NÚCLEO DE ESTUDOS EM HISTÓRIA DEMOGRÁFICA

BOLETIM DE HISTÓRIA DEMOGRÁFICA

Ano I, Número 2 - Julho de 1994

SUMÁRIO

Apresentação

Por uma definição de Demografia Histórica

Estatísticas Retrospectivas

Resumos

Publicações Recebidas

Aos Colaboradores

 Editores deste número: Renato Leite Marcondes e Nelson Nozoe

 

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APRESENTAÇÃO

Neste segundo número do Boletim estampamos um artigo de Iraci Costa, que propõe uma delimitação de um campo de estudo para a Demografia Histórica. Consta também uma versão modificada da série de estimativas da população brasileira entre 1550 e 1872, originalmente elaborada por Clotilde Paiva et alii e publicada pela FIBGE em Estatísticas Históricas do Brasil. No presente número, damos a público, ainda, os resumos dos artigos de interesse dos pesquisadores da área e que figuraram na revista Estudos Econômicos desde sua primeira edição até o volume 23(2). A relação das publicações recebidas compõe a seção final deste Boletim.

 

ARTIGO

POR UMA DEFINIÇÃO DE DEMOGRAFIA HISTÓRICA.

Iraci del Nero da Costa

Ao propormos uma definição -- que entendemos como preliminar e provisória -- para a demografia histórica, visamos, tão-somente, a contribuir para o debate sobre o tema, estimulando, desta forma, a reflexão sobre o caráter que este ramo do conhecimento assumiu entre nós. Ademais, justamente por esperarmos que nossa proposição desperte críticas e suscite polêmicas, não nos deteremos em explicá-la ou justificá-la. Assim, guardamos nossas opiniões para trazê-las à tona, se necessário, no correr do diálogo que estamos procurando desencadear. Isto posto, vejamo-la.

A demografia histórica, que tem como objeto precípuo de estudo das populações humanas do período pré-censitário (o qual engloba os períodos pré e proto-estatísticos), é o campo da Ciência Social que -- estabelecendo, in totum ou parcialmente, o estado e os movimentos daquelas populações -- procura identificar as causas e conseqüências dos mesmos, bem como explicitar as inter-relações destes com outros elementos da vida em sociedade. Para tanto, lança mão, também, das técnicas e dos conhecimentos das demais ciências e desenvolve técnicas e modelos próprios, utilizando, além dos dados tradicionalmente considerados pela demografia, todas e quaisquer fontes que possam servir ao seu escopo. Presentes estas fontes e aquelas técnicas e modelos, a demografia histórica estende-se ao período censitário. Cumpre observar, ademais, que os resultados propiciados pela demografia histórica não se limitam ao campo estrito dos fenômenos tidos como puramente demográficos, pois também dizem respeito aos demais campos da Ciência Social.

 

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ESTATÍSTICAS RETROSPECTIVAS

BRASIL: ESTIMATIVAS DA POPULAÇÃO

(1550-1872)

____________________________________________________________________________

AUTOR (fonte)................................................ANO...........................POPULAÇÃO ESTIMADA

_____________________________________________________________________________

Félix de Contreiras Rodrigues (a)....................1550............................... 15.000

Félix de Contreiras Rodrigues (a)....................1576...............................17.100

Pandiá Calógeras (a)..........................................1583...............................57.000 (1)

Varnhagen (b).....................................................1585...............................57.000

Félix de Contreiras Rodrigues (a).....................1600..............................100.000 (2)

Félix de Contreiras Rodrigues (a).....................1660...............................184.000 (3)

Félix de Contreiras Rodrigues (a).....................1690..............................184.000 a 300.000

Thomas Ewbank (a)...........................................1766..............................1.500.000

Dauril Alden (dados originais) (c)....................1776.............................1.505.706

Dauril Alden (dados ajustados) (c)...................1776..............................1.555.200

Abade Corrêa da Serra (d)................................1776..............................1.900.000

Dauril Alden (dados revisados) (c)...................1770/79........................de 1.710.720 a 1.866.240

Félix de Contreiras Rodrigues (a).....................1780.............................2.523.000

Thomas Ewbank (a)...........................................1798.............................3.000.000

Félix de Contreiras Rodrigues (a).....................1798.............................3.250.000 (4)

Clérigo Santa Apolónia (c)................................1798..............................3.250.000

Alexander von Humboldt (c).............................1798..............................3.800.000

Abade Corrêa da Serra (c)................................1798.............................4.000.000

Dauril Alden (dados calculados) (c) ...............1798..............................1.989.633

Dauril Alden (dados revisados) (c)...................1798.............................de 2.188.596 a 2.387.559

Alexander von Humboldt (a) (circa).................1800.............................3.650.000 (5)

Memória Estatística do Império... (e)................1808.............................2.419.406

D. Rodrigo de Souza Coutinho (d)..................1808.............................4.000.000

Alexander von Humboldt (d).............................1810.............................4.000.000

Adriano Balbi (a)................................................1810..............................3.617.900 (6)

Conselheiro Velloso de Oliveira (d) ...............1815.............................2.860.525 (7)

Henry Hill (d).....................................................1817.............................3.300.000 (8)

Adriano Balbi (a)................................................1819.............................4.222.000

Thomas Ewbank (a)............................................1819.............................4.396.000

Conselheiro Velloso de Oliveira (d)..................1819.............................4.396.132 (9)

Memória Estatística do Império... (e)................1823.............................3.960.866 (10)

Joaquim P. Cardoso Casado Giraldes (d).........1825.............................5.000.000

João Mauricio Rugendas (f)...............................1827.............................4.000.000 (11)

Malte-Brun (d)......................................................1830.............................5.340.000 (12)

Senador José Saturnino (d).................................1834.............................3.800.000

Senador Cândido Baptista de Oliveira (d).........1850.............................8.000.000

Senador Luiz Pedreira do Couto Ferraz (g)......1854.............................7.677.800

"O Império do Brasil..." (d)................................1867..............................11.780.000 (13)

Cândido Mendes de Almeida (d)........................1868..............................11.030.000

Senador Thomaz Pompeu de Souza Brazil (d).1869...............................10.415.000 (14)

Recenseamento Geral do Império (g).................1872...............................10.112.061

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(1) 25.000 brancos, 18.000 índios civilizados, 14.000 escravos negros.

(2) 30.000 brancos e 70.000 mestiços, negros e índios.

(3) 74.000 brancos e índios livres e 110.000 escravos.

(4) 1.010.000 brancos, 252.000 índios, 406.000 libertos, 221.000 pardos escravos, 1.361.000 negros escravos.

(5) 920.000 brancos, 260.000 índios do Rio Negro, Rio Branco e Amazonas, 210.000 (aprox.) índios independentes, 1.960.000 negros, 300.000 (aprox.) mestiços.

(6) 843.000 brancos, 259.400 índios de todas as castas, 426.000 mestiços livres, 202.000 mestiços cativos, 159.500 negros livres, 1.728.000 negros escravos.

(7) Exclusive índios não domesticados.

(8) 500.000 índios bravios, 100.000 índios domesticados, 1.000.000 negros e mulatos escravos, 80.000 negros livres, 800.000 mestiços, 820.000 brancos.

(9) 2.488.743 livres, 1.107.389 escravos, 800.000 índios não domesticados.

(10) 2.813.351 livres, 1.147.515 escravos.

(11) 843.000 brancos, 628.000 homens de cor ("não se levou em conta aqui a separação de homens livres e escravos e, sob a denominação de homens de cor, incluem-se os que não são nem brancos, nem pretos, nem índios"), 1.987.500 negros, 300.000 índios. Note-se que, embora o autor consigne 4.000.000 de habitantes, ao apresentar a condição de "cor" reduz sua estimativa para, tão-somente, 3.758.500 pessoas.

(12) 1.347.000 brancos, 2.017.000 negros, 1.748.000 mestiços, 228.000 indígenas.

(13) 9.880.000 livres, 1.400.000 escravos, 500.000 indígenas errantes.

(14) 8.510.000 livres, 1.690.000 escravos, 215.000 índios.

(a) SIMONSEN, Roberto C. História Econômica do Brasil (1500-1820). São Paulo, Cia. Editora Nacional, 6a. ed., 1969, (Coleção Brasiliana, Série Grande Formato, v. 10), p. 88 e p. 271.

(b) MARCÍLIO, Maria Luiza. Crescimento histórico da população brasileira até 1872. In: MARCILIO, Maria Luiza et alii. Crescimento populacional (histórico e atual) e componentes do crescimento (fecundidade emigrações). São Paulo, CEBRAP, 1973, (Cadernos CEBRAP, 16).

(c) ALDEN, Dauril. The population of Brazil in the late eighteenth century: a preliminary survey. The Hispanic American Historical Review. Durham, Duke University Press, vol. XLIII, no. 2, p. 173-205, may 1963.

