BOLETIM DE HISTÓRIA DEMOGRÁFICA
Ano XIV, no. 46, julho de 2007
SUMÁRIO
Este número de nosso BHD distingue-se pela variedade do material estampado. Artigos, resumos, notícias sobre lançamentos de novas obras e concernentes a reuniões com variado conteúdo vinculado à nossa história populacional expressam a riqueza característica de nosso campo de estudos. Ademais, a abertura oferecida por nosso colega A. A. Carrara para que critiquemos seus trabalhos ora em desenvolvimento representa importante passo na direção da ampliação do diálogo entre os pesquisadores da área, caminho este ainda pouco explorado entre nós.
Ancelmo SCHÖRNER. Um morro, várias histórias: um morro neg(r)ado
em Jaraguá do Sul (SC)
RESUMO. Este texto é
parte de nossa tese de doutoramento intitulada A PEDRA, O MIGRANTE E O MORRO:
feridas narcísicas no coração de Jaraguá do Sul/SC - 1980/2000. Nela
estudamos a ocupação de dois morros por migrantes, notadamente paranaenses, em
Jaraguá do Sul. Um deles, o Morro da Boa Vista, é o que apresentamos agora.
Até a década de 1870, o Morro da Boa Vista como região ou construção
simbólico-ideológica de um espaço dotado de historicidade não existia, e só
passa a ser conhecido por este nome a partir de 1880. Há registros de que a
primeira indicação oficial tenha sido feita por Emílio Carlos Jourdan, quando
naquele ano mandou estender uma faixa branca composta de duas peças de tecido
de dez metros cada, firmadas em três varas de taquaruçu e fixadas na parte
oeste do pico com vista ao mar, de onde poderiam ser vistas do porto de São
Francisco. Os primeiros habitantes do morro foram trabalhadores negros - entre
os 60 trabalhadores trazidos e destinados à lavoura estavam Domingos e Marcos
Rosa, que foram os primeiros moradores do Morro da Boa Vista -, vindos do Norte
e do Rio de Janeiro, que trabalhavam para Jourdan no 'Estabelecimento Jaraguá',
que funcionou até 1883, quando paralisou as atividades por conta de
dificuldades financeiras, haja vista os problemas encontrados para fazer chegar
açúcar e aguardente ao porto de São Francisco, de onde seriam embarcados para
o Rio de Janeiro. As funções do morro refletem o olhar sobre a cidade: o olhar
do lazer, do prazer da contemplação da vista, no duplo sentido da palavra: da
nossa vista e a vista da cidade. Misturado a este olhar, nosso imaginário sobre
os morros são repletos de imagens de perigo e violência: lugar de moradia dos
pobres, o morro é sinônimo de favela, onde habitam os operários, migrantes,
trabalhadores desempregados, bandidos, traficantes. Ou seja, quase sempre se
contempla o morro como moradia, como abrigo, como esconderijo, como sede do
perigo e da violência das classes perigosas, muito embora saibamos que são
trabalhadores os que, em sua maioria, os habitam. Este olhar reflete todo um
complexo processo de segregação e discriminação presente numa sociedade
plena de contrastes acirrados. De uma forma mais ou menos acentuada, esse
processo perpassa todos os patamares da pirâmide social em que os mais ricos
procuram se diferenciar e se distanciar dos mais pobres. Dessa forma, o morro e
a periferia recebem de todos os outros moradores da cidade um estigma
extremamente forte, forjador de uma imagem que condensa os males de uma pobreza
que é tida como viciosa e, no mais das vezes, também considerada perigosa.
Porém, os moradores dos morros guardam histórias vividas em comum,
experiências e símbolos compartilhados que, ao uni-los acaba por
identificá-los com base em códigos decifrados em uma bricolagem de fragmentos,
onde se repartem, em miríades, memória e história.
Romilda Oliveira ALVES. Debate historiográfico: peculiaridades
da economia mineira oitocentista.
RESUMO. A autora apresenta os elementos substantivos do debate historiográfico
levantado por estudos relativamente recentes sobre a economia escravista
mineira; tais trabalhos contrapõem-se à idéia de que Minas Gerais, no século
XIX, teria sofrido um processo de estagnação secular e involução econômica.
Vale dizer, evidencia-se que vários historiadores, economistas e demógrafos,
rejeitam a tese segundo a qual, após a superação da mineração aurífera,
Minas teria passado por um processo de desarticulação da economia e
esvaziamento demográfico. Em síntese, são realçados os argumentos de
caráter empírico sustentados pelos autores para os quais, após o boom
minerador, formou-se em Minas Gerais uma sociedade heterogênea, com una base
econômica diversificada na qual coexistiram múltiplas formas de trabalho
ligadas a uma estrutura produtiva complexa e dinâmica.
