Ano XVIII, n. 66, outubro de 2011
SUMÁRIO
Eni de Mesquita Samara
In Memoriam
Relação de Trabalhos Publicados
No momento em que reverenciamos a memória de nossa inesquecível colega Eni de Mesquita Samara não nos deixamos tomar por sua partida, mas nos concentramos no riquíssimo contributo que nos legou e nas lembranças de sua fraternal imagem.
Néstor A. Hormiga Kandame. "La llegada de los Colonos Africanos" (1832-1837).
APRESENTAÇÃO ESCRITA PELO AUTOR. Estoy en las últimas semanas de preparación
de mi nuevo libro titulado: "Colonos: Canarios y Africanos en los orígenes
del Estado Oriental del Uruguay". Le envío una síntesis del capítulo
correspondiente a los "mal llamados" Colonos Africanos. Creo que el
mismo puede ser de interés dado que toca nuestra región, y es un tema tan poco
investigado. El mismo trata de la estrategia de los esclavistas para burlar a
Gran Bretaña que se había transformado en una especie de "policía
antiesclavista". Y una de las muchas artimañas fue el llamar a los
esclavos de colonos africanos. Para ler o texto completo
TAREFAS
IMEDIATAS QUE SE IMPÕEM AOS DEMÓGRAFOS HISTORIADORES BRASILEIROS
Para Tito, amigo inestimável.
Iraci del Nero da Costa
1. Localização de documentos de caráter censitário, como são os levantamentos populacionais existentes, por exemplo, em São Paulo, Minas Gerais e Bahia. Muitos desses documentos não "chegaram a chegar" aos Arquivo Estaduais, encontram-se em arquivos municipais, inclusive nos das Câmaras Municipais e em Arquivos Judiciais. Alguns podem estar, até mesmo, em mãos de particulares.
2. Preservação e reprodução digitalizada dos documentos com o aludido
caráter que se encontram depositados em Arquivos Estaduais e Municipais.
3.
Especial atenção deve ser dada às regiões Norte e, sobretudo, Nordeste. Não
só contamos com poucas informações sobre tal documentação, mas, como
sabido, as condições climáticas dessas regiões são adversas com respeito à
conservação documental, fato este que impõe sua rápida localização e
apurada preservação.
4.
Por fim, devemos desenvolver esforços no sentido de estimular as pesquisas
demográficas tanto no Nordeste como no Centro-Oeste; evidentemente, dada sua
relevância socioeconômica, o Nordeste deve ser privilegiado neste esforço
conjunto.
5.
Para cumprir parcela substantiva de tal programa é crucial a união de
esforços de demógrafos historiadores com nossos colegas arquivistas e
arquivologistas. Assim, devemos nos apoiar, inicialmente, nos colegas com
experiência altamente positiva na direção de Arquivos Públicos Estaduais
(como Carlos Bacellar e Renato Pinto Venancio), bem como na ARQ-SP -
Associação de Arquivista de São Paulo (Ana Maria de Almeida Camargo e
Heloísa Liberalli Bellotto) e na AAB - Associação dos Arquivistas
Brasileiros. Tais contatos poderão ser feitos sob a égide da ABEP e da ANPUH.
Colegas com conhecimento de arquivos de outros Estados ou Judiciais, como Nelson
Nozoe, Agnaldo Valentin, Renato Leite Marcondes e Maria Sílvia C. Beozzo
Bassanezi, certamente estarão dispostos a contribuir para a consecução de
alguns dos objetivos explicitados nesta sugestão.
6. Ainda com apoio da ANPUH e da ABEP poder-se-ia promover um encontro de demógrafos historiadores votados aos estudos do Nordeste. Tal encontro poderia dar-se na Fundação Joaquim Nabuco a qual conta com infraestrutura exemplar para receber dezenas de pesquisadores. Nessa reunião discutir-se-ia não só as medidas necessárias ao amplo desenvolvimento de pesquisas na região, mas também as que visariam à localização dos documentos de caráter censitário.
BORUCKI,
Alex. APUNTES SOBRE EL TRÁFICO ILEGAL DE ESCLAVOS HACIA BRASIL Y URUGUAY: LOS
"COLONOS" AFRICANOS DE MONTEVIDEO (1832-1842). História: Questões & Debates, Curitiba, Editora UFPR,
n. 52, jan./jun. 2010.
