BOLETIM DE HISTÓRIA DEMOGRÁFICA
Ano X, no. 30, novembro de 2003
SUMÁRIO
ROL - Relação de Trabalhos Publicados
Neste
número de nosso BHD, além de publicarmos artigos originais de Arethuza
Helena Zero e de Maria
Cristina Silva de Paiva & Paulo Shikazu Toma, nos foi dado divulgar
três importantes relações de resumos. Uma concernente ao V Congresso Brasileiro de História
Econômica promovido pela Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica
(ABPHE), outra referente ao
I Encontro de Castro (PR) e que se denominou "Escravidão
e Liberdade no Brasil Meridional" e uma terceira relativa à I
Jornada Internacional de História da Família, promovida pelo CEDHAL, Centro de
Estudos de Demografia Histórica da América Latina da FFLCH/USP, São Paulo
(SP). Na
reunião de Castro apresentou-se um
amplo painel que evidencia os grandes avanços alcançados, para a região sul
do Brasil, pela pesquisa dos temas vinculados à economia e à demografia da
escravidão; em face da relevância e abrangência dos trabalhos apresentados,
permitimo-nos reproduzir os resumos de todas as comunicações apresentadas
nesse encontro, independentemente do fato de estarem votados à área da
história demográfica. Realce similar foi emprestado às comunicações que
selecionamos do encontro promovido pelo CEDHAL, as quais foram reproduzidas em
tópico igualmente isolado. Rizio
Bruno Sant'Ana, por seu turno, nos reporta o trabalho de vulto de
digitalização de obras raras empreendido pela Biblioteca Mário de Andrade.
Já a Francisco Vidal
Luna e a Herbert S. Klein ficamos a dever a publicação de Slavery and the economy of São
Paulo, 1750-1850, o qual também será editado em português. Dois outros
eventos que marcaram agradavelmente o trimestre foram a atualização da
home-page de Ângelo Alves Carrara e o lançamento da home-page de Luciana
Suarez Galvão Pinto.
Maria Cristina Silva de Paiva & Paulo Shikazu Toma. Emprego e Dinâmica Populacional na Zona da Mata de Minas Gerais no período de 1960 a 2000.
RESUMO. Segundo a caracterização de áreas de atração e evasão populacional no Brasil, realizada em 1979 pelo IBGE, a Zona da Mata de Minas Gerais foi enquadrada como uma região tipicamente de emigração. A região liberou, no período do chamado milagre econômico, parcelas de sua população que se deslocaram para outras regiões em busca de trabalho. O período de 1960 a 1970 foi marcado por altos índices, tanto regionais, como nacionais, de urbanização e de transferência de atividades agropecuárias para as não-agropecuárias. No entanto, o ritmo de ocupação da mão-de-obra no Brasil observado a partir da década de 1950, começa a se desacelerar no início da década de 1980, tendência que não se reverte até o final da década de 1990. Pode-se supor, então, que o cenário recessivo dos grandes centros nas décadas de 1980 e 1990 anulou parcialmente a atratividade que os mesmos exerciam anteriormente sobre a população das regiões de expulsão. O objetivo dos autores deste trabalho é analisar a dinâmica demográfica da Zona da Mata Mineira no período de 1960 a 2000, interpretando-a à luz do cenário econômico do período. Os resultados da pesquisa identificaram a retenção populacional, permitindo inferir que a Zona da Mata estaria, a partir da década de 1980, iniciando um processo de redinamização econômica, que se daria em resposta aos fatores negativos existentes nos grandes centros. Para ler a versão integral .
Maria Cristina Silva de Paiva é Professora MSc. do Departamento de Economia da Fundação de Ensino Superior de Rio Verde (FESURV-GO)
Paulo
Shikazu Toma é Professor MSc. do Departamento de Economia da
Universidade Federal de Viçosa (UFV-MG)
Arethuza
Helena Zero. O preço da liberdade: caminhos da infância tutelada, Rio Claro,
1871-1888.
RESUMO. Nesse trabalho busca-se o entendimento das formas de controle social
exercidas sobre a população pobre infantil no século XIX analisando-se as
ambigüidades da "Lei do Ventre Livre", que contribuíram para o
aproveitamento espoliativo da mão-de-obra escrava infantil. O enfoque central
é dado aos ingênuos, crianças nascidas livres de mães escravas após a
"Lei do Ventre Livre". Verificamos os mecanismos institucionais
(legais), econômicos e sociais que possibilitaram a existência de crianças
tuteladas no decorrer da transição do trabalho escravo para o trabalho livre,
assim como identificamos os fatores que contribuíram para as famílias
abandonarem seus filhos. Nesse contexto foi possível a caracterização da
tipologia (idade, sexo, órfã de pai e/ou mãe) das crianças tuteladas, bem
como o estabelecimento de suas relações com os tutores e a especificação do
perfil sócio- econômico deles. Para ler a
versão integral
.
ALMEIDA,
Maria Regina Celestino de. Metamorfoses indígenas: identidade e cultura nas
aldeias coloniais do Rio de Janeiro, 2003.
Apresentação efetuada por equipe do Arquivo Nacional. Metamorfoses
indígenas traz perspectivas inovadoras e informações surpreendentes, que
desafiam o leitor a repensar o lugar dos índios na história colonial do Rio de
Janeiro e, de modo mais geral, na história do Brasil. Maria Regina mostra que,
passar a viver entre os colonizadores e negar qualquer vínculo com sua
condição pretérita, ou fugir para as brenhas do sertão, buscando manter o
seu modo de vida em regiões de refúgio, não foram de fato as duas únicas
alternativas que se apresentaram aos índios no Brasil colonial, pois eles
também resistem e demarcam espaços próprios de sociabilidade. Trabalhar com
essa terceira via, a hipótese verdadeiramente transfigurativa, impõe aos
historiadores e antropólogos uma nova agenda, na qual estudar os índios (no
passado ou no presente) é efetivamente uma boa chave para se entender o Brasil.
ENGERMANN,
Carlos. Comunidade escrava e grandes escravarias do século XIX.
Comunicação apresentada no V Congresso Brasileiro de História Econômica,
promovido pela Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica
(ABPHE), Caxambu (MG), setembro de 2003.
RESUMO. Apresentamos neste artigo as reflexões iniciais da pesquisa que
conduzimos em torno de algumas grandes escravarias do Sudeste no século XIX.
Buscamos inicialmente identificar indícios de formação de comunidades
escravas nestes plantéis demograficamente numerosos, para a seguir tentar
mapear os diferentes estágios na formação das mesmas. Refletimos também
sobre as especificidades das escravarias nas quais há largos vínculos
parentais, de tal modo a permitir a identificação dos instrumentos usuais de
socialização cativa. Nesse sentido, investigamos o manejo dos espaços
sociais, temporais e físicos, encarando-os como possibilidades de paroxismos
das tensões e das estratégias do cativeiro e, ao mesmo tempo, como instâncias
onde os laços comunitários fluem e refluem, a bem das intenções primeiras
que os instauraram.
FERREIRA, Roberto Guedes. Trabalho, família, aliança e
mobilidade social:
estratégias de forros e seus descendentes -- Vila de Porto Feliz, São Paulo,
século XIX. Comunicação apresentada no V Congresso Brasileiro de História
Econômica, promovido pela Associação Brasileira de Pesquisadores em História
Econômica (ABPHE), Caxambu (MG), setembro de 2003.
RESUMO. A pesquisa aborda o tema da mobilidade social, e seu objeto é
constituído por forros e seu descendentes. O cenário escolhido para análise
é a vila de Porto Feliz, entre 1798 e 1850; área voltada para a produção
de açúcar, de alimentos e a criação de animais. O objetivo é analisar
estratégias que forros e seus descendentes utilizaram para alcançarem sua mobilidade
social, ressaltando que a conjugação do trabalho, das relações familiares e
das alianças com as elites políticas locais foi crucial para a mobilidade
social ascendente dos grupos em questão. Nesse sentido, a mobilidade social
não é encarada apenas pelo prisma econômico, mas leva em conta aspectos de
natureza política e de inclusão em redes de sociabilidade local, o que, por
seu turno, aponta para a fluidez em meio a hierarquias sociais, no sentido de
incorporação de uma parcela de membros dos grupos subalternos para a
estabilidade da sociedade em questão. Por outro lado, a mobilidade social é
analisada como um empreendimento familiar que se processa ao longo de
gerações. Para atingir os objetivos acima propostos utilizo um corpo de fontes
variado (listas nominativas, inventários post-mortem,
testamentos etc.), sirvo-me, ademais, do cruzamento onomástico, o qual foi fundamental
para a
análise de trajetórias familiares.
FRANCO
NETTO, Fernando. Algumas considerações sobre a estrutura de posse de
cativos e a hipótese do ciclo de vida - Guarapuava - século XIX.
Comunicação apresentada no V Congresso Brasileiro de História Econômica,
promovido pela Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica
(ABPHE), Caxambu (MG), setembro de 2003.
RESUMO. Na presente pesquisa, pretende-se avaliar algumas características da
estrutura de posse de escravos, a partir das listas nominativas de habitantes
dos anos de 1828, 1835 e 1840, período esse considerado como de ocupação da
região permitindo assim a migração de uma população integrada por militares
e por proprietários de escravos com condições de desenvolverem as atividades
de pecuária, além de pequenos lavradores e agregados e de uns poucos
comerciantes. Além disto, estaremos preocupados em observar alguns elementos
característicos dos proprietários de cativos, verificando sua trajetória de
vida, a fim de avaliar a evolução de sua posse de cativos no correr de suas
vidas, conforme progrediam em suas atividades econômicas. Finalmente,
procuramos cruzar essas mesmas características, para determinados escravistas,
quando de sua morte, com base nos inventários post-mortem. A posse
média de escravos demonstra a tendência de aumento na propriedade de cativos
à medida que a idade dos proprietários aumentava, dando condições para que
possamos levantar a hipótese do ciclo de vida. Portanto, estaremos preocupados
em estudar a evolução da propriedade e de como a hipótese do ciclo de vida
faz-nos compreender melhor a composição da riqueza em cativos.
FURTADO,
Júnia Ferreira. Família e relações de gênero no Tejuco: o caso de Chica da
Silva. Varia História. Belo Horizonte, Dep. História/UFMG, 24, jan. de
2001, p. 33-74.
RESUMO. A autora estuda a conformação da população urbana do Arraial do
Tejuco na segunda metade do século XVIII. Toma como ponto de partida o censo
dos domicílios realizado no arraial em 1774. Por meio dele é possível
perceber que as mulheres de cor libertas representavam número significativo do
total de chefes de domicílio no arraial, fato que revela sua ascensão social.
Caso ilustrativo foi o de Chica da Silva, cuja vida é avaliada neste artigo.
FURTADO,
Júnia Ferreira. Chica da Silva e o contratador de diamantes: o outro lado do
mito. São Paulo, Companhia das Letras, 2003, 464 p.
TEXTO DE CONTRACAPA. Rainha, heroína, perdulária, megera ou devoradora de
homens? A julgar por sua relação com o contratador de diamantes e
desembargador João Fernandes de Oliveira, com quem viveu por quinze anos, Chica
da Silva não foi a mulher de vida extravagante retratada nos romances, no
cinema e na televisão. Esta pesquisa histórica minuciosa mostra como Chica -
nascida em data incerta, entre os anos de 1731 e 1735, auge da febre dos
diamantes no arraial do Tejuco - levou uma vida próxima à das senhoras brancas
da sociedade mineira do século XVIII. Sua trajetória permite também
estabelecer um retrato mais completo das mulheres forras do período. Mulata,
filha da negra Maria da Costa com o português Antonio Caetano de Sá, Chica
nasceu escrava, mas teve alforria concedida por João Fernandes de Oliveira em
1753. Com ele, Chica teria 13 filhos entre 1755 e 1770. A prole numerosa, gerada
num período tão curto, questiona o estereótipo de sensualidade ao qual Chica
foi insistentemente associada. Como outras mulheres forras do arraial, a
ex-escrava ingressou em irmandades que, segundo seus estatutos, deveriam ser
exclusivas da população branca e criou as nove filhas no melhor
estabelecimento de ensino da região. Chica acumulou pecúlio considerável,
tornou-se proprietária de casa e chegou a possuir mais de cem escravos,
quantidade elevada mesmo para os padrões da elite. Amparada em documentação
oficial de arquivos do Brasil, de Portugal e dos Estados Unidos, Júnia Furtado
mostra como Chica da Silva não foi exceção, mas um exemplo, entre muitos, da
grande camada de mulatos e negros que procuravam diminuir o estigma da cor e da
condição de ex-escravos. A autora liberta, assim, Francisca da Silva de
Oliveira do manto de sensualidade com que o século XX a envolveu, em benefício
de uma visão que descobre a personagem histórica por trás do mito.
GIL,
Tiago. O contrabando na fronteira: uma produção social de mercadorias.
Comunicação apresentada no V Congresso Brasileiro de História Econômica,
promovido pela Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica
(ABPHE), Caxambu (MG), setembro de 2003.
RESUMO. Em 1764 o rei de Portugal determinou a proibição do comércio de mulas
entre os territórios lusos e espanhóis no sul da América. Com o passar do
tempo outros produtos também foram proibidos, entre os quais o couro. Todavia,
a circulação desses bens continuou, mas de forma diferente. A partir de
então, era uma ampla rede de relacionamentos, ancorada em importantes postos no
governo, e envolvendo espanhóis, portugueses e indígenas minuanos, que
garantia a circulação dos produtos proibidos. Este trabalho pretende analisar
quais foram as formas que esses homens desenvolveram para dar prosseguimento ao
seu negócio, tais formas incluíam, além de vários estratagemas, alianças de
parentesco e reciprocidade, laços que cruzavam todos os estratos da sociedade
colonial, num "bando" articulado. Esse conjunto articulado de homens
dominava, assim, uma técnica muito refinada de transformar contrabando em gado
e couro. Outros, menos afortunados, ainda que levassem as mesmas mercadorias,
não passavam de meros contrabandistas. Para estudar esse problema utilizamos um
número muito diversificado de fontes. A partir desses documentos elaboramos uma
lista de todos os envolvidos com as acusações que lhes foram imputadas.
Primamos por analisar as trajetórias daqueles sujeitos, buscando compreender as
estruturas que estavam subjacentes ao aludido mercado.
GODOY,
Silvana Alves de. Itu e Araritaguaba na rota das monções (1718-1838).
Comunicação apresentada no V Congresso Brasileiro de História Econômica,
promovido pela Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica
(ABPHE), Caxambu (MG), setembro de 2003.
RESUMO. Em 1718 foram descobertas as primeiras minas de ouro na região
Centro-Oeste da colônia. A difusão da notícia fez com que inúmeras pessoas
para lá se dirigissem. Ao mesmo tempo em que a descoberta das minas ampliou os
horizontes dos que se lançaram à busca do precioso metal, também ocasionou
alguns problemas, sobretudo o abastecimento dos que para elas se dirigiram. Não
tardou para que esse novo mercado colonial ensejasse o início das longas
expedições denominadas Monções. As monções eram expedições fluviais
povoadoras e comerciais que partiam de Araritaguaba, uma freguesia de Itu,
navegando pelo Tietê e pela rede de afluentes do Paraná e do Paraguai até ao
Cuiabá. Atravessar tal percurso requeria uma base de apoio crucial para as
expedições. Por sua localização geográfica, Itu, onde estava localizado o
porto de embarque, propiciou as bases necessárias para a partida das
expedições. Este trabalho analisa a participação de Itu na rota das
Monções, quer fornecendo mantimentos para os viajantes, quer mediante a
construção de canoas, remos propiciando, ainda, a mão-de-obra necessária
para as expedições. Assim, é possível perceber o efeito dinamizador das
minas de Cuiabá sobre a vila de Itu, apontando para um panorama além das
tradicionais imagens de despovoamento, estagnação e decadência da capitania
paulista durante o século XVIII, ainda que não se desconsidere a existência
de uma efetiva migração de paulistas. Para realizar este trabalho, recorro a
um conjunto de fontes variado, composto por inventários, post-mortem,
testamentos, relatos de viagem, processos judiciais e ordenanças.
GUIMARÃES,
Elione Silva. Libertos e proprietários fundiários na disputa pela terra (Juiz
de Fora -- MG, fins do oitocentos e início do dezenove). Comunicação
apresentada no V Congresso Brasileiro de História Econômica, promovido pela
Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica (ABPHE),
Caxambu (MG), setembro de 2003.
RESUMO. O objetivo do texto é apresentar os resultados de uma pesquisa que
aborda a relação entre libertos e proprietários fundiários na luta pela
terra. Acompanhei um grupo de indivíduos que nasceram cativos, desde meados do
século XIX, seguindo-os, e a seus descendentes, por alguns anos no
pós-abolição (1928). Parte destes escravizados foram alforriados em 1878 e
tornaram-se herdeiros de terras legadas pela ex-senhora. Através de um conjunto
de fontes variadas (inventários post-mortem, processos cíveis,
documentação da câmara, escrituras de compra e venda e escrituras de bens)
segui o confronto destes libertos com os condôminos mais fortes, desejosos de
expulsá-los da terra. A valorização econômica da região onde se localizava
a propriedade fez com que a mesma se transformasse em um espaço de cobiça e de
tensões, gerando conflitos. Através dos casos apresentados e analisados,
procuro alargar o conhecimento a respeito dos destinos de afrodescendentes que
herdaram terras de seus ex-proprietários, em uma região economicamente
dinâmica -- Juiz de Fora, o principal município produtor de café das Gerais
no período em tela.
HAMAISTER,
Martha Daisson. Na pia bastismal: estratégias de interação, inserção e
exclusão social entre os migrantes açorianos e a população estabelecida na
vila de Rio Grande, através do estudo das relações de compadrio e parentesco
fictícios (1738-1763). Comunicação apresentada no V Congresso Brasileiro
de História Econômica, promovido pela Associação Brasileira de Pesquisadores
em História Econômica (ABPHE), Caxambu (MG), setembro de 2003.
RESUMO. Fazendo uso dos Registros de Batismo de filhos de açorianos na Vila do
Rio Grande, observou-se o estabelecimento de redes de relações interpessoais
entre os migrados das ilhas e destes com grupos sociais da região, mediante o
compadrio. O desafio consiste em cruzar as informações destes registros com
demais fontes disponíveis para a localidade e período, buscando detectar
efeitos deste parentesco fictício nas trajetórias familiares e individuais,
quer para a criança batizada e sua família, quer para os padrinhos e seus
parentes. Assim, têm sido levantados dados das cartas de concessão de
sesmarias, registros de patentes e mercês régias, de casamentos e de óbitos,
contratos de arrematação de taxas, entre outros. Como instrumento
metodológico vem sendo empregado o método onomástico, enunciado por Carlo
Guinzburg em seu artigo "O nome e o como". Aglutinam-se em fichas
nominais os dados qualitativos coletados e efetua-se o seu cruzamento. A
pesquisa, ainda em andamento, oferece algumas conclusões preliminares, dentre
as quais a existência de comportamentos diferenciados no estabelecimento dos
compadrios, provavelmente relacionados com vínculos e práticas preexistentes
nas diferentes ilhas de origem e a criação de laços com chefes de família de
estatuto social um tanto mais elevado, para além do compadrio direto, através
de suas esposas ou filhas, que se tornavam madrinhas de filhos dos ilhéus.
LIMA,
Carlos A. M. "Sertanejos" and republican: colored freemen in Castro
and Guaratuba (1801-1835). Estudos Afro-Asiáticos. Rio de Janeiro,
Centro de Estudos Afro-Asiáticos/Conjunto Universitário Cândido Mendes, v.
24, n. 2, p. 317-344, 2002.
RESUMO. As áreas meridionais da América portuguesa conheceram, a partir do
final do século XVIII, um forte processo de atração de libertos e de livres
de cor. Dotadas de contingentes escravos não só pequenos como recentes, as
populações de tais áreas continham uma altíssima proporção de não-brancos
livres e libertos. O autor considera os padrões de assentamento de livres de
cor em Castro e Guaratuba (no atual Paraná). Isto é importante para se
compreender o modo como um campesinato negro se relacionava com a fronteira
agrária. Castro e Guaratuba apresentavam expressivas semelhanças e
diferenças; Guaratuba era uma isolada vila litorânea ao passo que Castro --
embora também tenha sido fundada no fim do século XVIII -- constituía local
de povoamento mais antigo e de relação mais intensa com o mercado interno.
LIMA,
Carlos A. M. Sobre as posses de cativos e o mercado de escravos em Castro
(1824-1835): perspectivas a partir da análise das listas nominativas.
Comunicação apresentada no V Congresso Brasileiro de História Econômica,
promovido pela Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica
(ABPHE), Caxambu (MG), setembro de 2003.