CHAMBOULEYRON,
Rafael. Escravos do Atlântico equatorial: tráfico negreiro para o Estado do
Maranhão e do Pará (século XVII e início do século XVIII). Revista
Brasileira de História. Dossiê: Escravidão. São Paulo: ANPUH, vol. 26,
n. 52, jul./dez. 2006, p. 79-114.
RESUMO. Este artigo analisa as características peculiares do tráfico negreiro
para a Amazônia (Estado do Maranhão) do século XVII e início do século
XVIII. Para isso destaca três elementos que permitem entender a organização e
o estabelecimento de uma rota escrava para o Estado do Maranhão: as epidemias,
a delicada situação da Fazenda real e os problemas decorrentes do uso de
trabalhadores indígenas.
CUSTÓDIO
SOBRINHO, Juliano. Notas iniciais acerca de uma sociedade em formação:
estrutura produtiva, demografia e sociabilidade escrava ao sul da capitania das
Minas - Freguesia de Itajubá (1766-1810). Revista Eletrônica de História
do Brasil. Juiz de Fora, Departamento de História e Arquivo Histórico da
UFJF, 2006, volume 8, número 1 e 2, jan-dez, 2006, p. 171-189. Disponível em:
http://www.rehb.ufjf.br .
RESUMO. No bojo das recentes pesquisas acerca do Sul de Minas, o presente artigo
tem como objetivo apresentar alguns apontamentos em relação à produção,
demografia e sociabilidade escrava, tendo como ponto de partida a Freguesia de
Itajubá, no período de 1766 a 1810, tendo em vista sua ligação com
freguesias vizinhas e com o termo, ao qual pertencia, Campanha da Princesa.
ABSTRACT. On the trail of recent researches about the south of Minas, the
present work has the objective of presenting some appointments concerning on the
production, demography and sociability slave, having its first step the
"Freguesia de Itajubá", in the period that goes from 1766 to 1810,
having in sight its connection with the neighbor "freguesias" was with
the "termo" in which it was located, "Campanha da
Princesa".
EIFERT,
Maria Beatriz Chini. Marcas da escravidão nas fazendas pastoris de Soledade
(1867-1883). Passo Fundo, Dissertação de Mestrado, Programa de
Pós-Graduação em História da Universidade de Passo Fundo (UPF), 2006.
Publicada sob mesmo título: Passo Fundo, UPF Editora, 2006, (Coleção Malungo,
vol. 13).
RESUMO. Com base em inventários, processos-crime etc., do acervo do Arquivo do
Fórum de Soledade, a autora descreve as vivências e a estrutura da
mão-de-obra cativa nas fazendas do antigo distrito de Botucaraí, contribuindo,
assim, para o conhecimento da economia pastoril nas últimas décadas da
escravidão.
MACHADO,
Cacilda. As muitas faces do compadrio de escravos: o caso da Freguesia de São
José dos Pinhais (PR) na passagem do século XVIII para o XIX. Revista
Brasileira de História. Dossiê: Escravidão. São Paulo: ANPUH, vol. 26,
n. 52, jul./dez. 2006, p. 49-77.
RESUMO. O cruzamento de registros paroquiais (batismo, casamento e óbito) com
censos domiciliares e com a genealogia de uma família senhorial permite
aprofundar discussões tradicionais na historiografia, acerca das alianças de
parentesco ritual efetuadas por escravos. Este artigo sugere que as relações
de compadrio dos cativos de São José dos Pinhais (PR) eram mecanismo de
manutenção e de ampliação de uma comunidade de negros e pardos, e mesmo de
brancos pobres. No entanto, o predomínio de pequenos proprietários de escravos
tornou o compadrio estratégico também na busca de proteção social, por parte
dos escravos, e instrumento de controle senhorial. Tais características
acabaram por reforçar o componente de dominação/submissão e ajudaram a
debilitar o caráter igualitário que o parentesco espiritual tridentino também
pressupunha, contribuindo para a reprodução da hierarquia social.
MERLO,
Patrícia M.S. Escravarias antigas e sobrevivência africana: família escrava
no Espírito Santo, 1800-1830. Revista Eletrônica de História do Brasil.
Juiz de Fora, Departamento de História e Arquivo Histórico da UFJF, 2006,
volume 8, número 1 e 2, jan-dez, 2006, p. 49-61. Disponível em: http://www.rehb.ufjf.br
.
