Ano XVI, no. 55, fevereiro de 2009
SUMÁRIO
Relação de Trabalhos Publicados
Neste início de ano o acervo de obras concernentes a fontes primárias vê-se largamente enriquecido pela publicação de três magníficos volumes votados ao levantamento da documentação referente à imigração internacional dirigida ao Brasil e, particularmente, ao território paulista. Como seus autores, esperamos que tal esforço de coleta e divulgação de informações básicas atue de sorte a impulsionar amplamente a elaboração de novas pesquisas e teses sobre nossa formação populacional numa quadra de grande dinamismo econômico vivenciado pelos habitantes da Província/Estado de São Paulo. A testemunhar tal efervescência demo-econômica está a tese de doutorado de Renato Leite Marcondes, estampada em sua íntegra neste número de nosso BHD. A corroborar esses avanços observados em nossa área de estudos encontra-se a valiosa coleção de trabalhos cujos resumos vão aqui arrolados.
BORGES,
Rodrigo. Livres do pecado original: batismos de escravos e ingênuos em
Franca (1867-1875). Franca, Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em
História). UNESP-Faculdade de História, Direito e Serviço Social, 2008, 57 p.
RESUMO. Este trabalho desvenda parte da população escrava no município de
Franca, na segunda metade do século XIX. Município que se caracterizava por
apresentar uma economia dinâmica voltada para o abastecimento do mercado
interno, em um período marcado pelo avanço da economia de exportação na
Província de São Paulo. De um modo especial, buscamos estudar o perfil dos
batizados de escravos e ingênuos que ocorreram nos anos imediatamente
anteriores e posteriores à promulgação da Lei do Ventre Livre a fim de
verificar se a referida lei interferiu nos padrões de batizados realizados
neste período. Utilizamos como fonte principal os registros de batismos
arquivados na Cúria Metropolitana de Franca, confrontando com Levantamentos
Populacionais efetuados no decorrer do século XIX. Procuramos identificar o
perfil dos batizados observando a freqüência no tempo, o intervalo
transcorrido entre a data de nascimento e o registro do batismo, a questão do
gênero, a sazonalidade dos batizados, a condição de legitimidade dos
batizandos, bem como a condição social dos padrinhos.
COMISSOLI,
Adriano. Certezas baseadas em rumores: o desafio metodológico da reconstrução
de redes sociais por meio de processos de habilitação matrimonial (Rio Grande
de São Pedro, séculos XVIII e XIX). Comunicação apresentada no IX Encontro
Estadual de História - ANPUH-RS. Porto Alegre, IFCH - UFRGS, 14 a 18 jul. de
2008. Disponível em:
http://www.eeh2008.anpuh-rs.org.br/site/anaiseletronicos
RESUMO. Os processos de habilitação matrimonial produzidos nos séculos XVIII
e XIX eram inquéritos que visavam atestar se os noivos estavam aptos a
casarem-se de acordo com as regras católicas do Concílio de Trento. Cumpriam
sua função por meio de depoimentos de pretendentes e de testemunhas, o que
representa a fixação de um conhecimento oral em um suporte escrito e sua
elevação a um estatuto de verdade, pois que sancionado pela instituição
eclesiástica. O investigador em História depara-se com o paradoxo de construir
conhecimento por meio de informações incertas, por vezes rumores que
circulavam na comunidade. Entre as ambigüidades de um conhecimento
"público e notório", atestado "por ouvir dizer" ou
"por conhecimento físico" procuro demonstrar a reconstrução de
redes sociais que orientam a migração e acolhida de sujeitos ao Rio Grande de
São Pedro em finais do setecentos e até meados do oitocentos.
FERNANDES,
Edson. Mortalidade de livres e escravos numa boca do sertão. Lençóes
(1867-1888). Pós-História: Revista de Pós-graduação em História.
Assis, UNESP - Faculdade de Ciências e Letras de Assis, v. 13/14, 2005/6, p.
233-244.
RESUMO. Este trabalho utiliza registros de óbitos de livres e escravos de ambos
o sexos para analisar a mortalidade da população da vila de Lençóes, boca do
sertão paulista em meados do século XIX, região de economia não integrada ao
comércio de longa distância e ponto de apoio de expedições que demandavam o
"sertão desconhecido". A análise dos registros permite traçar um
quadro de "democratização" da morte, isto é, a condição jurídica
da pessoa não alterava substancialmente a causa mortis, o que reflete
provavelmente a escassa disponibilidade de recursos médicos para ambas as
populações, livre e escrava. Este trabalho compara, ainda, a mortalidade de
Lençóes com outras duas localidades e populações estudadas por outros
autores: a população livre de São Paulo (Paróquia da Sé) e a população
adulta, livre e cativa, de Vila Rica, ambas na passagem do século XVIII para o
XIX.
LOTT, Miriam Moura. Casamento e família nas Minas Gerais: Vila Rica (1804-1839). Belo Horizonte, FAFICH da Universidade Federal de Minas Gerais, dissertação de Mestrado, 2004.
LOTT,
Miriam Moura. Na forma Do Ritual Romano: Casamento e Família em Vila Rica
(1804-1839). São Paulo, Annablume, 2008, 176 p. (Coleção Olhares).
RESUMO. Este livro analisa a sociedade de Vila Rica (Imperial Cidade de Ouro
Preto a partir de 1823) no período de 1804 a 1839, tendo como fonte documental
básica as atas de casamentos registradas na Matriz de Nossa Senhora do Pilar do
Ouro Preto. O estudo trata de compreender a importância da família normatizada
através do sacramento do matrimônio, ou seja, a família formada a partir dos
princípios tridentinos. O contexto socioeconômico da Vila Rica da primeira
metade do século XIX permite refletir sobre quem se casava, com quem e porquê,
possibilitando a análise do comportamento social da capital da província.
OLIVEIRA, Marina Costa de. Demografia escrava: a posse
de escravos em Franca, 1820. Franca, Trabalho de Conclusão de Curso
(Bacharelado em História). UNESP-Faculdade de História, Direito e Serviço
Social, 2008, 64 p.
RESUMO. O estudo tem como intuito analisar o perfil populacional de parte do
Sertão do Rio Pardo, área correspondente à Freguesia de Nossa Senhora da
Conceição da Franca, criada em 1804. O trabalho abrange o período da segunda
década do século XIX, dando ênfase ao perfil e a dinâmica populacional.
Busca ampliar e aprofundar o conhecimento sobre a população livre (com ênfase
nos proprietários e não-proprietários de cativos) e sobre a população
escrava, em um contexto regido pela economia de subsistência e também dedicado
ao abastecimento interno. São utilizadas metodologias vinculadas às questões
demográficas e bibliografia pertinente ao tema. As principais fontes
trabalhadas são as Listas Nominativas de 1820.
OLIVEIRA,
Paloma Rezende de. A criança e o menor: tutelas e políticas de assistência em
Juiz de Fora/MG (1888-1916). Trabalho apresentado no Seminário Poderes e
Sociabilidades, UFPE, em 04 de novembro de 2008.
RESUMO. O presente trabalho tem por objetivo trazer reflexões sobre as
políticas de assistência à infância, vinculadas à escolaridade, no contexto
de Juiz de Fora/MG (1888 -1916). A relevância do tema está em trazer
contribuições para a historiografia da Infância e da Assistência ao analisar
a distinção de projetos existentes neste período, bem como de suas relações
com o poder público. Buscou-se mapear as práticas para, a partir delas,
estabelecer relação com aspectos mais generalizantes da nação, tendo por
base as abordagens da História da Cultura e das Idéias. O levantamento dos
dados foi realizado no Arquivo Municipal - atas da Câmara e casos de tutela - e
no Arquivo da Igreja da Glória de Juiz de Fora - documentos das escolas
paroquiais.
OLIVEIRA,
Patrícia Porto de. Batismo de escravos adultos na Matriz do Pilar de Ouro Preto
1712-1750. Belo Horizonte, Dep. de História da Faculdade de Filosofia e
Ciências Humanas da UFMG, dissertação de Mestrado, 2004, 162 p. (patriciaportooliveira@gmail.com).
APRESENTAÇÃO.
