NÚCLEO
DE ESTUDOS EM HISTÓRIA DEMOGRÁFICA
BOLETIM DE HISTÓRIA DEMOGRÁFICA
Ano II, Número 6 -
Junho 1995
Relação de Trabalhos Publicados (ROL)
Editores
deste número: Renato L. Marcondes e Júlio M. Pires
Neste
número retomamos a publicação de estatísticas retrospectivas e da seção pesos e
medidas. Inicialmente apresentamos uma resenha de uma dissertação de Mestrado
recentemente defendida no Departamento de História da FFLCH-USP. No presente
número reproduzimos as informações levantadas por Daniel Kidder para as
províncias brasileiras. Na seqüência, transcrevemos uma relação de medidas
coletadas por Friedrich Von Weech, quando de sua estada no Brasil na terceira
década do século XIX. Além disto continuamos a publicar os resumos dos
trabalhos recebidos e especialmente neste número uma relação dos artigos
editados na Revista do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) na área. Estas
seções de resumos são complementadas pelos sumários elaborados com base nos
informes constantes dos arquivos da Fundação SEADE/DOCPOP. Na seção seguinte
damos continuidade à apresentação dos resultados do Censo de Demografia
Histórica. De outra parte, mantém-se neste boletim o processo de atualização da
Relação de Trabalhos Publicados - ROL e das publicações recebidas.
ALANIZ,
Anna Gicelle Garcia. Ingênuos e libertos: estratégias de sobrevivência familiar
em épocas de transição, 1871 - 1895. Dissertação de Mestrado. São Paulo:
FFLCH/USP, 1994, 163 p. (mimeografado).
"Ingênuos
e libertos" marca-se, antes do mais, pela utilização de fontes documentais
caracterizadas pela riqueza de conteúdo. Da documentação compulsada,
salientam-se as seguintes fontes primárias: os registros paroquiais (assentos
de óbitos) de Campinas, as atas da Câmara Municipal de Campinas e, sobretudo,
os processos judiciais de tutela, apreensão, licenças de casamento e remoções
de tutela das cidades de Campinas e Itu, cobrindo, grosso modo, o último
quartel do século XIX. Trabalho dividido em três partes (1: a família negra e a
historiografia; 2, a legislação, seu passado e suas consequências; e 3, as
batalhas familiares), seu objetivo é "entender as estratégias de
sobrevivência da família negra, escrava e liberta, diante das alterações trazidas
pela legislação abolicionista, no contexto da própria abolição e do fim da
monarquia com a implantação do regime republicano" (p. 10). Se a primeira
parte da dissertação vê-se prejudicada ao se colocar também como um balanço da
historiografia acerca da família negra e, no entanto, fornecer uma abordagem
muito restrita dessa mesma historiografia, e se a segunda parte peca por
transmitir ao leitor a impressão de que a autora perfilha uma dada leitura --
não necessariamente a mais rica -- da Lei número 2040, de 28.09.1871, não resta
dúvida de que a terceira parte consubstancia-se no ponto alto do trabalho, onde
é feita a análise das fontes primárias. Aqui se destacam seja o estudo da
morbidade, inserido na seção 3.1 (na vida: o nascer e o morrer), seja, principalmente,
o exame dos processos judiciais de tutela empreendido na seção 3.2 (na
liberdade: os benefícios e os malefícios do vínculo tutelar). A autora adota um
procedimento, qual seja, a seleção e análise minuciosa de 4 dentre os 476
processos compulsados e, no âmbito dessa opção, trabalha suas fontes com
evidente competência. Em que pese o tratamento primoroso dos 4 casos
selecionados, permanece no leitor a sensação de que a autora poderia ter
trabalhado mais o universo composto pelos 476 processos, mesmo porque, ao
escolher talvez os exemplos mais complexos, acabou por trabalhar u'a amostra
que se pode dizer claramente "viesada", impedindo que se atingisse um
maior rigor estatístico. Ressalte-se, por fim, que a observação acima não
compromete a relevância das conclusões avançadas pela autora, que apontam para
a utilização do vínculo tutelar como "meio escolhido" (p. 129) para a
superação dos problemas postos pelo período de transição inaugurado com a
promulgação da Lei do Ventre Livre.
José
Flávio Motta
O
texto e as estimativas de população abaixo foram transcritas de: Kidder, Daniel
P. Reminiscências de viagens e permanência nas províncias do Sul do Brasil.
Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo,
1980, p. 312-13.
POPULAÇÃO
"Não
nos foi possível obter estatísticas fiéis com respeito à população do Brasil,
pelo simples motivo de que jamais se procedeu a recenseamento algum, digno de fé.