RESUMO. Busca-se caracterizar os tipos de arranjos familiares estabelecidos no
seio da comunidade cativa no período que se estende de 1800 a 1830, em
Vitória, capital da capitania - e depois província - do Espírito Santo. Os
dados obtidos mostram que a relativa distância das grandes regiões
agro-exportadoras e a predominância de pequenas e médias propriedades,
colaboraram para a constituição dos diversos grupos compostos por escravos
especializados ou dedicados à prestação de serviços urbanos. Por outro lado,
a pequena taxa de africanidade em oposição à forte presença de escravos
nascidos no Brasil aponta para a existência de escravarias antigas, nas quais a
lógica da família escrava já estava consolidada, ou seja a possibilidade de
reposição natural de mão-de-obra cativa teria implicado o relativo
equilíbrio entre os sexos. A presença de diferentes arranjos familiares,
independentemente do tamanho das escravarias, assinala ainda que a família
escrava pode ser entendida como pré-condição para a melhoria da vida material
e como centro em torno do qual orbitavam estratégias para a garantia de
espaços de solidariedade ou mesmo projetos de liberdade.
ABSTRACT. Searching for characterize the types of family arrangements
established in the slave community's breast, in the period that extends from
1800 to 1830, in Vitória, capital of the captaincy, which become province of
the Espírito Santo. The obtained data shows that the relative distance of the
big agricultural exporting regions and the predominance of small and medium
properties, collaborated to constitution of several groups composed by
specialized slaves or dedicated to urban services rendered. On the other hand,
the small number of Africans in opposition to strong presence of slaves that
were born in Brazil, indicate for the existence of old slaves' groups, where the
slave family's logic was already consolidated, in other words the possibility of
natural replacement of slave labor would implicate in the relative balance among
the sexes. The presence of different family arrangements, independently of the
number of slaves, point to the slave family can be understood as pre-condition
for the material life improvement and like a strategic center for the warranty
of solidarity spaces or even projects of freedom.
MOTTA,
José Flávio. Escravos daqui, dali e de mais além: o tráfico interno de
cativos em Constituição (Piracicaba), 1861-1880. Revista Brasileira de
História. Dossiê: Escravidão. São Paulo: ANPUH, vol. 26, n. 52,
jul./dez. 2006, p. 15-47.
RESUMO. Estudamos as características do tráfico interno de cativos registrado
entre 1861 e 1880 em Constituição (Piracicaba), cidade paulista que, naquele
período, vivenciou o impacto da expansão da cafeicultura em direção ao Oeste
da província. Com base nas escrituras referentes a transações envolvendo
escravos, analisamos o comportamento no tempo de um conjunto de variáveis
demográficas e econômicas (sexo, idade origem, preço) das pessoas
transacionadas. Consideramos, também, os informes sobre o local de residência
dos demais envolvidos, mapeando os atributos dos tráficos inter e
intraprovincial, levando em conta, igualmente, os efeitos da legislação
atinente à questão servil. Nossa análise compara os períodos 1861-1869,
1870-1873 e 1874-1880.
NASCIMENTO,
Washington Santos. Escravidão, família escrava e mulheres forras no sertão
baiano (século XIX). Revista Eletrônica de História do Brasil. Juiz de
Fora, Departamento de História e Arquivo Histórico da UFJF, 2006, volume 8,
número 1 e 2, jan-dez, 2006, p. 215-229. Disponível em: http://www.rehb.ufjf.br
.
RESUMO. Neste trabalho procura-se caracterizar e discutir a família escrava e
as relações de poder entre forras e ex-senhores no sertão baiano da segunda
metade do século XIX, mais propriamente no Arraial do Brejo Grande (atual
Ituaçu), região Sudoeste da Bahia. Analisando a situação dos escravos
naquela região percebe-se uma dinâmica diferente da existente no Recôncavo
baiano no que se refere à formação e mobilidade da família escrava e à luta
das mulheres forras na justiça, contra seus ex-senhores, pela tutela de seus
filhos.
ABSTRACT. In this work, it tries to characterize and to discuss the slave family
and the relationships of power among you cover and former-gentlemen in the
interior from Bahia of the second half of the century XIX, more properly in the
Camp of the Big Swamp (current Ituaçu), Southwest area of Bahia. Analyzing the
slaves' situation in that area is noticed a dynamics different from the existent
in Recôncavo from Bahia, in what he/she refers the formation and mobility of
the slave family and the women's fight you cover in the justice, against your
former-gentlemen, for the it tutors of your children.
