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Art. 227 da constituição: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e a convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Sempre me impressionou o fato de Jesus ter colocado como modelo do Reino de Deus não um religioso, um sacerdote, um pai, uma mãe, um santo, um sábio, mas uma criança. O que uma criança tem de especial para servir como exemplo? O que existe de maravilhoso no rosto de um bebê que acaba de nascer? Por que Deus quis tornar-se uma criança? Por que Jesus se identifica totalmente com a criança?

Criança, teu nome é confiança, resistência, inocência, alegria, naturalidade, curiosidade, amor.

A criança nasce com um sentido básico de confiança. Sua vida é único ato de fé. Por isso não duvida e não tem medo de nada e de ninguém. Aceita qualquer coisa como verdade. Confia incondicionalmente na ternura da mãe, nos braços do pai, confia na beleza da vida, no mistério do AMOR. Exatamente assim Jesus queria, que toda nossa vida fosse ancorada em Deus, entregando-nos a Ele com absoluta confiança. Abandonar-se plenamente nas mãos de quem nos ama, eis o segredo da criança, eis o segredo da felicidade. A confiança é a alma da intimidade, o fundamento do amor e da fraternidade. Sem confiança a vida torna-se infernal, o mundo um lugar perigoso, a existência uma arma de angústia.

A confiança é a ponte maravilhosa sobre o abismo do medo. O medo paralisa a energia vital, o medo faz a criança mentir para não perder a aprovação dos pais. Nada mais importa do que viver e crescer num clima de confiança total para poder confiar plenamente na presença de Deus.

A criança tem uma capacidade extraordinária de resistir ao sofrimento causado pelos outros e pelo anbiente em que vive.

Basta observar uma criança que aprende a andar. Mesmo caindo dezenas de vezes, mesmo se machucando, mesmo chorando por alguns momentos, ela não desiste, cai, levanta, até alcançar o objetivo e saborear a vitória.

Todas as crianças nascem com vitalidade, energia, coragem, perseverança, flexibilidade, com energias gigantescas que os adultos perderam. Por isso superam facilmente doenças, feridas, ambientes difíceis: se recuperam com facilidade imensa devido aos dinamismos interiores que parecem milagrosos. A criança nasce com sabedoria inata e por isso é fiel ao próprio coração, é flexível, capaz de adaptar-se a qualquer ambiente.

Acriança nasce bela, única, especial, preciosa, original. É um novo mundo que desponta. No rosto da criança brilha o resto de Deus. No olhar da criança nos fascina a inocência original do paraíso. No coração da criança sentimos a própria fonte da vida, imensurável, inefável, incomparável, inestimável.

Deus é sinônimo de vida, de amor. Por isso a vida é tão sagrada. Cada criança é uma nova edição do Amor de Deus no mundo. Cada criança é a morada de Deus. A dignidade e o valor de uma criança superam imensamente todo ouro e todo dinheiro do mundo.

Todas as crianças nascem inocentes da própria fonte de vida. Sua face original é luminosa, amorosa, divina. Os pais geralmente distorcem, desfiguram, abafam a face original dos filhos, interferem demais por causa do medo e das ambições insatisfeitas.

Quem estraga, quem bloqueia o caminho das crianças são os adultos devido a mil condicionamentos, preconceitos e modelos falsos.

A criança não tem maldade, é livre de pecados pessoais. Não existe criança má. Uma criança que anda nua na praia é como a rosa, sempre bem vestida. Quem mancha a alma das crianças com sentimentos de descofiança, falso pudor e vergonha são os adultos que não respeitam sua inocência, sua grandeza, sua importância, sua luminosidade, seu brilho, sua individualidade, sua semelhança com Deus.

O estado natural da criança é a felicidade. A felicidade é a sua essência. Ela nasce com essa energia borbulhante de pular, dançar, gritar, cantar, brincar. Os adultos são sérios demais, severos demais, rígidos demais, complicados demais, calculistas demais, dramáticos demais.

Ser humano é saber brincar. Amadurecer é viver o entusiasmo, a vibração com que bricávamos na infância. Ser criança é ser lúdico.

Crianças encontram humor em todas as coisas, mantêm o dom do sorriso nas circunstâncias mais sérias. Brincam com pedras e pratos e paus, jóias e bugigangas, se divertem com todas as coisas, com todas as pessoas. Vivem um clima natural de felicidade e entusiasmo. Sua risada alta e espontânea descongela qualquer pessoa. Quantas vezes encontramos crianças dançando felizes nas festas de casamento, enquanto os convidados estão sentados sérios demais à mesa comendo e bebendo. A criança é protagonista da comicidade.

