.

     

 

 

Ano XVII, no. 60, abril de 2010

               

 

SUMÁRIO

                           

                                

Apresentação

Artigos

Resumos

Notícia Bibliográfica 

Publicações Recebidas

 Estatísticas Retrospectivas

Relação de Trabalhos Publicados

             

                                                        

 

                                          

 

                                

                                    Para Oswaldo Frota-Pessoa,

                                                      in memoriam.

                                                       

                            

                             

                   

                           

                          

                        

                            

                          

                           

                                  

                             

                               

                            

                              

                             

                                  

                                          

                                              

Iraci del Nero da Costa. Ciclo de vida e posse de escravos: algumas relações entre cortes transversais e estudos longitudinais.
RESUMO. Tanto no exterior como no Brasil vários autores já empreenderam estudos visando à verificação empírica da hipótese do ciclo de vida aplicada à propriedade de cativos. Essas pesquisas evidenciaram a comprovação de tal hipótese tanto para dados tomados num mesmo momento do tempo (corte transversal ou em cross section), como em série de tempo, vale dizer, com base no acompanhamento longitudinal de uma ou mais coortes de proprietários de escravos. Sempre tendo em conta o caso da hipótese do ciclo de vida pensada em termos do número de escravos possuídos propomos neste artigo, divulgado originalmente como apostila em 1997, um procedimento baseado no tratamento de dados tomados em distintos momentos do tempo (em cross section, portanto) e capaz de conduzir-nos a informações estatísticas grosseiramente aproximadas das que redundariam do almejado, porém por vezes inexeqüível, levantamento longitudinal, o qual, como sabido, exige o acompanhamento de todos os integrantes de um mesmo grupo de escravistas no correr de todo o lapso temporal sob análise. Para ler o texto completo .

                              

                                   

Hermes Ferreira da Silva Filho & Ana Maria Leal Almeida. Os caminhos da instrução pública em Maricá na primeira metade do século XIX.
RESUMO. A primeira metade do século XIX assiste a passagem do Brasil da condição de Colônia portuguesa para a de Império. O aumento da população e a ocupação de uma terra de tão grandes dimensões implicava, dentre vários aspectos necessários, a instalação de um projeto de políticas de instrução pública. Enquanto na Colônia e a partir de 1822, no Império, travavam-se lutas para implantação de políticas de expansão e povoamento, no Estado do Rio de Janeiro o cenário não era outro, neste contexto, interessa-nos analisar os projetos e políticas de instrução pública e como as localidades afastadas da Corte, e, neste caso a Vila de Maricá, beneficiavam-se destes projetos e se dava o desenvolvimento da educação e da instrução.
ABSTRACT. The first half of the nineteenth century witness the passage of the condition of Portuguese colony for the Empire. The increase of the population and occupation of a land so large meant, among several issues necessary, in the installation of a draft policy for public education. While in Cologne and from 1822, in Empire, hangs up fighting for deployment of policies of expansion and settlement in the state of Rio de Janeiro the scenario is not another in this context, interested in examining the projects and policies of public instruction and the remote locations of the Court, and in this case the Village of Maricá benefit from these projects and if have given the development of education and instruction. Para ler o texto completo .

 

 

                              

                                            

       

                                           

                                             

                           

                                                

                             

                 

    

                                                            

                    

BORGES, Isabel Cristina Medeiros Mattos. Cidades de Portas Fechadas: a intolerância contra os ciganos na organização urbana na Primeira República. Juiz de Fora, Universidade Federal de Juiz de Fora, Dissertação de Mestrado, 2007, 128 p.
RESUMO. O presente estudo parte de uma retrospectiva histórica sobre os principais e diferentes momentos que caracterizam a trajetória dos ciganos no Brasil, marcada predominantemente por intolerância e perseguições. Faz-se um recorte mais específico sobre as questões envolvendo esses grupos no contexto da cidade de Juiz de Fora, em Minas Gerais, nas últimas décadas do século XIX e início do XX, levanto em conta as tensões e conflitos próprios ao panorama de transição para o capitalismo no Brasil. Este período foi marcado pela tentativa de assimilação dos valores "modernos" inspirados pela realidade européia, o que se expressava mediante a implantação de uma nova disciplina do trabalho, assim como de políticas públicas voltadas para a higienização e organização dos centros urbanos. Os ciganos eram considerados um obstáculo à implementação desse projeto modernizante, gerando reações tanto por parte das autoridades como da população, fator que contribuiu tanto para agravar o processo de isolamento destes ao longo das décadas, como para a concretização de uma perceptível invisibilidade política, econômica, social e cultural dos ciganos no Brasil.

                             

BREDA, Daniel Oliveira. Vicus Judaeorum: os judeus e o espaço urbano no Recife neerlandês (1630-1654). Natal, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Dissertação de Mestrado, 2007, 250 p.
RESUMO. Este trabalho aborda a participação da comunidade judaica na expansão urbana do Recife durante o período neerlandês (1630-1654). Com a chegada dos flamengos, a vila de Olinda, antiga capital de Pernambuco, foi arrasada e o Recife recebeu o estatuto jurídico de cidade, tornando-se capital do Brasil Neerlandês, ou Nova Holanda. O Recife tornou-se o principal entreposto da Companhia das Índias Ocidentais no Atlântico Sul, servindo de base naval de escala para embarcações, além de ponto de escoamento da produção açucareira pernambucana, e de importação de mercadorias européias e escravos africanos. Para que fossem executadas funções administrativas, militares e econômicas, o istmo arenoso onde fica o Recife, e a ilha fluvial de Antônio Vaz, receberam beneficiamentos de diversas naturezas. A tecnologia hidráulica neerlandesa foi posta em prática, trazendo uma postura de oposição entre civilização e natureza. Entre as obras militares e de produção de equipamentos urbanos, aterraram-se margens de rios, construíram-se canais, ergueram-se pontes, levantaram-se centenas de edifícios. A população neerlandesa civil do Recife engajou-se neste processo de produção de espaço físico, que trazia um senso de ação coletiva para formação da comunidade citadina, ou burguesa. Do espaço físico ao social, houve um esforço para o estabelecimento de padrões culturais neerlandeses no ambiente urbano. A comunidade judaica Zur Israel, formada por civis particulares, isto é, não empregados da WIC, engajou-se nestes processos. Produziu espaço físico mediante aterros e beneficiamento de áreas pouco salubres e também foi responsável pela construção de boa parte dos edifícios da cidade e de alguns equipamentos urbanos, como lojas, mercados e senzalas, catalisando sua atuação econômica. Mas seu trânsito na sociedade deu-se com base no processo de perfilamento do comportamento de seus membros aos padrões de sociabilidade neerlandeses. Assim, o corpo comunitário fazia-se parte do corpo social. Dispondo de auto-regulamentação interna, produziu espaços imbricados de suas referências culturais - cemitério, sinagoga, textos - desfrutando de benefícios por parte do governo. A Zur Israel inscreveu-se na história universal dos judeus como a primeira comunidade do continente Americano, que veio a ter um papel fundamental na emancipação dos judeus no âmbito da sociedade ocidental.

                          

CAMARGO, Luís Soares de. Viver e morrer em São Paulo: a vida, as doenças e a morte na cidade do século XIX. São Paulo, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Tese de Doutorado, 2007, 552 p. (mimeografado).
RESUMO. O presente estudo tem como objetivo a análise das relações que se construíram na sociedade paulistana do século XIX tendo em vista a presença constante das doenças e da morte. Fonte de tensões e de arranjos, rica em elaborações que se forjaram no intuito de elucidá-la, a morte será tratada enquanto parte de uma intrincada rede social vivenciada numa cidade em constante transformação. Anotada a sua maior incidência entre crianças, mulheres, pobres e escravos, coube investigar as possíveis razões para isso, bem como utilizar as quantificações apuradas como base para a elaboração de tabelas que permitiram estabelecer a expectativa de vida dos paulistanos em meados do século XIX. Estas, por sua vez, não estarão aqui inseridas apenas enquanto demonstração senão, também, como fonte para outras análises. A morte, portanto, torna-se o objeto de uma história complexa, por vezes ambígua, até porque, como constatamos, ela é uma das várias etapas de um processo que, iniciado através do contato com a doença, não se esgota com o fim da vida, posto que resta ainda um corpo, daí por diante também transformado em fonte de conflitos e apropriações diversas. Numa interface com a cidade, com seus problemas e costumes, essas complexas relações somente se tornam inteligíveis e passíveis de serem desvendadas quando consideradas no bojo de uma sociedade hierarquizada, submetida a diversas esferas de poder e com elas interagindo. Nesse sentido, a doença e a morte estarão aqui sendo consideradas enquanto fenômenos sociais, objetos passíveis de reflexão histórica, até porque elas não ocorreram apartadas do seu tempo, do seu espaço ou dos indivíduos que as vivenciaram. 