RESUMEN. El caso de los "colonos"
africanos de Montevideo ilustra la renovación de las redes de tráfico de
esclavos entre los portugueses y españoles del Atlántico sur. Estas redes, que
habían canalizado la llegada legal e ilegal esclavos al Río de la Plata
colonial, continuaron vigentes hacia la década de 1830 y facilitaron el arribo
de esclavos a Rio de Janeiro justo cuando la política anti-esclavista
británica y el gobierno brasileño estaban tratando de cortar ese tráfico.
Este artículo revela cómo algunos traficantes brasileños crearon una
operación coordinada de tráfico de esclavos, bajo el nombre de "colonos
africanos," que involucró a comerciantes de Luanda, Mozambique, Rio de
Janeiro y Montevideo en la década de 1830. Los "colonos" africanos de
Montevideo no sólo fueron la última generación de esclavos que arribó al
Uruguay traída directamente de África, sino también los últimos africanos
esclavizados llegados a las nuevas repúblicas de la América española
continental.
MARQUES,
Leonardo. A PARTICIPAÇÃO NORTE-AMERICANA NO TRÁFICO TRANSATLÂNTICO DE
ESCRAVOS PARA OS ESTADOS UNIDOS, CUBA E BRASIL. História: Questões & Debates, Curitiba, Editora UFPR,
n. 52, jan./jun. 2010.
RESUMO. O presente artigo explora as
características do envolvimento norte-americano no tráfico transatlântico de
escravos para Brasil, Cuba e Estados Unidos da América. Tal participação
apresentou importantes transformações ao longo do século XIX, como resultado
de crescentes tensões trazidas pela expansão de novas sensibilidades em
relação ao tráfico transatlântico de escravos. Atenção especial é dada ao
papel do estado de Rhode Island no tráfico e o impacto de legislações
abolicionistas na comunidade de traficantes da região norte dos EUA.
MOTTA, José Flávio & NOZOE, Nelson H. & COSTA, Iraci del Nero da. A posse de escravos em uma paróquia fluminense: São Cristóvão, 1870. Revista de Economia Política e História Econômica. Maceió, GEEPHE-UFAL, ano 8, número 25, junho de 2011, p. 106-138. Disponível em: http://sites.google.com/site/rephe01/.
RESUMO. Estudamos a estrutura da posse de escravos de São Cristóvão com base em levantamento populacional efetuado em 1870, quando essa freguesia já integrava o perímetro urbano da cidade do Rio de Janeiro. Os resultados apresentados representam, pois, um recorte de como se revelava a referida estrutura às vésperas da Abolição em um centro urbano dos mais dinâmicos do Império. Tais resultados reafirmam o padrão estabelecido pela historiografia com respeito ao escravismo brasileiro: forte presença de escravistas de porte modesto -- 79% deles, com até 5 escravos, detinham 46% do total de cativos --, difusão relativamente ampla da instituição -- em cerca de 25% dos fogos havia escravos -- e inexistência de uma forte concentração na posse de cativos -- o que se corrobora pelo índice de Gini (0,46). Os valores da média (3,8), moda (1) e mediana (3) atestam o predomínio das posses de pequeno porte. Em suma, o escravismo parece apresentar em seus momentos finais, para o caso de São Cristóvão, o mesmo perfil básico válido para o início do século XVIII, nos mais diversos pontos do território brasileiro.
ABSTRACT. This work examines the slaveholding structure in São Cristovão based on a census taken in 1870, when this parish was already a part of the urban perimeter of the city of Rio de Janeiro. Thus, the results presented are a portrait of that structure in the eve of Abolition for one of the most dynamic urban centers of Brazilian empire. The results validate the pattern of Brazilian slavery determined by historiography: the small slaveholders had a great weight, with 79% of them, owning up to 5 slaves, controlling 46% of the slave workforce; the institution of slavery was relatively widespread, for about a quarter of all households had slaves; and the distribution of the slaveholding was not much concentrated, a fact confirmed by an index of Gini of 0,46. Average (3,8), modal (1) and median (3) values all point to the dominance of small slaveholdings. In short, the final period of slavery in São Cristóvão seems to have the same basic characteristics found for many different parts of Brazilian territory in the eighteenth century.
