Ano XVI, no. 58, outubro de 2009
SUMÁRIO
Relação de Trabalhos Publicados
Este número de nosso BHD cobre todo o campo de preocupações dos pesquisadores de nossa área. Há farta coletânea de artigos apresentados em diversos encontros de cientistas sociais, não faltam os novos lançamentos de obras sobre nossa formação populacional, a divulgação por parte do Arquivo Público de São Paulo das versões integrais de antigas revistas representa o sempre bem-vindo estímulo à formulação de novos estudos, também faz-se presente um artigo sobre o perfil social de trabalhadores da empresa "The Ouro Preto Gold Mines of Brazil Limited", por fim, a coroar as informações aqui reunidas, comparece o livro intitulado Casa da Moeda do Brasil, cuja segunda edição é de 1989 e traz valioso material informativo sobre as moedas que circularam no correr de nossa história.
Rafael
de Freitas e Souza.
Perfil
social dos trabalhadores livres nacionais da The
Ouro Preto Gold Mines of Brazil Limited (1895-1897).
APRESENTAÇÃO. Com base nos Alistamentos Eleitorais Federais da Primeira República o autor, neste artigo, estuda a movimentação demográfica em busca de trabalho na mineração na segunda metade do século XIX em Minas Gerais, especificamente, na localidade de Passagem de Mariana (situada entre Ouro Preto e Mariana) que então sediava a companhia inglesa The Ouro Preto Gold Mines of Brazil Limited. Respaldado na aludida documentação buscou-se traçar um "perfil médio" do mineiro e levantar outros aspectos sobre o mundo do trabalho na mineração, do cotidiano da localidade, do gerenciamento da empresa e do próprio jogo político no final do século XIX. Para ler o texto integral: .
BERTIN,
Enidelce. Africanos emancipados em perspectiva atlântica. Comunicação
apresentada no XXV Simpósio Nacional de História. UFC- Fortaleza, 12 a
17 julho 2009.
RESUMO. A partir dos africanos livres ou emancipados e tutelados no Brasil, no
Caribe e em Serra Leoa, torna-se possível o delineamento da rede que conectava
as políticas de emancipação no mundo atlântico. Assim, a proposta é
apresentar uma investigação do trânsito de idéias e práticas relativas aos
emancipados no contexto da diáspora.
BERTIN,
Enidelce. Africanos livres e emancipados no Brasil e no Caribe. Comunicação
apresentada no XIX Encontro Regional de História (ANPUH-SP). FFLCH-USP,
8 a 12 setembro de 2008.
RESUMO. O paper visa apresentar aspectos da história dos africanos livres no
Brasil em perspectiva comparada ao Caribe. As condições de vida dos africanos
livres que permaneceram sob tutela durante anos no Brasil serão comparadas
àquelas dos emancipados em Cuba que, distribuídos para diferents colônias no
Caribe, viram-se cada vez mais distantes da sua condição de não-escravos.
BERTIN,
Enidelce. Liberated Africans and their fight for freedom in Brazil.
Comunicação apresentada no workshop internacional "Liberated Africans
as a Human Legacy of Abolition", realizado na Universidade da
Califórnia, Berkeley, de 01 a 03 de maio de 2008.
ABSTRACT. In Brazil, the effect of British pressure to put an end to the slave
trade was not really effective until the second half of the nineteenth century.
In spite of the fact that a law forbidding slave trade in Brazil was passed in
1831, the traffic volume increased until 1850, when was finally over. In Brazil,
those Africans who were emancipated, due to British political pressure, received
the denomination of "liberated Africans" and were kept under the
government "protection" working compulsorily in public institutions.
In this context, the aim of our presentation will be to analyse the different
ways in which emancipation signfied, both for the Brazilian government and the
emancipated Africans. Being aware of their singular condition, liberated African
positioned themselves as free individuals in their relationship with the public
authorities, fact that brought about a frontal collision with the practice of
tutorship. Nevertherless, for the public administrators, liberated Africans
could not be beyond the logic of the practice applied in the treatment of
slaves. This is why the "protection" involved in the system of
tutorship was directly related to the maintenance of slavery. Hence, the daily
relationship in public working place revealed that, in spite of the Brazilian
emancipation legislation, the Imperial government was pro-slavery, and its
policy rather than "protecting" the Africans' right to freedom,
preserved the dominion of slavery and the tight control over the process of
emancipation. In other words, for the Brazilian state, the liberated African
were not free but were subjected through the system of tutelage. However, the
historical experience of liberated Africans revealed their continuous resistance
to slavery and their identification as slaves. In this sense, the
self-identification of the emancipated Africans as free individuals reinforced
their condition of not-slaves, confering a special meaning to the freedom that
they felt entitled to. Studying civil proceedings for the emancipation process,
we were able to disclose strong links of brotherhood among the free Africans, as
well as the preservation of a common historical experience memory, many times
kept alive since the time of their Atlantic journey.
BERTIN,
Enidelce. Africanos livres emancipados e a experiência da liberdade controlada.
Comunicação apresentada no III Encontro Escravidão e Liberdade no Brasil
Meridional. Florianópolis, UFSC, 02 a 04 de maio de 2007.
RESUMO. A partir de retalhos da história de vida de Damasio Guaratinguetá,
africano livre que trabalhou por mais de 20 anos como servente na Fábrica de
Ferro do Ipanema, na região de Sorocaba, e na colônia militar de Itapura, na
divisa entre as províncias de São Paulo e Mato Grosso, podemos compreender
todo o esforço empreendido por ele para fazer valer a sua condição de
emancipado e para superar os efeitos da tutela exercida pelo Estado. Diante das
dificuldades de Damasio para obter autorização para estabelecer contrato de
trabalho com um proprietário particular, sugerimos uma reflexão sobre as
conexões entre a política de domínio para os africanos livres emancipados e a
condução do processo geral de emancipação na segunda metade do século XIX.
Incontestável o fato de que a escravidão norteou a política de controle dos
africanos livres. Poderíamos afirmar o mesmo invertendo os sujeitos? Ou seja,
quais foram as influências exercidas pelos africanos livres sobre a
escravidão, ou mais especificamente sobre o processo de abolição? A constante
reafirmação dos africanos livres de que eram livres e não escravos ou sequer
libertos, reflete uma limitação ou resistência muito incisiva à escravidão.
Embora não possamos quantificar os efeitos positivos da altivez dos africanos
livres sobre os escravos, não há dúvidas de que a permanente preocupação
dos administradores públicos com o controle sobre os primeiros, era reflexo de
uma ameaça à ordem geral dos escravos. Nesse sentido, é patente que o Estado
procurou manter consigo a direção do processo de emancipação após 1850.
Assim, para que a emancipação dos africanos livres atendesse a esse
direcionamento, esta não foi concedida geral e irrestritamente, senão que num
primeiro momento, o Estado exigiu requerimentos, provas e determinou locais de
moradia para os emancipados e, depois, os atrelou por intermédio do trabalho.