INTRODUÇÃO. Esta dissertação tem por objetivo principal contribuir para os estudos que contemplam o estabelecimento de laços de compadrio entre escravos adultos, africanos, vistos como "agentes políticos, que em meio às rígidas hierarquias sociais e tensões coloniais, estabeleciam estratégias para melhorar suas vidas".(1) Pretende-se, também, acrescentar dados numéricos relativos a uma parcela dos escravos adultos que foram transportados para as Minas coloniais, caracterizada enquanto espaço regional historicamente construído. Privilegia especificamente os assentos de batismos da Matriz de Nossa Senhora do Pilar de Ouro Preto, entre 1712-1750, que serão analisados a partir da utilização de métodos e técnicas de pesquisa que permitem problematizar as séries documentais, numerosas e suscetíveis de tratamento estatístico.(2) Opera-se esse processo por meio dos cruzamentos de dados registrados pelos párocos nos batistérios de escravos adultos da Matriz do Pilar. Um dos pioneiros nos estudos demográficos e da estrutura proprietária da população escrava nas Minas Gerais no período colonial foi Iraci del Nero da Costa. Em uma de suas pesquisas, analisou o comportamento coletivo da população de Vila Rica, utilizando-se dos manuscritos eclesiásticos pertencentes à freguesia de Antônio Dias, especialmente assentos de batismo, de óbito e de casamento.(3) O estudo desse autor revelou, entre outros aspectos, os movimentos sazonais de batismos de adultos, suas nações de origem, os grandes grupos étnicos e lingüísticos que habitavam Vila Rica no século XVIII. Cativos adultos foram definidos por ele como sendo "os negros africanos - com mais de sete anos - aqui chegados sem terem recebido o batismo em África"; já a terminologia da palavra inocente estendia-se "a crianças - via de regra com menos de sete anos - que ainda não comungavam".(4) Sabe-se que os batistérios são fontes manuscritas elaboradas pelos párocos, contendo relatos diversos sobre os envolvidos no sacramento do batismo. No registro dos escravos adultos, africanos de origem, batizados na Matriz do Pilar, encontra-se anotado, na margem esquerda do assento de batismo, o nome do batizando somado ao termo adulto. Apesar de inúmeras informações que fornece o batistério, como o nome do batizando e de seus padrinhos, suas etnias, condição social - livre, liberto ou cativo, idade do batizando, etc -, tais documentos também apresentam lacunas. Muitas vezes isso ocorria porque, ao que tudo indica, os registros não eram feitos durante, mas após a cerimônia de batismo, e "talvez os padres anotassem os dados em um papel qualquer para depois efetuarem os lançamentos definitivos".(5) Este estudo contempla o conjunto de informações registradas pelos párocos nos assentos de batismo de escravos adultos da Matriz de Nossa Senhora do Pilar. Eles permitem "retratar vários aspectos da realidade do período em tela, bem como levantar algumas hipóteses que procuraram explicar aquela realidade".(6) Para a elaboração desta dissertação, foi utilizado o Banco de Dados da Freguesia do Pilar,(7) construído a partir da transcrição das informações manuscritas registradas nos assentos de batismo de escravos adultos da freguesia do Pilar. A série batismo foi microfilmada e digitalizada referente aos seguintes períodos 1714 a 1719 e de 1736 a 1789. Os livros de batismos do período de 1719 a 1736 encontram-se desaparecidos. Deve-se ressaltar que a qualidade da informação aparece em grau diferenciado de acordo com os registros feitos pelos párocos responsáveis pela confecção dos assentos de batismo de escravos adultos na Matriz do Pilar, pois, evidentemente, ao considerarmos os batismos de adultos, contamos apenas com uma aproximação grosseira da verdadeira composição (étnica e/ou lingüística) e do comportamento numérico, no tempo, da massa de cativos trazidos da África. Isso porque os negros batizados em Vila Rica (e no Brasil em geral) compunham tão-somente parcela minoritária das pessoas deslocadas do continente africano, pois, apenas os escravos que não haviam sido batizados na África o eram no Brasil.(8) Os arraiais mineiros foram fundados à proporção que a ocupação territorial foi se consolidando. As vilas tornaram-se símbolos de organização e centros administrativos.(9) O antigo povoado, que veio a se tornar Vila Rica, nasceu da atividade exploratória dos paulistas nas areias do Tripuí e nas encostas do Itacolomi.(10) A história de Vila Rica iniciou-se oficialmente com a saga dos bandeirantes em busca de tesouros e pedras preciosas. Após ser disseminada a notícia da descoberta de ouro, consideráveis levas de aventureiros se dirigiram para as Minas. Coube a Antônio Dias de Oliveira, acompanhado pelo padre João de Faria Fialho e pelos irmãos Camargos, o atributo de fundador do arraial, o que ocorreu por volta de 1698.(11) Já Augusto Lima Junior registrou que foi no ano de 1698 que ocorreram o descobrimento e o povoamento do vale do Ouro Preto, realizado por Manuel Garcia, e não por Antônio Dias, "que lá chegou depois, no ano seguinte".(12) Ainda segundo o autor, a ocupação da região foi resultante de três bandeiras distintas. A primeira foi a de Manuel Garcia, que ocupou a vertente dos córregos do Tripuí e Passa Dez. A segunda, a de Antônio Dias, que chegou dois anos depois e atingiu a nascente dos mesmos córregos, local que tomou seu nome; e a última foi a de Padre Faria, que se estabeleceu nos córregos que descem do pico do Itacolomi.(13) Esses três núcleos de povoamento iniciais, muito próximos um do outro, acabaram por originar a Vila e, nos fins de 1711, Vila Rica desenvolvia-se como simples aglomeração de casas de sapé; de palha eram as capelas, mesmo que denominadas matrizes. Somente a partir de 1712 começou-se a construir habitações definitivas cobertas de telha. Já estavam, no entanto, desde então, seus principais bairros (chamados "arraiais") definidos.(14) De acordo com o Auto de ereção de Vila Rica, registrado em 11.7.1711, ficou determinado que o arraial de Nossa Senhora do Pilar se juntasse ao de Antônio Dias, para que "se fundasse a Vila pelas razões referidas, pois era o sítio de maiores convivências que os povos tinham achado para o comércio".(15) "O governador Antônio de Albuquerque (1710-1713) demonstrou preocupação central em estabelecer a ordem pela submissão dos arraiais mineiros à Coroa. Para tanto, elevou vários à condição de vila".(16) A vila foi instituída primeiramente como Vila de Albuquerque, por meio de Carta Régia de 8 de setembro de 1711, em homenagem ao seu criador, o governador Antônio de Albuquerque. O nome Vila Rica somente veio por meio da Carta Régia de 15 de dezembro de 1712. Animados pelo desenvolvimento do lugar, no ano de 1714 os vereadores solicitam ao Rei que elevasse a Vila à categoria de cidade, concedendo-lhes os "mesmos privilégios de que gozavam os cidadãos de São Paulo."(17) Mas, somente em 20 de março de 1825, ela foi elevada, por D. Pedro I, a "Imperial cidade de Ouro Preto". Em 6 de abril de 1714, foram feitas as divisões das comarcas com assistência do S.M. Engenheiro Pedro Gomes Chaves e do Capitão-Mor Pedro Frazão de Brito. Nessa ocasião, a comarca de Ouro Preto separou-se da do Rio das Velhas, tomando como divisa a estrada do Mato Dentro pelo ribeiro entre o sítio do capitão Antônio Ferreira Pinto e do capitão Antônio Correia Sardinha. O marco de separação entre Vila Rica e Vila do Carmo foi feito no ribeirão de São Francisco, ficando a igreja das Catas Altas na jurisdição da última (Mariana). Como marcos divisórios entre as comarcas de Ouro Preto e do Rio das Mortes, foi estabelecido o ribeiro de Congonhas, onde estava localizado um sítio chamado Casa Branca.(18) A Matriz de Nossa Senhora do Pilar de Ouro Preto representou um grande distrito ou paróquia(19), compreendendo quatro pequenos distritos: Ouro Preto e Cabeças, Arraial de São Sebastião, Arraial da Boa Vista e Arraial do Rodeio. Antônio Dias também caracterizou-se como outro grande distrito, compreendendo os pequenos distritos de Antônio Dias, Alto da Cruz, Taquaral, Padre Faria e o Morro de Santana.(20) Ambos os distritos contavam com suas respectivas Matrizes: a de Nossa Senhora da Conceição, em Antônio Dias, e a de Nossa Senhora do Pilar de Ouro Preto, em Vila Rica.
A MATRIZ DE NOSSA SENHORA DO PILAR E O BATISMO DE ESCRAVOS ADULTOS. Conta-se que
"o arraial de Ouro Preto desenvolveu-se muito rapidamente e levantou a sua
Matriz de taipa e adobes, já rodeada de casas abastadas",(21) sendo que a
paróquia de Nossa Senhora do Pilar foi construída entre 1700 e 1703. A
capelinha primitiva foi ampliada às custas dos irmãos devotos para servir de
Matriz já em 1712, de acordo com as informações descritas no primeiro livro
de Compromisso da Irmandade de São Miguel e Almas.(22) Em relação à
construção da nova Matriz, ficou registrado que o vigário colado, Francisco
da Silva e Almeida, pediu às autoridades eclesiásticas uma licença para fazer
uma procissão pública de translado das imagens, alegando que os fregueses já
haviam iniciado a edificação da nova Matriz e que para o término da obra, era
necessário "lançar abaixo a Capela maior e transladar o Santíssimo e as
imagens para a Capela de Nossa Senhora do Rosário, exceto a imagem de nosso
Senhor dos Passos"(23), que deveria ser levada para a Capela de São José.
No século XVIII, em Minas, a Matriz do Pilar(24) foi uma das mais ricas e
congregou grande número de fiéis; nela se faziam as comemorações alusivas a
nascimento, casamento e exéquias de membros da família real, bem como as
posses de governadores da capitania, festejos promovidos pelo senado da câmara,
além de abrigar, no seu interior, diversas irmandades. A Paróquia do Pilar, no
ano de 1724, foi elevada à natureza de capela colada,(25) passando a contar com
um vigário fixo, funcionário da Coroa Portuguesa, responsável pelo culto e
pela vida sacramental da extensa freguesia, com sede na Matriz.(26) Na primeira
metade do século XVIII, ocorreu na Matriz do Pilar a solene festa do Triunfo
Eucarístico. Na colônia, foram criados espaços de sociabilidade que
possibilitavam a identificação cultural dos indivíduos. Affonso Ávila,(27)
em Resíduos Seiscentistas em Minas, defendeu a singularidade cultural mineira e
lançou luzes importantes para a compreensão da participação dos escravos no
espaço social, tendo como eixo a festa e as irmandades. Ao recuperar a
descrição feita sobre o Triunfo Eucarístico, pelo português Simão Ferreira
Machado, homem bem-letrado, morador das Minas Gerais nos setecentos, Affonso
Ávila descreveu as festividades promovidas para a inauguração da nova Matriz
e o solene translado do Santíssimo Sacramento da igreja do Rosário para a do
Pilar. No relato, era dominante a importância da religiosidade como meio de
salvação, o que expressa o projeto português de colonização e
cristianização. Há de se considerar que as festas nos setecentos garantiam
visibilidade social, fator importante para uma sociedade permeada pela moral
Tridentina. Mais do que uma religiosidade intensa, a festa religiosa era um
acontecimento que propiciava o encontro e a comunicação,(28) pois eram [...]