(d) SILVA, Joaquim Norberto de Souza e. Investigações sobre os recenseamentos da população geral do império e de cada província de per si tentados desde os tempos coloniais até hoje. São Paulo, IPE-USP, edição fac-similada, p. 5-167, 1986.

(e) Memória Estatística do Império do Brazil (documento anônimo de 1829). Revista Trimestral do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Rio de Janeiro, Cia. Tipográfica do Brazil, Tomo LVIII, parte 1, no. 91, 1895, p. 91-9.

(f) RUGENDAS, João Maurício. Viagem pitoresca através do Brasil. Belo Horizonte/São Paulo, Itatiaia/EDUSP, 8a. ed., 1979, p. 97, (Reconquista do Brasil, Nova Série, v. 2).

(g) Resumo Histórico dos inquéritos censitários realizados no Brasil. Recenseamento do Brasil, vol. I, 1920, p. 401-83. São Paulo, IPE-USP, edição fac-similada, p. 169--251, 1986.

 

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RESUMOS

ARTIGOS PUBLICADOS NA REVISTA "ESTUDOS ECONÔMICOS" DESDE SEU NÚMERO INICIAL ATÉ O EXEMPLAR 23(2)

 

ACEVEDO MARIN, Rosa Elizabeth. Alianças matrimoniais na alta sociedade paraense no século XIX. v. 15, n. esp., p. 153-167, 1985.

Discutem-se, com base em dados retirados de jornais do período 1874-87, as relações familiares e as alianças matrimoniais entre os membros da elite do Pará. Tenta-se esclarecer as formas de dominação desta classe que, embora dividida pelo Movimento Cabano, voltou a se recompor com vista a manter sua hegemonia, garantindo a sua reprodução.

ALGRANTI, Leila Mezan. Criminalidade escrava e controle social no Rio de Janeiro (1810-1821). v. 18, n. esp., p. 45-79, 1988.

Investiga-se a criminalidade escrava no meio urbano, a partir da análise de registros de prisões de escravos efetuadas pela polícia no Rio de Janeiro-RJ, entre 1810-21. A maior parte das infrações cometidas pelos escravos eram atitudes contra a ordem pública e contra o sistema escravista, além de crimes de pequena monta. Durante o período estudado, a cidade e sua população passaram por um intenso processo de mudanças sociais e econômicas. As ações em relação aos escravos também se alteraram, de acordo com os problemas enfrentados pela população de cor.A maior preocupação da polícia, no entanto, era garantir a segurança da sociedade e manter a estabilidade do sistema escravista.

ANDRADE, Manuel Correia de. Transição do trabalho escravo para o trabalho livre no Nordeste açucareiro: 1850/1888. v. 13, n. 1, p. 71-83,jan./abr. 1983.

A crise açucareira acarretou a descapitalização dos produtores nordestinos, os quais, em face do aumento de preço dos escravos, passaram a utilizar cada vez mais a mão-de-obra livre. Mais tarde, a modernização agrícola e industrial dificultou a utilização do escravo. Ao mesmo tempo, os financiamentos concedidos pelo governo permitiam aos proprietários pagar trabalhadores livres. Tal processo culminou em 1888 com a abolição, que não foi complementada por medidas visando à democratização do acesso à propriedade da terra. A única solução para o ex-escravo era vender a sua força de trabalho. Assim, não houve modificações substanciais nas estruturas existentes.

AZEVEDO, Eliane S. Sobrenomes no Nordeste e suas relações com a heterogeneidade étnica. v. 13, n. 1, p. 103-116, jan./abr. 1983.

No processo de escolha de um sobrenome para adoção, tanto os negros quanto os índios projetaram seus valores culturais em termos do sobrenome eleito. A predileção do grupo racial negro por sobrenomes com significado religioso vem de suas tradições religiosas. Os costumes indígenas são diferentes daqueles dos negros, e o fato de terem sido encontrado com maior freqüência sobrenomes do tipo animal-planta entre escolares índios favorece a hipótese de preferência para tais sobrenomes entre os descendentes indígenas no Brasil.

BAKOS, Margaret. Considerações em torno do protesto do escravo negro no Rio Grande do Sul (1738-1848). v. 18, n. esp., p. 167-180, 1988.

Pesquisam-se a resistência e o protesto dos escravos negros gaúchos, que não foram pacíficos conforme registra a historiografia tradicional. As fugas, a violência contra os senhores e a criação de quilombos demonstram a insatisfação do escravo. Utilizam-se como fonte de pesquisa os processos-crime e os relatos sobre as razões e a forma de vida nos quilombos.

BEIGUELMAN, Paula. A organização política do Brasil-Império e a sociedade agrária escravista. v. 15, n. esp., p. 7-16, 1985.

Examinam-se a organização política do Brasil Imperial, a interação da coroa portuguesa com os dois partidos de patronagem brasileiros e as suas articulações com os interesses da sociedade agrária escravista. Destacam-se o encaminhamento político da lei de libertação dos escravos naciturnos, o fim do tráfico e a abolição.

CANABRAVA, Alice Piffer. A repartição da terra na Capitania de São Paulo, 1818. v. 2, n. 6, p. 77-129, dez. 1972.

A partir do Inventário dos Bens Rústicos, cadastro das propriedades rurais efetuado em 1818, para São Paulo, estudam-se a repartição da terra e a concentração das propriedades por regiões da província, excluindo a área relativa ao Paraná. Destacam-se as áreas da periferia da Grande São Paulo, as regiões açucareira e de pecuária, o Vale do Paraíba e o litoral, analisando-se as propriedades singulares, plurais e conjuntas e apresentando tabelas com dados numéricos de área ocupada e número de proprietários de cada município.

CARDOSO, Ciro Flamarion S. Escravismo e dinâmica da população escrava nas Américas. v. 13, n. 1, p. 41-53, jan./abr. 1983.

As sociedades escravistas americanas podem ser explicadas a partir de um único modelo de escravismo colonial, pois possuem características básicas comuns. Embora mantendo-se no interior do mesmo modelo global, tais formações sociais apresentavam peculiaridades das quais decorreram variantes do próprio sistema. As variantes, aliadas a outros fatores não dependentes da estrutura econômico-social, foram de tal forma diferentes que serviram de base a dinâmicas demográficas divergentes.

CARVALHO, José Alberto Magno de & WOOD, Charles Howard. Renda e concentração da mortalidade no Brasil. v. 7, n. 1, p. 107-130, jan./abr. 1977.

Com base em tabulações especiais do censo de 1970, estima-se o número médio de anos de vida, previstos ao nascer, relativos às dez regiões do Brasil indicadas pelo IBGE, por renda familiar e por lugar de residência. Após comparações das tendências de mortalidade ao longo do tempo, revela-se que as desigualdades regionais se acentuaram entre 1930-40 e 1940-50, declinando na última década. Os níveis de expectativa de vida média das famílias de alta renda excedem, de maneira consistente, aos das famílias pobres, com diferenças de até 24 anos entre os grupos. As áreas urbanas, em todas as regiões, oferecem maior probabilidade de vida mais longa do que as rurais, para os mais ricos. Estas constatações refletem diferenças significativas das condições gerais de vida entre os subgrupos populacionais brasileiros.

CARVALHO, Marcus J. M. de. "Quem furta mais e esconde": o roubo de escravos em Pernambuco, 1832-1855. v. 17, n. esp., p. 89-110, 1987.

O estudo de registros policiais e casos em tribunais mostra que os roubos de escravos em Pernambuco foram freqüentes. O maior número destes crimes ocorreu na década de 1840, época de declínio do tráfico de escravos para esta província. Em geral, roubavam-se escravos em Recife para vendê-los nos engenhos. Entretanto, os senhores de engenho também compravam escravos roubados de outros engenhos e, em alguns casos, participavam dos roubos. Apesar de sua condição legal igualá-los a um bem móvel, os escravos raramente se mantinham como objetos passivos nestes crimes. Somente sua conivência podia assegurar o êxito da ação, possuindo assim um poder de barganha que podiam utilizar para melhorar sua posição no regime escravista.

CASTRO, Antonio Barros de. Escravos e senhores nos engenhos do Brasil: um estudo sobre os trabalhos do açúcar e a política econômica dos senhores. v. 7, n. 1, p. 177-220, jan./abr. 1977.

Descrição do engenho de açúcar, de seus custos de produção e da organização neles do trabalho de livres e escravos. Discute-se a questão do trabalho escravo africano e as razões de sua utilização. Caracteriza-se este trabalho nas diferentes etapas de produção, comparando-o ao trabalho indígena. Analisa-se como opera o mercado de cativos, como se determina o preço destes e o comportamento dos senhores de engenho e mercadores de escravos.