Considerando essa atuação do Estado diante das emancipações dos africanos
livres, entendemos que havia uma percepção dos efeitos - reais ou não -
daquelas liberdades sobre o controle do processo de emancipação. Nesse
sentido, o significado histórico da ação dos africanos livres reveste-se de
importância política, tanto porque expôs que os interesses do Estado estavam
muito aquém da preocupação com a proteção dos tutelados, como porque
evidenciou que, para o governo, os emancipados exerceram a função de ensaio
para o trabalho livre tutelado, além de uma experiência de "liberdade
controlada".
BERTIN,
Enidelce. Africanos livres, o Estado e a tutela em São Paulo do século XIX.
Comunicação apresentada no VIII Congresso Internacional da BRASA -
Brazilian Studies Association. Vanderbilty University, Nashville, Estados
Unidos. 13 a 16 de julho de 2006.
RESUMO. Produto da legislação anti-tráfico, o africano livre, ou seja, aquele
que fora ilegalmente importado da África, apesar da denominação recebida,
não era efetivamente emancipado, já que ficava sob tutela do Estado por longos
anos. Esta apresentação objetiva uma análise das relações entre africanos
livres e Estado, procurando entender como a tutela era vista pelos africanos
livres e pelos administradores públicos. A partir do estudo de africanos livres
que prestaram serviços em estabelecimentos públicos da província de São
Paulo podemos visualizar os limites da proteção oferecida pelo Estado, marcada
pela coerção e pela preocupação com a ordem e controle social. Contudo,
identifica-se também uma ativa resistência dos africanos à latente
escravização a que estavam submetidos. Assinalada por ambiguidades e por
diferentes estratégias de atuação e reivindicação, a relação entre ambos
sugere que a proteção assumia diferentes significados para cada um dos lados.
Assim, procura-se mostrar que o tenso movimento dessa relação foi o que
configurou o cotidiano de muitos homens e mulheres africanos livres em São
Paulo no século XIX.
ABSTRACT. The liberated African was the product of the anti-slave trade
legislation. Despite having received this designation, they weren't effectively
emancipated because they had been under official "protection" for an
extensive period of time. The main subject of this presentation aims to show the
relationship between liberated Africans and the Government, trying to understand
how the official "protection" or guard was seen by both liberated
Africans and public administrators. From the study of freed Africans who worked
for public institutions in the province of São Paulo we can view the limits of
the protection offered by the Government, which was marked by coercion and
concern with public order and social control. However, active strength against
the possibility of becoming slaves was also noticed. Marked by government
ambiguities and different strategies of performance and demands, the
relationship between both sides suggests that the official protection admitted
different meanings for each side. Therefore, we will show how the stressful
highs and lows of that relationship affected thee daily lives of many liberated
African men and women in the São Paulo of the 19th century.
BOXER,
Charles R. A mulher na expansão ultramarina ibérica: 1415-1815, alguns factos,
ideias e personalidades. Lisboa, Livros Horizontes, 1977, 168 p. (Coleção
Horizonte, vol. 35).
DA INTRODUÇÃO, escrita por C. R. Boxer. Não tive
a oportunidade de fazer um estudo profundo dos arquivos, neste tópico que
escolhi temerariamente [a mulher na expansão ultramarina...] ; espero, no
entanto, dar uma ideia das possibilidades de investigação neste campo e
lembrar algumas figuras históricas, talvez pouco conhecidas. O tratamento das
matérias é (...) episódico e rigorosamente seletivo, com alguns aspectos
apenas enunciados e outros esquecidos completamente. Assim, na primeira
conferência, abordarei o problema da mulher ibérica nas praças portuguesas de
Marrocos e nos Açores, deixando de lado as Canárias, Arquipélago de Cabo
Verde e presídios espanhóis na África do Norte. Na segunda conferência,
tocarei no problema na parte respeitante ao México, Peru e Brasil, mencionando
de passagem as Caraíbas, mas ignorando a Venezuela ou a Colômbia. Do mesmo
modo, a presença das ibéricas em algumas regiões da Ásia - onde, aliás,
sempre foram minoritárias - tem de ser completamente ignorada na terceira
conferência. Porque os documentos publicados sobre a mulher no mundo colonial
ibérico são insuficientes, em quantidade e qualidade, não permitindo
estabelecer "estruturas", "padrões" ou outras ideias
sofisticadas, este ensaio despretensioso não irá além do que explicitamente
se indica no subtítulo; abre, ainda, o caminho a possíveis investigações
futuras. Não tem estrutura teórica, não tira conclusões retumbantes e
apressadas; mas contém material pouco conhecido.
GOLDFEDER
E CASTRO, Pérola Maria. Fontes e perspectivas de estudo sobre populações
escravas no Sul de Minas Gerais, séculos XVIII e XIX. Newsletter história
e-história, disponível em:
http://www.historiahistoria.com.br:80/materia.cfm?tb=alunos&id=199
RESUMO. A trajetória das populações escravas em Minas Gerais, sua dinâmica de reprodução e ocupação do espaço físico mineiro, além de suas estratégias de sobrevivência e integração à sociedade colonial são temáticas correntemente discutidas no campo da História Demográfica. Este, por sua vez, caracteriza-se por tratar dos aspectos estatísticos de uma população num determinado momento histórico, bem como da relação entre os dados e outras variáveis demográficas históricas. Neste artigo considera-se, basicamente, o trabalho de Marcos Ferreira de Andrade intitulado "Elites Regionais e a formação do Estado Imperial Brasileiro", referência para os estudos sobre população escrava no Sul de Minas Gerais. Nela, o autor utiliza-se de uma variada gama de documentos e metodologias para delinear o perfil dos plantéis escravistas sul-mineiros dos séculos XVIII e inicio do XIX.
PAULA,
Juliano Tiago Viana de. Parentesco e legitimidade entre cativos e pessoas livres
e libertas da Comarca do Rio das Mortes (1841-1859). HISTÓRICA: Revista on
line do Arquivo Público de São Paulo. São Paulo, Arquivo Público do
Estado de São Paulo, ano 5, n. 37, agosto de 2009. Disponível em:
http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/materia02/
RESUMO. Nos limites de uma pesquisa em andamento, o autor procura estabelecer
uma análise sobre os aspectos de compadrio e da legitimidade no seio da
população livre e escrava da São Tomé das Letras. Para proceder a um exame
inicial, foram utilizados os registros paroquiais de batismo da aludida região.
Pretende-se observar as estratégias desenvolvidas pelos cativos para ampliarem
as suas redes de socialização e solidariedade mediante a ampliação dos
laços de parentesco, instituídos pelo batismo cristão, com indivíduos da
mesma condição ou de posicionamentos sociais diferentes.