                                        

CONSTANTE, Armando de Melo Servo. Nas fímbrias da riqueza: o comércio de escravos numa economia de Abastecimento - SantAnna de Mogi das Cruzes (1864-1889). São Paulo, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Dissertação de Mestrado, 2006.
RESUMO. Esta pesquisa trata do comércio de escravos numa economia de abastecimento na segunda metade do século XIX. O propósito é compreender o comportamento de tal mercado numa época em que a demanda por escravos se dava na produção de café. Primeiro vê-se como se constituía esta economia de abastecimento de SantAnna de Mogy das Cruzes, na produção e transporte das mercadorias vendidas para outras cidades e regiões, e o quanto o trabalho escravo era empregado em tal empresa. Posteriormente, a partir da leituras de três Livros de compras e vendas de escravos e de inventários e testamentos, ficou evidente que as trocas de mão-de-obra escrava serviam para atender à produção local, havendo apenas um negociante que, ao que indicam as fontes, comerciava escravos com outras praças. Ao tratar do comércio de escravos surgiu a questão do tráfico internacional, que pôde ser notado pela presença africana na cidade. A demografia escrava na região fora composta primeiro por escravos africanos e depois pela formação de famílias crioulas. É destas famílias que saíam grande parte dos escravos comerciados na região. Tal quadro mostra a existência de um mercado interno de mão-de-obra escrava.

                                                                    

CUNHA, Maísa Faleiros da. Fogos e escravos da Franca do Imperador no século XIX. Campinas, UNICAMP, Dissertação de Mestrado, 2005.
RESUMO. Esta dissertação estuda a população de um município do norte paulista (Franca), que se caracteriza por apresentar uma economia dinâmica voltada para o mercado interno, em um momento de expansão da agricultura de exportação em terras da Província de São Paulo (século XIX). De um modo especial, busca ampliar o conhecimento da população no período, centrando a atenção sobre os domicílios e seus chefes (com e sem escravos), a população livre e, sobretudo, a escravaria existente no município naquele momento. Utiliza como fontes básicas, a Lista Nominativa de Habitantes de 1835-1836, o Recenseamento Geral do Império de 1872 e os registros paroquiais (batismo, casamento e óbito de escravos), no período de 1806-1888.
                                         

CUNHA, Maísa Faleiros da. Demografia e família escrava: Franca, SP, Século XIX. Campinas, UNICAMP, Tese de Doutorado, 2009.
RESUMO. O presente trabalho tem como objeto de análise a demografia e a família escrava no município de Franca-SP no decorrer do século XIX. Esse município caracterizou-se por uma economia baseada na atividade criatória (de gado vacum e suíno) e na produção de gêneros de subsistência destinados ao consumo local e ao comércio interno. A elaboração deste trabalho foi norteada pelo desafio de considerar a população escrava a partir do conceito de regime demográfico restrito. Para tanto, as principais fontes documentais utilizadas foram: a Lista Nominativa de Habitantes de 1836, o Recenseamento Geral do Império de 1872, os inventários post-mortem (1811-1888) e os registros paroquiais de batismo, casamento e óbito (1806-1888). Dessa forma, apresentamos o contexto espacial e histórico do município de Franca-SP, onde a população escrava vivenciou os eventos vitais e estabeleceu relações sociais. Traçamos a evolução populacional e, de modo especial, caracterizamos a economia que se desenvolveu no período; focalizamos aspectos da demografia escrava e seus condicionantes. Refinando a análise através do cruzamento nominativo de fontes, resgatamos trajetórias demográficas e familiares de um segmento da população escrava pertencente a um grupo específico de senhores. Esse percurso permitiu evidenciar, ainda que em níveis de intensidade diferenciados, os mecanismos de controle demográfico (nupcialidade, fecundidade, mortalidade e manumissão), os arranjos familiares e as amplas relações e instituições sociais que marcaram o regime demográfico restrito da população escrava na localidade. 

                                                                   

DE'CARLI, Caetano. A família escrava no sertão pernambucano (1850-1888). Brasília, Universidade de Brasília, Dissertação de Mestrado, 2007.
RESUMO. O autor projetou a família escrava sertaneja, tendo como perspectiva a teoria antropológica do parentesco. Buscou-se, para esses fins, a análise quantitativa e qualitativa nos inventários, livros de casamento, livros de memórias, relatos de viajantes e levantamentos populacionais. O Sertão Pernambucano desenvolveu, na segunda metade do século XIX, um sistema escravista que se abastecia via reprodução escrava. A ocorrência de famílias escravas, pelo menos em sua estrutura mais básica (mãe e filhos), foi freqüente e natural nessa região. As escravas, por desempenharem uma maior quantidade de atividades que exigiam mais habilidade do que esforço, em comparação às atividades comumente desempenhadas pelos escravos, acabavam conseguindo, na maioria dos casos, agregar mais vantagens ao seu campo doméstico no seu papel de mãe-esposa, do que os homens cativos no seu papel de pai-marido. A escrava? no seu status de mãe? tendia a ser usualmente a líder de fato do seu campo doméstico, e inversamente, o escravo no seu papel de pai-marido (se presente) tendia a ser marginalizado na complexa rede de relações internas do grupo.

                            

DINIZ, Maria Emília Cambraia Guimaro. Fecundidade e genética em Kalunga : busca de associação entre dados demográficos e marcadores moleculares num remanescente de quilombo brasileiro. Brasília, Universidade de Brasília, 2008, mimeografado.
RESUMO. Kalunga é um dos remanescentes de quilombo mais importante histórica e numericamente da região Centro-Oeste brasileira. Localiza-se na zona rural do nordeste do estado de Goiás e sua população é formada por descendentes de escravos que se organizam atualmente em subcomunidades por todo o seu território, sem a presença de isolamento geográfico entre elas. O presente trabalho tem por objetivo descrever os aspectos reprodutivos das mulheres kalungas e avaliar a possível influência de marcadores gen éticos (Haptoglobina, Catalase, HLA-G 14pb e HLA-G G*0105N) sobre esses resultados. Kalunga apresenta uma estrutura populacional semelhante às demais áreas rurais do Brasil com o predomínio de indivíduos jovens, porém sua relação homem/mulher está semelhante a de áreas urbanas (0,88). A taxa de fecundidade de 5,51 é quase duas vezes a calculada para o Brasil. A maioria das mulheres tem o primeiro filho antes dos 21 anos e diversas gestações ultrapassam os 40 anos de idade materna, sendo o intervalo entre as gestações cerca de de 32 meses. As idades de menarca e menopausa estão dentro do previsto para outras regiões. Apenas 10% das mulheres utilizam qualquer tipo de método contraceptivo e aproximadamente 43% da população passou pelo processo de laqueadura. As freqüências gênicas e genotípicas de todos os marcadores analisados encontram-se dentro do descrito pela literatura, com a ressalva de que G*0105N possui freqüência mais elevada em populações afro-derivadas. Apenas a haptoglobina não se apresentou em Equilíbrio de Hardy- Weinberg (p=0,002) e indicou diferenciação genética entre as populações com e sem aborto (p=0,003) e mulheres com mais e menos de cinco filhos (p=0,044). A população Kalunga possui características bem peculiares ora assemelhando-se a populações urbanas e ora a populações rurais. Quando analisado de forma geral, este quilombo possui uma estrutura muito semelhante aos demais remanescentes de quilombos descritos na literatura, assim como à população rural brasileira. O aspecto significante das análises com os marcadores genéticos foi sugerir uma possível associação dos polimorfismos da haptoglobina com a ocorrência de abortos e o número de gestações. 

                                       

FALEIROS, Rogério Naques. Homens do café: relações de trabalho em Franca/SP 1890-1920. Disponível em: http://www.abphe.org.br/congresso2003/Textos/Abphe_2003_70.pdf 
RESUMO. Este artigo tem por objetivo analisar as relações de trabalho estabelecidas entre fazendeiros e colonos em Franca entre 1880 e 1920. Utilizamos como fonte os contratos de trabalho envolvendo café, extraídos dos Livros Cartoriais. Percebemos que a partir da crise de superprodução ocorrida entre 1898-1906 as relações de colonato foram substituídas pelas relações de parceira. Do ponto de vista dos fazendeiros a transformação das relações de trabalho visava diminuir as perdas monetárias em um contexto de baixos preços; já os colonos encontraram neste período a possibilidade de atuar no mercado, comercializando a produção cafeeira que lhes cabia.
                              