COSTA, Iraci del Nero da. Algumas características dos proprietários de escravos de Vila Rica. v. 11, n. 3, p. 151-157, set./dez. 1981.

Investigam-se as características demográficas dos proprietários de escravos, tanto livres como forros, a partir das análises dos dados de óbitos da freguesia de Antonio Dias. O uso de informações de diversos momentos da história da freguesia, de 1743-45 a 1809-11, permite traçar as tendências mais evidentes do evolver sócio-econômico da antiga cidade de Vila Rica (Ouro Preto-MG).

COSTA, Iraci del Nero da. Contribuições metodológicas à demografia histórica brasileira. v. 21, n. 1, p. 137-142, jan./abr. 1991.

Pequena revisão bibliográfica ressaltando os principais contributos metodológicos relativos à demografia histórica, de autores nacionais ou que escreveram sobre o Brasil, nos últimos vinte anos.

COSTA, Iraci del Nero da. Revisitando o domicílio complexo. v. 21, n. 3, p. 401-407, set./dez. 1991.

Exame sobre o domicílio complexo (que reunia parentes e/ou núcleos familiares secundários ao núcleo familiar básico), para distintas estruturas demográficas e econômicas de Minas Gerais. Indicam-se os proprietários e não-proprietários de escravos, considerando-se, para os primeiros, o tamanho dos plantéis de cativos. Conclui-se que este tipo de domicílio difundia-se por todo o corpo social, não se definindo como característico das elites possuidoras de muitos escravos.

COSTA, Iraci del Nero da & NOZOE, Nelson Hideiki. Economia colonial brasileira: classificação das ocupações segundo ramos e setores. v. 17, n. 1, p. 69-87, jan./abr. 1987.

Pretende-se definir uma classificação das ocupações econômicas desenvolvidas no Brasil colonial. Deste ponto de vista, o termo economia colonial representa a estrutura vigente na época e nas décadas posteriores, ultrapassando o marco político da independência. A clássica divisão de Colin Clark em setores primário, secundário e terciário não se mostra conveniente ao estudo do nosso passado, pois tende a reduzir as diferenças existentes entre as várias "economias" brasileiras, impedindo a análise de sua evolução. Apresenta-se uma categorização sócio-profissional estruturada em três níveis crescentes de agregação de dados: ocupação, ramo de atividade e setor econômico.

COSTA, Iraci del Nero da & NOZOE, Nelson Hideiki. Elementos da estrutura de posse de escravos em Lorena no alvorecer do século XIX. v. 19, n. 2, p. 319-345, maio/ago. 1989.

A partir das listas nominativas de habitantes de quatro das oito Companhias de Ordenanças de Lorena-SP, em 1801, examinam-se alguns elementos básicos da estrutura de posse de escravos, relacionadas às características demográficas destes e de seus proprietários. Considerou-se o conjunto de escravos pertencentes ao mesmo proprietário, e quase todas as variáveis demográficas selecionadas (sexo, cor, faixas etárias, origem, estado conjugal, atividade econômica e condição de legitimidade das crianças escravas) apresentaram algum tipo de relação com o tamanho dos plantéis. Repete-se, para Lorena, a estrutura verificada em outras áreas do Brasil: significativa presença de mulheres entre os escravistas; alta participação relativa dos proprietários com pequeno número de cativos; e expressivo peso relativo dos escravos possuídos pelos proprietários de porte médio ou grande.

COSTA, Iraci del Nero da; SLENES, Robert W. & SCHWARTZ, Stuart B. A família escrava em Lorena (1801). v. 17, n. 2, p. 245-295, maio/ago. 1987.

Analisam-se as listas nominativas de quatro das oito Companhias de Ordenanças de Lorena-SP, em 1801. Estudam-se as características básicas dos escravos (estado conjugal, idade, sexo etc.), destacando-se a existência de relações familiares entre 53% da massa escrava. Indica-se o predomínio das famílias regularmente constituídas, com uma maior concentração nos grandes plantéis. Estudam-se também a legitimidade das crianças com 14 ou menos anos e a condição das mães (casadas, viúvas ou solteiras), segundo a origem e a cor e por faixas etárias.

DE LA FUENTE GARCIA, Alejandro. A alforria de escravos em Havana, 1601-1610: primeiras conclusões. v. 20, n. 1, p. 139-159, jan./abr. 1990.

Reconstituição das alforrias em Havana, a partir dos 82 únicos registros que constam dos Protocolos Notariales para os dez primeiros anos do século XVII. Foram estimadas as taxas brutas de manumissão segundo o sexo, cor, origem étnica e faixas etárias. As maiores taxas correspondem às escravas crioulas, as menores aos homens de origem africana. Uma análise comparativa do preço da alforria em face do preço do escravo transacionado no mercado indica que o primeiro era 65% superior. A compra da liberdade constituía, à semelhança de outras colônias do continente, a forma fundamental de manumissão.

DIAS, Maria Odila da Silva. Nas fímbrias da escravidão urbana: negras de tabuleiro e de ganho. v. 15, n. esp., p. 89-109, 1985.

Faz-se uma reconstituição histórica do processo de formação das relações sociais de trabalho no setor urbano, a partir de dados sobre mulheres trabalhadoras da cidade de São Paulo, entre o começo do século XIX e 1888. Estudam-se os usos e costumes de quitandeiras e vendedoras ambulantes, uma forma de transição entre a escravidão e o trabalho livre, e as tentativas de criar uma legislação para este tipo de comércio.

EISENBERG, Peter L. A abolição da escravatura: o processo nas fazendas de açúcar em Pernambuco. v. 2, n. 6, p. 181-203, dez. 1972.

Discute-se o problema da mão-de-obra na região açucareira pernambucana durante o século XIX. Estimam-se os salários reais no período e se estabelece a variação da composição do trabalho e seu custo nas plantações. Conclui-se que a transição do trabalho escravo para o livre foi bem mais estável e suave do que se supunha. As possibilidades de substituição e os arranjos tipo parceria garantiram que continuasse baixo o custo do trabalho, não alterando o controle dos fazendeiros sobre a estrutura de produção.

EISENBERG, Peter L. Escravo e proletário na história do Brasil. v. 13, n. 1, p. 55-69, jan./abr. 1983.

Tentativa de demonstrar a existência de vários elementos em comum entre o trabalho escravo e o assalariado. Tanto num como noutro dá-se a extração do sobre-trabalho do produtor direto. Desta forma, o escravo constituiria uma antecipação do moderno proletário, e como tal teria contribuído para a emergência do capitalismo. Por outro lado, não se pode afirmar, a priori, que o trabalho escravo tenha sido menos produtivo ou mais custoso do que o livre.

EISENBERG, Peter L. Ficando livre: as alforrias em Campinas no século XIX. v. 17, n. 2, p. 175-216, maio/ago. 1987.

Com base na análise de 2093 cartas de alforria levantadas em Campinas-SP, para o período de 1798-1888, pretende-se estudar o alforriado "padrão", tal como representado pela historiografia sobre o tema. Analisam-se as características do liberto - sexo, cor etc. - e da alforria - onerosa ou gratuita. Conclui-se que, enquanto a maioria da população escrava era masculina, negra, crioula, em idade produtiva e sem profissão qualificada, as alforrias registradas eram na maior parte de escravas mulatas, crioulas, muito jovens ou muito velhas e empregadas no serviço doméstico. Esse quadro modificou-se nas últimas décadas da escravidão, aproximando o padrão do alforriado ao da população escrava.

FRAGOSO, João Luís Ribeiro & FLORENTINO, Manolo Garcia. Marcelino, filho de Inocência Crioula, neto de Joana Cabinda: um estudo sobre famílias escravas em Paraíba do Sul (1835-1872). v.17, n.2, p.151-173, maio/ago. 1987.

Os limites da reprodução da empresa escravista se definem em relação à mão-de-obra, já que o investimento em escravos representava mais de 40% do valor total da fazenda de café entre 1830-70. A demografia escrava é vista como um meio para a análise da reprodução deste sistema. Estudam-se as estratégias de convivência social para que a escravidão se perpetuasse, destacando-se a formação de famílias de cativos e de roças de escravos. Os dados retirados de inventários post-mortem indicam que mais de um terço dos plantéis estavam organizados em famílias, com evidências de que muitas eram preservadas nas vendas ou partilhas de herança.

GARCIA FERNANDEZ, Ramon V. A consistência das listas nominativas de habitantes da capitania de São Paulo: um estudo de caso. v. 19, n. 3, p. 477-496, set./dez. 1989.

