BOLETIM DE HISTÓRIA DEMOGRÁFICA
Ano XI, no. 32, maio de 2004
SUMÁRIO
Para Clóvis Moura, in memoriam
Dedicamos este número do BHD à memória de um incansável estudioso dos problemas do negro no Brasil, a ele também ficamos a dever o Dicionário da escravidão negra no Brasil, a ser brevemente lançado pela Edusp. Pensando justamente nessas contribuições de caráter geral, estampamos uma modesta apostila que versa sobre algumas das séries temporais referentes à taxa de câmbio vigente no Brasil nos séculos XIX e XX e noticiamos o lançamento do magnífico CD-ROM que traz os resultados do levantamento agrícola efetuado em 1904-1905 no Estado de São Paulo. Apontamos, ademais, as publicações mais recentes efetuadas em nossa área de especialização.
NOZOE,
N.; VALENTIN, A.; MOTTA, J. F.;COSTA, I. N. da; ARAÚJO, M. L. V. &
LUNA, F. V. Brasil: breves comentários sobre algumas séries referentes à taxa
de câmbio.
RESUMO. Nesta nota, além de indicarmos algumas das séries concernentes à taxa
de câmbio que vigorou no Brasil no correr dos séculos XIX e XX, procuramos
qualificá-las de sorte a identificar quais são as mais confiáveis. Tal
confiabilidade prende-se, estritamente, à mera comparação entre as séries
disponíveis, pois não as submetemos a nenhum tipo de teste que fosse além do
simples confronto. Para ler a versão completa deste
artigo:
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GODOY,
Marcelo Magalhães. No país das minas de ouro a paisagem vertia engenhos de
cana e casas de negócio: um estudo das atividades agroaçucareiras tradicionais
mineiras, entre o Setecentos e o Novecentos, e do complexo mercantil da
província de Minas Gerais. São Paulo, FFLCH da USP, tese de doutorado,
2004, mimeografado.
RESUMO. A tese inscreve-se nos campos temáticos do comércio e da produção de
derivados de cana-de-açúcar. Os desenvolvimentos do primeiro campo convergem
para a caracterização das atividades mercantis da província de Minas Gerais.
Os do segundo estão direcionados para o evolver histórico das atividades
agroaçucareiras tradicionais mineiras de sua implantação, no início do
Setecentos, a sua configuração atual, final do Novecentos. Para além de
integrados ao mesmo espaço e, em parte, ao mesmo tempo, os temas encontram-se
na comum inserção no universo das atividades orientadas para o mercado interno
brasileiro, no problema do abastecimento dos mercados regionais mineiros e no
processo de substituição de importações que marcou a história de Minas nos
séculos XVIII e XIX. Do ponto de vista documental, as unidades temáticas
figuram associadas à tradição fiscal que discriminou a produção,
circulação e comercialização de derivados de cana, notadamente a aguardente.
O comércio do Oitocentos é estudado com ênfase, por um lado, nas
articulações com o comércio colonial, mormente os fortes condicionamentos
estruturais definidos pela específica natureza da economia do ouro e dos
diamantes, por outro, nas determinações da economia mineira provincial. Na
investigação das atividades agroaçucareiras é conferida especial
importância à demonstração: 1. da existência de dois paradigmas a
sintetizar a evolução histórica dos espaços canavieiros das Américas; 2. da
insuspeitada magnitude alcançada nos quadros do setor canavieiro do Brasil; 3.
da persistência, no tempo longo da história, de multifacetadas dimensões
econômicas, técnicas, sociais e culturais. Sete conjuntos de fontes primárias
sustentam os principais movimentos da pesquisa: Mapas de Engenhos Aguardenteiros
e Casas de Negócios de 1836, Censo Populacional de 1831/32, documentação da
Mesa das Rendas Provinciais, relatos de viajantes estrangeiros, anúncios em
periódicos oitocentistas, registros iconográficos e depoimentos orais de
atuais produtores.
GRAHAM,
Richard. Nos tumbeiros mais uma vez? O comércio interprovincial de escravos no
Brasil. Afro-Ásia, Centro de Estudos Afro-Orientais - CEAO da FFCH-UFBa,
n. 27, 2002, p. 121-160.
RESUMO. Baseando-se em fontes secundárias, o autor faz um resumo do que se sabe
acerca do comércio interprovincial de escravos, passando do geral para os casos
de escravos específicos.