MOTTA,
José Flávio O TRÁFICO DE ESCRAVOS VELHOS (PROVÍNCIA DE SÃO PAULO,
1861-1887). História: Questões & Debates, Curitiba, Editora UFPR,
n. 52, jan./jun. 2010, p. 41-73.
RESUMO. Estudamos os escravos velhos no Brasil da segunda metade do século XIX.
Mais especificamente, analisamos a participação dos idosos no fluxo de
escravos negociados nas localidades paulistas de Areias, Guaratinguetá,
Constituição (Piracicaba) e Casa Branca no período de 1861 a 1887. De
início, procedemos à definição da faixa etária que abrange o contingente
analisado: 50 ou mais anos. Em seguida, delineamos brevemente algumas
características dos municípios escolhidos, com o foco na expansão cafeeira na
província de São Paulo. Examinamos então as transações registradas nas
localidades referidas e as características das pessoas idosas que compuseram as
ditas transações. Entre os resultados observados, destacamos a participação
dos cativos velhos no conjunto de indivíduos traficados inversamente
relacionada à intensidade do comércio de escravos, a grande supremacia dos
idosos do sexo masculino e dos negócios locais e a crescente idade média dos
velhos transacionados. Notamos haver negócios decorrentes de uma demanda direta
por esses idosos, bem como haver transações nas quais eles eram parte
necessária para viabilizar o acesso à mão de obra de familiares seus, fossem
estes igualmente cativos, livres ou libertos. Na quarta seção alinhavamos
nossas considerações finais.
SOARES,
Márcio de Sousa. PRESENÇA AFRICANA E ARRANJOS MATRIMONIAIS ENTRE OS ESCRAVOS
EM CAMPOS DOS GOITACAZES (1790-1831). História: Questões & Debates, Curitiba, Editora UFPR,
n. 52, jan./jun. 2010.
RESUMO. O artigo examina o impacto do tráfico atlântico sobre a população
escrava nos Campos dos Goitacazes no auge da agroexportação do açúcar na
capitania/província do Rio de Janeiro. Tem por objetivo analisar como a
acentuada presença de africanos afetava os arranjos matrimoniais entre os
escravos.
IX
CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA ECONÔMICA E 10ª CONFERÊNCIA INTERNACIONAL
DE HISTÓRIA DE EMPRESAS. Curitiba, Associação Brasileira de Pesquisadores em
História Econômica / Universidade Federal do Paraná, 7 a 9 de setembro de
2011.
BORSAGLI,
Alessandro & MEDEIROS, Fernanda Guerra Lima. HISTÓRIA ECONÔMICA DA CIDADE
DE DIAMANTINA / MG.
RESUMO. Sendo a economia um dos principais fatores para o desenvolvimento e o
povoamento de uma região, então se uma região apresenta uma economia
estável, propiciada pela exploração de recursos naturais ou mesmo como
entreposto comercial ela se torna atrativa para a migração ocorrendo então um
aumento populacional e urbano. Esse é o caso de Diamantina, já que nessa
cidade, seu crescimento urbano está estritamente ligado ao crescimento
econômico. No período colonial houve um maior controle populacional na cidade
de Diamantina por parte da Coroa, então detentora exclusiva da exploração dos
diamantes no Distrito Diamantino. No final do Século XIX ocorre um fluxo
migratório para a cidade, em decorrência do crescimento econômico
proporcionado pela acumulação de capital oriundo da decadente exploração de
diamantes. Nas primeiras décadas do Século XX a cidade sofre uma estagnação
econômica e urbana chegando a decrescer a partir dos anos 1950 em decorrência
da decadência econômica. Nas ultimas décadas a economia vem crescendo
novamente, juntamente com a malha urbana da cidade.
KATO,
Allan Thomas Tadashi. O espaço dos moradores 'pobres' e nobres em Antonina
(1808).
RESUMO. Pudemos perceber que a estrutura social do Antigo Regime vigia em
Antonina colonial, e que esta divisão, por mais simples que fosse, se refletia
na escolha do local de moradia urbana. Na pequenez da vila demonstramos que
havia, pelo menos, dois grupos sociais: os nobres e os "pobres" que
tendiam a residir em "zonas" diferenciadas.