PERRAYON,
Janaina. Enlaces e redes: o compadrio nos casamentos de escravos da Candelária.
Revista Eletrônica de História do Brasil. Juiz de Fora, Departamento de
História e Arquivo Histórico da UFJF, 2006, volume 8, número 1 e 2, jan-dez,
2006, p. 62-75. Disponível em: http://www.rehb.ufjf.br
.
RESUMO. Na certeza de que o casamento é ocasião privilegiada para a
construção de alianças, foram reunidos os registros de matrimônio que
evolveram somente africanos na Freguesia da Candelária na primeira metade do
séc. XIX, na tentativa de capturar possíveis redes sociais deles decorrentes.
As relações dos nubentes com outros atores como seus senhores (ou ex-senhores)
e suas testemunhas de casamento são consideradas, neste trabalho, fundamentais
na reconstituição de parte do processo de socialização destes africanos.
ABSTRACT. In the certainty of that the marriage is privileged occasion for the
construction of alliances, registers of matrimony that had only involved
africans in the Patronage of the Candelária in the first half of century XIX,
in the attempt to capture possible social nets of decurrent them had been
congregated. The relations of the betrotheds with other actors as its
slaveholders (or former slaveholders) and its witnesses of marriage are
considered in this work, basic in the reconstitution of party to suit of
socialization of these africans.
PIRES,
Maria de Fátima Novaes. Cartas de alforria: "para não ter o desgosto de
ficar em cativeiro. Revista Brasileira de História. Dossiê: Escravidão.
São Paulo: ANPUH, vol. 26, n. 52, jul./dez. 2006, p. 141-174.
RESUMO. Este artigo trata de alforrias no alto sertão da Bahia, tendo por
referência catas de liberdade, inventários e processos criminais das Comarcas
de Rio de Contas e Caetité, antigas vilas e cidades da região. Estabelece
quadros comparativos com algumas regiões do Brasil e apresenta os tipos de
cartas encaminhadas para a Justiça, durante o século XIX.
RANGEL,
Ana Paula dos Santos. A escolha do cônjuge: o casamento escravo no termo de
Barbacena (1781-1821). Revista Eletrônica de História do Brasil. Juiz
de Fora, Departamento de História e Arquivo Histórico da UFJF, 2006, volume 8,
número 1 e 2, jan-dez, 2006, p. 29-48. Disponível em: http://www.rehb.ufjf.br
.
RESUMO. Procuraremos neste texto, mediante a pesquisa dos registros paroquiais
de casamento para o Termo de Barbacena, estabelecer as características do
comportamento conjugal de cativos e forros da região. O recorte cronológico
vai de 1781 a 1821 e buscaremos apresentar dados concernentes ao padrão de
escolha do cônjuge no que diz respeito ao estatuto jurídico, cor, naturalidade
e procedência.
ABSTRACT. In this article we will try to present the conjugal behavior of slaves
and freedmen in Barbacena, in the period between 1781 and 1821. The criteria
considerated are juridical condition, color, birth-place and origin.
RESTITUTTI,
Cristiano Corte. As fronteiras da província: rotas de comércio
interprovincial: Minas Gerais, 1839-1884. Araraquara, Dissertação de
mestrado em economia - Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual
Paulista, 2006, 334p.
RESUMO. O tema da pesquisa é o comércio interprovincial de Minas Gerais. O
objetivo é identificar e caracterizar as rotas deste comércio e revisitar a
série de exportações totais de Minas Gerais no século XIX, inclusive ouro e
diamantes. São utilizadas fontes primárias sobre o recolhimento de impostos na
fronteira mineira entre 1839 e 1884. As informações de exportações
agropecuárias e de alguns itens de importação estão desagregadas por
estações fiscais ao longo da fronteira. A partir destes dados foram
construídas séries de quantidades comercializadas através das diferentes
rotas interprovinciais. Foram construídas séries de preços de mercado para
calcular o valor. As informações de preços em diversas localidades permitiram
inferir sobre as articulações do mercado interno mineiro. A análise do
comércio interprovincial desagregado por estações fiscais foi precedida de um
esforço de regionalização, que consiste na segmentação da fronteira mineira
através da percepção da diferenciação das rotas. Os resultados permitem
inferir sobre possíveis origens e destinos das exportações mineiras e os
movimentos de curto, médio e longo prazo no valor e composição das
exportações por rota de comércio. Observam-se a importância da
intermediação mercantil, a relevância dos mercados consumidores de outras
províncias, as preferências por caminhos, o movimento das fronteiras
agrícolas de exportação. Disponível para download na Biblioteca Digital da
Unesp:
http://www.biblioteca.unesp.br/bibliotecadigital/document/?did=4628
ROCHA,
Cristiany Miranda. A morte do senhor e o destino das famílias escravas nas
partilhas. Campinas, século XIX. Revista Brasileira de História. Dossiê:
Escravidão. São Paulo: ANPUH, vol. 26, n. 52, jul./dez. 2006, p. 175-192.