representações diretas da sociedade da qual faziam parte, e ao mesmo tempo,
eram válvulas de escape das tensões que estas mesmas sociedades engendravam e,
em muito de seus aspectos, eram manifestações inversas do quadro social onde
estavam inseridas. Neste jogo de oposições, as festas eram, acima de tudo,
mecanismos de reforço dos laços sociais, pois cumpriam um duplo papel, tinham
um aspecto pedagógico, ensinando aos indivíduos o papel que eles ocupavam, e
também os relaxavam das contradições existentes na sociedade.(29) Os relatos
do translado do Triunfo Eucarístico, em Vila Rica, no ano de 1733, demonstraram
a importância da existência de irmandades negras nos setecentos mineiro e como
os escravos participaram desse espaço e de que forma atuaram publicamente na
colônia. No texto de Simão Ferreira constam claramente, agradecimentos aos
irmãos pretos por terem zelado pela imagem do Santíssimo Sacramento guardado
no altar-mor da igreja do Rosário e por terem representado a matriz durante o
período da reforma da igreja do Pilar. No século XVIII, o Pilar reuniu elevado
número de irmandades, isto é, "associações de leigos,
institucionalizados a partir de estatutos aprovados pela Mesa de Consciência e
Ordens ou pelo Bispado mais próximo".(30) As irmandades representaram em
Minas importantes espaços de sociabilidade que, segundo Caio César Boschi,(31)
caracterizaram-se pela mutualidade e pelo assistencialismo social, guardadas
certas especificidades na capitania. Durante o século XVIII, o assistencialismo
social, bem como a complexa implementação do culto católico, esteve sob a
responsabilidade dessas associações leigas. As irmandades também
incrementaram a vida social dos que viviam na região. Nesta medida, é curioso
notar que as irmandades, enquanto entidades coletivas, traziam em seu bojo
acentuado individualismo, isto é, podiam ser entendidas também como centro
catalisador de individualidades atemorizadas pela morte e pela doença ávidas
por um espaço político. [...] As relações comunitárias faziam-se na medida
exata da identificação entre os que delas participavam. Simultaneamente,
integravam indivíduos e liberavam seus anseios de libertação, passando assim,
a ser também o canal de manifestações de seus membros, o veículo de suas
queixas, o palco de suas discussões. Isto se dá, particularmente, em relação
às irmandades dos negros, únicas instituições nas quais o homem de cor podia
exercer seu papel dentro da legalidade.(32) Em relação à autonomia da
Irmandade do Rosário dos Pretos, que se abrigava no interior da Matriz do
Pilar, Adalgisa Arantes Campos esclareceu que, posteriormente, essa irmandade
deixou a igreja e construiu sua sede própria no bairro do Caquende.(33) As
Irmandades de São Miguel e Almas e do Rosário dos Pretos, tradicionalmente nas
matrizes ocupavam o primeiro altar ao lado da Epístola e ao lado do Evangelho,
em virtude da posterior alteração espacial, perderam a posição qualificada,
para dar lugar a outras devoções em ascensão no imaginário católico, como a
do Senhor dos Passos e de Nossa Senhora da Conceição (irmandade desaparecida
já no 1º terço do XVIII) e também para conservar as suas sepulturas
primígenas.(34) As irmandades de negros, como a do Rosário de Vila Rica, eram
espaço onde as pessoas de cor podiam exercer certas atividades sociais e
religiosas e, pelo menos momentaneamente, esqueciam a condição de escravo, e
"poderiam viver como um ser humano".(35) Embora fossem uma das poucas
formas de associação permitidas aos pretos pelo Estado português,
representaram, também, uma das vias sociais de acesso à experiência da
liberdade, ao reconhecimento social e à possibilidade de formas de autogestão,
dentro da dinâmica escravista.(36) Na América portuguesa, a religião
católica esteve presente no cotidiano dos colonos. Sob o signo da salvação,
foram colocadas em prática atividades de cunho social, sob o olhar vigilante da
Coroa Portuguesa, pois, com a expansão marítima, esta instituição dividiu
com o Vaticano as responsabilidades da administração da fé, com a
instituição do Padroado. Na Matriz do Pilar, realizavam-se os cultos divinos
que permitiam que o fiel se exercitasse na fé. Era, também, no interior do
templo, que a população recebia os diversos sacramentos, como o batismo, o
casamento, a comunhão, que a inseria e reinseria cotidianamente no rebanho
católico do senhor. A própria decoração do edifício fazia parte deste jogo
de conversão(37) e fazia eterno o tempo do Estado e da Igreja. Entre os fiéis
que ali eram introduzidos no exercício da fé católica, destacavam-se os
escravos adultos que eram batizados. O primeiro sacramento ministrado pela
Igreja, além de inserir o cativo no mundo cristão, oficializava a sua
existência social na colônia e proporcionava relações de parentesco
espiritual que potencializavam alianças sociais. Por meio dos assentos de
batismo, percebe-se como a Igreja procurou registrar e acompanhar a vida do
cativo. A leitura das informações contidas nos assentos de escravos adultos do
Pilar permite vislumbrar parte da composição demográfica da população
escrava de Vila Rica, guardadas as dificuldades e as limitações encontradas
nesse tipo de fonte, porque elas não representam fielmente a totalidade dos
cativos da paróquia, pois muitos adultos já haviam sido batizados na África
ou no litoral. Privilegiou-se dois importantes recortes cronológicos que
permitem reflexões temporais dentro do mesmo século. O marco inicial deu-se em
1712, justamente por ser um ano após Vila Rica ter sido elevada à condição
de vila. Nesta época, iniciam-se os registros paroquias na Matriz do Pilar.
Entre o marco inicial e o marco final está 1733, ano do Solene translado do
Triunfo Eucarístico, que celebrou a reinauguração da Matriz do Pilar após
passar por reformas, sendo perceptível a participação dos negros no
translado, uma vez que as festas no setecentos garantiam visibilidade social. Os
relatos de Simão Ferreira Machado, português, residente em Minas, são
extremamente ricos a respeito da festa. Nas suas descrições, é possível
contemplar a participação dos escravos no translado eucarístico que aconteceu
da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos até a Matriz do Pilar.(38) O
marco final será o ano de 1750, meados do século XVIII. Portanto serão três
momentos diferentes: da organização e estruturação do povoado, passando pelo
momento da festa e, finalmente, a metade do século como fechamento do processo
proposto. Por meio do cruzamento das informações contidas no banco de Dados,
verificam-se aspectos sociais e parte das sociabilidades construídas pela
dinâmica cotidiana da Vila. O estudo da escravidão no Brasil remete os
historiadores à análise do processo de colonização, do tráfico e do mundo
do trabalho no qual os escravos eram inseridos, buscando os diversos meios e as
formas vivenciadas pelos cativos, sujeitos e protagonistas de sua própria
história, na luta pela sobrevivência dentro do sistema escravista. Por meio de
suas ações e negociações, os cativos buscaram equilibrar os conflitos que
existiam na relação senhor/escravo. "Contribui para isto o fato de,
progressivamente, a América lusa deixar de ser vista como imenso canavial
sujeito aos humores da Europa para ser encarada como uma sociedade".(39) Os
estudos norte-americanos(40) e no Brasil(41), tanto antropológicos quanto
historiográficos, demonstraram que os negros escravizados não teriam sido
meros agentes passivos, nem muito menos massacrados pela escravidão. Ao
contrário, mesmo na condição de escravos, muitos criaram e recriaram
condições sociais nem sempre pacíficas para sobreviver na colônia. A
formação das redes informais entre os escravos muitas vezes, se iniciava nos
navios tumbeiros, quando os escravos, patrícios ou não, criavam novas
identidades durante a travessia. Os estudos de Fragoso e Florentino(42)
indicaram a complexidade da questão da família escrava e a necessidade de ir
além dos modelos oriundos dos estudos europeus da família.(43) A partir de
questões como a mobilidade geográfica e social, a organização das famílias
e os comportamentos cotidianos dos escravos, os autores(44) reconstituíram
parte da sociedade escravista do século XVIII em seus vários aspectos. Outros
temas foram inquiridos com vistas a reconstruir a vida e a cultura dos escravos,(45)
desfazendo o mito da benevolência dos senhores retratado por Gilberto Freyre, e
opondo-se à idéia de que os africanos absorviam passivamente a cultura
européia de seus senhores. Slenes, no seu livro Na Senzala, uma flor,
esclareceu que a construção de uma família podia representar uma possível
autonomia dos escravos, pois a posse de moradores individuais poderia lhes
permitir recriar ritos de origem africana. Em relação ao mundo do trabalho, a
historiografia apontou que homens e mulheres escravos trabalharam em diversas
atividades como carregadores, vendedores e, com certeza, a prostituição foi
mais uma forma de muitas mulheres aumentarem seu pecúlio ou de completarem
parte dos valores estabelecidos pelos seus senhores para a compra da liberdade.
Observa-se que as relações entre senhores e escravos não eram nada simples.(46)
Quanto à diáspora africana em Minas Gerais, foram vários os trabalhos
produzidos, considerando o escravo enquanto sujeito histórico e suas
experiências cotidianas. Luciano Figueiredo(47) salientou o papel das mulheres
negras forras na sociedade setecentista, por meio das Devassas Episcopais. Ainda
dentro da historiografia que abrange a análise da família, da mulher e do
cotidiano mineiro e a possibilidade de conseguir a mobilidade social na
colônia, tem-se as histórias da escrava Rosa Egpicíaca(48) e da forra Chica
da Silva.(49) A última foi concubina do contratador dos diamantes João
Fernandes, no arraial do Tejuco. Sua história mostra que o papel da família
era fundamental na colônia, mas era necessário que os escravos ficassem
atentos às transformações sociais e econômicas ditadas pela dinâmica
colonial. Os escravos instituíam formas de convívio social e estabeleciam
laços culturais que lhes proporcionassem consolo e apoio na América
portuguesa. Vários fatores ajudaram a intensificar os elos gerados entre os
malungos(50) durante a travessia. Esses elos, muitas vezes, representaram um
grande transtorno para a administração portuguesa na colônia, principalmente
quando os grupos de escravos rebeldes apareceram de certa forma consolidada na
colônia.(51) As tentativas de frear os comportamentos rebeldes dos negros não
se mostraram tímidas durante a primeira metade do século XVIII. Proibiam-se
batuques nas vendas administradas pelos escravos nas áreas de mineração, o
comércio ambulante praticado pelas quitandeiras, o porte de armas, o trânsito
descontrolado dos cativos pelos caminhos.(52) O controle sobre o batismo assumiu
importância considerável na conjuntura de crise social dos anos 1719-20, em
Minas Gerais.(53) Era preciso explorar outras condições que ajudassem a manter
sob controle a inquieta população. A escravidão foi reinterpretada como um
sistema socialmente coercitivo, porém passível de adequações, resistências,
acomodações, negociações e pactos sociais.(54) As mudanças da concepção
da história ocorridas nos últimos anos, entre elas, a adoção de modelos e
técnicas de outras ciências, como, por exemplo, a demografia, facilitaram o
desenvolvimento da história serial. A utilização de métodos quantitativos
acrescenta novos campos de investigação que, ao serem confrontados com a
história tradicional, ampliam o conhecimento daquilo que é passado.(55) A
utilização dos métodos quantitativos acirra as discussões entre
pesquisadores, provocando a interdisciplinaridade e a necessidade de aprofundar
as análises. Daí ser fundamental para o historiador que lida com séries e
quantidades ir além do meramente quantitativo, tentar perceber a globalidade em
que seus dados se encaixam, buscando enfim o contexto histórico que geraram
seus dados.(56) A dissertação subdividiu-se em quatro capítulos que
contemplam a vivência, a experiência, os ritos e a participação dos escravos
adultos enquanto agentes da nossa história em uma sociedade bastante dinâmica.
