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Ano XVI, no. 57, julho de 2009

               

 

SUMÁRIO

Apresentação

Resumos

Notícia Bibliográfica 

Publicações Recebidas

 Notícias e Informes

Relação de Trabalhos Publicados

             

                                                        

 

                                          

 

                                

Este número de nosso BHD vê-se marcado não só pelos livros aqui referidos, mas, também, pelos resumos aqui estampados. Ademais, deve-se dar atenção particular à riqueza temática que caracterizou o 4o. Encontro "Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional". Outra menção a fazer concerne ao livro Escravismo em São Paulo e Minas Gerais o qual conta entre seus autores com alguns integrantes do Núcleo de Estudos em História Demográfica da FEA-USP.   

 

 

 

                 

 

                            

                                            

       

                                           

                                             

                           

                                                

                             

                 

    

                                                            

                                        

ANDRADE, Marcos Ferreira de. Tráfico Atlântico, escravidão e procedência dos cativos no Sul de Minas Gerais, 1799-1850. Comunicação apresentada no IX Congresso Internacional da Brazilian Studies Association - BRASA, 2008, New Orleans, Tulane University. Disponível em:
http://www.brasa.org/abstractspapers 
RESUMO. O autor discute a importância do tráfico atlântico e da escravidão no Sudeste do Brasil, em particular no Sul das Minas Gerais, na conjuntura correspondente à primeira metade do século XIX. Tratava-se de uma das regiões mais dinâmicas da economia mineira, com grandes unidades escravistas voltadas, quase sempre, para o abastecimento interno. Um grande proprietário escravista poderia ser dono de engenho, pecuarista, produtor de alimentos, dono de lavra e comercializar parte de sua produção nas vilas e nos distritos mais próximos e, especialmente, com a cidade do Rio de Janeiro. Percebe-se um alto índice de cativos de origem africana na região, em sua grande maioria, procedentes da África Central Atlântica, confirmando as tendências apontadas pelos estudos ligados ao tráfico negreiro internacional. Embora em algumas propriedades tenha sido possível constatar um alto percentual de cativos crioulos, a margem de autonomia dos senhores na composição de suas escravarias esteve condicionada à conjuntura internacional do tráfico. 

                                                       

ANDRADE, Marcos Ferreira de. Indicações sobre a produção e o comércio do fumo sul-mineiro: análise do livro de notas do negociante Antônio José Ribeiro de Carvalho. XIII Seminário de Economia Mineira, Diamantina, 26 a 29 de agosto de 2008. Texto disponível em:
http://www.cedeplar.ufmg.br/seminarios/seminario_diamantina/2008/D08A014.pdf 
RESUMO. O trabalho tem por objetivo oferecer pistas sobre a importância da produção e comercialização do fumo sul-mineiro, localizado nas freguesias e distritos que compunham a região de Cristina, que até a década de 1830, pertencia ao termo da vila da Campanha da Princesa. Considerando esse aspecto, foram analisados alguns inventários de proprietários envolvidos com o cultivo do tabaco, verificando o volume da produção que aparece arrolado nos processos notariais, além das informações constantes do livro de notas do negociante Antônio José Ribeiro de Carvalho, mais conhecido como o "velho do Condado". O que as fontes indicam é que a produção e comercialização de fumo faziam parte de um conjunto diversificado de atividades desenvolvidas pelos fazendeiros/negociantes, um tipo social marcante no cenário sul-mineiro da primeira metade do século XIX.

                                          

FREITAS, Denize Terezinha Leal. Quem casa na Freguesia Madre de Deus de Porto Alegre? A formação social através dos registros paroquiais de Casamento (1772 - 1806). Newsletter história e-história, disponível em:
http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=alunos&id=201 
RESUMO. O presente trabalho foi resultado de uma primeira amostra quantitativa feita através da organização de um banco de dados que permitiu apontar algumas características da sociedade porto-alegrense através da análise demográfica. A iniciativa dessa pesquisa está vinculada ao Grupo de Pesquisa "Demografia & História" cujo projeto de âmbito nacional pretende investigar os regimes demográficos que caracterizam o passado colonial brasileiro. Concomitantemente, esta pesquisa esteve vinculada ao projeto de pesquisa "População e Família no Brasil Meridional dos meados do século XVIII às primeiras décadas do século XIX" que procura investigar através das metodologias da demografia histórica as características da população colonial meridional.

                             

GOLDFEDER E CASTRO, Pérola Maria. Fontes e perspectivas de estudo sobre populações escravas no Sul de Minas Gerais, séculos XVIII e XIX. Newsletter história e-história, disponível em:
http://www.historiahistoria.com.br:80/materia.cfm?tb=alunos&id=199 
RESUMO. A trajetória das populações escravas em Minas Gerais, sua dinâmica de reprodução e ocupação do espaço físico mineiro, além de suas estratégias de sobrevivência e integração à sociedade colonial são temáticas correntemente discutidas no campo da História Demográfica. Este, por sua vez, caracteriza-se por tratar dos aspectos estatísticos de uma população num determinado momento histórico, bem como da relação entre os dados e outras variáveis demográficas históricas. Neste artigo considera-se, basicamente, o trabalho de Marcos Ferreira de Andrade intitulado "Elites Regionais e a formação do Estado Imperial Brasileiro", referência para os estudos sobre população escrava no Sul de Minas Gerais. Nela, o autor utiliza-se de uma variada gama de documentos e metodologias para delinear o perfil dos plantéis escravistas sul-mineiros dos séculos XVIII e inicio do XIX.

                                         

MARQUES, Teresa Cristina de Novaes & MELO, Hildete Pereira de. Os direitos civis das mulheres casadas no Brasil entre 1916 e 1962. Ou como são feitas as leis. Revista Estudos Feministas. Florianópolis, 16(2):463-488, maio-ago. de 2008. Texto integral disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ref/v16n2/08.pdf 
RESUMO. A historiografia sobre transformações culturais associa modificações no modelo de família a mudanças econômicas de ordem estrutural, tal como industrialização e crescimento da população urbana. A sociedade brasileira mudou radicalmente da segunda metade do século XIX aos anos 1950. Ainda assim, foi preciso um processo de decisão amadurecido no Congresso para ajustar o país legal ao país real. Este artigo examina um aspecto dessa separação: o poder que os maridos detinham como tutores de suas esposas. Em termos metodológicos, são examinados os debates parlamentares sobre direitos de mulheres casadas em dois momentos históricos: nos anos 1930 e 1950.

                                                       

MELO, Hildete Pereira de & ARAÚJO, João Lizardo de & MARQUES, Teresa Cristina de Novaes. Raça e nacionalidade no mercado de trabalho carioca na Primeira República: o caso da cervejaria Brahma. Rio de Janeiro, FGV, Revista Brasileira de Economia, vol. 57, n. 3, jul./set. de 2003. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-71402003000300003&script=sci_arttext&tlng 
RESUMO. Este artigo analisa as oportunidades de trabalho e os níveis de remuneração oferecidos a trabalhadores brancos e negros em uma grande indústria carioca: a Companhia Cervejaria Brahma. Trata-se de um estudo de caso que busca respostas para um conjunto de questões sobre a absorção da mão-de-obra negra e imigrante no mercado de trabalho da indústria do antigo Distrito Federal. Com esse fio ordenador, o artigo está estruturado da seguinte forma: em primeiro lugar, são arroladas questões recorrentes na historiografia brasileira acerca do mercado de trabalho industrial e da imigração estrangeira na Primeira República; em segundo lugar, faz-se uma breve síntese da trajetória da cervejaria Brahma, desde a sua fundação até os anos 1930; em terceiro, a metodologia de tratamento dos arquivos da empresa é explicitada para então, em quarto lugar, elaborar-se uma análise do perfil de seus trabalhadores, empregando-se os indicadores de nacionalidade, de cor da pele, de instrução, de tipo de ocupações e de rendimentos. Finalmente, analisaram-se esses indicadores com o propósito de identificar possíveis discriminações de raça ou nacionalidade dos trabalhadores. Um resultado inesperado foi a existência de discriminação contra brasileiros, mas não contra afrodescendentes in se.
ABSTRACT. This article analyses the job opportunities and the levels of salaries offered to white and black workers in a large industrial enterprise in Rio de Janeiro: the Brahma Brewing Co. It is a case study that attempts to answer to a number of questions on how black and immigrant working forces were inserted in the industrial working market of the Brazilian former federal capital. Taking these as a guide the article is structured in the following way: first of all, there is a discussion of a number of recurrent questions of historiography about the origins of industrial labor market and foreign immigration in First Republic; second, there is a brief summary of the origins and the first three decades of existence of Brahma Brewery; third, the methodological assumptions of data treatment are exposed, so that, in the fourth place, the profile of the company's labors is analyzed by using the indicators of nationality, skin color, educational level, job and wage levels. Finally, indicators were analyzed in order to identify possible discriminations among workers due to race or nationality. An unexpected finding was the presence of discrimination against Brazilians, but not against African-Brazilians as such. 

                         

MOTTA, José Flávio. Agonia ou robustez? -- reflexões acerca da historiografia econômica brasileira. Revista de Economia da PUC-SP. São Paulo, EDUC, ano 1, vol. 1, n.1, jan.-jun. de 2009, p. 117-138.
RESUMO. Neste artigo questionamos, com foco na historiografia brasileira, uma pretensa condição agonizante atribuída, em fins do século passado, à história econômica por colegas historiadores; pelo contrário, identificamos grande vigor naquela historiografia. Segmentamos o texto em duas partes. Na primeira refletimos sobre o evolver de nossa historiografia econômica, centrando nossa atenção no estabelecimento do paradigma pradiano, bem como nas principais críticas a ele dirigidas, as quais se multiplicam nos três últimos decênios do Novecentos. Observamos como o desconforto decorrente dessas críticas esteve subjacente à detecção da condição agonizante mencionada. Na segunda parte do artigo, valemo-nos do exemplo dado pelos estudos sobre a economia e a demografia da escravidão no Brasil e neles identificamos a robustez que atribuímos a vertentes historiográficas recentes responsáveis por análises de forte apelo revisionista. Em suma, esse vigor identificado leva-nos a acalentar expectativa muito favorável no que respeita ao avanço da história econômica entre nós nesses inícios do novo milênio.

                              

PAULA, Juliano Tiago Viana de. Redes de solidariedades entre os escravos da Freguesia de São Tomé das Letras (1841-1883). Newsletter história e-história, disponível em:
http://www.historiahistoria.com.br:80/materia.cfm?tb=professores&id=68 
RESUMO. Neste artigo pretendo analisar as relações de solidariaddes entre os escravos da região de São Tomé das Letras entre os anos de 1841 a 1883. Diante dos dados obtidos para a referida Freguesia, temos como objetivos de verificar as estratégias forjadas pelos cativos para ampliarem as suas redes de socializações e solidariedades instituídas por meio do casamento e do batismo cristão com indivíduos da mesma condição. 

                           

REIS, Isabel Cristina Ferreira dos. "Uma negra que fugio, e consta que já tem dous filhos": fuga e família entre escravos na Bahia oitocentista. Afro-Ásia, Centro de Estudos Afro-Orientais da FFCH da UFBa, n. 23, 1999, p. 29-48.
RESUMO. Neste artigo faço uma abordagem em que a experiência de vida familiar negra é relacionada à resistência ao sistema escravista. Nele recordamos as fugas empreendidas por cativos "casados", "amásios", mulheres escravizadas que fugiram grávidas, "pejadas", "às vésperas de parir" ou levando consigo filhos, muitas vezes ainda pequenos. Apresentamos evidências de que os escravizados fugiam com o apoio de familiares ou, muitas vezes, para irem ao encontro destes, não sendo raros os casos de cativos fugidos encontrados anos depois, vivendo como se fossem livres, pois trocavam de nome, procuravam ocupação, arranjavam parceiros que podiam ser também cativos fugidos, libertos ou até mesmo livres. Ou seja, fugitivos que tinham filhos, constituíam famílias e acabavam por ampliar os seus vínculos e meios de solidariedade. Os documentos também fazem referência às reações, muitas vezes desesperadas, de homens e mulheres descobertos por seus senhores tempos depois de suas fugas, e que viram chegar ao fim a sua vida em liberdade.

                                      

REIS, Isabel Cristina Ferreira dos. A família negra no tempo da Escravidão: Bahia, 1850-1888. Comunicação apresentada no IX Congresso Internacional da Brazilian Studies Association - BRASA, 2008, New Orleans, Tulane University. Disponível em:
http://www.brasa.org/abstractspapers 
RESUMO. O estudo sobre a família negra no tempo da escravidão, na Bahia do século XIX, se apresenta como um tema instigante e ainda carente de investigações. Para a elaboração deste trabalho, foi realizada uma ampla pesquisa em fontes arquivísticas e historiográficas, através das quais foram viabilizadas problematizações elucidativas em torno da experiência de vida familiar negra e do cotidiano da escravidão na província da Bahia da segunda metade do século XIX.