FALEIROS, Rogério Naques. Homens do café: Franca, 1880-1920. Campinas, UNICAMP, Dissertação de Mestrado, 2002. Disponível em:
http://libdigi.unicamp.br/document/?code=vtls000287600 
Também publicado como Homens do café: Franca, 1880-1920. Holos Editora, 2008, 160 p.
                                                   

                                                   

PREFÁCIO.
    Homens do Café: Franca, 1880-1920 resulta de pesquisa desenvolvida no Instituto de Economia da Unicamp por Rogério Naques Faleiros entre 2000 e 2002, período em que cursou o programa de Pós-Graduação em História Econômica em nível de mestrado.
    O aparecimento da versão publicada pela Holos, Editora (com o apoio da FAPESP) cumpre papel significativo de apresentação do texto ao público e o alargamento do debate que ele suscita no campo da História Econômica, uma vez que o objeto em estudo, a metodologia empregada e os critérios eleitos pelo autor revelam notável esforço de pesquisa e originalidade no que concerne ao tratamento de fontes cartoriais ainda escassamente exploradas pela historiografia do complexo cafeeiro.
    Ao valer-se dessas fontes, o autor lidou com escrituras de contratos de formação e trato de cafeeiros lavradas no município de Franca, que emergia como centro produtor de café no contexto do alargamento da fronteira do cultivo daquela planta.
    O presente trabalho revela detalhes e especificidades da cafeicultura da chamada "Alta-Mogiana". Ao abordar as escolhas de atores envolvidos com a atividade econômica principal, ele evidencia arranjos entretecidos nos diversos níveis e circuitos pelos quais a acumulação de capitais se efetivava e nos quais os homens do café se caracterizaram enquanto protagonistas de uma determinada formação econômica, sócio-cultural e, no limite, política.
    O trabalho cobre um período em que a cafeicultura descreveu trajetórias de expansão, de crise e de retomada. Nesse período, ocorreu a transição do trabalho escravo para o trabalho livre, intensificando a importância do papel desempenhado pelo crédito no financiamento e na manutenção das unidades produtoras, de modo a garantir a sobrevida da atividade nuclear. A compreensão desse encadeamento é indispensável para o entendimento da modernização ocorrida na região e, para além dela, o estreitamento de sua ligação com o mercado interno e externo.
    Assim, o trabalho ilumina o conjunto da atividade cafeeira numa abordagem localizada, porém seus nexos causais assumem uma perspectiva muito mais ampla, ou seja, a perspectiva de um capitalismo específico, que cumpriu seu desiderato em uma dinâmica agrícola e exportadora que emoldurou e estabeleceu limites e possibilidades à urbanização, à industrialização e ao desenvolvimento experimentado pelo centro sul brasileiro.
    Na medida em que o trabalho permite ao leitor um aprofundamento no entendimento dos condicionantes obtidos pelo estudo da cafeicultura em Franca, ele descortina situações que atuaram como reforço e como variações no âmbito das relações de trabalho estabelecidas entre fazendeiros e trabalhadores rurais na produção e na distribuição da renda gerada.
    O estudo evidencia os mecanismos de extração de excedente que permitiam a continuidade da atividade em momentos distintos, ora como região nova, ora como região velha, transitando do colonato para a simples parceria, de acordo com a idade das lavouras. A sobrevida da cafeicultura esteve diretamente ligada às relações de trabalho aqui capturadas por meio da investigação e análise dos registros cartoriais.
    Não menos importante é o esforço do autor em delimitar o papel desempenhado pela agricultura de alimentos vis a vis a agricultura de exportação, descortinando entre elas seus respectivos instrumentos de exploração num encadeamento que representou a sobrevivência do trabalhador e, ao mesmo tempo, as formas de comercialização do excedente concentradas pelos proprietários contratantes em seus mais diferentes graus de apropriação.
    A agricultura de Franca se apresentava simultaneamente como produtora de cafés finos de exportação e como produtora de gêneros agrícolas para o mercado interno de alimentos. Cláusulas que regiam a forma de plantio e comercialização de milho, arroz e feijão estavam presentes nas escrituras lavradas em cartório e foram analisadas com acuidade pelo autor de modo a permitir o justo entendimento de um erro muito comum em algumas interpretações, de que os colonos seriam livres para comercializar tanto a parcela do café que lhes cabia, quanto os gêneros alimentícios por eles produzidos.
    O texto permite pensar que uma sociedade extremamente hierarquizada sustentava mecanismos de extração de excedente em função da posição e do papel desempenhado pelos contratantes no âmbito da produção e da comercialização e, ainda, definia as condições de acesso ao lucro e ao crédito, impondo obstáculos à mobilidade social.
    Situações particulares de atores específicos garimpados exaustivamente nas demais fontes consultadas aparecem no texto não apenas como recurso expositivo do autor, mas revelam, sobretudo, a oportunidade desses exemplos em função das escolhas teóricas e metodológicas que o objeto analisado exigiu no decurso da pesquisa. Esse confronto documental não se fez por mero recurso expositivo para fazer com que a leitura fosse agradável, mas evidencia o compromisso do autor com a obtenção de aproximações as mais fidedignas possíveis. (Prefácio escrito por Pedro Geraldo Tosi FHDSS/ Unesp - Franca).
                                       

FALEIROS, Rogério Naques. Dando as costas ao Mediterrâneo: a imigração de europeus e as formas de trabalho nas lavouras de café do interior de São Paulo entre 1880 e 1920.
RESUMO. O Brasil é uma terra de imigrantes. Em diferentes momentos de sua formação econômica o "triste trópico" recebeu africanos, asiáticos e europeus que compunham grande parte da força de trabalho alocada nas lavouras de cana-de-açúcar, nos engenhos, na mineração, nas lavouras de café e nas cidades. Ocupar-nos-emos aqui do fluxo de imigrantes que se direcionou para São Paulo entre 1880 e 1920 em virtude do desenvolvimento acelerado da cafeicultura no interior paulista e da correspondente falta de braços para a lavoura já que, numa área econômica na qual os fatores produtivos são constituídos exclusivamente pela terra e pelo trabalho, é inevitável que o crescimento da produção seja acompanhado pelo cada vez mais premente problema da mão-de-obra. No contexto de crise e desagregação do escravismo no final do século XIX a importação de mão-de-obra européia, sobretudo de trabalhadores italianos, espanhóis e portugueses, foi tida pela elite cafeeira paulista como a melhor maneira de viabilizar o negócio do café e dar continuidade ao processo de acumulação de capitais. Do ponto de vista da oferta de trabalho a Europa Meridional mostrou-se à época uma região de grande importância para o abastecimento do fluxo mundial de mão-de-obra. Tanto a emigração espanhola quanto a italiana foram derivaram de uma única e exclusiva causa: a miséria. No caso italiano o processo de modernização no campo (a conhecida revolução agrícola) teve como principal conseqüência a concentração da terra e inúmeros camponeses perderam suas terras restando apenas a opção de atravessar o Atlântico. Segundo Ângelo Trento entre 1875 e 1881 61.831 pequenas propriedades deixaram de existir e entre 1886 e 1900 215.759 foram incorporadas pela grande indústria agrícola que doravante se estabelecia na Itália, sobretudo na porção setentrional, região mais avançada no processo de modernização. Aliada à questão estrutural da disseminação de relações capitalistas de produção no campo italiano soma-se a depressão agrícola dos anos de 1880, conjuntura desfavorável que provocou uma crise na disponibilidade de alimentos que reforçou a crise. Sem propriedade, sem trabalho e sem comida as condições essenciais para a emigração estavam colocadas. A grande motivação para a emigração espanhola para o Novo Mundo no final do século XIX e início do século XX é tributária de um dado conjuntural importante que foi a crise que se estendeu na produção vinícola de 1880 a 1910 motivada pela "filoxera", praga que em período anterior atingira também as vinícolas francesas. Esta crise desestabilizou a conformação da pequena propriedade na Andaluzia oriental (Almeria, Málaga, Granada e Cádiz) sendo o motivo da ruína de uma considerável massa de camponeses e da correlata emigração para outras regiões do mundo e da própria Andaluzia. Na porção ocidental (Sevilha, Córdoba, Jerez de la Frontera) a "filoxera" foi vencida mais rapidamente e já na década de 1890 foi superada. Deve-se essa rápida superação ao fato de os latifúndios prevalecerem nessa porção andaluz, o que significa uma maior possibilidade de captação de recursos direcionados ao combate da praga. As vinhas marginais e oriundas dos minifúndios próprios da Andaluzia oriental foram as mais afetadas, sendo justamente os proprietários de outrora os principais componentes das fileiras da emigração. Os processos de emigração-imigração nas províncias andaluzes apareceram diretamente ligados à estrutura da propriedade agrária dominante, em absoluto grau nas pequenas propriedades e em volume muito menor nas regiões de latifúndios. A explicação dos motivos da emigração italiana e espanhola faz-se necessário para diagnosticarmos que ambos possuíam, em sua grande maioria, uma experiência como proprietários e a mentalidade que se forjou em torno desta condição também emigrou para o Brasil e se relacionou com as condições de trabalho existentes no país. Nosso objetivo é compreender as condições de trabalho destes imigrantes nas lavouras de café do interior paulista. Elegemos como lócus de observação o município de Franca, no extremo nordeste do estado de São Paulo, região tributária da Estrada de Ferro Mogiana e que conheceu o ápice da cafeicultura no período em questão. Pesquisamos 271 escrituras de contratos de trabalho envolvendo o plantio e o trato de café a partir dos quais obtivemos informações referentes às formas de plantio, condições de remuneração do trabalho, nacionalidade dos colonos, formas de acesso à terra e as possibilidades de ascensão social dos imigrantes-colonos à condição de proprietários. Percebemos que as "parcerias" e o "colonato", formas de trabalho híbridas que fundiam relações de produção capitalistas e pré-capitalistas, foram dominantes no período de nossas preocupações e a partir destas os imigrantes alocados na produção de café obtinham a posse provisória de um "talhão" a partir do qual tinham uma participação proporcional na produção dos cafeeiros, detinham os direitos sobre a produção das lavouras de alimentos plantadas entre as fileiras do café e recorrentemente uma remuneração em dinheiro em conseqüência dos trabalhos eventuais elaborados nas épocas de colheitas e nos reparos da estrutura das fazendas. Pesquisamos também os Livros de Registros de Imigrantes, buscando conhecer a nacionalidade e os períodos de entrada dos imigrantes no país e em Franca. Percebemos que os italianos compunham 42% dos imigrantes registrados na região, seguidos pelos espanhóis (37%), portugueses (9%), sírio-libaneses (7%), japoneses (2%) e imigrantes de outras nacionalidades (3%). Reescrevendo trajetórias de vida no interior paulista os imigrantes europeus deram as costas ao Mediterrâneo com o sonho de "fazer a América".
                                   