"-Agora eu quero todos quietos - disse a professora - Tão quietos que se possa ouvir um alfinete caindo no chão.

Um profundo silêncio desceu sobre a sala de aula. Depois de alguns segundos uma voz angustiada do fundo da sala gritou:

O encanto, o fascínio da criança é sua tremenda naturalidade, sua natureza original. Ela manifesta seu modo de ser em tudo que faz, desvelando sua identidade genuína na maneira de amar, de brincar de se entregar inteiramente a cada instante, a cada acontecimento, de se concentrar, na maneira de ser criativo, de ser imprevisível, imaginativo, de cantar, pular, dançar, expressar os sentimento de amor, alegria e esperança.

A criança vive o que é, sem máscara, sem hipocrisia, sem aparência, sem artificialismo. Ela é seu próprio espelho.

Quando vive medrosa, inibida, desconfiada, porque já é vítima de programações negativas por parte da sociedade, vítima de sistemas perfeccionistas, de humilhações, de temores e tabus, de pressões e preconceitos, de normas baseadas na vergonha e no autoritarismo, de deturpações e deformações, de ambientes de raiva, de ciúme, de repressões, de desamor.

A franqueza da criança nos desarma como a criança da fábula: "Os novos trajes do imperador - O rei está nu." Percebe logo se as pessoas são coerentes e razoáveis.

Ser criança é viver a arte de aprender a magia de descobrir, de sonhar, de sentir, de criar, não é apenas ser, mas sobretudo poder-ser, chegar a ser, ser mais, viver sua aventura humana, poder-encontrar, poder-fazer, poder-conhecer, poder-olhar, poder-escutar, poder-tocar, poder-cheirar, poder-saboear, poder-experimentar, poder-caminhar.

Nasce com uma curiosidade insaciável, com o dom da admiração, o sentimento da maravilha. A criança por natureza é poeta, mística, um ser filosofante em comunicação permanemte. Ela é pergunta e resposta, pois convive a dialoga consigo mesma. Vive impregnada de um mundo mágico e invisível. Diante das deiversas situações e circunstâncias, a partir de cada instante, do lhe acontece, pergunta sem medo:

Cada manhã, cada acontecimento, cada rua, cada brinquedo, cada peixe, cada pássaro, cada flor, cada pessoa, o sol como o luar, a praia como o mar, tudo é fonte de surpresas, descobertas, maravilhas. O sentimento de admiração faz da criança uma artista que sente e vê o mundo com um coração encantado; como aquela menina que pela primeira vez viu o mundo do alto do Corcovado, dizendo: - Mamãe, mamãe, veja só o céu caiu na terra!

Sua necessidade fundamental é ser amada para poder amar. O amor é nossa essência. Amor e felicidade são irmãos gêmeos, inseparavelmente unidos. Só podemos ser felizes amando. A gente ama uma criança por ela mesma. No seu mundo não contam aparências, títulos, diferenças de posse, poder, eficiência, fama, sucesso. Uma criança não possui nada, não tem nada, não sabe nada, não faz nada, não quer impressionar, não quer aparecer, não tenta conseguir aplauso e admiração, não se compara e não tenta conseguir aplauso e admiração, não se compara e não compete com ninguém. Vive na bem-aventurança da sua própria identidade. Ela é amada e aceita incondicionalmente como pessoa única, preciosa, especial.

Quando essa exigência básica é atendida, a energia do amor da criança flui ilimitadamente como um rio que envolve pedras e peixes com a mesma ternura.

Nada e ninguém lhe é estranho, perigoso e alheio, tudo é bem-vindo, amigo e familiar.

O sentimento de importância, de valor e dignidade depende da certeza e segurança desse amor. Quando a criança não é amada por ela mesma, sofre a maior frustração, o maior trauma, capaz de bloquear toda uma vida.

Ninguém resiste à ternura, ao sorriso, à simplicidade de uma criançinha. Jesus quis nascer criança para que ninguém tivesse medo, para que todos pudessem tomar esta criança nos braços e amar como ela nos amou.

Toda criança é vida, esperança, júbilo, amor, luz, certeza de um mundo novo e melhor. Sobretudo, quando esse maravilhoso ser que é a criança, é o próprio Jesus, desde a noite de Natal.