SANTOS,
Amália Cristovão dos. CARTOGRAFIA DA POPULAÇÃO: SÃO PAULO, 1776.
RESUMO. O artigo desenvolve-se a partir da combinação de fontes documentais
primárias tendo em vista a caracterização e a forma de disposição no
território dos habitantes da cidade de São Paulo em 1776, bem como a
composição de suas casas e da relação dessa composição com os ofícios e
ocupações dos indivíduos. As fontes utilizadas são a Lista Geral da
População de São Paulo de 1776 e a Planta da Cidade de São Paulo de 1810. A
constituição dos fogos (casas) varia desde um formato estritamente familiar
(chefe do domicílio, esposa e filhos) até arranjos com mulheres na posição
de chefia ou homens solteiros e seus dependentes. Tais possibilidades não se
distribuem homogeneamente pelo território, havendo concentrações de um ou
outro tipo em determinadas áreas. Da mesma forma, observamos os ofícios
praticados pelos habitantes, tanto em termos numéricos absolutos, como em sua
ocorrência em cada região da cidade. Assim como a composição dos fogos, a
distribuição dos ofícios pelas ruas da cidade indica predominâncias e
agrupamentos de certas atividades. Além das variações por categoria analisada
(composição dos fogos e ofícios), encontramos correlações entre uma e outra
que aprofundam o entendimento das dinâmicas da vida em cada região da cidade.
O papel dos agregados e a presença dos filhos junto a um ou ambos os
progenitores são dados que reforçam as relações entre as atividades
econômicas, a posição na cidade e a constituição dos domicílios. Os
indícios aqui apresentados abrem campo para uma investigação das condições
da vida cotidiana e da produção social do espaço na cidade de São Paulo em
fins do século XVIII, indicando suas diversas manifestações.
COSTA,
Fernando A. Alves da. O CAFÉ E OS ESCRAVOS: UM ESTUDO DOS EFEITOS DO
DESENVOLVIMENTO DA CAFEICULTURA SOBRE A POPULAÇÃO CATIVA DA ZONA DA MATA
MINEIRA NO SÉCULO XIX.
RESUMO. Neste trabalho buscamos analisar os efeitos da disseminação da
cafeicultura na Zona da Mata de Minas Gerais sobre a população escrava da
região no século XIX. Para contemplarmos as alterações e/ou permanências
das características da população escrava das localidades em foco analisamos
quatro aspectos em particular, quais sejam: a participação dos escravos no
conjunto da população total, em especial na faixa etária mais produtiva; a
composição etária da escravaria; cruzando este elemento com a razão de sexo
da população cativa; e seus vínculos familiares. Estudamos, em perspectiva
comparada, localidades que conheceram a intensificação da cafeicultura a
partir do meado do XIX, e outras que não vivenciaram este processo. A base
documental do estudo é constituída pelas Listas Nominativas de Habitantes da
década de 1830 e pelo Recenseamento Geral de Império de 1872.
NETTO,
Fernando Franco & TEIXEIRA, Heloísa Maria. ECONOMIA E ESCRAVIDÃO: BATISMOS
DE CRIANÇAS ESCRAVAS E INGÊNUAS - UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE AS LOCALIDADES
DE MARIANA (MINAS GERAIS) E GUARAPUAVA (PARANÁ) NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO
XIX.
RESUMO. A imposição do batizado ao recém-nascido tornou-se prática corrente
no mundo católico a partir do século XVI, como resposta ao avanço das
religiões protestantes na Europa. Em Portugal e suas colônias, esse registro
assumiu grande importância, pois o regime do padroado ao transformar a
hierarquia eclesiástica em burocracia do Estado facultava aos livros paroquiais
o duplo status de registro religioso e civil. Remetendo-nos à escravidão, tal
qual uma escritura pública, o batismo assegurava a propriedade do cativo ao
proprietário. Nosso texto pretende analisar os batismos de crianças filhas de
escravos em duas localidades voltadas para a produção de subsistência durante
o período 1850-1888: Mariana, pertencente à província de Minas Gerais e
Guarapuava, pertencente a Província do Paraná. O período focado refere-se a
um momento de transição do sistema escravista para o sistema livre de
trabalho. A cessação do tráfico internacional de escravos e a Lei de Terras
(ambos de 1850), a liberdade concedida aos filhos de escravas (nascidos após a
promulgação da lei de 1871) e aos escravos com mais de 60 anos (1885) e a Lei
de Locação de Serviços (1879), foram acontecimentos de um processo de
transição que ocorria de forma gradativa, cujo corolário seria a abolição
da escravatura. De 1850 a 1871, os senhores tinham no tráfico interno e na
reprodução natural a esperança de perpetuação do regime, mas, depois da Lei
Rio Branco, a segunda possibilidade foi "teoricamente" eliminada pelo
ventre livre das escravas e, a partir de 1888, com a Lei Áurea, qualquer
trabalho escravo passa a ser ilegal.