FALEIROS, Rogério Naques. Fronteiras do café : fazendeiros e "colonos" no interior paulista (1917-1937). Campinas, UNICAMP, Tese de Doutorado, 2007. Disponível em: http://libdigi.unicamp.br/document/?code=vtls000427876 
RESUMO. Objetivamos estudar as relações de trabalho estabelecidas nas lavouras de café entre fazendeiros e trabalhadores rurais (genericamente chamados de colonos) entre 1917 e 1937, período no qual, em função da intervenção governamental no mercado cafeeiro e da existência de uma legislação altamente vulnerável no que se referia à apropriação de terras em grande escala nas zonas novas, se verificou um rápido processo de expansão da fronteira agrícola no estado de São Paulo, Brasil. Utilizamos como principal fonte documental 2.047 escrituras de contratos de formação e trato de cafezais lavradas nos cartórios dos municípios de Campinas, Rio Claro, Ribeirão Preto, Franca, São Carlos, Araraquara, Botucatu, São Manuel, Jaú, Novo Horizonte, São José do Rio Preto, Catanduva, Lins e Pirajuí. Nossas considerações finais indicam para o fato de que a remuneração pelo trabalho estava diretamente ligada ao estágio de desenvolvimento da cafeicultura em cada um dos municípios selecionados, sendo os contratos mais atraentes para a mão-de-obra alocada nas zonas novas, notadamente por conta do acesso mais amplo às culturas intercalares. Em todos os casos pesquisados fora recorrente o estabelecimento de relações de trabalho amplamente marcadas pela desigualdade.

                                                                                   

FLAUSINO, Camila Carolina. Negócios da escravidão: tráfico interno de escravos em Mariana, 1850-1886. Juiz de Fora, Universidade Federal de Juiz de Fora, Dissertação de Mestrado, 2006, 203 p.
RESUMO. A prática do tráfico interno de escravos foi intensificada a partir da proibição do tráfico Atlântico, em 1850, e perdurou até às vésperas da abolição como uma das alternativas à reposição de mão-de-obra cativa. Muitos estudos têm-se dedicado ao tema no Brasil mas privilegiando as regiões de plantation do século XIX, principalmente São Paulo e Rio de Janeiro, em detrimento das regiões voltadas para o abastecimento do mercado interno. Nesse sentido, este trabalho tem por objetivo investigar o tráfico interno de escravos em Mariana, sede e freguesias, na segunda metade do século XIX. São identificados o perfil do escravo negociado bem como o destino dado a esses cativos a fim de se verificar se eles estavam sendo mantidos em Mariana ou transferidos para outras áreas de Minas ou para outras províncias. Para tanto a autora utiliza, principalmente, os registros de compra e venda de escravos depositados no Arquivo Histórico da Casa Setecentista de Mariana e concernentes ao período 1850-1886. 

                                      

FRANCISCO, Raquel Pereira. Laços de senzala, arranjos da Flor de maio: relações familiares e de parentesco entre a população escrava e liberta - Juiz de Fora (1870-1900). Niterói, Universidade Federal Fluminense, Dissertação de Mestrado, 2007, 225 p.
RESUMO. A autora analisa as relações familiares e de parentesco entre a população escrava e a liberta do município cafeicultor de Juiz de Fora, localizado na Zona da Mara de Minas Gerais, para o período 1870-1900. Mediante a análise de assentos de batismos (nascimentos) e matrimônios, processos de tutelas de menores afrodescendentes, inventários post-mortem, testamentos e jornais buscou-se examinar as estratégias forjadas pelos escravos para ampliarem suas redes de sociabilidade e de solidariedade com base em alianças matrimoniais e nas relações de compadrio, instituídas por meio do batismo cristão, com indivíduos de mesma posição social ou distinta e as lutas que travaram para terem seus laços de família reconhecidos pela sociedade e para mantê-los quando da conquista da liberdade. Para o pós-abolição, procurou-se analisar, com base na utilização dos mesmos tipos de fontes consultadas para o período escravista, a importância dada pelos libertos a seus arranjos familiares e de parentesco, ao reconhecerem os filhos que haviam tido nos tempos do cativeiro, as lutas que travaram para reunirem seus entes, e para que seus vínculos familiares fossem reconhecidos e respeitados pela sociedade inclusiva. 

                                 

GARAVAZO, Juliana. Riqueza e escravidão no nordeste paulista: Batatais, 1851-1887. São Paulo, FFLCH da USP, Dissertação de Mestrado, 2006, 286 p.
RESUMO. A autora estuda a economia e a demografia da escravidão na cidade de Batatais (SP) no correr da segunda metade do século XIX. A pesquisa teve como fonte principal os inventários post-mortem datados de 1851 a 1887 e utilizou, de forma complementar, as escrituras de transações envolvendo escravos, registradas na localidade entre 1861 e 1887, e a Lista de Qualificação de Votantes, de 1874. De início, avançou-se a análise do evolver demográfico e econômico do Sertão do Rio Pardo, e, mas especificamente, de Batatais, durante os séculos XVIII e XIX. Em seguida procedeu-se ao exame das formas, distribuição e dinâmica dos recursos possuídos pelos batataenses em uma economia essencialmente pecuarista e agricultora de subsistência, que assistiu, nas últimas décadas do século XIX, ao avanço da cultura cafeeira e à substituição do trabalho compulsório pelo livre. Outrossim, com o auxílio das fontes secundárias, realizou-se uma análise demográfica e de estrutura de posse do contingente escravo ali residente, examinando as principais características dos cativos e dos senhores batataenses, além de acompanhar o impacto exercido pelas modificações ocorridas no sistema escravista brasileiro. Por fim, ocupou-se do exame das relações familiares estabelecidas entre os cativos e ingênuos inventariados e comercializados, delineando seu perfil e investigando sua estabilidade frente à partilha dos bens inventariados.

                                              

GIOVANINI, Rafael Rangel. Regiões em movimento: um olhar sobre a geografia histórica do Sul de Minas e da Zona da Mata Mineira. Belo Horizonte, UFMG, Dissertação de Mestrado, 2006, 204 p.
RESUMO. Desde o tempo dos relatos de viagem, Minas Gerais atraiu o interesse de vários pesquisadores. Sua história e economia são repletas de fatores que, de certa forma, a particularizam dentro do contexto dos demais estados brasileiros: como exemplos dessa realidade, podemos lembrar de sua ocupação inicial precocemente urbana, ao contrário do restante do então Brasil colônia. Entre os diversos temas que contribuem para a elucidação do mosaico mineiro, o estudo do século XIX tem atraído especial interesse, dada a sua importância para a formação do espaço econômico mineiro nos dias atuais. Parte importante dessa história se dá sobre os terrenos do Sul de Minas e da Zona da Mata. A opção por esses espaços decorre de sua importância no contexto da Minas Gerais do período, em que respondiam pela maior parte da arrecadação estadual e por grande parte da população. As interpretações e análises utilizadas baseiam-se no enfoque geo-histórico. Trata-se do estudo das Geografias do passado, ou seja, da análise e interpretação da organização espacial das sociedades do passado. Outro traço marcante dessa abordagem é a inclusão de variáveis relativas à relação entre o meio natural e o homem, através do uso de trabalhos da Geografia Física. O período tratado vai de 1808 a 1897, e a regionalização utilizada é uma adaptação das Regiões de Planejamento elaboradas pela Secretaria de Estado do Planejamento e Coordenação Geral (SEPLAN). 

                                            

HALL, Gwendolyn Midlo. Africa and Africans in the African Diaspora: The Uses of Relational Databases. American Historical Review, American Historical Association, vol. 115, n. 1, February 2010.

RESUMO. A autora, além de discutir a questão das fontes concernentes à entrada de cativos originários da África nas Américas, trata do problema afeto à transferência da África para a América do cultivo do arroz e as técnicas associadas ao tratamento de tal cereal.

                           

HALL, Gwendolyn Midlo. Africans in Colonial Louisiana: The Development of Afro-Creole Culture in the Eighteenth Century. Louisiana State University Press, 1992.

                                   

HALL, Gwendolyn Midlo. Slavery and African Ethnicities in the Americas: Restoring the Links. University of North Carolina Press, 2005.
                                          

HALL, Gwendolyn Midlo. Social Control in Slave Plantation Societies: A Comparison of St. Domingue and Cuba. Johns Hopkins University Press, 1971. 

