ESPERANTO E INGLÊS: DUAS LÍNGUAS COM OBJETIVOS DIFERENTES




por AFFONSO SOARES  

 

           O INSTITUTO de Esperanto da Universidade Danhook, em Seul, Coréia, lançou no ano de 1987 a revista anual bilíngüe (em Esperanto e na lingua coreana) com o título Mondo de Universitato (Mundo Universitário). Desse primeiro número, editado por ocasião do 1° Centenário do Esperanto, transcrevemos em nossa Revista um artigo do Prof. Dr. Humphrey Tonkin, atual Presidente da Associação Universal de Esperanto, sobre a Lingua Internacional Neutra e o idioma Inglês.

            O Prof. Tonkin doutorou-se pela Universidade Harvard e era, em 1988, Presidente do Colégio Potsdam da Universidade Estadual de Nova lorque, sendo também encarregado da condução dos assuntos entre a Associação Universal de Esperanto e a Organização das Nações Unidas--ONU, através do escritório mantido pela Associação em Nova lorque.

           Um dos méritos, entre outros, do presente artigo está em que seu autor tem o Inglês como língua materna, é autoridade reconhecida nessa lingua e escreveu obras sobre a sua literatura, bem como sobre problemas internacionais, problemas lingüísticos e sobre Esperanto. Vale a transcrição também como meio de se informar o leitor espirita sobre algumas teses do Movimento Esperantista Neutro, traduzida do Esperanto, cujo título é o que acima estampamos:

           O INGLÊS é atualmente a língua mais difundida no mundo, sendo falada e usada em todos os pontos do Globo e sustentada por uma vasta rede de interligações econômicas, sociais e culturais. Essa rede, tecida ao longo de dois séculos, formou-se, primeiramente, pela expansão do império comercial britânico e, posteriormente, pelo crescimento da esfera de influência americana

           Infelizmente, há muitos outros homens que devem permanecer fora desse mundo de língua inglesa por usarem, desde o nascimento, outro idioma materno e não a falarem fluentemente. Esse sistema é totalmente estruturado numa desigualdade essencial, e quem nele penetra, ou deseja penetrar, está buscando ascender na hierarquia lingüística (e, conseqüentemente, na economia). Nesse contexto, os que falam o Inglês desde o nascimento destratam de uma natural vantagem.

           TOTALMENTE outros são os princípios que inspiram o Esperanto. Ele foi concebido principalmente para possibilitar a comunicação, em bases de igualdade, entre os que falam línguas diferentes. Embora, na prática, seja muito difícil definir o conceito de igualdade lingüística, ela é, em princípio, o estado em que todos tenham igual acesso ao idioma e não se sintam discriminado. Como tal sistema não obedece às regras normais da economia, para ele são principalmente atraídos os que aspiram à criação de um espírito de igualdade entre os diversos povos. Tais tendências são evidentes entre muitos esperantistas.

            Aprende-se o Esperanto mais facilmente do que a língua inglesa, de tal forma que, teoricamente, uma quantidade maior de pessoas poderia, sem dificuldade, dominá-lo do que ao Inglês, conquanto o motivo econômico não seja tão forte no Esperanto. Por outro lado, o ensino do Esperanto nas escolas poderia atingir os três seguintes resultados:

           bolinha-vm.gif (870 bytes). Sendo o custo para ensiná-lo menor do que para ensinar o Inglês, poder-se-ia, com um mesmo investimento, obter um conhecimento lingüístico mais elevado cm maior número de alunos.
 

           bolinha-vm.gif (870 bytes). O Esperanto mantém a igualdade entre os povos e, conseqüentemente, protege as culturas minoritárias contra a excessiva influencia da cultura inglesa,
 

           bolinha-vm.gif (870 bytes). O Esperanto possibilita que se evite uma certa colonização cultural, não obstante dar, ao mesmo tempo, oportunidade a que grandes coletividades estabeleçam uma comunicação internacional direta.

           VENCERA o Inglês ou o Esperanto? Isso depende de muitos fatores, destacando-se, entre outros, a disposição das diversas nações do conservarem seus próprios valores culturais. Não se trata, eventualmente, nem mesmo de uma concorrência, mas de uma evolução paralela. O fato de que o Esperanto já se mantém durante cem anos indica que ele não desapareceria facilmente. Muito pelo contrário, o interesse por ele é crescente no Terceiro Mundo e, em geral, entre os povos não europeus.

           É a língua internacional de uma elite que se educa (pelo menos em parte) por meio desse idioma, dele se serve para integrar-se num sistema mundial de comunicação e por ele participa de uma cultura de origem, até certo ponto, americana mas já um tanto internacionalizada

           O conhecimento dessa língua é essencialmente uma questão de poder econômico e de influência social: os homens se empenham por possui-la porque ela Ihes proporciona influência e, eventualmente. a riqueza.

( artigo da revista Reformador nº 1911,  julho, 1988 )

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