O primeiro capítulo, Composição demográfica dos escravos adultos da
Paróquia do Pilar em Vila Rica, permite conhecer melhor os escravos adultos
oriundos da África e batizados na Matriz do Pilar. O manejo dos assentos de
batismo permitiu revelar parte da dinâmica da sociedade de Vila Rica, bem como
abordar as flutuações demográficas do conjunto de africanos informados nas
fontes. Foram estudados o gênero e a origem dos cativos e as preferências do
mercado mineiro. Analisou-se o tráfico como sendo um grande negócio no século
XVIII, resultante do processo de expansão marítima portuguesa. O segundo
capítulo, Flutuações do perfil dos escravos adultos da Matriz do Pilar,
procurou traçar uma abordagem regional das fontes primárias, contemplando a
qualidade dos dados e suas possíveis interpretações, referentes à dinâmica
do mercado interno e as suas flutuações. O terceiro capítulo dedica-se ao
entendimento do sacramento do batismo e às normatizações registradas nas
Constituições primeiras do arcebispado da Bahia para o batismo de escravo
adulto no século XVIII. E, finalmente, o quarto capítulo trata das relações
de compadrio. Para o entendimento dos laços de compadrio gerados pelo batismo,
parte-se de uma história regional marcada pelas diferenças e pela complexidade
colonial, e reflete-se sobre questões que compuseram o cotidiano escravagista e
sobre a inserção dos escravos na sociedade por meio do tráfico. O compadrio
estabeleceu redes de sociabilidade e favoreceu as alianças construídas no
processo de batismo que modificou as práticas cristãs. Certo é que o tráfico
influenciava nesse processo de compadrio, alterando e criando novas redes
geradas na dinâmica social do processo de escravidão que ainda carecem de
estudo.
NOTAS
1 FRAGOSO, João e GUEDES, Roberto.
Catarina e seus afilhados: anotações sobre o parentesco escravo. O Brasil
negro. Disponível em:
http://www.comciencia.br/reportagens/negros/14.sht
Acesso em 14/09/2004.
2 LINHARES, Maria Yedda Leite. Metodologia da História Quantitativa: balanço e
perspectivas. In: BOTELHO, Tarcísio Rodrigues (Org.) História Quantitativa e
Serial: no Brasil um balanço. Goiânia, 2001. p. 13-26.
3 COSTA. Iraci del Nero. Populações (1719-1826). São Paulo, 1977. Volume I.
Dissertação (Mestrado em Demografia) Faculdade de Economia e Administração
da Universidade de São Paulo. p. 170.
4 COSTA. Iraci del Nero. Populações (1719-1826)...1977, p. 63.
5 COSTA. Iraci del Nero. Populações (1719-1826)...1977, p. 63.
6 LIBBY, Douglas Cole; BOTELHO, Tarcísio R. Filhos de Deus: batismos de
crianças legítimas e naturais na paróquia de Nossa Senhora do Pilar de Ouro
Preto, 1712-1810, Varia História, n. 31, janeiro. Belo Horizonte, 2004. p.
69-96.
7 A designação Banco de Dados da Freguesia do Pilar que irá aparecer ao longo
da dissertação faz parte de um projeto entre a Casa dos Contos de Ouro Preto,
a UFMG e a FAPEMIG. A pesquisa é coordenada pela Dra. Professora Adalgisa
Arantes Campos, a quem agradeço muitíssimo o incentivo e o acesso aos assentos
de Batismo de Escravos Adultos do período de 1712-1750, registrados no referido
Banco. O Arquivo Eclesiástico da paróquia de Nossa Senhora do Pilar de Ouro
Preto (AEPNSP) tem parte substancial de seu acervo oriundo das associações
leigas sediadas na paróquia que, no período colonial, tiveram autonomia e
relativa independência frente à autoridade paroquial. A documentação
compõe-se de manuscritos produzidos no cotidiano das irmandades e daquela
gerada no âmbito da freguesia pelo vigário e seus coadjutores - registros de
batismo, casamentos, óbitos, proclamas, processos de divórcio, testamentos e
inventários. A partir de 1991, o Centro de Estudos do Ciclo do Ouro (CECO),
instalado na Casa dos Contos de Ouro Preto, procedeu à microfilmagem dessa
documentação, a qual, na ocasião, foi higienizada e classificada. Está à
disposição do consulente o Inventário Analítico do Arquivo Eclesiástico da
Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias, de 1992. O
Inventário Analítico do Arquivo Eclesiástico da paróquia de Nossa Senhora do
Pilar, encontra-se sob a forma de catálogo de uso interno. A série batismo foi
microfilmada e digitalizada referente aos seguintes períodos: 1714 a 1719 e de
1736 a 1789. Os livros de batismo do período de 1719 a 1736 encontram-se
desaparecidos. A documentação é composta geograficamente das freguesias da
Matriz do Pilar e das Capelas: Vila Rica, Santa Quitéria da Boa Vista, Nossa
Senhora da Conceição do Chiqueiro do Alemão e outras. Nas informações de
notas de rodapé constarão a data registrada na confecção do assento de
batismo e sua identificação, de acordo com a normatização do Banco de Dados.
8 COSTA. Iraci del Nero. Populações (1719-1826)....1977. p .21.
9 FURTADO, Júnia Ferreira. Homens de negócio:a interiorização da Metrópole
e do Comércio nas Minas setecentistas. São Paulo: Hucitec, 1999. p. 158.
10 COSTA. Iraci del Nero. Populações (1719-1826)...1977. p. 21.
11 VASCONCELLOS, Sylvio. Vila Rica. São Paulo: Perspectiva, 1997. p.16.
12 JUNIOR, Augusto de Lima. A Capitania de Minas Gerais. São Paulo/Belo
Horizonte: Edusp/Itatiaia, 1978. p. 23.
13 JUNIOR, Augusto de Lima. A Capitania de Minas Gerais...1978. p. 28.
14 COSTA. Iraci del Nero. Populações (1719-1826)...1977. p. 23.
15 Revista Arquivo Público Mineiro, Auto de ereção de Vila Rica, ano II, p.
84.
16 FURTADO, Júnia Ferreira. Homens de negócio...1999. p.158.
17 APM SG CMOP, cód 73, p. 56.
18 MATOS, Raimundo José da Cunha. Coreografia da Província de Minas Gerais,
1837. Vol. I, Publicações do Arquivo Público Mineiro, n. 03.
19 Para melhor compreensão da descrição coreográfica, Cunha Matos advertiu
para a seguinte subdivisão: serão chamados os grandes distritos, os
territórios compreendidos nos limites de uma paróquia; e de pequenos
distritos, aqueles que estão subordinados ao comandante paroquial. MATOS,
Raimundo José da Cunha. Coreografia da Província de Minas Gerais..., 1837.
20 MATOS, Raimundo José da Cunha. Coreografia da Província de Minas Gerais...,
1837.
21 JUNIOR, Augusto de Lima. A Capitania das Minas Gerais... 1978. p. 29.
22 CAMPOS, Adalgisa Arantes. Roteiro Sagrado: Monumentos Religiosos de Ouro
Preto. Belo Horizonte: Tratos Culturais, 2000. p. 9-10.
23 Revista do Arquivo Público Mineiro, 1902. p. 987.
24 A Igreja de Nossa Senhora do Pilar foi instituída entre 1700 e 1723, era
pequena e já não comportava a população da paróquia. No ano de 1724,
tornou-se colativa, ou seja, o Bispo designou oficialmente um padre para a
freguesia. Logo, seus moradores decidiram levantar um templo mais amplo. Durante
a construção, funcionou como matriz a capela do Rosário do Caquende. BARBOSA,
Waldemar de Almeida. Dicionário da Terra e Gente de Minas e Dicionário
Histórico Geográfico de Minas Gerias. Belo Horizonte: Itatiaia, 1995.
25 Diziam-se colativas ou coladas as freguesias que, por alvará régio,
recebiam essa distinção. As paróquias colativas tinham o vigário colado, ou
seja, apresentado por decreto real e colado pelo Bispo e tinham direito de
receber a côngrua. O vigário colado era vitalício e inamovível. As 20
primeiras paróquias colativas de Minas foram criadas pelo alvará de 1724.
Foram as seguintes: Ribeirão do Carmo, São João Del-Rei, São José, Vila
Nova da Rainha, Catas Altas, Serro Frio, Cachoeiro do Campo, Pitangui,
Guarapiranga, Furquim, Ouro Branco, Rio das Pedras, Sabará, Antônio Dias, Ouro
Preto, São Sebastião, Santa Bárbara, S. Bartolomeu, Raposos e Bom Retiro.
BARBOSA, Waldemar de Almeida. Dicionário da Terra e Gente de Minas e
Dicionário Histórico Geográfico de Minas Gerais...1995. p. 63.
26 CAMPOS. Adalgisa Arantes. Roteiro Sagrado...2000. p. 9-10.
27 ÁVILA, Affonso. Resíduos setecentistas nas Minas; textos do século do ouro
e as projeções do mundo barroco. Belo Horizonte: UFMG, Centro de Estudos
Mineiros, 1967. 2vol.
28 SOUZA, Laura Mello. Desclassificados do Ouro; a pobreza mineira no século
XVIII. Rio de Janeiro: Graal, 1982. p. 20.
29 FURTADO, Júnia Ferreira. Desfilar a Procissão Barroca. In: Revista
Brasileira de História, Biografia, biografias. São Paulo, ANPUH/Ed. vol.17, n.
33, 1997. p. 254.
30 CAMPOS. Adalgisa Arantes. Roteiro Sagrado...2000. p. 9-10.
31 BOSCHI. Caio César. Os Leigos e o Poder. Irmandades leigas e política
colonizadora em Minas Gerais. São Paulo: Ática, 1986. p. 2.
32 BOSCHI. Caio César. Os Leigos e o Poder...1986. p.2.
33 CAMPOS. Adalgisa Arantes. Roteiro Sagrado....2000. p. 12.
34 CAMPOS. Adalgisa Arantes. Roteiro Sagrado....2000. p. 12.
35 SCARANO, Julita. Devoção e escravidão; a irmandade de Nossa Senhora do
Rosário dos Pretos no Distrito Diamantino no século XVIII. São Paulo:
Companhia das Letras, 1978. p. 145.
36 SOARES, Mariza de Carvalho. Devotos da Cor: Identidade étnica, religiosidade
e escravidão no Rio de Janeiro, século XVIII. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2000. p. 166.
37 PAES, Maria Paula Dias Couto. Teatro do Controle: Prudência e Persuasão nas
Minas do Ouro. Belo Horizonte, 2000. 217f. Dissertação (Mestrado em História)
Universidade Federal de Minas Gerais.
38 CAMPOS. Adalgisa Arantes. Roteiro Sagrado...2000. p. 12.
39 FRAGOSO, João; GUEDES, Roberto.
http://www.comciencia.br/reportagens/negros/14.shtl
40 GUTMAN, Herbert, G. The Black Family in Slavery and Freedom,1750-1925. New
York: Rondom House, 1976. GENOVESE, Eugene; A terra prometida: o mundo que os
senhores criaram. Rio de Janeiro/Brasília: Paz e Terra/CNPq, 1988. FOGEL,
Robert W, e ENGERMAN, Stanley L; Time on the Cross: The Economicsof American
Negro Slavery, 2 volumes, Boston/Toronto: Little Brown and Company, 1974.