                                                                                    

KÜFFER, Claudio F. & TEIXEIRA, Paulo Eduardo & COLANTONIO, Sonia E. Hogares, familias, género y jefaturas de hogar en dos poblaciones latinoamericanas (Punilla, Córdoba, Argentina; Campinas, São Paulo, Brasil) a fines del siglo XVIII. Revista Digital Estudios Historicos. Uruguai, Centro de Documentación Historica del Rio de la Plata - Prof. Dr. Walter Rela, edición n. 3, deciembre de 2009, (disponível em: http://www.estudioshistoricos.org/edicion_3/kuffer-teixeira-colantonio.pdf ).
RESUMEN. El distrito de Punilla se encontraba en la Gobernación Intendencia de Córdoba, en el Virreinato del Río de La Plata. De características predominantemente serranas, el ganado mular era su principal producto de exportación y, en cuanto a la movilidad intraprovincial tendía a ser expulsora estacional de población. Campinas, ubicada, a unos 100 km al oeste de la ciudad de São Paulo, Brasil, pertenecía a la Capitanía del mismo nombre. Región muy fértil, atrajo a partir del siglo XVIII, principalmente cuando el precio del azúcar en el mercado internacional subió, a señores del ingenio azucarero y numerosa mano de obra para las plantaciones. Ambas regiones fueron censadas a fines del siglo XVIII: Punilla en 1795 y Campinas en 1794. El objetivo de este trabajo fue comparar ambas poblaciones respecto de los hogares, familias, jefaturas de hogar y género. Se analizaron: representatividad y tamaño por tipo de agregado doméstico, número de hijos, población dependiente, y características del jefe (género, edad, etnia). Se concluyó que predominaron las concordancias sobre las diferencias entre las poblaciones. Especialmente representativo fue el predominio de agregados nucleares, que reflejó la importancia de la familia conyugal como célula reproductora de ambas sociedades.

                            

KÜHN, Fábio. Gente da Fronteira: família, sociedade e poder no sul da América Portuguesa - século XVIII. Niterói, Universidade Federal Fluminense, Tese de Doutorado, 2006, 479 p.
RESUMO. Essa investigação evidencia as estratégias familiares, políticas e de afirmação social da elite local residente no sul da América portuguesa ao longo do século XVIII, em particular na vila de Laguna e na região dos Campos de Viamão. O funcionamento desta sociedade foi pensado a partir das estratégias familiares e das redes de sociabilidades que lhe conferiram sentido. Assim, o autor desenvolveu uma perspectiva que permitiu reconhecer a importância do parentesco para as estratégias de reprodução das elites locais. 

                                  

LARA, Silvia Hunold. Fragmentos setecentistas: escravidão, cultura e poder na América portuguesa. São Paulo, Companhia das Letras, 2007, 456 p.
APRESENTAÇÃO. A autora - assim como outros historiadores - estuda as experiências de homens e mulheres que foram trazidos da África como escravos. O modo como o tema foi recortado e os caminhos percorridos por sua análise permitem uma compreensão renovada de relações entre poder, escravidão e cultura no Brasil. A leitura de seu livro, originalmente tese de livre-docência, revela o processo de produção social de significados para palavras como negro, preto, pardo e mulato e os efeitos desestabilizadores causados, naquela sociedade, pela liberdade daqueles que não eram brancos.

                                         

LOIOLA, Maria Lemke. Trajetórias atlânticas: percursos para a liberdade: africanos descendentes na Capitania dos Guayazes. FCHF da Universidade Federal de Goiás, Dissertação de Mestrado, 2007, 146 p.
RESUMO. A história da escravidão no Brasil tem trazido novos significados à atuação dos escravizados. Esses estudos os apresentam como sujeitos ativos ma sociedade e alertam para a relevância de incorporar o continente africano na análise. Nessa perspectiva, esta dissertação apresenta os africanos e seus descendentes desde as trajetórias africanas até os percursos do fazer-se livre na Capitania de Goiás, durante o século XVIII. O enfoque valeu-se do conceito de escala como operador de complexidade e noções da micro-história na construção de uma abordagem historiográfica da trama indissociável social, cultural, econômica e política, com base no cruzamento de diversas fontes documentais, as quais permitiram emergir campos de análises relacionados, aparentemente desconexos. Assim, buscou-se evidenciar os significados da atribuição colonial (cor, procedência e grau de liberdade) dos escravizados, e sua estreita correlação com a condição social que, apesar de limitar a mobilidade, não os impedia de empregar refinadas estratégias políticas para se libertarem. Entre as contribuições da pesquisa destaca-se: a correlação das rotas do tráfico atlântico e a prevalência da nação mina no período mineratório e posteriormente angola, com a expansão da agropecuária; redução brusca do batismo de filhos de mulheres forras e crescimento da natalidade entre escravizadas; manutenção da população escrava; mudança no padrão demográfico ao final do século XVIII e início do XIX, predominando forros (libertos), cuja maioria era composta por mulheres e pardos; bem como ao término dos setecentos uma efervescência de idéias e disputas políticas entre conservadores e ilustrados, os quais produziram uma sociedade mais permeável que muitos escravizados souberam utilizar no percurso para a libertação. 

                                           

MALAVOTA, Claudia Mortari. Os africanos de uma vila portuária do sul do Brasil: criando vínculos parentais e reinventando identidades. Desterro, 1788/1850. Porto Alegre, PUC do Rio Grande do Sul, Tese de Doutorado, 2007, 218 p.
RESUMO. Esta tese tem como objetivo a pontuação, a valorização e a análise dos vínculos parentais (consaguinidade e compadrio) estabelecidos por escravos e libertos de procedência africana, portanto sujeitos de diferentes categorias sociais e origens étnicas, no contexto de uma vila portuária do Sul do Brasil: Nossa Senhora do Desterro, localizada na Ilha de Santa Catarina. A análise da criação desses vínculos parentais tem como objetivo evidenciar e compreender os processos de reinvenção das identidades desses sujeitos históricos no contexto da diáspora. Os marcos cronológicos da pesquisa referem-se a períodos muito pouco estudados da história catarinense nesta perspectiva de abordagem e compreendem o final do século XVIII e primeira metade do XIX e, portanto, visa a contribuir com o preenchimento de uma imensa lacuna da sua história. Partiu-se do princípio de que os estabelecimentos de vínculos parentais constituem, num contexto escravista, u'a maneira de criar esperanças, de possibilitar a sobrevivência e de reinventar as identidades. Os africanos, ao criarem suas famílias e as suas relações de compadrio, conferiam sentido às suas vidas e marcaram de forma significativa o espaço social da vila. 

                                       

MAUPEOU, Emanuele Carvalheira de. Cativeiro e cotidiano num ambiente rural: o Sertão do Médio São Francisco - Pernambuco (1840-1888). Recife, Universidade Federal de Pernambuco, Dissertação de Mestrado, 2008, 145 p.
RESUMO. O autor discute as relações escravistas no cotidiano do Sertão, entre 1840 e 1888, com base em uma pesquisa documental realizada nos municípios pernambucanos que compõem a região do médio São Francisco. A segunda metade do século XIX destaca-se por ser um momento único da crise final do sistema escravista no Brasil. Tal contexto constitui um quadro de particular interesse na medida em que se procura compreender a manutenção da escravidão no Sertão, que, por si só, já passava por uma crise interna. Baseando-se em dois tipos de fonte, que correspondem a documentos cartoriais e eclesiásticos de vários municípios da região, além de publicações impressas de moradores e viajantes, o ângulo de visão escolhido para compreender esse intricado momento foi o das relações construídas entre escravos, senhores e livres pobres da região. A crise e a pobreza levaram a u'a maior aproximação entre os indivíduos de diferentes origens sociais e jurídicas. Todavia, a proximidade vivida incitava os descendentes dos antigos colonos a buscar alternativas que os identificassem enquanto elite e que os diferenciassem da massa de escravos e de trabalhadores livres pobres. Assim, numa conjuntura desfavorável, os senhores do Sertão utilizaram estratégias que permitissem, ao mesmo tempo, a transferência da mão-de-obra servil a outras regiões do país e a manutenção da escravidão no cotidiano local. Essas estratégias passavam pela adoção de práticas como a do co-senhorio, da produção endógena de cativos e inclusão de indígenas, miscigenados e confundidos com descendentes de africanos, entre os escravos. Aproximado no convívio cotidiano, o conjunto da população, já fortemente miscigenada, acabava interligado por uma rede de dependência. Assim, a dinâmica social vigente inseria todos os indivíduos nesta teia que unia os moradores por laços de parentesco, de compadrio e de solidariedade, mas também de poder e dependência. O lugar destinado a cada um nessa rede relacional dependia muito do que o indivíduo tinha a oferecer ao grupo. Sendo o escravo praticamente desprovido de bens de valor monetário, restavam-lhe os elementos de ordem simbólica que também eram valorizados nesta teia, tais como o parentesco e o compadrio, a capacidade de trabalhar, a fidelidade e a religiosidade. Dentro desta dinâmica, os indivíduos escravos agiam sempre em busca de melhores condições de vida; todavia, tendo menos a oferecer, eles acabavam sempre como as partes mais vulneráveis das relações construídas com os demais indivíduos. Por isto, as consequências da pobreza eram sempre mais acentuadas nessa parcela da população, inserida numa sociedade como um todo mergulhada na fragilidade.
                                         

MENDONÇA, Pollyanna Gouveia. Sacrílegas Famílias: conjugalidades clericais no bispado do Maranhão no século XVIII. Niterói, Universidade Federal Fluminense, Dissertação de Mestrado, 2007, 168 p.
RESUMO. A autora analisa as relações familiares formadas por padres no bispado do Maranhão no século XVIII. Os processos da Justiça Eclesiástica que fundamentam este estudo permitem perceber, para além da simples transgressão, a existência de relações familiares, de verdadeiras conjugalidades vividas por sacerdotes. Na encruzilhada entre o modelo de comportamento que deveriam seguir e o "mau exemplo" que davam, a experiência amorosa e familiar de alguns clérigos do Maranhão permitem aquilatar o peso dos discursos moralizadores e a dificuldade enfrentada pela Igreja tridentina ao tentar dissociar esses sacerdotes do mundo e dos valores da sociedade cirdundante. 