Os relatórios provinciais e ministeriais fazem todos os anos referência ao
assunto, mas, raramente contêm algo de novo ou de importância, a não ser
conjecturas ao alguma vaga referência ao número de mortos e batizados em certas
paróquias. Contudo, para que o leitor possa ter uma idéia da população do país
damos a seguir as mais recentes estimativas que conseguimos obter nos numerosos
documentos consultados.
"Alguns
autores tomaram a liberdade de publicar estimativas pormenorizadas, como a que
se segue, adicionando-lhes arbitrariamente, de um a dois milhões de escravos
que supõe terem sido omitidos. Foi por isso que anos atrás, a população era
dada como sendo maior que a indicada pela tabela abaixo. Não nos sentimos à
vontade para recorrer a conjecturas dessa ordem, pois sabemos ser hábito no
Brasil computar a população escrava englobadamente com a branca, a menos que
haja distinção especial das duas classes.
"Não
diremos que o Brasil não possui mais de cinco milhões de habitantes;
gostaríamos, porém, de examinar os resultados de um recenseamento oficial ou
pelo menos estimativas elaboradas por funcionários competentes que nos
indicassem onde se poderia encontrar tanta gente, antes de afirmar que existe.
Se não tivéssemos nenhum outro motivo para cautela com respeito a este assunto,
os clamorosos erros de outros nos serviriam de aviso. Há cerca de 40 anos o Sr.
John Mawe afirmou que a cidade de São Paulo continha "cerca de quinze mil
almas, talvez perto de vinte mil". Sem dúvida esta cidade tem progredido desde
então, mas, quando a visitamos em 1839, era a seguinte a estimativa oficial:
Cidade de São Paulo propriamente dita |
5.668 |
Subúrbio de Santa Efigência |
3.064 |
Subúrbio do Bom Jesus do Braz |
659 |
Total |
9.391 |
ESTIMATIVAS
DA POPULAÇÃO DAS PROVÍNCIAS
Províncias |
Livres |
Escravos |
Total |
Rio Grande do Sul |
- |
- |
160.000 |
Santa Catarina (*) |
53.707 |
12.511 |
66.228 |
São Paulo |
- |
- |
326.902 |
Rio de Janeiro (*) |
196.926 |
239.557 |
436.483 |
Cidade do R. Janeiro |
- |
- |
180.000 |
Minas Gerais |
- |
- |
760.000 |
Goiaz |
- |
- |
97.592 |
Mato Grosso |
- |
- |
40.000 |
Espírito Santo |
- |
- |
46.000 |
Bahia |
- |
- |
650.000 |
Sergipe |
- |
- |
120.000 |
Alagoas |
- |
- |
120.000 |
Pernambuco |
- |
- |
320.000 |
Paraíba |
- |
- |
100.000 |
Rio Grande do Norte |
- |
- |
40.000 |
Ceará |
- |
- |
180.000 |
Piauí |
- |
- |
60.000 |
Maranhão (*) |
105.119 |
111.905 |
217.024 |
Pará (*) |
- |
- |
250.000 |
TOTAL |
|
|
4.170.229 |
(*) Dados oficiais.
WEECH,
Friedrich Von. A agricultura e o comércio do Brasil no sistema colonial. São
Paulo: Martins Fontes, 1992, p. 58.
Medidas
de Peso
Peso |
Gramas |
Centigramas |
O quintal ou 4 arrobas |
48.709 |
|
A arroba ou 32 libras |
11.677 |
|
A meia arroba ou 16 libras |
7.338 |
|
A libra ou 16 onças |
458 |
67 |
A onça ou 8 oitavas |
28 |
66 |
A oitava ou 72 grãos |
3 |
58 |
O grão |
|
5 |
Medida
linear (França)
Medida |
Metros |
Milímetros |
A légua ou 2.842 braças e 8 palmos |
6.880 |
|
A braça ou 10 palmos |
2 |
174 |
A vara ou 5 palmos |
1 |
87 |
O covado ou 3 palmos |
|
652 |
O palmo ou 8 polegadas e 7 linhas |
|
217 |
O pé ou 12 polegadas |
|
304 |
A polegada ou 12 linhas |
|
25 |
A linha ou 12 pontos |
|
2 |
Medidas
de Líquidos
Medida |
Litros |
Centilitros |
O tonel ou 2 pipas |
870 |
41 02/10 |
A pipa ou 26 almudes |
435 |
20 06/10 |
O almude ou 2 cântaros ou 2 potes |
16 |
73 09/10 |
O pote ou cântaro ou 6 camadas |
8 |
37 |
A camada ou 4 quartilhos |
1 |
39 05/10 |
O quartilho |
|
34 09/10 |
Peso
dos cereais
Peso |
Litros |
Centilitros |
O moio ou 15 fanegas |
830 |
40 |
A fanega ou 4 alqueires |
55 |
36 |
O alqueire ou 2 meios |
13 |
84 |
O meio ou 2 quartos |
6 |
92 |
A quarta ou 2 oitavos |
3 |
46 |
A oitava ou o selamin |
1 |
73 |
ANDREAZZA,
Maria Luiza & NADALIN, Sérgio Odilon. O cenário da colonização no Brasil
Meridional e a família imigrante. Revista Brasileira de Estudos de População.