                               

REIS, Isabel Cristina Ferreira dos. A família negra no tempo da escravidão: Bahia, 1850-1888. Campinas, Universidade Estadual de Campinas, tese de Doutorado, 2007.
Neste estudo investigo a experiência de vida familiar negra no contexto da Bahia escravista da segunda metade do século XIX, enfatizando a forma como as mudanças sociais, econômicas e políticas do período influíram nas relações familiares dos negros submetidos ou não ao regime de cativeiro. Argumento que, para melhor conhecer esta experiência, há que se considerar uma conjuntura nitidamente emancipacionista - tanto do ponto de vista de uma política arquitetada e controlada pelo Estado, como pelas ações capitaneadas pelos escravizados, negros livres e libertos. Nesta conjuntura, se ampliou a interação de indivíduos com estatutos jurídicos diferenciados, ligados por laços de família, parentesco, relacionamentos afetivos e comunitários, o que nos legou uma história afro-brasileira repleta de sujeitos em situações complexas ou inusitadas, a exemplo das muitas histórias contadas ao longo deste trabalho. Para a elaboração deste estudo, foi realizada uma ampla pesquisa em fontes arquivísticas e historiográficas, através das quais se realizaram problematizações elucidativas sobre a experiência de vida familiar negra e do cotidiano da escravidão. A combinação de fontes qualitativas e demográficas favoreceu a compreensão dos sentidos que os negros conferiam às suas próprias experiências.

                                                                              

                                       

       

                                      

                                     

                                                                                           

                                             

                                                                   

LUNA, Francisco Vidal & COSTA, Iraci del Nero da & KLEIN, Herbert S. et alii. Escravismo em São Paulo e Minas Gerais. São Paulo, EDUSP/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2009, 624 p.

                                        

Este volume traz alguns dos trabalhos publicados pelos autores no correr destas três últimas décadas; trata-se de uma expressiva amostra dos textos que contribuíram para o estabelecimento de uma perspectiva renovada da formação demográfica e econômica do Brasil. O objetivo perseguido pelos editores foi o de facilitar o acesso a estudos que podem ser úteis aos pesquisadores e pós-graduandos que se debruçam sobre nossa história socioeconômica e populacional. Visando ao mesmo fim, estampamos abaixo os resumos dos títulos integrantes de Escravismo em São Paulo e Minas Gerais. 

                                        

1. LUNA, F. V. & COSTA, I. Algumas características do contingente de cativos em Minas Gerais.

RESUMO. Indicam-se algumas características da massa escrava em Minas, realçando a composição da escravaria em termos de origem e seu enquadramento nos grandes grupos representados pelos Bantos e Sudaneses. O lapso de tempo considerado estende-se da segunda década do século XVIII ao primeiro quartel do XIX.

                                          

2. LUNA, F. V. & COSTA, I. Estrutura da massa escrava de algumas localidades mineiras (1804).

RESUMO. Com base em levantamentos populacionais efetuados em 1804, estuda-se, para três localidades mineiras (Abre Campo, Capela do Barreto e São Caetano), a estrutura da escravaria segundo gênero, faixa etária e local de nascimento; observa-se, separadamente, a massa de cativos dos grandes proprietários divididos em três grupos: mineiros, agricultores e aqueles dedicados a ambas as atividades.

                       

3. LUNA, F. V. & COSTA, I. Profissões, atividades produtivas e posse de escravos em Vila Rica ao alvorecer do século XIX.

RESUMO. Apreciação das atividades produtivas, da posse de escravos e da estrutura profissional em Ouro Preto-MG, antiga Vila Rica, a partir de recenseamento realizado em 1804. Distribui-se a população em termos de posição social (livres/escravos), gênero e setores produtivos.

                               
4. COSTA, I. Minas colonial: características básicas de quatro estruturas demo-econômicas.

RESUMO. Neste trabalho evidencia-se a especificidade de quatro estruturas demo-econômicas existentes em Minas Gerais no período colonial: urbana, rural-mineradora, intermédia e rural de autoconsumo. Como fonte de dados primários utilizam-se levantamentos populacionais de dez localidades mineiras.

                                              
5. LUNA, F. V. Características Demográficas dos Escravos em São Paulo (1777-1829).

RESUMO. A introdução e desenvolvimento da produção de açúcar e de café em São Paulo provocou profundas mudanças no perfil populacional. O ingresso de cativos em grande quantidade, particularmente homens adultos, destruiu o relativo equilíbrio existente na população, tanto na proporção entre os gêneros como na estrutura etária. O estudo, baseado em manuscritos conhecidos como Maços de População, do Arquivo do Estado de São Paulo, contempla vinte e cinco diferentes localidades de São Paulo, nos anos de 1777, 1804 e 1829, e nele procurou-se analisar as características demográficas dos escravos e sua relação com variáveis de natureza econômica. Mereceu especial atenção o casamento e a capacidade reprodutiva da população escrava.

                                                                                   
6. LUNA, F. V. População e Atividades Econômicas em Areias (1817 - 1836).

RESUMO. Analisa-se a dinâmica populacional e econômica de Areias no período 1817-1836, quadra de grandes transformações devidas à cafeicultura. Os bens anteriormente produzidos (açúcar, aguardente e gêneros de subsistência) provavelmente serviram de base até que a maturidade da produção cafeeira permitiu gerar os recursos para sua própria expansão. A consolidação do plantio do café, inicialmente desenvolvido inclusive em fogos sem escravos, transformou radicalmente a estrutura produtiva da localidade: aumentou o peso da mão-de-obra escrava, ampliou-se o tamanho das unidades produtivas e ocorreu forte concentração na cafeicultura ou atividades a ela relacionadas, tais como o artesanato e o comércio.

                                                          

7. LUNA, F. V. & KLEIN, H. S. Características da População em São Paulo no início do século XIX.

RESUMO. Com base em fontes manuscritas, estudou-se a estrutura da população existente em São Paulo no início do século XIX. A miscigenação constituía uma característica essencial da sociedade, integrando as várias etnias ali existentes. Os brancos representavam aproximadamente a metade da população; os demais eram os cativos e um grande contingente de livres africanos ou seus descendentes. Quanto aos cativos, ocorria um aumento na participação dos africanos, destruindo o relativo equilíbrio demográfico existente no último quartel do século XVIII. A região do atual estado do Paraná, então pertencente à capitania de São Paulo, ainda possuía poucos africanos preservando uma estrutura demográfica equilibrada.

                                                                 

8. LUNA, F. V. & KLEIN, H. S. Escravos Africanos na Economia de São Paulo (1804-1850).

RESUMO. A partir dos primeiros anos do séculos XIX evidenciava-se em São Paulo um intensa penetração dos escravos em todas as atividades econômicas, mesmos naquelas não relacionadas com a produção para exportação. E tais escravos eram em larga medida nascidos na África. Ou seja, mesmo antes da intensificação da cafeicultura em São Paulo, ocorrida a partir dos anos trinta do século XIX. No primeiro quartel do século a economia paulista baseava nos cultivos de alimentos e na pecuária. Na região do Oeste Paulista desenvolvia-se a produção açucareira, importante para a economia regional, mas pouco expressiva em termos nacionais. No Vale do Paraíba despontava a cafeicultura em algumas vilas, como Areias, ainda em pequena escala se comparada ao padrão que ocorreria na segunda metade do século. Mas já nesse período os escravos nascidos na África representavam cerca da metade da população escrava existente em São Paulo. Além disso, evidenciam-se entre os escravos taxas negativas de crescimento natural; seu crescimento exigia novas importações.

                                            

9. LUNA, F. V. & KLEIN, H. S. Economia e Sociedade Escravista: Minas Gerais e São Paulo em 1830.

RESUMO. Com base em fontes manuscritas, estudou-se a economia e sociedade em Minas Gerais e São Paulo em 1830. Encontrou-se uma estrutura formada por uma maioria de proprietários com poucos cativos, onde a posse de escravos estava amplamente distribuída e incluia uma parcela importante de pessoas livres de cor, inclusive forros. Características distintas do modelo propondo o predomínio da grande lavoura. De modo geral o Brasil assemelhou-se muito mais aos Estados Unidos do que às ilhas açucareiras das Índias Ocidentais. Mas no Brasil os escravos estavam mais bem distribuídos por região e por ocupação. A estrutura demográfica dos escravos demonstrava baixo potencial reprodutivo e elevada proporção de escravos casados em São Paulo. A miscigenação era expressiva, formando uma população com alta participação de mulatos e pardos, inclusive entre os livres, particularmente em Minas. 

                                       
10. LUNA, F. V. & COSTA, I. A presença do elemento sudanês nas Minas Gerais.

RESUMO. Evidencia-se a expressiva presença - majoritária na primeira metade do século XVIII - dos escravos de origem sudanesa nas Minas Gerais.

                                               
11. COSTA, I. Análise da morbidade nas Gerais: Vila Rica, 1799-1801. 

RESUMO. Analisam-se as principais doenças referidas como causa do óbito e sua distribuição entre os mais significativos segmentos populacionais da sociedade colonial: escravos, forros e livres. Tendo em conta tais estratos, procura-se determinar os possíveis condicionantes socioeconômicos das evidências empíricas reveladas com referência à morbidade e à mortalidade.

                                 

12. LUNA, F. V. Estrutura da Posse de Escravos em Minas Gerais (1718). 

RESUMO. Com base em manuscritos elaborados com finalidade fiscal, analisou-se a estrutura da posse de escravos vigente em dezoito localidades das comarcas de Vila Rica, do Rio das Mortes e do Rio das Velhas, em Minas Gerais. Evidenciava-se uma sociedade com elevada participação de elementos com reduzido número de escravos, sendo raros os médios e grandes proprietários.

                           

13. LUNA, F. V. Estrutura da Posse de Escravos em Minas Gerais (1804).

RESUMO. Analisa-se a estrutura demográfica e sócio-econômica de 10 localidades de Minas Gerais, em 1804, após o esgotamento das ocorrências de ouro. Apresentam-se dados coletados em listas nominativas de habitantes que se encontram no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro. Analisam-se os dados relacionados a proprietários e escravos, tais como: quantidade de escravos possuídos, faixas etárias, gênero, origem e atividades econômicas desenvolvidas.

                                              
14. LUNA, F. V. & COSTA, I. Posse de escravos em São Paulo no início do século XIX.

RESUMO. Pesquisa-se a estrutura de posse de escravos, para dez localidades paulistas, no início do século XIX. Destacam-se o grande número de pequenos proprietários de escravos e a expressiva massa de cativos por eles possuídos.

                                                          
15. LUNA, F. V. & KLEIN H. S. Escravos e Senhores no Brasil no início do século XIX: São Paulo em 1829. 

RESUMO. A partir dos censos manuscritos nominativos, objetiva-se aprofundar o estudo da população escrava e de seus proprietários. Foram selecionadas três localidades da província de São Paulo, em 1829: Mogi das Cruzes, Itu e a própria cidade de São Paulo. Foram analisada variáveis tais como: gênero, idade, origem, estado conjugal, atividade do proprietário, bem como a estrutura de posse de cativos. Tais resultados foram comparados com os obtidos para outras áreas do Brasil e com os vigentes em outros regimes escravistas da América, principalmente os dos Estados Unidos e das Antilhas. A região estudada definiu-se como caso incomum, até mesmo para os padrões brasileiros, quanto à significativa ocorrência de casamentos entre escravos, muitos dos quais, é provável, formalmente legalizados. Possivelmente, em nenhum outro regime escravista da América verificou-se tal proporção de escravos casados legalmente e, em poucas províncias brasileiras, encontram-se níveis tão elevados de casamentos entre escravos, níveis estes comparáveis aos prevalecentes para a população livre.

                                   

16. LUNA, F. V. São Paulo: População, Atividades e Posse de Escravos em vinte e cinco localidades (1777-1829).

RESUMO. O estudo, baseado nos manuscritos conhecidos como Maços da População, do Acervo do Arquivo do Estado de São Paulo, contempla vinte e cinco localidades de São Paulo, nos anos de 1777, 1804 e 1829. Nele procurou-se analisar a dinâmica da população, as atividades econômicas, a estrutura da posse de escravos e as características demográficas dos respectivos proprietários. Identificou-se uma sociedade em franca expansão populacional, particularmente a população escrava, e em transição de uma economia baseada em cultivos típicos de subsistência para outra na qual importância de tais cultivos era substituída atividades relacionadas com a exportação, como café e açúcar. As transformações nas atividades produtivas modificaram profundamente a posse de escravos e aprofundou as relações escravistas nas áreas onde tais atividades concentravam-se, ou seja o Vale do Paraíba e o Oeste Paulista.