                                

PINHEIRO, Fernanda Aparecida Domingos. Confrades do Rosário: sociabilidade e identidade étnica em Mariana. Niterói, Universidade Federal Fluminense, Dissertação de Mestrado, 2006, 206 p.
RESUMO. A autora visa a compreender a organização social de um grupo encontrado em um núcleo urbano das Minas setecentistas e reunido no interior de uma associação fraternal, nele seus representantes destacaram igual procedência, a chamada "Terra de Courá". De fato, tais personagens foram apreendidas mediante a análise do perfil dos confrades e da composição hierárquica da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos pretos de Mariana. A fundação e a estruturação dessa confraria também foi enfatizada, sendo assim detalhado o demorado processo de construção e ornamentação de sua imponente Capela, iniciado em 1752 e concluído em 1826. Da investigação de tal instituição religiosa criada por africanos passa-se ao estudo minucioso das vivências de alguns de seus membros - os "couranos". Entre estes destacaram-se exímios oficiais e integrantes da corte festiva do Rosário. 

 

SANTOS, Lucimar Felisberto dos. Cor, identidade e mobilidade social: crioulos e africanos no Rio de Janeiro (1870-1888). Niterói, Universidade Federal Fluminense, Dissertação de Mestrado, 2006, 132 p.
RESUMO. Este trabalho visa a investigar as estratégias de africanos e crioulos, no perímetro urbano do Rio de Janeiro, nas duas últimas décadas que antecederam a abolição da escravidão, tendo em vista projetos de ascensão social. Com base no resgate de algumas trajetórias de escravos, libertos e livres pretende-se perceber os sentidos e os significados da mobilidade social para este grupo em particular, e como a sociedade, em geral, teria influído de maneira positiva ou negativa neste projeto. Considerando a condição escrava de uma grande parcela deste grupo, deu-se prioridade às estratégias pensadas para a conquista da alforria e as formas como elas se entrelaçavam às expectativas de uma sociedade que tentava se adaptar às mudanças socioeconômicas do período. 

                                      

SANTOS, Maria Emília Vasconcelos dos. "Moças honestas" ou "meninas perdidas": um estudo sobre a honra e os usos da justiça pelas mulheres pobres em Pernambuco imperial (1860-1888). Recife, Universidade Federal de Pernambuco, Dissertação de Mestrado, 2007, 159 p.
RESUMO. A autora discute o cotidiano, os usos da justiça e a honra para as jovens pobres vítimas de crimes sexuais e seus familiares na Província de Pernambuco, entre as décadas de 1860 e 1880. Esse período corresponde à crise do escravismo que também marcou as vivências cotidianas dos pobres livres. Para tanto, o trabalho de pesquisa documental nos processos-crimes de rapto, estupro e defloramento, a fonte principal deste estudo, bem como outros elementos: jornais, ofícios policiais e literatura, possibilitaram a investigação dos modos de vida, dos relacionamentos amorosos, dos laços familiares e dos momentos de intimidade dos segmentos populares. Destacou-se a questão do acesso à justiça por parte da população pobre. Buscou-se, ainda, discutir os arranjos domiciliares e as relações familiares. Foi possível refletir sobre a noção de honra como um elemento de diferenciação social e como uma característica a ser passada para as gerações sucessivas como um patrimônio o qual poderia utilizar-se como um bem pelos descendentes. 

 

SCHERER, Jovani de Souza. Experiências de busca da liberdade: alforria e comunidade africana em Rio Grande. São Leopoldo (RS), UNISSINOS, Dissertação de Mestrado, 2008, 194 p.
RESUMO. O autor deste trabalho investiga as experiências de busca de liberdade empreendidas por escravos e libertos no município de Rio Grande, no extremo sul do Império brasileiro, durante o século XIX. Uma atenção especial é dada às alforrias neste intento, evidenciando-se os principais grupos que alcançavam manumissões, nomeadamente mulheres e africanos. A população alforriada é sempre vista em comparação àquela registrada nas listas de cativos dos inventários post-mortem. Assim se procede para verificar a capacidade de mulheres, mas principalmente de africanos, em libertarem-se do cativeiro com referência aos seus pesos relativos no total da população escrava. Verificou-se que as cativas sempre receberam um maior número de alforrias que os cativos, contudo, durante a Guerra dos Farrapos, elas chegaram aos maiores patamares, aproveitando-se do momento de crise econômica que se abateu sobre a província. Os africanos receberam uma atenção especial. Em Rio Grande, os nascidos na África tiveram êxito expressivo em se libertar da escravidão. Na configuração deste quadro foi fundamental a ação em comunidade dos africanos ocidentais. Minas e nagôs constituíam parte substancial da população africana da cidade portuária sulina, reorganizaram suas vidas em torno do parentesco de nação, alcançando a hegemonia do mercado da liberdade entre os africanos, mediante a compra de suas alforrias. Uma combinação entre diferentes escalas de observação foi utilizada em todo o texto. Por um lado, são analisados censos, mapas populacionais, séries de inventários e cartas de alforria. Por outro, processos criminais e testamentos, que revelam a experiência cotidiana das personagens que lutaram por sua liberdade na sociedade escravista brasileira ao longo do século XIX. 

                 

SILVEIRA, Alessandra da Silva. Sacopema, Capoeiras e Nazareth. Estudos sobre a formação da família escrava em engenhos do Rio de Janeiro do século XVIII. Campinas, UNICAMP, Dissertação de Mestrado, 1997, 228 p.
RESUMO. A família escrava tem constituído objeto de análise de vários estudos desenvolvidos nos últimos lustros. Quase todas as abordagens concernentes ao tema dedicaram-se a estudar uma freguesia inteira ou uma área de grande abrangência. Nesta dissertação a autora centrou-se em dois estudos de caso sobre áreas circunscritas a duas fazendas do Rio de Janeiro, nos séculos XVIII e parte do XIX. Trata-se dos engenhos de Sacopema e Capoeiras pertencentes a Dona Ana Maria de Jesus e a seu marido João Pereira de Lemos, localizados nas freguesias de Nossa Senhora da Apresentação de Irajá e Nossa Senhora do Desterro de Campo Grande, respectivamente; e do Engenho de Nazareth, pertencente a Bento Luís de Oliveira Braca, também localizado em Irajá. 

                                                                             

TAPAJÓS, Verônica Maria Nascimento. As cartas de alforria da Cidade do Rio de Janeiro: diversidades e peculiaridades nas relações de poder senhorial nas primeiras décadas do século XIX. Rio de Janeiro, UERJ, Dissertação de Mestrado, 2009, 131 p.
RESUMO. A presente dissertação tem como objetivo descrever, discutir e comparar as cartas de alforria identificando as peculiaridades e diversidades deste instrumento na relação de poder senhorial. As alforrias emergem como uma espécie de acordo, no âmbito do qual, o senhor, em determinado momento, julga conveniente conceder liberdade a determinado escravo. Um acordo se estabelece entre duas partes, logo, destacamos a participação ativa dos escravos no processo. Embora fosse exigido obediência e submissão, eles souberam, dentro das limitações que o sistema impunha, negociar com seus senhores, conquistando a liberdade na forma da lei. A carta de alforria concedia a liberdade jurídica aos escravos. Era a liberdade legitimada pela sociedade, a mesma que legitimava o sistema escravista. A carta de alforria contém informações tanto do alforriador como do alforriado. Assim, ao levantarmos os motivos que justificavam a libertação foi possível iluminar a complexa trama que marcou as relações entre senhores e escravos.