RESUMO. A evolução do contingente escravo nas áreas que atualmente constituem
o Paraná ainda necessita de muitos esclarecimentos. Houve forte processo de
crescimento daquele contingente entre os anos finais do século XVIII e meados
do seguinte. Posteriormente, parece ter havido um certo estancamento, o qual
não necessitou esperar pelo avanço do tráfico interprovincial, tendo a
população escrava local permanecido renitentemente na casa dos dez mil
cativos, excluída a década de 1880. Essa capacidade da população cativa na
direção de crescer quase continuamente ao longo da primeira metade do século
XIX indica a necessidade de se conhecer mais profundamente os mecanismos
mediante os quais os proprietários da área aprovisionavam-se em cativos. Os
trabalhos disponíveis parecem conter implícita a noção de que a reprodução
natural de uma população escrava eminentemente integrada por pessoas nascidas
no Brasil e portanto com alta proporção de crianças e distribuição entre os
sexos próxima do equilíbrio deve ter sido responsável por isso. Neste
trabalho, no entanto, levantam-se informações capazes de alterar essa imagem
no que toca a meados dos anos 1830, e esse pode ter sido um intervalo de
transformações fortes na oferta de africanos em decorrência das mudanças que
então se verificavam no tráfico de escravos africanos. Para isso, trabalha-se
aqui com dados das listas nominativas de Castro entre 1824 e 1835, área esta
que, além de fortemente expansiva por conta de sua pecuária, concentrava as
maiores escravarias do que é hoje o Paraná.
LIMA,
Ivana Stolze. Cores, marcas e falas: sentidos da mestiçagem no Império do
Brasil, 2003.
Apresentação efetuada por equipe do Arquivo Nacional. Baseado em pesquisa
extensa e original, Cores, marcas e falas surpreende pela forma inovadora
com que trata do tema clássico da mestiçagem, em suas relações com os
processos de construção de uma identidade nacional e de identidades
sociorraciais no Brasil oitocentista. As identidades nacionais e raciais como as
conhecemos hoje são construções históricas do século XIX, freqüentemente
naturalizadas nas representações atuais. O texto de Ivana acompanha esse
processo, mostrando que as noções de identidade brasileira e de mistura de
raças se apresentam relacionadas desde a afirmação do Brasil como país
independente. Nem uma nem outra, entretanto, tinham significados precisos e
amplamente compartilhados naquele período. Ao contrário, foram objeto de
disputas de significação pelos diversos atores sociais que interagiam no
complexo cenário social das primeiras décadas após a abdicação de d. Pedro
I.
MARCONDES,
Renato Leite & COSTA, Iraci del Nero da. "Racionalidade
econômica" e escravismo brasileiro: uma nota. Estudos de História,
Franca (SP), Faculdade de História, Direito e Serviço Social da UNESP, vol. 9,
n. 1, p. 249-256, 2002.
RESUMO. Os autores demonstram, com base em casos concretos relatados por
viajantes que nos visitaram no século XIX, que os escravistas nascidos ou
residentes no Brasil perseguiam a maximização dos ganhos que lhes eram
propiciados pela exploração da mão-de-obra escrava. Utilizavam-se, para
tanto, de uma variada gama de relacionamentos e controles que iam do tratamento
violento à distribuição de prêmios que variavam de acordo com a
produtividade e o comportamento do cativo.
OLIVEIRA,
Lélio Luiz de. Ao lado do café. Produção de exportação e de
abastecimento em Franca - 1890-1920. São Paulo, Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, doutorado em História, 2003,
251 p.
RESUMO. Esta pesquisa aborda relevante faceta do setor rural, na transição do
século XIX para o XX, em São Paulo, priorizando as articulações internas,
consolidadas no município de Franca, que permitiram a coexistência da
cafeicultura e da produção mercantil de abastecimento interno, no período de
1890 a 1920. A dinâmica da cafeicultura ligou o município ao mercado externo,
mas, ao mesmo tempo, não o levou à monocultura, promoveu, outrossim, a
retroalimentação dos setores destinados ao abastecimento interno, como a
pecuária e a agricultura de alimentos. Nesse contexto, houve, em grande medida,
a permanência da estrutura material das propriedades rurais, bem como limitada
alteração da estrutura fundiária. Diante da diversificação das atividades
econômicas, inclusive no meio urbano, a maior porcentagem das pessoas continuou
a se dedicar a profissões agrícolas -- lavradores e criadores. A maior parte
da riqueza dos proprietários permaneceu no campo. Diante dos reveses do
mercado, boa porção dos resultados da produção foi guardada ou investida em
imóveis.
PERES,
Elena Pájaro A Inexistência da Terra Firme: A imigração galega em São
Paulo, 1946-1964. São Paulo, Edusp / Imprensa Oficial / FAPESP, 2003, 424
p.
RESUMO. Os estudos sobre migração espanhola não dão conta, por via de regra,
da diversidade sociocultural da Espanha, pressupondo uma unidade nacional
artificial. Analisar a experiência vivida por uma parcela desses imigrantes, os
galegos que deixaram a Espanha em direção ao Brasil após a Segunda Guerra, é
o propósito deste livro. A autora procurou recompor essa experiência
pesquisando em fontes documentais diversas, como as listas de desembarque de
passageiros no porto de Santos, a documentação das associações espanholas de
São Paulo, depoimentos de migrantes, além de fontes literárias.
PINHEIRO,
Joely Aparecida Ungaretti. Conflitos entre colonos e jesuítas na América
Portuguesa. Comunicação apresentada no V Congresso Brasileiro de História
Econômica, promovido pela Associação Brasileira de Pesquisadores em História
Econômica (ABPHE), Caxambu (MG), setembro de 2003.
RESUMO. O tema desse trabalho está ligado aos conflitos entre Jesuítas e
Colonos nas áreas que hoje compreendem os estados do Maranhão, do Rio de
Janeiro e de São Paulo, na América Portuguesa, entre 1640 e 1685. A base do
conflito entre jesuítas e colonos era a disputa pelo índio. De um lado, os
"Soldados de Cristo" com o firme propósito de salvar as almas dos
nativos da Nova Terra; é o "combate pela fé", o "Bom
Combate" anunciado na bíblia por São Paulo. Do outro lado os colonos, que
procuravam os índios para utilizá-los como escravos em suas atividade
econômicas. Essas áreas foram placo de conflitos, muitas vezes violentos,
entre colonos e jesuítas pela posse do índio, pois este representava a força
de trabalho (mão-de-obra escrava) necessária para a sobrevivência econômica
dessas regiões nos primórdios da exploração lusitana na América.
SAMPAIO, Patrícia Melo. Nas teias da fortuna: acumulação mercantil e escravidão em Manaus, século XIX. Mneme - Revista de Humanidades, v. 3, n. 6, out.-nov. de 2002. Publicação eletrônica cuja URL é: http://www.seol.com.br/mneme .
RESUMO. A presença de escravos africanos na Amazônia, tradicionalmente, é tratada como acessória e pouco significativa pela historiografia. Analisando um conjunto de fontes seriadas (inventários post-mortem e escrituras públicas) de Manaus, capital da Província do Amazonas no século XIX, o artigo busca iluminar o lugar desses sujeitos sociais no espaço da produção e, principalmente, seu papel na configuração das fortunas da cidade no curso do Oitocentos.
SILVA,
Maria Conceição da. Entre a lei de Deus e a lei dos homens: a discussão do
casamento na cidade de Goiás do século XIX. Estudos de História,
Franca (SP), Faculdade de História, Direito e Serviço Social da UNESP, vol. 9,
n. 1, p. 207-225, 2002.
RESUMO. A autora aborda a atuação do clero no sentido de normatizar o
comportamento das pessoas por meio da celebração do matrimônio na cidade de
Goiás, no século XIX. As normas católicas tinham por objetivo a manutenção
de um catolicismo tridentino já com sua face ultramontana. Assim, a
Igreja Católica procurava moralizar a vida privada do fiel e, ao mesmo tempo,
evitar a adesão ao casamento civil após a aprovação do Decreto que o
estabeleceu no país.
SOARES,
Márcio de Sousa. De pai para filho: legitimação de escravos, herança e
ascensão social de forros nos Campos dos Goitacases, c. 1750 -- c. 1830.
Comunicação apresentada no V Congresso Brasileiro de História Econômica,
promovido pela Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica
(ABPHE), Caxambu (MG), setembro de 2003.
RESUMO. O argumento principal deste trabalho é que, por meio da perfilhação e
da alforria, alguns ex-escravos -- filhos naturais de homens livres abastados --
tiveram acesso a uma parcela significativa da fortuna de seus pais. Uma riqueza
material e simbólica, posto que também costumavam adotar o sobrenome paterno,
o que lhes permitiu ascender socialmente ao ampliarem as relações sociais com
pessoas livres encobrindo-lhes, em parte, o estigma do cativeiro. Boa parte dos
estudos que trata com maior ou menor profundidade do tema das alforrias e das
formas de re-inserção social dos libertos e de seus descendentes sob a vigência da escravidão
sustenta a hipótese de que a grande maioria dos forros, esmagada pela pobreza e
pela dependência, engrossava o contingente composto pelos chamados "desclassificados", supostamente vivendo uma situação de "anomia
social". Aqueles casos vivenciados por ex-escravos que porventura não se
enquadram nesse perfil são comumente qualificados como "exceções"
ou "pitorescos". Os resultados preliminares da pesquisa em curso --
embasados no exame de testamentos, inventários post-mortem, registros
paroquiais e processos de perfilhação referentes aos Campos dos Goitacases no
final do século XVIII e primeiras décadas do XIX -- permitem matizar as
possibilidades de re-inserção social dos forros e, assim, questionar aquela
espécie de "destino manifesto" com o qual a historiografia condenava
os ex-escravos e seus descendentes à miséria ou, no máximo, à pobreza.
VASCONCELLOS,
Márcia Cristina de. Get married or not, that is the question: the couples and
the slave single mothers on the South of Rio de Janeiro coast. Estudos
Afro-Asiáticos. Rio de Janeiro, Centro de Estudos Afro-Asiáticos/Conjunto
Universitário Cândido Mendes, v. 24, n. 2, p. 291-316, 2002.
RESUMO. Neste artigo analisam-se os registros paroquiais de batismo e de
casamento de escravos da freguesia de Nossa Senhora do Rosário de Mambucaba, em
Angra dos Reis, no século XIX, tendo como apoio os inventários post-mortem de
proprietários escravistas. Verificamos os tipos de casamentos predominantes, se
endogâmicos por origem, africanos com africanos e crioulos com crioulos, ou
mistos. Ao mesmo tempo, observamos em que medida as condições advindas do fim
efetivo do tráfico externo de escravos, em 1850, as transformações
econômicas e demográficas presentes na segunda metade do oitocentos em
Mambucaba influíram na ida de cativos à Igreja, a fim de sacramentar suas
uniões, e quem eram as mães solteiras que viviam em Mambucaba.
VASCONCELLOS,
Márcia Cristina de. Estrutura de posse de escravos em Angra dos Reis,
século XIX. Comunicação apresentada no V Congresso Brasileiro de
História Econômica, promovido pela Associação Brasileira de Pesquisadores em
História Econômica (ABPHE), Caxambu (MG), setembro de 2003.
resumo. A presente comunicação busca apresentar os primeiros resultados
relativos a algumas das características da estrutura de posse e da demografia
escrava de Angra dos Reis, no litoral sul-fluminense, ao longo do século XIX. A
localidade caracterizava-se pela produção voltada ao autoconsumo e ao mercado
interno e estava indiretamente vinculada ao mercado externo na medida em que os
portos aí localizados representavam um dos principais meios de escoamento do
café proveniente do vale do Paraíba fluminense e paulista. Tal movimento
portuário dinamizou a vida econômica local na primeira metade do século, e
sua diminuição, ao longo da segunda metade do Oitocentos, foi, ao lado do
término definitivo do tráfico externo de escravos em 1850, um dos elementos
geradores de um quadro de abatimento econômico que se estendeu até a segunda
década do século XX. Desta forma, buscamos verificar as características
demográficas da população escrava e a estrutura de posse mediante
comparação entre a primeira e a segunda metade do século XIX. As fontes
principais são os inventários post-mortem, localizados no Museu da
Justiça do Estado do Rio de Janeiro.
ZERO,
Arethuza Helena. Ingênuos, libertos, órfãos e a Lei do Ventre Livre.
Comunicação apresentada no V Congresso Brasileiro de História Econômica,
promovido pela Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica
(ABPHE), Caxambu (MG), setembro de 2003.
RESUMO. No Brasil do século XIX as regras da sociedade escravocrata estavam
inteiramente nas mãos dos senhores de escravos. Muitos homens, mulheres,
escravos e libertos, apresentaram-se diante da lei, alguns recuaram, devido à
indiferença e ao descomprometimento por parte dessa; outros, com ousadia,
tentaram fazer valer os seus direitos. O comportamento destes escravos e
libertos produziu evidências relevantes que hoje são investigadas por diversos
historiadores. O presente trabalho, pretende dar voz a alguns desses atores que,
apesar de muitas vezes permanecerem silenciosos, fizeram a nossa história.
Buscamos em nosso estudo o entendimento das formas de controle social exercidas
sobre a população pobre infantil no século XIX, analisando as ambigüidades
da "Lei do Ventre Livre" que contribuíram para o aproveitamento
espoliativo da mão-de-obra escrava infantil. O enfoque central é dado aos
ingênuos, crianças nascidas livres de mães escravas após a "Lei do
Ventre Livre". Verificamos os mecanismos institucionais (legais),
econômicos e sociais que possibilitaram a existência de crianças tuteladas no
decorrer da transição do trabalho escravo para o trabalho livre, assim como
identificamos os efeitos que o processo de tutoria produziu sobre a família do
tutelado.
Escravidão
e Liberdade no Brasil Meridional
I Encontro de Castro (PR), setembro de 2003
Resumos das Comunicações
HARTUNG,
Miriam F. Herança, família e parentesco entre escravos e libertos nas
fazendas de pecuária do Paraná do século XIX. Comunicação apresentada
no I Encontro de Castro -- Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, Castro
(PR), 23 a 26 de setembro de 2003.
RESUMO. Esta comunicação trata da organização social do grupo de escravos e
libertos da fazenda Santa Cruz, localizada nos Campos Gerais do Paraná. A
proprietária, Dona Maria Clara do Nascimento, faleceu em dezembro de 1854,
deixando metade da fazenda em herança a escravos, a libertos seus e de seu
irmão, e a escravos em processo de libertação. Mesmo iguais na condição de
herdeiros, a eles a proprietária atribuiu legados diferenciados, em termos de
área, de valor econômico e simbólico e de cláusulas restritivas. Que razões
animaram tais atos? O que Dona Maria Clara buscava com a transformação de
escravos e libertos em seus herdeiros, e com uma partilha diferenciada do
legado? O que os atos da proprietária revelam sobre a condição de vida do
grupo de cativos da fazenda Santa Cruz? A partir do cruzamento entre diversos
documentos históricos - inventários, registros de batismo, casamento e óbito
- e a bibliografia sobre o Brasil e o Paraná do século XIX, este trabalho
procura responder a estas questões, descrevendo e analisando a organização
social do grupo de escravos e libertos da Fazenda Santa Cruz, os princípios
ordenadores que conferiram unidade e ordem ao grupo e que tornaram viável sua
continuidade histórica como grupo.
NETTO,
Fernando Franco. Família escrava em Guarapuava, PR - Estudo de caso de uma
propriedade. Comunicação apresentada no I Encontro de Castro --
Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, Castro (PR), 23 a 26 de setembro
de 2003.
RESUMO. A Historiografia sobre a família escrava no Brasil está pautada por
diversos trabalhos voltados para as áreas de grande lavoura e para aquelas
propriedades que tinham como característica principal um plantel relativamente
numeroso de cativos, bem como com as atividades voltadas para a agroexportação.
Entretanto, ao depararmos com as propriedades pequenas e/ou médias na região
de Guarapuava durante a segunda metade do século XIX, região esta inserida no
terceiro planalto paranaense, nos defrontamos com algumas características
bastante peculiares de uma economia voltada para o mercado interno e com plantel
reduzido de cativos, e que se insere nessas possibilidades de formação e
constituição da família escrava, haja vista o propósito desse estudo que
avalia uma determinada propriedade formada pelo senhor e sua esposa, seus
filhos, e o plantel de escravos. Verificamos a dimensão dessas possibilidades,
os arranjos quanto às formas de apadrinhamento, as relações com plantéis
distintos, a extensão da família a partir das redes de relações parentais,
oficiais ou não. A pesquisa desenvolve-se através de um núcleo documental
formado pelo Inventário post-mortem, os registros paroquiais de
batismos, casamentos e óbitos de escravos. Desta forma, pretendemos confirmar a
hipótese de que houve condições para que se desenvolvessem relações fortes
e duradouras entre os escravos.
OLIVEIRA
JR., Walfrido Soares. Relacionamento entre senhores e escravos nos Campos de
Guarapuava: o caso da Invernada Paiol de Telha. Comunicação apresentada no
I Encontro de Castro -- Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, Castro
(PR), 23 a 26 de setembro de 2003.
RESUMO. O estudo versa sobre as estratégias de dominação e de resistência
entre senhores e escravos nos campos de Guarapuava (Pr). A alforria e a posse da
terra marcam, em grande monta, tal convivência, a qual não se esgota com a
libertação do escravo, na medida em que a vivência social podia restabelecer
as hierarquias e antigas formas de dominação. Com essa abordagem podemos
construir um panorama acerca da sociedade rural de parte do Brasil meridional e
analisar as possibilidades de relacionamento entre senhores e escravos, e entre
libertos e livres, iluminando as ações dos indivíduos e da sociedade na
medida em que espelham a lógica geral da escravidão, ou podem demonstrar as
suas especificidades.
LIMA,
Carlos A. M. & MELLO, Katia A. V. de. A família escrava em fazendas de
absenteístas em Curitiba (1797) e Castro (1835). Comunicação apresentada
no I Encontro de Castro -- Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, Castro
(PR), 23 a 26 de setembro de 2003.
RESUMO. A criação de animais foi o empreendimento de maior vulto no planalto
paranaense até meados do século XIX. Parcela expressiva dos moradores,
especialmente de Castro e Curitiba, contava com escravos ocupados nas atividades
do criatório e no desenvolvimento de alguns gêneros agrícolas. Entre os
cativos existiam os que pertenciam a senhores absenteístas, isto é,
proprietários que residiam em suas habitações urbanas, ou que possuíam mais
de uma unidade agrária, ou ainda que, em virtude de negócios, precisavam
viajar e se ausentar de seus plantéis confiando a administração de suas
fazendas a um de seus escravos. Nem sempre tais unidades de absenteístas eram
grandes, mas figuravam certamente entre as maiores unidades escravistas destas
localidades. Por meio das "Listas Nominativas de Habitantes" de Castro
(1835) e Curitiba (1797) foi possível analisar o acesso dos cativos às
práticas familiares nestas escravarias. Comparando as propriedades com senhores
presentes e ausentes, constatou-se que as absenteístas favoreciam sobremaneira
as uniões familiares. Nos fogos dirigidos por capatazes escravos os casamentos
eram precoces e o acesso aos laços sancionados mais freqüentes, sendo também
mais comum ali o processo de legitimação tardia de uniões consensuais
vigentes às vezes havia muito tempo. Alguns casos encontrados nas listas
sugeriram a existência de famílias extensas, como demonstrou, por exemplo, a
composição da Fazenda Butuquara em Curitiba. Nesta unidade, houve grande
propensão entre os escravos a legitimarem tardiamente suas uniões, reiterando
que os cativos talvez não dependessem tanto da legitimação religiosa, na
juventude, para formarem suas famílias. As baixas razões de masculinidade das
fazendas de senhores absenteístas ensejavam o acesso das mulheres ao casamento
e, por conseqüência, tinham muito mais rebentos que as escravas com donos
presentes (os indicadores de fecundidade foram altíssimos). Especificamente nas
absenteístas de Castro, a procedência do nubente contava muito quando da busca
de parceiros. Os escravos de origem africana tendencialmente casavam-se mais que
os crioulos, levando a crer que casais mistos não eram incomuns na região. A
elevada quantidade de africanos do sexo masculino casados, sem possíveis
cônjuges de seu próprio grupo étnico, leva a supor que muitos não se negavam
a unir-se a parceiros coloniais quando a questão que estava em jogo era
garantir a inserção na comunidade escrava. "A distante voz do dono",
em suma, ligava-se com força à ampliação do espaço de "autonomia"
nestes ambientes. O absenteísmo multiplicava os laços familiares mesmo quando
as sanções eclesiásticas eram negadas. As elevadas proporções de casados e
casadas entre a massa escrava, bem como a expressiva participação de
crianças, comprovam que a "distância" do senhor fomentava a
efetivação de famílias capazes de organizar a comunidade escrava, de modo que
seu estudo permite avançar na compreensão desta última.
SCHLEUMER,
Fabiana. Além de açoites e correntes: histórias de famílias escravas em
Cotia colonial (1790-1810). Comunicação apresentada no I Encontro de
Castro -- Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, Castro (PR), 23 a 26 de
setembro de 2003.
RESUMO. Esta pesquisa é resultado de uma dissertação de mestrado, defendida
em 1999, no departamento de História Social da Universidade de São Paulo sob a
orientação da Profa. Dra. Mary Del Priore. Trata-se de um estudo sobre a vida
familiar de cativos e libertos -- contração, reprodução, manutenção e
esfacelamento -- ocorridos na freguesia de Cotia no período colonial. Neste
trabalho, discutimos a importância do parentesco e do compadrio, o papel da
mulher nas sociedades africanas e o significado da maternidade e da criança na
África e no Brasil, tendo como fonte os registros paroquiais de batismo e
casamento de escravos e libertos e duas listas nominativas referentes aos anos
de 1798 e 1808. Os primeiros documentos localizam-se no Arquivo da Cúria
Metropolitana de São Paulo, são manuscritos que especificam as uniões legais
que envolviam cativos e libertos, identificam a origem étnica dos envolvidos,
os vínculos familiares, os impedimentos, a consangüinidade, a filiação, as
testemunhas e os acontecimentos ocorridos antes da realização do matrimônio.