                                          
17. COSTA, I. & NOZOE, N. H. Elementos da estrutura de posse de escravos em Lorena no alvorecer do século XIX.

RESUMO. A partir das listas nominativas de habitantes de quatro das oito Companhias de Ordenanças de Lorena-SP, em 1801, examinam-se alguns elementos básicos da estrutura de posse de escravos, relacionadas às características demográficas destes e de seus proprietários. Considerou-se o conjunto de escravos pertencente ao mesmo proprietário; quase todas as variáveis demográficas selecionadas (gênero, cor, faixas etárias, origem, estado conjugal, atividade econômica e condição de legitimidade das crianças escravas) apresentaram algum tipo de relação com o tamanho dos plantéis. Repete-se, para Lorena, a estrutura verificada em outras áreas do Brasil: significativa presença de mulheres entre os escravistas, alta participação relativa dos proprietários com reduzido número de escravos e expressivo peso relativo dos escravos possuídos pelos proprietários de porte médio ou grande.

                                                 

18. COSTA, I. Nota sobre ciclo de vida e posse de escravos.

RESUMO. Com base nos levantamentos censitários efetuados em Minas Gerais e São Paulo no início do século XIX, apresentam-se algumas evidências concernentes à relação entre o número de escravos possuídos e a faixa etária de seus proprietários. Tais evidências empíricas revelam a existência de uma correlação positiva entre o número médio de escravos possuídos e a idade dos proprietários até a faixa dos sessenta-setenta anos, ocorrendo o inverso na faixa etária superior a setenta anos.

                                           

19. LUNA, F. V. & COSTA, I. A presença do elemento forro no conjunto de proprietários de escravos.

RESUMO. Tomando como base os assentos de óbitos da freguesia de Antônio Dias (Vila Rica) e os registros de capitação dos escravos da comarca do Serro do Frio, estuda-se, para o período 1738-1811, a composição da massa de proprietários de escravos segundo seu enquadramento em dois dos estratos sociais existentes no Brasil-Colônia: livres e forros. Considera-se, também, a distribuição dos cativos segundo gênero, faixa etária e origem.

                                         

20. LUNA, F. V. & KLEIN, H. S. Pessoas livres de cor numa sociedade Escravocrata: São Paulo e Minas Gerais no início do século XIX.

RESUMO. O artigo analisa a inserção das pessoas livres de cor em várias localidades de São Paulo e Minas Gerais, no início do século XIX. Ao contrário do que ocorria nos Estados Unidos, esse segmento social não representava um grupo marginalizado ou isolado, o que não significa a inexistência de preconceito. Os negros e pardos estavam presentes na maioria das atividades, mas representavam o segmento mais pobre, e raramente exerciam as funções de maior prestígio social. Sua elevada importância quantitativa resultava de um amplo processo de miscigenação, envolvendo todos os segmentos sociais e os vários grupos étnicos existentes.

                                        

21. LUNA, F. V. & COSTA, I. Vila Rica: nota sobre casamentos de escravos (1727-1826).

RESUMO. Com base nos códices manuscritos da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias referentes aos assentos de casamentos ali efetuados no período 1727-1826, e tomando em conta os enlaces com a presença de pelo menos um cônjuge escravo, analisam-se duas características dos nubentes: o estrato social e a origem.

                                     

22. LUNA, F. V. & CANO, W. Economia Escravista em Minas Gerais.

RESUMO. Análise critica do trabalho de R. Martins, intitulado A Economia Escravista de Minas Gerais no século XIX (Belo Horizonte, CEDEPLAR, 1980), na qual são contestadas as teses esposadas pelo autor. Indica-se que a reprodução natural deve ter sido a causa preponderante no aumento do número de escravos em Minas Gerais, no século XIX, e não a importação de escravos oriundos de outras províncias.

                                       

23. COSTA, I. & GUTIÉRREZ, H. Nota sobre casamentos de escravos em São Paulo e no Paraná (1830).

RESUMO. Analisam-se evidências de casamentos de escravos e livres e discutem-se padrões vigentes à época. A condição de livre ou escravo marcou, para a população, acesso diferenciado ao matrimônio católico. Dentre a população livre, 60 % em média passavam pelo sacramento da igreja, ao passo que para os escravos o porcentual correlato chegava a 20%. As discrepâncias não se explicam pelas razões de masculinidade, mas devem ser atribuídas a causas de ordem econômica e social. Os dados referem-se a treze localidades paulistas e a nove paranaenses, tendo sido coletados em listas nominativas coevas.

                                          

24. COSTA, I. & SLENES, R. W. & SCHWARTZ, S. B. A família escrava em Lorena (1801).

RESUMO. Analisam-se as listas nominativas de quatro das oito Companhias de Ordenanças de Lorena-SP, em 1801. Estudam-se as características demográficas básicas dos escravos (estado conjugal, idade, gênero etc.), destacando-se a existência de relações familiares entre 53 % da massa escrava. Indica-se a expressiva participação das famílias regularmente constituídas, com uma concentração maior nos grandes plantéis. Estudam-se, também, a legitimidade das crianças com 14 ou menos anos e a condição das mães (casadas, viúvas ou solteiras), segundo a origem, a cor e por faixas etárias.

                                        

25. LUNA, F. V. Casamentos de escravos em São Paulo (1776, 1804 e 1829).

RESUMO. São estudadas as características demográficas dos escravos da área paulista em três distintos anos: 1776, 1804 e 1829. Analisam-se o gênero, idade, origem e a situação conjugal dos escravos relacionando-se tais informações com o tamanho do plantel, para treze localidades: Areias, Cunha, Curitiba, Guaratinguetá, Iguape, Itu, Jacareí, Jundiaí, Lorena, Moji das Cruzes, São Paulo, São Sebastião e Sorocaba. Para muitas destas localidades, ademais, relacionaram-se aqueles dados demográficos com as atividades econômicas desenvolvidas pelos proprietários dos plantéis estudados. 

                                      

26. COSTA, I. Vila Rica: casamentos (1727-1826).

RESUMO. Com base nos registros de casamentos da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias faz-se a análise dos matrimônios contraídos por pessoas integrantes de três segmentos populacionais: livres, escravos e forros.

                              

27. COSTA, I. Revisitando o domicílio complexo. 

RESUMO. Examina-se o domicílio complexo (que reunia parentes e/ou núcleos familiares secundários ao núcleo familiar básico) para distintas estruturas demográficas e econômicas de Minas Gerais. Indicam-se os proprietários e não-proprietários de escravos, considerando-se, para os primeiros, o tamanho dos plantéis de cativos. Conclui-se que este tipo de domicílio difundia-se por todo o corpo social, não se definindo como característico das elites possuidoras de muitos escravos.

                              

                     

       

              

                     

                                        

Comunicações apresentadas no 4o. Encontro "Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional". Curitiba, Universidade Federal do Paraná, 13 a 15 de maio de 2009. As versões integrais dos textos encontram-se disponíveis em:
http://www.labhstc.ufsc.br/ivencontro.htm 

                      

                                 

BARBOSA, Keith. Doenças e escravidão: novas dimensões da experiência negra no Brasil na primeira metade dos oitocentos.
RESUMO. Nesta comunicação apresentaremos as primeiras reflexões da pesquisa em andamento a respeito das experiências escravas relativa à doença e à morte. No conjunto renovado de estudos sobre a escravidão nas últimas décadas emergem novas perspectivas teórico-metodológicas, como diversos temas e fontes foram revisitados, tanto preenchendo lacunas a respeito de processos históricos complexos, como oferecendo reflexões historiográficas pertinentes. É neste âmbito das "experiências negras" que se renovam as abordagens (e também métodos) sobre a escravidão e a pós-emancipação, privilegiando aspectos dos arranjos familiares, dos significados de liberdade, das formas de protesto e cultura, entre outras práticas. Portanto, inseridos neste movimento de revisão historiográfica pretendemos oferecer através de uma abordagem comparada sobre morbidade, mortalidade e sociabilidades escravas em uma ambiência rural e outra urbana do Rio de Janeiro, algumas características dessas configurações sociais. Com o uso de registros paroquiais, em uma perspectiva sócio-demográfica da freguesia de N. Sra. de Jacarepaguá, da freguesia de N. Sra. da Candelária, ambas no Rio de Janeiro ao longo da primeira metade do século XIX torna-se possível a reconstituição do contexto social em que os escravos dessas ambiências circulavam. Assim, ao apreender as múltiplas variáveis que emergem nestes cenários propomos demonstrar, para além das leituras caricatas a respeito da saúde e doença entre a população cativa, como o diálogo entre as regiões analisadas fornecem instigantes indícios de como os cativos viviam e lidavam com a experiência da doença e da morte. Neste sentido, evidencia-se a necessidade que os historiadores da escravidão intensifiquem o diálogo com outras áreas de conhecimento, destacadamente para os estudos médicos da saúde, e assim avancem nas pesquisas relacionadas aos recentes estudos da saúde da população negra tornando possível que novas faces do universo escravista sejam analisadas através das experiências de mortalidade e morbidade. Mais do que explicações conclusivas pretendemos destacar nesta comunicação as possibilidades analíticas - para o universo da temática da escravidão - de abordagens comparativas cruzando escravidão e doenças. Desta forma, ressaltamos a importância e possibilidades de se pensar as experiências escravas em torno da doença, da cura e da morte esquadrinhando variados aspectos do cotidiano e seus arranjos sociais específicos.
                           

BERTIN, Enidelce. Construindo novas identidades: a emancipação dos africanos livres.
RESUMO. A constatação de que os africanos livres conferiam ênfase à sua condição de não libertos, tampouco de escravos, nos aponta para a importância da denominação de "livres". Da mesma forma, as diferentes identificações que os africanos livres receberam desde a apreensão até a emancipação nos revelam, além da dinâmica do tráfico de escravos, novas significações conferidas por eles. Nesse sentido, esta comunicação pretende discutir as questões relativas à construção de identidade pelos africanos livres antes e após a emancipação. Para tanto será realizado um exercício de comparação entre listas nominativas dos serventes de estabelecimentos públicos da província de São Paulo, rastreando os mesmos indivíduos após certo intervalo de tempo para tentar notar uma possível mudança na identificação do africano, seja por influência externa (a cidade, os outros africanos) ou por interesse próprio. Considerando que, muito provavelmente, em ambos os momentos, a identificação conferida ao africano livre não correspondia à sua naturalidade, estamos menos interessadas nas origens dos africanos de São Paulo do que na construção de uma identidade e de sua apropriação pelos emancipados.
                                     

CONDE, Bruno Santos. Senhores de fé e de escravos: a escravidão nas fazendas jesuíticas do Espírito Santo.
RESUMO. Quando se direciona o olhar para o passado colonial capixaba é praticamente impossível deixar de notar o realce das fazendas jesuíticas em termos de seu potencial produtivo. Elas representam, certamente, alguns dos empreendimentos de maior destaque da colonização espírito-santense. Aspectos como o encantamento dos viajantes e o constante clima de animosidade entre os senhores locais e os jesuítas são apenas algumas das expressões que ajudam a dimensionar a importância das terras em questão. Também não é mistério que no Espírito Santo, e em outras Capitanias, a utilização da mão-de-obra africana foi um elemento imprescindível para a produção de riqueza nas propriedades jesuíticas. O fato é que este caráter fundamental do trabalho cativo gera a necessidade de uma melhor compreensão da escravidão nas fazendas destes religiosos. Dessa maneira, a comunicação aqui proposta ambiciona apresentar alguns aspectos relativos à escravidão africana nas terras jesuíticas do Espírito Santo. É fato que as fontes disponíveis não permitem a caracterização desse tipo de cativeiro em todas as suas minúcias cotidianas, entretanto, é possível abordar pontos plausíveis sobre a escravidão nessas unidades produtivas tão importantes de nossa História colonial, notadamente entre os séculos XVII e XVIII.
                             

DANILEVICZ, Ian Meneghel. Instáveis autonomias: forros e forras da freguesia de Viamão (1776-1782).
RESUMO. Neste trabalho, proponho analisar homens e mulheres libertos que viveram na freguesia de Viamão do ano de 1776 até 1782. Embora compartilhassem com os brancos o estatuto de pessoas livres, sofreram, muitas vezes, a necessidade de submeter-se em fogo alheio ou de não conseguir manter o seu próprio fogo durante muito tempo, configurando instáveis autonomias. Utilizei como fonte primária os Róis de Confessados, que constituem uma espécie de censo eclesiástico realizado anualmente com o propósito de listar os fregueses aptos à comunhão. O recorte temporal eleito refere-se a um contínuo de sete anos para os quais há todos os registros anuais. Assim os dados utilizados puderam receber um tratamento serial, que permite acompanhar ou não a permanência dos indivíduos na freguesia com as mudanças de arranjos familiares. Delimitou-se como pertencente ao universo dos libertos apenas os indivíduos declarados forros ou forras. Duas questões foram o eixo da problematização: a instabilidade e a dependência. Utilizei como critério para definir dependência a situação de agregado em oposição situação de chefe de fogo (posição de autonomia); para definir a situação de instabilidade de um forro pelo aparecimento em um único ano na fonte em oposição à possibilidade de recorrência na fonte (posição estável). Para tentar compreender as situações de autonomia estável com a de instáveis e de dependentes se comparou o estado conjugal, a cor e o acesso à mão-de-obra (principalmente familiar), para perceber o que se constituía como uma vantagem para os libertos manterem a situação de independência.
                             