                                                                           

VASCONCELLOS, Marcia Cristina Roma de. Famílias escravas em Angra dos Reis, 1801-1888. São Paulo, FFLCH-USP, Tese de Doutorado, 2006, mimeografado.
RESUMO. Em Angra dos Reis, a população local, na primeira metade do século XIX, dedicava-se ao autoconsumo e ao mercado interno. Desenvolveram-se o comércio e os transportes, pois seus portos foram um dos principais meios de escoamento do café do vale do Paraíba fluminense e paulista, dinamizando a vida econômica. Entretanto, ao longo da segunda metade do Oitocentos, instalou-se, gradativamente, um quadro de transformações econômicas e demográficas, resultante do término do tráfico de escravos e da diminuição do movimento portuário em função da chegada da estrada de Ferro D. Pedro II ao vale. Diante desse panorama, analisamos as características e o grau de estabilidade das famílias escravas, entre 1801 e 1888, e de que forma foram atingidos na segunda metade do século XIX. Tais reflexões tiveram como parâmetro os dois núcleos básicos familiares: os formados pelo casal sem ou com filhos e aqueles constituídos por mães solteiras e filhos. As fontes principais utilizadas foram os inventários post-mortem e os registros de batismo e de casamento. Avaliamos, também, temas como, o matrimônio, a maternidade, o intercurso sexual, as famílias extensas, as famílias fraternas e o compadrio. Realizamos um mapeamento econômico, verificando o evolver da estrutura de posse de escravos e os tipos de produções encetados; bem como o perfil demográfico da população livre e cativa. Para isso, manuseamos documentos como, o Jornal do Commércio, o Almanak Laemmert, os recenseamentos de 1840, 1850 e de 1856, o Censo Nacional de 1872 e os relatos de viajantes e cronistas. Portanto, com o presente estudo, desejamos contribuir para a produção do conhecimento sobre a escravidão e o litoral sul-fluminense, trazendo à tona a história das famílias cativas. 

                             

VENDRAME, Maíra Ines. "Lá éramos servos, aqui somos senhores": a organização dos imigrantes italianos na ex-colônia Silveira Martins (1877-1914). Porto Alegre, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande Do Sul, Dissertação de Mestrado, 2007, 236 p.
RESUMO. Organizar uma sociedade de acordo com seus anseios e expectativas era o objetivo dos imigrantes italianos que passaram a chegar à região central do Rio Grande do Sul, a partir de 1877, formando a Colônia Silveira Martins. Quando da instalação nas comunidades coloniais, uma das primeiras metas era a edificação de uma capela, e logo após a busca por um padre residente. Mais do que significar uma profunda fé dos colonos, a capela, o sacerdote e o cumprimento dos sacramentos eram elementos que organizariam o cotidiano das pessoas, marcando as etapas de suas vidas, possibilitando também que o povoado se desenvolvesse. Na concepção dos imigrantes, esse desenvolvimento só seria alcançado se os povoados desfrutassem de total independência, cuidando da sua própria administração, longe do controle de forças externas. Para realizar tais intentos, os colonos - com destaque para os comerciantes - não se furtaram em confrontar com sacerdotes, autoridades municipais e provinciais e até contra as leis do país. Os documentos analisados nesta pesquisa - cartas, ofícios, relatórios, abaixo-assinados, memórias, manuscritos e processos-crime, entre 1877 e 1914 - atestam este momento inicial de estruturação da região da Colônia Silveira Martins. Neste período, constatou-se que longe de serem passivos, os imigrantes reagiram quando viram seus interesses ameaçados; a ordem foi substituída por movimentos de contestação, e tais circunstâncias conflituosas tiveram por motivo o propósito maior de organizar uma sociedade livre e autônoma.                

                             

VIEIRA, Maria das Graças Araujo. O Estranho e o Primo: casamentos consanguíneos no sertão do Vale do Piancó (PB). Universidade Federal de Pernambuco, 2006, mimeografado.
RESUMO. Este estudo contextualiza a questão da Endogamia baseada em Consamentos Consangüíneos como opção preferencial de uma determinada família do município de Conceição do Vale do Piancó, sertão do Estado da Paraíba, como um estudo de caso. Enfatiza a complexidade do estudo desse costume transcendendo das questões estruturais e do sistema de organização de parentesco, do estudo da estrutura da família em si mesma, fazendo uso da história, da demografia histórica e da genealogia, documentos e registros cartoriais e paroquiais, como método de pesquisa para compreensão da sua lógica e como entendimento e parâmetro do que se apresenta como real, contrapondo-se ao imaginário, na análise e interpretação das narrativas e das estórias, da oral e da escrita não oficial, tiradas a partir da perspectiva dos entrevistados. Em conclusão, tornou-se evidente a existência de vários tipos de preconceito, para alimentar a idéia central de uma possível pureza de sangue do grupo que, com identidade e representatividade social, vai se fortalecer politicamente.

                                    

VIEIRA FILHO, Raphael Rodrigues. Os negros em Jacobina (Bahia) no século XIX. São Paulo, PUC de São Paulo, Tese de Doutorado, 2006, 240 p.
RESUMO. O autor tem como objeto as populações negras da região de Jacobina, Bahia, no século XIX. Existe uma bibliografia, bastante difundida no sertão baiano, afirmando a não existência de negros no interior. Esses autores apóiam-se nos preceitos de incompatibilidade entre pecuária e escravidão, e também na forte presença indígena, que se miscigenou com os colonizadores brancos. Partindo de diversos corpos documentais, tais como: Correspondências enviadas ao Presidente da Província por Juízes e Câmara Municipal, Falas dos Presidentes de Província, Documentos Digitalizados pelo Projeto Resgate, Livros de Registro contento Registros de Compras, Vendas e Doações, Procurações e Registros de Cartas de Liberdade, Processos Crimes e Cíveis, além de documentos publicados no final do século XIX e início do século XX nos Annaes do Arquivo Público da Bahia, Annaes da Biblioteca Nacional e Documentos Históricos da Biblioteca Nacional e autores do século XIX e início do século XX, foram levantados dados sobre as populações negras e sua inserção na região, contrariando a bibliografia citada acima. Foram trabalhados, com base em informações colhidas nos recenseamentos da população do século XVIII e XIX, aspectos da composição populacional geral da região de Jacobina. Também foi trabalhada a configuração específica regional da população de escravizados, tais como: sexo, cor/etnia, idade, utilizando como fonte os Registros de Compras, Vendas e Doações e Procurações. As formas de conquista da liberdade ficaram expressas nos Registros de Cartas de Liberdade de Jacobina e Morro do Chapéu, consultados. Esses documentos trazem, além de preços, sexo, idade, cor/etnia, as formas desse tipo de conquistas, estando envolvidos outros aspectos além do valor monetário envolvido em tais transações. Nos Processos Crimes e Cíveis, é possível verificar como as conquistas de um pouco mais de autonomia eram negociadas e expressavam-se em momentos e situações diversas. 

                                    

WITTER, Nikelen Acosta. Males de epidemias: sofredores, governantes e curadores no sul do Brasil (Rio Grande do Sul, século XIX). Niterói, Universidade Federal Fluminense, Tese de Doutorado, 2007, 276 p.
RESUMO. A epidemia de 1855 na capital da província do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, é o ponto inicial para a investigação das formas como as doenças, tanto as epidêmicas como as comezinhas, eram vividas em meados do século XIX. Partindo do papel desempenhado por três sujeitos plurais - sofredores, governantes e curadores - o autor busca identificar as ações e as trocas sociais entre estes que moldavam as repostas dadas pela coletividade à epidemia. As concepções de saúde, doença e cura; os debates em torno do que viria a ser a institucionalização da Saúde Pública; a inserção dos curadores e das idéias acerca do ambiente compuseram a agenda pré-existente de questões na qual baseou-se aquela sociedade para resistir e buscar, passado o flagelo, maneiras de evitar o seu retorno.
                            

                                                                                                         

                                         

                                                                                      

                                                                         

                              

                                       

VILLA, Marco Antonio. Breve História do Estado de São Paulo. São Paulo, Imprensa Oficial do Estado, 2009, 196 p.
APRESENTAÇÃO. Durante cerca de 350 anos, São Paulo teve pouca relevância na história do Brasil. Muitas das atividades de seus moradores, como a descoberta de metais preciosos, ocorreram em regiões que ficaram fora de sua configuração geográfica. Foi a expansão do cultivo do café que retirou a província do marasmo secular. Desde então, nestes 160 anos, a história transcorreu em ritmo acelerado, tanto no interior, como na capital, desenhando uma sociedade moderna, com desafios políticos, econômicos, sociais e culturais, antecipando os dilemas que estão presentes no restante do Brasil. Esta precocidade paulista nem sempre foi compreendida e algumas vezes até confundida com um desejo de hegemonia. No entanto, é o estado que melhor representa no Brasil a integração dos povos de diversas origens, fazendo com que qualquer tentativa de regionalismo acabe em fracasso. Segundo o autor da obra: "a originalidade de São Paulo foi ser global antes da globalização."