41 Fazem parte desta produção autores como: SAMARA, Eni de Mesquita. As
mulheres, o poder e a família. São Paulo: Marco Zero, 1989; A família
brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1983. NIZZA, da Silva. Beatriz. Sistema de
casamento no Brasil colonial. São Paulo: EDUSP,1984 e SLENES, Robert. Na
Senzala, uma flor: Esperanças e recordações na formação da família escrava
- Brasil Sudeste, século XIX. Rio de Janeiro: Novas Fronteira, 1999. FRAGOSO,
João Luís R; FLORENTINO, Manolo G. "Marcelino, filho de Inocência
Crioula, neto de Joana Cabinda: um estudo sobre a famílias escravas em Paraíba
do Sul (1835-1872). Estudos Econômicos, 17:2, maio/agosto, 1987, p. 151-173.
42 SCHWARTZ, Stuart. Escravos, roceiros e rebeldes. São Paulo: Companhia das
Letras, 1988. p. 35
43 SCHWARTZ, Stuart. Escravos, roceiros e rebeldes...1998. p. 35.
44 FARIA, Sheila de Castro. A colônia em movimento. Fortuna e família no
cotidiano colonial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998. p. 21
45 SLENES, Robert. Na Senzala, uma flor: Esperanças e recordações na
formação da família escrava - Brasil Sudeste, século XIX. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1999.
46 FURTADO, Júnia Ferreira. (Org.) Diálogos Oceânicos: Minas Gerais e as
novas abordagens para uma história do Império Ultramarino Português. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2001. p.17-19.
47 FIGUEIREDO, Luciano R. A. Barrocas Famílias: vida familiar em Minas Gerais
no século XVIII. São Paulo: Hucitec, 1997.
48 Rosa Egipcíaca de Vera Cruz, menina africana chegou como escrava no Rio de
Janeiro em 1725. Estuprada ainda criança, foi vendida para a região das Minas
Gerais e tornou-se prostituta. Durante 15 anos trabalhou como meretriz
circulando com grande desenvoltura social na colônia. Por volta de 1750, Rosa
muda seu estilo de vida, aos 31 anos passou a ter visões místicas, abandona a
prostituição e se torna beata. Ela retorna ao Rio de Janeiro, dedica-se as
obras de caridade e em pouco tempo passa a ser venerada por escravos e senhores.
MOTT, Luiz. Rosa Egipcíaca, uma santa africana no Brasil. Rio de Janeiro:
Bertrand, 1993.
49 FURTADO, Júnia Ferreira. Chica da Silva e o contratador dos diamantes: O
outro lado do Mito. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
50 Termo com que se tratavam reciprocamente os negros que, no mesmo navio,
vinham da África para o Brasil. BARBOSA, Waldemar de Almeida. Dicionário da
Terra e da gente de Minas...1995. p.121.
51 SCHWARTZ, Stuart. Escravos, roceiros e rebeldes...2001. p. 263.
52 ANASTASIA. Carla Maria Junho. Vassalos Rebeldes: violência coletivas nas
Minas da primeira metade do século XVIII. Belo Horizonte: C/Arte, 1988. p. 125.
53 FIGUEIREDO, Luciano Raposo de Almeida. Barrocas famílias...1997. p. 127.
54 VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808). Rio de Janeiro:
Objetiva, 2000. p. 209.
55 MARTINS, Maria do Carmo Salazar. Fontes para o estudo da Província de Minas
Gerais. In: BOTELHO, Tarcísio Rodrigues. História Quantitativa e Serial no
Brasil; Um balanço. Goiânia: ANPUH-MG, 2001. p. 10.
56 LINHARES, Maria Yedda Leite. Metodologia da História Quantitativa: balanço
e perspectivas. In: BOTELHO, Tarcísio Rodrigues...2001. p. 13-26.
PETIZ,
Silmei de Sant'Ana. Parentesco e Famílias Escravas, Rio Grande de São Pedro,
1750-1835. Comunicação apresentada no IX Encontro Estadual de História -
ANPUH-RS. Porto Alegre, IFCH - UFRGS, 14 a 18 jul. de 2008. Disponível em:
http://www.eeh2008.anpuh-rs.org.br/site/anaiseletronicos
RESUMO. Na presente comunicação pretendo apresentar uma parte da pesquisa que
desenvolvo sobre as famílias escravas da capitania - depois província -, do
Rio Grande de São Pedro, entre 1750 e 1835, período de pleno funcionamento do
tráfico atlântico. Procuro demonstrar que diferentemente do que foi enfatizado
pela historiografia tradicional, o escravo não apenas foi bastante
representativo nesta região de economia interna, voltada para agropecuária,
como também teve acesso a relações sociais estáveis. Para desenvolver essas
idéias fundamento o presente trabalho numa associação entre análise
estatística e estudos de casos que visam ampliar a capacidade de deduzir
estabilidade nas relações entre cativos, ultrapassando a simples defesa da
contínua presença dessas relações parentais, através da análise de
gerações de cativeiro.
REBELATTO,
Martha. A importância dos pequenos e médios plantéis escravos para as
economias locais e regionais durante o século XIX (Debate Historiográfico).
Comunicação apresentada no XVI Encontro Regional de História da ANPUH-MG.
Belo Horizonte, 20 a 25 de julho de 2008.
RESUMO. As Minas Gerais foram palco de diversas investigações que colaboraram
para a desmistificação da "visão plantacionista" da economia
brasileira no século XIX. Tais pesquisas evidenciaram o fato que Minas, apesar
de não estar ligada diretamente ao mercado agro-exportador, era a maior
província escravista do país. Os historiadores vêm mostrando que após o auge
minerador formou-se em Minas Gerais uma sociedade heterogênea com base
econômica diversificada em que coexistiram múltiplas formas de trabalho.
Acompanhando estes debates pretendo, em minha pesquisa de doutorado, entender
melhor a economia escravista na região central de Minas Gerais (atuais cidades
de Itabira, Santa Bárbara, São Gonçalo do Rio Abaixo, Barão dos Cocais e
Catas Altas), examinando, entre outros aspectos, o tamanho médio dos plantéis
e quais os tipos de atividades em que os cativos estavam inseridos. Esta
comunicação pretende inserir - de forma ainda superficial, pois o estudo está
em fase inicial - meu projeto nos debates a respeito da economia e da posse de
escravos nas sociedades mineiras do século XIX. Sendo assim, apresentarei um
debate historiográfico sobre o tema da propriedade escrava em Minas Gerais,
mesclando a discussão com estudos referentes a outras localidades do país, que
também vêm destacando a importância dos pequenos e médios plantéis para as
economias locais e regionais.
REIS,
Thiago de Souza dos. Mortalidade e escravidão: Vassouras, 1865-1888.
Comunicação apresentada no 3o. Seminário Regional do CEO/PRONEX.
Mariana, 2008.
RESUMO. O presente trabalho pretende realizar o levantamento de algumas
características dos escravos falecidos na Freguesia de Nossa Senhora da
Conceição de Vassouras, em especial o local de sepultamento, a idade e o sexo
do falecido. Para isso se valerá da análise do Livro de Óbitos de Captivos da
Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Vassouras. A cidade de Vassouras,
na época, apresentava uma economia lastreada na produção de café
fundamentada no sistema produtivo baseado em amplas extensões de terra
cultivadas por mão-de-obra escrava. Partiremos de um levantamento quantitativo
demográfico realizado com base no referido livro de registros de óbitos de
escravos daquela freguesia, entre os anos de 1865 e 1888. Juntamente com a
utilização de outras fontes, verificamos a maior mortalidade proporcional do
grupo masculino da população examinada, uma mortalidade que atinge o grupo
mais propenso ao trabalho ou de cunho infantil, dependendo dos fatores
utilizados na divisão das faixas etárias a serem analisadas.
RIBEIRO,
Núbia Braga. Os Povos Indígenas e os Sertões das Minas do Ouro no Século
XVIII. São Paulo, Departamento de História - Faculdade de Filosofia Letras
e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, Tese de doutorado, 2008, 405
p.
RESUMO (preparado pela autora da tese). Este estudo aborda as políticas de
ocupação e exploração das minas dos sertões concomitante as reações
indígenas, no século XVIII, principalmente, a partir da década de 1730. Ao
analisar as fontes, contempladas nas correspondências entre autoridades,
instruções, planos de catequese e civilização, se constatou que a
violência, como resultado da prática consuetudinária, prevaleceu sobre as
leis de integração social dos gentios. Avaliou-se as investidas dos índios,
ao impedirem o êxito dos propósitos do Antigo Sistema Colonial, tornaram
objetos da política de Estado incluindo o destino desses povos na pauta de
diretrizes, donde derivou a série de planos de catequese. Entretanto, nada mais
foram que alternativas dissimuladas de cooptação, articuladas numa seqüência
estratégica de anulação das resistências indígenas, como a invenção dos
aldeamentos foi um meio de confiná-los em redutos projetados para infligir os
hábitos da vida sedentária e a extinção da vida nômade. Pretendia-se
adaptá-los ao modelo de civilização européia, promover a convivência com os
não índios e viabilizar o acesso às minas. Nesta perspectiva a colonização,
inevitavelmente, esteve associada à apropriação das riquezas, condição
determinante do sentido à conquista e a razão à catequese. Em contrapartida,
originou uma situação permanente de tensões diretamente vinculada à
desapropriação das terras indígenas, conjuntamente se revelou a maior
incidência das disputas nas áreas dos principais focos de lutas indígenas e
se identificou, exatamente, nelas a concentração da política indigenista.
Embora aparentemente as estratégias ressoassem o intuito de apaziguar os
índios mediante os instrumentos de sujeição, tutela, liberdade restrita, a
guerra ofensiva foi um recurso condicionado aos agravos das reações
indígenas. Contudo, a guerra, fenômeno histórico-cultural tanto indígena
quanto europeu, se efetivou nos combates armados de ambos os lados. Assim, sob o
artifício da fé e civilização se enunciou o dever cristão de conduzir o
"bárbaro selvagem" à salvação. No entanto, o cumprimento do dever
esteve conexo à recompensa de administrar a vida dos índios, por conseguinte,
de administrar a opulência do patrimônio abrigado nas sesmarias e datas
minerais localizadas nos sertões. Em função disso, foi indispensável à
pesquisa apreender a concepção de sertões e reconhecer a significância do
nomadismo, comum aos índios, que forneceu a imagem de espaços em movimentos,
compreendendo fronteiras imprecisas que se interagiam nas dimensões étnicas,
sociais e econômicas. A itinerância dos índios conferiu atributos à
identidade dos ambientes naturais, à medida que se deslocavam se constituía a
referência de fluidez dos espaços, mas para dominá-los dependia de fixá-los
em limites. Portanto, a correlação entre mobilidade dos sertões e
inconstância dos gentios configurou uma geopolítica específica do interior da
América portuguesa interligado pelos caminhos trilhados das minas do ouro entre
Minas-Goiases-Cuiabá, Minas e Espírito-Santo, Minas-Bahia e assim por diante.