FRACCARO, Laura Candian. Negras e forras no comércio a retalho em Campinas em meados do século XIX.
RESUMO. A cidade de Campinas encontrou na década de 70 um novo quadro: aumento significativo do número de alforrias e da presença maciça dos libertos em diversas atividades e profissões, construindo espaços de interações e ocupando tantos outros. Apesar de seus preços serem mais elevados, o número de alforrias de mulheres através de indenizações é maior do que o de homens o que evidenciaria que o trabalho feminino possibilitava um melhor acúmulo de pecúlio. Através do comércio de pequeno porte, essas mulheres forras conseguiram acumular bens e construir possibilidades de ascensão econômica. Mesmo que boa parte dos estudos sobre libertos não foque sobre essas mulheres e suas conquistas, compreender a trajetória delas em meio a dificuldades e estigmas constitui um problema histórico. É muito provável que o número de mulheres que tenham ascendido socialmente com o comércio seja muito menor se pensarmos em relação ao meio social dos brancos. No entanto, se pensarmos que as mulheres poderiam ter ascendido socialmente, tornando-se referenciais de riqueza e prestígio para seus pares, o número será bem maior. As práticas de venda e ofícios eram formas de melhorar a sua vida e a de seus descendentes e de se destacar financeira e socialmente frente aos seus semelhantes. Em seus pequenos comércios, forneciam mercadorias, como a cachaça, por exemplo, com preços mais acessíveis. Essa rede de relações, que através do comércio ficava mais evidente, alarmava o restante da sociedade, que via essa ajuda mútua como ligada ao crime, a mercadorias roubadas e à proteção de escravos fugidos. As mulheres vendedoras gozavam de prestígio social e de influência, tornado-se líderes do convívio social e religioso. Muitas mulheres, através do comércio tornavam-se referenciais de honra, trabalho e riqueza e tinham conhecimento que através do comércio e outras atividades conseguiam respeitabilidade. Este trabalho pretende reconstruir a trajetória de vida de algumas dessas mulheres, desde o processo para alcançar a alforria até o momento de sua morte, e para tal, foi necessário cruzar diversas fontes. Ao cruzar as licenças para o comércio, processos de alforria e processos criminais, com os inventários e testamentos, pretendo demonstrar quem eram essas forras, como se organizavam dentro da comunidade negra e com o resto da sociedade, quais os papéis que assumiam e seu processo de acúmulo de riquezas.
                         

FRANCO NETTO, Fernando. Famílias escravas na região dos Campos Gerais do Paraná.
RESUMO. O presente trabalho pretende avaliar as possibilidades de constituição de famílias escravas e as relações com outras categorias sociais na região dos campos gerais do Paraná. As fontes de pesquisa são os registros paroquiais localizados nas Paróquias de Guarapuava e de Castro, especificamente os registros de batismos, nascimento e óbito de escravos. Nesses registros encontramos dados fundamentais que nos ajudam a perceber estratégias de sobrevivência entre os cativos, visto sua proximidade com as pessoas livres. Por possuírem um plantel reduzido as estratégias muitas vezes se direcionavam para relações mais próximas com os livres, mas isso não impedia arranjos entre os próprios cativos e também com os forros. O espaço de mobilidade social era frequentemente alterado em função dessas estratégias adotadas pelos cativos. O trabalho sugere que a família escrava nos campos gerais foi fator importante nas relações com a propriedade. Isso porque, apesar da localidade possuir uma escravaria pequena, demonstra que as propriedades e seus escravos possuíam estratégias a fim de promoverem arranjos matrimoniais entre eles. Tais arranjos não eram necessariamente voltados para uniões sancionadas pela Igreja. O forte crescimento populacional na primeira metade do século e com as escravarias se concentrando nas faixas etárias mais produtivas poderiam estar influenciando no número de casamentos na região. As possibilidades de ascensão social a partir das redes de uniões são outro dado importante a ser pesquisado. Assim, notam-se diversos tipos de arranjos familiares nos campos gerais. Podemos inferir que fazia muito sentido para os escravos essa extensa rede de parentesco.

                                              

GOMES, Luciano Costa. Estrutura de posse de escravos em Porto Alegre, a partir de róis de confessados de inícios da década de 1780.
RESUMO. No presente trabalho, apresentamos os resultados parciais obtidos em pesquisa sobre a população cativa de Porto Alegre, na década de 1780, a partir da análise de róis de confessados. Este, espécie de censo religioso, tinha o objetivo de controlar a participação dos fregueses nos sacramentos oferecidos pela Igreja e descreve a constituição dos domicílios existentes na localidade, apresentando a família livre, escravos e agregados. Os dados trazidos pelos róis são poucos e valiosos, como o gênero, a idade, o estado conjugal, a situação jurídica (se livre ou escravizado), a etnia, a posição dentro do fogo (cabeça de família, agregado, parente), além do próprio estado de graça dos indivíduos arrolados. A partir dos dados relativos à população cativa, podemos esboçar alguns traços desta população e elaborar a estrutura de posse de escravos então existente. A população cativa representava mais de um terço do total dos indivíduos descritos, apresentando uma desproporção entre os gêneros, de 1,5 cativo para cada cativa. A distribuição e a concentração de escravos e o tamanhos dos plantéis mostraram-se bastante peculiares. Havia presença de cativos em mais da metade dos domicílios existentes e a maioria dos plantéis era composta por até nove cativos, sendo que nestes pequenos plantéis estava mais de 90% do total dos cativos. Esta configuração fica mais complexa quando observamos os índices de masculinidade dos cativos maiores de nove anos segundo o tamanho dos plantéis. Notamos uma média diferenciada dos índices de masculinidade entre os plantéis com até seis escravos e aqueles e com mais. Nestes, o índice geral ficou em quase dois escravos por escrava, enquanto naqueles a média ficou em 1,5. A problemática deste trabalho consiste, justamente, em procurar explicações para esta configuração. Apresentamos, a seguir, alguns fatores explicativos possíveis, para os quais recorreremos também à pesquisa de inventários post-mortem. A função produtiva do plantel, mais especificamente, a ocupação profissional do senhor do plantel, e a média de posse por ocupação profissional. As possibilidades diferenciadas de compra por parte dos senhores, levando em consideração o fato de mulheres escravizadas serem vendidas a preços mais baixos do que os homens. A preferência de gênero por parte de mulheres chefes de fogo, sejam viúvas, sejam mulheres com marido ausente. Como último fator, procuramos distinções entre os plantéis rurais e os urbanos, procedendo à tentativa de localizar geograficamente os fogos na antiga Porto Alegre. Esta primeira tentativa de procurar os motivos que levaram a uma distribuição ampla de escravos entre a população livre e o domínio dos pequenos plantéis, relacionados à estrutura produtiva local e às diferenciadas capacidades de aquisição de escravos, pode fornecer novos indícios para pensar a escravidão sul-rio-grandense em fins do século XVIII, como a formação de famílias escravas e as relações entre senhores e cativos.
                           

HAMEISTER, Martha Daisson. Registros de Confirmação de Batismo: testando possibilidades e limites de uma fonte. Estreito, Continente do Rio Grande de São Pedro, 1770.
RESUMO. A presente comunicação visa explorar possibilidades e apontar limitações de uma fonte pouco utilizada nas pesquisas em história e, em especial, na pesquisa sobre a escravidão e as relações entre livres, escravos, índios e forros. A saber, eventualmente, entre os registros batismais, são localizados registros com relações de Confirmação de Batismo ou Crisma procedidas nas paróquias ou freguesias. De modo diferente dos batismos, esses ritos não eram práticas cotidianas, devendo ser oficiados por bispo ou por clérigo especialmente licenciado para tal. Há, então, o "represamento" de um bom número de paroquianos no aguardo que houvesse um licenciamento específico para que o rito ocorresse. No caso das Confirmações do Estreito em 1770, computou-se o número de 820 paroquianos com essa demanda e que receberam o sacramento. Tampouco esse sacramento era ministrado majoritariamente aos inocentes como o batismo, sendo aptos para receberem a Confirmação principalmente os jovens e adultos que já haviam recebido o sacramento da Eucaristia. Muito provavelmente boa parte dos confirmandos, por sua idade ou maturidade, elegiam eles próprios o padrinho, que deveria ser de seu mesmo gênero, conforme normas das Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia. Em função da idade dos confirmandos e a sua relativa autonomia, as relações estabelecidas nessa espécie de compadrio se tornam muito mais instigantes, por poder ter sido a escolha do padrinho ou madrinha feita pelo próprio confirmando, ao invés de seus pais ou senhores. Também por poder recair sobre pessoas que pertenciam a sua mesma faixa etária ou social, podem apontar existência de relações menos verticalizadas do que as perceptíveis nos compadrios dados ao batismo. Como norma, Confirmação deve cumprir a exigência de ser o padrinho ou a madrinha alguém que já recebeu este sacramento, o que, no caso da listagem que se apresentará, uma importante implicação, já que foi o primeiro rito de Confirmação do Batismo ocorrido no Continente do Rio Grande de São Pedro durante o período da Dominação Espanhola, acusando a quem prioritariamente foi ministrado. A imensa maioria dos povoadores dos que estavam na localidade-refúgio do Estreito não havia ainda recebido este sacramento do qual se pensa haver a possibilidade de ter sido ministrado respeitando alguns ditames dos costumes e da hierarquia social, aspectos merecedores de atenção. Esta comunicação, portanto, longe de ter qualquer conclusão, destina-se à apresentação da fonte, de questões passíveis de serem lançadas a ela e a sua exploração no estudo de relações familiares e sociais, testando algumas de suas possibilidades e limitações com utilização de diferentes métodos de análise.
                                           

LAGO, Rafaela Domingos. Aos santos óleos: os escravos e as relações de compadrio na Freguesia de Vitória (1832-1850).
RESUMO. Na historiografia brasileira mais recente o estudo da família escrava adquire papel de destaque. Nesse sentido, pesquisas revelam que, uma vez inseridos na sociedade, os cativos procuravam se manter vivos da melhor maneira dentro dela, buscando bons laços sociais para facilitar a tarefa e optando entre as diversas possibilidades de ação social que se desenhavam a sua frente. Exemplos desses vínculos podem ser vistos nas fontes eclesiásticas, que se tornam ricas para o pesquisador. A Província do Espírito Santo no início do Oitocentos caracterizava-se por uma população significativa de escravos, a tal fenômeno, inerente a uma sociedade que vivia basicamente da economia escravista, acrescenta-se o caráter peculiar da escravidão urbana. É a partir dessa perspectiva que pretendo inquirir, no presente estudo, a respeito da construção das relações familiares envolvendo escravos na Freguesia de Vitória a partir dos livros de batismo da Catedral no início do século XIX. Dessa forma, torna-se possível constatar e analisar no plano individual e na órbita familiar e geracional, ora a ascensão social de cativos, ora a permanência dessas relações familiares dentro da comunidade escrava como forma de reforçar as teias sociais, consangüíneas e afetivas. Portanto, tal estudo vem a contribuir para a historiografia da escravidão no Brasil Meridional na medida em que revela fenômenos de âmbito regional, trazendo uma outra abordagem além daquelas macroexplicações focadas nos grandes centros econômicos e agroexportadores.
                               

MARQUES, Rachel dos Santos. Mortalidade infantil de escravos em Canguçu (1800-1815).
RESUMO. A pesquisa que apresento, ainda em fase inicial, procura investigar a mortalidade infantil de escravos no período de 1800 a 1815 na região do atual município de Canguçu, no Rio Grande do Sul. Possuindo uma história rica e ainda pouco trabalhada, no início do século XIX a região possuía uma produção eminentemente agrícola que utilizava mão-de-obra escrava. Utilizando registros de batismos e óbitos do período, disponíveis hoje na Diocese de Pelotas, procurarei estabelecer uma relação entre as taxas de óbitos de escravos e livres, o que destoa da maioria dos trabalhos relativos ao mesmo assunto, que geralmente apontam apenas os índices relativos às crianças escravizadas. A problemática da pesquisa se localiza em torno da já declarada precariedade da vida escrava, e mais precisamente da precariedade da vida da criança escrava. Afirma-se que a mortalidade infantil era alta, porém não se estabelece nenhuma comparação com os índices de outros estratos. Procurarei estabelecer essa comparação a fim de verificar até que ponto a mortalidade infantil era determinada pela condição escrava, e até que ponto seria uma característica mais geral de uma sociedade onde as doenças e epidemias eram freqüentes, não só entre os escravos, mas no âmbito da população como um todo. Este estudo se insere no contexto mais amplo daqueles sobre escravidão, e dos estudos de populações, ou história demográfica, e mais definidamente no contexto da história da família escrava, já que podemos observar, em vários trabalhos, a relação entre estruturas familiares e os índices de sobrevivência infantil. A pesquisa seria importante não apenas em função da inexistência de trabalhos nesse âmbito voltados para a região, mas também em função das características da mesma. Tratava-se de uma área destoante daquelas que são mais comumente pesquisadas, pois não tinha sua produção voltada para exportação, e ficava mais distante das rotas de introdução de escravos via tráfico atlântico. Isso é relevante não só com relação aos mecanismos demográficos dos escravos como também com relação à mortalidade, pois a constante introdução de elementos recém chegados dos navios correspondia ao choque de esferas microbiológicas distintas, o que por sua vez deixava-os mais vulneráveis a doenças contagiosas. A realização da pesquisa se dá através da organização de um banco de dados, com a ajuda do programa Access, para a sistematização dos dados colhidos, o que permitirá a teorização e a realização do estudo proposto.
                               