Com relação aos registros de batismo, estes permitem a identificação do nome
da criança, dos pais, dos padrinhos e, assim, o estabelecimento das relações
sociais. Já listas nominativas encontram-se no Arquivo do Estado de São Paulo
e trata-se de censos populacionais microfilmados, nelas se descreve cada fogo,
citando o nome do chefe da família e o do cônjuge, dos filhos, dos agregados e
a ocupação econômica. São especificadas as idades, o estado conjugal, a
origem étnica e a cor. As fontes são analisadas de uma forma diversa das
interpretações da demografia histórica, isto é, os documentos são lidos e
utilizados sob o ponto de vista da História Social. Acreditamos que o estudo
sobre as famílias não deve se ater em demasia a mapas, gráficos e tabelas que
foram, e ainda são, muito importantes para provar a existência da família
escrava, mas que não respondem a múltiplas indagações sobre o imaginário
dos escravos. A leitura dos documentos numa perspectiva social, permitiu a
constatação de que dentro da conformação econômica de Cotia, região rural,
pobre, localizada nos arredores de São Paulo, cuja economia era de
subsistência, houve espaço para o estabelecimento de famílias escravas e
libertas. Os pardos encontravam-se organizados em famílias, consangüíneas e
extensas, corroborando com as estruturas familiares africanas onde havia espaço
não somente para a família nuclear, mas também para a poligamia, a poliandria
e outras estruturas. Constatamos, ainda, que em Cotia a posse de escravos
encontrava-se difundida entre a população, destacando-se como proprietários
os religiosos, os militares, as mulheres e os roceiros. Esta pesquisa
possibilita-nos constatarmos que para a compreensão de qualquer aspecto da vida
social de uma população africana, seja ele, econômico, político ou
religioso, é essencial conhecermos a sua organização de parentesco e
casamento, pois, essas são as pedras primordiais que regulam as relações
entre os povos africanos. A análise da documentação em conjunto com a leitura
de obras clássicas da antropologia africanista, autoriza-nos, ainda, a afirmar
que as crianças, assim como a maternidade e os laços de parentesco, eram
valores de alta conta que norteavam a sociedade africana. Esses valores
imigraram para as terras brasileiras e aqui se metamorfosearam através das
novas relações de parentesco e compadrio.
EIFERT,
Maria Beatriz. Considerações sobre a demografia da população escravizada
nas fazendas pastoris de Soledade, RS, na segunda metade do século 19.
Comunicação apresentada no I Encontro de Castro -- Escravidão e Liberdade no
Brasil Meridional, Castro (PR), 23 a 26 de setembro de 2003.
RESUMO. A comunicação apresentará perfil demográfico exploratório da
população escravizada nas fazendas pastoris do município de Soledade, no Rio
Grande do Sul, na segunda metade do século dezenove, a partir do estudo de doze
inventários.
OSÓRIO,
Helen. Escravos na estremadura portuguesa: estrutura de posse e ocupações
Rio Grande de São Pedro, 1765-1825. Comunicação apresentada no I Encontro
de Castro -- Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, Castro (PR), 23 a 26
de setembro de 2003.
RESUMO. A comunicação abordará a estrutura de posse de escravos no período
de 1765-1825 a partir de uma única fonte, uma amostra de 542 inventários,
urbanos e rurais, que abarca todo o território da capitania do Rio Grande de
São Pedro, com o intuito de determinar os padrões de distribuição da
propriedade escrava entre a população livre. Pretende-se comparar este padrão
com o encontrado em outros trabalho que utilizam a mesma fonte, para outras
regiões da América portuguesa. A outra questão que a comunicação abordará
é a da utilização da mão-de-obra escrava na produção pecuária, atividade
que tradicionalmente a historiografia brasileira julgou incompatível com a
escravidão. Os resultados de nosso estudo são corroborados pelos trabalhos
recentes de História agrária realizados na Argentina (Garavaglia e Gelman),
para o período colonial. Estes autores verificaram um peso insuspeitado da
mão-de-obra escrava nas estâncias, inclusive cumprindo tarefas de capataz.
LIMA,
Carlos A. M. Hierarquia e mobilidade entre escravos e negros livres no
Paraná na passagem do século XVIII para o XIX, a partir de registros
paroquiais e listas nominativas. Comunicação apresentada no I Encontro de
Castro -- Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, Castro (PR), 23 a 26 de
setembro de 2003.
RESUMO. O modo de vida e a dinâmica da presença mesma de escravos e
não-brancos livres nas partes meridionais do Brasil costumam ser pensados a
partir de dois pressupostos. Um parte da idéia de "periferia da
periferia" como o enquadramento básico das relações sociais. O outro é
o da economia voltada para o abastecimento, com o raciocínio ligado à
temática do produto básico nas diversas localidades. Aqui, trabalham-se dados
sobre domicílios de livres de cor (1794-1835), sobre seu acesso à autonomia
(1832-1835), sobre uniões matrimoniais entre libertos e escravos (1765-1820) e
de escravos entre si (1797) e sobre a distribuição por sexo das populações
escrava e administrada (1765-1820), observando casos transcorridos em Castro,
Curitiba e Guaratuba. O objetivo é defender que a consideração do acesso a
fatores produtivos (no caso dos escravos, deixando entrever a "economia
própria") e ao mercado interno é um elemento explicativo fundamental do
modo de vida, das estratégias e dos movimentos populacionais de não-brancos
livres no Paraná. O tamanho médio dos domicílios de livres de cor, conforme
seu ciclo de vida, mostra que parte fundamental de suas trajetórias esteve
coberta pelo ciclo chayanoviano. Tamanha estabilidade no sentido de assentar-se
no Sul como camponeses só pode indicar que o fator terra era disponível mesmo
para eles, atraindo migrantes internos. Nesse caso, realiza-se análise
longitudinal. A investigação sobre os caminhos, no interior de suas
trajetórias, que os levavam até a possibilidade de chefiar um ciclo como
aquele conduz a avaliar, em análise transversal, a distribuição de livres de
cor pelas posições de cabeça de domicílio (com ou sem escravos), filho
residente com seus pais e agregado. Essa discussão mostra que o acesso à
autonomia do "campesinato reconstituído" era decisivo entre os homens
adultos, que as idades em que isso era logrado eram bastante precoces e que é
necessário atribuir significados à prática de agregar-se que difiram do
modelo de dependência pessoal usado às vezes monoliticamente para os homens
livres pobres. Tudo condiz com a percepção de que o avanço da fronteira
agrária ditava fortes possibilidades de autonomia para negros e pardos livres.
Essa centralidade do avanço da fronteira também ajuda a compreender algumas
possibilidades abertas para escravos. A dinâmica de sua presença no espaço
meridional sugere que a descrição de Gutiérrez sobre a população escrava
paranaense refere-se a um intervalo circunscrito, tendo que ser ajustada para
situações diferentes observadas quanto ao século XVIII. Um predomínio
masculino (embora crioulo) neste século indica que a situação de fronteira em
avanço demandando homens regulava a composição por sexos da população
escrava. Mas ela significava também a abertura de possibilidades específicas
(e sempre limitadas, por definição) de mobilidade ascendente para escravos.
Basicamente, "masculinizava" as chances de alforria e ascensão, o que
se nota através de um padrão no qual eram os homens (e não as escravas) que
logravam casamentos socialmente ascendentes (quanto à cor atribuída).
JOHNSON,
Elizabeth A. Indian "slavery" in late-colonial São Paulo.
Comunicação apresentada no I Encontro de Castro -- Escravidão e Liberdade no
Brasil Meridional, Castro (PR), 23 a 26 de setembro de 2003.
ABSTRACT. At the end of the sixteenth century, the first Benedictines and
Carmelites arrived in the captaincy of São Paulo. During the early decades of
the seventeenth century, both orders acquired a great deal of wealth through
bequests made by pious followers, many of whom were banderiantes, a group best
know for capturing and enslaving Indians. Although a great deal has been written
about the Jesuits and their activities in colonial São Paulo, little is known
about the role of other religious orders in colonial Brazil. There is evidence
that both the Benedictines and Carmelites financed Indian slaving missions
(entradas) to supply their farms with labor. Furthermore, both orders had
administrados, a nebulous category applied to Indians who could not legally be
held in slavery but who, in practice, were little more than "free"
slaves, through the nineteenth-century, long after the prohibition of holding
Indian labor. In this paper I shall focus on the legislation that governed
Indian slavery and the continued exploitation of their labor on farms of the
Carmelites and Benedictines after 1758, when the law that prohibited the
enslavement of Indians was passed. I also examine the struggles of Indian
laborers to achieve freedom, which involved appeals to the courts as well as
sabotage and escape. This paper questions the degree to which the abolition of
Indian slavery translated into de facto freedom. This new and revisionist
perspective not only affords greater understanding of the role played by Indians
and their mestiço children in Colonial Brazil, but no less importantly recovers
them from the historical oblivion into which they have been relegated.
CHARÃO,
Ricardo Brasil. Religiosidade negra em terra estranha: A Irmandade do
Rosário da Colônia Alemã de São Leopoldo. Comunicação apresentada no I
Encontro de Castro -- Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, Castro (PR),
23 a 26 de setembro de 2003.
RESUMO. O processo de colonização/imigração que se estabelece no RS a partir
de 1824 com a fundação da Colônia Alemã de São Leopoldo é tema já
largamente estudado pela historiografia gaúcha. A escravidão, por sua vez, é
tema que apenas nos últimos 15 anos passou a receber maior atenção no RS,
principalmente a partir da implementação e consolidação dos cursos de
pós-graduação em História. Os dois temas, ainda assim, apenas são vistos em
conexão quando se estuda a relação entre o processo imigratório e a
abolição da escravidão. Se os estudos sobre escravidão vêm sofrendo
saudável renovação, ainda hoje, predomina entre a historiografia da
imigração/colonização alemã no RS uma visão triunfalista e laudatória da
"epopéia" dos imigrantes. Tomando como ponto de partida as
proibições legais à prática da escravidão nas áreas de colonização ou
então afirmações de que o caráter alemão não compactuaria com tal
prática, historiadores invisibilizaram a presença escrava/negra nas colônias
alemãs gaúchas. Entretanto, hoje já dispomos dos primeiros trabalhos nesta
área. Assim, a questão que se coloca hoje é dimensionar a grandeza da
comunidade negra (escravos, livres e forros) nas colônias alemãs e sua
participação na vida econômica, social, política e cultural. Tomando esta
presença como ponto de partida pretende-se, com esta comunicação, discorrer
sobre a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito da Villa de São
Leopoldo. Mas o que faz uma Irmandade de homens/mulheres negros/as em plena
colônia alemã no Rio Grande do Sul? Fundada em 1852, a Irmandade do Rosário
de São Leopoldo, talvez constitua uma das mais antigas Irmandades do Rosário
do RS. Congregando livres, escravos, forros, brancos, pretos, pardos, homens e
mulheres ("toda a qualidade de pessoas"), esta irmandade teve forte
participação da população escravizada, influindo e sendo influenciada pelas
práticas e representações forjadas sobre escravidão e liberdade. A
importância desta Irmandade em São Leopoldo reside no fato de apontar para a
dimensão da comunidade negra, suas formas de organização, espaços de
sociabilidade, relações inter-étnicas e religiosas, entre outros.
MORTARI,
Cláudia. Os "pretos" africanos e os "pardos" do
Rosário: estratégias na busca por autonomia e legitimidade (Desterro,
1830/1860). Comunicação apresentada no I Encontro de Castro -- Escravidão
e Liberdade no Brasil Meridional, Castro (PR), 23 a 26 de setembro de 2003.
RESUMO. No ano de mil oitocentos e quarenta e um, um "tumulto" entre
os Irmãos da Irmandade do Rosário agitou o interior do Consistório da Igreja
do mesmo nome na cidade do Desterro, então capital da Província de Santa
Catarina, desencadeando-se a partir daí, um pleito judicial que durou dois
anos. Com o objetivo de evidenciar o porquê do tumulto e do pleito judicial,
mas também e, principalmente, as formas de agir, as alianças, as estratégias
utilizadas, a maneira como os sujeitos viam-se, agiam e identificavam-se e quais
os lugares onde foram buscar respaldo para fortalecer suas decisões,
empreendemos o trabalho de pesquisa em fontes documentais da própria Irmandade
e outras referentes à administração da cidade. Evidenciou-se, com base na da
pesquisa, a existência de diferentes comunidades de africanos e
afrodescendentes no interior da instituição, fundada em 1750 e considerada a
segunda em antiguidade da cidade. De um lado, os africanos, que tinham como
representante o preto forro Benedito Francisco Pereira e, de outro, os pardos
que tinham na figura do pardo livre Luiz de Miranda Ribeiro seu representante. O
embate, a princípio, ocorreu em razão da legitimidade que os africanos
apregoavam para si de ocupar o cargo de Juiz da instituição, fato questionado
pelos outros irmãos de diferentes origens e condição social. Enquanto partes
opostas de um pleito judicial, os Irmãos buscaram através de diferentes
estratégias fazer valer seus interesses e objetivos. Para tanto, acabaram
envolvendo também, diversas autoridades, ligadas ao poder civil e eclesiástico
da cidade, entre elas: o Juiz Municipal, de Capelas e Resíduos, de Direito, de
Paz, Vigários, Arcipreste, e até mesmo o Presidente da Província. O resultado
da pendenga judicial foi a substituição do Compromisso de 1807, que
fundamentava antigas práticas instituídas nas relações sociais através da
tradição e, entre elas, o fato de um africano escravo ou forro ocupar o cargo
de Juiz da instituição. No novo Compromisso, 1842, o critério da origem
africana deixa de existir. É provável, também, que o embate entre comunidades
distintas no interior da Irmandade se justificasse por essa representar um
espaço importante para o estabelecimento de solidariedade social e cultural
entre seus Irmãos. Organizada em consonância com os meios de socialização,
reconhecidos e aceitos pela cidade, era o meio de legitimar práticas de
solidariedade, entre elas, o cuidado das crianças, o enterro de seus mortos, o
socorro aos doentes e a libertação de escravos. Isso fazia a Irmandade ser um
dos mais importantes espaços de autonomia e legitimidade das populações
africanas e afrodescendentes. As evidências indicam que a Irmandade se
organizou, inicialmente, em torno da comunidade de pretos da costa, ou seja,
africanos, e a substituição do Compromisso de 1807 pelo de 1842 pode
significar, também, a tentativa de organizar as diferentes comunidades, no
caso, a de pardos, numa mesma instituição. Através do episódio de 1841 e
seus desdobramentos, foi possível evidenciar e compreender, como no contexto de
uma sociedade escravista do sul do Brasil, se estabeleciam diversas práticas
sociais, estratégias e alianças, enfim, formas de identificação
provisórias, incoerentes múltiplas, adequadas aos dilemas e aos problemas com
que africanos e afrodescendentes deparavam-se no cotidiano.
MOREIRA,
Paulo Roberto Staudt. Sou Preto, Africano: pistas sobre trajetórias de vida
de alguns libertos no espaço urbano escravista (Porto Alegre / segunda metade
do século XIX). Comunicação apresentada no I Encontro de Castro --
Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, Castro (PR), 23 a 26 de setembro
de 2003.
RESUMO. A proposta da presente comunicação é expor alguns dados iniciais
coletados em nossa pesquisa sobre as experiências negras no espaço urbano de
Porto Alegre, relatando trajetórias de vida de alguns libertos
(majoritariamente africanos). Cruzando fontes diversas como cartas de alforria,
processos criminais, jornais, Livros de Pacientes, inventários e testamentos,
conseguimos uma aproximação com a comunidade étnica negra local, obtendo
dados sobre as estratégias / projetos de vida em termos de obtenção da
liberdade, distribuição geográfica de seus espaços referenciais de
residência e trabalho e distribuição ocupacional. Através de alguns casos
individuais melhor documentados, podemos densificar a análise do mundo
escravista, cruzando uma análise mais quantitativa com uma perspectiva
qualitativa, dada pela ênfase biográfica nestes agentes.
SILVA,
José Bento Rosa da. "Miragens da Liberdade": um olhar sobre as
cartas de alforria da freguesia do Itajahy, SC, 1860-1886. Comunicação
apresentada no I Encontro de Castro -- Escravidão e Liberdade no Brasil
Meridional, Castro (PR), 23 a 26 de setembro de 2003.
RESUMO. Trata-se de uma investigação sobre as cartas de alforrias concedidas
pelos senhores aos escravos na Foz do Rio Itajaí-Açú. Estas cartas ainda não
foram analisadas. Encontram-se no acervo do Arquivo Público de Itajaí. O autor
analisa sobretudo as condições impostas aos escravos para que pudessem
"usufruir" da liberdade. Pergunta-se: em que medida estas cartas podem
ser consideradas apenas "ilusões" ou miragens da liberdade? Quais as
implicações de tais cartas? E mais: Quem eram os alforriados? Enfim, busca-se
analisar um período da história da escravidão a partir das cartas de
alforrias concedidas sob condição.
WAGNER,
Ana Paula. "Como se de ventre livre nascesse": alforrias na Ilha de
Santa Catarina (1850-1872). Comunicação apresentada no I Encontro de
Castro -- Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, Castro (PR), 23 a 26 de
setembro de 2003.
RESUMO. A carta de alforria não foi o único instrumento utilizado para a
libertação de escravos. Muitos cativos também foram libertados por
intermédio do batizado, sem que houvesse qualquer outro registro de sua
libertação, que não fosse esta condição estar anotada no batistério,
dando-os como livres. A imposição do batizado ao recém-nascido só se tornou
prática corrente no mundo católico a partir do século XVI. Em Portugal e suas
colônias, o registro do batismo assumiu grande importância, pois o direito do
padroado, ao transformar a hierarquia eclesiástica em burocracia do Estado,
facultava aos livros paroquiais o duplo status de registro religioso e civil. Em
relação à escravidão, as Ordenações Filipinas dispunham que a falta do
batismo colocava em risco a propriedade sobre o escravo. Nestes termos,
entende-se que o registro de batismo equivaleria a um documento de fé pública,
com uma escritura ou qualquer outra forma de registro cartorial-civil. Ou seja,
um senhor podia valer-se do registro de batismo para legalizar a doação ou
transferência de posse de um escravo. Por outro lado, para cativos e libertos,
com o batismo, podiam-se estabelecer redes de relações e solidariedade, entre
elas o compadrio, o que pode ser interpretado como uma das formas assumidas pela
"estratégia de sobrevivência". Ao analisar registros de batismo da
Paróquia de Nossa Senhora do Desterro, localizada na Ilha de Santa Catarina,
entre os anos de 1850 a 1872, pode-se observar a prática da liberdade na pia
batismal no processo de manumissão de crianças cativas. De um conjunto de 265
registros de batismo de crianças libertas ou negras livres, realizadas na dita
paróquia, no período mencionado, 83 deles (31% dos casos) mencionam que o
inocente havia sido libertado na pia batismal. Essas manumissões, tal como as
cartas de alforrias, podiam ser gratuitas ou onerosas, condicionais ou não, e
constituem série documental duplamente importante; por um lado, possibilita a
análise do crescimento das alforrias na pia batismal em relação ao conjunto
dos batizados de crianças escravas e, por outro, permitem que se complementem
as informações cartoriais, nem sempre abrangentes quando se trata da
manumissão de crianças cativas.
PENNA
Clemente Gentil. "Como se meu escravo fosse": o movimento
abolicionista e as novas relações de trabalho em Desterro/SC (1871-1888).
Comunicação apresentada no I Encontro de Castro -- Escravidão e Liberdade no
Brasil Meridional, Castro (PR), 23 a 26 de setembro de 2003.
RESUMO. O objetivo desta comunicação é a análise das cartas de alforria
onerosas e contratos de locação de serviços buscando com isso obter uma
melhor compreensão em torno dos libertos sob condição, ou statuliber e
seus senhores ou patronos e as maneiras pelas quais esta ambígua condição
jurídica implicou em perceptíveis modificações nas relações de trabalho em
Desterro/SC durante a última década da escravidão. Uma análise em torno das
alforrias condicionais e contratos de locação de serviços nos tem
possibilitado, também, perceber as maneiras pelas quais se desenvolveu o
processo de abolição e o movimento Abolicionista em Desterro (antiga
Florianópolis), desvendando alguns mitos, como o da benevolência e humanidade
dos senhores locais, em torno dos quais a maioria dos trabalhos sobre o tema
tem-se pautado.
CAMPOS,
Adriana Pereira. Escravo é caso de polícia? Comunicação apresentada
no I Encontro de Castro -- Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, Castro
(PR), 23 a 26 de setembro de 2003.