RESUMO. Este artigo tem como objetivo enfatizar a importância do estudo das
partilhas dos inventários na avaliação do impacto da morte dos senhores sobre
os núcleos familiares dos seus cativos. Essa questão é de grande relevância
para o estudo do parentesco escravo uma vez que a freqüência nas separações
de casais ou filhos está diretamente ligada à relevância dos altos índices
de casamentos identificados pela historiografia. Além disso, o artigo chama a
atenção para a importância de uma metodologia de entrecruzamento de vários
tipos de fontes para um mesmo grupo de cativos, tanto para o mapeamento dos
grupos de parentesco, como para a apreensão dos destinos deles na divisão dos
bens dos seus proprietários.
SELA,
Eneida Maria Mercadante. A África carioca em lentes européias: corpos, sinais
e expressões. Revista Brasileira de História. Dossiê: Escravidão.
São Paulo: ANPUH, vol. 26, n. 52, jul./dez. 2006, p. 193-225.
RESUMO. A proposta deste artigo é examinar as maneiras pelas quais alguns
viajantes europeus que estiveram no Rio de Janeiro durante a primeira metade do
século XIX diferenciaram os africanos na experiência das escravidão, tratando
de um viés temático específico: os registros produzidos pela literatura de
viagem oitocentista a respeito de suas belezas físicas, sinais corporais e
expressões de cantos e danças. A convergência temática e valorativa desses
relatos permite-nos observar a reiteração de certas tópicas que cristalizaram
os significados mais comuns atribuídos pelos olhares estrangeiros aos
africanismos com que depararam na cidade que continha, à época, a maior
população escrava das Américas.
SOARES,
Geraldo Antonio. Esperanças e desventuras de escravos e libertos em Vitória e
seus arredores ao final do século XIX. Revista Brasileira de História.
Dossiê: Escravidão. São Paulo: ANPUH, vol. 26, n. 52, jul./dez. 2006, p.
115-140.
RESUMO. Neste trabalho examinamos 43 registros de cartas de liberdade,
referentes às alforrias de 52 escravos da Freguesia de São João de Cariacica,
Termo de Victória, Província do Espírito Santo, no período entre 1872 e
1887. A escolha desse marco cronológico se deu pelo fato de estarmos nos
propondo a examinar o período final da escravidão, mais especificamente a
partir da promulgação da Lei do Ventre Livre, em 28 de setembro de 1871,
ap´te a abolição, em 1888. Apesar de se tratar de uma pequena amostro, foi
possível uma análise comparativa do perfil desses libertos com outras
pesquisas mais amplas sobre alforrias no Brasil. Tivemos uma idéia mais precisa
a respeito dos significados da liberdade para escravos e libertos a partir da
análise de dois inquéritos policiais nos quais as esperanças e desventuras em
relação à liberdade puderam ser claramente percebidas.
SOUZA,
Sonia Maria de. Escravidão e campesinato: relações sociais entre cativos e
homens livres. Revista Eletrônica de História do Brasil. Juiz de Fora,
Departamento de História e Arquivo Histórico da UFJF, 2006, volume 8, número
1 e 2, jan-dez, 2006, p. 100-127. Disponível em: http://www.rehb.ufjf.br
.
RESUMO. Este artigo procura analisar presença de uma força de trabalho escrava
entre uma parcela da população, considerada camponesa no município de Juiz de
Fora. Busca verificar a estrutura das posses, bem como analisar a possibilidade
da existência da família escrava em seu interior. Por fim, analisa as
relações sociais estabelecidas entre escravos e homens livres da região.
ABSTRACT. This article looks for to analyze presence of an enslaved force of
work enters a parcel of the population, considered peasant in the city of Juiz
De Fora. Search to verify the structure of the ownerships, as well as analyzing
the possibility of the existence of the enslaved family in its interior. Finally,
it analyzes the social relations established between slaves and free men of the
region.
VENÂNCIO,
Renato Pinto & SOUSA, Maria José Ferro de & PEREIRA, Maria Teresa
Gonçalves. O Compadre Governador: redes de compadrio em Vila Rica de fins do
século XVIII. Revista Brasileira de História. Dossiê: Escravidão. São
Paulo: ANPUH, vol. 26, n. 52, jul./dez. 2006, p. 273-294.