São Paulo, 11 (1), jan./jun. de 1994, p. 61-87.
RESUMO:
O cenário da colonização no Brasil Meridional e a família imigrante. No
presente artigo, a imigração dos europeus no século XIX foi estudada
privilegiando-se a premissa de que ela se constitui na réplica da elite
brasileira ao impasse gerado pelo fim da escravidão -- um dos indicadores da crise
que assinalou o rompimento das estruturas coloniais. Em contrapartida, a
instalação de imigrantes no Brasil do oitocentos concerne ao surgimento do que
podemos denominar de cultura imigrante. As reflexões desenvolvidas no estudo
procuram situar a emergência de tal cultura, analisando os descendentes de
europeus tanto na ótica da demografia histórica quanto na dos contatos
culturais. As análises que se seguem foram alicerçadas em dados provenientes da
reconstituição de famílias de imigrantes europeus e seus descendentes,
metodologia privilegiada nos estudos de demografia retrospectiva. A
justaposição dos padrões demográficos com os elementos culturais específicos
aos imigrantes possibilitou circunscrever formas de sociabilidade que
permitiram, por sua vez, o delineamento de uma teoria da família imigrante.
Assim, o trabalho situa-se na temática mais ampla dos estudos populacionais ou,
o que é para nós mais pertinente, na história da população.
CASTRO,
Hebe Maria da Costa Mattos Gomes de. A cor inexistente os significados da
liberdade no sudeste escravista (Brasil: século XIX). Niterói: UFF, 1993. (Tese
de Doutorado).
RESUMO:
Esta tese discute os significados da liberdade, na Segunda metade dos
oitocentos, no sudeste escravista, procurando considerar integradamente
motivação e contexto. Sua primeira parte enfoca a experiência de liberdade de
homens e mulheres despossuídos, nascidos livres ou alforriados, na sociedade
escravista do sudeste. A segunda discute os significados da liberdade, para os
últimos cativos da região, e seu papel no processo de abolição do cativeiro.
Ambas baseiam-se, fundamentalmente, na análise de documentação judiciária,
especialmente inventários post-mortem, processos-crimes e ações de
liberdade. As duas últimas partes concentram-se na última década do século XIX.
Jornais interioranos, do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, inquéritos policiais
da comarca de Campos (RJ) e os registros civis de nascimento e óbito de três
freguesias demonstrar o papel estratégico dos embates em torno dos significados
da liberdade, no período, para a reelaboração das relações de trabalho e poder,
no mundo rural, bem como para a conformação específica assumida, desde então,
pela ideologia racial no Brasil.
FARIA,
Sheila Siqueira de Castro. A colônia em movimento fortuna e família no
cotidiano colonial (Sudeste, século XVIII). Niterói: UFF, 1994. (Tese de
Doutoramento).
RESUMO:
Este trabalho aborda aspectos da vida cotidiana colonial, particularmente o
século XVIII, tendo como pano de fundo análise sobre a família, diferenciadas
por grupos sociais, o que a torna objeto central e estratégico para se observar
o estabelecimento de modos de vida e de domínio. Está dividido em duas partes
temáticas: "Mover-se" e "Viver e Morrer". A primeira trata
do movimento, tanto espacial como econômico-social; a segunda enfoca o
dia-a-dia dos homens coloniais: nascimento, casamento, morte, habitação e modos
de produzir. As fontes utilizadas foram, basicamente, inventários post-mortem,
registros de batizado, nascimento e óbito, mapeamentos populacionais e agrários
e processos eclesiásticos de banhos para matrimônios.
LEWKOWICZ,
Ida. As mulheres mineiras e o casamento: estratégias individuais e familiares
nos séculos XVIII e XIX. História. São Paulo, 12, 1993, p. 13-28.
RESUMO:
O artigo aborda a posição da mulher e as condições a que estava sujeita em
relação ao casamento, na sociedade mineira. O ponto central é a discussão a
respeito da anuência dos noivos e da passividade feminina.
TELAROLLI
JR., Rodolpho. A secularização do registro dos eventos vitais no Estado de São
Paulo. Revista Brasileira de Estudos de População. São Paulo, 10 (1/2), jan./dez.
de 1993, p. 145-159.