As Minas Gerais setecentista, respeitadas as peculiaridades do contexto e das
diversas etnias dos povos indígenas, guardavam os metais preciosos e delas se
partia para outras minas. Os sertões dos índios eram os sertões das Minas do
ouro, espalhadas ao longo dos rios, distantes do litoral, se apresentaram nos
focos de reações indígenas que se interpunham como desafio para atingi-las.
SANTANA,
Alessandro Abdala. Habitantes do Sertão: homens livres e escravos no Julgado
do Desemboque-MG (1783-1873). Franca, Trabalho de Conclusão de Curso
(Bacharelado em História). UNESP-Faculdade de História, Direito e Serviço
Social, 2008. 71 p.
RESUMO. Neste trabalho buscamos caracterizar e descrever o processo de
povoamento ocorrido no antigo "Sertão da Farinha Podre", atual
Triângulo Mineiro. Utilizamos principalmente o documento "Notícia Geral
da Capitania de Goiás, de 1783" e o relato de dois viajantes do século
XVIII que percorreram a região, o geólogo alemão, Barão de Eschwege e o
naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire. Para entender a estrutura
populacional de Desemboque e de Sacramento, principais núcleos populacionais da
região, no período 1783-1873, analisamos as listas nominativas relativas a
essas localidades disponíveis no Arquivo Público Mineiro. Trabalho de
Conclusão de Curso (Bacharelado em História).
SANTOS,
Sherol dos. Bastardo, Tropeiro e Pardo: a inserção social de forros numa vila
colonial (a família de Inácio José de Mendonça - Santo Antônio da Patrulha,
séc. XVIII). Comunicação apresentada no IX Encontro Estadual de História -
ANPUH-RS. Porto Alegre, IFCH - UFRGS, 14 a 18 jul. de 2008.
RESUMO. Pretendemos nesta comunicação apresentar a família de Inácio José
de Mendonça, pardo, filho de uma escrava e um padre, que como tropeiro cruzava
o Continente de São Pedro no séc. XVIII. Por volta de 1750 Inácio instala-se
na Guarda Velha de Viamão (atual município de Santo Antônio da Patrulha), em
1755 casa-se com Margarida da Exaltação, filha bastarda (como ele) de Manoel
de Barros e uma escrava sua de nome Tereza, e no mesmo ano inicia a construção
da primeira Igreja da nascente Vila. Estas ações nos revelam o investimento
desse indivíduo no seu status social; partindo dessas informações buscamos,
através da análise dos registros paroquiais referentes à família Barros de
Mendonça, perceber as estratégias que transparecem na escolha dos padrinhos de
seus filhos e netos. Acreditamos que casamentos e apadrinhamentos são
estratégias colocadas em ação no sentido de ampliar e fortalecer relações,
cimentando solidariedades, entrelaçando alianças e, no caso de pardos,
viabilizando uma "melhoria" no seu status social. Portanto, a família
Barros de Mendonça serve-nos como exemplo de como as redes de sociabilidade de
pardos, negros e brancos se constituíam na freguesia da Guarda Velha de Viamão
no final do século XVIII.
SILVA,
Ewerton Luiz Figueiredo Moura da. Presença portuguesa em Franca: um olhar a
partir de fontes paroquiais (1913-1917). Franca, Trabalho de Conclusão de
Curso (Bacharelado em História). UNESP-Faculdade de História, Direito e
Serviço Social, 2008, 91 p.
RESUMO. A presente pesquisa visa a abordar, mediante certidões de batismo, a
presença de imigrantes lusos no espaço geográfico de Franca durante os
primeiros anos do século XX. A historiografia local ainda não dedicou nenhum
trabalho específico sobre o papel desempenhado na região por imigrantes vindos
de Portugal, os quais correspondiam a aproximadamente 10% do total da
população imigrante residente no município; a eles cabia o terceiro lugar
entre os grupos étnicos estrangeiros em Franca, atrás somente dos italianos e
espanhóis. A consulta das fontes nos permitiu encontrar cerca de 220
imigrantes, dos quais conseguimos extrair dados como: lugar de origem em
Portugal; sexo; matrimônio (destacando a nacionalidade dos cônjuges, país
onde ocorreu o enlace e o número de casamentos civis e religiosos); tempo
transcorrido entre o nascimento das crianças e o batizado; os principais dias
da semana escolhidos para o batismo dos seus filhos; assim como a nacionalidade
dos padrinhos (acreditamos que esse dado poderá oferecer importantes
informações a respeito das estratégias de sociabilidade dos imigrantes
portugueses com outros grupos étnicos e com seus próprios conterrâneos).
TESE DE DOUTORADO DE RENATO LEITE MARCONDES
MARCONDES,
Renato Leite. A arte de acumular na gestação da economia cafeeira: formas
de enriquecimento no vale do Paraíba paulista durante o século XIX.
(doutorado, Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da
Universidade de São Paulo, 1998), 276 p., mimeografado. Também publicado: A
arte de acumular na economia cafeeira: Vale do Paraíba, século XIX. Lorena
(SP), Editora Stiliano, 1998, 332 p.
RESUMO. Ao longo do século XIX ocorreu um expressivo crescimento econômico e
demográfico no vale do Paraíba. A expansão da cafeicultura desempenhou um
papel fundamental em tal processo, pois abriu novas oportunidades aos moradores
da região e aos oriundos de fora. Neste contexto, o autor procura entender tais
transformações e as formas de acumulação econômica observadas na localidade
selecionada para estudo -- Lorena (SP) --, cuja vida econômica viu-se marcada,
durante o final do século XVIII e início do XIX, pela expansão da
cana-de-açúcar. Posteriormente, o plantio da rubiácea figurou como a
principal atividade dos habitantes da aludida área. As fontes documentais
utilizadas consistiram, basicamente, de listas nominativas de habitantes e de
inventários. Na primeira parte da tese apresenta-se um panorama geral da
localidade como um todo em seus aspectos demográficos e econômicos para o
período 1778-1829, são realçados três contingentes populacionais:
escravistas, seus escravos e os chefes de domicílio não-proprietários de
cativos. Na outra parte centra-se a análise numa amostra dos moradores da
localidade, ali presentes em 1829, para os quais foi possível a localização
de seus inventários. A partir de 187 indivíduos selecionados efetua-se a
discussão do acúmulo de escravos entre dois momentos: 1829 e o período no
qual foram elaborados os inventários -- 1830/79. Quanto ao processo de
acumulação, alguns condicionantes mostraram-se relevantes, como, por exemplo,
a atividade desenvolvida, a propriedade de terras e a idade dos escravistas.
Além da propriedade escrava, estudou-se o conjunto da riqueza inventariada: os
cafeicultores, lojistas de fazenda seca, usurários e produtores de derivados de
cana mantinham a quase totalidade da riqueza, inclusive dos escravos. O
procedimento de acompanhar os indivíduos no tempo permitiu o exame das
mudanças de suas ocupações. A continuidade da cafeicultura garantia um
patrimônio médio superior ao dos que abandonaram esta atividade. Entretanto,
um número significativo de pessoas da amostra passou a atuar na faina
canavieira, em alguns casos abandonando a produção de café. Os fornecedores
locais de crédito revelaram um papel atuante na expansão da cafeicultura e
alcançaram as maiores fortunas. Não foram detectadas evidências de relações
de dependência financeira entre a região estudada e a praça do Rio de
Janeiro. Assim, a economia cafeeira possibilitou a continuidade de atividades
pretéritas moldadas à nova realidade e à abertura de novas opções de
inversão especialmente para os detentores de grandes recursos. Estes últimos
mantiveram-se, pois, ao longo do tempo, no topo da hierarquia econômica da
região. Para ler a versão integral da tese
.
BASSANEZI,
Maria Sílvia C. Beozzo & SCOTT, Ana Sílvia Volpi & BACELLAR, Carlos de
Almeida Prado & TRUZZI, Oswaldo Mário Serra & GOUVÊA, Marina. Repertório
de legislação brasileira e paulista referente à imigração. São Paulo,
Editora UNESP, 2008, 132 p.