RODARTE,
Mario M. S. O trabalho do fogo: Perfis de domicílios enquanto unidades de
produção e reprodução na Minas Gerais Oitocentista. 2008, 365 f. Tese
(Doutorado em Demografia) - Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional,
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008. Disponível em:
< http://www.cedeplar.ufmg.br/demografia/teses/2008/Mario_Rodarte.pdf
>
RESUMO. Investigar os tipos mais freqüentes de domicílios na província de
Minas Gerais, na década de 1830, é o objetivo principal do estudo. O fogo, que
era o termo normalmente utilizado em registros censitários do século XIX para
designar a unidade domiciliar, diferia do domicílio contemporâneo. Além de
ter a função reprodutiva e de ser grupo de parentesco, o fogo quase sempre
constituía um conjunto de pessoas com outras funções sociais e também
econômicas, em especial, a de ser unidade produtiva, dado o contexto de uma
sociedade pré-industrial. Sendo o fogo, portanto, uma forma arcaica e híbrida
de organização doméstica, em que se fundiam as finalidades de produção e
reprodução, econômicas e demográficas, a proposta de tipologia de
domicílios aqui apresentada buscou captar essa plurifuncionalidade dos fogos,
adotando, como ponto de partida, a concepção mais abrangente de domicílio
(das ganze Haus) dos pesquisadores da Áustria, como Mitterauer e Sieder. Dessa
forma, esse novo método alternativo representa uma inovação em relação às
formas convencionais de classificação de domicílios, que concebiam a
organização doméstica apenas como grupo de parentesco, a exemplo do método
de Laslett. Para se realizar o presente trabalho, precisava-se de registros
históricos detalhados dos domicílios e de cada um dos seus membros, o que foi
encontrado em manuscritos (listas nominativas) remanescentes de dois censos
demográficos realizados na década de 1830. O fato de Minas Gerais ter sido a
província mais populosa do Brasil e, simultaneamente, ter logrado conservar
até o presente grande parte desse acervo documental, propiciou a formação de
um banco de dados de domicílios de proporções incomparáveis com os de outros
lugares do Brasil e mesmo de outros países. Assim, a partir dos cerca de 85 mil
domicílios contidos nesse banco de dados, que compreendem aproximadamente 10%
dos estimados para o Brasil, gerou-se uma tipologia de domicílios em que se
empregou 35 variáveis, mediante aplicação do método Grade of Membership
(GoM), que se baseia na teoria dos conjuntos nebulosos (fuzzy sets), de Zadeh,
em estudo de 1965. Entre outros resultados alcançados, mostrou-se que a
sociedade estava dividida em quatro formas bem distintas de fogos, sendo os
escravistas e os camponeses os tipos mais representativos e paradigmáticos da
virtuosidade do crescimento demo-econômico da Província. Em seguida, vinham os
fogos de autônomos, de assalariados e domicílios com perfis mistos entre esses
quatro tipos emblemáticos. Cumpre ressaltar que em cada um desses tipos de
fogos, descortinou-se uma estreita ligação entre as suas características
econômicas e demográficas.
SOUZA,
Mônica Lima e. Entre margens: o retorno à África de libertos no Brasil,
1830-1870. Niterói, Universidade Federal Fluminense, Tese de Doutorado, 2008,
270 p., mimeografado.
APRESENTAÇÃO. A autora analisa sob diversas perspectivas, tanto qualitativas
como quantitativas, o retorno para a África de escravos que alcançaram a
liberdade no Brasil.
SOUZA,
Rafael de Freitas e. Trabalho e Cotidiano na Mineração Aurífera Inglesa em
Minas Gerais: A Mina da Passagem de Mariana (1863-1927). São Paulo,
FFLCH-USP, Tese de Doutorado, 2009, mimeografado, 478 p.
RESUMO. Esta pesquisa destaca a história da mineração aurífera inglesa em
Minas Gerais da segunda metade do século XIX até 1927. Nosso objetivo foi
levantar a "baeta de ferro" que encobre a trajetória destes
gigantescos empreendimentos fabris enfocando o caso da Mina da Passagem situada
na cidade de Mariana. O processo de mono-industrialização capitalista vivido
por um pequeno arraial aurífero mineiro insere-o numa nova realidade
sócio-laboral. Por isso, o mundo do trabalho na mina e a vida fora dela foram
analisados sob uma perspectiva dialeticamente complementar. A extração do ouro
da jazida primária exigiu da companhia técnicas, maquinários, normas e
relações de trabalho típicas do capitalismo. Para isso, fez uso do trabalho
escravo e do trabalho livre de nacionais e imigrantes europeus, assim como da
mão-de-obra feminina e infantil. As duras condições de trabalho no subsolo e
na superfície a que estavam submetidos o(a)s mineiro(a)s fizeram seu cotidiano
ser marcado por contínuos acidentes e enfermidades avassaladoras. É neste
contexto que entendemos a relação trabalho/religiosidade matizada pela crença
em entidades metafísicas que os acompanhavam em sua faina diária. A presença
de ingleses, nacionais, africanos e imigrantes europeus fizeram de Passagem de
Mariana um típica "zona de contato". Os hábitos sociais, esportes,
lazeres, formas de organização e resistência são fruto dos entrelaçamentos
harmoniosos e tensos entre estes atores sociais. Por fim, tentamos esboçar
outro ponto de vista no que tange aos legados da companhia inglesa para os
trabalhadores e a localidade. Verificamos que seu passivo sócio-ambiental
sobrepuja seus pretensos benefícios.
Comunicações apresentadas no Seminário Internacional O século XIX e as novas fronteiras da escravidão e da liberdade. Rio de Janeiro/Vassouras, UNIRIO e USS, com apoio da USP, da Washington State University e do Fernand Braudel Institute,
10
a 14 de agosto de 2009.
ALADRÉN,
Gabriel. Entre guerras e fronteiras: escravidão e hierarquias sociais no sul do
Brasil (Rio Grande de São Pedro, primeiras décadas do século XIX).
RESUMO. A escravidão moderna surgiu no contexto da destruição dos direitos
feudais e da expansão, em escala mundial, do capital comercial europeu. A
formação dos sistemas escravistas nas Américas esteve intimamente relacionada
com o advento da modernidade. Deste modo, as características mais marcantes da
escravidão colonial diferiam das formas de escravidão até então conhecidas.
Na América portuguesa, a construção das hierarquias sociais pautou-se pelas
divisões estamentais típicas do Antigo Regime, mas a realidade de uma
sociedade escravista e colonial impôs a criação de um novo ordenamento
social. A era das revoluções trouxe em seu bojo a crise dos impérios
português e espanhol e, ao longo das primeiras décadas do século XIX, a
relação inequívoca que até então articulava a escravidão com a condição
colonial nas Américas foi colocada em xeque, inaugurando deste modo um
movimento de redefinição das hierarquias sociais. Na região platina, os
processos de independência e as Guerras Cisplatinas modificaram as condições
que estruturavam a escravidão na Capitania do Rio Grande de São Pedro. O
objetivo deste trabalho é apresentar resultados de pesquisa sobre as
características do sistema escravista e das hierarquias sociais na fronteira
sul do Rio Grande, ao longo das primeiras décadas do século XIX. Parte-se do
princípio da centralidade da instituição da escravidão na conformação das
hierarquias daquela sociedade. Sugere-se que a condição de fronteira e a
recorrência de guerras e conflitos militares dotaram as hierarquias sociais
escravistas no extremo sul do Brasil de características distintivas.