RESUMO. A autora trata do papel desempenhado pela Polícia e a Justiça na
disciplina dos escravos na Província do Espírito Santo no século dezenove. A
exposição parte do exame crítico dos relatórios governamentais produzidos na
época que enfatizavam a necessidade de uma política de rigoroso controle da
camada servil. A prática diária de controle social é analisada tendo por base
as estatísticas de prisões efetuadas no decorrer do século naquela
Província, mesmo reconhecendo que tais dados formam, como a maior parte das
fontes históricas, uma realidade de difícil interpretação será demonstrado
que os índices de criminalidade derivados dos levantamentos oficiais nem sempre
coincidiam com as infrações previstas no Código Criminal de 1830. Na verdade,
a atividade da Polícia ultrapassava a prisão de eventuais criminosos e, por
isso, as estatísticas devem ser consideradas uma fonte precária em termos de
informação. A pesquisa efetuada pela autora em documentos coligidos no Arquivo
do Estado do Espírito Santo aponta para uma interessante distinção entre o
trabalho da Polícia e o da Justiça, em especial em relação à população
escrava. Apesar dessa diferenciação, a ação de ambas as autoridades
integrava um mesmo processo de controle social, desenhado pelas leis do Império
e pelas elites locais, que, bem ou mal, lograram impedir o avanço das forças
rebeldes nas províncias do país.
PIROLA,
Ricardo Figueiredo. Revolta escrava em Campinas, 1832: padrões demográficos
de coesão e conflito na senzala. Comunicação apresentada no I Encontro de
Castro -- Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, Castro (PR), 23 a 26 de
setembro de 2003.
RESUMO. No ano de 1832 os escravos da cidade de Campinas tentaram mais uma vez
acabar com seus senhores e ficarem livres. Planejaram durante vários meses cada
detalhe de uma espetacular revolta. Arrecadaram dinheiro, compraram armas,
fizeram orações e marcaram a data final. Tudo estava pronto para a Páscoa
daquele ano. Mas nessa sociedade, as coisas nem sempre ocorriam como os escravos
esperavam. A poucos dias do tão planejado momento, acabaram caindo na
desconfiança de seus senhores e tiveram que adiar novamente suas aspirações
de liberdade. Focalizando, então, este plano de revolta escrava, a nossa
palestra discutirá a formação de identidade(s) escrava(s). Formariam, os
escravos, uma comunidade homogênea pelo simples fato de todos experimentarem a
mesma condição cativa? Ou, essa "comunidade escrava" era rachada por
diferenças de origem? Ou, ainda, a conquista de um casamento e a ocupação de
uma tarefa especializada (como a de feitor, tropeiro) eram suficientes para
formar uma comunidade distinta na senzala e avessa a revoltas coletivas? As
nossas pesquisas sobre o tema têm buscado realizar uma biografia coletiva dos
32 escravos indiciados na tentativa de revolta de 1832. A partir do cruzamento
de uma série de fontes, procuramos estudar a vida dessas pessoas, desde o
momento da chegada na vila até o seu envolvimento na rebelião, focalizando
pontos como: qual a origem desses escravos? Quantos eram casados? Com quem se
casavam? Que tipo de atividades exerciam nas fazendas? Há quanto tempo moravam
na região, quando fora descoberto o movimento? A construção de biografias
coletivas exige um trabalho muito grande de manipulação de dados e pesquisa
com as fontes. Para esta pesquisa utilizamos 5 séries documentais: 1) O
processo-crime de 1832; 2) Os censos populacionais da vila; 3) Os registros de
casamento escravo; 4) Os registros de batismo escravo; 5) Inventários post-mortem. O nosso trabalho de pesquisa consiste em cruzar essas cinco fontes,
por um método de ligação nominativa. Assim, a partir do nome dos revoltosos
citados no processo-crime buscamos encontrá-los tanto no censo populacional,
como nos registros de batismo e casamento e também nos inventários. Todo esse
trabalho tem produzido alguns resultados bastante interessantes. A nossa
pesquisa já conseguiu identificar vários aspectos da vida dos envolvidos no
plano de 1832. Descobrimos, por exemplo, que uma parcela significativa dos
revoltosos era composta de casados e que a maioria habitava a cidade de Campinas
havia quase uma década. Percebemos ainda que alguns escravos envolvidos na
revolta ocupavam cargos de grande confiança de seus senhores. Enfim, temos
encontrado dados bastante sugestivos sobre a complexidade dos projetos de vida
desses cativos. Projetos que, em muitos casos, conciliavam a formação de
famílias escravas e revoltas coletivas na vila.
MOLINA,
Sandra R. A escrita e a tradição: um olhar institucional sobre a rebelião
dos escravos da santa do Carmo na fazenda Capão Alto em 1864. Comunicação
apresentada no I Encontro de Castro -- Escravidão e Liberdade no Brasil
Meridional, Castro (PR), 23 a 26 de setembro de 2003.
RESUMO. Em 1864 os escravos da fazenda carmelita chamada Capão Alto se
rebelaram em razão de seu arrendamento a um negociante e de sua iminente
transferência para a província de São Paulo. Também seus senhores viviam
profundas mudanças em seu cotidiano tradicional. Progressivamente perdiam sua
autonomia de proprietários e ordem regular pois passaram a ser regidos por
Visitadores Apostólicos que indiretamente camuflavam uma intervenção estatal
sobre suas decisões internas. Sofriam uma campanha maciça do Império visando
sua extinção, o número de frades diminuía drasticamente e as propriedades e
conventos eram mal administradas com denúncias de desvio de recursos. O
presente trabalho pretende buscar as mudanças institucionais da Província
Carmelita Fluminense e as alternativas de sobrevivência de tais frades que
possibilitaram o arrendamento dos citados cativos que até então vivenciavam um
mundo tradicional de escravos da santa e que lutaram para não perdê-lo.
PENA,
Eduardo Spiller. Burlas à lei e revolta escrava no tráfico interno do
Brasil meridional - século XIX. Comunicação apresentada no I Encontro de
Castro -- Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, Castro (PR), 23 a 26 de
setembro de 2003.
RESUMO. A casa comercial e bancária "Bernardo Gavião, Ribeiro &
Gavião", com sede na capital da província de São Paulo, foi a
responsável por uma das maiores transações do tráfico inter-regional de
escravos para o centro-sul do Brasil, na segunda metade do século XIX. Em 1864,
de uma só tacada, promoveu a transferência para São Paulo de cerca de 236
escravos, que trabalhavam na "Fazenda Capão Alto", propriedade da
Ordem dos Frades Carmelitas, localizada no município de Castro, província do
Paraná. O episódio comercial poderia parecer corriqueiro em meio ao emaranhado
de atos de compra e venda que caracterizou a conjuntura do tráfico interno de
escravos das regiões sul e nordeste para os municípios cafeeiros do Brasil
sudeste. Os meandros dessa negociação, porém, foram inúmeros e complexos,
deixando evidências sobre a agilidade e a estratégia jurídico-comercial dos
traficantes em seu ofício; a atenção e vigilância das autoridades
provinciais em relação ao mesmo; e a atitude e expectativa dos escravos (no
caso, os do sul) ante a possibilidade, nada remota no período, de serem
transferidos para outras localidades. Três aproximações analíticas sobre o
episódio são elaboradas. Uma primeira, apresentando alguns dados sobre o
tráfico interno de escravos no país, especialmente da região sul para as
províncias cafeeiras do Brasil sudeste, analisando também o vultoso negócio
empreendido pela casa "Gavião, Ribeiro & Gavião". Uma segunda,
que procurou enfocar as diferentes interpretações jurídicas realizadas por
proprietários/traficantes e os agentes do poder público provincial com
relação à legislação tributária que incidia sobre o comércio interno de
escravos. Nessa parte, desvelam-se as astúcias dos escravistas na burla aos
impostos da meia-sisa e da saída dos escravos da província; as margens de
manobra e negociação dos traficantes paulistas nas instâncias estatais, eles
mesmos sendo influentes políticos na província de São Paulo; e a
complacência de alguns agentes públicos paranaenses, e a fragilidade de
outros, no combate ao contrabando e na aplicabilidade do tributo sobre a saída
dos escravos da província paranaense. Por fim, um terceiro enfoque diz respeito
à fala e ao gesto dos escravos de "Capão Alto", quando da
efetivação da transação comercial sobre suas vidas e corpos. Na iminência
de serem transferidos para São Paulo, os negros se rebelaram, tentando
permanecer nas terras da fazenda, onde há décadas haviam conseguido, em meio
à administração dos frades, uma certa autonomia na condução de suas vidas e
trabalhos. Os escravos foram rapidamente controlados pelas autoridades policiais
da província, que não esconderam que estavam ali para resguardar os direitos
de propriedade dos traficantes e manter a necessária ordem e tranqüilidade
pública na região. A tentativa de revolta, embora fracassada, evidencia ao
historiador a disposição que essas famílias de escravos tiveram na luta pela
manutenção de direitos que foram paulatinamente negociados e conquistados por
esse grupo na sua relação secular com a administração carmelitana.
LIMA,
Carlos A. M. & NETTO, Fernando Franco & SILVA, Denize Aparecida da. A
posse de escravos e o impacto do tráfico interno na década de 1870 (Campo
Largo, Guarapuava e São Francisco do Sul, 1870-1879). Comunicação
apresentada no I Encontro de Castro -- Escravidão e Liberdade no Brasil
Meridional, Castro (PR), 23 a 26 de setembro de 2003.
RESUMO. Através de inventários post-mortem, objetivamos identificar impactos
do tráfico interno de escravos em três áreas fornecedoras de cativos durante
a década de 1870. Nessa época, o trato interno de cativos sofreu incrementos,
e seus efeitos se conjugaram com as mudanças nas perspectivas inscritas na
posse de mulheres escravas em virtude da Lei do Ventre Livre. As adaptações
dos escravistas de Guarapuava, Campo Largo e São Francisco do Sul foram
diversas, o que dependeu tanto dos tipos predominantes de atividade em cada um
dos lugares quanto da dinâmica de seus respectivos processos de crescimento.
Embora parte da área onde viria a formar-se Campo Largo tivesse concentrado, no
final do século XVIII, algumas das maiores escravarias do termo de Curitiba, o
tempo de sua criação de gado havia praticamente passado na segunda metade do
século XIX, ao passo que novas atividades então desenvolvidas, especialmente
aquelas vinculadas à coleta e ao processamento da erva-mate, não eram de molde
a demandar intensamente o trabalho de escravos. Guarapuava ascendia ao longo do
século XIX, e suas atividades de criação de gado vão enfrentar a crise na
oferta de escravos em meio àquele crescimento. São Francisco do Sul, por fim,
a mais antiga das três localidades, atravessara uma longa e relativamente
isolada existência, mas, passava, juntamente com muito do litoral de Santa
Catarina, por uma espécie de ressurgimento a partir do crescimento da demanda
por alimentos no Sudeste durante o século XIX. Assim, notamos em Campo Largo
ínfimas posses de escravos, com fortíssimo predomínio feminino entre os
cativos das faixas etárias mais produtivas e acentuadas diferenças entre os
preços pelos quais foram avaliados homens e mulheres (as avaliações de ambos
eram menores que as de áreas cafeeiras, mas isso era mais sensível nos preços
das mulheres). Em Guarapuava, ainda se fazia sentir uma demanda por escravos,
freando o processo de redução da participação de homens adultos nas
escravarias. No entanto, o principal impacto das mudanças da década de 1870 no
local parece ter sido um envelhecimento da parte adulta das escravarias. Em São
Francisco, as posses de escravos eram significativamente maiores, embora também
se note envelhecimento da parte adulta das escravarias e redução da parcela
masculina entre os escravos adultos, mas sobretudo nas pequenas escravarias. As
maiores conseguiam, ainda durante os anos 70, preservar características
normalmente associadas a maiores produtividades. Assim, Campo Largo era
verdadeiramente terra arrasada do ponto de vista da posse de escravos, ao passo
que as sobrevidas escravistas de Guarapuava e São Francisco do Sul mostravam
possibilidades alternativas de enfrentamento das alterações dos anos setenta.
ASSUMPÇÃO,
Euzébio. Perfil dos trabalhadores escravizados em Osório. Séc. 18 e 19.
Comunicação apresentada no I Encontro de Castro -- Escravidão e Liberdade no
Brasil Meridional, Castro (PR), 23 a 26 de setembro de 2003.
RESUMO. A comunicação pretende apresentar perfil demográfico e nacional dos
trabalhadores escravizados do município de Osório, no litoral do Rio Grande do
Sul, nos séculos 18 e 19, a partir das fontes arquivais disponíveis.
GUTIERREZ,
Ester. Escravos, libertos e livres na construção do sul do Novo Mundo:
Pelotas, RS - (1848-1888). Comunicação apresentada no I Encontro de Castro
-- Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, Castro (PR), 23 a 26 de
setembro de 2003.
RESUMO. O quadro dos trabalhadores da construção na segunda metade do século
XIX é esboçado, sobretudo, através dos registros dos livros de enterramentos
e internamentos da Santa Casa de Pelotas, auxiliados pelo programa estatístico
Epidemiologia e Informática 6. Os dados revelaram uma divisão étnico-social
no canteiro de obras da cidade. Os trabalhos de oleiro e pedreiro foram
designados africanos e afrodescendentes, enquanto que os portugueses decidiram
ser mais carpinteiros; os alemães, marceneiros; os italianos, pintores e os
franceses, ferreiros.
ALVES,
Eliege Moura. Memórias da escravidão em São Leopoldo. Comunicação
apresentada no I Encontro de Castro -- Escravidão e Liberdade no Brasil
Meridional, Castro (PR), 23 a 26 de setembro de 2003.
RESUMO. Meu objetivo é estudar a escravidão em São Leopoldo. Escolhi o
recorte temporal que privilegia os anos de 1850 a 1870. A partir de 1850, com o
término do tráfico internacional de escravos observa-se que a movimentação
de cativos entre as províncias do Império ainda é bastante significativa.
Apesar de grande parte dos historiadores afirmarem a inexistência de escravos
ou sua insignificante presença no extremo sul do Brasil, as fontes consultadas
apontam outras perspectivas. Pesquisando os inventários post-mortem, as
cartas de alforria, no Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul, os
registros de batismos, certidões de casamentos e os registros de óbitos no
Arquivo Histórico da Cúria Metropolitana de Porto Alegre encontrei inúmeras
evidências acerca da existência de cativos entre os imigrantes alemães e os
luso-brasileiros que habitavam a região. A historiografia oficial
tradicionalmente apontou o Rio Grande do Sul como uma província onde o trabalho
livre predominara. Autores como Jorge Salis Goulart, Arthur Ferreira Filho, Amir
Borges Fortes, Moisés Vellinho, Manoelito de Ornellas entre outros
desenvolveram seus trabalhos nesta linha de argumentação.
XAVIER,
Regina Célia Lima. A historiografia sobre a escravidão no RS nos anos 1990:
considerações. Comunicação apresentada no I Encontro de Castro --
Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, Castro (PR), 23 a 26 de setembro
de 2003.
RESUMO. Esta comunicação visa apresentar o resultado parcial de uma pesquisa
bibliográfica feita em artigos acadêmicos publicados nos anos 1990 sobre a
escravidão, abrindo um debate sobre a forma como esta temática vem sendo
trabalhada no Rio Grande do Sul.
MAESTRI,
Mário. "A arte da guerra do mar" de Fernão de Oliveira: a triste
sorte da primeira crítica e do primeiro crítico lusitano radical do trafico
negreiro e do escravismo, em 1555. Comunicação apresentada no I Encontro
de Castro -- Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, Castro (PR), 23 a 26
de setembro de 2003.
RESUMO. Notabilizado tardiamente pela autoria da primeira gramática em língua
portuguesa, o sacerdote, gramático, piloto e construtor naval Fernão de
Oliveira, expoente do pensamento racionalista lusitano, foi perseguido e
encarcerado por suas opiniões, tendo sua crítica sistemática das
justificativas coevas do tráfico negreiro e do escravismo, desenvolvida em
"A arte da guerra no mar", praticamente ocultada e desconhecida, em
prol da consolidação da narrativa sobre o consenso lusitano sobre a
escravidão e o tráfico.
PIÑEIRO,
Théo Lobarinhas. Escravismo e luta social: a respeito do conflito na
escravidão. Comunicação apresentada no I Encontro de Castro --
Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, Castro (PR), 23 a 26 de setembro
de 2003.
RESUMO. O autor se propõe a discutir a luta social na escravidão,
especialmente a Resistência Escrava e seu impacto no Escravismo Colonial no
Brasil, enfocando principalmente o papel do conflito social na dinâmica e na
superação da sociedade escravista.
FABIANI,
Adelmir. Os estudos sobre as comunidades quilombolas no RS: um balanço
exploratório. Comunicação apresentada no I Encontro de Castro --
Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, Castro (PR), 23 a 26 de setembro
de 2003.
RESUMO. O autor efetua apresentação sintética e crítica das interpretações
sobre o fenômeno quilombola pela historiografia sul-rio-grandense, com ênfase
nos últimos vinte anos.
LIMA,
Adriano Bernardo Moraes. Trajetórias de crioulos: um estudo das relações
comunitárias de escravos e forros no Termo da Vila de Curitiba (c. 1760 - c.
1830). Comunicação apresentada no I Encontro de Castro -- Escravidão e
Liberdade no Brasil Meridional, Castro (PR), 23 a 26 de setembro de 2003.
RESUMO. Os modelos que interpretaram a prática da alforria no Brasil, a partir
da década de 1970, enfatizaram sobremaneira a importância do senhor nesse
processo. Ora movido por interesses exclusivamente econômicos, ora por motivos
sentimentais, estes modelos interpretativos acabaram por atribuir ao senhor - e
somente a ele - a responsabilidade pela configuração do perfil do escravo
alforriado. Era o patriarca quem decidia quem libertar: a escrava - até pouco
tempo "privilegiada" entre os alforriados - o mulato adulto, o
crioulinho ou um preto estropiado. Nenhuma destas produções procurou avaliar a
participação do elemento cativo na configuração deste perfil. Acredita-se
que uma relação social, seja ela qual for, não pode ser interpretada somente
a partir de uma via de mão única. Defende-se a hipótese, neste trabalho, de
que houve participação escrava no processo de manumissão. A partir do
cruzamento das principais fontes utilizadas - cartas de alforrias e listas
nominativas de habitantes - foi possível verificar a inserção do escravo
alforriado em uma rede de contraprestações. As relações por esse grupo
estabelecidas acabaram por torná-lo parte de uma comunidade escrava, que tinha
no vínculo familiar o seu principal elemento aglutinador. Através da
associação de fatores estruturais com outros circunstanciais pode-se montar um
panorama histórico constituído por fragmentos de histórias de vida de cativos
que conquistaram sua liberdade ou a de um familiar.
SILVA,
Denize Aparecida da. Laços de Compadrio: os arranjos da comunidade escrava
na Freguesia de São Francisco Xavier de Joinville (1857-1888).
Comunicação apresentada no I Encontro de Castro -- Escravidão e Liberdade no
Brasil Meridional, Castro (PR), 23 a 26 de setembro de 2003.
RESUMO. A maior parte dos estudos sobre escravidão, que servem de referência
para novas pesquisas, privilegiaram as comunidades com uma dinâmica que se
caracteriza por uma economia de exportação internacional e com uma grande
população escrava. Contudo nos últimos tempos estão sendo feitos trabalhos
sobre o tema com a preocupação de olhar para localidades marcadas por uma
economia de subsistência e de escravarias com pequeno número de cativos. A
pesquisa sobre o compadrio de escravos em Joinville é um exemplo desta última
situação, pois esta região apresenta uma população escrava diminuta e sua
economia permaneceu até o final do século XIX com uma economia de
subsistência. O que hoje é Joinville era a Colônia Dona Francisca, que foi
fundada em 1851 e inicialmente fazia parte do município de São Francisco do
Sul, na Província de Santa Catarina. A Colônia nasce com a pretensão de ser
uma colônia agrícola, coisa que acontece nos primeiros anos de sua fundação.
São observados alguns poucos e precários engenhos de cana, de farinha de
mandioca, plantações de milho, batata e fumo. A produção que excedia era
transportada via fluvial para ser comercializada em São Francisco do Sul. Como
se articulou a comunidade escrava de Joinville? Como construiu seus laços e
redes de parentesco espiritual? O compadrio aqui também foi um meio de
instituir relações com outros fora do mundo escravo e de reforçar as que se
supõe existirem intragrupo? Em Joinville foi observado um padrão de compadrio
de escravos, num período de dez anos (1863/1871), anterior à Lei do Ventre
Livre e de dezesseis anos (1872/1888) após a Lei. Foram observadas
características como: condição jurídica dos padrinhos, índice de
legitimidade e faixa etária dos batizandos, presença ou não dos padrinhos na
cerimônia, entre outros. As evidências da organização e da construção de
sociabilidades dos escravos, em Joinville, podem ser observados em diferentes
momentos. Um exemplo precioso é o caso da escrava Dionizia, que em 1882 batizou
Antônio, convidou para compadres Miguel e Honorata também escravos, de
proprietários diferentes. Depois em 1886, a mesma Dionizia foi madrinha da
ingênua Martha, tornando-se comadre da escrava Cecília. Dionizia parece estar
no centro dessa teia de relações, na qual as amarras foram feitas pelo
compadrio. Percebe-se desta forma que as estratégias dos escravos para
enfrentar e se afirmar num mundo com muitos mecanismos de opressão, foram os
mais diversos. Nas referências sobre as relações sociais dos escravos, uma
parte dos estudos chama a atenção para o compadrio, não só como uma dessas
estratégias, mas como vínculo de parentesco espiritual/ritual. Entendendo-se o
compadrio como um meio de ampliação dos laços de proteção e de ajuda
mútua, a pesquisa e a reconstituição desse padrão em Joinville pode
contribuir para o conhecimento da vida em cativeiro, numa comunidade que
apresenta características específicas e ainda pouco exploradas pela
historiografia.