RESUMO. Analisamos neste artigo as relações políticas e sociais formalizadas
no sacramento de batismo entre os membros da elite vilarriquenha, para o
período 1777-1789. Para tanto, escolhemos os registros de batismo da paróquia
de Nossa Senhora do Pilar do Ouro Preto e de suas capelas filiais, como
testemunhos do estabelecimento e renovação dos laços de compadrio.
VERSIANI,
Flávio Rabelo. Escravidão "suave" no Brasil: Gilberto Freyre tinha
razão? Revista de Economia Política, vol. 27, n. 2 (106), abr.-jun. de
2007, p. 163-183.
ABSTRACT. This article examines the question of the supposedly benign character
of Brazilian slavery in contrast with North America slavery. In economic
analyses of slavery, coercion toward slaves is viewed as a means to achieve
maximum output, especially in large-scale agriculture. In small slave holdings,
however, coercion was generally inefficient for that purpose, and positive
incentives tended to be preferred. It is argued that, as recent evidence on
Brazil has shown that small slave holdings prevailed in various regions and
periods, this may lend empirical support to the notion of a relatively benign
slavery, using more incentives than coercion.
CARRARA,
Ângelo Alves. A Real Fazenda de Minas Gerais: guia de pesquisa da Coleção
Casa dos Contos de Ouro Preto - volume 1. Ouro Preto, UFOP, 2003, 82p., il.
(Instrumento de Pesquisa; v. 1).
CARRARA,
Ângelo Alves. A Real Fazenda de Minas Gerais: guia de pesquisa da Coleção
Casa dos Contos de Ouro Preto - volume 2. Ouro Preto, UFOP, 2005, 106p., il.
(Instrumento de Pesquisa; v. 2).
APRESENTAÇÃO.
Os dois volumes de "A Real Fazenda de Minas Gerais" constituem um
esforço no sentido de conferir organicidade ao maior fundo fiscal do período
colonial brasileiro: a Coleção Casa dos Contos de Ouro Preto. São o
resultado, em larga medida, da prospecção no acervo dessa coleção desde
1994, por conta de diferentes projetos de pesquisa apoiados pelo CNPq, FAPEMIG e
pela própria Universidade Federal de Ouro Preto, no âmbito dos Programas
Institucionais de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), e que tinham na
Casa dos Contos suas fontes essenciais. A elaboração destes instrumentos de
busca quer-se justificada pelas dificuldades encontradas pelos historiadores
desse período, em particular a dispersão física dos acervos e as complexas
condições de acesso dela decorrentes. Isto é especialmente sentido naqueles
casos em que as pesquisas lidam com as chamadas fontes seriais, que permitem a
construção de longas séries de dados cronologicamente dispostos. A dispersão
ou a fragmentação dos acervos interferem pesadamente sobre a organização dos
dados e, por isto, assume consideráveis proporções para os pesquisadores. É
necessário que os organizadores dos arquivos tomem ciência destas questões, e
reflitam sobre as possíveis soluções. No primeiro volume são tratadas as
maiores séries, correspondentes aos grandes tributos coloniais - dízimos,
entradas, subsídio literário e décima predial, bem como uma série especial
de processos de confiscos. Já o segundo volume contém o acervo documental
correspondente às séries decorrentes da cobrança do direito régio do quinto
até o ano de 1808, bem como da permuta do ouro em pó de faisqueira,
compreendida no período de 1809 a 1827.
A versão integral destes dois volumes encontra-se na page do autor,
mantida no NEHD, cujo endereço eletrônico é: http://www.brnuede.com/pesquisadores/angelo/index.htm
.
BRÜGGER,
Silvia Maria Jardim. Minas patriarcal - Família e sociedade (São João Del Rei
- Séculos XVIII e XIX). São Paulo, Annablume, 2007, 382 p.