BERUTE,
Gabriel Santos. À margem da lei: o tráfico negreiro na Província de São
Pedro do Rio Grande do Sul, 1826-1831.
RESUMO. A proposta deste texto é analisar as características do comércio
negreiro na província rio-grandense e a atuação de seus agentes frente à
possibilidade de proibição da atividade negreira. Busca-se, em especial,
observar se a expectativa de interrupção da importação de africanos em 1831
representou alterações na dinâmica de funcionamento do tráfico na província
rio-grandense: volume de escravos importados, total de agentes envolvidos e
concentração das remessas realizadas.
CAPRINI,
Aldieris Braz Amorim. Constituir família negra entre a riqueza do café e a
abolição - Cachoeiro de Itapemirim (1880).
RESUMO. A comunicação apresenta os resultados parciais de um grupo de estudo e
pesquisa sobre o Espírito Santo do século XIX que se tem se concentrado no
resgate e digitalização de documentos do sul do Estado visando a oferecer
material de pesquisa à comunidade científica por meio da criação de site
específico. Com base nas fontes levantadas, delimitou-se o período de 1878 a
1880 e verificou-se a composição das famílias escravas e de negros livres em
Cachoeiro de Itapemirim. Ressalta-se que a região era o centro cafeicultor da
província, resultado da expansão do café a partir a Região do Paraíba,
apresentando inclusive maior relevância econômica que a capital (Vitória) e
concentrando metade da população escrava da província. Assim, o trabalho
discute como as famílias de negros estavam estruturadas na região mais rica da
província, às vésperas da abolição e com a maior população negra do
Espírito Santo.
ABSTRACT. This essay presents the partial results of a group that studies and
researches the Espírito Santo state during the XIX century, and has been
focusing in rescuing and digitalizing documents from the south of the state, to
be able to provide research material to the entire scientific community by
creating a specific web site to present the digitalized material. From the
sources researched, the period from 1878 to 1880 was stated and the composition
of families constituted of slaves and free black people was verified in
Cachoeiro de Itapemirim during this related period, by analyzing baptism
registries and its relation to slavery studies of Vilma Paraíso Almada. It
stands out that this region was the province coffee growing center, being the
result of coffee growing expansion from the Paraíba Region, also presenting
more economic relevance than the capital (Vitória), and concentrating half of
the slave population of the province. Thus, this essay discuss how the black
people families was constituted in the richest region of the province, to the
eves of the abolition and with the biggest black population of Espírito Santo.
ENGEMANN,
Carlos. Catando as Migalhas da Mesa do Barão: reflexões acerca da composição
de grandes plantéis e suas redes parentais em comunidades escravas a partir da
escravaria do Barão de Santa Justa (1773- 1884).
RESUMO. Este trabalho investiga características desenvolvidas pela comunidade
formada pelos escravos pertencentes ao barão de Santa Justa. Baseado em
informações do inventário do barão e por registros do livro de batismos de
escravos da Freguesia de São Pedro e São Paulo, foram exploradas
possibilidades na análise de compreensão da dinâmica escravista desenvolvida
pelo barão em suas propriedades. O cruzamento das informações contidas em
duas fontes diferentes, inventário e livro de batismos, proporcionou o traçado
de uma ampla rede de conexões sociais.
ABSTRACT. This work investigates characteristics developed by the community
formed by slaves belonging to the Baron of Santa Justa. Based on information
from the inventory of the baron and a book of records of baptisms of slaves of
the Parish of São Pedro e São Paulo, possibilities were explored in the
analysis of understanding the dynamics of slavery developed by the baron in his
properties. The intersection of information contained in two different
documents, inventory and book of baptisms, has enabled to trace wide network of
social connections.
FRANCO
NETTO, Fernando. Migração e tráfico interno em regiões de abastecimento
interno no sul do Brasil - século XIX.
RESUMO. O presente estudo aborda questões relativas à movimentação da
escravaria na primeira metade do XIX em região de fronteira no sul do Brasil.
As características de uma economia voltada para o mercado interno, com
atividades relacionadas principalmente à pecuária e à lavoura de alimentos,
determinaram especificidades quanto às possibilidades de composição dos
plantéis, tanto para os escravos crioulos como para os africanos. A grande
maioria desses escravos, considerando o processo de ocupação recente da
localidade, foi adquirido com base em migrações e/ou no tráfico interno. A
análise dos documentos conclui que durante os anos selecionados, apesar da
redução nos impactos desses movimentos internos, o papel das migrações e do
tráfico continuavam a representar um importante instrumento de crescimento das
escravarias. As fontes documentais estão baseadas nos processos de inventário
post-mortem e nas listas nominativas de habitantes do período.
ABSTRACT. This study addresses issues relating to the handling of slaves in the
first half of XIX in the border region in southern Brazil. The characteristics
of an economy geared to the domestic market, with activities mainly related to
livestock farming and foodspecific determined the possibilities for composition
of stocks, both for slaves and for the African creoles. Most of these slaves,
considering the recent case of occupation of the town, was purchased by
migration and/or internal trafficking. The analysis concludes that the documents
during the years selected, despite the reduction in the impacts of internal
movements, the role of migration and trafficking continued to represent an
important growth of the slaves. The documentary sources are based on the
processes of post-mortem inventory and lists of inhabitants of the period.
MAMIGONIAN,
Beatriz G. O tráfico ilegal e a instabilidade da propriedade escrava no século
XIX.
RESUMO. A comunicação discute o problema legal da propriedade sobre os
africanos importados após a proibição do tráfico de escravos pela lei de 7
de novembro de 1831 e que foram mantidos como escravos ainda que o primeiro
artigo da lei determinasse que fossem considerados livres. Fazendo uso de uma
gama variada de fontes primárias (debates parlamentares, legislação, projetos
de lei, correspondência diplomática britânica, atas do Conselho de Estado,
obras políticas), busquei demonstrar que a matrícula dos escravos determinada
pela lei do Ventre Livre (1871) teve a intenção de legalizar a propriedade
sobre os escravos trazidos por contrabando, uma vez que até então havia apenas
a matrícula dos escravos das cidades e vilas, que servia a fins fiscais, mas
nenhum registro geral dos escravos. A julgar pelo receio demonstrado pelos
senhores de escravos em petições e através de seus representantes no
Parlamento e pelas justificativas apresentadas no debate do projeto da lei de
1871, a propriedade sobre os africanos importados desde 1831 era considerada
instável. Um olhar atento para a política britânica acerca dos africanos
livres e dos africanos importados por contrabando permite entender por quê.
