-ROM. Belo Horizonte, ABEP, 2000.

RESUMO. Parte de uma pesquisa mais ampla -- Saindo de Casa. Trajetória Feminina na Busca de Identidade Social. São Paulo, 1872/1970 --, esta comunicação tem por objetivo contribuir para a realização de um balanço historiográfico sobre o estudo da condição feminina no Brasil e, em particular, enfatizar a contribuição da Demografia Histórica no conjunto desta produção, reconhecendo que ela vem sustentando uma extensa linha de pesquisa voltada para a apreensão da imensa gama de papéis desempenhados pelas mulheres. Trata-se, portanto, de apresentar resultados parciais de pesquisa bibliográfica que, tendo a mulher com objeto precípuo de análise, recuperam o momento de sua desvinculação dos estudos sobre a família brasileira e especificam, entre outras, relações de gênero no contexto da imigração, no mundo do trabalho e que ainda abordam a sexualidade feminina, notadamente em sua forma ilícita (o meretrício), e também seu papel como chefes de domicílio. 

 

VALENTIN, Agnaldo. Estrutura domiciliar e posse de Escravos em Apiaí, 1732 a 1798. XII Encontro Nacional de Estudos Populacionais (Caxambu, MG, outubro de 2000), Brasil, 500 anos:mudanças e continuidades, Anais de resumos e CD-ROM. Belo Horizonte, ABEP, 2000.

RESUMO. Há poucas notícias sobre as atividades mineratórias na Capitania de São Paulo ao longo do século XVIII. No presente estudo investigamos uma localidade, Santo Antônio das Minas de Apiaí, que conheceu dois surtos extrativistas no Setecentos: o primeiro, no início da década de 1730, surgiu como resultado do refluxo na lide mineratória no arraial de Paranapanema. O segundo, impelido pelo descoberto denominado "Morro do Ouro", datado da primeira metade da década de 1770, perduraria até o final daquele século. O evolver populacional durante o primeiro período pôde ser reconstituído a partir de documentos que serviram para o controle da arrecadação tributária -- o imposto de capitação -- depositados no Arquivo do Estado de São Paulo. A partir de 1765, utilizou-se dos informes fornecidos pelos Maços de População, abarcando assim a segunda ocorrência aurífera. Acompanha-se, pois, ao  longo de cerca de sete décadas, a composição domiciliar e a estrutura de posse de escravos de Apiaí, enfocando os dois momentos de maior dinâmica populacional e os respectivos períodos que os seguiram. A pequena magnitude dos veios impingiu características marcantes nos dois momentos posteriores aos de maior intensidade exploratória, porém com acentos distintos. Os resultados apresentados evidenciam que a primeira fase foi marcada pela significativa presença de fogos singulares e pela disseminação da posse de escravos -- praticamente metade desses domicílios tinham escravos, integrando principalmente pequenos e médios plantéis. No segundo período mineratório, nota-se a convivência de mineradores e moradores já arraigados na região, compondo assim um perfil peculiar: de um lado, apiaienses não-escravistas, a conformar unidades domiciliares simples, em especial casais com filhos, de outro, mesclavam-se escravistas coevos da fundação da vila (1771) e novos proprietários, atraídos pela ocorrência do referido "Morro do Ouro", estabelecendo uma distribuição de posse escrava mais concentrada que a verificada na primeira fase. 

 

VASCONCELLOS, Márcia Cristina Roma de. Nas bênçãos de Nossa Senhora do Rosário: relações familiares entre escravos em Mambucaba, Angra dos Reis, 1830 a 1881. Niterói, UFF, dissertação de mestrado, 2001, mimeografado.

RESUMO. Nessa dissertação buscamos contribuir para os estudos de família escrava no Brasil, investigando os laços familiares entre escravos da freguesia de Nossa Senhora do Rosário de Mambucaba, Angra dos Reis (RJ), entre 1830 e 1881. Apresentamos um quadro demográfico, econômico e social da freguesia e suas relações com o Vale do Paraíba. Verificamos de que forma os cativos se organizaram e se adaptaram ao contexto em estudo, caracterizado por um processo de transformação sócio-econômica na localidade. Por fim, constatamos a dificuldade por parte dos escravos em se unirem em matrimônio e, conseqüentemente, o aumento de relações não consagradas pela Igreja, a substituição de padrinhos e madrinhas livres por padrinhos e madrinhas escravos e a formação de uma comunidade escrava que ultrapassava os limites das propriedades.

 

 

Notícia Bibliográfica

 

 

 

GUEDES, Marymarcia & BERLINCK, Rosane de Andrade (orgs.). E os preços eram commodos...: anúncios de jornais brasileiros, século XIX. São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP, 2000, 465 p. (Série Diachronica: Fontes para  História da Língua Portuguesa, 2).