PINHEIRO,
Fábio Wilson Amaral. PARA ALÉM DE NÚMEROS: A INFLUÊNCIA DO TRÁFICO
ATLÂNTICO DE ESCRAVOS NA FORMAÇÃO DOS PLANTÉIS MINEIROS, ZONA DA MATA
c.1809- c.1830.
RESUMO. O presente artigo tem como proposta analisar o perfil demográfico da
escravaria residente na Zona da Mata mineira nos primeiros decênios do século
XIX. Alicerçado em recentes resultados, este trabalho tentará esclarecer o
papel do tráfico atlântico de escravos na reprodução física dos plantéis
desta região. Para além, as reflexões esplanadas no artigo pretendem, dentro
dos limites de nossa pesquisa, vir a contribuir para uma discussão que há
quase trinta anos tem ecoado pelos corredores das principais academias não só
de Minas Gerais, como também do Brasil, qual seja: a forma pela qual a
população escrava mineira se reiterou ao longo do século XIX.
RODARTE,
Mario Marcos Sampaio & PAIVA, Clotilde Andrade? Domicílios enquanto
unidades de produção e reprodução: A família na Minas Gerais Oitocentista.
RESUMO. Investigar os tipos mais freqüentes de domicílios na província de
Minas Gerais, na década de 1830, é o objetivo principal do presente estudo. O
fogo, que era o termo normalmente utilizado em registros censitários do século
XIX para designar a unidade domiciliar, se diferia do domicílio contemporâneo.
Além de ter a função reprodutiva e de ser grupo de parentesco, o fogo quase
sempre constituía um conjunto de pessoas com outras funções sociais e também
econômicas, em especial, a de ser unidade produtiva, dado o contexto de uma
sociedade pré-industrial. A proposta de tipologia de domicílios aqui
apresentada buscou captar essa plurifuncionalidade dos fogos, adotando, como
ponto de partida, a concepção mais abrangente de domicílio. Dessa forma, esse
novo método alternativo representa uma inovação em relação às formas
convencionais de classificação de domicílios, que concebiam a organização
doméstica apenas como grupo de parentesco. Para se realizar o presente
trabalho, precisava-se de registros históricos detalhados dos domicílios e de
cada um dos seus membros, o que foi encontrado nos manuscritos de dois censos
demográficos da década de 1830. A partir dos cerca de 85 mil domicílios
contidos nesse banco de dados (10% dos estimados para o Brasil), gerou-se uma
tipologia de domicílios em que se empregou 35 variáveis, mediante aplicação
do método Grade of Membership (GoM). Entre outros resultados alcançados,
mostrou-se que a sociedade estava dividida em quatro formas bem distintas de
fogos (cada uma com estreitas ligações entre as suas características
econômicas e demográficas), sendo os escravistas e os camponeses os tipos mais
representativos e paradigmáticos da virtuosidade do crescimento demo-econômico
da Província. Em seguida, vinham os fogos de autônomos, de assalariados e
domicílios com perfis mistos entre esses quatro tipos emblemáticos.
PEREIRA,
Thales A. Zamberlan. ORGANIZAR A SOCIEDADE BRASILEIRA DE MODO DEFINITIVO:
IMIGRAÇÃO E O PENSAMENTO SÓCIO-ECONÔMICO NO BRASIL (1870-1900).
