Leia o brilhante artigo de Dagomir Marquezi, em que ele
comenta as suas sensações ao jogar o Gran Turismo 3!
Realismo alucinante
Reserve um tempo para se recuperar depois de pilotar um dos carros do Gran Turismo 3
Esse negócio de carros e videogames
não é brincadeira. Brincadeira eram aqueles joguinhos de
arcade, com o carrinho se enfiando por labirintos e soltando fumacinha
para se livrar de rivais. Um Pacman de rodas. Aí vieram as muitas
evoluções para computadores e consoles. Simuladores de Fórmula
1, de Fórmula Indy, ralis. Mas até agora tudo parecia um
brinquedinho de criança. Entramos num território novo.
Não está fácil avançar
nesse território enquanto o dólar estiver tão alto,
mas já é possível. Em primeiro lugar você precisa
de um console PlayStation 2, que dispara a 1500 reais. Em segundo lugar,
fazer como quase todos os compradores do PS2: escolha como seu primeiro
jogo o Gran Turismo 3.
Ligue seu PlayStation a um bom monitor, às
cinco caixas mais subwooffer de seu sistema de som. Pilote seu carro
com um kit de volante e pedais. Sinta a direção vibrar quando
passa por um buraco. A imagem, de tão real, pode fazer você
perder a noção da realidade.
O feliz usuário tem à sua disposição
nada menos que 37 marcas, de Acura a Volkswagen, passando
por Alfa Romeo, Aston Martin, Audi, BMW, GM,
Citroën, Fiat, Honda, Lancia, Mazda,
Mercedes, Opel, Renault, Shelby, Subaru
e Toyota.
Existem pistas para todos os gostos, da oval
asfaltada a complexos circuitos de rali. Mas a magia do GT3 vai
além de máquinas e performances. Nunca antes um simulador
de carros tinha conseguido tanto realismo numa nuvem de poeira, nos reflexos
do pôr-do-sol ou no rastro de pneu deixado por uma arrancada.
Quem gosta de correr sai mais que satisfeito
de uma hora alucinada com o jogo. E precisa de algum tempo para voltar
à realidade. Em matéria de simuladores de corrida, ele é
provavelmente o ápice, até agora. O que me faz refletir.
Quantos simuladores de corrida existem no mercado? Dezenas? Centenas? Tem
até aquele (banido das lojas) onde vence quem atropelar mais gente.
Eu me pergunto: será que um dia, entre
tantos games de corrida, não haverá um que ensine a dirigir?
Um simulador didático para pessoas que queiram tirar carteira de
habilitação ou simplesmente treinar a arte de dirigir bem?
Um game que identifique os erros que você
comete, que ensine como ultrapassar outro veículo em segurança,
que avise se você entrou numa rua sem dar o sinal. Não seria
um grande presente para o pessoal de 17 anos que está louco para
dirigir? Um programa desses poderia ser adotado em todas as escolas e a
educação do trânsito poderia virar algo muito divertido.
Parece um sonho do Justiceiro, meu colega
da última página [da revista Quatro Rodas]. Simuladores
de corrida como o Gran Turismo 3 podem ser muito úteis para
que a gente descarregue nossos instintos de Schumacher sem ferir
ninguém. Eu, pessoalmente o certinho do trânsito, viro o motorista
mais doido do mundo num simulador.
Dagomir Marquezi
dmarquezi@abril.com.br
“Nunca um simulador de carros conseguiu tanto realismo nas imagens”