MAESTRI,
Mário. O cativo e a fazenda pastoril sul-rio-grandense. In: MAESTRI, Mário. Deus
é grande, o mato é maior! História, trabalho e resistência dos trabalhadores
escravizados no Rio Grande do Sul. Passo Fundo, Universidade de Passo Fundo
- Editora Universitária, 2002, Capítulo III, p. 85-121, (Coleção Malungo,
5).
RESUMO. O autor demonstra a presença expressiva do escravismo na formação da
economia do Rio Grande do Sul.
MAESTRI,
Mário. Considerações sobre a demografia do trabalhador escravo sulino. In:
MAESTRI, Mário. Deus é grande, o mato é maior! História, trabalho e
resistência dos trabalhadores escravizados no Rio Grande do Sul. Passo
Fundo, Universidade de Passo Fundo - Editora Universitária, 2002, Capítulo V,
p. 153-166, (Coleção Malungo, 5).
RESUMO. São contemplados vários elementos demográficos e econômicos
(entradas e saídas, presença de crianças, preços médios etc.) atinentes aos
cativos deslocados para o Rio Grande do Sul.
MAESTRI,
Mário. Considerações sobre as origens dos afro-gaúchos. In: MAESTRI, Mário.
Deus é grande, o mato é maior! História, trabalho e resistência dos
trabalhadores escravizados no Rio Grande do Sul. Passo Fundo, Universidade
de Passo Fundo - Editora Universitária, 2002, Capítulo VI, p. 167-179,
(Coleção Malungo, 5).
RESUMO. O autor efetua pesquisa sobre a área de origem dos escravos africanos
deslocados para o Rio Grande do Sul.
MOTA,
Lúcio Tadeu. As colônias indígenas no Paraná provincial. Curitiba,
Aos Quatro Ventos, 2000.
RESUMO. A expressão "colônias indígenas" parece uma contradição
em termos. Mas é justamente esta a expressão que melhor sintetiza uma página
praticamente esquecida da história não apenas do Paraná mas do Império. As
colônias indígenas constituíam verdadeiros campos de mediação entre os
múltiplos interesses envolvidos na disputa pelas terras do sertão que,
paulatinamente, se transformavam em território paranaense.
MOTTA,
José Flávio & NOZOE, Nenson H. & COSTA, Iraci del Nero da. Às
vésperas da abolição: um estudo sobre a estrutura da posse de escravos em
São Cristóvão (RJ), 1870. Revista Estudos Econômicos. São Paulo,
IPE-USP, 34(1):157-213, jan./mar. 2004.
RESUMO. Neste artigo, além de retomarmos os resultados que embasaram o estudo
intitulado A posse de escravos em uma paróquia fluminense: São Cristóvão
(RJ), 1870, estabelecemos confrontos originais entre os dados concernentes à
paróquia de São Cristóvão e aqueles referentes a outras localidades
brasileiras distanciadas tanto no tempo como no espaço geográfico; assim
operamos com vistas a aprofundar e alargar o conhecimento relativo às
estruturas demo-econômicas que enformaram a sociedade escravista brasileira.
Destarte, a matéria deste estudo apresenta-se distribuída, basicamente, em
duas partes. Na primeira, explicita-se a estrutura da posse de escravos de São
Cristóvão com base em levantamento populacional efetuado em 1870, quando essa
freguesia já integrava o perímetro urbano da cidade do Rio de Janeiro. Os
resultados apresentados, representam, pois, um recorte de como se revelava a
referida estrutura às vésperas da Abolição em um centro urbano dos mais
dinâmicos do Império. Esses resultados reafirmam o padrão estabelecido pela
historiografia com respeito ao escravismo brasileiro: forte presença de
escravistas de porte modesto ¾ 79% deles, com até 5 escravos, detinham 46% do
total de cativos ¾, difusão relativamente ampla da instituição ¾ em cerca
de 25% dos fogos havia escravos ¾ e inexistência de uma forte concentração
na posse de cativos ¾ o que se corrobora pelo índice de Gini (0,46). Os
valores da média (3,8), moda (1) e mediana (3) atestam o predomínio das posses
de pequeno porte. Em suma, o escravismo parece apresentar em seus momentos
finais, para o caso de São Cristóvão, o mesmo perfil básico que já se
desenhava, no início do século XVIII, nos mais diversos pontos do território
brasileiro. Já na segunda parte, efetuamos uma série de confrontos entre os
dados concernentes a São Cristóvão e os que, colhidos em vários outros
estudos, dizem respeito à estrutura de posse de cativos observada em diversos
núcleos localizados em distintos pontos geográficos do Brasil e considerados
em diferentes momentos do tempo. Preocupou-nos, aqui, essencialmente,
estabelecer as semelhanças e disparidades existentes entre os variados
conjuntos de dados analisados. Nosso intuito nesta segunda parte foi, pois,
duplo. De um lado procuramos situar São Cristóvão no universo do escravismo
brasileiro; de outro, perseguimos o conhecimento mais largo e profundo das
estruturas demo-econômicas que enformaram nossa sociedade escravista. Para
ler a versão completa deste artigo:
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ABSTRACT. The first part of this paper shows the slaveholding structure in São
Cristóvão in 1870, when that parish already belonged to the urban perimeter of
the capital city of Rio de Janeiro. Thus that structure can be seen on the eve
of Abolition in one of the most dynamic urban centers of the Empire. The results
validate the pattern of Brazilian slavery determined by historiography: a great
weight of the small slaveholders, the institution of slavery was relatively
widespread and slaveholding was not strongly concentrated. The case in focus
shows the same basic characteristics of slavery seen since the early 1700s in
different parts of Brazil. In the second part, our results are compared to those
of several other studies of various localities examined in different moments,
showing the similarities and differences observed. On the one hand, São
Cristóvão is situated in the universe of Brazilian slavery; on the other, we
seek a more wide and profound knowledge of the demo-economic structures of our
slave society.
