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Trabalhos: Maçonaria e BD, "A Fábula de Veneza" de Hugo Prattin "Rebeldia", nº 5 , Grémio Rebeldia, Lisboa, Maio de 1989, pp. 28-32
João Pedro Ferro
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Senão vejamos: A história inicia-se com parte da abertura dos trabalhos da L.·. Hermes em sessão de Mestre (3º e último grau da Maçonaria Simbólica). Releva-se de imediato, a indumentária dos maçons, vestidos de modo a ocultarem totalmente a sua identificação. É uma representação que não corresponde à realidade, visto não se usarem capuzes nas sessões maçónicas. Esta representação é motivada pela errada conotação da Maçonaria como sociedade secreta. Além de outras falhas mais especificas (por ex., os três pontos das abrevaturas que não formam um trângulo regular como deviam), estas imagens iniciais estão relativamente correctas, vendo-se sobre a mesa do Venerável ( = Presidente) o candelabro de 7 braços, número característico do grau de Mestre e batendo o Venerável três vezes com o malhete de cada que usa a palavra. A expressão "irmãos da colónia do norte" não existe. Quando muito deveria ser "irmãos da coluna do norte". Está correcta a representação da loja, com o seu chão de quadrados pretos e brancos, simbolizando a possibilidade da conciliação dos opostos e das diferenças, através do trabalho maçónico, mas preservando o direito à especificidade. Este é um dos principais objectivos da Maçonaria, que surge expresso já nos antigos rituais do século XVIII. Combatem-se os "vícios": a tirania, a ignorância, os preconceitos e os erros, praticando-se as "virtudes": a justiça, a verdade e a razão. A fraternidade e a solidariedade são outros princípios que devem ser praticados não apenas entre irmãos. Tal o demonstra a espontânea preocupação do Venerável. Perseverança no trabalho maçónico, outra das ideias-força. Mas também desinteresse e voluntarismo. Perseverança e força mas igualmente beleza, eis a trilogia do perfeito trabalho do maçon. Alusão ao progresso do conhecimento humano, simbolizado na passagem aos sucessivos graus maçónicos.
A utilização de nomes simbólicos é uma tradição nas Maçonarias que sofreram perseguições, com o objectivo de proteger a identidade dos maçons. Incorrecto o toque na porta que, no grau de Mestre, deve ser feito nove vezes, em grupos de três. Incorrecta também a jóia que o maçon encarregue da porta (Guarda Interno) usa ao peito: devia consistir em duas espadas cruzadas.
Acumulam-se nestas vinhetas os erros maçónicos. Efectivamente, a jóia encontrada por Corto Maltese corresponde, pelo menos nos seus princípios básicos, a um grau das chamadas "Lojas de Perfeição" (graus 4º a 9º do Rito Escocês Antigo e Aceite), nomeadamente ao 7º, Preboste e Juiz ou Mestre Irlandês e não "Preboste e Juiz Irlandês". Não tem qualquer verosimilhança o que Téon afirma, de ser este um "grau intermédio entre uma sociedade secreta menor e outra superior" e de os seus membros serem "totalmente clandestinos". O grau 7º é simplesmente um grau na hierarquia dos altos graus do Rito Escocês Antigo e Aceite (que vão do grau 4º ao grau 33º), sendo aliás um grau que raras vezes é ritualmente praticado, passando os maçons por ele administrativamente. Mais uma vez surge a ideia errada da Maçonaria como sociedade secreta, aparecendo em paralelo com outras organizações ou seitas com as quais nada tem a ver. Esta analogia é aliás frequente, sendo das mais usuais o associar-se a Maçonaria aos Templários e a toda uma imagética cabalística, muitas vezes perfeitamente gratuita. Nota: as imagens aqui apresentadas encontram-se nos sites Corto Maltese - Paginas de Juan Jamon e Les albums de Corto Maltese e La Exposicóon La Masonería española.
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