GEREMIAS,
Patrícia Ramos. Ser "ingênuo" em Desterro/SC: Infância e
trabalho compulsório em fins do século XIX. Comunicação apresentada no I
Encontro de Castro -- Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, Castro (PR),
23 a 26 de setembro de 2003.
RESUMO. A lei n. 2040 de 28 de setembro de 1871 declarou que os filhos das
escravas que nascessem a partir de então deveriam ser considerados de
condição livre. Essas crianças, no entanto, deveriam permanecer com os
senhores de suas mães até os 8 anos de idade. Chegando a criança a essa
idade, a lei permitia ainda que os senhores utilizassem seus serviços até que
completasse 21 anos de idade. Tal norma jurídica teve como um de seus objetivos
principais dar um encaminhamento gradual para a abolição da escravidão no
país. Suas implicações, no entanto, mostraram-se bem mais complexas para as
populações de origem africana que se viram envolvidas neste processo, em
especial para crianças que viveram sob a tutela dos senhores de suas mães. A
possibilidade de acompanhar algumas das experiências destas crianças deve-se a
um conjunto de fontes que vem sendo muito pouco utilizado pela historiografia
brasileira no que se refere às crianças consideradas livres pela lei de 1871.
E este é o objetivo do presente trabalho: apontar os resultados parciais da
análise dos processos de tutoria, registros de batismo, inventários post-mortem, ofícios de chefe de polícia para juiz de órfãos,
entre outras fontes, que envolveram as experiências vividas por estas crianças
em fins do século XIX em Desterro/SC. Experiências estas que envolveram
trabalho compulsório, maus tratos, longos conflitos judiciais e uma luta
constante pela conquista da liberdade.
LIMA,
Henrique Espada. Contratos de trabalho no Desterro, 1829-1888. Notas de uma
pesquisa em curso. Comunicação apresentada no I Encontro de Castro --
Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, Castro (PR), 23 a 26 de setembro
de 2003.
RESUMO. Os estudos sobre a história social da escravidão, informados tanto por
sólidas investigações empíricas quanto por instrumentos teóricos e
metodológicos aperfeiçoados, foram responsáveis por uma transformação
sensível nos termos através dos quais se enxerga hoje o período escravista e
o trabalho escravo no Brasil. As ênfases nas estratégias dos escravos e na
ambigüidade constantemente manipulada das relações senhor/escravo,
ajudaram-nos a compreender a escravidão como uma relação que, ao mesmo tempo
que se definia pela desigualdade e a violência, era também fortemente marcada
pela negociação. Por outro lado, os estudos sobre o trabalho escravo, ao mesmo
tempo que lançaram novas luzes sobre o trabalho cativo e o estudaram em suas
múltiplas facetas e características, parecem aceitar com muita freqüência a
idéia de que o mundo pós-escravidão e o do trabalho considerado
"livre" era muito menos ambíguo e muito mais facilmente explicado. Do
ponto de vista da história sócio-econômica do trabalho, no âmbito da
discussão sobre a chamada "transição do trabalho escravo para o trabalho
livre", a utilização de conceitos como "mercado de trabalho" e
"trabalho livre" (como oposição radical ao "trabalho
escravo") raramente são problematizados e acabam sendo, com freqüência,
considerados como descrições transparentes e sem arestas. Entretanto, como
conceitos operativos sobre a realidade das relações de trabalho em um mundo em
transformação, são marcados por convicções, nem sempre explícitas, de um
mercado de trabalho impessoal, "racional" e regulado por uma lógica
de maximização, convicções estas que derivam de uma concepção das
relações econômicas e sociais que aceita de modo fácil demais as
convicções - freqüentemente simplificadoras - do pensamento econômico
neo-clássico. O objetivo da apresentação que proponho aqui parte da
convicção de que é preciso reexaminar, tanto conceitual quanto empiricamente,
as questões que envolvem as relações de trabalho no Brasil durante e após o
período escravista, investigando de perto as lógicas sociais, econômicas e
culturais que se entrelaçam nessas relações. Em uma investigação, ainda em
curso, sobre o mercado de trabalho na cidade do Desterro (Ilha de Santa
Catarina) no século dezenove, venho tentando enfrentar as questões que acabo
de citar através de uma análise detalhada e microanalítica da documentação
cartorial pertinente - em especial contratos diversos de trabalho, envolvendo
tanto escravos quanto pessoas livres, no período que (seguindo a
descontinuidade da documentação encontrada) cobre preliminarmente os anos
entre 1829 e 1888 em um dos cartórios de notas do termo do Desterro. O trabalho
que apresento aqui pretende expor as hipóteses preliminares e os resultados
parciais até agora levantados em confronto com a documentação pesquisada.
DAUWE,
Fabiano. A libertação gradual e a saída viável: os múltiplos sentidos da
liberdade pelo Fundo de Emancipação de Escravos. Comunicação apresentada
no I Encontro de Castro -- Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, Castro
(PR), 23 a 26 de setembro de 2003.
RESUMO. O Fundo de Emancipação de Escravos foi um dispositivo legal
estabelecido na lei do Ventre Livre, que destinava recursos às províncias e ao
Rio de Janeiro para libertação de cativos. A quantia destinada a cada
província era proporcional ao número de escravos que lá houvesse, determinada
a partir de uma matrícula especial de todos os escravos do país. Os escravos
de cada localidade seriam, posteriormente, classificados conforme os critérios
estabelecidos pelo decreto que regulamentou a lei (Decreto n. 5.135, de 13 de
novembro de 1872). A preferência para a libertação era dada aos escravos que
tivessem família (fossem casados ou pelo menos tivessem filhos), depois aos
indivíduos, começando pelas mulheres mais jovens e os homens mais idosos. Até
a lei do ventre livre, a decisão de alforriar os cativos cabia unicamente ao
senhor, que poderia fazer dessa prerrogativa uma eficiente ferramenta de
coerção e de manutenção do poder senhorial. A alforria dessa forma poderia
ser tomada como uma concessão senhorial, um ato de benevolência ou bondade,
indicativo da "doçura" que caracterizaria, segundo a classe
senhorial, as relações escravistas no Brasil. A historiografia tradicional
sobre a escravidão foi profundamente marcada por uma incorporação do discurso
abolicionista sistematizado por Joaquim Nabuco. Dentro dessa perspectiva, o
fundo de emancipação aparecia como um dispositivo legal pouco eficiente, que
teria falhado em libertar um grande número de escravos. Isso contribuiu para a
sua desqualificação, durante muito tempo, como objeto de interesse
historiográfico. Ao observar o processo de abolição principalmente através
das estatísticas, a análise histórica tende a considerar a liberdade como uma
dádiva concedida ao escravo, o que impede que se observe a participação dos
próprios escravos nesse processo. Este trabalho pretende observar o fundo de
emancipação a partir de uma outra perspectiva, que leve em conta os diferentes
interesses envolvidos em sua execução. Ainda que a lei tenha sido criada por
um grupo dominante para fazer valer seus interesses, seus mecanismos legais,
quando usados por grupos com interesses discordantes, serviriam para finalidades
bastante diversas. Por isso, o fundo teria servido, de um lado, para consolidar
o projeto senhorial de libertação gradual e sem abalos e, de outro, para pôr
em questão a autoridade senhorial, ao abrir aos cativos a possibilidade de
conseguirem sua alforria à revelia das vontades senhoriais. Este trabalho
pretende discutir, a partir da ótica do Fundo de Emancipação de Escravos, os
significados da escravidão, da liberdade e da interferência estatal no
processo da libertação de escravos, que, havia séculos, extraía sua
legitimidade exclusivamente de uma decisão de foro privado. O objetivo é
observar as circunstâncias históricas que tornaram insuficiente esse
tratamento privado da alforria e da escravidão e a duplicidade de objetivos que
o governo Imperial revelava ao tomar as rédeas do processo de emancipação.
Também busca, pelo estudo de alguns episódios envolvendo a alforria pelo Fundo
de Emancipação em Desterro, atual Florianópolis, fornecer elementos para a
compreensão das atitudes dos diversos indivíduos que compunham aquela
sociedade para com o Fundo de Emancipação e a extinção do escravismo.
LONER,
Beatriz Ana. Ação e reação: a luta pela abolição em Pelotas.
Comunicação apresentada no I Encontro de Castro -- Escravidão e Liberdade no
Brasil Meridional, Castro (PR), 23 a 26 de setembro de 2003.
RESUMO. Apesar de muito já se ter escrito sobre os processos abolicionistas, em
várias províncias e cidades brasileiras muito ainda há a ser pesquisado sobre
este tema, tanto em relação aos reais participantes do processo, como no
referente às conseqüências que a abolição provocou nas localidades
pesquisadas, em sua economia, relações entre agentes políticos e sociais e,
mesmo, ex-escravos. Nesta comunicação discutimos alguns aspectos do processo
abolicionista e das relações entre seus agentes e o conjunto da sociedade,
utilizando como exemplo o caso de Pelotas, cidade gaúcha que se constituiu num
pólo escravista durante o império, devido à intensa atividade charqueadora
observada na região. Baseia-se, esta comunicação, em projeto de pesquisa
sobre os trabalhadores e a luta pela abolição no estado gaúcho, no âmbito do
qual levantamos -- mediante pesquisa em jornais do estado, financiada pela
FAPERGS -- os eventos e a conjuntura da década final da escravidão no estado
gaúcho em geral e na cidade de Pelotas em particular. Nesta comunicação,
abordamos o contexto interno e a forma como a proposta abolicionista
desenvolveu-se na cidade, seus limites, tensionamentos e as reações que
provocou entre os setores sociais, entendendo-a como um processo complexo, que
exigia um posicionamento quotidiano por parte de seus habitantes, mesmo livres e
desprovidos de escravos. Não será feita a discussão das propostas que
permeavam o processo, mas pretende-se analisar as ações, omissões e práticas
dos agentes abolicionistas e seus limites, bem como a forma como se estabelecia
a relação entre estes setores e os demais e as reações que a luta
abolicionista provocava. Ao mesmo tempo, como pano de fundo, tem-se, pelos
jornais, as notícias dos acontecimentos no restante do país e nos distritos
rurais, marcados pelas fugas e ameaças ou tentativas de rebelião dos
escravizados, por um lado, e pela contra-reação dos escravagistas, que
ampliaram a repressão contra os escravos fugidos (o que resultou em várias
mortes); pelo incremento de punições contra os trabalhadores escravizados e
pela instalação de uma tensão social latente na cidade, a qual, em alguns
momentos, explode ruidosamente.
SILVA,
Lúcia Helena Oliveira. Uma babel negra: libertos em movimento no
pós-abolição. Comunicação apresentada no I Encontro de Castro --
Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, Castro (PR), 23 a 26 de setembro
de 2003.
RESUMO. Logo após a abolição da escravidão, em 1888, muitos emancipados
ganharam a estrada e foram para longe de onde haviam vivido até então.
Empreenderam uma grande movimentação indo para lugares longínquos como outras
províncias, para povoados próximos de onde viviam, andando sem um destino
certo, enfim, criaram um dinâmico processo migratório no país. Essa série de
movimentações migratórias são ainda pouco conhecidas nos estudos dedicados
ao tema da escravidão e liberdade. Nosso intento aqui é levantar algumas
discussões em torno de um dos destinos que a população liberta e
afrodescendente tomou, a cidade do Rio de Janeiro. A partir dos dados da Casa de
Detenção da Corte iremos problematizar a presença de libertos e
afrodescendentes migrantes junto à população da cidade.
PORTELA,
Bruna Maria. Escravidão e Sociedade em Campo Largo durante a segunda metade
do século XIX. Comunicação apresentada no I Encontro de Castro --
Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, Castro (PR), 23 a 26 de setembro
de 2003.
RESUMO. Campo Largo, hoje na região metropolitana de Curitiba, está situado na
divisa entre o Primeiro Planalto e os Campos Gerais. O povoamento da região
começou com a exploração das minas de ouro em meados do século XVII e, nos
anos finais de 1700, a mineração já entrava em decadência. A população
passou a se dedicar à agricultura de subsistência e à pecuária e, no início
do século XIX, atividades ligadas ao tropeirismo começam a ganhar força na
região. Em 1872, o município já havia se emancipado da capital, passando à
categoria de Vila. Mediante a análise de 31 inventários (1873-1879), foi feito
um levantamento das atividades desenvolvidas na região e também da
participação dos escravos nessas atividades. O que observamos foi a
coexistência de quatro categorias econômicas principais: invernadas,
agricultura de abastecimento, extração de erva-mate e pecuária. Com exceção
das invernadas, as outras três atividades apareceram em mais de 50% dos
inventários, não existindo uma atividade que sobressaísse significativamente
em face das outras. Entre os 12 proprietários de escravos, 39% da amostra total
de inventários, a coexistência entre as atividades também aparece, o que
acaba dificultando uma identificação precisa das atividades exercidas pelos
escravos. Na maioria das vezes, os inventários apresentam indícios de duas ou
mais categorias econômicas. E, se fossemos levar em conta as informações
contidas nas listas de matrícula dos inventários, acabaríamos por concluir
que os escravos eram todos lavradores ou domésticos, pois são as únicas
profissões que aparecem nas listas, com exceção de um cativo ferreiro.
Porém, o termo "lavrador" era usado genericamente e, provavelmente,
um escravo com essa "profissão", desenvolvia outras atividades que
não estavam necessariamente ligadas à agricultura. Como no restante do
Paraná, Campo Largo caracterizava-se pela pequena unidade escravista, ou seja,
senhores que possuíam de 1 a 5 cativos. Em nossa amostra, encontramos 59
escravos divididos entre os 12 proprietários, o que equivale à média de 4,9
cativos por unidade. Para entendermos como esses escravos interagiam com a
sociedade do período selecionamos para análise um processo crime de 1875 em
que a escrava Benedicta acusa Manoel de Lima, seu senhor, de praticar o crime de
estupro em sua filha menor, a também escrava, Marcelina. Um ano antes de acusar
Lima, Benedicta havia ido à capital tratar de sua liberdade ou então de sua
venda para outro senhor, o que mostra que a escrava já estava há muito tempo
insatisfeita com a vida no cativeiro. Mas, apesar dos esforços da escrava, o
advogado do réu conseguiu elaborar uma defesa que inocentou seu cliente e,
Marcelina continuou vivendo com Manoel de Lima, enquanto Benedicta era vendida
para outro senhor. Apesar de a escrava não ter sido bem sucedida nos seus
intentos, não podemos deixar de notar a perspicácia de Benedicta ao denunciar
seu senhor, demonstrando que, apesar da posição desprivilegiada que tinham os
escravos perante a justiça, o desejo de ser livre ou de ter uma vida mais
digna, conseguia ultrapassar as barreiras que lhes eram impostas.
ROCHA,
Rita de Cássia Galdin. A questão da família escrava no Paraná em 1854, um
estudo de caso da escrava Francisca Placidina. Comunicação apresentada no
I Encontro de Castro -- Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, Castro
(PR), 23 a 26 de setembro de 2003.
RESUMO. A questão da família escrava é ponto de partida para um intenso
debate entre historiadores que estudam a escravidão no Brasil. O olhar lançado
sobre a família escrava não pode ser jamais interpretado com os olhos do
século XXI, principalmente pelas situações adversas desses seres humanos. Mas
é preciso ressaltar que família pode ser entendida como a resistência à
separação dos filhos, ou ainda como fator jurídico de busca de direito de se
manter junto aos seus descendentes diretos. Essas dificuldades frente ao sistema
fizeram com que muitos cativos procurassem a justiça por intermédio de um
curador legalmente constituído. Esta análise repousa dobre os documentos
extraídos do jornal "O Dezenove de Dezembro" de 1854. Esse exame tem
como objetivo estudar os movimentos realizados pelo cativo após a morte do
senhor, partindo do estudo do caso da escrava Francisca Placidina, levada ao
cativeiro após a morte de sua senhora, mesmo tendo em mãos a carta de alforria
que lhe garantia a própria liberdade e a de seus quatro filhos. A partir disso,
buscaremos entender as brechas que os cativos encontravam nas leis para
conseguir causas em seu favor, ou ainda, medidas que aliviassem a separação
por venda ou que assegurassem diante da justiça o direito de permanecer em
família. Tornava-se um problema bastante comum após a morte do senhor, que os
escravos viessem a ser parte fundamental das contendas entre os herdeiros, esse
impasse diante da venda ou a própria negação da liberdade a quem já havia
adquirido esse direito desenvolvia no cativo sentimentos e atitudes até então
adormecidos. Em algumas situações o cativo se indignava de tal maneira com a
possibilidade de ser vendido a outro senhor, que sua alternativa era a tentativa
da fuga. Essas querelas se davam porque o cativo não era um bem imóvel e sem
vontade própria e a possibilidade de uma mudança interferia diretamente na sua
vida. A formação dos núcleos familiares e das redes de compadrio tornavam-se
extremamente ambíguos. Se por um lado, as redes familiares serviam para tornar
a vida nas senzalas um tanto melhor e o convívio com filhos e parentes
próximos criava uma rede de auxílio mútuo, em contrapartida, os senhores
tinham uma área de abrangências punitiva muito maior. Autores como Robert
Slenes, Eduardo Spiller Pena e José Flávio Motta, entre outros, tratam essa
questão familiar através de fontes de processos estabelecidos na justiça e
analisam a movimentação executada pelo escravo diante da lei, a fim de
conseguir sua liberdade amparado pelas brechas abertas no judiciário. Este
trabalho tem como objetivo entender as dimensões da família escrava no
Paraná, como essa rede escravocrata abria brechas nas leis capazes de mobilizar
escravos a questionarem sobre a sua venda ou a de seus filhos, ou ainda de
manter uma ligação familiar com seus descendentes. Tem como aspiração ainda,
entender as relações de núcleos familiares em outras regiões do Brasil e
fazer uma aproximação com o caso paranaense, para que, através disso seja
lançado um novo olhar sobre as condições e formação da família escrava.
MORAES,
Aírton de. O tratado antitráfico anglo-brasileiro de 26 de novembro de
1826: uma revisão historiográfica. Comunicação apresentada no I Encontro
de Castro -- Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, Castro (PR), 23 a 26
de setembro de 2003.
RESUMO. Estamos desenvolvendo um projeto de pesquisa que visa fazer uma revisão
historiográfica sobre o acordo anti-tráfico Anglo-brasileiro de 26/11/1826.
Este tratado foi de suma importância para o Brasil, e condição sine qua non
para o reconhecimento da independência brasileira por parte da Inglaterra.
Queremos analisar as várias visões a respeito do tema. Na questão política
queremos dar ênfase às várias posições que durante os 20 anos (1830 -1850)
a classe política nacional tomou: inicialmente mais conservadora e num momento
ulterior, com um caráter mais liberal. Um outro quesito a ser lembrado são as
importantes pressões inglesas que o Império brasileiro sofrera e os
subterfúgios que eram usadas para driblar os acordos assinados (lei para
inglês ver). Na parte econômica o que é possível perceber são as
contradições do discurso inglês, pois, eles não só foram os maiores
fornecedores de mercadorias que tinham poder de troca na África, mas também
financiavam a compra de navios e suprimentos facilitando o "infame
comércio". Outro ramo de comércio em que os ingleses atuavam, era o da
venda de apólice de seguro aos tumbeiros, seguro este que virou norma, pois os
riscos das viagens eram muito altos devido ao policiamento das águas pelas Real
Marinha Britânica. Outro país que se beneficiou com o tráfico foram os
Estados Unidos da América, o nosso maior fornecedor de navios. Como o país
não assinara acordo com os ingleses, sua bandeira era utilizada na travessia do
Atlântico como um pavilhão que transmitia segurança ao seu portador. Esta
pressão internacional (leia-se inglesa), gerou uma mudança de hábitos no
desembarque das "peças" africanas, ou seja, começaram a tomar muito
cuidado ao escolher os lugares para "descarregar", visto que os
grandes portos estavam sendo muito vigiados. O litoral paranaense e, mais
especificamente, o Porto de Paranaguá, foi um destes locais visitados e usados
pelos traficantes para tal prática e, portanto, usado como forma de
subterfúgios à fiscalização, ou seja, devido à proximidade com São Paulo
fazia-se o desembarque neste local e seguia-se com os cativos até o Vale do
Paraíba, local que despontava como centro agrícola neste período. Após 1845,
a Inglaterra remetendo ao primeiro capítulo do tratado de 1826, edita um ato
(Bill Aberdeen) no qual se dá o direito de atacar qualquer navio considerado
pirata independente da localização do mesmo. Em várias partes do nosso
litoral aconteceram incidentes que geraram críticas ao governo imperial, pois,
para muitos, isto era uma questão de soberania. No caso paranaense, um navio da
Armada Real foi atingido, gerando uma enorme celeuma. Em síntese, o que este
trabalho visa mostrar são as várias leituras que este tratado teve durante os
últimos anos por parte da historiografia, bem como, sua importância para o
cenário nacional, uma vez que foi a "carta de batismo", ou seja, o
reconhecimento inglês de nossa autonomia, proporcionando-nos o status de
nação livre.
