Anexo I
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Questionário submetido pelo autor ao Dr. Ivan Izquierdo

 

1.      Professor Ivan, o Sr. relata em seus estudos que situações de fortes emoções (ex: traumas)  onde a amígdala  é hiperestimulada, no momento imediato à aquisição da memória, impedem a consolidação da mesma. No entanto, o psicólogo Ruy  Fernando Cruz Sampaio, do Instituto de Crimininalística de Curitiba, aplica a técnica de  hipnose em vítimas de estupros e assaltos (uma média de 07 casos por mês), obtendo quase 100% de sucesso na construção do retrato falado do criminoso. Estas vítimas de situações traumáticas são incapazes de, conscientemente, recordar-se do criminoso. Entretanto, induzidas a um estado  hipnótico, o fazem. Como o Sr. explica esta situação?  Poderia existir somente a inibição da evocação consciente e voluntária destas memórias, estando elas disponíveis no inconsciente?

R:  Sim

 

2.      Com relação  a questão anterior. O mesmo procedimento foi adotado  pelo Sr. Ruy  Sampaio para obter os números  de placas  de automóveis envolvidos em acidentes. O Sr. acredita  que num estado hipnótico, poderíamos descrever com requinte de detalhes e na sua totalidade, cenas que conscientemente lembramos  apenas parcialmente?  Isto significaria que nossa memória poderia ser comparada a um gravador permanentemente ligado e que a seletividade  seria aplicada apenas na evocação consciente dessas memórias, evitando assim, a sobrecarga no processamento de informações. Esta é uma hipótese viável?

 

 R: A hipótese faz sentido. Não vejo como prová-la, contudo.

 

3.      Alguns autores, como Alain Lieury, consideram a possibilidade do hipocampo ser uma espécie de arquivo de índices ou referências para memórias definitivas em outras partes do córtex. Esta afirmação é correta? Se for, por que ele não é mais necessário, após determinado período, para a evocação dessas memórias?

 

R:  É impossível demonstrar se isso é ou não verdade. Há evidências de que não      seja.

 

4.      Professor Izquierdo, conforme a literatura (ex: o caso do paciente H.M. e o mal de Alzheimer) o hipocampo é essencial na consolidação das memórias a longo prazo e mesmo após esta consolidação, por um período de aproximadamente dois anos ainda é necessário na evocação destas memórias (haja visto o caso do paciente H.M. ter perdido memórias de até aproximadamente dois anos antes da cirurgia). Porque o hipocampo participa destas evocações, se o processo bioquímico de consolidação deveria durar apenas horas?

 

R: (Esta resposta aplica-se as perguntas 3 e 5 também). a) A evocação é um processo distinto e separado da consolidação da memória. A consolidação leva 3-6 h, e requer uma cadeia bioquímica no hipocampo e em outros lugares hoje bastante bem conhecida. A evocação requer uma série de processos diferentes, nas mesmas e em outras estruturas. Alguns deles são, e outros não, parecidos com os que intervêm na consolidação. Há amnésias por déficit de consolidação, e amnésias por falhas de evocação. No Alzheimer existem as duas. b) O hipocampo não atua em isolamento. Atua formando parte de redes complexas e variadas, diferentes para cada memória e sem dúvida para cada tipo e para cada fase da memória. Essas redes envolvem o córtex entorrinal e outras regiões corticais. São diferentes, e atuam de maneiras diferentes, na formação das memórias de curta duração (1-5 h), longa duração e na memória remota, e na evocação de cada uma delas. Além disso, em cada caso são moduladas em forma distinta por vários sistemas cerebrais: dopaminérgico, noradrenérgico, serotoninérgico, colinérgico, etc.

 

5.      Existe na literatura, alguma referência à lesões específicas do hipocampo que envolvam amnésia  abrangendo períodos superiores há dois anos antes da ocorrência da lesão?

R:  Não. Ver resposta anterior Hoje em dia já ninguém acredita muito nos dados obtidos com lesões ou outros tratamentos "permanentes"; basicamente porque são incapazes de distinguir entre as diferentes fases da memória (aquisição, consolidação, armazenamento, evocação). Também porque não distinguem entre efeitos devidos à extirpação da estrutura, e outros devidos à intervenção de estruturas vicariantes ou substitutivas. Ver um artigo meu em Trends Neurosci, 1998, que virou clássico e explica isso em detalhe.

 

6.      Como o hipocampo sincroniza no tempo os diversos estímulos perceptuais (visuais, olfativos, auditivos...) pertencentes a uma determinada cena, recebidos  através da região transacional (áreas perirrinal e do parahipocampo), a fim de formar um contexto único ? E como estas informações de diferentes espécies ficam relacionadas entre si?

 

R:  Não se sabe exatamente como.

 

7.      Em um sistema computacional, bits armazenados  em um disco magnético, através da polarização de uma superfície, são traduzidos em informações sobre  pixels (pontos) de uma tela do monitor de vídeo para recriar assim uma imagem armazenada. Qual a teoria mais plausível atualmente sobre o tipo de decodificação  utilizada pelo cérebro  para traduzir impulsos elétricos e reações químicas das redes neurais  em representações de imagens, sons, odores e outras sensações de determinada lembrança? Resumindo, o que sabemos  sobre qual o tipo de código usado pelo cérebro para armazenar nossas memórias?

 

R:  Nada concreto.

 

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