MOTTA, Kátia Sausen da. Infância negra: aspectos da vida cotidiana das crianças escravas na Vila de Vitória (1790-1810).
RESUMO. Os estudos relativos à escravidão aumentaram significativamente nas últimas três décadas, em que a historiografia voltou-se para aspectos da vida dos cativos nunca antes questionados. Nessa nova perspectiva, os escravos passaram a se configurar como agentes históricos ativos, capazes de determinar algumas opções de escolha de vida, como aquelas relacionadas às relações matrimoniais e às de compadrio. Vitória, principal Vila da Capitania do Espírito Santo, apresentava demograficamente um retrato cingido pela presença negra. Os escravos chegaram a representar, no final do Setecentos e início do Oitocentos, 2/3 de toda a população moradora da Vila. Essa mão-de-obra era utilizada em todos os setores do trabalho urbano e rural, o que propiciou a especialização de alguns escravos. No que concerne ao estudo das crianças escravas, a escassez das informações contidas nos documentos dificultou estudos aprofundados a respeito desse grupo específico dentro da escravidão. Os inventários post-mortem, principal corpo documental do presente estudo, nos permitem vislumbrar uma quantidade significativa de crianças cativas arroladas entre os bens dos inventariados, representado mais de 1/3 de todos os escravos listados nos documentos. É sob esta ótica de inserir o escravo como agente ativo da história que o presente trabalho pretende compreender aspectos da infância dos pequenos cativos na Capitania do Espírito Santo no final do século XVIII e início do XIX. Para tal intento elegemos como fonte privilegiada de análise os inventários post-mortem no período de 1790 a 1810. Os bens arrolados nesses documentos cartoriais nos possibilitam vislumbrar satisfatoriamente a vida material dos proprietários de escravos e traçar um painel da infância dos cativos de Vitória, bem como os relacionar com a atividade econômica e a riqueza do seu senhor.
                                    

MOURA FILHO, Heitor Pinto de. Reconstituição da população de escravos e seus descendentes por modelagem demográfica.
RESUMO. São notórias as dificuldades de se obter séries regulares e confiáveis que descrevam as características demográficas padrão (pessoas existentes, nascidas e falecidas, distribuídas por idade, gênero e condição social, em certa região). Em trabalho de 2005, mostramos as incongruências entre os diversos registros estatísticos referentes a Pernambuco no século XIX, em especial no tocante aos totais estáticos e aos fluxos vitais da população de africanos e seus descendentes. Em situações de escassez de dados sistemáticos, nem sempre os resultados de técnicas estatísticas de estimação e regressão se mostram adequados. No XV Encontro Nacional de Estudos Populacionais (2006), apresentamos um modelo demográfico de simulação da evolução de uma população genérica de escravos, seus subgrupos por sexo e origem, bem como a dinâmica de mortalidade, fecundidade, natalidade, imigração e variação total. Os resultados modelados foram comparados com alguns indicadores históricos de populações cativas, no Brasil e em Pernambuco. No XVI Encontro (2008), buscamos expandir estes conceitos num modelo demográfico para representar a evolução do contingente de escravos africanos e de seus descendentes em Pernambuco, de 1560 a 1872. A principal conclusão foi a confirmação de que as combinações de parâmetros de mortalidade e fecundidade, dentro dos amplos intervalos divulgados pela historiografia, podem de fato gerar populações nos tamanhos e, principalmente, com as composições etárias e de sexo apontadas pelos primeiros dados censitários disponíveis, em 1872. Tais combinações também reforçam as análises baseadas na hipótese de que o tráfico foi o grande motor do crescimento da população de escravos e de seus descendentes. A modelagem demográfica é uma vertente metodológica ainda pouco explorada no Brasil, complementar à reunião de dados novos a partir de fontes primárias e à análise crítica de dados agregados. As principais vantagens da modelagem demográfica são a possibilidade de avaliar, em etapas seqüenciais, a compatibilidade das diversas informações que emergem das novas pesquisas com os dados até então conhecidos e a possibilidade de gerar dados indisponíveis e indicadores impossíveis de serem calculados unicamente a partir dos dados existentes. Essa capacidade de "ir além" dos dados históricos decorre da lógica da equação demográfica. Neste texto, descrevemos os problemas motivadores dessa linha de investigação e os principais resultados a que chegamos até o momento.
                          

OSÓRIO, Helen. Escravidão na pecuária sulina: ensaio sobre a produção recente.
RESUMO. Nos últimos anos houve uma produção significativa de artigos, dissertações e teses que, de forma central ou lateral, abordaram a temática da escravidão na pecuária sulina. Mais do que um objeto negligenciado, (bem como a própria escravidão no Brasil meridional) por muito tempo ele foi considerado inexistente por determinadas correntes historiográficas. A baixa capacidade de acumulação da atividade pecuária, o acesso a cavalos que os escravos teriam e, portanto, a um meio de fuga, assim como a situação fronteiriça com outro império (espanhol) e posteriormente países (repúblicas independentes da região platina) foram os argumentos esgrimidos para negar a existência e/ou importância de relações escravistas em áreas dedicadas à pecuária. Esta comunicação pretende realizar, da forma mais ampla possível, uma recensão do atual conjunto de trabalhos produzidos, determinando suas abordagens, enfoques, pressupostos teóricos, áreas geográficas contempladas e fontes utilizadas.

                                                   

PERUSSATTO, Melina Kleinert. "Para o bem do seu direito": pecúlio, trabalho e liberdade nos últimos anos da escravidão - Rio Pardo/RS.
RESUMO. A significativa incidência de escravos em busca de suas liberdades (ou de senhores em busca da indenização) junto ao fundo de emancipação de Rio Pardo/RS, que funcionou entre 1873 e 1884, nos fez problematizar como os escravos acionavam esse meio de libertação, que recursos possuíam e, ao não serem contemplados com as reduzidas cotas destinadas anualmente ao município, caso de muitos sujeitos, que estratégias e negociações empreenderam para manumitirem-se. Alguns indícios estão nas próprias listas de classificação, mas também nas atas das reuniões da junta, em cartas de alforria, em requerimentos, em processos e ações judiciais. Localizamos, pois, alguns classificados acionando a justiça, contando com a colaboração de curadores e/ou autoridades favoráveis à causa abolicionista, negociando alforrias condicionadas ao contrato de trabalho ou mesmo tentando resgatar o pecúlio entregue ao fundo - possivelmente com a intenção de negociar a liberdade com o próprio senhor ou, conforme assegurou a Lei do Ventre Livre, indenizá-la em juízo. Mas também encontramos outros sujeitos, que não foram classificados, buscando suas liberdades, do mesmo modo que nos deparamos com alguns ex-escravos transitando nos espaços jurídicos. A apreensão dessas experiências torna-se pertinente para ampliarmos nossa reflexão acerca da busca e das formas possíveis de libertação, bem como das estratégias acionadas após o cativeiro naquele contexto. As listas de classificação nos permitem identificar características de 890 escravos. Constatamos, dessa forma, uma predominância de mulheres, escravos de cor preta e solteiros. As idades oscilam entre dois e os 84 anos, predominando aqueles entre 20 e 44 anos. Entre as profissões/ocupações, destacam-se serviços domésticos, cozinheiras, campeiros, lavradores, roceiros, costureiras, lavadeiras e mucamas. Apresentaram mais pecúlio os classificados de cor preta e em relação ao gênero, foram as mulheres com a ocupação de serviços domésticos, cozinheiras e lavadeiras que se destacaram, seguidas dos homens sapateiros, lavradores e campeiros. As informações referentes à ocupação e ao pecúlio nos permitem apreender aspectos do repertório de recursos disponíveis para a manumissão, mas também para possíveis negociações no interior da unidade produtiva: formação de família, liberdade de movimento, momentos de lazer e descanso, trabalho independente, entre outros. Ao "esquentarmos" os números com as experiências, podemos aprofundar a hipótese de que mudanças nas relações de trabalho ocorriam durante a escravidão, principalmente se considerarmos as especializações escravas, a formação do pecúlio e a incidência de alforrias sob contrato como indícios da falência de políticas de domínio senhorial e do crescimento da autonomia escrava. Nesse aspecto, observamos que no repertório de recursos disponíveis para a busca da liberdade estavam as leis e os espaços jurídicos, para além das relações paternalistas.
                                       

PETIZ, Silmei de Sant´Ana. Caminhos cruzados: Senhores e Escravos da Fronteira Oeste do Rio Grande, 1750-1835.
RESUMO. No presente trabalho procuramos analisar a estrutura da posse de cativos na fronteira Oeste do Rio Grande. O recorte temporal abarca os anos de 1764 a 1835, havendo uma subdivisão em dois sub-períodos: 1764-1809 e 1810-1835. Estabeleceremos uma análise comparativa entre esses recortes a fim de identificar possíveis alterações ocorridas na composição e distribuição da população cativa e na medida do possível relacioná-las com as transformações econômicas verificadas na passagem de uma fase e outra. Os inventários post-mortem são as fontes que utilizamos, foram selecionados todos aqueles relativos a proprietários de cativos. Temos um total de 722 inventários e 5.195 escravos, para os quais são descritas informações como sexo, idade, origem e profissão. Entre 1764 e 1809, 149 ou 91,42% dos senhores tinham pelo menos um cativo entre os bens arrolados. Contabilizamos entre as posses desses um total de 752 escravos o que configura uma média de 5 cativos por inventário. Existiam 26 plantéis unitários (15,95%), 72 proprietários possuíam entre 1 e 3 escravos (44,17%) , 60 senhores (36,80%) possuíam entre 4 e 9 escravos e 13 proprietários foram considerados detentores de grandes posses e detiveram plantéis compostos por 10 a 20 indivíduos que somados deram 21,67% dos mesmos. Correlatamente, os 4 detentores de avultada massa de escravos - 21 ou mais -, representaram, tão-somente, 2,45% dos proprietários. Entre 1810 e 1835 encontramos propriedades escravistas em 90,10% dos inventariados. Em 573 inventários abertos para o período foram localizados 4.443 escravos o que corresponde a uma média de 7,75 cativos por plantel. Nesse período, vemos que a propriedade escrava se mostrou mais difundida e os grandes plantéis passaram a ser mais comuns. O exame desses dados indica que 13,99% dos proprietários formavam plantéis unitários. 34,74% dos proprietários detinham plantéis formados por 1 a 3 escravos. 32,80% detiveram entre 4 e 9 escravos. Já os plantéis grandes, passaram a computar 17,29% dos senhores. Por último, entre os senhores que possuíam avultada massa de escravos, passaram a compor 36 representantes ou 5,66% dos plantéis correspondendo, no entanto, a 1.350 indivíduos ou 30,38% dos cativos inventariados.
                                    

PORTO, Ângela. Fontes para a História da Saúde dos escravos no Brasil.
RESUMO. Este trabalho apresenta uma amostragem da produção acadêmica recente sobre a saúde do escravo no Brasil e os debates e tendências atuais sobre a questão. Enfocam-se tanto os atuais trabalhos da área de História como as principais fontes disponíveis sobre a questão até agora reunidas pela pesquisa, que coordeno na Casa de Oswaldo Cruz. A pesquisa buscou reunir fontes e pesquisas que conferissem visibilidade ao tema da saúde na história da escravidão. Visando estimular a discussão e as perspectivas de novas abordagens sobre a vida higiênica dos escravos no Brasil, efetuamos o levantamento e análise do conjunto documental do Arquivo da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro e da Bahia, e de fundos e conjuntos documentais dos principais arquivos do Rio de Janeiro que pudessem se relacionar à temática da escravidão e da saúde. Organizado no programa EndNote X, conta com cerca de 1.000 títulos, entre os quais livros, artigos de jornais e revistas, coleção de documentos, fotografias e teses. Além de realizar tal síntese historiográfica, nosso objetivo principal tem sido analisar o pensamento médico em torno da escravidão a partir das teses médicas defendidas na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e da Bahia e dos periódicos médicos, que elegeram temáticas ligadas à escravidão e à doença associada ao tráfico. Em meio às discussões travadas em torno da abolição desta prática, a institucionalização da medicina levou à produção de trabalhos sobre as principais doenças que acometiam a população, datando desta época os primórdios dos estudos sobre as chamadas doenças africanas. Buscamos verificar a hipótese da existência de uma tradição específica do pensamento médico brasileiro e a associação de certas doenças ao tráfico de escravos, como expressão da trajetória histórica de uma sociedade marcada pela escravidão. No plano das atuais pesquisas na área de História, observamos a renovada discussão do tema da escravidão associada ao pensamento médico e as práticas médicas e de cura no Brasil. As novas produções vêm caminhando em direções variadas quando se aborda a questão da raça ou da saúde dos escravos. A questão das identidades étnicas é um tema hoje largamente explorado. Somam-se a estas as novas abordagens em estudos demográficos, que privilegiam os estudos sobre família escrava e relações de compadrio. Também os conhecimentos sobre as práticas terapêuticas, de cura e os saberes médicos são renovados por estudos mais aprofundados sobre a história da cultura africana, história das religiões e abordagens antropológicas. As condições de vida e morte dos escravos são hoje revistas pelos estudos sobre a dieta alimentar dos africanos cativos, sobre a experiência da travessia atlântica pelo tráfico negreiro, assim como pelas teorias sobre biodiversidade e migração de populações. Em síntese, esta comunicação propõe apresentar uma amostragem da produção acadêmica recente sobre a saúde do escravo no Brasil. Pretende-se enfocar tanto os atuais trabalhos da área de História como as principais fontes disponíveis sobre a questão até agora reunidas pela pesquisa.
                                    