RESUMO. O século XIX presenciou o movimento sem precedentes de pessoas que
saíram de seus países em busca de oportunidades. A redução dos custos de
transporte e o desenvolvimento dos meios de comunicação possibilitaram a
redução da incerteza a respeito das condições em terras distantes. Em
relação ao Brasil, a maioria das milhares de pessoas que chegaram ao país
nesse período tiveram subsídios do governo, que ofereceu uma série de
incentivos à imigração de trabalhadores europeus. O objetivo desse artigo é
analisar como o pensamento científico da segunda metade do século XIX
influenciou as políticas públicas brasileiras referentes à imigração no
período de 1870 a 1900. Dentre essas, se destacam leis imigratórias da década
de 1890, que proibiram a entrada dos "indígenas da Ásia e da
África" nos portos brasileiros. A questão principal reside no pressuposto
que, se a ciência do século XIX defendia que determinados grupos sociais eram
inatamente diferentes, a opressão e a discriminação poderiam ser
justificadas. Esse pensamento permeava as discussões sobre qual seria a
identidade brasileira a partir da necessidade de mão-de-obra que surge com o
fim da escravidão. Além de suprir uma necessidade laboral, a elite nacional
almejava, nas palavras de Joaquim Nabuco, "o sangue caucásico vivaz,
enérgico e sadio" dos europeus. Teorias raciais, que "comprovavam
cientificamente" a superioridade dos europeus eram usadas como
justificativa para a formulação de políticas que favoreciam certos grupos em
detrimento de outros. Portanto, para se compreender o porquê do grande afluxo
de trabalhadores europeus - e não de mão-de-obra mais barata, como os chineses
- no Brasil recém republicano, é necessária a percepção de como pensavam os
formadores das políticas nacionais de então.
PIRES, Julio Manuel & COSTA, Iraci del Nero da (orgs.). O Capital Escravista-Mercantil e a escravidão nas Américas. São Paulo, EDUC/FAPESP, 2010, 226 p.
SOBRE A PRODUÇÃO DE MODOS DE PRODUÇÃO
Para
Tito, amigo que partiu cedo.
Iraci del Nero da Costa
No Brasil, vários cientistas sociais impuseram-se a faina de tentar
caracterizar o modo de produção que teria vigorado em nosso período colonial.
Tratou-se, de fato, de uma incansável labuta da qual resultou uma farta
produção de modos de produção. Tamanha foi a safra que seus resultantes
entraram a interpenetrar-se e a digladiar-se até que nenhum deles conseguiu
florescer inteiramente e afirmar-se de modo inconteste.
Não obstante os
desencontros havidos, parecíamos dominados pelo temor de que não poderíamos
alcançar o conhecimento pleno e integral da formação da sociedade brasileira
moderna se não nos fosse dado estabelecer, clara e distintamente, o modo de
produção que a subjugava aos seus contornos.
Cansados de esperar, a
pouco e pouco despontaram alguns céticos para os quais talvez não houvesse a
tão almejada solução salvadora. Sim, no Oriente e sobretudo na Europa
Ocidental definiram-se, segundo encadeamento histórico-lógico, modos de
produção incontestavelmente distintos e com todos os seus elementos integrados
de sorte a comporem unidades conceituais harmônicas e organicamente perfeitas,
passíveis, portanto, de serem definidos de maneira palmar.
Mas, perguntam aqueles céticos, e as Américas? Como enquadrar uma situação
na qual um modo de produção próprio da comunidade primitiva viu-se devassado
e devastado pelo capital comercial Europeu o qual se apoiou, desde os
primórdios dos descobrimentos, na mão de obra escrava? Como articular num todo
solidário e único uma sociedade assentada num tripé composto pela produção
(ou extração mineral) apoiado nas Colônias da América, pela realização das
mercadorias vendidas, basicamente, para as nações da Europa e pelo
fornecimento da mão de obra trazida da África? Como conjugar o escravismo
"industrial" das Américas com o capitalismo que se firmava na Europa
e com as várias comunidades africanas em muitas das quais vigorava o escravismo
primitivo do tipo domiciliar? É possível admitir-se um modo de produção
incapaz de reproduzir-se com base em suas próprias forças e dependente de
economias externas que lhe são estranhas e de uma manifestação primitiva do
capital como se definia o capital comercial?
Ademais, considerando o
caráter imanentemente expansionista e subordinador do capitalismo, não seria
mais razoável pensarmos a história moderna das Américas como um longo
processo de adequação desta parte do planeta ao capital e ao capitalismo?