NAPOLITANO, Minisa Nogueira. A sodomia feminina na Primeira Visitação do Santo Ofício ao Brasil. História Hoje: revista eletrônica de história, vol. 1, n. 3, março de 2004,
< http://www.anpuh.uepg.br/historia-hoje/vol1n3/vol1n3.htm >
RESUMO. Esse trabalho trata das relações sexuais entre mulheres perseguidas pela Inquisição durante a Primeira Visitação do Santo Ofício ao Brasil. A autora analisou as Ordenações Filipinas e as Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia, que eram o conjunto de leis que vigoravam naquela época, e percebeu que elas não explicam de que forma poderia se dar a sodomia, praticada entre homens ou entre mulheres e até mesmo entre um homem e uma mulher. A discussão deste tema permite uma compreensão melhor de como a sociedade colonial se defrontava com as relações sexuais quando se tratava de pessoas do mesmo sexo e, principalmente, quando essas relações restringiam-se apenas ao gênero feminino.
NUNES,
Neila Ferraz Moreira. A experiência eleitoral em Campos dos Goytacazes
(1870-1889): freqüência eleitoral e perfil da população votante. Dados.
Rio de Janeiro, vol. 46, no. 2, p. 311-343, 2003.
Abstract. This article analyses several dimensions in the Brazilian electoral
experience in the 19th century (1870-1889), based on evidence from the
municipality of Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro State. The study focuses
on three main questions: frequency of elections, voter registration rates, and
the profile of qualified voters. According to data from the Rio de Janeiro State
Archives and Campos dos Goytacazes Municipal Archives, ordinary citizens voted
frequently during the period studied, sometimes more than once a year. Data from
the ''Voter Qualification Lists'' in the municipality were used to calculate the
voter registration rates (number of registered voters divided by the population)
and establish a profile of voters in the region based on age, occupation,
schooling, and income. The voter profile included a large share of both
illiterate and low-income voters, which nonetheless did not mean a
democratization of the exercise of political power in a slave-owning society
marked by heavy social exclusion and poverty.
PEREIRA,
Magnus (artigo introdutório). Imigração para o Brasil; relatório sobre a
colônia de Assunguy apresentada a ambas as Casas do Parlamento por ordem de Sua
Majestade [a Rainha Vitória] em 1875. Edição bilingüe. Monumenta,
vol. 1, 1998. Curitiba, Aos Quatro Ventos.
RESUMO. Transcrição de relatório apresentado pelo vice-cônsul inglês sobre
as condições dos imigrantes da coroa inglesa para o Paraná em meados do
século XIX, incluindo os depoimentos dos imigrantes ao representante inglês. O
autor do artigo introdutório é professor da Universidade Federal do Paraná.
REIS,
Cacilda Estevão dos. Os caminhos para a civilidade: ideais da imigração
européia nos discursos da elite política brasileira (1846-1888). Maringá,
dissertação de mestrado, Programa Associado de Pós-Graduação UEM/UEL -
Universidade Estadual de Maringá, 2004, mimeografado.