Desde 1850, os britânicos haviam alargado a definição de africano livre e
faziam defesa pública da liberdade dos africanos importados ilegalmente, o que
era visto no Brasil como uma séria ameaça à ordem pública. Desta forma, a
comunicação pretente aprofundar os argumentos apresentados por Richard Graham
e Eduardo Spiller Pena a respeito das circunstâncias "radicais" que
levaram os projetos de emancipação gradual à pauta da política brasileira na
segunda metade da década de 1860. Ainda que tenha sido formulada para legalizar
a propriedade sobre os africanos importados por contrabando, a matrícula de
1872 foi utilizada na década de 1880 em ações de liberdade por abolicionistas
que renovaram a ameaça "radical" à escravidão posta pela
aplicação da lei de 1831.
E-mail da autora: beatrizm@cfh.ufsc.br
MONTAUD,
Inés Roldán de. En los borrosos confines de la libertad: el caso de los negros
emancipados en Cuba, 1817-1870.
ABSTRACT. En las Antillas españolas, lo mismo que en el Brasil y muchos otros
lugares del mundo Atlántico, los tratados internacionales firmados para poner
término al tráfico de esclavos africanos dieron lugar a la aparición de
grupos humanos jurídicamente libres, pero que en la práctica, en una
experiencia que se repitió por doquier, difícilmente lograron disfrutar de su
condición de hombres libres. Se trata de los llamados "africanos
liberados" o "emancipados", como se les designaba en las colonias
españolas del Caribe. En pocos casos el complejo problema de las fronteras
jurídicas, sociales y políticas entre la libertad y la esclavitud se presenta
de forma tan visible y reveladora como en el de este pequeño grupo. Su
existencia conmocionó los fundamentos de las sociedades esclavistas y, sin
duda, actuó como elemento disolvente que contribuyó a horadar sus cimientos.
Con documentación procedente de diversos archivos españoles, cubanos y
británicos mi trabajo se centra en el estudio del caso cubano. Teniendo en
cuenta el peso de factores de naturaleza diversa como los de carácter
demográfico, la transformación de la estructura de la sociedad esclavista
cubana, la marcha de las relaciones diplomáticas entre España y Gran Bretaña
o la evolución del mercado laboral, reconstruyo la trayectoria del pequeño
grupo humano desde el momento de su aparición en 1817 hasta 1870, cuando la ley
española para la abolición de la esclavitud franqueó, por fin, el acceso de
los emancipados a su condición de libres. Las autoridades coloniales vieron en
los emancipados un elemento perturbador del orden social existente, los
convirtieron en "esclavos del gobierno" y sumieron en una horrenda
condición, si cabe peor que la de los siervos. Todo ello muestra, una vez más,
que las vías de ascenso de los negros esclavos a la libertad fueron
difícilmente transitadas en la sociedad esclavista cubana. Sin embargo, hay
abundantes evidencias de que muchos de estos individuos, conscientes de su
condición, lucharon por su libertad y consiguieren imponer su derecho. Es
importante estudiar sus casos, la percepción que tuvieron de su situación, sus
relaciones con los esclavos, con los libres de color y con las autoridades
coloniales y, en fin, su trayectoria como grupo debe contrastarse con la
problemática de otros lugares, particularmente con el caso brasileño de enorme
similitud.
PORTO,
Ângela. A saúde dos escravos: doenças, discursos e práticas terapêuticas -
Guia de fontes e de bibliografia na Biblioteca Virtual em Saúde.
RESUMO. Apresentação do projeto de biblioteca virtual "A saúde dos
escravos: doenças, discursos e práticas terapêuticas - Guia de fontes e de
bibliografia", coordenado por Ângela Porto e Kaori Kodama, que está em
fase de implantação. Este projeto consolida uma linha de pesquisa da Casa de
Oswaldo Cruz sobre a saúde e doenças de escravos, em uma perspectiva
interdisciplinar entre pesquisas votadas à escravidão e o estudo da história
das ciências da saúde. Tem por objetivo disponibilizar informações sobre
fontes e referências bibliográficas sobre a saúde e doenças dos escravos,
pela criação de uma Biblioteca Virtual temática, dentro da Biblioteca Virtual
em Saúde, História e Patrimônio Cultural da Saúde, recentemente lançada e
gerenciada pela Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz.
VALENCIA
VILLA, Carlos Eduardo. Migración forzada de africanos y los roles de género
diferenciados en la esclavitud colombiana y brasilera.
RESUMEN. Esta ponencia se propone defender una hipótesis modesta: el pequeño y
casi inexistente vínculo entre África y Colombia en el tráfico de esclavos en
la primera mitad del siglo XIX implica que las posibilidades de manumisión para
las mujeres se redujeran si son comparadas con las probabilidades para los
hombres; pero sobre todo, si se comparan con las oportunidades que tenían las
esclavas cariocas, ya que en Brasil el comercio de africanos era permanente y
por tanto las mujeres no sufren la presión adicional que tienen las colombianas
para mantenerlas en el cautiverio.
Comunicações apresentadas no VIII Congresso Brasileiro de História Econômica e 9a. Conferência Internacional de História de Empresas. Campinas, Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica, Instituto de Economia da UNICAMP,
6
a 8 de setembro de 2009.
CUNHA,
Maísa Faleiros da. Domicílios e moradores de uma vila paulista. Franca-SP,
século XIX.
RESUMO. Neste trabalho iniciamos por analisar a composição dos domicílios
francanos em 1836 e, em seguida, o tamanho e a estrutura dos domicílios
chefiados por livres e as relações familiares e de subordinação
estabelecidas entre os seus habitantes e o chefe. Ademais, caracterizamos a
estrutura da população escrava por sexo, idade, origem africana e crioula no
decorrer da primeira metade do século XIX a fim de realizarmos um exercício de
caráter metodológico, comparando as informações coletadas em inventários post-mortem
no período 1811-1850 e os dados censitários referidos a um momento específico
(1836). Demonstramos que os dados provenientes das duas fontes citadas, ainda
que com recortes temporais distintos apresentaram tendências semelhantes quanto
à estrutura demográfica dos cativos.
ENGEMANN,
Carlos. Catando as migalhas da mesa do Barão: reflexões acerca das
estratégias administrativas e seu impacto na comunidade escrava - o caso do
Barão de Santa Justa (Rio de Janeiro, 1873- 1884). Esta comunicação também foi apresentada no Seminário Internacional
O século XIX e as novas fronteiras da
escravidão e da liberdade. (Cf. acima).
RESUMO. Este trabalho investiga características desenvolvidas pela comunidade
formada pelos escravos pertencentes ao barão de Santa Justa. Baseado em
informações do inventário do barão e por registros do livro de batismos de
escravos da Freguesia de São Pedro e São Paulo, foram exploradas
possibilidades na análise de compreensão da dinâmica escravista desenvolvida
pelo barão em suas propriedades. O cruzamento das informações contidas em
duas fontes diferentes, inventário e livro de batismos, proporcionou o traçado
de uma ampla rede de conexões sociais.