Além disso, não se poderia identificar uma específica forma de capital - o
capital escravista-mercantil - ao qual caberia sustentar a exploração dos
recursos do Novo Mundo e da mão de obra para cá deslocada? Por fim, não
pareceria correto pensarmos um conjunto diversificado de sociedades que, postas
por distintas formas externas do capital (comercial, a juros e industrial
nascente) e localmente pelo capital escravista-mercantil, empreenderam um
dilatado percurso do qual resultou, inexoravelmente, a supressão do escravismo,
a transformação do capital escravista-mercantil em industrial e o pleno
estabelecimento do modo de produção capitalista em todas e cada uma delas?
Em suma, as postulações
acima postas não parecem suficientes para colocar em xeque a afanosa,
desgastante e infrutífera produção de modos de produção coloniais?
Se as opiniões expendidas nesta
breve resenha despertaram seu interesse, recomendamos a leitura do livro ora
apresentado, nele os autores expressam, com a largueza necessária, seus
argumentos aqui meramente sugeridos.
MERIÑO FUENTES, Maria de los Angeles & PERERA DÍAZ, Aisnara. Familias, Agregados y Esclavos: los padrones de vecinos de Santiado de Cuba (1778-1861). Santiago de Cuba, Editorial Oriente, (Colección Historia, Bronce). Obra a ser lançada em breve.
PRESENTACIÓN. El libro, una de las más importantes obras de la historiografia cubana de las últimas décadas, viene a conformarse mediante la asunción, por parte de sus autoras, de redimensionar y revisitar las tradicionales categorías de análisis con las que, hasta no hace mucho, se había hecho la Historia de América. Y no sólo eso: viene, además, como consecuencia de lo anterior, a innovar encuanto a los enfoques analíticos que explican el desarrollo de las sociedades estudiadas tributando, evidentemente, a los avances de la historiografia contemporánea, y desde luego revisando, sin complejos, algunos de los conceptos vertidos por la historiografia europea y occidental sobre la Historia de la Familia.
SANTOS,
Patrícia Ferreira dos. Poder e palavra: discursos, contendas e direito de
padroado em Mariana (1748-1764). São Paulo: Hucitec Editora, 2010, 329 p.,
(Estudos Históricos, 83).
RESUMO. Rezava um velho acordo entre sucessivos papas e príncipes lusitanos que
os homens da Igreja deveriam atuar junto aos agentes do rei nas partes das suas
colônias no Novo Mundo para a defesa da fé católica e da nova ordem imposta
por Portugal. Padres e juízes seculares e eclesiásticos deveriam aplicar, nas
paróquias, criadas nas partes mais longínquas, os direitos do rei padroeiro, o
Grão Mestre da Ordem de Cristo, que nomeava bispos para as dioceses e pagava as
côngruas aos padres-curas para evangelizar escravos, senhores, colonos e toda a
gente. O bispo deveria condenar os excessos da população, falando sobre eles
em sermões e publicando estas exortações nas cartas pastorais; deveria
promover as visitas pastorais em todas as freguesias e fazer circular as
informações oficiais. Entretanto, não raro, estas tarefas, pertencentes à
jurisdição episcopal, esbarravam em interesses e jurisdições dos agentes
régios e potentados coloniais, como os senhores de escravos. Como se
confrontaram ou se arranjaram estas forças e autoridades naquelas freguesias
coloniais? A aplicação do direito de padroado conquistado pelos reis
lusitanos, se afiguraria, na prática, tão harmônica quanto a sua
teorização?
SANTOS, Ynaê Lopes dos. Além da Senzala. Arranjos escravos de moradia no Rio de Janeiro (1880-1850). São Paulo: Hucitec Editora, 2010, (Estudos Históricos).
RESUMO. A autora examina diferentes arranjos quanto ao local de moradia de escravos do Rio de Janeiro. Para tanto serviu-se de relatos de viajantes, documentação policial, posturas municipais, licenças e pedidos encaminhados à Câmara Municipal e inventários post-mortem.
No ROL -- Relação de Trabalhos Publicados na Área de História Demográfica --, além da referência bibliográfica completa de todos os trabalhos divulgados nos distintos números do BHD, são apresentadas, sempre que possível, resenhas ou resumos de tais obras. Trata-se, pois, de um arquivo com um vasto repertório de livros, artigos, teses, dissertações e demais estudos relativos ao nosso campo de especialização.