Particularidades do nosso Romantismo

 

A Independência política, de 1822, desperta na consciência de intelectuais e artistas nacionais a necessidade de criar uma cultura brasileira identificada com suas próprias raízes históricas, lingüísticas e culturais.

O Romantismo, além de seu significado primeiro, o de ser uma reação à tradição clássica, assume em nossa literatura a conotação de um movimento anticolonialista e antilusitano, ou seja, de rejeição à literatura produzida na época colonial, em virtude do apego dessa produção aos modelos culturais portugueses.

Portanto, um dos traços essenciais de nosso Romantismo é o nacionalismo, que orientará o movimento e lhe abrirá um rico leque de possibilidades a serem exploradas. Dentre elas se destacam: o indianismo, o regionalismo, a pesquisa histórica, folclórica e lingüística, além da crítica aos problemas nacionais, todas elas posturas comprometidas com o projeto de construção de uma identidade nacional.

Tradicionalmente se tem apontado a publicação da obra Suspiros poéticos e saudades (1836), de Gonçalves de Magalhães, como marco inicial do Romantismo no Brasil. A importância dessa obra reside muito mais nas novidades teóricas de seu prólogo, em que Magalhães anuncia a revolução literária romântica , do que propriamente na execução dessas teorias.

No prefácio de seus Suspiros poéticos e saudades, intitulado "Lede", Gonçalves de Magalhães critica a imitação aos clássicos e defende uma poesia voltada para a natureza, para os sentimentos e para Deus. Formalmente, propõe maior liberdade na criação. Diz ele: "Quanto à forma, isto é, a construção, por assim dizer, material das estrofes, e de cada cântico em particular, nenhuma ordem seguimos; exprimindo as idéias como elas se apresentaram, para não destruir o acento da inspiração".