FRANCO
NETTO, Fernando. A mão-de-obra escrava e livre como fator de produção no
Paraná provincial.
RESUMO. A presente pesquisa trata de avaliar a formação da sociedade
paranaense durante o período final do século XVIII e boa parte do século XIX.
A estrutura econômica e social estava alicerçada primeiramente na atividade da
mineração que com o tempo cedeu espaço para as atividades da pecuária e da
lavoura de alimentos, bem como a extração de erva-mate. Sua ocupação é
resultado do dinamismo das regiões mais desenvolvidas da colônia, e a
atividade da mineração foi predominante para implementar os primeiros núcleos
urbanos na região. A procura por metais, como o ouro e a prata, é fator
fundamental para a criação de núcleos populacionais na região. A fronteira
extensa proporcionou ao império brasileiro preocupações quanto á defesa
territorial e à expansão econômica da região. Com a decadência das
atividades de mineração, criam-se as condições para que uma importante
parcela da população se voltasse para os Campos Gerais por satisfazerem suas
necessidades de sobrevivência. Surge, então, a atividade da pecuária, cuja
expansão absorve esta camada da população envolvida no trabalho da
mineração. Com essas condições, a mão-de-obra livre e escrava tiveram
papéis fundamentais na formação da sociedade do Paraná, estruturando e
consolidando o mercado interno e dando o suporte para o desenvolvimento da
região.
FREIRE,
Jonis. "Relação dos Habitantes do Districto de Santo Antonio do Juiz de
Fóra ...": as Listas Nominativas de 1831 e algumas características de sua
população.
RESUMO. O presente trabalho tem como objetivo traçar algumas características
das populações livre e cativa do Distrito de Santo Antonio do Juiz de Fora
(atual Juiz de Fora), situado na Zona da Mata Mineira, tendo como fonte
principal as Listas Nominativas de 1831/32. A partir das variáveis apresentadas
nesta fonte, procuramos tecer considerações acerca dos fogos/domicílios, bem
como dos indivíduos (livres/escravos/libertos). Apesar de apresentar dados
sobre população do Distrito em um momento específico, a análise das Listas
permitiu conhecer aspectos da formação do local, dos chefes de domicílio,
seus escravos e agregados. O estudo de determinadas variáveis demográficas
possibilitou perceber que a localidade, que veio a se constituir como a maior
produtora de café e possuidora de cativos das Minas Gerais, esteve fortemente
ancorada em uma população escravizada e de origem africana.
MAIA,
Moacir Rodrigo de Castro. A propriedade escravista e o pequeno comércio no
termo de Vila do Carmo (Minas Gerais, 1720-1723).
RESUMO. O objetivo desse estudo é analisar a população do primeiro núcleo
urbano mineiro, tendo como enfoque a propriedade escravista da Leal Vila de
Nossa Senhora do Carmo nos primeiros anos da década de 1720. Analisaremos a
"Relação dos escravos e vendas que se acham nesta Leal Vila de Nossa
Senhora do Carmo e seus arredores" de 1723. Essa relevante documentação
serviu, no passado, para arrecadar dos proprietários escravistas, dos homens e
mulheres libertos e dos donos de vendas e lojas os Reais Quintos. O nosso estudo
pretende inventariar os senhores e discutir a distribuição mancípia pelas
propriedades escravistas e investigar o número significativo de vendas e lojas
estabelecidas. Pelos dados demográficos e principalmente da estrutura da posse
escravista iremos comparar as informações existentes para as demais vilas,
acentuando as proximidades entre os núcleos urbanos mineiros nesta fase de
consolidação dos povoados.
MANDARINO,
Thiago Marques. Vida através da morte: os atestados de óbito dos homens
"de cor" de Rio Claro.
RESUMO. Através dos atestados de óbito dos homens "de cor" de Rio
Claro este trabalho analisa dados de ocupação, condição social, sexo, faixa
etária, causa mortis, estado conjugal/civil e local de moradia para a
cidade de Rio Claro considerando dois períodos distintos, 1875-1888 e
1888-1930. O material empírico utilizado permite tecer comparações das
condições de vida e de trabalho dos homens "de cor" de Rio Claro
desde a aprovação da Lei do Ventre Livre até o período posterior à
abolição definitiva da escravidão.
ABSTRACT. Through the death certificates of Rio Claro´s "colored men"
this work analyzes the data of occupation, social condition, sex, age, cause of
deaths, civil status and place of abode in the city of Rio Claro whereas two
distinct periods, 1875-1888 and 1888-1930. The empirical material utilized
permits make comparisons of living and working conditions of "colored
men" in Rio Claro since the adoption of the Rio Branco Law until the period
subsequent to the final abolition of slavery.
MOURA
FILHO, Heitor Pinto de. Pesos e medidas no Brasil Oitocentista.
RESUMO. Este texto faz rápido exame das práticas da legislação sobre pesos e
medidas no Brasil durante o século XIX. Trata-se de tema relativamente
esquecido pela historiografia econômica, apesar de terem convivido no país,
com amplos períodos de superposição, pelo menos quatro grandes padrões
metrológicos: os múltiplos sistemas regionais portugueses, vigentes durante o
período colonial; dois sistemas ingleses sucessivos; um sistema legal
brasileiro aprovado em 1836; e, a partir do último quartel do século, o
sistema métrico. Conclui listando as poucas certezas e muitas dúvidas
existentes, e propondo uma periodização tentativa com relação aos contextos
metrológicos.
ABSTRACT. This text proposes a rapid exam of practices and legislation on
weights and measures in Brazil during the XIXth century. This is a theme to
which economic historiography has few contributions, though at least four main
metrological systems were to be found in the country, with large periods of
superposition: the multiple regional Portuguese systems, used during the
colonial period; two successive English systems; a legal Brazilian system,
approved in 1836; and, after the last quarter of the XIXth century, the metric
system. It closes listing the few certainties and the many doubts remaining, and
proposes a tentative periodization relative to metrological contexts.
REIS,
Déborah Oliveira Martins dos. Economia e demografia nas vizinhanças da capital
de São Paulo (Atibaia, 1799-1829).
RESUMO. Nossa atenção recai no processo de ocupação agrícola e no evolver
demo-econômico da localidade paulista de Atibaia, umas das localidades a compor
o cinturão agrícola no entorno da capital de São Paulo. Privilegiamos o tema
da agricultura de subsistência, tendo em vista que essa produção foi
impulsionada e orientada com vistas ao auto-consumo e ao abastecimento de outros
mercados, gerando considerável grau de mercantilização. São observados, em
especial, aspectos relativos à posse de cativos, propriedade de terras,
atividades produtivas e produção, no período de 1799 a 1829. Para tal,
apoiamo-nos em fontes documentais primárias constituídas, mormente, pelas
listas nominativas de habitantes e pelo inventário de bens rústicos.
