Um Estado Menor - Para os Mais Necessitados

 

Carlos Alberto Americano (Procurador do Estado de São Paulo)

 

Os números são impressionantes. Fala-se em mais de 5 bilhões para tapar o buraco do Nacional; outro tanto para resolver os problemas do Econômico. Os coitados dos usineiros necessitam mais 5 bilhões. Só aí temos 15 bilhões de reais - ou de dólares - para salvar empresários que, em virtude de imprudência e incapacidade, quebraram os respectivos negócios. Em virtude de inúmeras razões, explicitadas nebulosamente pelas autoridades políticas, econômicas e financeiras, o Brasil não pode permitir que tais figurões ou que tais companhias caminhem para a falência. Daí porque APARECE O ESTADO SALVADOR, E OS RESGATA DA QUEBRA. Como disse a CNBB, "não é justo salvar quem economicamente já está salvo ou já acumulou ingentes riquezas através de fraude ou do roubo" (Nota divulgada em 29.2.96 - "Folha" de 01.3.96).

Tendo em vista tal quadro, não se pode falar em redução do papel do Estado na Economia. MUITO PELO CONTRÁRIO.

Os atuais governantes, no entanto, trombeteiam que o Brasil precisa se modernizar, entrar no terceiro milênio, globalizar a economia, liberar as amarras, REDUZIR O TAMANHO DO ESTADO.

Foi visto que, para socorrer os poderosos, o Estado deve, não ser diminuido, mas, ao contrário, crescer. A solução, portanto, É REDUZIR O TAMANHO DO ESTADO RELATIVAMENTE AOS MAIS NECESSITADOS! Estranho paradoxo.

Isto tem sido feito, e com grande eficiência.

O Japão, grande potência econômica, percebeu que há que se proteger aquele que TRABALHA. Lá, a não ser em casos excepcionais, ninguém é despedido. A pessoa tem, apenas, um emprego, e sempre na mesma companhia. Apesar disto, ou por causa disto, a produtividade no Japão bate recordes.

Aqui, na área privada, a "revolução redentora" acabou com o instituto da Estabilidade. Hoje, os profissionais de nível superior - engenheiros, advogados, economistas, etc. - bem como os trabalhadores manuais, quando se aproximam dos cinqüenta anos, vêem em seu redor o fantasma do desemprego. Uma possível diminuição de suas faculdades físicas e mentais faz com que as empresas os despeçam para contratar outros, MAIS JOVENS, COM MAIS ENERGIA, E GANHANDO MENOS. O menos favorecido sofre, com o Estado menor. Quantos enfartos foram causados por tal situação, quanta depressão e quanta miséria?

O mesmo sistema querem implantar no setor público. Neste, existem agravantes. Cada administração quererá empregar seus apaniguados, em detrimento do funcionalismo existente, além de ser evidente que a ameaça do desemprego tornará o funcionalismo - com as exceções de praxe - mais infenso a resistir a manobras espúrias do administrador.

Querem diminuir o Estado na Economia, vendendo as estatais, quer as produtivas, quer as improdutivas. A passo acelerado, pretende-se transferir às mãos privadas a VALE DO RIO DOCE, e as riquezas minerais, por ela detidos. POR TREMENDO AZAR, descobriu-se enorme mina de ouro, que pertende à VALE e irá, fatalmente, aumentar seu preço e, em conseqüência, diminuir o lucro do felizardo grupo que a adquirir. Aliás, a empresa que está avaliando o seu preço é a mesma que auditava o balanço do BANCO NACIONAL nos ultimos anos, com impressionante eficácia!!! Não conseguiu perceber que ativos, no valor de 5 bilhões de dólares, NÃO EXISTIAM!

Em suma, o Brasil continua o país dos paradoxos, aliás, como o eram a França, antes de 1789 e a Rússia, antes de 1917.