SILVA,
Daniel Afonso da. A identificação do sentimento de liberdade nos escravos
do século XIX como um combate nas trevas. Comunicação apresentada no I
Encontro de Castro -- Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, Castro (PR),
23 a 26 de setembro de 2003.
RESUMO. O objetivo é asseverar sobre o processo de identificação do
sentimento de liberdade do cativo do século XIX. Daí a bifurcação teórica
frente ao sentido da liberdade e da escravidão. Definir a liberdade é o mesmo
que especificar o significado de um quadrado redondo. Ela é algo que perpassa o
império dos sentidos por se localizar no plano das idéias. Sua identificação
só pode ser efetuada ao ser conduzida ao mundo concreto pelo esforço da
personificação. No estudo da escravidão, esta personificação fica expressa
nas visões da liberdade, ou seja, na análise das ações autônomas dos
escravizados. A identificação dessas ações individuais oitocentistas é um
procedimento repleto de ciladas. No século em questão a empresa da escravidão
chegou ao seu estágio mais complexo. Houve uma maior simbiose étnica nas
comunidades escravas, a qual implementou artimanhas diferenciadas para ludibriar
os supostos senhores, que necessitavam se precaver a priori constantemente. A
interpretação da escravidão desse período necessita de ordenação
teórico-metodológica relativizada e interdisciplinar - conjugação, em
especial, de pesquisa documental, literária, historiográfica, antropológica.
É preciso, sobretudo, despir a abordagem histórica dos demiurgos habituais da
historiografia (metáfora base/estrutura, determinismo econômico, transição
entre modos de produção), as certezas habituais. Estes demiurgos assassinam a
idiossincrasia dos movimentos e elementos em estudo. Além disso, é fundamental
desencorajar a coisificação da escravidão (Emilia Viotti, Jacob Gorender,
Fernando Henrique Cardoso, Florestan Fernandes, entre outros) a fim de validar a
consciência individual e grupal no cotidiano da escravidão (Sidney Chalhoub,
Silvia Hunold Lara, Luiz Mott, João José Reis, Richard Price, Ronaldo Vainfas,
Mary Karasch entre outros). Estes últimos inovaram a historiografia ao
diversificar os ângulos de análise e as dimensões da história.
ALBUQUERQUE,
Janeslei. Uma reflexão sobre os sentidos da liberdade e da cidadania num
país marcado pelo escravismo e pela publicidade como estratégia hegemônica. Comunicação
apresentada no I Encontro de Castro -- Escravidão e Liberdade no Brasil
Meridional, Castro (PR), 23 a 26 de setembro de 2003.
RESUMO. Ao considerarmos a educação como espaço de identidades em
construção e de concepções de sociedade em disputa, refletimos o papel do
currículo nessas definições. Levando em conta o passado escravista do nosso
país e as peculiaridades do escravismo em Curitiba e no Paraná, observamos a
paulatina construção de uma identidade regional, que se constitui numa limpeza
étnica no decurso desse processo. Elementos de cultura africana e de cultura
indígena foram desconsiderados na história oficial. Ao mesmo tempo se elegeu
um certo ideal de cultura européia e de homem europeu como modelo para o
paranaense padrão, o paranista. Historiadores regionalistas vão afirmar a
não-existência de escravidão no Paraná e em Curitiba e, portanto, a
representação dessa parcela da população não será contemplada nas marcas
arquitetônicas da Capital. No que se refere ao currículo, ele também uma
arena de disputas de representações simbólicas, será um instrumento de
afirmação da branquitude e da europeidade dessa região do Brasil. Curitiba
sofrerá a partir dos anos setenta do século XX, uma intensificação e uma
aceleração na identificação arquitetônica de matrizes européias, sendo
transformada nesse período, numa cidade-espetáculo, uma
"cidade-marca". A construção dessa marca teria sido dada a partir de
uma bem sucedida campanha publicitária, mas, sobretudo pelas vinculações
dessa estratégia aos interesses do poder central que pretendeu, para Curitiba,
a condição de vitrine do regime militar. Na constituição da
cidade-espetáculo, em que as imagens são sobrevalorizadas e estão elas mesmas
no centro da cena, a população vai atuar como figurante, que assiste
passivamente cada lançamento de uma nova obra e suas virtudes relacionadas aos
originais europeus. E é sobre esta base espetacular que "pessoas reais
vivem vidas reais mediatizadas pelas imagens". A população é figurante,
a população branca. A parcela afrodescendente nem sequer é mencionada, não
consta das imagens da cidade, não consta do calendário de comemorações
folclóricas, não consta no currículo, não consta na história. Como se dá a
construção da identidade de um/a jovem negro/a, aluno de nossas escolas? É a
pergunta que fizemos a eles/as, as quais nos dão algumas pistas sobre como é
ser negro numa cidade que afirma arquitetônica e culturalmente a sua
não-existência. A marca publicitária, ícone pós-moderno do capitalismo
contemporâneo, é depositária da segurança e referencial de qualidade e
aceitação social perseguidos pelo sujeito fragmentado da era da aceleração e
do individualismo neoliberal. A partir do momento em que essa marca está
"na cabeça das pessoas", ela não precisa mais ser referência na
realidade porque a realidade é a marca. Na medida em que o que está na cabeça
das pessoas é a idéia da cidade européia, é a idéia de primeiro mundo que
persiste. A parcela não-branca da população segue invisibilizada e a
construção de sua identidade cultural não tem outros elementos que não sejam
os da chamada cultura branca, também impregnada pela estereotipia que
cristaliza os sujeitos numa versão despolitizada de sua trajetória como
imigrantes.
I JORNADA INTERNACIONAL DE HISTÓRIA DA FAMÍLIA
CEDHAL - CENTRO DE ESTUDOS DE DEMOGRAFIA HISTÓRICA DA AMÉRICA LATINA
Resumos das Comunicações
ALMEIDA, Joseph César Ferreira de. O Testamento
no âmbito da herança: São Paulo, séculos XVIII e XIX. Comunicação
apresentada na I Jornada Internacional de História da Família, promovida pelo
CEDHAL, Centro de Estudos de Demografia Histórica da América Latina da FFLCH/USP,
São Paulo (SP), setembro de 2003.
RESUMO. Este trabalho visa à análise dos dados relativos às relações dos
testadores com seus herdeiros forçados, que são os ascendentes e descendentes
em linha direta do testador, ou seja filhos e netos, avós e bisavós; os dados
referem-se à área correspondente ao estado de São Paulo, para período que se
estende de 1763 a 1863. Muitos testadores utilizavam seus testamentos para
reparação de erros do passado, como por exemplo, o reconhecimento de
herdeiros, os quais, efetivamente, seriam seus filhos bastardos, numa tentativa
de salvação da alma a partir da confissão e do reparo dos pecados da carne,
aos quais chamavam "fragilidade humana". Dessa maneira procuraremos
enfocar as estratégias dos testadores para transmissão de suas riquezas.
Envolvendo um estudo da partilha dos bens e do direito das sucessões nos
testamentos.
ARAÚJO,
Cíntia Ferreira. O destino dos expostos: trajetória social de crianças
abandonadas em Mariana,1800-1839. Comunicação apresentada na I Jornada
Internacional de História da Família, promovida pelo CEDHAL, Centro de Estudos
de Demografia Histórica da América Latina da FFLCH/USP, São Paulo (SP),
setembro de 2003.
RESUMO. Monografia de bacharelado, em História Social, apoiada na metodologia
demográfica que analisa o destino de crianças abandonadas (expostas ou
enjeitadas), em Mariana(MG) entre 1800 e 1839. Procuramos analisar,
principalmente, o destino das crianças após completarem o sétimo
aniversário, quando, segundo a legislação, findava o auxílio pago pela
Câmara Municipal às criadeiras e, as crianças teriam de passar a se
responsabilizar pelo seu próprio sustento. Analisamos o exposto e o domicílio
que o acolheu, indicando se ele voltava ao circuito do abandono ou se passava a
pertencer à família criadeira, na forma de agregado. Tal abordagem
permitiu-nos investigar, também, as formas de exploração do trabalho infantil
no Brasil do século XIX.
BASSANEZI,
Maria Silvia Beozzo. Criança e jovem oriundi na terra do café, final do
século XIX e início do século XX. Comunicação apresentada na I Jornada
Internacional de História da Família, promovida pelo CEDHAL, Centro de Estudos
de Demografia Histórica da América Latina da FFLCH/USP, São Paulo (SP),
setembro de 2003.
RESUMO. A política imigratória brasileira do final do século XIX e início do
século XX privilegiou a imigração familiar e, em conseqüência, possibilitou
a entrada em terras brasileiras de milhares de crianças e jovens estrangeiros
que acompanharam seus pais e/ou parentes próximos na aventura migratória, em
busca de melhores condições de vida e de oportunidades de trabalho. No Brasil,
muitas das mulheres imigrantes geraram um número grande de filhos, os quais sem
terem vivenciado a experiência de deixar a terra natal e atravessar o oceano,
estiveram sujeitos às mesmas venturas e desventuras daquelas nascidas além mar
e que sobreviveram à travessia.
CÂMARA,
Leandro Calbente. Economia e Família: Estruturas Populacionais nos Bairros
Rurais Paulistas no início do século XIX. Comunicação apresentada na I
Jornada Internacional de História da Família, promovida pelo CEDHAL, Centro de
Estudos de Demografia Histórica da América Latina da FFLCH/USP, São Paulo
(SP), setembro de 2003.
RESUMO. O presente trabalho tem por objetivo estudar as estruturas populacionais
nos bairros rurais paulistas, especialmente em Nossa Senhora do Ó e Penha, que
circundavam a cidade de São Paulo, no início do século XIX. A idéia é
delinear o perfil profissional e econômico e as tipologias das estruturas
domiciliares, localizando as principais diferenças destas características nos
bairros rurais, que apresentam uma economia mais dependente da prática
agrícola, e no núcleo central da cidade, já mais urbanizado e menos
agrícola. Para tal, trabalhamos com as listas nominativas de população dos
anos de 1827 e 1836, documentos que apresentam importantes informações sobre a
população de tais áreas.
CAMARGO,
Climene Laura de. Violência contra crianças e adolescentes: uma abordagem
histórica. Comunicação apresentada na I Jornada Internacional de
História da Família, promovida pelo CEDHAL, Centro de Estudos de Demografia
Histórica da América Latina da FFLCH/USP, São Paulo (SP), setembro de 2003.
RESUMO. O presente estudo, elaborado a partir de uma revisão bibliográfica,
tem como objetivo analisar dentro de uma perspectiva histórica a violência
familiar praticada contra crianças e adolescentes, entendendo como violência o
exercício humano de poder, expresso através da força física ou psicológica.
As descrições sobre atos violentos contra crianças e adolescentes são tão
antigas quanto a existência do próprio Homem, podendo ser encontradas em
relatos Históricos, Mitológicos, Antropológicos e nos processos religiosos.
Entretanto, somente no final do século XX a violência começou a ser estudada
e entendida como um problema de Saúde Pública que afeta não somente a saúde
humana mas da sociedade como um todo. Através de analises efetuadas sobre o
processo violento desenvolvido nas relações familiares no período colonial e
no sistema escravagista este estudo busca contribuir com reflexões sobre a
formação da sociedade brasileira pautada em um sistema de poder originado da
simbiose patriarcado-racismo-capitalismo e para a compreensão e enfrentamento
dos processos de violência familiar.
CAMPOS,
Marize Helena de. Cidade das meretrizes: transformações urbanas e
prostituição em São Luís do Maranhão na primeira metade do século XX.
Comunicação apresentada na I Jornada Internacional de História da Família,
promovida pelo CEDHAL, Centro de Estudos de Demografia Histórica da América
Latina da FFLCH/USP, São Paulo (SP), setembro de 2003.
RESUMO. Na virada do XIX, ainda que conservasse o aspecto colonial, a cidade de
São Luís modificava-se em função do surto industrial. Acompanhando aquele
remodelamento, criavam-se Leis, Decretos e outras tantas normas que visavam à
disciplina e à higiene urbana. Como em outras cidades, o poder estatal
empenhava-se no diagnóstico dos sintomas da chamada cidade doente e na
disseminação das idéias de que os males possuíam várias ordens e matizes,
sendo um dos principais o meretrício. Assim, locais como bares, clubes de
dança, pensões, casas-de-cômodos e hospedarias, espaço geográfico das
madamas, raparigas, borboletas, maripozas, decahidas e horizontaes rapidamente
ganhavam especial vigilância médico-policial. Mas a ânsia em identificar e
combater as ameaças representadas pela prostituição ou, a dimensão de seu
perigo, não estava restrita ao campo da medicina. As fronteiras entre o sadio e
o doente alcançavam dimensões maiores e os freqüentes artigos da imprensa
ludovicense atestavam a ênfase da codificação dos papéis sociais de sorte
que a identidade da meretriz era, para o discurso higienista-conservador, a da
louca, instável, vadia, sedutora, doente, frívola, imatura, etc., em clara
oposição àquela concebida como a zelosa mãe de família.
CANCELA,
Cristina Donza. Família na Amazônia: natalidade e ilegitimidade. Belém
(1870-1930). Comunicação apresentada na I Jornada Internacional de
História da Família, promovida pelo CEDHAL, Centro de Estudos de Demografia
Histórica da América Latina da FFLCH/USP, São Paulo (SP), setembro de 2003.
RESUMO. Na época da economia da Borracha, Belém transformou-se no principal
porto de escoamento da goma elástica, que representou aproximadamente 10% do
comércio exterior do Brasil. Vários trabalhos da historiografia regional já
apontaram as mudanças ocorridas no traçado urbano, na arquitetura, nas artes e
no crescimento demográfico ocorrido na cidade, bem como, as grandes riquezas
formadas entre os proprietários de seringais, em contraste com a pobreza dos
migrantes nordestinos. Neste trabalho discutiremos esse período a partir da
perspectiva da História da Família, observando a estrutura e os valores
familiares. Para tanto, serão analisados os índices de natalidade e
ilegitimidade, tendo como corpo documental os livros de batismo e inventários.
CAVAZZANI,
André Luiz M. Ao pé das soleiras: expostos na Vila de Nossa Senhora da Lux
dos Pinhais. Comunicação apresentada na I Jornada Internacional de
História da Família, promovida pelo CEDHAL, Centro de Estudos de Demografia
Histórica da América Latina da FFLCH/USP, São Paulo (SP), setembro de 2003.
RESUMO. Há aproximadamente dois anos, iniciei junto ao CEDOPE - Centro de
Documentação e Pesquisa de História dos Domínios Portugueses: século XVI ao
XIX - um estudo que procura compreender, no contexto da Vila de Curitiba na
segunda metade do século XVIII (1760 - 1800), um fenômeno amplamente difundido
no Brasil Colonial: o abandono de recém-nascidos. Utilizando-me de fontes como
Registros Paroquiais e Listas Nominativas referentes ao período já indicado
tenho buscado identificar os expostos bem como caracterizar seus domicílios
receptores. Isso para tentar recuperar a trajetória de vida destas crianças
com o propósito de entender como se teria dado sua inserção naquela sociedade
e, para além disto, qual teria sido o papel do exposto na complexidade das
relações sociais que grassaram no Brasil Colônia, e, de maneira mais
específica, na Curitiba Setecentista.
CINTRA,
Rosana Aparecida. Imigração italiana: o perfil das famílias italianas em
Ribeirão Preto SP) na década de 1890. Comunicação apresentada na I
Jornada Internacional de História da Família, promovida pelo CEDHAL, Centro de
Estudos de Demografia Histórica da América Latina da FFLCH/USP, São Paulo
(SP), setembro de 2003.
RESUMO. Na presente comunicação visamos a analisar o perfil das famílias
italianas, no momento de sua introdução na cafeicultura paulista e que tiveram
como destino Ribeirão Preto na década de 1890. Para isso, utilizaram-se os
Livros de Matrículas de Imigrantes do Memorial do Imigrante em São Paulo que
contêm dados como: idade, sexo, estado civil, relação de parentesco com o
chefe da família, ocupação, religião e destino. Verificamos o tamanho e
composição dessas famílias, o número médio de filhos, a faixa etária, a
fase do ciclo vital em que se encontravam as famílias em relação ao processo
reprodutivo, e os indivíduos em idade de casar. As famílias que se destinaram
a Ribeirão Preto nesse período eram na sua maioria nucleares, 81,7%, formadas
pelo casal com filhos, somente o casal ou um dos cônjuges e filhos. As
famílias não eram tão numerosas, ao contrário do que se pretendia com a
política imigratória na época.
DIAS,
Madalena Marques. Algumas considerações sobre os papéis femininos na vila
de São Paulo nos séculos XVI e XVII. Comunicação apresentada na I
Jornada Internacional de História da Família, promovida pelo CEDHAL, Centro de
Estudos de Demografia Histórica da América Latina da FFLCH/USP, São Paulo
(SP), setembro de 2003.
RESUMO. Quando lemos de maneira genérica a documentação paulistana referente
aos primeiros séculos da colonização, são raros os casos em que surgem
citadas mulheres participando das relações econômicas ou políticas; e, se o
meio doméstico e familiar era o seu espaço, verificamos que o centro das
decisões eram os seus maridos. Se lermos de maneira diferente e cotejarmos com
maior cuidado toda esta documentação, poderemos entrever que tais mulheres
tiveram o papel ativo de acumuladoras de meios de produção para suas
famílias, e isso conferiu-lhes um poder que não transparece nos discursos da
época. Pretendemos demonstrar nessa comunicação quais eram as atuações
femininas possíveis (e que extrapolavam o meio doméstico), através dos
diversos fluxos econômicos que envolveram as famílias da vila paulistana.
Enfim, a inserção delas nas estruturas de poder era diversa do que a
historiografia tem mostrado até então.
ESPÍRITO
SANTO, Cláudia Coimbra do. Sistema de crédito e economia cotidiana:
considerações sobre a participação feminina e as relações familiares
presentes nos processos de Ações de Alma em Vila Rica durante o século XVIII.
Comunicação apresentada na I Jornada Internacional de História da
Família, promovida pelo CEDHAL, Centro de Estudos de Demografia Histórica da
América Latina da FFLCH/USP, São Paulo (SP), setembro de 2003.
RESUMO. A documentação cartorária evidencia que no decorrer do setecentos a
população de Vila Rica vivenciou o desenvolvimento das relações econômicas
e, paradoxalmente, a ausência de moeda como meio circulante para as
transações comerciais cotidianas. Nesse contexto, os moradores utilizaram,
como prática sócio-econômica, um sistema de concessão de crédito baseado no
empenho da palavra. Essas operações de crédito eram típicas de grandes
espaços urbanos, e geraram demandas econômicas na justiça civil de Vila Rica,
pautadas na palavra empenhada no juramento de alma. O trabalho pretende discutir
alguns aspectos das relações familiares e da participação das mulheres no
sistema de crédito, que perpassavam vários dos processos analisados,
caracterizando, assim, a inserção feminina na dinâmica sócio-econômica na
sociedade urbana ouro-pretense.
FERNANDES,
Fernando Seliprandy. Brincando de Modernidade. A criança e os brinquedos na
Paulicéia da virada do século XIX para o XX. Comunicação apresentada na
I Jornada Internacional de História da Família, promovida pelo CEDHAL, Centro
de Estudos de Demografia Histórica da América Latina da FFLCH/USP, São Paulo
(SP), setembro de 2003.
RESUMO. A pesquisa em curso consiste em analisar o papel dos brinquedos, jogos e
outras formas de diversão e seus instrumentos nos lares paulistanos entre 1889
e 1939. Verificamos a importância de tais objetos para o conhecimento do
período, visto que são carregados de aspectos sociais, econômicos e culturais
que compunham o cotidiano dos habitantes de São Paulo. Por outro lado, há
poucos estudos sobre esse tema. Para tanto, temos levado em conta vários tipos
de fontes, desde anúncios de jornais, passando por depoimentos de pessoas que
viveram parte do período considerado, além de romances e memórias,
inventários, material iconográfico, acervos de museus, até os próprios
brinquedos que foram legados pelo zelo de alguns. A partir da análise dos
brinquedos e outras formas de diversão, temos condições de refletir sobre as
mudanças que vinham ocorrendo em São Paulo nesse período. A formação da
indústria, a crescente urbanização, as diferentes classes sociais que
nasciam, o processo de metropolização, com o encurtamento do espaço mundial
proporcionado pelos avanços tecnológicos nas comunicações e nos transportes,
enfim, toda uma gama de mudanças que não se limitavam às fronteiras da
cidade, menos ainda do Estado ou do País, mas que vinham no bojo da Revolução
Científico-Tecnológica em curso desde a segunda metade do século XIX no
"centro do mundo". Isso tudo porque os brinquedos e demais
instrumentos do lúdico possuem uma carga de significados muitas vezes velada,
sendo um dos objetivos desta pesquisa trazê-la à luz, tentando, com isso,
perceber os limites e contradições do processo de modernização. A questão
do acesso aos brinquedos permite-nos visualizar a nova lógica que se impunha, a
do consumo, que ficava restrito aos que tinham condições de dispor de altas
quantias para adquirir um brinquedo importado, visto que a produção nacional
praticamente inexistia. Produção industrial, pois os muitos artesãos
profissionais ou amadores se faziam presentes para suprir as necessidades
lúdicas das crianças que não nasceram em berço de ouro. De materiais
improvisados surgiam brinquedos que lhes garantiriam o direito de brincar. Por
fim, este estudo tem permitido a reflexão sobre o caráter pedagógico dos
brinquedos, já que constituem um importante meio de transmissão de valores e
práticas da sociedade à qual pertencem. E ainda pode ser considerada a
relação da criança com o brinquedo, na qual a criança assume o papel de
sujeito criativo, muitas vezes resistindo aos significados que tentam lhe impor
por trás dos instrumentos do lúdico. Ou seja, aqui as crianças entram na
história fazendo história.
