Trabalhos: Os Rosa Cruzesin "Rebeldia", nº 2, Grémio Rebeldia, Lisboa, Maio 1988Muito se tem dito e escrito ao longo dos séculos sobre os Rosa Cruzes. Curiosamente, existem quatro organizações que se pretendem herdeiras históricas dos Rosa Cruzes milenares. Estas associações são estanques entre si, e diferem substancialmente, tanto nos métodos quanto na doutrina e organização. Faremos, seguidamente, uma ligeira abordagem a cada uma delas. Pedro Santos Pereira
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1- A Sociedade Rosa Cruz do Lectorium Rosicrucianum ou Escola Espiritual
Gnóstica da Rosa Cruz Áurea Os membros desta sociedade são recrutados por cooptação. Da leitura de alguns dos seus textos oficiais, podemos inferir um esoterismo de herança cátara. O princípio doutrinal característico dos cátaros era maniqueísta-dualista, isto é, defendia dois princípios universais, criados, um deles do mundo espiritual e o outro do mundo material. Atendendo a estes referentes, segue-se que a alma viverá no corpo em cativeiro, só encontrando a paz pela libertação do corpo material, recuperando a plenitude da sua vida espiritual; o divórcio dos dois elementos inconciliáveis é obtido pela morte, não sofrida mas abraçada como libertação - primeiro passo para a felicidade. Esta morte poderia ser obtida pela iniciação, através da intervenção das personalidades. O Lectorium diz-se crístico e joânico, referindo-se frequentemente aos Evangelhos, ao Apocalipse e ao Shamballah, nome que designa um centro subterrâneo no deserto de Gobi, centro do mundo onde se situaria a reincarnação de Christian Rosenkreuz, do qual o lectorium pretende ser emanação sua. Como atrás referimos, estes Rosa Cruzes pretendem-se crísticos mas não cristãos, já que rejeitam em absoluto, como inútil, todo o mecanismo da Igreja: os sacramentos, os sacrifícios do altar, a comunhão, os santos, a virgem, o purgatório, as relíquias, etc., etc.
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2- A Fraternidade Rosa Cruz, vulgarmente conhecida pela
associação ao nome do seu criador, Max Heindel, talbém faz o
seu recrutamento por cooptação, contando com milhares de adeptos
em todo o mundo. A doutrina é espalhada através dos livros de Max
Heindel, de cursos por correspondência e de palestras pronunciadas em
templos. A Astrologia e o desenvolvimento de faculdades mediúnicas e curativas são as bases da doutrina oficial, embora também esta organização se pretenda crística e joânica.
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3- A Ordem dos Irmãos Primogénitos da Rosa Cruz, ainda mais
secreta do que as anteriores, adopta o adágio taoísta: "tudo
aquilo que pode ser dito não merece ser conhecido", aplicando-se o termo
"conhecido" ao conhecimento integral, inexprimível e informal. A ordem pretende filiar-se, histórica e iniciaticamente, na tradição templária, da qual estes Rosa Cruzes seriam, desde o século XV, os únicos depositários, tendo recolhido aquilo que os processos de 1307 a 1314 tinham pretendido fazer desaparecer.
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4- A Ordem Rosa Cruz - AMORC, Antiga e Mística Ordem Rosa Cruz,
também conhecida até ao século XX por Antiquus Arcanus
Ordo Rosae Rubeae et Aureae Crucis, recruta os seus aderentes por meio de
publicidade e por cooptação. A AMORC estabelece uma
distinção entre os rosacrucianos, que são os seus
próprios aderentes, e os Rosa-Cruz, raros esses que atingem os mais
elevados graus da ordem. Com efeito, em cada mil pessoas que respondem à propaganda, em média 402 são admitidas nos graus de Atrium, 329 ao primeiro grau postulante. O décimo segundo grau, de Templo, apenas é atingido por uma média de 101 aderentes, sendo essa iniciação então realizada - consta - na câmara do rei da pirâmide de Keops, facto para o qual será a única organização autorizada em todo o mundo. Esta instituição compreende na cúpula a Suprema Grande Loja, em S. José da Califórnia, onde também existe uma Universidade, o Museu Egípcio Rosa Cruz, o Planetário e Museu de Ciências e o Templo Supremo. A instrução dos seus membros é efectuada em vários níveis:
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5- Considerações sobre o Simbolismo e Relações
entre as Organizações Apesar de tão heterogéneas, podemos no entanto detectar certos aspectos de concordância unívoca, que decompomos em três grandes grupos:
Uma das interpretações, à priori, é a de que poderemos encontrar no símbolo a cosmogonia hermética, onde a Cruz - signo masculino e espiritual - representa a divina energia criadora que fecundou a matéria da substância primordial, de que a imagem é a feminina Rosa, fazendo passar o ovo cósmico à existência do Universo, como professava Mestre Paracelso. A Rosa, que em todas as épocas, foi o símbolo da beleza, da vida, do amor e do prazer, expressava misticamente o pensamento secreto de todas as oposições manifestadas durante a Renascença. Era a carne revoltada contra a opressão do espírito; era a natureza declarando-se filha de Deus; era o amor que não desejava ser sufocado pelo celibato; era a humanidade aspirando a uma religião natural, toda feita de inteligência e amor, baseada nas revelações das harmonias do Ser, do qual a Rosa, para os iniciados, era o símbolo vivo e cheio de viço. A conquista da Rosa era o problema apresentado pela iniciação à ciência; à medida que a religião se ocupava em estabelecer o triunfo universal e exclusivo da Cruz (esta representa o homem e a sabedoria secreta para os hermetistas). A Rosa é o símbolo da fragilidade humana, e representa a eternidade da alma, e significa também o segredo guardado, porque se fecha sobre o coração, abrindo-se no momento de morrer. No plano esotérico, a Rosa inscreve-se nas quatro dimensões: comprimento, largura, espessura e tempo, e a Cruz na quinta dimensão dos Rosa Cruzes, a Mente Associada à Rosa, encontramos as subdimensões: forma, matéria; cor, perfume, todas reunidas na mais completa harmonia e defendidas pelos (guardiões) espinhos. A Rosa é, pois, uma criação excepcional, o emblema da Perfeição para a Grande Obra dos Alquimistas. Mas, como só entreabre as suas pétalas e revela o seu coração e o seu mais íntimo segredo, no momento em que vai perecer, é também o símbolo da Morte. Segredo ciosamente guardado, Perfeição e Morte, tudo se encontra na Rosa. A Cruz, como já dissemos, é a sabedoria do Salvador, do Deus feito homem, é o conhecimento do iniciado. Sabedoria mantida secreta, tal é a Rosa sobre a Cruz, a Rosa Cruz. Não encontramos aqui uma analogia com o inefável segredo maçónico? Não está o ritual maçónico todo ele impregnado do simbolismo Rosa Cruz, do mais rudimentar ao dos mais elevados graus? Tanto quanto podemos apurar, a Ordem Rosa Cruz AMORC e a dos Irmãos Primogénitos saúdam os seus irmãos Maçons como os actores activos no mundo profano sócio-econóomico-político, elegendo esta suposta Ordem como uma escola de aperfeiçoamento humano inspirada nos princípios da justiça, tolerância, igualdade, liberdade e fraternidade, reservando-se os Rosa Cruzes um papel mais místico, contemplativo, meditativo, isto é, passivo e espiritual.
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Nota: a imagem aqui apresentada está presente no site da Societas Rosicruciana in Civitatibus Foederatis - California College. Esta página é igualmente membro do E-M@ason Web Ring, uma vez que a S.R.I.C.F. apenas admite maçons.
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