As listas nominativas de habitantes da Capitania de São Paulo são fontes muito ricas no estudo da história do Brasil ao fim da Colônia e nos começos do Império; existem nelas, todavia, contradições facilmente perceptíveis. Pretende-se estimar a dimensão destas inconsistências a partir de um estudo de caso: duas listas consecutivas de Ubatuba-SP, correspondentes aos anos de 1805-6, um dos períodos onde a elaboração destes documentos parece ter sido mais cuidadosa. Estuda-se de início os problemas que geraram a existência de duas vias das listas; em seguida, é feita a comparação entre a consistência dos dados dos domicílios que permaneceram na mesma companhia com a daqueles que mudaram, mas foram localizados. Conclui-se que a presença bastante difundida de pequenos erros não representa um obstáculo cuja importância impeça a utilização destes documentos.

GEBARA, Ademir. Escravidão: fugas e controle social. v. 18, n. esp., p. 103-146, 1988.

Identificação dos mecanismos de controle social exercidos sobre os escravos e das possibilidades de ação dos escravos em resposta a estes mecanismos. Em paralelo, discute-se o envolvimento dos homens livres em relação à legislação escravista e em função do novo contexto urbano. Sendo a lei o principal veículo para o exercício da hegemonia pela classe dominante, são transcritos e estudados diversos artigos relacionados ao tema, retirados da coleção de leis da Província de São Paulo, as chamadas Posturas Municipais.

GORENDER, Jacob. Questionamentos sobre a teoria econômica do escravismo colonial. v. 13, n. 1, p. 7-39, jan./abr. 1983.

É possível e necessária uma teoria econômica própria para o escravismo colonial, já que este possuía leis específicas. As formas camponesas não representaram brecha alguma no modo de produção escravista dominante, uma vez que não faziam parte de sua estrutura. O escravo, ao cultivar seu minúsculo trato de terra, permanecia tão escravo como quando trabalhava no engenho, subordinado ao mesmo tipo de relação de produção e ao mesmo proprietário. Assim, o lote estava organicamente entrosado na estrutura de produção escravista colonial, não havendo, portanto, dois setores agrícolas articulados, mas sim um único sistema.

GRAF, Márcia Elisa de Campos. De agredidos a agressores: um estudo sobre as relações sociais entre senhores e escravos no Paraná do século XIX. v. 18, n. esp., p. 147-166, 1988.

As relações entre os senhores e seus escravos, constatadas através do dia-a-dia das publicações periódicas do Paraná, entre 1871-88, não foram pacíficas, apesar de alguns escravos domésticos terem preferido se entregar à acomodação e à passividade. As reações ao estatuto de cativo e a repressão por elas suscitadas foram uma constante durante este período, marcado pela violência, pelo medo e pelo rancor de ambas as partes.

GRAHAM, Douglas H. Migração estrangeira e a questão da oferta de mão-de-obra no crescimento econômico brasileiro: 1880-1930. v. 3, n. 1, p. 7-64, abr. 1973.

Apresentam-se dados de migração internacional para os Estados Unidos, Argentina e Brasil, entre 1880-1930. Discutem-se as tendências a longo prazo e as mudanças nos níveis de atividade econômica nestes países, indicando que o aumento da produção de café no Brasil em 1890 e a queda no início deste século tiveram comportamento inverso ao da economia nos Estados Unidos, Argentina e Itália. Finalmente, aponta-se o papel da migração no crescimento industrial brasileiro antes da I Guerra Mundial.

GRAHAM, Richard. Escravidão e desenvolvimento econômico: Brasil e Sul dos Estados Unidos no século XIX. v. 13, n. 1, p. 223-257, jan./abr. 1983.

Estudam-se, comparativamente, o Brasil e o Sul dos Estados Unidos novecentistas. Observa-se que a lentidão relativa do desenvolvimento econômico brasileiro não pode ser atribuída à presença da escravidão. Sugerem-se, como hipóteses para explicar os diferentes rumos tomados pelo crescimento econômico das duas áreas: a importância contrastante do café e do algodão para o progresso do capitalismo mundial e as distinções na estrutura social das populações livres, que foram condicionadas por heranças econômicas e ideológicas diferentes.

GUERZONI FILHO, Gilberto & NETTO, Luiz Roberto. Minas Gerais: índices de casamento da população livre e escrava na Comarca do Rio das Mortes. v. 18, n. 3, p. 497-507, set./dez. 1988.

Análise dos índices de casamento da população livre e escrava em Minas Gerais, a partir de dados do recenseamento de 1831 para aquela província. Os resultados obtidos são pouco usuais, mostrando uma freqüência de casamentos entre livres de 50% e entre escravos de 30%, aproximadamente. A intenção é analisar os casamentos legítimos, isto é, aqueles celebrados perante a Igreja Católica, vertente pouco explorada pelos estudiosos do passado brasileiro.

GUIMARÃES, Carlos Magno. Os quilombos do século do ouro (Minas Gerais -

século XVIII). v. 18, n. esp., p. 7-43, 1988.

Caracterização da mais completa forma de reação escrava nas Minas Gerais do século XVIII, a partir de fontes históricas sobre 127 quilombos. Usam-se documentos legais contemporâneos para a análise dos mecanismos de sobrevivência desenvolvidos pelos quilombolas. Em uma perspectiva dialética, tenta-se resgatar a inserção dos quilombos na sociedade escravista mineira. Ao se estudar mecanismos como a mineração clandestina, o banditismo, o comércio ilegal e o roubo de escravos, dentre outros, pretende-se compreender o caráter contraditório desta inserção.

GUTIÉRREZ, Horacio. Demografia escrava numa economia não-exportadora: Paraná, 1800-1830. v. 17, n. 2, p. 297-314, maio/ago. 1987.

Os dados sobre os escravos do Paraná apresentam um particular interesse para a demografia das populações cativas brasileiras. Constata-se um significativo equilíbrio entre os sexos, baixa idade mediana da população e elevada magnitude de crianças escravas, de sorte que sua feição demográfica revela-se similar àquela encontrada na população livre. Tudo indica que a reprodução natural teve peso decisivo na conformação desta estrutura, surpreendentemente num período no qual o tráfico de africanos para o Brasil apresentava proporções inéditas.

HOLLOWAY, Thomas H. Condições do mercado de trabalho e organização do trabalho nas plantações na economia cafeeira de São Paulo, 1885-1915: uma análise preliminar. v.2, n.6, p.145-180, dez. 1972.

Avaliação do papel do imigrante nas fazendas de café paulistas no fim do século XIX. Analisando-se as condições do mercado de trabalho e o sistema de trabalho nestas fazendas, vê-se que os trabalhadores imigrantes forneceram importante estímulo para o crescimento da atividade cafeeira. Os aspectos específicos do sistema de trabalho, com o declínio da escravidão, garantiram uma proteção contra as flutuações do mercado e tornaram-se a base para a rápida absorção e eventual ascensão sócio-econômica de grande número de imigrantes.

KLEIN, Herbert S. A população de Minas Gerais: novas pesquisas sobre o Brasil Colonial. v. 15, n. 1, p. 143-147, jan./abr. 1985.

Breve revisão da literatura sobre demografia histórica de Minas Gerais, analisando os trabalhos publicados pelos Professores Iraci del Nero da Costa e Francisco Vidal Luna, da FEA/USP.

KLEIN, Herbert S. A demografia do tráfico atlântico de escravos para o Brasil. v. 17, n. 2, p. 129-149, maio/ago. 1987.

Discutem-se questões relativas ao tráfico de escravos, responsável pela entrada de mais de quatro milhões de africanos no Brasil, em trezentos anos. Apresenta-se a bibliografia existente sobre o tema desde o século XIX, com ênfase nos trabalhos desenvolvidos após 1960. A demografia do tráfico é estudada em relação a diversos pontos: a estimativa do número total de africanos transportados para o Brasil, a mortalidade ocorrida durante as viagens e o volume e importância do tráfico interno. Indicam-se novos temas de estudo, como a mortalidade dos escravos recém-chegados ao Brasil e os aspectos comerciais do tráfico.

KLEIN, Herbert S. A oferta de muares no Brasil Central: o mercado de Sorocaba, 1825-1880. v. 19, n. 2, p. 347-372, maio/ago. 1989.

Descrição do mercado para muares no primeiro período de expansão cafeeira ao sul e ao centro do Brasil, no século XIX. Dada a escassez de material primário e secundário e a extraordinária disparidade entre as estimativas publicadas sobre os volumes, custos e benefícios, os registros de venda do mercado de Sorocaba-SP (Novo Imposto de Animais ou Imposto de Barreira) representam a única fonte primária não inteiramente explorada, a partir da qual a estrutura básica e as tendências de mercado podem ser estabelecidas com segurança. Os livros de impostos proporcionam uma detalhada listagem de cada lote de animais, dividido em cavalos, gado e mulas, de seus proprietários e do imposto total pago por dia de chegada. Os preços relativamente estáveis e o lento crescimento da oferta de mulas e sua correlação com a produção de café parecem indicar que os sorocabanos foram capazes de manter o mercado satisfeito, tanto para transporte no interior quanto, principalmente, o destinado à exportação. A chegada das ferrovias ligando Santos ao interior do estado marcou o fim do ciclo da mula na história brasileira.