RESUMO. A autora analisa a imigração européia para o Brasil enquanto um
projeto de modernidade baseado na vinda de imigrantes anglo-saxões e de povos
germânicos considerados promotores de civilidade e de progresso. Para tanto,
foram considerados os discursos políticos proferidos no Parlamento Brasileiro
(Câmara dos Deputados e Senado), as memórias do Visconde de Abrantes e do
suíço Thomas Davatz, que foi colono no Brasil, as leis de imigração e
colonização e os relatos de viagem de Augusto Emílio Zaluar e de Auguste de
Saint-Hilaire na província de São Paulo, e, ainda, os relatos de viagem de
Thomas P. Bigg-Wither, na província do Paraná.
ROCHA,
Cristiany Miranda. Gerações da senzala: famílias e estratégias escravas
no contexto dos tráficos africanos e interno. Campinas, século XIX. Tese
de doutorado, Campinas, IFCH/UNICAMP, 2004, 296 p., mimeografado.
RESUMO. O objetivo desta tese é avançar no conhecimento das dinâmicas e dos
significados da construção dos laços de parentesco entre os escravos, em
Campinas, durante o século XIX. Cruzando informações provenientes de vários
tipos de fontes (registros paroquiais de batismos e casamentos, inventários
post-mortem, cópias da matrícula de escravos de 1872, listas nominativas de
habitantes, processos-crimes e ações de liberdade), concernentes aos mesmos
grupos de cativos, a autora acompanhou a formação e o desenvolvimento das
famílias de escravos ao longo de várias gerações. Ao mesmo tempo, houve a
preocupação de investigar as experiências dos cativos trazidos de outras
partes do Império através do tráfico interno, depois de 1850, sobretudo no
que se refere à sua integração (ou não) nas comunidades cativas já
existentes nas fazendas.
SALLAS,
Ana Maria (artigo introdutório). Transcrição da documentação sobre povos
indígenas nos campos de Guarapuava - Séculos XVIII e XIX. Monumenta,
vol. 3, n. 9, 2000. Curitiba, Aos Quatro Ventos.
NOTA. A autora do artigo introdutório é professora da Universidade Federal do
Paraná.
SILVA,
Maria da Conceição. Catolicismo e casamento em Goiás, 1860-1920.
Franca, Faculdade de História, Direito e Serviço Social da Universidade
Estadual Paulista - Campus de Franca, Tese de Doutorado, 2004, 191 p.,
mimeografado.
RESUMO. A autora preocupa-se com a ação da Igreja Católica no sentido de
universalizar o casamento perante a Igreja; trata, particularmente, do embate
entre a legislação estabelecida nas Constituições Primeiras do Arcebispado
da Bahia, de 1707 -- que norteava a aplicação dos sacramentos -- e as normas
legais instituídas pela República, segundo as quais se reconhecia, como pleno,
o casamento civil. Em termos empíricos, são contemplados os dados referentes
à Cidade de Goiás, antiga Vila Boa de Goiás e hoje conhecida como Goiás
Velho. No capítulo IV da tese são estabelecidas comparações entre os
padrões do casamento civil e os decorrentes do sacramento do matrimônio
ministrado pelo clero católico; segundo a autora, optavam pelo casamento civil
os casais preocupados, principalmente, com a transmissão de bens.
SOARES, Leonel de Oliveira. No caminho dos Goiases:
formação e desenvolvimento da economia escravista na Mogi Mirim do século XIX.
São Paulo, FFLCH-USP, Dissertação de Mestrado, 2004, 214 p., mimeografado.
RESUMO. A dissertação versa sobre a formação e desenvolvimento da economia
escravista na região de Mogi Mirim, ao longo de oitenta anos do século XIX. A
economia local, inicialmente de subsistência, participou do abastecimento do
mercado interno, e, correr do século XIX voltou-se fortemente para o mercado
exportador. Além da formação histórica e econômica da região, também são
considerados seus aspectos demográficos. As listas nominativas de habitantes e
os inventários post-mortem forneceram os elementos para o estudo da economia,
da estrutura de posse de escravos e das características demográficas das
populações livre e escrava da área. Os inventários post-mortem,
particularmente, possibilitaram o conhecimento dos níveis de riqueza dos
indivíduos inventariados e proporcionaram algumas oportunidades de análise
comparativa.
COSTA, Antônio Gilberto (org.). Cartografia da conquista do território mas Minas. Belo Horizonte, Ed. da UFMG, 2004, 244 p.
MAESTRI,
Mário. O sobrado e o cativo: a arquitetura urbana erudita no Brasil - o caso
gaúcho. Passo Fundo, Universidade de Passo Fundo - Editora Universitária,
2001, 248 p., (Coleção Malungo, 1).