APRESENTAÇÃO. Este repertório surgiu da constatação de que a legislação
referente à imigração não se encontrava sistematizada e facilmente
disponível aos pesquisadores interessados no estudo da imigração
internacional no Estado de São Paulo no período de 1850 a 1950. Obras já
publicadas e disponíveis, que tiveram objetivos outros, arrolam leis sobre
imigração mas não contemplam na sua totalidade toda a legislação que se
refere a esse período e espaço. Dessa forma, para evitar a sobreposição de
trabalho, a princípio, direcionamos nossa atenção para levantar, naquelas
obras já publicadas, as referências que interessavam aos nossos objetivos. Em
seguida, passamos a verificar dúvidas ocorridas nesse primeiro levantamento e,
ao mesmo tempo, levantar a legislação não mencionada naquelas publicações
visando a construir uma listagem mais completa e mais adequada aos nossos
propósitos e que também pudesse ser uma obra de referência a outros
pesquisadores da imigração do Estado de São Paulo. A princípio, havíamos
julgado que bastaria consultar a Coleção de Leis do Brasil e a Coleção de
Leis do Estado de São Paulo. Baseávamo-nos no pressuposto, aliás bastante
difundido entre os pesquisadores em geral, de que ali seria encontrada toda a
legislação eventualmente produzida nos dois âmbitos administrativos. Porém,
percebemos, ao longo da pesquisa, que várias referências, nas fontes
documentais, a leis, decretos e regulamentos, não eram correspondidas pela sua
detecção nas duas coleções. Ambas eram, portanto, e contra todas as
previsões, incompletas, parciais. Foi preciso, assim, descobrir que havia
outras coleções de legislação, muito pouco conhecidas pelos historiadores,
mas que continham leis e decretos complementares às duas primeiras coleções,
além, obviamente, de muita coisa em comum. Estendeu-se, portanto, a pesquisa e
o levantamento às seguintes séries: LEX Federal e Marginália (publicada a
partir de 1937), Ementários Federais (publicados apenas a partir de 1940) e
Synthese Legislativa (publicada apenas em alguns anos). Nosso levantamento
compreendeu a legislação colonial, imperial/federal e provincial/estadual
entre 1747 e 1961, o que extrapola o período original de nossos estudos. Nele
observamos algumas lacunas e problemas, como a ausência de alguns volumes da
coleção de leis nos acervos consultados e, em consequência, lacunas em nossa
listagem. Por sua vez, a numeração da legislação nem sempre obedeceu a um
único e definido padrão. Enfim, é preciso registrar que nessa atividade foram
pesquisados cerca de 900 volumes, nem sempre em bom estado de conservação e
alocados em uma mesma instituição, o que define essa atividade também como
muito trabalhosa, além de muito relevante. Esse repertório é, portanto, fruto
de um demorado e exaustivo levantamento de fontes impressas, que implicou a
leitura atenta de cada documento, de modo a identificar qual estava direta ou
indiretamente relacionado à questão da imigração. Isso significa que foi
incluída a legislação de regulamentação do fluxo imigratório e de
criação de núcleos coloniais, mas são encontradas, também, informações
sobre verbas orçamentárias destinadas à imigração e leis de
regulamentação da vida do imigrante no Brasil, inclusive sobre a
naturalização. Enfim, toda uma vasta relação de legislação, não
transcrita na íntegra dos atos, mas apenas indicando o cabeçalho dos mesmos,
que inclui sua data, o seu número e sua descrição abreviada, conforme a
publicação original. Esperamos, assim, estar contribuindo para uma melhoria
das condições de pesquisa do fenômeno imigratório, na medida em que
estaremos facilitando ao pesquisador a identificação dos conjuntos de leis,
decretos, decretos-leis e regulamentos que balizaram todo o processo de vinda e
de estabelecimento das correntes imigratórias internacionais até 1961.
Reunidos em um só volume, representam um avanço considerável na
disponibilização de melhores condições de pesquisa. (Extraído da
Apresentação elaborada pelos autores).
BASSANEZI,
Maria Sílvia C. Beozzo & SCOTT, Ana Sílvia Volpi & BACELLAR, Carlos de
Almeida Prado & TRUZZI, Oswaldo Mário Serra. Roteiro de fontes sobre a
imigração em São Paulo, 1850-1950. São Paulo, Editora UNESP, 2008, 314
p.
APRESENTAÇÃO. A pretensão do presente Roteiro não é, de maneira alguma,
identificar a totalidade dos acervos documentais sobre a imigração, mas sim
apontar as imensas possibilidades dos principais arquivos existentes no Estado
de São Paulo. Foram selecionados, assim, o Arquivo do Estado de São Paulo, o
Memorial do Imigrante, a Fundação SEADE, o Instituto Agronômico de Campinas e
o Arquivo Edgar Leuenroth da Unicamp. Ficaram de fora, obviamente, os diversos
arquivos municipais, os arquivos do Poder Judiciário, o arquivo da Assembléia
Legislativa, diversos arquivos privados, centros de documentação que, para
serem abrangidos, exigiriam projeto de muito maior envergadura e duração.
Nossa intenção foi buscar identificar o mais profundamente possível a
documentação relativa às várias etapas do processo migratório. Quase sempre
esta tarefa foi bastante difícil, uma vez que os instrumentos de pesquisa
disponíveis nas diversas instituições visitadas são, via de regra,
incompletos, desatualizados e imprecisos. Se alguns conjuntos documentais eram
visivelmente relacionados ao tema, outros, no entanto, foram objeto de intensa
consulta, com o fim de detectar seu interesse para a questão da imigração.
Isto significou, portanto, que foi preciso requisitar e consultar uma enorme
quantidade de caixas e volumes de documentação, que foram minuciosamente
avaliados pela equipe do projeto. Não foi possível, no entanto, promover a
abertura exaustiva de todas as caixas e volumes. Isto tomaria imenso tempo.
Trabalhamos por amostragem, principalmente no Arquivo do Estado, onde se fez
necessário o trabalho com a quase totalidade do acervo que cobria as
datas-limite por nós estabelecidas, de 1850 a 1950. A má identificação
desses acervos nos catálogos impressos e informatizados, e sua ainda deficiente
organização, obrigaram-nos a um autêntico esforço da equipe, no sentido de
quase adivinhar o que deveria ser consultado. Conjuntos documentais amplos,
porém identificados de maneira totalmente genérica ("ofícios",
"ministérios idos", "polícia", dentre outros), não
deixavam alternativa, senão o exame por amostragem, buscando identificar a
existência de papéis relativos ao imigrante na sociedade paulista. Quase
sempre, o que se descobria era justamente a inexistência de uma organização
mínima de partes significativas do acervo, com documentos reunidos de maneira
incorreta numa mesma caixa, ou identificados sob nomenclatura variada. Mas as
riquezas também afloraram, e as transcrições oferecidas ao longo do Roteiro
visam, justamente, a sugerir ao leitor com o que ele poderá se deparar. Daí,
portanto, a idéia básica que norteou a elaboração deste Roteiro: a de
facilitar a ação de busca do pesquisador da imigração internacional. Ao
apontarmos para os conjuntos documentais, apresentarmos os principais documentos
neles existentes e mesmo oferecermos, a título de ilustração, algumas
transcrições de documentos, procuramos alertar para as diferentes
possibilidades de pesquisa permitidas pela rica oferta documental. Apontamos,
também, para a existência de acervos que, de uma maneira geral, jamais se
consultou de modo exaustivo, em busca do imigrante. É o caso, dentre outros, de
todos os registros eleitorais da República Velha, mediante os quais se permite
vislumbrar, de maneira bastante intrigante, o processo de inserção social do
imigrante na comunidade onde veio a residir. Por outro lado, temos plena
consciência de que o levantamento aqui disponibilizado não é completo. Se a
intenção inicial foi essa, o volume de papéis hoje arquivados e sua má
organização para a consulta convencem-nos de que alguma coisa ficou de fora.
Mas serão, sem dúvida, pequenos conjuntos documentais, compostos por uma ou
outra caixa, já que os de maiores dimensões foram analisados em sua
totalidade. Além disso, deve-se notar que, devido ao processo de amostragem
adotado, nem todas as caixas indicadas em catálogo como pertencentes a um mesmo
conjunto documental foram abertas e podem, excepcionalmente, apresentar
conteúdo diverso do informado pelo próprio catálogo. De qualquer maneira, o
volume de informações aqui reunido, cobrindo seis instituições
arquivísticas distintas, é suficiente para comprovar a diversidade de fontes
disponíveis para o pesquisador. Ao indicar suas potencialidades, buscamos
simplificar a sempre árdua tarefa enfrentada ao se iniciar um projeto, a
identificação das fontes documentais. Enquanto instrumento de pesquisa, este
Roteiro pretende colaborar com a ampliação do conhecimento, ainda
evidentemente lacunar, do fenômeno imigratório, principalmente no que diz
respeito ao processo de inserção social do imigrante na sociedade paulista.
Cabe lembrar, ainda, que a documentação foi aqui apresentada e organizada tal
como se encontra nas respectivas instituições, sem que houvesse qualquer
preocupação no sentido de tentar reconstituir, com maiores detalhes, os
organogramas dos respectivos órgãos produtores. Portanto, os títulos das
caixas e volumes indicados ora se referem a funções administrativas, ora a
assuntos, tal como são hoje encontrados arquivados. Nossa preocupação foi,
enfim, de descrever os conjuntos como hoje se encontram, cientes de que, no
futuro, poderão passar por processos de reorganização e de nova
identificação, tal como procede, na atualidade, o Arquivo do Estado com o
vasto conjunto denominado, de modo genérico e impreciso, "Juízo de
Órfãos". Temos certeza de que a tarefa empreendida não foi em vão e
permitirá, pela exposição de informação em um volume inédito, o inspirar
de novas pesquisas sobre a história da imigração e do imigrante em
território paulista. (Extraído da Apresentação elaborada pelos autores).
BASSANEZI,
Maria Sílvia C. Beozzo & SCOTT, Ana Sílvia Volpi & BACELLAR, Carlos de
Almeida Prado & TRUZZI, Oswaldo Mário Serra. Atlas da imigração
internacional em São Paulo, 1850-1950. São Paulo, Editora UNESP, 2008, 138
p.
APRESENTAÇÃO. O presente Atlas focaliza a experiência migratória em São
Paulo, apresentando informações demográficas e socioeconômicas relativas à
população estrangeira presente no estado no século compreendido entre 1850 e
1950. Também destaca os dados relativos à população escrava no período
imperial, embora não distinga a população negra, subssumida no conjunto da
população brasileira, no período pós-abolição. Para tal apóia-se
fundamentalmente nas informações coligidas pelos recenseamentos nacionais e
regionais publicados, realizados ainda no Império (1854, 1872 e 1886) e na
República (1920, 1934, 1940 e 1950), distribuídas pelos municípios paulistas
e também tratadas, em seu conjunto, de forma agregada em gráficos e pirâmides
etárias. Os recenseamentos de 1890 e 1900 enfrentaram uma série de problemas
que afetaram a realização e a publicação desses censos, comprometendo suas
informações como será detalhado ao longo deste Atlas e do Anexo 1. Em 1910
não foi realizado nenhum recenseamento nacional ou regional. Portanto, para o
período em que o fluxo da imigração estrangeira no Estado de São Paulo foi
mais intenso (1886-1914), não dispomos de boa ou de nenhuma informação
censitária sobre os estrangeiros no Brasil, exceto uns poucos levantamentos
organizados por autoridades municipais ou indicações gerais constantes nos
Relatórios enviados a autoridades do Estado de São Paulo. Além dos
recenseamentos, outras fontes enriquecem e ampliam o alcance deste Atlas na
percepção da presença e inserção dos imigrantes na sociedade paulista. Um
breve comentário dos aspectos mais salientes em cada época acompanha a
apresentação dos mapas e gráficos. (Extraído da Introdução elaborada pelos
autores).
Para mais informações sobre esses três volumes:
http://www.editoraunesp.com.br/lancamentos.asp
BACELLAR,
Carlos de Almeida Prado. Arrolando os habitantes no passado: as listas
nominativas sob um olhar crítico. LOCUS: Revista de História, 26. Juiz
de Fora, Departamento de História/Programa de Pós-Graduação em História da
Universidade Federal de Juiz de Fora, vol. 14, n. 1, Dossiê História
Quantitativa e Serial, jan./jun. 2008, p. 107-124.