KLEIN, Herbert S. A integração social e econômica dos imigrantes espanhóis no Brasil. v. 19, n. 3, p. 457-476, set./dez. 1989.

Determina-se a natureza da imigração espanhola no Brasil e seus graus de integração econômica e social. Este estudo preliminar mostra a posse de terra como o principal objetivo da primeira geração de imigrantes espanhóis que, nos anos vinte, constituíam claramente uma força dominante na agricultura paulista. Os dados mostram também que, enquanto na década de 1910 os espanhóis foram os mais endógamos dentre os imigrantes europeus, em fins da década de 30 eles se voltavam para a aculturação intensiva com a população brasileira nativa. (Ver errata em v. 20, n. 2, p. 324, 1990).

LINHARES, Maria Yedda. Subsistência e sistemas agrários na colônia: uma discussão. v.13, n. esp., p.745-762, 1983.

Discussão metodológica sobre fontes de pesquisa histórica para a análise da produção de alimentos no Brasil Colônia. Analisam-se os sistemas agrários vigentes e o uso da terra pela população, indicando-se alguns enfoques teóricos que poderão ser utilizados no estudo das diversas atividades agrícolas, a partir de determinantes geográficos, históricos e demográficos, entre outros.

LOBO, Eulália Maria Lahmeyer & STOTZ, Eduardo Navarro. Formação do operariado e movimento operário no Rio de Janeiro, 1870-1894. v. 15, n. esp., p. 49-88, 1985.

Tradicionalmente, os estudos sobre operariado voltaram-se para a crítica da organização da força de trabalho, das relações desta com o estado e a ideologia do movimento operário. Pretende-se aqui analisar as condições de vida dos operários de forma abrangente, incluindo dados sobre trabalho, saúde, custo de vida, lazer etc. A partir deste conhecimento tenta-se esclarecer o processo de formação dos artesãos e operários, a sua organização e estratégias de ação no contexto sócio-econômico e político do Rio de Janeiro, no período de 1870-94.

LUNA, Francisco Vidal. Mineração: métodos extrativos e legislação. v. 13, n. esp., p. 845-859, 1983.

Resumo da legislação relativa às datas minerais, com uma descrição pormenorizada das técnicas empregadas pelos mineiros, no transcorrer do século XVIII. A destruição dos recursos naturais é explicada tanto pela racionalidade dos mineiros como pelo interesse da Metrópole em apropriar-se de parcelas significativas da riqueza então extraída.

LUNA, Francisco Vidal. Características demográficas dos escravos de São Paulo (1777-1829). v. 22, n. 3, p. 443-483, set./dez. 1992.

A introdução e desenvolvimento da produção de açúcar e de café em São Paulo provocou profundas mudanças no perfil populacional. O ingresso de cativos em grande quantidade, particularmente homens adultos, destruiu o relativo equilíbrio existente na população, tanto na proporção entre sexos como na estrutura etária. O estudo, baseado em manuscritos conhecidos como Maços de População, do Acervo do Estado de São Paulo, contempla vinte e cinco diferentes localidades de São Paulo, nos anos de 1777, 1804 e 1829, e nele procurou-se analisar as características demográficas dos escravos e sua relação com variáveis de natureza econômica. Mereceu especial atenção o casamento e a capacidadereprodutiva da população escrava

LUNA, Francisco Vidal & COSTA, Iraci del Nero da. Contribuição ao estudo de um núcleo urbano colonial (Vila Rica: 1804). v. 8, n. 3, p. 41-68, set./dez. 1978.

Apreciação das atividades produtivas, da posse de escravos e da estrutura profissional em Ouro Preto-MG, antiga Vila Rica, a partir de recenseamento realizado em 1804. Distribui-se a população em termos de posição social (livres/escravos), sexo e setores produtivos. Estudam-se algumas evidências relativas aos forros, selecionando dados comparativos entre livres e forros falecidos na freguesia de Antônio Dias, no período de 1719-1818.

LUNA, Francisco Vidal & COSTA, Iraci del Nero da. Posse de escravos em São Paulo no início do século XIX. v. 13, n. 1, p. 211-221, jan./abr. 1983.

Pesquisa-se a estrutura de posse de escravos, para dez localidades paulistas, no início do século XIX. Destacam-se o grande número de pequenos proprietários de escravos e a expressiva massa de cativos possuídos pelos mesmos.

LUNA, Francisco Vidal & KLEIN, Herbert S. Escravos e senhores no Brasil no início do século XIX: São Paulo em 1829. v. 20, n. 3, p. 349-379, set./dez. 1990.

Demografia dos escravos e seus proprietários, a partir das listas nominativas de habitantes de Mogi das Cruzes, Itu e São Paulo-SP, para 1829. As variáveis consideradas incluem sexo, cor, idade, origem, estado conjugal, a atividade econômica do escravista e a estrutura de posse de escravos. Comparam-se os resultados obtidos com as evidências para o Brasil e outros regimes escravistas das Américas, principalmente Estados Unidos e Antilhas. A região estudada representava um caso incomum, mesmo para os padrões brasileiros, pela significativa ocorrência de casamentos entre escravos, muitos sendo provavelmente legalizados. Possivelmente em nenhum outro regime escravista das Américas verificou-se tal proporção de escravos legalmente casados e para poucas províncias brasileiras se encontram níveis tão elevados, comparáveis aos da população livre.

MACHADO, Maria Helena Pereira Toledo. Trabalho, compensação e crime: estratégias e contra-estratégias. v. 18, n. esp., p. 81-102, 1988.

Baseado em processos criminais de escravos da Província de São Paulo, referentes aos municípios de Campinas e Taubaté, discutem-se as lutas dos escravos frente às transformações sofridas pelo sistema escravista, entre 1830-88. +s estratégias senhoriais, que procuravam compatibilizar as contingências da produção agrícola exportadora com o regime escravista que declinava, os escravos respondiam com contra-estratégias, que buscavam defender tradicionais espaços de autonomia e sobrevivência.

MARCÍLIO, Maria Luiza. Tendências e estruturas dos domicílios na Capitania de São Paulo (1765-1828) segundo as listas nominativas de habitantes. v. 2, n. 6, p. 131-143, dez. 1972.

Utilização das listas nominativas de habitantes da capitania, posteriormente província, de São Paulo, para os anos 1765, 1798, 1808, 1818 e 1828, analisando-se as tendências de crescimento e as estruturas de seus domicílios ou fogos. O número médio de pessoas livres por fogo situa-se ao redor de quatro, subindo para seis ao se incluírem os escravos, durante todo o período. No estudo da composição do domicílio são destacados o núcleo familiar principal, os agregados e os escravos.

MARCÍLIO, Maria Luiza. A fecundidade camponesa no Brasil antigo: o caso de Ubatuba. v. 15, n. esp., p. 111-126, 1985.

Análise de demografia histórica da vida familiar de caiçaras do litoral paulista, com dados levantados para Ubatuba, entre 1790-1830. Estudam-se especificamente a estrutura e a dinâmica da fecundidade da população livre, a partir de fichas de reconstituição de famílias montadas com as informações recolhidas em listas nominativas de habitantes. Os casamentos eram realizados em idades baixas, sobretudo para as moças, embora fosse elevado o nível de celibato definitivo. As uniões consensuais estáveis eram normais nas sociedades rústicas do passado brasileiro. As mulheres tinham uma vida reprodutiva mais intensa e a intervalos mais curtos nos primeiros dez anos de vida conjugal e o número médio de filhos ficava em torno de quatro.

MARTINS, Roberto Borges. Minas Gerais, século XIX: tráfico e apego à escravidão numa economia não-exportadora. v. 13, n. 1, p. 181-209, jan./abr. 1983.

Examina-se a participação de Minas Gerais no tráfico internacional e interprovincial de escravos e a distribuição da população servil no território da província, com base nas críticas às seguintes teses, assentadas pela historiografia: Minas foi um grande exportador de escravos; esses escravos serviram de base à decolagem do setor cafeeiro; e as áreas não-cafeeiras da província foram esvaziadas de suas força de trabalho servil pela drenagem das zonas de grande lavoura.

MELLO, Pedro Carvalho de. Estimativa da longevidade de escravos no Brasil na segunda metade do século XIX. v. 13, n. 1, p. 151-179, jan./abr. 1983.

Apresenta-se um retrospecto da literatura existente sobre a mortalidade de escravos no Brasil. A partir de estimativas de longevidade, são construídas tábuas de sobrevivência de escravos, utilizando-se métodos demográficos e atuariais. Ao final, discutem-se outros aspectos importantes para a correta avaliação da longevidade da escravaria.