RESUMO. O autor aborda, com base na evolução do sobrado senhorial, as
determinações da moradia brasileira em geral, e, em particular, das situadas
no território sul-rio-grandense.
MAESTRI,
Mário. Deus é grande, o mato é maior! História, trabalho e resistência
dos trabalhadores escravizados no Rio Grande do Sul. Passo Fundo,
Universidade de Passo Fundo - Editora Universitária, 2002, 232 p., (Coleção
Malungo, 5).
RESUMO. Neste volume foram reunidos nove estudos do autor sobre a escravidão
sul-rio-grandense escritos e publicados nos últimos vinte anos. Os temas
abordados dizem respeito à presença, vivência, resistência e composição
dos cativos no Rio Grande do Sul nos períodos concernentes à Colônia e ao
Império.
FLORENTINO, Manolo & MACHADO, Cacilda (orgs.). Ensaios sobre a escravidão (I). Belo Horizonte, Ed. UFMG, 2004, 287 p.
RESENHA.
"Ensaios sobre a Escravidão" contém trabalhos que lidam com
múltiplas faces de realidades escravistas no Brasil, na América Latina e na
África. São 12 textos, além de uma breve apresentação, tratando de uma
miríade de problemas históricos. Os organizadores da coletânea deixam claro,
na abertura, que fica a cargo do leitor tecer os liames possíveis entre os
diferentes textos. A primeira parte, com três ensaios independentes, abre uma
janela para a imensa diversidade da escravidão. No primeiro deles, David Eltis
discute a história do tráfico transatlântico de escravos no contexto mais
geral dos movimentos migratórios globais, condensando as idéias de um livro
que recentemente publicou. A tradução cuidadosa não perde o ritmo do texto,
no qual é discutido o impacto diferenciado nas sociedades fornecedoras e
receptoras. O trabalho seguinte é uma reedição para o público brasileiro de
um estudo de Paul Lovejoy, originalmente publicado em 1981, sobre a escravidão
no califado de Socoto, tema recorrente na historiografia sobre a África
Ocidental. Por fim, Daniela Calainho discorre sobre a perseguição e paulatina
demonização das formas de religiosidade de origem africana no reino
ultramarino português. A segunda parte do livro enfoca as atitudes da classe
senhorial diante da escravidão. Começa com Didier Lahon, que toma a violência
como um "constructo" social, porém inescapável, no mundo escravista
afro-luso-brasileiro. Abordando principalmente Portugal, Lahon explora as
várias dimensões da violência, inclusive a verbal, contribuindo para o debate
sobre as origens do racismo e a elaboração de uma ideologia justificadora da
escravidão racializada. A inferioridade do negro, e mesmo sua animalização,
já eram claramente ressaltadas no século 18. Em seguida, Rafael Marquese
compara manuais de gerenciamento de plantéis de cativos escritos no Brasil por
Taunay, em Cuba por Landa e nos EUA por Bass e Collins. Conclui que nos EUA o
paternalismo implantou-se mais vigorosamente, ficando o Brasil numa posição
intermediária, e Cuba no outro extremo, já que o manual de Landa recomendava
apenas disciplina e rigor, não se preocupando em fomentar nos escravos a
crença de que dependiam do senhor. Para fechar a segunda parte, João Fragoso e
Maria Fernanda Martins abordam as alternativas abertas, e as efetivamente
tomadas, pelos grandes negociantes do Rio de Janeiro à medida que se aproximava
a abolição. Por meio de complexas redes sociais, muitos foram capazes de
migrar para outros negócios, além do café, mormente para o reino das
finanças.
FAMÍLIAS ESCRAVAS. A terceira parte enfoca questões demográficas. Cacilda
Machado, Carlos Engemann e Manolo Florentino analisam a configuração
demográfica de fazendas no Rio de Janeiro, na Venezuela, em São Paulo e
estâncias jesuíticas na Argentina. Comparando principalmente estruturas
sexo-etárias, o texto segue a historiografia internacional recente,
demonstrando que as famílias escravas não eram meramente residuais nem
necessariamente instáveis, mesmo que não seguissem os mesmos arranjos de
convivência adotados nos estratos superiores. Quanto mais afastadas as fazendas
do mercado de escravos, maiores as possibilidades de reprodução natural do
plantel. A seguir, por meio de dados sobre óbitos e enterros de escravos,
Carlos Engemann, Marcelo de Assis e Manolo Florentino abordam a estrutura de
posse e as hierarquias internas da comunidade escrava no sertão do Rio de
Janeiro no séculos 18 e 19. José Roberto Góes avança no estudo das
desigualdades e conflitos entre escravos, mostrando que a violência também era
inevitável nas relações entre os cativos, libertos e outros agentes das
camadas subalternas. Na última parte, o tema comum é a resistência escrava.