Disponível em: http://www.historia.ufjf.br/locus/index.php
RESUMO. As listas nominativas de habitantes para a capitania de São Paulo
constituem a mais importante coleção de levantamentos populacionais realizados
na América portuguesa colonial. Em suas páginas, livres e escravos foram
identificados individualmente, a cada ano, no intervalo entre 1765 e 1836. O
artigo consiste numa reflexão crítica sobre a qualidade das informações
dessas listas, consideradas no contexto social, político e econômico em que
foram elaboradas. São discutidas algumas possibilidades analíticas para o
estudo da família, da estrutura do domicílio e da posse da terra, através de
estudos longitudinais.
ABSTRACT. The nominative lists of inhabitants for the capitania of São Paulo
constitute the most important collection of population censuses in Colonial
Portuguese America. In its pages, slaves and frees had been individually
identified, every year, in the interval between 1765 and 1836. The article
consists of a critical reflection on the quality of the information of these
lists, considered in the social, political and economic contexts where they had
been elaborated. Some analytical possibilities for the study of the family, of
the household structure and the ownership of the land are argued, through
longitudinal studies.
BOTELHO,
Tarcísio R. Categorias de diferenças: ocupação, "raça" e
condição social no Brazil do século XIX. LOCUS: Revista de História, 26.
Juiz de Fora, Departamento de História/Programa de Pós-Graduação em
História da Universidade Federal de Juiz de Fora, vol. 14, n. 1, Dossiê
História Quantitativa e Serial, jan./jun. 2008, p. 153-185.
Disponível em: http://www.historia.ufjf.br/locus/index.php
RESUMO. O propósito desse artigo é analisar a desigualdade social no Brasil do
século XIX utilizando as listas nominativas de habitantes produzidas durante a
década de 1830. Primeiramente apresento e utilizo o sistema de codificação de
ocupações denominado HISCO. Em seguida, exponho e aplico a HISCLASS, uma
proposta de análise de classes sociais a partir da declaração de ocupações,
como uma metodologia de análise da desigualdade social em sociedades
pré-industriais não-européias. Para sociedades coloniais e pré-coloniais, é
necessário considerar outras dimensões da vida social para que se consiga
construir um sistema adequado de mensuração do status social e da mobilidade
social. Para o caso latino-americano, e em especial nas áreas coloniais
portuguesas, considero sobretudo as categorias censitárias de raça/etnia e de
condição social dos indivíduos (livres, libertos ou escravos) como elementos
importantes para esse tipo de análise.
ABSTRACT. The aim of this article is to analyze social inequality in 19thcentury
Brazil, using nominative lists of inhabitants produced during the 1830 decade.
First I use HISCO and HISCLASS as an initial approach to social inequality in a
pre-industrial on-European society. Then, I introduce a discussion about the
necessity of considering other dimensions of social life to be able to build an
accurate system to measure social status and social mobility in colonial and
post-colonial societies. I analyze race and social condition (slave, freed and
free status) as important categories in Latin American and other Portuguese
colonial areas.
CARRARA,
Angelo Alves. Para uma história dos preços do período colonial: questões de
método. LOCUS: Revista de História, 26. Juiz de Fora, Departamento de
História/Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de
Juiz de Fora, vol. 14, n. 1, Dossiê História Quantitativa e Serial, jan./jun.
2008, p. 187-217.
Disponível em: http://www.historia.ufjf.br/locus/index.php
RESUMO. A história dos preços no Brasil não é gênero que tenha cativado a
muitos historiadores. No entanto, muitos pesquisadores têm nos últimos anos
procedido ao estabelecimento de séries de preços como recurso axial ou
auxiliar, em particular para o período posterior a 1808, mas o mesmo não
ocorre para os séculos XVII e XVIII. Este trabalho pretende sistematizar
algumas questões de método relativas à construção de séries de preços,
com especial atenção para as possibilidades de estabelecimento de um fator de
conversão para algumas moedas estrangeiras do período.
ABSTRACT. Price history in Brazil is not a theme that have attracted many
historians. However, many researchers have in the last few years proceeded to
building price series as a central resource, namely to the period after 1808,
but the same is not true for the seventeenth and eighteenth centuries. This
article aims at introducing some methodologial issues concerning the building of
price series, with special attention to the possibilities of constructing a
conversion factor to some currencies in the period.
GRAÇA
FILHO, Afonso de Alencastro & PINTO, Fábio Carlos Vieira & MALAQUIAS,
Carlos de Oliveira. Famílias escravas em Minas Gerais nos inventários e
registros de casamento: o caso de São José do Rio das Mortes, 1743-1850. LOCUS:
Revista de História, 26. Juiz de Fora, Departamento de História/Programa
de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Juiz de Fora, vol.
14, n. 1, Dossiê História Quantitativa e Serial, jan./jun. 2008, p.125-151.
Disponível em: http://www.historia.ufjf.br/locus/index.php
RESUMO. A pesquisa sobre a família escrava no Brasil, desde o início, suscitou
o uso de fontes seriais, como forma de evidenciar a sua relevância no
funcionamento da ordem escravocrata. Diversas fontes foram exploradas com a
finalidade de observarmos a composição e estabilidade desses laços conjugais
formalizados no cativeiro. Nossa intenção é a de discutir os resultados
dessas explorações historiográficas, observando a análise comparativa entre
as características das informações contidas em fundos documentais tão
diversos, a exemplo dos inventários post-mortem, listas censitárias e
registros paroquiais de batismos e casamentos.
ABSTRACT. Research on slave families in Brazil has aroused from the beginning
the usage of serial sources as a way of stressing its relevance to the
slave-holding order. Many sources has been exploited in order to check the
composition and stability of slave couples. Our intent is to discuss the results
from these researches, on the basis of different kinds of sources.
GRAHAM,
Richard. Os números e o historiador não-quantitativo. LOCUS: Revista de
História, 26. Juiz de Fora, Departamento de História/Programa de
Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Juiz de Fora, vol. 14,
n. 1, Dossiê História Quantitativa e Serial, jan./jun. 2008, p.19-39.
Disponível em: http://www.historia.ufjf.br/locus/index.php
RESUMO. Valiosas percepções podem ser extraídas de dados quantitativos, mesmo
por historiadores não-quantitativos. Isto é particularmente verdadeiro porque
tais dados freqüentemente sugerem padrões comuns de comportamento nem sempre
vistos e muito menos compreendidos a seu tempo, bem como porque precisamente
tais padrões gerais mostram a importância de desvios particulares. A
informação quantitativa também pode levar os pesquisadores a formular
questões que, de outra forma, não pensariam em levantar, especialmente quando
ela é sujeita à análise comparativa. Neste artigo, ofereço exemplos
extraídos das minhas próprias experiências ao estudar temas como a família
escrava, o número de escravos nas embarcações que abasteciam Salvador com
alimento e seu papel na guerra de Independência na Bahia, o consumo per capita
de farinha de mandioca em Salvador na primeira metade do século XIX, a cultura
política do clientelismo durante a segunda metade do mesmo século e o poder
aquisitivo do mil-réis de 1780 a 1860.
ABSTRACT. Valuable insights can be derived from quantitative data, even by
non-quantitative historians. This is particularly true because such data often
suggest common patterns of behavior not even seen and much less understood at
the time, and because such general patterns show the importance of particular
deviations. Quantitative information can also lead researchers to ask questions
they would not otherwise have thought to ask, especially when they are subjected
to comparative analysis. In this article I provide examples drawn from my own
experiences in studying such matters as the slave family, the number of slaves
on vessels that supplied Salvador with food and their role in the Independence
war in Bahia, the per-capita consumption of farinha de mandioca in Salvador in
the first half of the 19th century, the political culture of patronage during
the latter half of the same century and the purchasing power of the milréis
from 1780 to 1860.
MOURA
FILHO, Heitor Pinto de. O uso da informação quantitativa em História -
Tópicos para discussão. LOCUS: Revista de História, 26. Juiz de Fora,
Departamento de História/Programa de Pós-Graduação em História da
Universidade Federal de Juiz de Fora, vol. 14, n. 1, Dossiê História
Quantitativa e Serial, jan./jun. 2008, p. 41-83.
Disponível em: http://www.historia.ufjf.br/locus/index.php
RESUMO. Este texto trata da informação quantitativa enquanto instrumento
historiográfico: suas características individuais e as que apresenta quando em
conjunto, sua capacidade de descrever os fenômenos históricos e os usos que
lhe dão os historiadores. Examina em especial o sentido e os limites da
precisão quantitativa na prática historiográfica. Aborda diversos aspectos
sobre o objeto da informação quantitativa, o processo de sua geração e o
padrão em que é expressa. Utiliza o conceito de foco do historiador, que
combina as escalas temporal, espacial e conceitual, além do conjunto de fontes
empregadas. Analisa conseqüências da homogeneidade e da heterogeneidade de
séries temporais e dados sincrônicos.
ABSTRACT. This paper discusses quantitative information as a historiographic
instrument: its individual characteristics and those it shows in sets of data,
its capacity to describe historical phenomena and the uses historian give to
them. It specially examines the sense and limits of quantitative precision in
historiographic practice. It also discusses various aspects of the object of
quantitative information, its process of generation and the standard in which it
is expressed. The paper makes use of the concept of a historian's focus, which
combines time, space and conceptual scales, as well as the set of sources
employed. It analyses the consequences of homogeneity and heterogeneity in time
series and synchronic data.
NOGUERÓL,
Luiz Paulo Ferreira. Histórias Econômicas de Economistas - Cliometria e Nova
Economia Institucional. LOCUS: Revista de História, 26. Juiz de Fora,
Departamento de História/Programa de Pós-Graduação em História da
Universidade Federal de Juiz de Fora, vol. 14, n. 1, Dossiê História
Quantitativa e Serial, jan./jun. 2008, p. 85-105.
Disponível em: http://www.historia.ufjf.br/locus/index.php
RESUMO. A Cliometria e a Nova Economia Institucional são as principais escolas
que norteiam a produção acadêmica em História Econômica por parte dos
economistas brasileiros, norte-americanos e europeus. Embora já contando com
alguns anos, ambas são pouco conhecidas pelos historiadores brasileiros. Este
artigo procura apresentar quais são os fundamentos teóricos de ambas as
escolas, suas origens e algumas de suas limitações.
ABSTRACT. For Brazilians, North Americans and Europeans economists, the New
Institutional Economics and Cliometrics are, both, the schools that gave the
principal ways to think about Economic History in the academies. Although they
were born some years ago, they are not so much recognized by Brazilian
Historians. This paper intends to present some of the theoretical foundations of
the mentioned schools, their origins and limitations.
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http://rlmarcondes.wordpress.com/
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