MELLO, Zélia Maria Cardoso de & SAES, Flávio Azevedo Marques de. Características dos núcleos urbanos em São Paulo. v. 15, n. 2, p. 307-337,

maio/ago. 1985.

Apresentam-se evidências empíricas disponíveis em fontes primárias pouco exploradas que dizem respeito às atividades econômicas levadas a efeito na capital e em alguns outros núcleos urbanos de São Paulo. Com base nestes dados, propõe-se uma reflexão a respeito da divisão de trabalho dentro de cada cidade e entre as diferentes cidades. A suposição é a de que a evolução da cidade de São Paulo impõe certos limites ao desenvolvimento dos demais núcleos.

MESGRAVIS, Laima. Os aspectos estamentais da estrutura social do Brasil Colônia. v. 13, n. esp., p. 799-811, 1983.

Ao se estudar o Código Filipino de 1603, que formou a base de toda a estrutura jurídica das sociedades metropolitana e colonial até o início do século XX, encontram-se expressões tais como homem bom, um dos principais da terra e limpo de sangue. Elas são fundamentais para a compreensão dos mecanismos de monopólio do poder por um pequeno grupo de privilegiados, que conseguiu mantê-lo com poucas interferências e transformações até o fim do período colonial.

METCALF, Alida C. Recursos e estruturas familiares no século XVIII, em Ubatuba, Brasil. v. 13, n. esp., p. 771-785, 1983.

As famílias latino-americanas desempenharam, durante o período colonial, importante papel na formação e consolidação de hierarquias sociais. Através do casamento e da herança, e pela distribuição da propriedade, transferiram ferramentas, terras, escravos e bens móveis às novas gerações. Estudam-se a estrutura familiar em Ubatuba-SP e os efeitos da transmissão da propriedade, mediante análise de dados obtidos de trinta testamentos do século XVIII e de um levantamento nominativo de habitantes daquela localidade, realizado em 1798.

METCALF, Alida C. Vida familiar dos escravos em São Paulo no século dezoito: o caso de Santana de Parnaíba. v. 17, n. 2, p. 229-243, maio/ago. 1987.

Discutem-se dois modelos de estratégias adotadas pelos escravos para sobreviverem à escravidão. Para Genovese, os escravos formavam parte da família patriarcal de seus senhores, dependendo da benevolência destes; para Gutman, a família escrava era uma instituição fundamental, e foram os laços entre escravos que deram a eles determinação para sobreviver. A análise da demografia escrava em Santana de Parnaíba-SP, para o período de 1720-1820, indica que os dois modelos não são excludentes. No entanto, a família escrava deve ser vista também, como quer Higman, dentro do contexto econômico, já que a instabilidade da vida familiar dos cativos estava ligada às transformações na economia das fazendas.

METCALF, Alida C. A família e a sociedade rural paulista: Santana de Parnaíba, 1750-1850. v. 20, n. 2, p. 283-304, maio/ago. 1990.

Em Santana de Parnaíba-SP, entre fins do século XVII e início do século XVIII, os proprietários de terras e de escravos orientavam suas estratégias de família no sentido de preservar a integridade de sua riqueza por meio da divisão desigual de bens partilháveis, incentivando o deslocamento de filhos para as frentes de expansão e favorecendo as filhas e os genros com a maior parte das riquezas. Em contraste, as estratégias dos camponeses visavam, sobretudo, a sobrevivência dentro do contexto de uma economia rural em rápida transformação. À medida que a economia de subsistência cedia lugar a uma produção de gêneros de abastecimento, os domicílios camponeses diminuíam em tamanho, os domicílios chefiados por mulheres aumentavam em número e a família nuclear passava a ter menor importância. Os ajustamentos e mudanças da vida familiar deixaram suas marcas na estrutura social da comunidade estudada, bem como nas frentes de expansão.

MONTEIRO, John M. Distribuição da riqueza e as origens da pobreza rural em São Paulo (século XVIII). v. 19, n. 1, p. 109-130, jan./abr. 1989.

Análise das listas do Donativo Real de 1679-82, buscando identificar as estruturas da sociedade rural de São Paulo no século XVII. As listas demonstram como uma economia assentada na exploração do trabalho indígena produziu desigualdades significativas na distribuição da riqueza entre os habitantes dos distritos rurais. Tal conclusão diverge das principais tendências da historiografia sobre São Paulo, as quais negam a existência de distinções de classe ou riqueza entre os bandeirantes. Assim, a presença de lavradores de subsistência empobrecidos, observada rotineiramente no meio rural paulista no século XVIII, foi antes de mais nada resultado de um processo histórico de marginalização.

MOTT, Luiz R. B. Rebeliões escravas em Sergipe. v. 17, n. esp., p. 111-130, 1987.

Apesar da historiografia consagrada a Sergipe defender que os escravos eram aí melhor tratados do que na vizinha Bahia, nem por isto se conformaram passivamente os cativos com a condição servil: localizaram-se 17 referências a tentativas de revolta por parte não só da escravaria mas também das "gentes de cor", entre 1808-37. Analisam-se as principais características das rebeliões: local, liderança, objetivos, estratégias dos revoltosos e a reação dos donos do poder para debelar tais sedições populares.

MOTTA, José Flávio. O advento da cafeicultura e a estrutura de posse de escravos (Bananal, 1801-1829). v. 21, n. 3, p. 409-434, set./dez. 1991.

Estudo da evolução da estrutura da posse de escravos em Bananal-SP, em meio à fase inicial do desenvolvimento cafeeiro na região, com base em listas nominativas de habitantes principalmente para os anos de 1801, 1817 e 1829, procurando captar os efeitos deste desenvolvimento sobre os padrões de distribuição da propriedade escrava. Num primeiro momento, a difusão da cafeicultura aparentemente contribuiu para a formação de um ambiente propício ao aumento de escravistas de menor porte. Com o tempo, a atividade cafeeira dá mostras de evoluir para uma agricultura de plantation, alterando-se também as características demográficas da população cativa: aumentam os escravos homens, africanos, solteiros e em idade produtiva.

MOTTA, José Flávio & COSTA, Iraci del Nero da. Vila Rica: Inconfidência e crise demográfica. v.22, n.2, p.321-346, maio/ago. 1992.

Neste artigo é analisada a crise demográfica vivenciada por Vila Rica a partir dos anos sessenta do século dezoito e que se tornou mais aguda nas décadas seguintes, assumindo feição dramática nos anos que antecedem imediatamente a Inconfidência. Nesse contexto, pretende-se identificar tal crise, que se desenvolveu na esteira do esgotamento da produção mineratória, como um dos elementos a condicionar a conformação de um cenário marcado pela disseminação da pobreza, no qual aflorará o movimento da Conjuração Mineira. Para a consecução deste objetivo recorreu-se a relatos de viajantes, a interpretações constantes de nossa historiografia e, sobretudo, às fontes primárias representadas pelos registros de casamentos, nascimentos e óbitos da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias (uma das duas então existentes em Vila Rica) concernentes ao período 1740-1800.

MOURA, Clóvis. Da insurgência negra ao escravismo tardio. v. 17, n. esp., p.37-59, 1987.

A insurgência negra é enfocada no contexto de um modo de produção escravista, dividido em duas fases: o escravismo pleno e o tardio. Mostra-se como, na primeira fase, os escravos lutavam sozinhos por objetivos próprios. Na segunda, em conseqüência de uma modernização sem mudança na estrutura da sociedade, com vários níveis dominados pelo capitalismo internacional, substituíram o radicalismo por uma simples resistência passiva. A mesma estratégia foi adotada pela classe senhorial e isto determinou a forma compromissada e inconclusa da abolição no Brasil.

NISHIDA, Mieko. As alforrias e o papel da etnia na escravidão urbana: Salvador, Brasil, 1808-1888. v. 23, n. 2, p. 227-265, maio/ago. 1993.

O objetivo deste trabalho é estudar a alforria de escravos em um dos principais portos brasileiros ao longo de oitenta anos, desde fins do período colonial (1808) até a abolição a escravidão em 1888, dando seqüência e suplementando os estudos sobre alforrias na Bahia já publicados por Stuart B. Schwartz (para o período 1684-1745) e Kátia M. de Queirós Mattoso (para 1779-1850). Adicionalmente, pretende-se contribuir para os estudos sobre as alforrias em geral, enfocando o papel da etnia na comunidade cativa do Novo Mundo.

NOZOE, Nelson & COSTA, Iraci del Nero da. Achegas para a qualificação das listas nominativas. v. 21, n. 2, p. 271-284, maio/ago. 1991.

