Conto
Conto

Um história do futuro


Moradores privilegiados vivendo na boca do lixo, na prostituição e esses ainda olham para o céu e agradecem por pelo menos terem algo para comer. Isso porque ainda havia restos de carne num latão misturado com os melhores e os mais bem usados papéis higiênicos.

Num canto, uma mãe estava tendo um filho. O nenenzinho saiu aos berros parecendo que já imaginava o que o mundo guardava para ele. A mãe tremia de fraqueza, fazia semanas que não comia algo de verdade. Olhava para o filho récem nascido, não com os olhos de amor e maternidade. Aquilo não era um filho, era só mais um bicho que cresceria no submundo mais cruel e sangrento.

Não havia a mínima razão de deixá-lo com vida, havia somente o pensamento de que ele, mesmo tão pequeno e tão frágil, poderia servir de alimento para uma mãe faminta.

Num momento crucial, onde já não esperamos mais a esperança para viver, tudo é válido. Num mundo que se alimenta de ratos que aparecem dos bueiros e de baratas que andam tranqüilamente entre os humanos, nada mais impressionava. Antes que ela pudesse tomar a decisão, apareceu um homem. Ele fedia como um cachorro de rua, tinha uma barba grossa e suja, mas mesmo tão nojento, a mulher ainda lhe deu atenção. Até porque ela também fedia, ela também comia as próprias fezes como todos ali. O sujeito olhou com uma expressão suculenta para a criança, a mãe — não tentando proteger o filho, mas o alimento — o empurrou fazendo ele cair sobres os sacos azuis de lixo.

Ela não precisou falar nada, o seu isntinto animal era capaz de devorar, além do filho, o próprio homem. Mas ele também não estava nada feliz, aquela expressão de delícia foi substituída por uma expressão de ódio e de sobrevivência.

Um som foi produzido pela mulher que olhava atenta para os movimentos do seu inimigo, uma espécie de ronco e ruivo. Um filete de baba escorreu pela sua boca até que ela se levantou ainda suja de sangue e pedaços da bolsa que antes protegia o bebê.

O homem pulou sobre ela e tentou ferir, antes de tudo, o seu pescoço. Mas a mãe não iria desistir tão fácil; seus caninos morderam o braço dele e, com vontade, ainda teve tempo de sugar um pouco do sangue para alimento. Ele a socou na barriga ainda frágil pelo parto. Socou várias vezes, até que ela começou a gemer e a gritar.

Ninguém saiu da sua rotina de procura de comida para socorre-la. E os dois continuram com a luta; só um deles poderia sobreviver. A mulher já não aguentava mais tantos golpes na barriga, fingiu então estar morta. Só quando o homem viu a sua cabeça cair para o lado e que parou.

Como um leão ou talvez como um urubu a procura da carniça, ele olhou para o bebezinho ainda molhado pelo plasma. O homem sorriu frio e sádico, se aproximou da pequena criatura e, antes de experimentar o prato, cheirou a parte genital constituindo um costume já muito usado pelos predatores. Aquele cheiro de podridão e vômito, aguçou ainda mais o seu apetite.

Lambeu o corpo da criança vagarosamente e depois deguçou o gosto do plasma na sua boca. Colocou a mão na cabeça do alimento e rapidamente quebrou seu pescoço. Agora sim pode mordê-lo começando pela virilha. Um delicioso gosto de comida, mesmo que totalmente desumana, invadiu todo o seu ser.

No fundo, no fundo, sabia que tempos atrás aquilo seria totalmente masoquista com o seu estômago, mas agora o importante era se alimentar. Independente da maneira e do esforço que se consigara o alimento.


Bruno Moreschi
Colaboração de Bruno Moreschi, 15 anos, Maringá -Pr.
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