Alberto da Costa e Silva analisa a Revolta dos Malês, concluindo ter sido mais
uma "jihad" do outro lado do Atlântico do que uma revolta de
escravos, um pequeno desvio, portanto, dos argumentos clássicos de João José
Reis. Márcia Amantino escolhe alguns quilombos do Sudeste mais bem documentados
para sugerir uma tipologia, cujo marco mais significativo é a maior ou menor
dependência para com o mundo exterior à comunidade escrava. Além da
discussão, reedita mapas de quilombos anteriormente publicados pela Biblioteca
Nacional. Por último, Durval de Souza Filho apresenta um belo conjunto de fotos
de cativos tirados na Casa de Correção da Corte. A segunda e a terceira partes
do livro são mais bem integradas entre si, já que abordam temas recorrentes da
escola de demografia da escravidão com sede na Universidade Federal do Rio de
Janeiro, que, sob a liderança de Manolo Florentino e João Fragoso, tem
contribuído para a compreensão desse tema, principalmente no Rio de Janeiro. A
obra, como um todo, não segue um trajeto temático rigoroso, mas apresenta
trabalhos relevantes, alguns dos quais tiveram versões anteriores publicadas.
Embora apresente mais detalhes sobre vários aspectos da escravidão, seu maior
mérito não é a inovação, mas permitir ao leitor, em um único e bem acabado
volume, visualizar uma parte da diversidade de caminhos tomados pela
historiografia recente. Vale salientar que, se a falta de um mais rigoroso
encadeamento teórico, cronológico, geográfico ou mesmo temático pode ser um
problema, não deixa também de ser um ponto positivo do livro, na medida em que
os trabalhos reunidos trazem enfoques, senão opostos, ao menos dissonantes.
(Resenha escrita por Marcus Joaquim Maciel de Carvalho -- professor da
Universidade Federal de Pernambuco -- e publicada no Jornal de Resenhas da FOLHA
DE S. PAULO, em 13 de março de 2004).
MACHADO, Cacilda & ENGEMANN, Carlos & FLORENTINO, Manolo. Entre o geral e o singular: histórias de fazendas escravistas da América do Sul - séculos XVIII e XIX. In: MACHADO, Cacilda & FLORENTINO, Manolo (orgs). Ensaios sobre a Escravidão (I). Belo Horizonte, Ed. UFMG, 2003, p. 167-187.
ENGEMANN, Carlos & ASSIS, Marcelo de & FLORENTINO, Manolo. Sociabilidade e mortalitade escrava no Rio de Janeiro: 1720-1742. In: MACHADO, Cacilda & FLORENTINO, Manolo (orgs). Ensaios sobre a Escravidão (I). Belo Horizonte, Ed. UFMG, 2003, p. 189-200.
GÓES, José Roberto. São muitas as moradas: desigualdade e hierarquia entre os escravos. In: MACHADO, Cacilda & FLORENTINO, Manolo (orgs). Ensaios sobre a Escravidão (I). Belo Horizonte, Ed. UFMG, 2003, p. 201-216.
ROCHA,
Cristiany Miranda. Histórias de famílias escravas: Campinas, século XIX.
Campinas, Ed. UNICAMP, 2004, 180 p.
RESUMO. Tendo como cenário as propriedades rurais da família do capitão
Camillo Xavier Bueno da Silveira e utilizando manuscritos de recenseamentos,
registros de batismos e de casamentos, bem como listas de avaliação e de
matrícula de cativos em inventários post-mortem do século XIX, a
autora segue indivíduos no tempo e reconstrói as famílias dos escravos em
Campinas, ao longo de mais de meio século.
PAPALI, Maria Aparecida C. R. Escravos, libertos e órfãos: a construção da liberdade em Taubaté (1871-1895). São Paulo, Annablume/FAPESP, 2003. (Selo Universidade, 249).
TEIXEIRA
Paulo Eduardo. O outro lado da família brasileira: mulheres chefes de família
(1765-1850). Campinas, Editora UNICAMP, 2004, 288 p.
RESUMO. A obra versa sobre o processo de ocupação e desenvolvimento econômico
da região de Campinas, com realce para o papel da mulher numa das primeiras
frentes povoadoras do açúcar e do café. Fundamentado em documentos e no
diálogo com a historiografia o autor ressalta a atividade conseqüente de
mulheres vindas de Itu, Sorocaba, Atibaia, Bragança e até de mais longe --
viúvas, casadas com maridos ausentes ou solteiras --, que, apoiadas em seus
escravos e/ou em agregados, colocavam-se à frente de suas propriedades, criavam
seus filhos e, eventualmente, sustentavam parentes pobres.