 E OS PREÇOS ERAM COMMODOS ... reúne material lingüístico que faz parte do Corpus diacrônico do Projeto Interinstitucional Para a História do Português Brasileiro (PHPB). Na constituição desse grande corpus, o Projeto visa a abranger todos os períodos da formação da língua e contemplar uma gama variada de tipos de textos que sirvam de subsídio para o estudo da história da língua portuguesa no Brasil. A busca de fontes inéditas para a análise lingüística em manuscritos, oficiais e particulares, e em textos publicados na imprensa, cujas primeiras manifestações datam do início do século XIX, constitui um dos principais objetivos do Projeto. Neste volume encontramos o primeiro resultado desse levantamento, centrado em um tipo específico de material lingüístico: os anúncios de jornais brasileiros publicados no século XIX. A opção por esse tipo de material justifica-se na medida em que os anúncios constituem uma modalidade escrita que muito se aproxima da modalidade falada.
Além das características inerentes aos textos, esse material também fornece, algumas vezes, informações sobre sua procedência -- quem são seus destinatários e seus emissores --  e, ainda, torna possível vislumbrar, pelo tipo de anúncio transcrito, aspectos da história social que caracterizava o século XIX. Muitas vezes, ainda, os jornais fornecem informações sobre seus redatores e seus proprietários, sua periodicidade, a quantidade de exemplares produzidos, dados que também permitem avaliar a realidade sócio-econômica das cidades onde os jornais circulavam.
Os anúncios coletados provêm de jornais publicados nos Estados da Bahia, de Minas Gerais, do Paraná, de Pernambuco, do Rio de Janeiro, de Santa Catarina e de São Paulo. Nestes Estados as pesquisas estenderam-se a algumas das cidades existentes no século XIX, contemplando, quando possível, tanto as cidades interioranas como as capitais. O jornal o mais antigo é a Gazeta do Rio de Janeiro, de 1808 e os mais recentes são O Liberalista (RJ), o Correio de Notícias (Bahia), e A Notícia (SP), todos de 1899. Dos 70 jornais pesquisados foram recolhidos 1.643 anúncios de natureza diversa: propaganda de elixires; venda de artigos carnavalescos; fuga, venda e compra de escravos; venda de manuais da Língua Portuguesa; procura de emprego por professores; abertura de matrículas em escolas particulares e centenas de outros tipos de anúncios.
A riqueza do material aqui reunido fará a delícia dos pesquisadores "garimpeiros", como sugere o anúncio: Monographia da Letra -A-/ Regras faceis para a exacta accentoação da prepositiva -A- quando contraida com o adjectivo articular -A-./ Por Thomaz Galhardo./ Á venda nas principaes livrarias. Município de Araraquara, 28/12/1884.

 

 

 

Publicações Recebidas

 

 

PASSOS SUBRINHO, Josué Modesto dos. Reordenamento do trabalho: trabalho escravo e trabalho livre no nordeste açucareiro, Sergipe 1850-1930. Aracaju, Funcaju, 2000, 487 p.

 

 

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fone: (0xx79) 212-6406

fax: (0xx79) 212-6474

 

 

Notícias e Informes

 

VERSIANI, Flávio Rabelo & VERGOLINO, José Raimundo. Escravos e estrutura da riqueza no agreste pernambucano, 1770-1887. Comunicação apresentada no XXVIII Encontro Nacional da ANPEC, Campinas (SP), 12 a 15 de dezembro de 2000.

 

Comunicações apresentadas no I Seminário de História Quantitativa e Serial promovido pela ANPUH-MG, Ouro Preto, novembro/dezembro de 2000.

 

ANDRADE, Cristiana Viegas de. Caracterização dos domicílios mineiros oitocentistas de acordo com o sexo da chefia.

RESUMO. Este trabalho visa a contribuir para o estudo da família brasileira mediante a caracterização dos domicílios mineiros do Oitocentos a partir do estudo daqueles que os chefiavam. Assim, o estudo visa a caracterizar os domicílios chefiados por homens e os chefiados por mulheres, através da observação das variáveis estado conjugal, cor/origem, tamanho do domicílio e “riqueza”. Desta forma, serão expostas as diferenças e similitudes entre os domicílios chefiados por cada um dos sexos, propiciando um melhor entendimento da organização social na Província, bem como a visualização de organizações domiciliares não patriarcais. Trata-se de um estudo de caráter embrionário, que objetiva a caracterização descritiva dos domicílios, constituindo uma primeira etapa de uma investigação que resultará em uma dissertação. Os dados utilizados para a execução deste trabalho são provenientes das listas nominativas da Província de Minas Gerais de 1831/1832, documentos manuscritos, elaborados pelos distritos de paz, contendo relações nominais de habitantes presentes nos anos citados. 

 

ASSIS, Marcelo Ferreira de. A influência do tráfico de africanos sobre a taxa de mortalidade escrava: os registros de óbitos de Saquarema (RJ), 1774-1819.

 

BACELLAR, Carlos de Almeida Prado. Recuperando sociabilidades no passado.

 

BARRETO, Daniela Santos. Um sujeito da cidade: o estatuto social dos artesãos no Rio de Janeiro (c.1690-c. 1740).