                                               

                                                   

       

                                              

                                                 

                             

                               

LUNA, Francisco Vidal & COSTA, Iraci del Nero da & KLEIN, Herbert S. Escravismo em São Paulo e Minas Gerais. São Paulo, EDUSP/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2009, 624 p.
APRESENTAÇÃO. Os artigos que integram esta coletânea representam a contribuição de dois pioneiros do grupo de pesquisadores da Faculdade de Economia e Administração da USP que se dedicaram ao estudo de nossa história demográfica e econômica. Os artigos foram publicados em diferentes momentos e sua reunião numa única publicação permite aos pesquisadores, estudantes e interessados em geral realizar um balanço da produção desses pesquisadores, e representam uma contribuição significativa para a compreensão das mudanças e avanços ocorridos no estudo da formação econômica, social e demográfica do Brasil. Os artigos contam com a colaboração de Horacio Gutiérrez, Nelson H. Nozoe, Robert W. Slenes, Stuart B. Schwartz e Wilson Cano, e discutem temas como a estrutura e posse dos escravos no século XIX, a coexistência entre indivíduos livres e escravos, questões referentes à família e ao casamento entre os escravos, características da população nos dois estados, entre outros temas relevantes.

                           

                                                          

       

                    

                                    

ALADRÉM, Gabriel. Liberdades Negras nas Paragens do Sul. Editora FGV, 2009.
APRESENTAÇÃO. Este livro é fruto da dissertação de mestrado de Gabriel Aladrén no Programa de Pós graduação em História da UFF. O autor trata, nesta obra, dos padrões de alforria e inserção social dos libertos no sul do Brasil das primeiras décadas de 1800. Como sabido, tais alforrias. Tais alforrias são estudadas tendo em vista o contexto de emergência do Estado nacional brasileiro, constitucional, monárquico e escravista.

                                                                  

                                        

       

                                        

                                  

                                       

                                         

FONSECA, Marcus Vinícius. População negra e educação: o perfil racial das escolas mineiras no século XIX. Belo Horizonte, Maza Edições, 2009, (Coleção Pensar a Educação - Série Estudos Históricos).
No século XIX o governo atuou no sentido da estruturação de uma política visando a educar o povo da província de Minas Gerais. Este livro analisa o nível de relação entre este processo e a população negra, que era, em Minas, o grupo mais expressivo em termos demográficos. A utilização de dados provenientes de documentação censitária revela que havia uma semelhança entre o perfil da população e o das escolas de instrução elementar, ou seja, os negros predominavam nos dois segmentos. Tal predomínio dos negros nas escolas mineiras naquele século representa um desafio para as análises e é em torno deste desafio que se desenvolvem as reflexões efetuadas pelo autor desta obra. Nela encontramos um conjunto de informações e análises as quais procuram ampliar a compreensão sobre o comportamento da população negra. Destarte, destaca-se a crítica em relação às interpretações que tenderam a ignorar o segmento representado pelos negros livres, ou a confundi-los com os escravos, contribuindo para ofuscar o significado que a escolarização adquiriu no seio desse grupo de pessoas livres que, já naquele período, serviam-se do espaço escolar como mecanismo de inserção na cultura letrada. No entanto, não é este o significado mais profundo desta presença dos negros nas escolas, pois ela expressa, também, a demarcação de um distanciamento do mundo dos escravos e uma demonstração dos códigos de conduta próprio das pessoas livres.

                               

                                       

       

                                             

                                               

                                      

                                          

PERERA DÍAZ, Aisnara & MERIÑO FUENTES, María de los Ángeles. Para librarse de lazos, antes buena familia que buenos brazos. Apuntes sobre la manumisión en Cuba. Cuba, Bronce, (Colección Historia).
PRESENTACIÓN. Para librarse de lazos analiza, con perspicacia y coraje, un tema clave para la comprensión de la esclavitud, no sólo en la Cuba del siglo XIX, sino también en la América esclavista en su conjunto. Sus autoras, además de mostrarnos una historia de carne y hueso, argumentan cómo las estrategias de libertad variaban conforme a las coyunturas políticas, económicas y demográficas. Su perspectiva, al tratar el tema de la libertad en el ámbito de las relaciones familiares, torna esta obra indispensable a los estudiosos de la esclavitud en las Américas.

                                   

                                

       

                                   

                                                            

                                               

                                                                                                                      

BARCIA ZEQUEIRA, María del Carmen. La otra familia. Parientes, redes y descendencia de los esclavos en Cuba. Cuba, Bronce, (Colección Historia).
PRESENTACIÓN. La otra familia obtuvo el Premio de Ensayo Histórico-Social de la Casa de las Américas en el 2003 porque, en opinión del jurado, "es una profunda investigación de carácter histórico sobre el tema de la esclavitud y la negritud, realizada con originalidad y profesionalismo. La autora logra, a partir de una amplia indagatoria documental […] que se escuchen las voces de los esclavos mismos, y desarrollar el tema de la familia esclava desde una perspectiva desprejuiciada, capaz de integrar el análisis concreto de la sociedad en los diversos momentos de su desarrollo".

                                       

                                     

       

                      

              

                  

                  

                    

                            

CASTRO, Hebe Maria Mattos de. Ao sul da história: lavradores pobres na crise do trabalho escravo.  Rio de Janeiro, Ed. FGV/Faperg, 2a. edição, revista e ampliada, 2009, 160 p. 

APRESENTAÇÃO. Vinte e cinco anos depois de sua primeira edição, Ao Sul da História continua sendo leitura obrigatória. Hebe Mattos, ao analisar a vida e o trabalho dos pequenos lavradores do antigo município de Capivary (hoje município de Silva Jardim, no Estado do Rio de Janeiro) entre a segunda metade do século XIX e as primeiras décadas do XX, não só desmistificou conceitos e "verdades", como deu voz a uma parte significativa da população brasileira, extrapolando a base hierárquica até há poucas décadas tão comum em nossos estudos, formada quase sempre exclusivamente por senhores e escravos/ex-escravos. A autora, com base em inventários, registros paroquiais e processos crime, resgata importantes elementos da vida e da história desses homens que, em seu livro, voltam a ganhar carnadura e personalidade histórica próprias. 

                                 

                                                                  

       

                   

                               

                               

                                                      

ENGEMANN, Carlos. De laços e de nós. Rio de Janeiro, Ed. Apicuri, 2008, 1a. reimpressão, 200 p. 
APRESENTAÇÃO. O autor contempla as comunidades escravas do Sudeste brasileiro, observa suas práticas e costumes e as entende como um dos elementos modeladores da própria vivência escrava em termos genéricos. Nas palavras do autor, "os resultados foram deveras interessantes, mostrando que se havia hierarquia -- apartava os homens dentro do cativeiro, provocando a violência e a disputa, também havia as solidariedades -- apresentavam resultados concretos, gerando melhoria nas condições materiais de vida." 

                                   

                                           

       

                         

                                             

                                       

                                                     

MARCONDES, Renato Leite. Diverso e desigual: o Brasil escravista na década de 1870. Ribeirão Preto (SP), FUNPEC Editora, 2009, 232 p.

APRESENTAÇÃO. Na Formação Econômica do Brasil, de Furtado, a transição de uma economia baseada na exportação para uma economia com um setor importante de produção para o mercado interno aparece como um acontecimento um tanto repentino, com manifestações iniciais no final do século XIX mas efetivamente desencadeado pela crise do café, na década de 1930. O que se constata, no entanto, e os dados de Marcondes mostram isso bem, é que esse processo foi bem mais gradual, com raízes ainda no século XVIII, e prosseguindo com vigor ao longo do século XIX.

A partir dos anos oitenta do século XX, pesquisas de diversos autores convergiram para mostrar que, em variadas localizações e períodos, nos séculos XVIII e XIX, preponderaram, no Brasil, os possuidores de pequeno número de escravos; e, mais importante, que a maioria dos escravos em geral pertencia a plantéis relativamente pequenos, menores que duas dezenas.

Marcondes, nete livro, contribui com ampla evidência empírica sobre esse ponto, resultado de um trabalho de pesquisa da maior importância. Investigando, em todo o País, listas derivadas da matrícula e classificação dos escravos, determinadas pela Lei do Ventre Livre, de 1871, reuniu dados para uma extraordinária amostra da população escrava naquele período: 112,7 mil cativos, correspondentes a 25,6 mil proprietários; 7,3% do número total de escravos então existente. A amostra abrange catorze das vinte províncias, destacando-se a cobertura para São Paulo, onde os dados colhidos referem-se a 30% do total da população escrava. O quadro que emerge desses dados confirma as pesquisas referidas acima. Acima de 70% dos possuidores de escravos, em todas as províncias, tinham não mais do que quatro cativos. (Texto da quarta capa, de autoria de Flávio Rabelo Versiani). 

                                       

                                                                                           

       

                              

                          

                                           

                           

                     

VISITE ESTE RICO SITE SOBRE O TRÁFICO NEGREIRO

HALL, Gwendolyn Midlo. Louisiana Slave Database and the Louisiana Free Database, 1719-1820: http://www.ibiblio.org/laslave 

                      

                                  

       

                                 

                                          

                                          

 

                                                     

No ROL -- Relação de Trabalhos Publicados na Área de História Demográfica --, além da referência bibliográfica completa de todos os trabalhos divulgados nos distintos números do BHD, são apresentadas, sempre que possível, resenhas ou resumos de tais obras. Trata-se, pois, de um arquivo com um vasto repertório de livros, artigos, teses, dissertações e demais estudos relativos ao nosso campo de especialização.

                      

                                                  

                                                                  

                                                             

                             

 

Volta para o início da Página