APRESENTAÇÃO. A autora identificou os membros de várias famílias em pelo
menos três gerações, descortinando os projetos matrimoniais das parentelas,
as relações preferenciais de compadrio, conflitos e tensões entre gerações,
concubinatos e demais aspectos da vida doméstica dos homens e mulheres no mundo
escravista do Brasil. Contemplou, também, a esfera produtiva e a direção das
atividades extrativas, agrárias e comerciais, mapeando as transformações nas
organizações familiares que ocorreram entre o período de auge da mineração
e o de predomínio das atividades agrárias. Ponderou a afirmação largamente
difundida sobre a especificidade de Minas Gerais em relação às demais áreas
coloniais. Questionou o argumento corrente segundo o qual, em região
mineradora, as relações familiares eram frágeis e que o patriarcalismo não
teria a mesma força que em áreas agroexportadoras. Provou serem esses
argumentos exagerados. O maior controle da área por parte do estado português
devido ao tipo de atividade - mineração - não inibiu a forma como a
organização familiar se efetivava em terras do Brasil, mantendo-se os
interesses familiares predominantes em relação aos individuais. As conclusões
de Silvia Brügger são altamente estimulantes, pois rompem com a visões
tradicionais sobre a sociedade mineira.
XAVIER
Regina Célia Lima (organizadora). História da escravidão e da liberdade no
Brasil meridional: guia bibliográfico. Pesquisadores: Carine Bajerski,
Gabrielle Werenicz, Mariana Selister Gomes, Mônica Karawejczky, Ricardo De
Lorenzo. Colaboradores: Cristiane Pinto Bahy, Eliete Lúcia Tiburski, Fabiana
Souza Bumbel, Fábio Picon Alt, Frederico Bartz Duarte, Lauro Duvoisin, Márcio
Adriano Camargo, Marcus Vinícius Freitas da Rosa, Marisângela Terezinha
Martins.
RESUMO. Este guia bibliográfico destina-se a todos que se interessam pela
história do Brasil e pela temática da escravidão e do pós-abolição na
constituição das sociedades sulinas. Ele reúne em uma vasta pesquisa
bibliográfica 851 títulos acadêmicos (comunicações em congressos, artigos,
livros, dissertações e teses), com seus respectivos resumos, referentes ao Rio
Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina, desde as últimas décadas do século
XIX até 2006. Tem como objetivo tanto estimular pesquisas inovadoras quanto
reflexões historiográficas sobre a história dos africanos e seus descendentes
no Brasil meridional.
Opine sobre textos de nosso colega Ângelo Alves Carrara
Seguem abaixo os resumos de dois working papers -- isto é, textos ainda não submetidos à publicação e, portanto, ainda em processo de finalização -- de autoria de nosso colega Ângelo Alves Carrara, da UFJF. O autor os coloca ao escrutínio dos interessados em apresentar-lhe comentários, críticas e sugestões, antes da publicação da versão definitiva em periódico acadêmico ou livro. O acesso à versão integral dos textos encontra-se ao pé da page do autor no seguinte endereço eletrônico:
http://www.mestradohistoria.ufjf.br/?area=mostraDocente&cd_docente=18
As críticas e sugestões podem ser remetidas diretamente ao colega Ângelo
Alves Carrara, cujo e-mail é: carrara@pq.cnpq.br
Administração
Fazendária e Conjunturas Financeiras da Capitania de Minas Gerais, 1700-1808.
RESUMO. Este texto compendia os resultados de uma pesquisa desenvolvida entre
agosto de 2003 e janeiro de 2007 cujo objetivo fundamental foi identificar as
conjunturas financeiras da Capitania de Minas Gerais ao longo de um século
XVIII que para ela só se encerra em 1808 (apesar de que, em termos fiscais, a
ruptura definitiva com o Antigo Regime deva ser estabelecida à roda do ano de
1835, quando todos os tributos vigentes ao longo do período colonial foram
substituídos). Dito de outro modo, verificar não apenas as flutuações dos
montantes efetivamente recebidos pela Fazenda Real e por ela empregados no
pagamento das despesas, mas, essencialmente, a relação entre a receita e a
despesa, ou seja, os saldos, positivos ou negativos. É precisamente esta
relação que define as conjunturas financeiras da Capitania.
Ouro,
Moeda e Mercado Interno; um modelo contábil da economia de Minas Gerais,
1700-1808.
RESUMO. Este estudo tem por objetivo esboçar um modelo quantitativo para o
estudo da estrutura e funcionamento da economia de Minas Gerais -- isto é, um
"modelo de contabilidade regional" -- durante o período colonial até
1808, último ano em que o ouro em pó (o principal meio de troca e a principal
reserva de valor da Capitania) circulou livremente como moeda. Como
conseqüência, põe em questão a idéia de baixa monetização da economia
colonial brasileira. As fontes deste estudo incluem, além dos registros de
entrada de mercadorias, os livros do pagamento dos quintos reais e da permuta do
ouro em pó por moeda e bilhetes.