Questiona-se o comportamento dos responsáveis pela elaboração das listas nominativas de habitantes efetuadas no Brasil nos séculos XVIII e XIX. Considera-se aqui o tratamento dispensado à variável idade, a qual é tomada como forma de determinar se dado documento é fruto de coleta original de dados ou se resulta de atualização de um levantamento anteriormente realizado. Para tanto, foram analisadas as listas de habitantes da primeira companhia de ordenanças de Lorena (SP), para o período 1798-1812.

PAIVA, Clotilde Andrade & KLEIN, Herbert S. Escravos e livres nas Minas Gerais do século XIX: Campanha em 1831. v. 22, n. 1, p. 129-151, jan./abr. 1992.

O presente estudo examina a natureza, idade, sexo, origem e estrutura ocupacional da população escrava, bem como sua distribuição entre os senhores, a partir de dados extraídos de listas nominativas inéditas. Além destes aspectos, são enfocadas as características sociais e econômicas da população livre que convivia com esses escravos. Selecionamos para análise um dos maiores e mais urbanizados municípios da província: Campanha em 1831. Dentre outras conclusões, o exame dos dados sugere que a taxa de crescimento natural dos escravos nativos poderia ser positiva e que, apesar da presença significativa de africanos na nossa massa escrava, havia condições favoráveis para a procriação.

QUEIROZ, Suely Robles Reis de. Aspectos ideológicos da escravidão. v. 13, n. 1, p. 85-101, jan./abr. 1983.

Estuda-se a construção de uma ideologia que legitimasse a escravidão moderna, instituída pelos interesses do capitalismo mercantil. Analisa-se como este problema foi pensado no Brasil desde o discurso religioso do período colonial. No século XIX, os defensores do cativeiro abandonaram os valores de natureza moral e teológica, debilitados num mundo que se acreditava crescentemente guiado pela razão e pela ciência, adaptando sua argumentação aos próprios dogmas do liberalismo.

QUEIROZ, Suely Robles Reis de. Rebeldia escrava e historiografia. v. 17, n. esp., p. 7-35, 1987.

Sistematização de algumas considerações contidas na historiografia sobre a rebeldia escrava, apresentando tipologia, análise e caracterização desta rebeldia. Sem pretender esgotar a bibliografia existente, detém-se em alguns autores cuja contribuição foi relevante para o avanço do tema.

RAMOS, Donald. União consensual e a família no século XIX - Minas Gerais, Brasil. v. 20, n. 3, p. 381-405, set./dez. 1990.

São discutidas as questões relativas a domicílios chefiados por mulheres, com dados para Minas Gerais, entre 1750-1838. Descreve-se o domicílio de uma dada localidade e comparam-se aqueles chefiados por solteiras e casadas. Em seguida, o mesmo procedimento é realizado num período substancial de tempo e, ao final, entre todas as localidades pesquisadas. O domicílio chefiado por mulheres era comum em uma grande extensão de contextos econômicos, exceto em uma área de expansão econômica, havendo, para estas localidades, maior número de mulheres, moradores dependentes ou improdutivos por domicílio do que a média, com menor proporção de escravos.

RANGEL, Armênio de Souza Rangel. A economia do município de Taubaté: 1798 a 1835. v. 23, n. 1, p. 149-179, jan./abr. 1993.

O artigo analisa a economia do município de Taubaté do final do século XVIII a meados do século XIX. A análise das vendas de produtos agrícolas e pastoris permitiu mostrar a integração de uma economia – inicialmente voltada para o mercado interno - ao comércio exterior. Em particular, procurou-se mostrar o papel desempenhado pela elevação dos preços do café - nas duas primeiras décadas do século XIX - no estabelecimento da cafeicultura no município. Mesmo com o declínio posterior dos preços, o café seguiu atraindo novos investimentos, pois sua rentabilidade ainda se mantinha elevada diante de outras culturas agrícolas. A consolidação da cafeicultura no município, bem como em outras regiões da Província de São Paulo, só se efetivaria em meados do século XIX com a explosão dos preços do café. Em meados do século XIX, a plantation cafeeira havia transformado a economia do município.

REIS, João José. O levante dos Malês na Bahia: uma interpretação política. v. 17, n. esp., p. 131-149, 1987.

O escravo é visto como um agente político. Discutem-se especificamente as determinações étnicas, religiosas, culturais e de classe, que estabeleciam os parâmetros da ação política dos escravos e libertos africanos na Bahia da primeira metade do século XIX. Procura-se demonstrar que a rebelião de 1835 teve ingredientes de luta étnica e religiosa, sendo porém, principalmente, uma rebelião escrava, havendo, portanto, uma luta de classes em sentido amplo.

REZENDE, Fernando. A tributação em Minas Gerais no século 18. v. 13, n. 2, p. 365-391, maio/ago. 1983.

Descreve-se a tributação em Minas Gerais durante o ciclo do ouro, com destaque para seus diversos aspectos políticos e administrativos. O sistema tributário caracterizava-se por sua acentuada fragmentação: tudo era taxado.

ROWLAND, Robert. Sistemas matrimoniais na Península Ibérica: uma perspectiva regional. v. 19, n. 3, p. 497-553, set./dez. 1989.

Foi o demógrafo John Hajnal quem primeiro chamou a atenção para a importância do casamento no passado europeu, demonstrando que havia um regime matrimonial específico da Europa Ocidental, com base na idade média de acesso das mulheres ao casamento. A partir desta análise foi formulado o modelo de um sistema demográfico do Antigo Regime e a hipótese da existência de um regime de transição entre este e o matrimônio adolescente das sociedades não-européias. Este artigo demonstra que a Península Ibérica possuía regimes matrimoniais especificamente regionais desde os últimos séculos da Idade Média, devendo-se, portanto, rever profundamente a tese de uma transformação neste regime peninsular entre os séculos XVI e XVIII. Defende-se o ponto de vista de que os estudos demográficos sobre o passado europeu deveriam partir de uma perspectiva regional e comparada, como queria o próprio Hajnal.

SAES, Flávio Azevedo Marques de. O término do escravismo: uma nota sobre a historiografia. v.12, n.3, p.29-40, dez. 1982.

Pretende-se identificar em algumas obras clássicas da historiografia o argumento básico a que se filiam e como entendem os eventos históricos ligados ao término do escravismo.

SAMARA, Eni de Mesquita. Os agregados: uma tipologia ao fim do período colonial (1780-1830). v.11, n.3, p.159-168, set./dez. 1981.

A partir dos dados populacionais para a cidade de Itu-SP, entre 1773-1829, caracteriza-se uma camada da sociedade paulista no fim do período colonial. A análise dos assim chamados agregados - grupo heterogêneo e sem posição definida no quadro econômico-social - se baseia no estudo das condições que favoreceram a constituição desses elementos como categoria social e das funções que exerciam em relação às necessidades gerais do organismo de que faziam parte.

SAMARA, Eni de Mesquita. Família, divórcio e partilha de bens em São Paulo no século XIX. v.13, n. esp., p.787-797, 1983.

Consultam-se cerca de 700 documentos pertencentes à Cúria Metropolitana e ao Tribunal de Justiça, com informações sobre divórcio em São Paulo, entre 1700-1889. Estuda-se a legislação sobre separações e anulações de casamento e suas causas. A análise da divisão dos bens indica que os laços de dependência que determinavam a articulação familiar e social da mulher ainda eram resistentes no século passado.

SANT'ANA, Rizio Bruno & COSTA, Iraci del Nero da. A escravidão brasileira nos artigos de revistas (1976-1985). v.19, n.1, p.131-194, jan./abr. 1989.

Reunião de 276 resumos de trabalhos sobre a escravidão negra e indígena brasileira, publicados em mais de noventa revistas nacionais e estrangeiras, entre 1976-85. Trata-se de uma tentativa de atualização, no que se refere aos periódicos, da obra de Robert Conrad intitulada Brazilian slavery: an annotated research bibliography.

SCHWARTZ, Stuart B. Padrões de propriedade de escravos nas Américas: nova evidência para o Brasil. v. 13, n. 1, p.259-287, jan./abr. 1983.

Estimam-se alguns dados quantitativos para a região do Recôncavo baiano, que possibilitam não apenas situar a posse de escravos no contexto do Brasil como um todo, mas também permitem o confronto da situação brasileira com a vigente no sul dos Estados Unidos e na Jamaica, no período da escravidão. Impõe-se, como necessidade, uma atenção especial à análise dos complexos ajustamentos entre a propriedade da terra e de escravos que caracterizavam o sistema canavieiro.

SCHWARTZ, Stuart B. Mocambos, quilombos e Palmares: a resistência escrava no Brasil Colonial. v.17, n. esp., p.61-88, 1987.