GOMES,
Paulo Henrique Luiz. Moral e sexualidade: os populares e o cotidiano do amor
em Franca (1890-1940). Comunicação apresentada na I Jornada Internacional
de História da Família, promovida pelo CEDHAL, Centro de Estudos de Demografia
Histórica da América Latina da FFLCH/USP, São Paulo (SP), setembro de 2003.
RESUMO. A presente pesquisa destina-se a investigar os mecanismos jurídicos de
controle social sobre a sexualidade e moral durante a vigência do primeiro
Código Penal da República (1890-1940), na cidade de Franca. Procuramos
analisar esse longo período, buscando descobrir e entender os caminhos e as
mudanças de rumo trilhadas pela jurisprudência e pelas principais discussões
jurídicas - discursos e resoluções de advogados, promotores, juízes e
tribunais dos júris - acerca da honra feminina e da produção de padrões
sociais de comportamento e de honestidade, que eram definidos e difundidos no
processo de formação de culpa e inocência. As principais fontes analisadas
são os processos-crimes de defloramento (art. 267), estupro (art. 268.), que
envolviam crianças de 2 a 15 anos.
GUTIÉRREZ,
Horácio. Domicílios e mineração em Goiás colonial. Comunicação
apresentada na I Jornada Internacional de História da Família, promovida pelo
CEDHAL, Centro de Estudos de Demografia Histórica da América Latina da FFLCH/USP,
São Paulo (SP), setembro de 2003.
RESUMO. A mineração do ouro em Goiás colonial comandou não apenas a
economia, mas também permeou as relações sociais e o perfil da população.
No presente texto analisa-se a estrutura dos domicílios na segunda metade do
século XVIII, época em que o declínio da mineração começa a se manifestar,
surgindo a pecuária como o setor que viria a substituir gradualmente a
mineração decadente. Os domicílios continuam a aparecer, no entanto, com
marcante presença de escravos. Os dados referem-se ao arraial de São Félix,
sede de uma das duas casas de fundição existentes em Goiás, e a cuja
jurisdição sujeitavam-se várias freguesias e distritos do norte da capitania.
JORGE,
Valesca Xavier Moura. Arranjos familiares e formação da elite na freguesia
de Nossa Senhora da Lux dos Pinhais, 1693-1750. Comunicação apresentada na
I Jornada Internacional de História da Família, promovida pelo CEDHAL, Centro
de Estudos de Demografia Histórica da América Latina da FFLCH/USP, São Paulo
(SP), setembro de 2003.
RESUMO. Pretendemos desvendar o modo como se organizou o espaço social das
elites na freguesia de Nossa Senhora da Lux dos Pinhais, durante a primeira
metade do século XVIII. Partimos do pressuposto de que o parentesco permitia a
consolidação de determinadas esferas de poder. No caso, interessa investigar o
destino social dos descendentes dos treze "homens bons" eleitos para
administração local em 1693, data de elevação de Curitiba a vila. Busca-se
observar qual o peso das alianças de matrimônio e compadrio na formação e
manutenção de um determinado grupo, a elite local.
KOWALSKI,
Fernando Marcel. BASTARIS & PATER INCOGNITUS: Bastardia,
Ilegitimidade e suas semânticas.
Comunicação apresentada na I Jornada Internacional de História da Família,
promovida pelo CEDHAL, Centro de Estudos de Demografia Histórica da América
Latina da FFLCH/USP, São Paulo (SP), setembro de 2003.
RESUMO. Sendo a continuação de uma primeira fase, de cunho mais quantitativo,
este trabalho, a interpretação crítica das fontes estudadas (registros
paroquiais de batismos), corresponderá à análise das categorias de
ilegitimidade propostas por Nadalin. Fugindo ao conceito anacrônico de
bastardia, vê-se que tais categorias se correlacionam, também, com a
identidade do indivíduo dentro de uma sociedade extremamente hierarquizada na
qual consistia a Vila de Curitiba durante o século XVIII. Enxertados no
laconismo de uma ata de batismo, vícios sociais que identificariam cada
indivíduo dentro da comunidade, serão apresentados durante o andamento do
projeto e servirão de pano de fundo para uma análise maior, o estudo da
semântica do termo ilegitimidade. Tão anacrônico quanto complexo, o conceito
deverá ser esmiuçado para, então, ser o germe de um dicionário de verbetes.
MAGALHÃES, Sônia Maria de. Nutrição e
morbidade infantil em Goiás no século XIX. Comunicação apresentada na I
Jornada Internacional de História da Família, promovida pelo CEDHAL, Centro de
Estudos de Demografia Histórica da América Latina da FFLCH/USP, São Paulo
(SP), setembro de 2003.
RESUMO. É consensual que a alimentação apropriada e as adequadas medidas
higiênico sanitárias são os meios ideais para a obtenção ou conservação
da saúde. O sarampo e a diarréia, por exemplo, doenças ligeiras e de curta
duração nas crianças bem alimentadas, são geralmente graves e muitas vezes
fatais para as mal nutridas. O mesmo sucede com a diarréia, as doenças
respiratórias, a tuberculose e muitas outras infecções. Por meio dos
atestados de óbito emitidos pelo Hospital de Caridade São Pedro de Alcântara,
dos relatórios presidenciais, dos relatórios de saúde, principalmente,
pretende-se mostrar que muitas doenças disseminadas em Goiás, relacionavam-se
com as possibilidades alimentares, num tipo de sociedade permeada pela penúria
e a carestia de alimentos presentes na economia direcionada para a produção de
gêneros de subsistência.
MARTINEZ,
Cláudia Marques. Família e Patrimônio entre a escravidão e o trabalho
livre: Vale do Paraopeba/MG. Comunicação apresentada na I Jornada
Internacional de História da Família, promovida pelo CEDHAL, Centro de Estudos
de Demografia Histórica da América Latina da FFLCH/USP, São Paulo (SP),
setembro de 2003.
RESUMO. O estudo da relação família inventariada e estrutura material da
sociedade, na transição do trabalho escravo para o livre, é o objetivo desse
artigo. Móveis, indumentárias, jóias, objetos pessoais, casas, fazendas,
sobrados, animais e escravos encontrados nos inventários post-mortem
constituíram um importante universo para se conhecer a História da Família em
sua dimensão material. A análise da documentação mencionada também ofereceu
elementos e informações relevantes para desvendar questões relacionadas ao
mundo do trabalho - livre e escravo - e da sociedade brasileira entre o fim da
escravidão e o limiar da República. Por outro lado, os inventários apontaram
as alterações ocorridas nessa mesma estrutura material antes e depois da
abolição. É importante ressaltar que a história do Vale não ficou
indiferente ao regime compulsório que marcou a Província de Minas Gerais.
Subordinada e dependente do braço cativo, a estrutura material e as relações
familiares sofreram alterações com o fim da escravidão e do Império
Brasileiro.
OLIVEIRA,
Hamilton Afonso de. Povoamento e Riqueza Familiar no Sul de Goiás -
1843-1860: considerações preliminares. Comunicação apresentada na I
Jornada Internacional de História da Família, promovida pelo CEDHAL, Centro de
Estudos de Demografia Histórica da América Latina da FFLCH/USP, São Paulo
(SP), setembro de 2003.
RESUMO. Situado no extremo Sul de Goiás, Morrinhos correspondia a uma grande
região que compreendia à época as atuais cidades goianas de: Piracanjuba,
Itumbiara, Caldas Novas, Buriti Alegre, Goiatuba, Pontalina e Bom Jesus. A
proposta desta comunicação é apresentar alguns resultados preliminares de
minha pesquisa de doutorado - Composição da Riqueza Familiar no Sul de Goiás
- 1840-1930 -- compreendendo o período 1840-1860; tendo como fontes primárias
os inventários post-mortem e os relatórios dos presidentes de Província
procurarei mostrar como se deu o processo de ocupação e constituição da
riqueza familiar na região Sul de Goiás. Processo de ocupação que se deu no
mesmo contexto histórico do qual resultaram a ocupação do Oeste Paulista e do
Triângulo Mineiro.
SANTOS,
César Otávio Cundari da Rocha. Território e Família: os Siqueira Cortes e
os desdobramentos ocupacionais dos Campos Gerais (1762-1830). Comunicação
apresentada na I Jornada Internacional de História da Família, promovida pelo
CEDHAL, Centro de Estudos de Demografia Histórica da América Latina da FFLCH/USP,
São Paulo (SP), setembro de 2003.
RESUMO. Brasil Pinheiro Machado adota, para explicar a ocupação do território
paranaense, os pressupostos desenvolvidos por Martius. Para ele, a ocupação se
deu a partir de 'células fundamentais' que, ao irradiarem população em
consonância com exigências econômicas e/ou políticas, acabavam gerando
'células secundárias'. Com base neste modelo, o estudo a ser apresentado
acompanha o desdobramento territorial de gerações dos Siqueira Cortes. Ela
constituiu família radicada nos sertões de Curitiba nos finais do século XVII
(célula fundamental) e presente, ao longo do XVIII, no povoamento do Sertão de
Curitiba, dos Campos Gerais e dos de Guarapuava (células secundárias). Além
de apontar a pertinência da mobilidade espacial dos Siqueira Cortes ao modelo
Martius/Pinheiro Machado, o estudo visa a estabelecer relações entre grupo
familiar, mobilidade territorial e demandas fundiárias.
SILVA,
André Félix Marques da et alii. Mulheres Chefes de Domicílio em
Fortaleza na segunda metade do século XIX. Comunicação apresentada na I
Jornada Internacional de História da Família, promovida pelo CEDHAL, Centro de
Estudos de Demografia Histórica da América Latina da FFLCH/USP, São Paulo
(SP), setembro de 2003.
RESUMO. O presente trabalho tem por objetivo estudar a cidade de Fortaleza na
segunda metade do século XIX, tendo como questão a participação das mulheres
no espaço urbano, seus papéis e de que forma se inseriam na sociedade, porém
buscando contextualizar a cidade nesse momento de transformações pelo qual
passava o Brasil. Para tanto, utilizaremos o Arrolamento da População de
Fortaleza para o ano de 1887, do qual podemos retirar informações valiosas
sobre a população urbana, tendo, porém, como preocupação traçar o perfil
das mulheres que chefiavam domicílios e sua atuação na sociedade e no âmbito
da família.
SILVEIRA,
Alessandra. O processo de legitimação no Tribunal do Desembargo do Paço,
Rio de Janeiro, século XIX. Comunicação apresentada na I Jornada
Internacional de História da Família, promovida pelo CEDHAL, Centro de Estudos
de Demografia Histórica da América Latina da FFLCH/USP, São Paulo (SP),
setembro de 2003.
RESUMO. A formação de famílias ilegítimas tem despertado o interesse entre
os historiadores nas últimas décadas. O objetivo deste trabalho é mostrar
como famílias consensuais transmitiam seus bens aos filhos ilegítimos e a seus
parceiros. A principal fonte utilizada foi a "Carta de perfilhação",
documento encontrado na Mesa do Desembargo do Paço. Priorizou-se o Rio de
Janeiro já que foram encontrados mais de sessenta processos para a região. Foi
utilizada a técnica do cruzamento das fontes, bastante aceito em demografia
histórica, complementando o trabalho, entre outros documentos, com inventários
post-mortem e testamentos. Assim outras questões puderam ser analisadas tais
como a tensão entre herdeiros legítimos e ilegítimos, o tratamento dispensado
pelos pais à prole bastarda, e a própria natureza destas relações.
SOUSA,
José Weyne de Freitas. Artífices, Criadas & Chicos. Táticas
Regenerativas das crianças órfãs e pobres em Fortaleza de 1877-1915. Comunicação
apresentada na I Jornada Internacional de História da Família, promovida pelo
CEDHAL, Centro de Estudos de Demografia Histórica da América Latina da FFLCH/USP,
São Paulo (SP), setembro de 2003.
RESUMO. Pesquiso a história das crianças órfãs e pobres vítimas da seca de
1877-79 que, junto com suas famílias migraram para Fortaleza e, com isso,
fizeram surgir a figura do menino vadio e da vadiagem urbana como um elemento
formador das experiências sócio-espaciais dessas crianças. Investigando as
formas encontradas para controlar e regenerar a vadiagem urbana descobri o uso
de estabelecimentos como fábricas e oficinas, os lares e o recrutamento para a
Escola de Aprendizes Marinheiros do Ceará. A justificativa para o uso desses
lugares encontrei no conceito de vadio que significava: ausência de domicílio
certo, não ter ofício e ganhar a vida por meios ilícitos. Destarte, a
oficina, o lar e o recrutamento aparecem como apanágio regenerador da vadiagem
urbana em Fortaleza, de 1877 a 1915.
SPINOSA,
Vanessa. Relações conjugais e intimidade nas camadas populares (Belém -
1920 a 1940). Comunicação apresentada na I Jornada Internacional de
História da Família, promovida pelo CEDHAL, Centro de Estudos de Demografia
Histórica da América Latina da FFLCH/USP, São Paulo (SP), setembro de 2003.
RESUMO. Partindo de alguns processos-crime -- sobre lesão corporal,
defloramento e homicídio - e de jornais de época, o trabalho tenta perceber as
noções de conjugalidade e de intimidade com casais das camadas populares nas
décadas de 1920 a 1940 em Belém, ressaltando as relações amorosas bem como o
cotidiano dos atores sociais em questão, perpassando pela noção de
vizinhança, do que é público e íntimo dentro de suas esferas de moradia e
circulação na cidade.
SQUARIZI,
Luciana. O Imigrante Italiano em Batatais: Casamento e Nupcialidade
(1890-1930). Comunicação apresentada na I Jornada Internacional de
História da Família, promovida pelo CEDHAL, Centro de Estudos de Demografia
Histórica da América Latina da FFLCH/USP, São Paulo (SP), setembro de 2003.
RESUMO. Elegemos o grupo de imigrantes italianos e seus descendentes para tratar
de alguns aspectos relativos à formação da família desses imigrantes quanto
ao casamento em Batatais, no Estado de São Paulo, por ocasião da imigração
devida ao café no período de 1890-1930. Para uma reconstituição dessa
população foram objeto de análise, sobretudo, os registros cartoriais de
casamentos. Com a 'exploração sumária' desses dados visualizamos aspectos
sócio-demográficos, sobretudo das práticas matrimoniais dessa comunidade. O
interesse em delimitar o tema na questão matrimônio adveio também das
leituras efetuadas sobre a família imigrante italiana, nas quais constatou-se
que o estudo dos arranjos matrimoniais oficiais foram pouco analisados, tendo
como recorte geográfico a região da Alta Mogiana. Ao procurar perceber e
discutir as práticas matrimoniais da população italiana na cidade de Batatais
durante o final do século XIX e início do XX, pretende-se construir formas de
entendimento de suas experiências, modos de vida e as maneiras como interagiram
entre si e com a população local. Esta incursão significou dialogar com
questões relacionadas às múltiplas maneiras como esses sujeitos sociais foram
apresentados; reunindo dados até então dispersos sobre o grupo italiano de
Batatais.
STANCZYK
FILHO, Milton. O matrimonio na vida dos Rodrigues Seixas: um estudo de caso
(1690-1790). Comunicação apresentada na I Jornada Internacional de
História da Família, promovida pelo CEDHAL, Centro de Estudos de Demografia
Histórica da América Latina da FFLCH/USP, São Paulo (SP), setembro de 2003.
RESUMO. O fio condutor desta investigação foi a busca de compreender os
arranjos matrimoniais, a organização parental e a formação de cabedal na
Curitiba setecentista. Para isto recompus a história de vida de um dos
primeiros moradores da vila, observando as relações sociais que ele
estabeleceu na localidade e analisando o peso que elas tiveram no encaminhamento
de sua vida e de seus descendentes. Operando em "jogo de escalas", por
um lado foi dada atenção às suas escolhas matrimoniais, avaliando a
influência que tiveram para sua mobilidade social; por outro, busquei entrever
quais as brechas que uma sociedade, em tese hierárquica e ordenada, oferecia
para que indivíduos desprovidos de nome e cabedal alçassem a condição de
prestigiada família na elite local.
TEIXEIRA,
Paulo Eduardo. Aspectos Demográficos da Mortalidade de Livres em Campinas:
1774 - 1819. Comunicação apresentada na I Jornada Internacional de
História da Família, promovida pelo CEDHAL, Centro de Estudos de Demografia
Histórica da América Latina da FFLCH/USP, São Paulo (SP), setembro de 2003.
RESUMO. Esta comunicação pretende apresentar os resultados primeiros de uma
pesquisa em andamento, na qual a população livre em Campinas tem sido estudada
sob vários aspectos demográficos mediante o uso dos Registros Paroquiais. Aqui
se pretende analisar a mortalidade da população infantil e adulta em dois
momentos: o da freguesia de Campinas (1774-1794), e o da vila (1794-1819). Os
primeiros resultados apontam para uma elevada taxa de mortalidade,
principalmente aquela decorrente da morte no correr do primeiro mês de vida. A
mortalidade entre os sexos mostrou-se equilibrada em seu conjunto,
possibilitando um crescimento da população de forma harmoniosa, uma vez que
também verificamos uma relação equilibrada entre os sexos das crianças
batizadas.
TUPY,
Ismênia Spínola Silveira Truzzi. Retratos femininos: a família e a mulher
nos censos demográficos, Brasil 1920-1940. Comunicação apresentada na I
Jornada Internacional de História da Família, promovida pelo CEDHAL, Centro de
Estudos de Demografia Histórica da América Latina da FFLCH/USP, São Paulo
(SP), setembro de 2003.
RESUMO. Sob o enfoque de gênero, este artigo tem por objetivo buscar
identificar a correlação entre as mulheres e suas estratégias de
sobrevivência fora do domicílio. Retoma a questão da divisão sexual do
trabalho, da oposição entre natureza e cultura, público e privado e como
estes fundamentam nos censos populacionais a invisibilidade feminina. Discute o
conceito de aptidão "natural" e como este predetermina os limites da
qualificação e/ou atuação profissional das mulheres. Contrapõe dados do
censo de 1940 -- único que considera o trabalho doméstico não remunerado como
atividade profissional -- aos de 1920 e 1970, buscando no discurso do Estado e
do empresariado, as razões para sua especificidade. E termina acompanhando, no
tempo de referência, as opções ocupacionais femininas.
VIEIRA
JUNIOR, Antonio Otaviano. Entre a Família e o Bacamarte: grupos familiares e
a violência no Ceará (1780-1850). Comunicação apresentada na I Jornada
Internacional de História da Família, promovida pelo CEDHAL, Centro de Estudos
de Demografia Histórica da América Latina da FFLCH/USP, São Paulo (SP),
setembro de 2003.
RESUMO. Estudar a família enquanto um conjunto de sentimentos e idéias é o
objetivo de meu trabalho. Assim, a partir da análise de processos criminais,
jornais e memórias, pretendo enveredar por caminhos sangrentos que podem
revelar múltiplos sentidos para relações intra e interfamiliares. No cenário
do Sertão da pecuária, mais especificamente na capitania do Ceará entre os
anos de 1780-1850, busco escrutinar diversificadas tensões que não se resumiam
apenas a estamentos sociais mais abastados.
TRABALHO DE VULTO É EMPREENDIDO PELA
BIBLIOTECA MÁRIO DE ANDRADE
RIZIO BRUNO SANT'ANA
Sites:
Biblioteca Mário de Andrade:
http://portal.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/cultura/bibliotecas/marioandrade/
Coleção Brasiliana da Biblioteca Mário de Andrade:
http://200.244.52.184:8080/embratel/main/mediaview/freetextsearch/new_search
Buscando preservar o conteúdo de exemplares por vezes únicos e, ao mesmo tempo, disponibilizar de forma mais democrática a consulta a todos os interessados, dentro de uma dupla perspectiva de conservação e divulgação do acervo, a Biblioteca Mário de Andrade digitalizou na íntegra 118 obras raras, num total de cerca de 20.000 páginas de texto e imagens.
Ao mesmo tempo, outras 40 obras, com um total de 1.000 ilustrações, tiveram suas imagens copiadas pelo mesmo processo. As Fotos incluem também a reprodução de quase 3.000 fotografias originais sobre a cidade de São Paulo, realizadas entre 1862 e 1960, e de outras centenas de imagens de diversas partes do Brasil, a partir de 1870, incluindo antigos cartões postais e fotos de Marc Ferrez.
O
critério de seleção das obras levou em conta os seguintes aspectos: obras com
poucas cópias conhecidas no mundo (vários títulos são os únicos exemplares
descritos em catálogos); obras com referência direta ao Brasil, como assunto
principal do texto ou como identidade do autor (primeiras obras escritas por
brasileiros) e obras que não tivessem larga divulgação, quer seja em novas
traduções ou disponíveis atualmente na internet. Sempre que possível, o
aspecto físico das obras (bom estado de conservação, presença de mapas e
gravuras) foi levado em consideração na escolha dos volumes a serem
digitalizados.