II Colóquio em História Agrária
Dar-se-á em Juiz de Fora, de 17 a 19 de outubro próximo, o II Colóquio em História Agrária - séculos XVIII-XIX. O evento visa a estimular a discussão sobre a história social da agricultura no Brasil no período assinalado. Os interessados na programação e demais pormenores do encontro poderão visitar a página http://www.sarh.pjf.mg.gov.br/coloquio e servir-se do documento anexado a este número do BHD, para tanto .
Comunicações apresentadas no I SEMINÁRIO DE HISTÓRIA DO ICHS: Tendências da Historiografia Brasileira Contemporânea. Mariana, ICHS da Universidade Federal de Ouro Preto, 2006, Disponíveis em:
http://www.ichs.ufop.br/seminariodehistoria2006/anais.html
ALVES, Romilda Oliveira. Uma questão de gênero: Ilegitimidade e chefia feminina solteira de família em Mariana (1807-1822).
CASTRO MAIA, Moacir Rodrigo de. Sem nunca ser ou vir a cativeiro: o processo da alforria de crianças em Mariana colonial (1715-1750).
COSTA, Fernanda Alves. Testamentos e Inventários: Os Laços Matrimoniais entre forros e suas ligações com o Comércio e a Agricultura na Freguesia de Barra Longa (1750-1800).
FLAUSINO,
Camila Carolina. Negócios da escravidão: tráfico interno de escravos em
Mariana, 1850-1886.
RESUMO. Neste artigo, pretendemos analisar alguns aspectos do tráfico interno
de escravos no município de Mariana na segunda metade do século XIX, como
alternativa ao fim do tráfico atlântico. Elegemos a região de Mariana devido
à sua privilegiada localização, uma vez que parte de seu território
situava-se na região de antigo centro minerador, denominada Metalúrgica -
Mantiqueira, e outra parte na Zona da Mata mineira, região conhecida pelo seu
potencial agropastoril, como por exemplo, o cultivo do café. Nosso principal
objetivo é verificar, regionalmente, o alcance de uma questão geral presente
na historiografia sobre a escravidão mineira, que parte do princípio de que
teriam ocorrido transferências significativas de escravos das regiões
Metalúrgica - Mantiqueira para outras regiões mais dinamizadas da província e
mesmo fora dela, a partir do declínio da mineração, e especialmente, ao longo
da segunda metade do século XIX até as vésperas da abolição.
MEIRA,
Heloisa. Batismo e compadrio de índios: um balanço bibliográfico e um estudo
de fontes batismais do aldeamento de Rio Pomba e Peixes (MG), 1767-1787 (Um
Estudo de Caso: Aldeamento de São Manuel do Rio Pomba e Peixes, século XVIII).
RESUMO. Na primeira parte buscaremos enfocar o caminho que os estudos de
compadrio tem trilhado nos últimos anos e chamar a atenção para um campo
ainda não explorado neste por este tema de estudo, o universo indígena. A
parte seguinte versa sobre a importância do aldeamento indígena de São Manuel
do Rio Pomba e Peixes, localizado na Zona da Mata de Minas Gerais, aldeamento
este que tinha como propósito reunir os índios cropós e coroados que se
apresentavam como um empecilho para a ocupação e expansão econômica da Zona
da Mata Mineira. Nosso período compreende a segunda metade do século XVIII,
especificamente entre os anos de 1767 e 1787, os quais correspondem aos vinte
primeiros anos de existência do referido aldeamento.
PAIVA, Adriano Toledo. A Dinâmica Populacional da Fronteira Leste do Termo de Mariana (1767 a 1800).
TEIXEIRA,
Heloísa Maria. A criança no processo de transição do sistema de trabalho -
Brasil, segunda metade do século XIX.
RESUMO. Neste texto, nosso objetivo consiste em focar a criança pobre nos
discursos referentes ao processo de transformação do trabalho no Brasil.
Veremos que, entre as propostas do Estado, estava a de formar/educar a criança
desvalida, muitas vezes descendente da escravidão, para o trabalho na lavoura.
SOUSA,
Cristiano Oliveira de. Os testamentos como fontes importantes para a História
Social: Minas Gerais, séculos XVIII e XIX.
RESUMO. Esta comunicação pretende apresentar algumas das diferentes formas de
se utilizar este extraordinário registro documental revelador de importantes
aspectos culturais de uma sociedade - os testamentos produzidos nos séculos
XVIII e XIX - como fontes para a produção de História Social.
Congresso Fluminense de História e Geografia
O Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro promoverá, de 7 a 9 de novembro de 2007, o III Congresso Fluminense de História e Geografia. Para detalhes, visite o site concernente ao evento: http://www.ihgrj.org.br/