RIBEIRO, Geisa Lourenço. Diante do Santo Sacramento do Matrimônio: os escravos de São João de Cariacica-ES, 1850-1888.
RESUMO. A existência de relações familiares no cativeiro já foi bem evidenciada por diversos trabalhos nas últimas décadas. Contudo, áreas consideradas periféricas do ponto de vista econômico ainda carecem de pesquisas, como é o caso do Espírito Santo. Uma economia baseada na produção de alimentos para o mercado interno e escravarias de pequeno porte, quando comparadas com aquelas das áreas agro-exportadoras do Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia, caracterizam a Província do Espírito Santo no cenário econômico do Brasil imperial. Essas características, aliadas ao pequeno número de pesquisas sobre a região, impõem-nos uma dúvida referente a uma tese corrente na historiografia sobre a escravidão: a dificuldade para a formação de famílias escravas em pequenos cativeiros. Com base em documentos de origem eclesiástica, os Livros de Casamento, pretende-se investigar a existência de famílias na Freguesia de São João de Cariacica, na segunda metade do século XIX. Nessa conjuntura bastante específica, na qual a abolição do tráfico de africanos trouxe complicações para o abastecimento da mão-de-obra para os senhores espírito-santenses, assim como para os demais brasileiros, e incentivou o tráfico interprovincial, objetiva-se investigar os padrões de casamento envolvendo escravos naquela freguesia. Em um período de tão grande instabilidade, no qual seria ainda mais difícil a formação de laços familiares, segundo outra tese bastante difundida na historiografia, procura-se refletir sobre a busca do sacramento do matrimônio pelos cativos enquanto importante instrumento de ação na sociedade à luz das Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia (1707), principal documento religioso produzido no Brasil durante a Colônia e válido ainda durante o Império e que também procurava regular as uniões maritais entre cativos.
                                       

RUBERT, Rosane Aparecida. Parentesco, memória e território: um estudo etnográfico de comunidades negras rurais da região central do RS.
RESUMO. A historiografia, nos últimos anos, vem realizando notáveis avanços no estudo das redes de parentesco e sociabilidade existentes no interior dos plantéis de escravos e entre plantéis distintos. A enxurrada de estudos realizados pela antropologia sobre coletivos de afrodescendentes que vêm se auto-identificando como remanescentes de quilombos, apoiados em pesquisas sobre memória coletiva, tem aproximado sobremaneira ambas as áreas do conhecimento. A conjunção entre relatos autobiográficos e pesquisas em arquivos potencializa, dessa forma, o conhecimento tanto de uma estrutura de relações quanto dos processos que a tornou possível. Uma pesquisa etnográfica e documental realizada entre os anos de 2005 e 2007 em um circuito de comunidades negras rurais, localizadas na região central do estado do RS, permitiu o mapeamento de uma rede de parentesco entretecida entre as mesmas que remonta à imediata pós-abolição. Trata-se das comunidades de Passo dos Brum e Ipê, localizadas no município de São Sepé, e Passo dos Brum, Passo dos Maias e Faxinal da Eugênia, situadas no município de Formigueiro. Se considerarmos que os ex-escravos ancestrais fundadores dessas comunidades faziam parte de plantéis dispersos no interior de uma única família extensa de estancieiros, a constituição dessa rede de reciprocidade e sociabilidade pode ser recuada para o período escravista. Nesse estudo voltado para a elaboração de tese de doutorado, a conquista e consolidação de territórios próprios emergem intimamente vinculadas à articulação de relações de parentesco entre (ex)escravos, amalgamadas a outras estratégias, como a aproximação ao mundo dos livres por meio de alianças matrimoniais ou relações de trabalho diferenciadas. O presente texto busca se deter sobre os padrões e significados da família escrava e/ou afrodescendente no contexto em estudo, atentando para a importância da reprodução dessa rede parental inter-comunitária através do tempo enquanto estratégia de indivisibilidade desses territórios étnicos. Esses mecanismos de constituição de um território-rede que transcende os territórios-zona comunitários sofreram, no entanto, inflexões por meio de dois processos históricos sucessivos: a imigração para a região de colonos alemães e italianos ainda nas últimas décadas do século 19; a difusão da revolução verde nos idos das décadas de 50 e 60 do século 20. Os territórios étnicos estudados, situados em áreas de relevo íngreme e densa cobertura vegetal e por isso, preteridos para atividades pecuárias, passam a ser intensamente disputados e esbulhados, gerando tensões e disputas no âmbito interno das comunidades e entre elas. A recente auto-identificação desses coletivos como remanescentes de quilombos, vem re-significando essa memória genealógica comum, redimensionando vínculos diluídos pelas lógicas disjuntivas que se atravessaram na trajetória dessas comunidades pelos processos supracitados.
                                             

SANTOS, Maria Rosangela dos. Entre a escravidão e a liberdade: famílias mistas no Paraná na segunda metade do século XIX.
RESUMO. Durante a segunda metade do século XIX a população do Paraná era composta majoritariamente por livres, e dentre estes uma parcela significativa era de negros e pardos. A população escrava, relativamente pouco numerosa se comparada com a de regiões agroexportadoras, sofreu gradual redução ao longo do período abordado devido ao tráfico interprovincial. As localidades aqui estudadas, Curitiba, Campo Largo e Palmeira, não diferem do restante do Paraná no tocante à composição da população. Buscando entender as relações que se davam entre livres e escravos na sociedade paranaense na segunda metade do século XIX, esta comunicação explora as possibilidades desta interação a partir da abordagem de famílias mistas, consideradas como aquelas compostas por livres e escravos. A recente historiografia da escravidão brasileira vem apontando a família como elemento importante para a diferenciação e inserção dos escravos, tratar deste tema permite nos aproximarmos da dinâmica social daquelas localidades e dos elementos que estavam em jogo nas relações entre os grupos sociais abordados. Para o estudo proposto, utilizaremos como fonte listas de classificação de escravos para o fundo de emancipação de Curitiba, Campo Largo e Palmeira, todas produzidas em meados da década de 1870, nas quais podemos encontrar menções à composição da família dos escravos listados. Num primeiro momento faremos uma análise quantitativa destas famílias, atentando para a recorrência dos elementos que as caracterizavam. Posteriormente, partiremos para uma análise qualitativa buscando observar como este arranjo familiar estava presente no cotidiano. Para isso, utilizaremos como fonte um processo criminal de Curitiba de 1874. Trata-se de um homicídio praticado por um escravo, filho de uma liberta, do qual foi vítima uma escrava, ambos pertenciam ao mesmo senhor, o qual também tinha um agregado português, que supostamente mantinha uma relação afetiva com a vítima, o que teria motivado o crime. A partir deste processo abordaremos temas que permeavam a existência da família mista e da escravidão, como a mestiçagem e as tensões derivadas das relações entre livres e escravos.
                                      

SANTOS, Maykon Rodrigues dos. Entre secos e molhados: mulheres Mina e a construção de identidades em Vila Rica, durante a segunda metade do século XVIII.
RESUMO. Em janeiro de 1783, a forra Antonia da Silva Ribeiro retirou licença na Câmara de Vila Rica para que sua venda pudesse funcionar na freguesia de Antonio Dias no referido ano. Em 1792, na Vila de São João Del Rei, Catarina Tinoco da Silva deixou testamento pelo qual se pode perceber que era uma pequena comerciante. Tal situação não foi diferente para Mariana e em 1758 faleceu Josefa Maria de Queiroz, que também ganhava a vida através do comércio a retalho. Já em 1854 no Rio de Janeiro, a escrava Amélia também comerciava no largo da Sé da dita cidade. Indo um pouco além. Essas mulheres não eram só negras. Todas elas pertenciam também ao grupo de procedência Mina. E isso vem cada vez mais sendo enfatizado pela bibliografia que estuda o processo de construção de identidades entre escravos e forros na diáspora do Novo Mundo. A identidade como fenômeno social e como realidade ontológica sempre foi uma constante nas sociedades humanas ao longo do tempo. Construir um "nós" e um "outro" são pontos essenciais para se constituir uma existência própria. Esses processos têm uma historicidade e uma dinâmica própria relacionada com o próprio processo de construção de cada sociedade. No caso da formação do Novo Mundo, na América Portuguesa, tal processo foi ainda mais forte devido as diversas origens geográficas, étnicas e históricas dos grupos étnicos que formaram tal sociedade. Soma-se a isso, os diferentes status de poder, que resultaram numa sociedade desigual e hierárquica. Este trabalho pretende estudar a construção de identidades do grupo de procedência Mina, a partir das mulheres do grupo que atuaram no pequeno comércio, em Vila Rica, Capitania das Minas Gerais, entre os anos 1753 e 1794. Pretendemos enfatizar as estratégias sociais usadas na construção de identidades, a partir das possibilidades abertas pelo espaço urbano mineiro. Qual o perfil sócio-econômico destas mulheres, ou seja, do grupo. Onde investiam? Qual era seu padrão de escravaria? Eram casadas? Tinham filhos? Alforriavam seus escravos com padrões iguais a outros segmentos sociais? Eram realmente as mulheres Mina que predominavam entre os forros que aturam no pequeno comércio? Qual a relação entre as mulheres forras e a Irmandade do Rosário dos Homens Pretos? Como se deu a liberdade destas mulheres? Além disso, pretendemos perceber se identidades mais específicas, como Coura ou Lada, surgiam? Qual a lógica que tais sujeitos utilizavam na construção de suas identidades sociais? Responder a tais perguntas é o principal objetivo deste trabalho. Para tal, nos utilizaremos dos registros de licença para vendas, inventários post-mortem e testamentos, ata da eleição para a mesa diretora da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, livros de notas entre outras fontes. Procuramos, a partir da seriação e quantificação dos documentos e seu cruzamento com dados qualitativos, estabelecer trajetórias individuais e do grupo de procedência Mina.
                                 

SANTOS, Sherol dos. Apesar do cativeiro. Família escrava em Santo Antônio da Patrulha (1773-1824).
RESUMO. Propondo uma análise do escravo como agente ativo no cenário escravista, pretendemos apresentar nesta comunicação um pequeno estudo de caso que demonstra a importância dos estudos sobre a história da família escrava, tratando com destaque as relações que se afirmavam através do compadrio, acreditando ser esta uma das principais estratégias utilizadas por estes agentes para se movimentar entre o universo cativo e livre, e sedimentar relações de solidariedade (principalmente étnicas). Para identificar as famílias e suas estratégias procedemos ao levantamento dos registros paroquiais da freguesia de Santo Antônio da Patrulha entre 1773 e 1824, de onde destacaremos, entre outros, o caso da família de Inácio José de Mendonça, pardo, filho de uma escrava e um padre, que como tropeiro cruzava o Continente de São Pedro no séc. XVIII. Por volta de 1750 Inácio instala-se na Guarda Velha de Viamão (atual município de Santo Antônio da Patrulha), em 1755 casa-se com Margarida da Exaltação, filha bastarda (como ele) de Manoel de Barros e uma escrava sua de nome Tereza, e no mesmo ano inicia a construção da primeira Igreja da nascente Vila. Estas ações nos revelam o investimento desse indivíduo no seu status social, e partindo dessas informações buscamos, através da análise dos registros paroquiais referentes à família Barros de Mendonça, perceber as estratégias que transparecem na escolha dos padrinhos de seus filhos e netos. Acreditamos que casamentos e apadrinhamentos são estratégias colocadas em ação no sentido de ampliar e fortalecer relações, cimentando solidariedades, entrelaçando alianças e, no caso de pardos, viabilizando uma "melhoria" no seu status social. Portanto, a família Barros de Mendonça serve-nos como exemplo de como as redes de sociabilidade de pardos, negros e brancos se constituíam na freguesia da Guarda Velha de Viamão no final do século XVIII. Para proceder a essa análise foi necessária a utilização de um conceito de família amplo e maleável, que permitisse o entendimento da dinâmica da família escrava dentro de sua própria organização (levando-se em conta a origem africana dos envolvidos, os grupos sociais onde estavam inseridos e as peculiaridades regionais). Com base nos preceitos teórico-metodológicos da história social, que a nosso ver permitem o cruzamento de variáveis qualitativas e uma abordagem do universo cultural dos agentes enfocados, pudemos através da análise de algumas das alianças formalizadas na pia batismal pelas famílias cativas e seus descendentes perceber que a escolha dos padrinhos fazia parte uma estratégia desse grupo para inserir e/ou manter-se em determinada posição social. A redução na escala de análise nos permitiu um melhor entendimento das redes que formam determinada sociedade e podem nos revelar o modo como a relação entre os indivíduos foram construídas no tempo.
                            