Fugas de escravos e mocambos eram uma constante na história da escravidão no Brasil. Muitas destas comunidades localizavam-se perto de vilas e fazendas e viviam de roubos contra as mesmas. Os mocambos muitas vezes misturavam aspectos culturais da África e da experiência escrava no Brasil. A palavra quilombo, um sinônimo para comunidade de escravos fugidos, referia-se a uma instituição angolana e era talvez relacionada diretamente com a história de Palmares.

SCOTT, Rebecca J. Abolição gradual e a dinâmica da emancipação dos escravos em Cuba, 1868-86. v.17, n.3, p.457-485, set./dez. 1987.

Analisa-se o processo de transição do sistema escravista em Cuba. Discute-se a rebelião de 1868, quando pequenos proprietários chegaram a libertar escravos para lutarem no exército insurgente, e a adoção da Lei Moret, que libertava as crianças nascidas a partir deste ano e os escravos com mais de sessenta anos. Com a adoção do patronato, em 1880, introduziu-se o pagamento de pequenos salários aos escravos, que tinham direito à sua autocompra. O fim dos castigos corporais em 1883 e o término do patronato com a conseqüente abolição da escravatura são os últimos passos desta transição, que desmontou peça por peça a estrutura legal da escravidão.

SLENES, Robert W. O que Rui Barbosa não queimou: novas fontes para o estudo da escravidão no século XIX. v. 13, n. 1, p. 117-149, jan./abr. 1983.

Apontam-se novas fontes documentais para o estudo da escravidão no século XIX, entre elas a matrícula de escravos. Inicialmente, examinam-se a confiabilidade desta e de outras fontes, com a crítica aos dado disponíveis. Focalizam-se os manuscritos das matrículas, para mostrar como tais documentos podem esclarecer questões importantes da história econômica e social do escravismo. Discute-se, por fim, uma pesquisa realizada a partir desta documentação.

SLENES, Robert W. Escravidão e família: padrões de casamento e estabilidade familiar numa comunidade escrava (Campinas, século XIX). v. 17, n. 2, p. 217-227, maio/ago. 1987.

A crítica a uma amostra das listas da matrícula de escravos de 1872, em Campinas-SP, sugere uma visão da família escrava bastante diferente do quadro consagrado na historiografia sobre o assunto. Nos plantéis com dez ou mais escravos, as uniões sexuais estáveis eram comuns, a procriação acontecia principalmente dentro destas uniões e a grande maioria das crianças passava seus anos formativos na companhia de ambos os pais. Há razões para concluir que os resultados para Campinas são representativos das regiões de grande lavoura em São Paulo e no Rio de Janeiro como um todo. Enfim, apesar do impacto negativo do cativeiro sobre a família, visível especialmente nos plantéis pequenos, não se pode caracterizar como desorganizada ou anômica a vida íntima do escravo.

SLENES, Robert W. Os múltiplos de porcos e diamantes: a economia escrava de Minas Gerais no século XIX. v. 18, n. 3, p. 449-495, set./dez. 1988.

Numa série de estudos, Roberto B. Martins e Amílcar Martins Filho argumentam que Minas Gerais foi uma das províncias que mais importaram escravos no Brasil, durante a primeira metade do século XIX. Esta conclusão é aceita, mas questiona-se a explicação que eles oferecem para o tráfico mineiro. Argumenta-se que não foi a abundância de terra (e a conseqüente falta de um mercado de trabalho livre) que levou os proprietários a continuar requisitando o braço escravo. A existência em Minas de uma economia agropecuária e extrativa significativa, orientada para mercados externos, no Brasil ou fora, e o alto preço dos produtos importados, decorrente do custo de transporte, são fatores mais importantes para explicar o grande volume do tráfico de escravos, pois garantiam que a demanda por bens e serviços, oriunda dos setores exportadores, tivesse um efeito multiplicador sobre os setores que produziam para o mercado interno. Reduzindo-se os setores tradicionais de exportação, no fim do século XIX, a escravidão em Minas, fora das áreas ligadas à produção de café, mostrou forte tendência ao declínio, ao contrário do que argumentam os Martins.

WALL, Richard. A saída do lar e o processo de formação dos domicílios na Inglaterra pré-industrial. v. 20, n. 1, p. 59-85, jan./abr. 1990.

Alguns aspectos da história da família na Inglaterra são revistos, a partir de detalhes sobre padrões familiares encontrados em censos de determinadas localidades, realizados entre fins do século XVI e início do século XIX. Consideram-se apenas os aspectos relativos aos padrões da população enquadrada na estrutura imposta pelo grupo residente no lar, o domicílio.

 

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PUBLICAÇÕES RECEBIDAS

MEZA, René Salinas. El ideario feminino chileno, entre la tradicion y la modernidad: siglos XVIII al XIX. São Paulo, CEDHAL-USP, 1993, 91 p. (Estudos CEDHAL, 8).

Endereço: CEDHAL-USP.

Caixa Postal 8.105.

05508-900, São Paulo, SP.

Fone:(011) 818-3745

Fax/Fone: (011) 815-5273.

BOLETIM DO CENTRO DE MEMÓRIA - UNICAMP (BCMU). Campinas, Unicamp,vol. 4, no. 7/8, 1992, 146 p.

Endereço: Boletim do Centro de Memória - UNICAMP.

Cidade Universitária "Zeferino Vaz".

R. Sérgio Buarque de Holanda, 800.

Caixa Postal 6.023.

13081-970, Campinas, SP.

Fones: (0192) 39-3441, 398216.

ONU - Department of Economic and Social Development. Abortion policies: a global review, vol. I: Afghanistan to France. New York, ONU, 1992, vii+158 p.

ONU - Department for Economic and Social Information and Policy Analysis. Abortion policies: a global review, vol. II: Gabon to Norway. New York, ONU, 1993, viii+243 p.

ONU - Department for Economic and Social Information and Policy Analysis. Women's status and fertility in Pakistan: recent evidence. New York, ONU, 1993, ix+29 p.

ONU - Department for Economic and Social Information and Policy Analysis. Fertility transition and women's life course in Mexico. New York, ONU, 1993, vii+61 p.

ONU - Department for Economic and Social Information and Policy Analysis. Internal migration of women in developing countries: proceedings of the United Nations Expert Meeting on the Feminization of Internal Migration (Aguascalientes, Mexico, 22-25 October 1991). New York, ONU, 1993, xii+359 p.

POPULATION Newsletter. New York, ONU, no. 56, dez. 1993, 20 p.

Endereço: Director.

Population Division.

Department for Economic and Social Information

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United Nations Secretariat.

New York, NY 10017.

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QUINTEIRO, Maria da Conceição. Razão e emoção na união conjugal. Campinas, UNICAMP-NEPO, 1993, 77 p. (Textos NEPO, 27).

Endereço: Núcleo de Estudos de População - NEPO.

Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP.

Caixa Postal 6.166.

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MATOS, Odilon Nogueira de (ed. responsável). Notícia Bibliográfica e Histórica. Campinas, PUCCAMP, ano XXIV, no. 145, jan./mar. 1992. Estampa o trabalho de Gustavo Beyer intitulado: Viagem a São Paulo no verão de 1813.

MATOS, Odilon Nogueira de (ed. responsável). Notícia Bibliográfica e Histórica. Campinas, PUCCAMP, ano XXIV, no. 146, abr./jun. 1992.

MATOS, Odilon Nogueira de (ed. responsável). Notícia Bibliográfica e Histórica. Campinas, PUCCAMP, ano XXIV, no. 147, jul./set. 1992.

MATOS, Odilon Nogueira de (ed. responsável). Notícia Bibliográfica e Histórica. Campinas, PUCCAMP, ano XXIV, no. 148, out./dez. 1992.

Endereço: Revista Notícia Bibliográfica e Histórica.

Caixa Postal 1.539.

13020-904, Campinas, SP.

BRETTELL, Caroline B. & METCALF, Alida C. Family customs in Portugal and Brazil: transatlantic parallels. Continuity and Change. Cambridge, Cambridge University Press, 8(3):365-88, 1993.

Endereço: Alida C. Metcalf.

Department of History.

Trinity University.

715 Stadium Drive.

San Antonio, Texas 78212-7200.

Fone: 210/736-7627.

FAX: 210/736-7305.

LPH: REVISTA DE HISTóRIA. Mariana, Laboratório de Pesquisa Histórica - Departamento de História / Universidade Federal de Ouro Preto, vol. 3, no. 1, 1992.

Endereço: LPH: REVISTA DE HISTÓRIA.

Universidade Federal de Ouro Preto.

Rua do Seminário, s/n.

35420-000, Mariana, MG.

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Os livros, cópias de artigos publicados e exemplares de monografias, de dissertações e de teses que nos forem enviados, serão regularmente divulgados nesta secção e incorporados ao acervo da Biblioteca da FEA-USP.

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