As referências bibliográficas de todas as obras digitalizadas são seguidas de
breves comentários, tentando situar o momento em que foram publicadas e a
importância e raridade do exemplar disponível em nosso acervo. Para cada item
são indicados o Autor, o Título, o Local e Data da publicação (incluindo
dados de paginação e ilustração), as Notas, relativas a raridade da edição
e outros detalhes sobre o autor e o assunto tratado, e as Fontes de pesquisa,
incluindo citações dos principais bibliógrafos e catálogos especializados.
As tentativas de dominação de algumas partes do Brasil por franceses e
holandeses, nos séculos 16 e 17, estão documentadas em gravuras e textos
significativos da época. Foi dada ênfase às obras sobre a Invasão Holandesa
no Nordeste, para a qual a Biblioteca Mário de Andrade conta com um acervo
bastante significativo.
O século 18 é representado aqui pelas diversas tentativas de se determinar o
espaço territorial brasileiro, a partir das demarcações realizadas após a
assinatura do Tratado de Madrid, de 1750. Podemos acompanhar através de
diversos tratados de limites e outros documentos da época as discussões legais
sobre as fronteiras e como estes fatos se relacionam com a questão indígena em
nosso país.
Por sua vez, a chegada da família real portuguesa em 1808, seguida da Abertura
dos Portos, estabeleceu novos padrões de comércio com as outras nações, ao
mesmo tempo em que permitiu e estimulou a vinda de grandes artistas e
cientistas, que descreveram com muita precisão a natureza brasileira e seus
habitantes. A permissão para que estrangeiros visitassem e revelassem parcelas
imensas do interior do Brasil, até então inexploradas, renovou o esforço
permanente de descobrimento de nosso país. O destaque fica para a reprodução
das belas imagens contidas nas obras dos naturalistas Spix e Martius e dos
artistas Debret e Rugendas. Os últimos livros, já do final do século 19,
mostram a visão peculiar do Brasil que tinham turistas e trabalhadores
imigrantes, ambos em busca de novos horizontes.
Um exemplo de obra de cunho demográfico é o Compêndio histórico-político dos
princípios da lavoura do Maranhão, de Raimundo José de Souza Gayoso,
publicado em Paris, 1818, com cinco tabelas que informam, entre outras coisas, a
população de Itapurucú (p. 168), as exportações de São Luis para Lisboa
(p. 225) e o preço de escravos (p. 251).
PIRES,
Maria de Fátima Novaes. O crime na cor: escravos e forros no alto sertão da
Bahia (1830-1888). São Paulo, Annablume/Fapesp, 2003, 250 p.
RESUMO. Este livro originou-se de dissertação de mestrado defendida em 1999 na
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Nele a autora estuda a
escravidão no alto sertão da Bahia no século XIX procurando reconstituir as
condições de vida e de trabalho de escravos nas roças, na pecuária, nas
tropas e pelos caminhos de comércio que demandavam Salvador ou se dirigiam para
o interior do próprio sertão. Resulta de pesquisa efetuada nos processos
criminais e inventários de Rio de Contas e Caetité e do cruzamento, destas,
com outras fontes primárias. Também inclui o levantamento das características
locais que cercavam o processo de transição da condição de escravos para a
de forros.
LUNA, Francisco Vidal & KLEIN, Herbert S. Slavery and the economy of São Paulo, 1750-1850. Stanford, Stanford University Press, 2003, xiv+273 p., (Social Science History).
RESUMO. Neste volume consolidam-se de maneira a fornecer uma visão de conjunto, os avanços mais recente alcançados pela historiografia sobre a formação demo-econômico de São Paulo no período que precede e abarca a afirmação em larga escala da cafeicultura. Contemplam-se, assim, além da cultura cafeeira a produção açucareira que a precedeu, a agricultura de subsistência votada ao mercado interno, e os setores não rurais da economia paulista: o artesanato, a atividade dos comerciantes e dos profissionais liberais. São escrutinados, percucientemente, tanto os proprietários de cativos como a população escrava e o segmento populacional correspondente aos forros. Trata-se, pois, da elaboração de um perspectiva histórica global da economia e de relevantes elementos demográficos da vida paulista. A leitura da obra impõe-se, pois, não só ao leitor estrangeiro, mas, sobretudo, aos que se debruçam sobre a formação demográfica, econômica e social de uma das mais ricas e dinâmicas regiões do Brasil.
SIRIANI,
Sílvia Cristina Lambert. Uma São Paulo alemã: vida quotidiana dos imigrantes
germânicos na região da capital (1827-1889). São Paulo, Arquivo do Estado
/ Imprensa Oficial, 2003, 328 p., il., (Coleção teses e monografias,
vol. 6).
RESUMO. Recorrendo a variadas fontes documentais -- inventários,
processos-crime, registros de entrada na Hospedaria dos Imigrantes, notas de
tabelionatos, almanaques, jornais; correspondência do consulado alemão, das
autoridades estaduais e do município e ainda de particulares -- a autora
descreve a vida quotidiana dos imigrantes alemães em São Paulo. Produz, assim,
uma obra das mais ricas para quem deseja aprofundar-se no estudo da formação
da população paulistana. Conforme afiança a Profa. Maria Odila Leite da Silva
Dias no prefácio desta obra: "As experiências de vida dos imigrantes, que
nos permitem acompanhar o quotidiano da vida dos colonos na região rural de
Santo Amaro ou nos bairros de Santa Ifigênia e da Liberdade, constituíram os
eixos principais do seu trabalho. A autora reconstitui o universo rural de
pequenos sitiantes dos arredores da cidade e mergulha nas atividades
essencialmente urbanísticas dos alemães que se instalaram nas ruas do
triângulo central. (...) De modo ardiloso, com narrativa sutil e cheia de vida,
a autora mostra a presença desses alemães na paisagem urbana e o modo como
contribuíram para transformá-la de forma abrangente e ampla".
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CARRARA,
Ângelo Alves. Contribuição para a História Agrária de Minas Gerais.
Mariana: EdUFOP, 1999.
RESUMO. O trabalho é constituído por dois estudos: 'as minas e os currais':
problemas, metodologia e materiais para o estudo da ocupação do solo e do
acesso à propriedade da terra na Capitania de Minas Gerais (1674-1739); e
'flutuações da economia rural de Minas Gerais (1722-1835). O primeiro estudo
visa a caracterizar a fase inicial da ocupação do solo de Minas Gerais, com
base nas cartas de sesmarias concedidas entre 1674 e 1739, cujas informações
são aí sistematizadas, e nas escrituras de compra e venda de imóveis rurais
registradas no notariado da vila de Mariana, entre 1711 e 1714. Além de
verificar os ritmos da ocupação territorial em relação com os 'eventos'
econômicos (i. e., as descobertas auríferas), o primeiro estudo procurará
demonstrar o valor relativo das cartas de sesmarias enquanto instrumentos
privilegiados de acesso à terra. O segundo estudo trata dos ritmos da
produção agrícola e pecuária da maior parte das freguesias de Minas Gerais,
entre 1725 e 1830.
CARRARA,
Ângelo Alves. Uma fronteira da Capitania de Minas Gerais: a freguesia de
São João Batista do Presídio. Mariana: EdUFOP, 1999.
RESUMO. Nesse primeiro volume da série "DOCVMENTA", editada pelo
Núcleo de História Econômica e Demográfica da Universidade Federal de Ouro
Preto, procurou-se recolher o maior número de itens relativos a essa freguesia
para uma mesma data. Além da Lista Nominativa dos Habitantes de 1819, foram
incluídos o recenseamento de 1825, ou o Mapa da freguesia de São João Batista
do Presídio e a Eleição de Eleitores da freguesia do Presídio, de 1822.
CARRARA,
Ângelo Alves. Estruturas agrárias e capitalismo; ocupação do solo e
transformação do trabalho na zona da Mata central de Minas Gerais (séculos
XVIII e XIX). Mariana: EdUFOP, 1999.
RESUMO. O autor propõe-se a estudar as transformações econômicas no longo
período de transição dos modos de produção pré-capitalistas para o
capitalismo, no núcleo da sub-região central da zona da Mata de Minas Gerais,
que corresponde aos atuais municípios de Ubá e de Visconde do Rio Branco e a
todos que destes se emanciparam, entre as últimas décadas do século XVIII e o
fim do século XIX.
CARRARA,
Ângelo Alves. Paisagens de um grande sertão; a margem esquerda do médio São
Francisco nos séculos XVIII a XX. Ciência e Trópico, Recife:
Fundação Joaquim Nabuco, v. 29, n. 1, p. 61-123, jan.-jun. 2001.
RESUMO. Este trabalho estuda a transformação das paisagens naturais,
demográficas e econômicas da região compreendida pelos vales dos rios Paraim
e alto Gurguéia, no Piauí, e, pela margem esquerda do São Francisco, desde os
vales dos rios Grande, na Bahia, até o do Urucuia, em Minas Gerais. Esta área
é aqui assumida como uma região à órbita da qual achavam-se estabelecidas
diversas articulações regionais bem como os circuitos mercantis dos sertões
mineiros, goianos, tocantinenses, baianos, piauienses, maranhenses e
pernambucanos, entre os fins do século XVII e os meados do século XX.
ABSTRACT. The article analyses the changes in the landscape, mainly the agrarian
one, over the region from the Paraim and the Alto Gurguéia valleys, in the
state of Piauí, as well as in the left margin of the São Francisco river, from
Rio Grande, in the state of Bahia, to the Urucuia valleysm, the latter in the
state of Minas Gerais. The study covers the period from the beginings of the
XVIIIth to the middle of the XXth century.
CARRARA,
Ângelo Alves. Padrões de existência, regime alimentar e movimento de preços
numa sociedade em transição: Minas Gerais, 1750-1900. Varia Historia:
Belo Horizonte, UFMG, n. 23, p. 131-153 jul. 2000.
RESUMO. Este artigo discute as permanências e as mudanças nos padrões de
consumo alimentar em Ouro Preto na segunda metade do século XVIII, e em Juiz de
Fora e São João del Rei nos fins do século XIX, com base nas pautas de
gêneros disponíveis aos habitantes desses dois núcleos urbanos. Busca-se
também discutir o movimento dos preços em ambos os períodos. Os marcos
cronológicos querem-se justificados pelo que significam no contexto estadual:
os meados do século XVIII marcam o apogeu da produção aurífera; os dez
últimos anos do século XIX vêm definir-se os contornos da incipiente
industrialização. Ouro Preto e Juiz de Fora, respectivamente, foram os dois
núcleos urbanos mais representativos dos dois períodos.
ABSTRACT. Living standards, alimentary regime and prices in a transitional
society: Minas Gerais, Brazil, 1750-1900. This article aims at discussing what
kept unchanging and what changes to the alimentary consumption patterns in Ouro
Preto during the second half of eighteenth century and in Juiz de Fora during
the last years of the nineteenth century. The sources for this study are the
commodities lists available for inhabitants of both cities. It is intended also
to check the price movement regarding to this period.
CARRARA,
Ângelo Alves. Espaços urbanos de uma sociedade rural; Minas Gerais, 1808-1835.
Varia Historia: Belo Horizonte, UFMG, n. 25, p. 144-164, jul. 2001.
RESUMO. Este trabalho tem por objetivo contribuir para a identificação e a
caracterização dos espaços urbanos na Capitania, depois Província de Minas
Gerais, no período compreendido entre 1808 e 1835, com base nos dados
extraídos dos 469 livros da série décima predial existentes para igual
período. Os livros de lançamento da décima registram informações referentes
ao proprietário ou ao morador do imóvel, ao valor cobrado e à localização
do prédio (às vezes por rua e por lado). Não é demais salientar aqui a
importância dessa série da Coleção Casa dos Contos de Ouro Preto para os
estudos relacionados ao desenvolvimento urbano em Minas na primeira metade do
século XIX. É ela que permite se conheçam os ritmos de crescimento e
decrescimento dos núcleos urbanos mineiros, nos anos que se seguiram
imediatamente à substituição da mineração pela agropecuária como a
atividade econômica que maior riqueza produzia na Capitania.
ABSTRACT. This article contributes to the identification and featuring of the
urban spaces of Minas Gerais, between 1808 and 1835, taking account of the
serial data extracted from 469 books of the "décima predial" (a kind
of tithes applied to the urban buildings). They register the owner's name, the
amount charged and building location. The information they provide are useful
for studying the rhythms of development of the urban centres of Minas Gerais in
the years that immediately followed the replacement of mining by agriculture as
the most important economic activity.
CARRARA, Ângelo Alves. Um estatuto para a História Econômica. In: BOTELHO, Tarcísio Rodrigues et alii. História quantitativa e serial no Brasil: um balanço. Goiânia: ANPUH-MG, 2001. p. 227-235.
CARRARA, Ângelo Alves. A Real Fazenda de Minas Gerais : guia de pesquisa da Coleção Casa dos Contos de Ouro Preto. Ouro Preto: UFOP, 2003. 107p.: il. - (Instrumento de Pesquisa; v.1).
CARRARA,
Ângelo Alves. Prospecção e tratamento de acervos documentais em Minas
Gerais. Mariana: Departamento de História/UFOP, 2003. Relatório técnico.
RESUMO. Relatório de todas as atividades desenvolvidas no âmbito da
prospecção e do tratamento de acervos documentais em Minas Gerais, desde 1991
até 2003.
UM PROGRAMA PARA BIBLIOTECAS E ARQUIVOS LATINO-AMERICANOS
O PLALA (Program for Latin American Libraries
and Archives) -- Programa para Bibliotecas e Arquivos Latino-Americanos tem,
desde 1996, financiado cerca de 120 projetos especificamente desenhados para
preservar e/ou melhorar o acesso a recursos de pesquisa de material raro ou
escasso dentro dos repositórios latino-americanos. A Fundação Andrew W.
Mellon, que já forneceu ao Programa mais de um milhão de dólares), renovou
agora sua manutenção com um milhão cento e trinta mil dólares adicionais.
Esta concessão permitirá ao PLALA continuar o financiamento de projetos
específicos e firmemente focalizados por mais quatro anos. O Programa iniciará
também uma nova categoria de "Bolsas de Desenvolvimento," por meio
das quais somas maiores (em média de aproximadamente 60.000 dólares) estarão
disponíveis às instituições latino-americanas que se votam a projetos
cooperativos ou outras iniciativas com um impacto potencial maior.
O PLALA é administrado através do Centro David Rockefeller para Estudos
Latino-Americanos da Universidade de Harvard. Uma descrição do programa de
concessões de menor porte (em média de dez a vinte mil dólares), os
formulários e um rol de concessões anteriores está disponível em http://drclas.fas.harvard.edu
(sob "Recursos" e depois "Acadêmicos e Profissionais").
Guias para as novas "Bolsas de Desenvolvimento" serão lançadas em
setembro/outubro de 2003.
Informações adicionais estão disponíveis com Dan Hazen, Diretor do Programa,
em: dchazen@fas.harvard.edu . Veja
também o artigo Archival Research and the Program for Latin American Libraries
and Archives, Hispanic American Historical Review, 83:2, p. 345-354, May,
2003. (Esta notícia nos chegou por gentileza de nosso colega Rizio Bruno
Sant'Ana).
OXFORD LATIN AMERICAN ECONOMIC HISTORY DATABASE
From de Latin America Centre at Oxford University
http://www2.qeh.ox.ac.uk/oxlad
O Banco de Dados Latino-Americano de Oxford (The Oxford Latin American
Database - OxLAD) contém séries estatísticas de mais de quarenta indicadores
econômicos e sociais ao longo de todo o século XX, abrangendo vinte países da
região. Foi planejado como recurso para historiadores econômicos e sociais do
mundo inteiro e pode ser acessado gratuitamente através do website da
Universidade de Oxford. É a única fonte de pesquisa que reúne dados do
período 1900-2000, disponibilizados publicamente por um grande número de
publicações oficiais e os apresenta de uma forma consistente. OxLAD é
produzido pelo Centro Latino-Americano da Universidade de Oxford.
Os dados disponíveis no OxLAD incluem:
Países: Argentina · Bolívia · Brasil · Chile · Colômbia · Costa Rica ·
Cuba - República Dominicana · Equador · El Salvador · Guatemala · Haiti ·
Honduras · México · Nicarágua · Panamá · Paraguai · Peru · Uruguai ·
Venezuela.
População e Demografia: População · População Urbana · Esperança de
Vida · Analfabetismo · Despesa Pública em Educação · Matricula em Escola
Primaria · Matricula em Escola Secundaria · Matricula em Escola Superior.
Mercado de Trabalho: PEA · PEA Indústria Manufatureira · PEA Agropecuária
Indústria: Eletricidade · Cimento · Cerveja.
Infra-estrutura do Transportes e Comunicações: Estradas · Linhas
Ferroviárias · Telefones · Veículos para passageiros · Veículos comerciais.
Comércio Exterior: Exportações · Valor Unitário das Exportações · Volume
das Exportacões · Importações · Valor Unitário das Importações · Volume
das Importações · Importações de Bens de Consumo · Importações de Bens
Intermediários · Importações de Combustíveis · Importações de Bens de
Capital · Termos de Comércio Inverso Estadunidense.
Finanças Públicas: Receita do Governo Central · Impostos Aduaneiros ·
Imposto sobre a Renda · Imposto sobre Bens e Serviços Domésticos · Despesa
do Governo Central.
Contas Nacionais: PIB (moeda nacional) · PIB (1970 moeda nacional) · Deflator
Implícito do PIB · PIB (1970 PPP$) · VA Agropecuária · VA Indústria
Manufatureira · Formação Bruta de Capital Fixo · Poupança Bruta Nacional ·
Investimento Estrangeiro Direto · Dívida Externa · Taxa de Câmbio Nominal.
Índice dos Preços ao Consumidor e ao Atacado: Preços ao Consumidor · Preços
ao Atacado Estadunidense.
Índice dos Preços de Bens das Exportações: Alumínio · Banana · Carne do
Bovídeos · Cacau · Café · Cobre · Algodão · Couro do Bovídeos · Ferro
· Juta · Carne de Cordeiro · Chumbo · Milho · Níquel · Óleo de Palma ·
Petróleo · Arroz · Borracha · Prata · Açúcar · Chá · Madeira ·
Estanho · Tabaco · Trigo · Lãs · Zinco · Manufaturas · Índice Ponderado
dos Preços do Produtos de Exportação · Índices de Preços de Bens
Ponderados por Categoria. (Notícia preparada por Agnaldo Valentin).
CEO
- CENTRO DE ESTUDOS DOS OITOCENTOS
Próximas Atividades
2º Seminário Regional do CEO, a
ser realizado em São João del Rei (Universidade
Federal de São João del Rei), nos dias 7, 8 e 9 de maio de 2004. Este
seminário comportará nove mesas com quatro expositores e três painéis com
três expositores cada e um debatedor. As mesas e os painéis serão compostos a
partir de trabalhos enviados e selecionados por uma Comissão Científica até o
dia 30 de novembro de 2003. Nos painéis serão apresentadas pesquisas de
mestrado e de doutorado em andamento. Para
mais informações dirigir e-mail para a Profa. Gladys S. Ribeiro: gladysribeiro@uol.com.br
.
ROL - Relação de Trabalhos Publicados
OUTROS TRABALHOS INCORPORADOS AO ROL
AGUIAR, Fernando José
Ferreira. Em tempo de solidão forçada: epidemia de varíola, sistema de
saúde, revolta popular e fé em Sergipe oiocentista. Dissertação de
Mestrado, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da
Bahia, mimeografado, 2002.
ASSUNÇÃO,
Mariana Almeida. Escravidão em Fortaleza. Um estudo a partir dos
inventários post-mortem (1850-1884). Dissertação de Mestrado,
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia,
mimeografado, 2002.
CHALHOUB, Sidney. Cidade febril: cortiços e epidemias na Corte Imperial. São Paulo, Companhia das Letras, 304 p.
RESUMO. A obra versa sobre as políticas de saúde de fins do século XIX uma vez que os cortiços representavam a grande preocupação dos higienistas da época; trata, também, das concepções populares de doença e cura.
CUNHA, Manuela Carneiro da (org.). História dos índios no Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 648 p.
RESUMO. Reunião de vinte e sete artigos de pesquisadores votados à tarefa de escrever uma história das populações indígenas brasileiras.
FLORENCE, Afonso Bandeira. Entre o cativeiro e a emancipação: a liberdade dos africanos livres no Brasil (1818-1864). Dissertação de Mestrado, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia, mimeografado, 2002.
REIS, João José. A morte é uma festa: ritos fúnebres e revolta popular no Brasil do século XIX. São Paulo, Companhia das Letras, 360 p.
RESUMO. Em 1836 uma multidão destruiu o cemitério do Campo Santo em Salvador. O episódio ensejou ao autor o ponto de partida para a elaboração de uma etno-história das atitudes diante da morte e dos mortos no Brasil do século XIX.
SANTANA, Joanelice Oliveira. Introdução ao estudo da escravidão em Estância. Comarca da Província de Sergipe Del Rei (1850-1888). Dissertação de Mestrado, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia, mimeografado, 2003.