 

BOTELHO, Tarcísio Rodrigues. A escravidão nas Minas Gerais, c. 1720.

RESUMO. A partir das listas de proprietários de escravos para pagamento dos quintos reais, pretendo tecer algumas considerações sobre a escravidão nos primórdios das Minas Gerais. Para tanto, inicio com uma discussão sobre esta fonte, dizendo da sua finalidade original, das condições de sua produção e  das potencialidades e limites de seu uso. Em seguida, traço um painel da propriedade em escravos e caracterizo os proprietários destes cativos. Finalmente, volto o estudo para uma das regiões mineradoras, observando o comportamento da propriedade em escravos ao longo de alguns anos.

 

CARRARA, Angelo Alves. Clio e os números.

 

FRAGOSO, João & GUEDES, Roberto. Alegrias e artimanhas de uma fonte seriada. Os códices 390, 421, 424 e 425: despachos de escravos e passaportes da Intendência da Polícia da Corte, 1819 – 1833, (Primeira Versão).

 

GRAÇA FILHO, Afonso de Alencastro. Fontes para a história do comércio de Minas Gerais: S. João del Rei (1831-1888).

 

HAMEISTER, Martha Daisson. As informações do registro de Curitiba, a passagem das tropas vindas do sul e a importância dos gados (1751, 1769, 1770 e 1771).

 

LIBBY, Douglas Cole. Minas na mira dos brasilianistas: reflexões sobre os trabalhos de Higgins e Bergad.

RESUMO. No ano passado, apareceram três obras de maior envergadura sobre Minas e elaboradas por brasilianistas: a Pennsylvania State University Press lançou “Licentious Liberty” in a Brazilian Gold-mining Region: Slavery, Gender, and Social Control in Eighteenth-century Sabará, Minas Gerais, de Kathleen J. Higgins; a venerável Cambridge University Press, dentro de sua importante série Cambridge Latin American Studies, publicou Slavery and the Demographic and Economic History of Minas Gerais, Brazil, 1720-1888, de Laird W. Bergad e a University of Nebraska Press publicou Power, Patronage, and Political Violence: State Building on a Brazilian Frontier, 1822-1889, de Judy Bieber.  A pedido dos organizadores deste Seminário, procuro aqui avaliar as contribuições de Higgins e Bergad aos estudos da História das Minas Gerais.

 

MARQUES, Cláudia Eliane Parreiras. Dimensão material e patrimônio no segundo reinado: Bonfim/Minas Gerais.

RESUMO. Analisamos alguns aspectos relacionados à dimensão material e o patrimônio da sociedade na província de Minas Gerais. Para isso focalizamos o estudo no distrito de Bonfim, situado no Vale do Alto-Médio Paraopeba. Sua origem remonta ao século XVIII, quando o ouro de aluvião podia ser extraído com certa facilidade. No entanto, o que deu identidade a Bonfim e às demais localidades do referido Vale foi a agricultura e a pecuária. Tais atividades consolidaram os arraiais, vilas e cidades que passaram a exportar o excedente para a capital da Província, Sabará, Rio de Janeiro e outros lugares. A partir de um banco de dados, composto de 210 inventários post-mortem, buscamos entender como o patrimônio das famílias escravistas estava distribuído ao longo do Segundo Reinado. Entre as questões relacionadas ao tema geral destaca-se a derrocada da economia com a Lei Áurea, o apego dos mineiros à escravidão e a dimensão material da sociedade na segunda metade do século XIX. Consideramos por dimensão material todos os bens (móveis, imóveis, semi-moventes) arrolados nas fontes cartoriais tais como: utensílios domésticos e profissionais, mobiliário, indumentária, livros, objetos pessoais, jóias, instalações (engenhos, moinhos, monjolos, tendas de ferreiro etc), casas, fazendas, benfeitorias e, por fim, os escravos.

    

MARTINS, Maria do Carmo Salazar. Fontes para o estudo da Província de Minas Gerais.

 

SAMPAIO, Antonio Carlos Jucá de. Características gerais da economia fluminense na primeira metade do século XVIII.

RESUMO. Neste texto buscamos desenhar os traços gerais da economia fluminense durante a primeira metade do século XVIII. Este período é caracterizado, segundo a unanimidade de nossa historiografia, por grandes transformações advindas da descoberta de ouro no interior da América Portuguesa. Não há dúvidas de que tais transformações acabaram por se refletir na capitania fluminense, que dividiu com a Bahia o papel de abastecedora de mercadorias e escravos para as áreas mineradoras. Há uma evidente carência de pesquisas que nos apontem mais claramente de que forma a ampliação do mercado consumidor, gerado pelo povoamento das Minas Gerais, afetou a economia da capitania fluminense. É exatamente essa lacuna que buscaremos começar a preencher aqui.

 

VENÂNCIO, Renato Pinto. Improvisando a Sobrevivência: 'pobreza estrutural' e  'pobreza conjuntural' no Rio de Janeiro, 1750-1808.  

 

 

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