Comunicações apresentadas no
X Seminário sobre a Economia Mineira
CAMPOS, Adalgisa Arantes (coordenadora) et alii. O banco de dados relativo ao acervo da Freguesia de N. Sra. do Pilar de Ouro Preto: registros paroquiais e as possibilidades da pesquisa. Comunicação apresentada no X Seminário sobre a Economia Mineira, Diamantina, CEDEPLAR - UFMG, junho de 2002.
MARTINS, Maria do Carmo Salazar & LIMA, Maurício Antônio de Castro & SILVA, Helenice Carvalho Cruz da. População de Minas Gerais na segunda metade do séc. XIX: novas evidências. Comunicação apresentada no X Seminário sobre a Economia Mineira, Diamantina, CEDEPLAR - UFMG, junho de 2002.
TEIXEIRA, Heloísa Maria. A estabilidade familiar entre os escravos de Mariana (1850-1888). Comunicação apresentada no X Seminário sobre a Economia Mineira, Diamantina, CEDEPLAR - UFMG, junho de 2002.
LACERDA, Antônio Henrique Duarte. Economia cafeeira, crescimento populacional e manumissões onerosas e gratuitas condicionais em Juiz de Fora na segunda metade do século XIX. Comunicação apresentada no X Seminário sobre a Economia Mineira, Diamantina, CEDEPLAR - UFMG, junho de 2002.
GUIMARÃES, Elione Silva. Criminalidade entre mancípios: a comunidade escrava no contexto de grandes fazendas cafeeiras da Zona da Mata mineira 1850-88. Comunicação apresentada no X Seminário sobre a Economia Mineira, Diamantina, CEDEPLAR - UFMG, junho de 2002.
ANDRADE, Rômulo. Apontamentos sobre a microeconomia do escravo e sua interação com a família e as solidariedades (Zona da Mata de Minas Gerais, Século XIX). Comunicação apresentada no X Seminário sobre a Economia Mineira, Diamantina, CEDEPLAR - UFMG, junho de 2002.
MACHADO,
Cláudio Heleno. Tráfico interno e concentração de população escrava no
principal município cafeeiro da Zona da Mata de Minas Gerais: Juiz de Fora
(segunda metade do século XIX). Comunicação apresentada no X Seminário sobre
a Economia Mineira, Diamantina, CEDEPLAR - UFMG, junho de 2002.
RESUMO. O autor analisa o processo de transferências ou migrações forçadas
da população escrava em direção às regiões cafeeiras, em decorrência da
supressão do tráfico africano, particularmente, em Juiz de Fora, na Zona da
Mata de Minas Gerais. As fontes utilizadas foram escrituras de compra e venda de
escravos, de hipotecas e de compra e venda de propriedades agrícolas com as
informações da matrícula de seus plantéis, além dos dados disponibilizados
pelo Recenseamento Geral de 1872 e de outras estatísticas oficiais constantes
em correspondência estabelecida entre a Presidência da Província e a Câmara
Municipal de Juiz de Fora sobre a população cativa.
PAIVA,
Clotilde Andrade & GODOY, Marcelo Magalhães. Território de contrastes
economia e sociedade das Minas Gerais do século XIX. Comunicação apresentada
no X Seminário sobre a Economia Mineira, Diamantina, CEDEPLAR - UFMG, junho de
2002.
RESUMO. Com este escrito objetiva-se a socialização de fontes, de métodos e
de modelo. Do imenso território das fontes para o estudo do século XIX mineiro
elegeu-se o Recenseamento de 1831/32, provavelmente o mais vasto inquérito
populacional nominal remanescente, e a literatura de viagens, possivelmente o
mais completo conjunto de informações econômicas. Das infinitas formas de
apropriação das fontes, eleições metodológicas, concentrou-se nas
indissociáveis relações entre a crítica do documento censitário e o
tratamento dos dados estatísticos, na percepção do espaço e decorrente
aplicação do conceito de região, na análise do conteúdo do discurso do
estrangeiro e subseqüente sistematização do olhar do outro, nas
inter-relações entre a organização econômica e a estrutura demográfica.
Das ilimitadas possibilidades de formulação de modelos, impulsos
sistematizadores, intentou-se a construção de proposição alicerçada em
bases fornecidas por enunciados teóricos fundadores, sobre os quais fundiu-se
nova estrutura.