SCHEFFER, Rafael da Cunha. Escravos do Sul vendidos em Campinas: cativos, negociantes e o comércio interno de escravos entre as províncias do Sul do Brasil e um município paulista (década de 1870).
RESUMO. Após a abolição do tráfico atlântico de escravos no inicio da década de 1850, um crescente movimento de transferência de escravos entre as regiões brasileiras ganhou espaço. Concentrando cativos nas regiões com economias mais dinâmicas, que podiam pagar mais por essa mão de obra escravizada, o impacto dessas transferências foi sentido em todo o país. Nesse artigo, procuro identificar os envolvidos nessas transações saídos das províncias do Sul do Brasil para o município de Campinas na década de 1870, período apontado como o ápice dessas transferências. A importância de Campinas no comércio interno de cativos pode ser verificada pela forte presença de escravos de outras regiões nesta região, sendo que cerca de 75% dos cativos negociados na região na década de 1870 eram provenientes de outras províncias brasileiras. Dessa forma, busco esboçar o impacto do mercado interprovincial de escravos na região Sul através da análise das compras de cativos oriundos dessas províncias na região de Campinas, levantando informações para entender quem eram os trabalhadores importados para a região e como essas transações se realizavam. Assim, procuramos identificar neste artigo o peso dessas transferências e o perfil dos escravos negociados, através dos registros do imposto de meia siza pagos nesta cidade do interior paulista, e parcialmente também nos livros de notas de compra e venda de cativos de um cartório de Campinas. Através do registro de meia siza, podemos identificar locais de origem (sendo geralmente apontadas apenas as províncias de origem), o sexo e idade dos cativos negociados. Além disso, esse registro também nos permite identificar os negociantes que intermediavam a venda desses escravos do Sul em Campinas, e perceber assim quem eram e como desenvolviam seus negócios. Através das datas e grupos negociados, podemos perceber a existência ou não de épocas privilegiadas para este negócio, os grupos geralmente negociados em cada venda e sua origem (percebendo se os cativos negociados vinham ou não da mesma região). Podemos ainda verificar o uso das procurações para a realização deste negócio. E com a leitura ainda parcial das notas de compra e venda nos livros de um cartório local, podemos analisar com maior precisão os locais de saída, ter uma noção do tamanho do grupo do qual o cativo se originava, através do número de matrícula na relação indicado para cada escravo na propriedade de um senhor, e a própria rede de negociantes que pode ser vista através das procurações. Dessa forma, podemos esboçar a presença de escravos nascidos ou oriundos do Sul do Brasil em um importante mercado de cativo do Sudeste, procurando identificar seu perfil e também a rede de negociantes responsável por essas transferências e sua operação.
                                  

SCHWEITZER, Maria Helena Rosa. População escrava e africanos na Ilha de Santa Catarina (1830-1860).
RESUMO. A proibição do tráfico atlântico de escravos para o Brasil teve uma repercussão diferenciada em seus dois grandes momentos: a primeira proibição, de novembro de 1831, diminuiu a importação de africanos por pouco tempo. Concretamente ela se encerrou em 1850 com a aprovação da lei Eusébio de Queiroz que, juntamente com outros fatores, propiciou a efetiva repressão do dito comércio. Durante os anos que se seguiram à proibição de 1830, o litoral de Santa Catarina foi um local estratégico aos traficantes que continuaram a transportar africanos através do Atlântico. Algumas fontes governamentais nos indicam que o litoral era procurado por ser um local distante, menos vigiado que os portos mais tradicionais e onde os desembarques corriam menos risco de serem identificados. Fontes complementares apontam que os desembarques não ocorriam somente no intuito de redistribuição e que alguns africanos novos permaneceram em Santa Catarina. A proposta do meu trabalho de dissertação é analisar o impacto da promulgação da lei em 1831 e as mudanças de contingente populacional escravo, buscando também os africanos, da Ilha de Santa Catarina. O universo social dos proprietários também será analisado, mas o objetivo dessa comunicação é fazer uma discussão acerca do uso das fontes que serão analisadas na dissertação. Registros de batismo e óbitos de escravos e inventários post-mortem serão utilizados para ponderar acerca da população escrava. A idéia dessa comunicação surgiu após a análise de alguns dados dessas fontes que nos apontam configurações diferenciadas da população escrava, e principalmente dos africanos entre eles.
                                   

SIQUEIRA, Ana Paula Pruner de. Estrutura da posse escrava nas fazendas de pecuária no Paraná.
RESUMO. Este trabalho insere-se nas pesquisas iniciadas no ano de 2008 e visa apresentar a estrutura de posse escrava da vila de Palmas, situada no oeste do Paraná, bem como o perfil da escravaria através dos inventários post-mortem. Além disso, propõe-se demonstrar as características dos proprietários e não proprietários de escravos de acordo com a origem, sexo, idade, atividade econômica e estado conjugal. A freguesia de Palmas foi fundada em 1839 e situa-se numa região de fronteira, localizada no oeste paranaense. Os moradores da cidade tiveram sua economia voltada principalmente para o abastecimento interno baseada na lavoura de alimentos e na pecuária, sendo a criação de gado e a invernada (aluguel de terras a tropeiros que iam do Sul para a feira de Sorocaba; as fazendas tornavam-se, assim, "campos de pouso" para o gado e para as tropas) as que tiveram mais destaque. Através destas atividades, Palmas estabeleceu relações comerciais com outras freguesias paranaenses bem como com outras províncias, como Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Os Campos de Palmas, os quais pertenceram a Guarapuava até 1877, atraíram migrantes, principalmente oriundos da própria Província do Paraná em virtude da localização da região ser na fronteira do Império, facilitando, deste modo, a aquisição de terras. Foram atraídos tanto indivíduos que desejavam estabelecer suas primeiras propriedades quanto proprietários interessados em expandir seus negócios. Para o governo imperial, o estabelecimento desta população na fronteira fora essencial visto a disputa de território existente entre o Brasil e a Argentina. Com a fundação de Palmas delimitava-se, mais claramente, as regiões que pertenciam a um país e as que pertenciam ao outro. Portanto, a análise envolve esses moradores que atraídos, principalmente, pelas ofertas de terras, se estabeleceram em Palmas na segunda metade do século XIX observando as escravarias daqueles proprietários que estavam conseguindo manter seus escravos nas propriedades, não participando do mercado interno de cativos, conforme verificado em pesquisa anterior, bem como os moradores que não empregavam cativos nas suas atividades econômicas, o que permite elaborar uma comparação e um perfil dos bens e posses dos proprietários com ou sem escravos existentes nos Campos de Palmas.
                                        

SIRTORI, Bruna & GIL Tiago. Bom dia, padrinho: o compadrio de escravos nos campos de Vacaria, 1770-1810.
RESUMO. O objetivo deste trabalho é analisar a estrutura de posse escrava na localidade de Vacaria, nos chamados Campos de Cima da Serra entre 1770 e 1810, especialmente as relações de compadrio estabelecidas pelos cativos na pia batismal. Para tanto utilizaremos os registros de batismo de cativos que estão sob a guarda do Arquivo Paroquial da Catedral de Nossa Senhora das Oliveiras da Vacaria. Nem todos os padres setecentistas foram caprichosos e apontaram as origens ou as residências de padrinhos, madrinhas, pais e avós. Mas temos informação para 95 pessoas (92 padrinhos e madrinhas, 2 pais e 1 senhor), dentre 209 registros de batismo, sobre o local de residência. Com exceção do senhor de Francisco da Costa Sena, que habitava em Viamão, todos os demais eram da própria localidade de Vacaria, menos dois de São Francisco de Paula, apontado quando das visitas que o padre fazia para batizar naquela Capela. Este dado nos sugere uma grande endogenia geográfica no comportamento destes agentes. Tal imagem se agrava se considerarmos que foram 100 padrinhos para batizar 209 crianças. Destes 100, 48 eram claramente apontados como moradores de Vacaria ou São Francisco, além de terem relações de parentesco na localidade explicitadas na fonte. Nesta comunicação, procuramos entender os elementos que interferiam na escolha dos compadres, tais como as relações pretéritas entre os cativos, as expectativas futuras, a relação senhor - escravo e, o que destacamos neste texto, a geografia. Nossa hipótese aponta que a limitação espacial dos agentes contribuía para a intensificação dos relacionamentos cotidianos, e que esta situação se manifestava na escolha dos padrinhos. Sem querer entrar em determinismos geográficos, procuramos compreender o peso particular desta limitação nas escolhas dos agentes sociais, ressaltando temas como vizinhança e amizade. Análises parciais apontam que dos 209 registros, 3/4 preferiram escolher padrinhos livres, e dentre estes, boa parte era da própria comunidade, ainda que seja difícil mapear sua localização precisa. Dentre aqueles que escolheram padrinhos cativos, cerca de 1/4, ao menos 20 continham padrinhos da mesma senzala enquanto 28 escolheram padrinhos de senzalas diversas. Todavia, dentro destes 28, encontramos algumas regularidades, duas pequenas "redes" de compadrio se estruturando a partir das senzalas de Joaquim José Pereira, Miguel Felix de Oliveira, Manuel da Fonseca Paes, Manuel de Campos Bandebur e Antonio Pinto Ribeiro. Sem querer entrar em determinismos geográficos, procuramos compreender o peso particular desta limitação nas escolhas dos agentes sociais, ressaltando temas como vizinhança e amizade.
                                                        

SOUZA, Daniele Santos de. Bahia de Todos os Santos e africanos: trabalho escravo em Salvador na primeira metade do século XVIII.
RESUMO. Esta pesquisa versa sobre a escravidão urbana em Salvador na primeira metade do século XVIII. Mais conhecida na época como Cidade da Bahia, a então capital da América Portuguesa possuía um grande contingente de escravos alocados nas mais diversas ocupações, fossem de "portas adentro" ou de "portas a fora". Crioulos, mestiços, angolas, minas, dentre outros africanos, labutavam nas casas e sobrados da cidade, assim como de suas tortuosas ruas e ladeiras, oferecendo seus serviços ao "ganho", transportando diversas mercadorias, cartas, pessoas e tudo o mais que se precisasse ou, principalmente no caso das mulheres, vendendo mercadorias, quitutes e iguarias das mais variadas. Numa Bahia predominantemente voltada para a produção de açúcar e tabaco, esta multidão chamava a atenção dos viajantes europeus que do lado de cá do Atlântico aportavam, assim como deixava de sobressalto os senhores de escravos e as autoridades coloniais. Cativos e libertos transitavam entre o Recôncavo e as regiões mineradoras, sendo vendidos ou alugados por seus senhores ou "induzidos" à fuga, indo "ocultar-se" nestas regiões. Através da análise de inventários post-mortem, testamento e do livro de Bangüê - onde era registrado o enterro de cativos pela Santa Casa de Misericórdia - para o período referido é possível construir um perfil da mão-de-obra escrava empregada na Cidade da Bahia, identificando a cor/origem, sexo, idade descritiva e estado de saúde, bem como ter em vista o padrão de posse de cativos entre os senhores. Este quadro permitirá vislumbrar parte significativa da comunidade escrava constantemente citada nas ordens e provisões régias, bem como nas atas e posturas da Câmara de Salvador. Nesta documentação autoridades coloniais e metropolitanas procuravam, com sucesso ou não, controlar, vigiar e fiscalizar não apenas o trabalho, mas todo e qualquer espaço de lazer ou autonomia da população cativa. Ao mesmo tempo, os representantes da coroa tentavam pôr em prática ordens de Vossa Majestade quanto ao trato dos senhores para com seus escravos, sobretudo no que tange aos castigos, ou melhor, ao que se considerava seus excessos. Os livros de alvarás e provisões régias do Tribunal da Relação da Bahia apresentam histórias de escravos e libertos intercedendo junto às autoridades coloniais ou se envolvendo em querelas entre senhores e demais cativos. Por meio desta documentação percebemos alguns dos significados da escravidão e da liberdade na sociedade colonial, sobretudo as estratégias de resistência empregada por africanos, crioulos e mestiços na labuta diária do cativeiro e, sobretudo, contra ele. A pesquisa, portanto, pretende entrelaçar a análise de dados quantitativos e qualitativos a fim de perceber as experiências da população escravizada e as formas de solidariedade por elas tecidas nas relações cotidianas com os senhores e com o governo colonial.                           