SARAIVA,
Luiz Fernando & ALMICO, Rita de Cássia da Silva. Demografia escrava e
produção econômica na Zona da Mata mineira: 1831 - 1888.
RESUMO. A Zona da Mata mineira constitui-se ao longo do dezenove na região mais
dinâmica dentro da complexa economia das Minas Gerais. A expansão da
cafeicultura pela região irá consolidar uma estrutura agrária e social
marcada pelo predomínio da grande unidade produtiva e pela presença expressiva
dos escravos ligados a este setor. O trabalho apresentado busca acompanhar esta
expansão relacionando a importância que a escravidão teve na dinâmica das
fazendas, na composição das fortunas e na própria construção de uma
identidade possível para a região.
TEIXEIRA,
Paulo Eduardo & MARCONDES, Renato Leite. População e agricultura na
passagem da colônia para o império: um estudo comparado de três localidades
paulistas (Campinas, Lorena e Mogi das Cruzes, 1774-1829).
RESUMO. A agricultura paulista apresentou uma significativa expansão durante o
final do século XVIII e início do XIX. Analisamos três localidades
representativas da expansão agrícola nesse momento: Campinas, Lorena e Mogi
das Cruzes, respectivamente. Realizamos este estudo num plano mais geral da
demografia e agricultura dessas áreas, baseado nas suas listas nominativas de
habitantes. Por fim, verificamos um padrão de desenvolvimento campineiro em
maior intensidade do que Lorena e Mogi das Cruzes, tanto em termos do
crescimento e da posse dos cativos como em relação ao valor total da
produção agrícola, decorrente de características específicas dos locais e
do desenvolvimento dos produtos em questão.
ABSTRACT. The agriculture from São Paulo has presented a significant expansion
during the end of the century XVIII and beginning of the XIX. We analyzed tree
representative places of the agriculture expansion on that moment: Campinas,
Lorena and Mogi das Cruzes, respectively. We accomplished this study in a more
general plan of the demography and the agriculture of these tree areas, based on
their nominative lists of inhabitants. Finally, we verified a pattern of
development campineiro in larger intensity than the Lorena and Mogi das Cruzes,
so much in growth terms and the ownership of the slaves as in relation to the
total value of the agricultural production, resulting from the specific
characteristics of the places and of the development of the products in subject.
VALENCIA
VILLA, Carlos Eduardo. El cálculo de la composición de la dieta de los
esclavos: elementos para comparar Virginia y Rio de Janeiro en 1860.
RESUMEN. Este texto es una introducción a la comparación de las dietas de los
esclavos de Virginia y Río de Janeiro en la década de 1860. Para llevar a cabo
esta comparación empleamos modelaje matemático, por tanto comienza con la
exposición de los métodos y resultados alcanzados por algunas de las
investigaciones más influyentes de la historiografía cuantitativa
norteamericana que se ocupan del problema de la nutrición esclava, así como
algunos de los debates en que se envolvieron estos historiadores. Después,
presentamos un estudio sobre la dieta esclava en Virginia que utilizó como
herramienta la programación lineal y algunas de las críticas que se le
efectuaron. A seguir, desarrollamos el modelo para calcular la dieta de los
esclavos de Río de Janeiro. Por último, discutimos algunos de los elementos
que se prestan para comparación entre las dos regiones.
TRABALHOS PARA OS QUAIS NÃO DISPOMOS DE RESUMOS
HALL,
Michael. Imigrantes na Cidade de São Paulo. In: PORTA, Paula (org.). História
da cidade de São Paulo, v. 3: a cidade na primeira metade do Século XX.
São Paulo, Paz e Terra, 2004, capítulo 4, p. 121-151.
MACHADO, Maria Helena P. T. Sendo cativo nas ruas: a escravidão urbana na cidade de São Paulo. In: PORTA, Paula (org.). História da cidade de São Paulo, v. 2: a cidade no Império, 1823-1889. São Paulo, Paz e Terra, 2004, capítulo 2, p. 57-97.
MAMIGONIAN, Beatriz G. In the Name of Freedom: Slave Trade Abolition, the Law and the Brazilian Branch of the African Emigration Scheme (Brazil-British West Indies, 1830s-1850s). Slavery & Abolition, v. 30, p. 41-66, 2009.
MAMIGONIAN, Beatriz G. Conflicts over the meanings of freedom: The liberated Africans' struggle for emancipation in Brazil (1840s-1860s). In: Rosemary Brana-Shute; Randy J. Sparks. (Org.). Paths to Freedom: Manumission in the Atlantic World. Columbia, South Carolina: University of South Carolina Press, 2009, p. 235-264.
MAMIGONIAN,
Beatriz G. A harsh and gloomy fate: liberated Africans in the service of the
Brazilian state, 1830s 1860s. In: Dawne Y. Curry; Eric D. Duke; Marshanda Smith.
(Org.). Extending the Diaspora: New
Scholarship on the History of Black Peoples. Champaign, IL: University of
Illinois Press, 2009, p. 24-45.
E-mail da autora: beatrizm@cfh.ufsc.br
MARCILIO, Maria Luiza. A população paulistana ao longo dos 450 anos da cidade. In: PORTA, Paula (org.). História da cidade de São Paulo, v. 1: a cidade colonial. São Paulo, Paz e Terra, 2004, capítulo 7, p. 245-269.
LUNA, Francisco Vidal & COSTA, Iraci del Nero da & KLEIN, Herbert S. et alii. Escravismo em São Paulo e Minas Gerais. São Paulo, EDUSP/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2009, 624 p.
APRESENTAÇÃO. No último quartel do século XX a história do Brasil conheceu enriquecimento dos mais expressivos. Como sabemos, tal desenvolvimento não decorreu da mera incorporação de novos temas ou abordagens, mas, sobretudo, da introdução destes novos elementos num quadro de revisão das interpretações historiográficas preexistentes, de sorte a dar-se uma efetiva superação de nossos conhecimentos sobre a evolução da sociedade brasileira. Superação esta que ocorreu, pois, no âmbito de avanços articulados e integrados nos planos teórico, metodológico e empírico. Não se trata ainda, diga-se desde logo, do estabelecimento de uma nova perspectiva global, de um novo "paradigma"; não obstante, estamos a vivenciar um processo harmônico e organicamente estruturado do qual, certamente, resultará uma visão original e mais rica de nossa formação histórica, a qual, certamente, mostrar-se-á capaz de qualificar e enriquecer interpretações clássicas tais como as propostas por Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Júnior e Celso Furtado. A participar da emergência da visão aqui aventada encontram-se os artigos reunidos nesta coletânea; representam eles o contributo de dois pioneiros do grupo de pesquisadores da faculdade de economia da Universidade de São Paulo que se votou ao estudo de nossa história demográfica e econômica e ao qual se deve algumas centenas de trabalhos originais. Organizar uma seleta de tais estudos parece oportuno por propiciar a reunião de publicações esparsas, algumas estampadas há tempos, e por permitir que as novas gerações de pesquisadores efetuem de maneira rápida um balanço de alguns dos elementos relevantes das obras dos integrantes desse núcleo de estudos econômicos e populacionais. Cumpre consignar, por fim, que os autores e co-autores aqui apresentados são muito poucos em face de toda uma geração à qual se deve atribuir as perspectivas renovadoras acima apontadas. Ademais, seus estudos e achados, embora muito significativos, compõem, tão-somente, uma parte dos elementos inovadores que irrigaram, nos últimos lustros, os campos da demografia histórica e da história socioeconômica do Brasil. De outra parte, por mais modesta que se queira a contribuição trazida pelos trabalhos ora estampados, seu conhecimento parece-nos imprescindível aos pesquisadores e estudantes interessados em inteirar-se das mudanças e avanços havidos na compreensão de nossa formação econômica, social e demográfica.