MARQUES,
Cláudia Eliane Parreiras. Economia e demografia nas Minas oitocentistas.
Comunicação apresentada no X Seminário sobre a Economia Mineira, Diamantina,
CEDEPLAR - UFMG, junho de 2002.
RESUMO. Este artigo tem como objetivo investigar a dinâmica econômica de um
distrito rural, de Minas Gerais, no século XIX - Bonfim do Paraopeba.
Pretende-se estudar as faixas da posse de escravos e através delas perceber
aspectos relacionados à economia e à sociedade. Parte-se do pressuposto de que
a quantidade de cativos definia o perfil socioeconômico das famílias
escravistas. Outras questões serão abordadas, tais como a produção e a
circulação de mercadorias e as altas taxas de africanos encontradas nas listas
nominativas de habitantes de 1831/32.
HORTA, Cláudia Júlia Guimarães & CARVALHO, José Alberto Magno de. Evolução da fecundidade corrente e de geração em Minas Gerais - 1903-1988. Comunicação apresentada no X Seminário sobre a Economia Mineira, Diamantina, CEDEPLAR - UFMG, junho de 2002.
BASSANEZI, Maria Sílvia C. Beozzo & FRANCISCO, Priscila M. S. Bergamo (orgas.) Estado de São Paulo: estatística agrícola e zootécnica, 1904-1905. Campinas, NEPO/UNICAMP, 2003, CD-ROM.
RESUMO. Apresentação pormenorizada dos resultados do levantamento agrícola efetuado sob a orientação da Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo no início do século passado. Como dizem as organizadoras no fascículo que acompanha o CD-ROM: "esta Estatística objetivava nortear as ações do governo paulista, preocupado em defender sua agricultura e de modo particular a cafeicultura, hoje, ela constitui uma importante fonte de estudos para o entendimento das relações entre população e economia. Esta importância deriva do fato de as informações estarem organizadas por município e, no interior de cada município, constar a lista nominal dos proprietários de terra existentes, com suas respectivas nacionalidades, bem como uma série de informações associadas a cada propriedade rural: área em alqueires (total, cultivada, em mata, em capoeira, em campos e pastos, em brejo e terras imprestáveis); qualidade predominante das terras; culturas existentes (café, cana, algodão, arroz, milho, feijão, fumo, videiras e diversas), com áreas ocupadas e produção; valor do solo por alqueire; valor total da propriedade; número de trabalhadores nacionais e estrangeiros; plantéis de gado (cavalar, vacum, muar, lanígero e caprino e suíno), com suas respectivas raças; produtos de origem animal (laticínios, carnes diversas, lã, aves domésticas, apicultura e sericicultura). Digna de nota é a informação relativa à proporção de trabalhadores nacionais e estrangeiros em cada propriedade. Além disso, a publicação oferece ainda um resumo da situação geral de cada município, além de outras informações relevantes relativas às condições geográficas (rios, cachoeiras, jazidas), às práticas agrícolas utilizadas, ao fluxo de produtos, às moléstias mais comuns observáveis na agricultura e na pecuária, à rede de transporte, aos sistemas empregados de contratação de mão-de-obra, aos preços dos produtos e valores da produção, e à ocorrência de associações de lavradores. Esses dados permitem, hoje, construir uma fotografia precisa da posse da terra dos municípios ou regiões mais favoráveis ou reticentes à difusão da propriedade da terra, da parcela da população proprietária de terras, brasileira e estrangeira, da população nela empregada também e alienígena, da qualidade do solo e da produção agro-pecuária, no início do século XX." Cumpre notar, por fim, que as publicações que serviram de base para a elaboração do CD-ROM encontram-se nos acervos das bibliotecas da Fundação SEADE, em São Paulo, e no Instituto Agronômico de Campinas (IAC).
Registro Civil do Estado de São Paulo ( 1870 - 1929 )
Trata-se de livros do Registro Civil, ou seja, livros de nascimento, casamento e óbito, de algumas localidades do estado de São Paulo, microfilmados em bitola 35 milímetros.
Podemos adiantar que as localidades privilegiadas são : São Paulo, Campinas e cidades da região do Vale do Paraíba.
Compõe-se de 1.375 rolos compreendendo o período que se estende do fim da década de 1870 ao primeiro quarto do século XX.
Condições de Consulta: Aberta a todos interessados.
Endereço eletrônico (URL):
http://www.unicamp.br/suarq/cmu/arqhist/registro.htm