                                     

WEIGERT, Daniele. Escravidão, compadrio e família em Palmas na Província do Paraná: um estudo de trajetórias de famílias cativas.
RESUMO. Através do estudo de algumas trajetórias de cativos que contraíram matrimônio no Povoado de Palmas, na Província do Paraná, procuramos observar as relações sociais e de parentesco que os escravos estabeleceram por meio do casamento e dos laços de compadrio. O trabalho considera as afirmações de que o casamento para o escravo era uma estratégia socialmente disponível para conquista da liberdade, mesmo que criassem ou reforçassem as hierarquias sociais e de que a escolha do padrinho era determinada pelo contexto social da escravidão, e possuíam significados distintos para senhores e escravos. Temos como objetivo central, investigar os significados e possíveis benefícios que escravos e/ou senhores poderiam atribuir e/ou obter por meio de enlaces matrimoniais e de relações de compadrio. Assim sendo acompanhamos dois casais cativos, um em que pelo menos um dos filhos também contraiu matrimônio e outro que se casaram nos anos finais do sistema escravista, com o propósito de acompanhar estas trajetórias e as estratégias que teceram ao longo do tempo, pensando na família assim constituída como elemento de diferenciação frente aos outros escravos e aproximação da liberdade. Buscamos também verificar as condições sócio-econômicas dos padrinhos dos filhos destes casais, com a finalidade de observar os laços sociais com o meio livre que reforçavam pelo parentesco espiritual, neste contexto durante as décadas finais do sistema escravista.
                                          

XAVIER, Regina Célia Lima. Raça, Civilização e Cidadania na virada do século XIX e início do século XX.
RESUMO. Como pensar o Brasil após a escravidão? Como avaliar o peso da composição étnica na formação de uma "nova" sociedade que, livre do cativeiro, deveria preconizar a igualdade? O final do século XIX e as primeiras décadas do século seguinte constitui um período privilegiado para tentarmos refletir sobre as questões acima. Afinal, a década de 1880 é citada, muitas vezes, como sendo marcada pela recepção das idéias de cunho racial entre os intelectuais brasileiros. Já no período republicano, tornou-se premente discutir os direitos civis - incluindo aqueles dos libertos e negros livres. Na primeira década do século XX, por sua vez, no bojo de uma crise internacional e no contexto da I Guerra, seria renovado o interesse pelas "questões nacionais". No Brasil, isto significou uma reafirmação de sentimentos cívicos especialmente importante nos meios intelectuais, motivando a organização do I Congresso de História e Geografia do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), realizado em 1914. Este evento, bastante abrangente, tinha como foco a história do Brasil de 1500 a 1871. Em seus anais publicaram-se 95 trabalhos, divididos em teses oficiais e avulsas. As teses oficiais foram, por sua vez, distribuídas em nove seções. Interessa-nos, especificamente, aquela dedicada à história das explorações arqueológicas e etnográficas que tematizaram os estudos indígenas, a imigração branca e os africanos importados e sua distribuição regional no Brasil. Dedicados ao debate sobre este último tema, Afonso Cláudio e Braz do Amaral vão propor análises importantes sobre os povos africanos, vão se esforçar para definir o conceito de raça e a formação de um "tipo" nacional. Este é um período, também, no qual os intelectuais, principalmente aqueles vinculados ao IHGB, vão estar atentos e relativamente bem informados sobre os debates científicos ocorridos na Europa. É notável, neste sentido, como os autores citados acima vão dialogar com a antropologia e a etnologia francesa, assim como vão citar autores ingleses e alemães. Já nas teses avulsas, Campos Jr., de forma mais modesta, vai escrever sobre "os povoadores" do Rio Grande do Sul, dialogando de forma tímida com o debate instaurado na seção etnográfica. A presente comunicação tem por objetivo, então, analisar como estes intelectuais estavam trabalhando com a definição de raça e a composição étnica da população brasileira. Estes são elementos importantes para pensarmos sobre a definição de direitos sociais e a construção histórica do racismo. Neste sentido, sempre que possível e de forma pontual, iremos contrapor a estas perspectivas "científicas", o ponto de vista de alguns "homens de cor", explicitados no jornal O Exemplo, publicado em Porto Alegre, neste mesmo período.
                                     

ZETTEL, Roberta França Vieira. Os casamentos de escravos na freguesia de Nossa Senhora do Rio Pardo (1845-1865).
RESUMO. Em comparação com a produção do Sudeste brasileiro, a temática das relações familiares escravas no Rio Grande do Sul ainda é pouco explorada pelos historiadores, embora o estudo da escravidão no local tenha avançado bastante nos últimos anos. Visando uma contribuição, a comunicação terá como objeto as uniões legítimas dos escravos, ou seja, aquelas oficializadas pela Igreja, na freguesia de Nossa Senhora do Rio Pardo - RS, entre os anos de 1845 e 1865. Para tanto, optou-se pela análise da documentação paroquial - valiosos registros para o estudo da família e das dinâmicas populacionais, em razão de suas características de homogeneidade e série, já que os documentos mantêm os mesmos tipos de informação ao largo de longos períodos de tempo. Além disso, no caso dos estudos de escravidão, essas fontes convertem-se em muito relevantes considerando a descontinuidade do registro da existência social do escravo. Para o aproveitamento das características da fonte citadas acima, determinaram-se os anos entre-guerras como espaço temporal. Em primeiro lugar, não constam registros de casamentos durante a Guerra dos Farrapos (1835-1845). Em segundo, o recorte privilegiou esse período pela possibilidade dos conflitos, primeiro internamente à província, depois do Brasil com o Paraguai, modificarem as características demográficas da população escrava, o que dificultaria nesse caso o acompanhamento de grupos familiares ao longo desses anos. Os casamentos de escravos, ou seja, as uniões em que pelo menos uma parte é cativa, estão registrados em livros conjunto aos casamentos de pessoas livres. Suas informações são: dia, mês, ano e local da cerimônia, nomes dos cônjuges e suas condições jurídicas (escravo, liberto, indígena ou livre), nome(s) do senhorio, assinatura de duas testemunhas e senhores, caso alguma seja escravo e do vigário. Além disso, em sua maioria, os registros apresentam a caracterização dos cônjuges por cor e/ou origem quando se referem a escravos e indígenas, os locais de suas moradias e, nos casos de viuvez, indica-se o nome do cônjuge anterior. Em alguns casos, podem ocorrer outras variações desse modelo. A partir dessas informações, pretende-se responder à questão da existência ou não de um tipo predominante de união, em relação às características dos cônjuges: são formados casais segundo o pertencimento de origem - africanos e crioulos -, de propriedade - casais de mesmo proprietário ou proprietários diferentes -, de cor - parda ou preta - ou de condição jurídica? Com isso, o trabalho pretende a comunicação com as pesquisas sobre parentesco escravo no Brasil.
                              

                                                                                 

       

                    

                    

TRABALHOS PARA OS QUAIS NÃO DISPOMOS DE RESUMOS

                                   

                                

HAMEISTER, Martha Daisson. Para dar calor à nova povoação: estudos sobre estratégias sociais e familiares a partir dos registros batismais da Vila de Rio Grande (1738-1763). (Tese de Doutorado) Instituto de Ciências Sociais e de Filosofia da Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, 2006.

                                             

                                                        

                       

                                         

                                                                       

                                     

                                                                     

                                           

SOARES, Márcio de Sousa. A remissão do cativeiro: a dádiva da alforria e o governo dos escravos nos Campos dos Goitacases, c. 1750-c. 1830. Rio de Janeiro, Ed. Apicuri, 2009, (Coleção Distâncias).
APRESENTAÇÃO. Neste livro o autor analisa a prática da alforria e as formas de reinserção social dos libertos e de seus descendentes, na região dos Campos dos Goitacases, entre 1750 e 1830, período em que se verificaram na área a montagem e a expansão da atividade açucareira direcionada para a exportação. Parte do princípio que -- como um fenômeno de longa duração -- a escravidão produzia e reiterava procedimentos socialmente determinados que visavam a amortecer os conflitos inerentes à relação senhor-escravo. Nesse sentido, argumenta que o tráfico atlântico, a escravidão e o horizonte da alforria devem ser entendidos como partes de um mesmo processo que produzia e reproduzia a ordem social escravista. Chega à conclusão de que a possibilidade virtual e efetiva de mobilidade social ascendente aberta aos egressos do cativeiro era bastante coerente com o papel estrutural desempenhado pelas alforrias no intuito de arrefecer as tensões sociais, multiplicar as hierarquias e de reforçar a ordem social. Na medida em que alcançavam a condição de senhores de almas, forros e pardos livres avolumavam o significativo contingente de pequenos e médios proprietários e, com isso, fortaleciam a legitimidade social da própria escravidão. Mais do que isso, podiam ser absorvidos no corpo político da sociedade como vassalos e se transformar em agentes da subordinação, exercendo funções diversas e, em alguns casos, ocupando cargos relativamente prestigiosos, muito além do cumprimento do papel de feitores ou de capitães-do-mato. (Apresentação escrita pelo autor da obra). 

                

                           

       

                     

                      

                         

                              

ENGEMANN, Carlos. De laços e de nós. Rio de Janeiro, Ed. Apicuri, 2008, 200 p. (Coleção Distâncias).
APRESENTAÇÃO. O autor contempla as comunidades escravas do Sudeste brasileiro, observa suas práticas e costumes e as entende como um dos elementos modeladores da própria vivência escrava em termos genéricos. Nas palavras do autor, "os resultados foram deveras interessantes, mostrando que se havia hierarquia - apartava os homens dentro do cativeiro, provocando a violência e a disputa, também havia as solidariedades - apresentavam resultados concretos, gerando melhoria nas condições materiais de vida."

                 

                    

       

                      

                     

                                                                

                                             

Herbert S. Klein. O tráfico de escravos no Atlântico. Ribeirão Preto, FUNPEC-Editora, 2006, 234 p.
APRESENTAÇÃO. Tradução da obra The Atlantic Slave Trade, publicada em 1999. A reconhecida experiência do autor, aliada a uma metodologia historiográfica sólida, torna o livro de leitura obrigatória aos pesquisadores interessados no tema.

                              

                                                  

       

                                                               

                                                            

                              

                                     

NADER, Maria Beatriz. Paradoxos do Progresso: a dialética da relação mulher, casamento e trabalho. Vitória, Ed. da Univ. Fed. do Espírito Santo – EDUFES, 2008, 284 p.

APRESENTAÇÃO. Estudo sobre as mudanças no comportamento feminino, a partir da inserção maciça das mulheres no mercado de trabalho em Vitória após os anos 70 do século passado.

                                              

                                  

       

              

                              

                                 

                               

                                

LEWKOWICZ, Ida & GUTIÉRREZ, Horacio & FLORENTINO, Manolo. Trabalho compulsório e trabalho livre na história do Brasil. São Paulo, Fundação Editora da Unesp, 2008, 144 p. (Coleção Paradidáticos).

RESUMO. O livro aborda a implantação do trabalho compulsório no Brasil colonial e imperial, acompanhando as mudanças em direção ao trabalho livre ocorridas entre os séculos XIX e XX. Três recortes foram privilegiados. Em primeiro lugar prestou-se atenção aos padrões presentes no trabalho compulsório existente nos séculos XVI ao XIX, período que registrou a utilização da mão-de-obra indígena em diversos empreendimentos luso-brasileiros. Contudo, a marca central foi a escravidão de africanos e seus descendentes. O tráfico negreiro municiou de cativos os setores econômicos mais rentáveis, como o açúcar e o ouro, formando-se uma vasta rede de interesses e negócios. Nos engenhos, fazendas e minas, escravos e libertos viveram a exploração mais intensa, construindo suas vidas nesse contexto, mas aprendendo nele também a limitar ou diluir, com a resistência, os rigores da escravidão. Em segundo lugar, o livro se detém nas mudanças verificadas entre os séculos XIX e XX, quando o trabalho livre ganha primazia. Concomitantemente à abolição da escravidão negra, novos contingentes populacionais, igualmente numerosos, começaram a ingressar no país, oriundos da Europa e da Ásia. Ocorreu grande imigração estrangeira de mão-de-obra livre que se radicou basicamente nas regiões sudeste e sul, inserindo-se na cultura do café, no comércio, e na nascente indústria. Em terceiro lugar, reserva-se um espaço especial às mulheres trabalhadoras, bem como ao trabalho executado por crianças. Acompanha-se a história das mulheres desde os tempos em que estavam sujeitas ao trabalho escravo até sua atuação nas lides industriais como operárias, no trabalho doméstico e mais modernamente no setor de serviços. Na mesma linha lança-se um olhar ao mundo dos pequenos trabalhadores e aos percalços do trabalho infantil. Crianças escravas e livres figuraram desempenhando ativamente diversas funções, não muito diferentes das enfrentadas pelos adultos, com o beneplácito da sociedade e sem proteção especial. Somente no século XX, juntamente com o desenvolvimento da indústria, surgiria a regulamentação e a condenação do trabalho infantil.

                                                               

                                         

                    

                                                                                                                      

                      

                          

                    

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