ROCHA,
Solange Pereira. Gente negra na Paraíba Oitocentista: população, família e
parentesco espiritual. São Paulo, Editora UNESP, 2009, 331 p.
RESUMO. Nas últimas décadas, o campo dos estudos históricos sobre a
escravidão ampliou-se de forma significativa, de maneira que variadas e
complexas experiências históricas da escravidão têm sido recuperadas pela
historiografia. Neste contexto, o presente estudo trata do universo de parte da
gente negra da província da Paraíba, notadamente de mulheres e homens
escravizados e não-escravizados, examinando o batismo e as relações parentais
estabelecidas no decorrer do século XIX, com o objetivo de compreender como as
pessoas negras -- escravizadas e livres -- (re)organizaram suas vidas
familiares, observando as diferentes conjunturas econômicas dos Oitocentos, que
resultaram na diminuição da população cativa e no aumento dos "pretos
livres", assim como em suas estratégias para o estabelecimento de
vínculos parentais. Enfoca ainda a questão fundiária, mostrando como o
fenômeno da apropriação da terra levou a uma conjuntura marcada por enormes
propriedades agrárias. Nesse universo, a escravidão, principalmente no
Nordeste, onde as mudanças políticas foram mais lentas, silenciou uma massa de
trabalhadores agrícolas, criando a ilusão da ausência do preconceito entre as
classes sociais, principalmente em relação aos negros. Lembremos, por fim,
resultar este livro, que recebeu o Prêmio ANPUH-Tese, de uma tese defendida no
Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Pernambuco.
SILVA,
Maria Beatriz Nizza da (organizadora). História de São Paulo Colonial. São
Paulo, Editora da UNESP, 2009, 346 p.
RESUMO. Esta obra aborda aspectos da história da Capitania de São Paulo, abrangendo
seus primórdios, quando se chamava Capitania de São Vicente e pertencia a
donatários; o período mais complexo em que, depois de se denominar Capitania
de São Paulo e das Minas de Ouro, perdeu grande parte de seu território e
passou a estar subordinada ao governo do Rio de Janeiro; e finalmente o período
da restauração de sua autonomia até ser agitada pelo movimento
constitucional. Pesquisou-se ainda a demografia na capitania, o universo da
posse da terra e de escravos, o casamento entre eles e os não-escravos e as
formas de transgressão denunciadas e sentenciadas no tribunal diocesano.
Encerram o livro reflexões sobre o processo de independência do Brasil e a
cultura política desse momento complexo da história nacional e paulista.
PADRÓN
FAVRE, Oscar. Ocaso de un pueblo indio: historia del éxodo guaraní -
misionero al Uruguay. Durazno (Uruguay), Tierradentro Ediciones, 2a.
edición, 2009, 286 p.
RESUMEN. El autor analiza el éxodo hacia el Estado Oriental, en 1828, de varios
miles de indígenas guaraníes-misioneros, acontecimiento que determinó el
cierre del ciclo histórico de las Misiones Orientales. El estudio de la
peripecia histórica vivida por esos miles de indígenas misioneros durante
muchos años, permite al autor analizar varias de sus características y el
legado dejado a la formación socio-cultural del Uruguay.
Revistas
do século XIX estão na internet
O
Arquivo Público do Estado de São Paulo disponibilizou recentemente na internet
a versão integral de 29 títulos de revistas produzidas no final do século XIX
e início do XX. Ao todo, são 192 exemplares, que podem ser consultados
gratuitamente pelo site . A publicação mais antiga é a "Revista da
Academia de São Paulo", de 1859, que traz artigos sobre educação,
direito civis, literatura e poesias.
http://www.arquivoestado.sp.gov.br/revistas
Gonçalves, Cleber Baptista. Casa da Moeda do Brasil. Rio de Janeiro, Ed. Casa da Moeda do Brasil, 2a. edição revista, ampliada e atualizada, 1989, 937 p.
RESUMO. Dado a público pela primeira vez em 1984, no âmbito das comemorações dos 290 anos da instituição, o livro Casa da Moeda do Brasil foi revisto, ampliado e atualizado na segunda edição, cujo lançamento ocorreu em 1989. As modificações introduzidas na edição mais recente decorreram basicamente da inclusão de informes sobre filatelia, heráldica e numismática. A obra, organizada por Cleber Baptista Gonçalves, traz um amplo conjunto de estudos, apresentados em ordem cronológica, que tratam desde o aparecimento da moeda no Mundo até a atuação da Casa da Moeda do Brasil na década de 80 do século XX. Ao historiador, às voltas com uma crônica escassez de estudos sobre o meio circulante durante as primeiras centúrias de nossa colonização, são particularmente interessantes os minuciosos relatos sobre a instalação das casas de fundição e da moeda. Igualmente interessante é a relação dos diplomas legais acerca do meio circulante baixados pelas autoridades monetárias entre 1538 e 1988. A presença de alguns vícios comuns a obras oficiais comemorativas de efemérides não ofusca as qualidades da obra como importante fonte bibliográfica, constituindo também preciosa fonte de pesquisa e de consulta de fontes primárias, várias delas reproduzidas na íntegra.
PESQUISADOR DA ÁREA DE HISTÓRIA DEMOGRÁFICA:
Dr.
Mario Consens
Instituição a que se vincula: CIARU
Rambla Rca. de Chile 4471/302
CP 11400
Montevideo
URUGUAY
yacarecururu@gmail.com
No ROL -- Relação de Trabalhos Publicados na Área de História Demográfica --, além da referência bibliográfica completa de todos os trabalhos divulgados nos distintos números do BHD, são apresentadas, sempre que possível, resenhas ou resumos de tais obras. Trata-se, pois, de um arquivo com um vasto repertório de livros, artigos, teses, dissertações e demais estudos relativos ao nosso campo de especialização.