EAgoraDrummond?


Sabendo que muitas vezes o aluno de Segundo Grau tem dificuldade para analisar poemas da Literatura Brasileira, nosso Site Literatura & CIA está se propondo a ajudar o aluno dde Segundo Grau a compreender alguns autores da nossa Literatura. Assim como fizemos em Breve contato com Manuel Bandeira, elegemos Carlos Drummond de Andrade. Primeiramente, por ser um dos maiores poetas, senão o melhor da nossa Literatura, segundo por estarmos celebrando os 10 anos de sua morte no dia 17 de agosto de 1997.

Se você não conhece Drummond, não tem problema, conheça-o através das palavras que ele tão bem usou em suas poesias. Em Confidência do Itabirano, Drummond fala de sua cidade, Itabira em Minas Gerais, apontando a riqueza da cidade, o ferro, como característica principal e ainda evoca o passado com melancolia ( Itabira é apenas uma fotografia na parade, Mas como dói.) Vejamos:

Confidência do itabirano


Alguns anos vivi em Itabira
Principalmente, nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento d ferro nas calças.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.


A vontade de amar, que me paralisa o trabalho
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
É doce herança itabirana.


De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

O nascimento do poeta aconteceu em 31 de outubro de 1902, Ele se sentia isolado e à margem do mundo de seu tempo. Tenta pela poesia tradicional resolver sua angústia, mas não consegue, vivendo sempre em conflito, reconhecendo sua fraqueza, finalmente consegue fugir pela ironia( última estrofe).

Poema das sete faces


Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombras
disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida.


As casas espiam os homens
Que correm atrás das mulheres
A tarde fosse azul.
Não houvesse tantos desejos.


O bonde cheio de pernas:
Pernas brancas pretas e amarelas
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração


Porém meus olhos
não perguntam nada.


O Homem atrás do bigode
É sério simples e forte
Quase não conversa
Tem poucos, raros amigos
O homem atrás dos óculos e do bigode


Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era um fraco.


Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução
mais vasto é meu coração


Eu, não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Em

A Procura da Poesia

o poeta faz uma anti-poema, em busca da palavra.Tentando procurar a poesia, ultrapassando seus limites
.

A Procura da Poesia


Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia
Diante dela, a vida é um sol estático
não aquece nem ilumina
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.


Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.
Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro.
são indiferentes
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.


Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo ds casas.


Não é música ouvida de passagem: rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma
O canto não é a natureza
nem os homens em sociedade.
Para ele, chuve e noite, fadiga e esperança nada significam


A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto


Não dramatizes, não invoques,
não indagues. Não percas tempo em mentir
Não te aborreças
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família.
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.


Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação
Que se dissipou, não era poesia
Que se partiu, cristal não era.


Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero
há calma e frescura ma superfície intata
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consuma
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio


Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o.
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada no
espaço.


Chega mais parto e contempla as palavras
cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta
pobre ou terrível, que lhe deres:
Touxeste a chave?


Repara:
ermas de melodia e conceito,
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmida e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.

Veja agora o que ele disse sobre o amor.

Restos


O amor, o pobre amor estava putrefato.
Bateu, bateu à velha porta, inutilmente.
Não pude agasalhá-lo:ofendia-me o olfato.
Muito embora o escutasse, eu de mim era presente.

O Quarto em desordem


Na curva perigosa dos cinqüenta
derrapei neste amor. Que dor!que pétala
sensível e secreta me atormenta
e me provoca à síntese da flor


que não sabe como é feita: amor
na quinta-essência da palavra, e mudo
de natural silêncio já não cabe
em tanto gesto de colher e amar


a nuvem que de ambígua se dilui
nesse objeto mais vago do que nuvem
e mais indefeso, corpo! Corpo, corpo, corpo


verdade tão final, sede tão vária
a esse cavalo solto pela cama
a passear o peito de quem ama.

Veja um pouco da sua poesia voltada para as causas sociais, na esperança de ver um mundo melhor.

No título do poema já notamos a a dicotomia que o poeta vive entre objetivo e subjetivo, razão e emoção. O poeta puro, ( vou de branco) perambula pela cidade observando a sociedade. Só, encontra na poesia espaço para colocar suas observações do mundo cinzento. Tem nojo ao ver o homem passivo ser devorado pelos acontecimentos. Ao nascer uma flor, surge uma esperança de uma sociedade sem distorções sociais.

A Flor e a Náusea


Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?
.........................................................
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse
Em vão me tento explicar, os muros são surdos
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.


Vomitar esse tédio sobre a cidade,
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para a casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

..........................................................
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não est'nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.


Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da trade
e lentamente passo a mão nessa forma insegura
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

Bibliografia em poesia.


Alguma Poesia ,


Brejo das Almas ,
Sentimento do Mundo,
José,
A rosa do povo,
Novos poesmas,
A mesa,
Claro enigma,
Viola de bolso,
Fazendeiro do ar,
Ciclo,
Soneto da buquinagem,
Viola de bolso II,
Versiprosas,
Boitempo,
Nudez,
Reunião,
Menino Antigo( Boitempo II) ,
Esquecer para lembrar ( Boitempo III),
Corpo,
Amar se Aprende Amando,
Poesia errante,
O amor natural,
Paixão Medida
Farewell.

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