RESUMO:
A secularização do registro dos eventuais vitais no Estado de São Paulo. O
artigo apresenta os antecendentes e o contexto político e econômico sob o qual
se deu a secularização dos registros vitais no Brasil, além dos conflitos
cotidianos que acompanharam as novas práticas no Estado de São Paulo. O
registro dos eventos vitais (nascimentos, casamentos e óbitos) foi secularizado
no país com a Proclamação da República, passando das mãos da Igreja para o
Estado. A aprovação da legislação criando o sistema brasileiro de registros
civis ocorreu em 1888, tendo sido implantada apenas no ano seguinte,
associando-se à crise nas relações entre Igreja e Monarquia das últimas décadas
do século XIX. Por muito tempo os registros civis foram superados pelas
cerimônias religiosas, que tinham a seu favor o empenho da Igreja e séculos de
tradição na cultura popular. No Estado de São Paulo a implantação de um sistema
de registros civis e a elaboração de estatísticas vitais vincularam-se à questão
sanitária. O principal objetivo era sanar os problemas sanitários que punham em
risco a manutenção do fluxo de imigração estrangeira para a cafeicultura
paulista.
TELAROLLI
JR., Rodolpho. Poder e Saúde: a República, a febre amarela e a formação dos
serviços sanitários no Estado de São Paulo. Tese (Doutorado) - Faculdade de
Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, 1993.
RESUMO:
Este trabalho tem por objetivo a investigação das mediações da organização
política, em sua vertente estado/municípios, e dos fundamentos tecnológicos das
práticas sanitárias, na formação dos serviços de saúde no Estado de São Paulo,
entre a Proclamação da República, em 1889 e 1911. A caracterização
epidemiológica e demográfica do Estado no período mostrou que o fio condutor da
ação sanitária estadual foi o combate às doenças epidêmicas, em especial a
febre amarela, que repercutia no funcionamento da máquina administrativa, no
cotidiano da população e nas atividades do complexo cafeeiro, desde a imigração
subsidiada até a exportação da produção. O padrão tecnológico dos serviços
sanitários, de ações de polícia médica executadas na forma de campanhas
sanitárias, teve seus fundamentos discutidos a partir dos debates médicos em
torno das teorias sobre as formas de propagação, tratamento e profilaxia da
febre amarela, encerrados no início do século XX, com a aceitação da teoria da
transmissão da doença pelo vetor. A formação e o funcionamento dos serviços
sanitários no interior paulista apresentaram muitas particularidades em relação
aos principais centros urbanos do Estado. As relações das lideranças políticas
municipais e estaduais, sob o chamado pacto coronelista, suporte regional para
a estrutura de poder oligarquizada da Primeira República, foi fundamental na
conformação assumida pelos serviços sanitários no período. Através dos debates
no Legislativo estadual, identificou-se o papel de aspectos do ideário
republicano, como a defesa do princípio da autonomia municipal e das liberdades
individuais, na gestão dos serviços de saúde. A influência desses princípios
foi mais marcante no início do período republicano, até 1896, quando predominou
um modelo municipalizante dos serviços sanitários. A partir de então, saiu
vencedor o pragmatismo das oligarquias cafeeiras, em defesa de seus interesses
políticos e econômicos imediatos, resultando na estadualização das ações
sanitárias.
TELAROLLI
JR., Rodolpho. Habitação, saúde e saneamento em São Paulo na República Velha.
D.O. Leitura, v. 12, n. 143, p. 13-14, 1994.
RESUMO:
Neste artigo são descritas as características físicas das casas e vias públicas
dos bairros proletários de São Paulo e das cidades interioranas do Estado no
final do século XIX. As condições de iluminação, de aeração e de saneamento
básico são relacionadas à ocorrência das epidemias de febre amarela, cólera e
outras doenças transmissíveis que afetaram a zona cafeicultora paulista na
primeira década da República. É discutido o padrão de intervenção pública sobre
as condições das habitações individuais e coletivas, dentro das concepções
então vigentes sobre a origem e forma de transmissão das doenças
transmissíveis.
TELAROLLI
JR., Rodolpho. O combate à ancilostomose e ao tracoma e as políticas de saúde
em São Paulo. Revista de Ciências Farmacêuticas, São Paulo, 15(supl.):41,
1993/1994.
RESUMO:
Até o início do século XX a prioridade da ação sanitária em São Paulo foi o
combate às doenças epidêmicas que assolavam o porto de Santos e a zona
cafeicultora no interior paulista. Vencido o desafio das epidemias, com o
controle da varíola pela vacinação e a erradicação da febre amarela urbana em
1904, modificou-se o eixo da ação sanitária estadual para as endemias. Entre as
doenças endêmicas que assolavam São Paulo, o tracoma e acilostomíase são as que
mais precocemente tornaram-se alvo da ação estadual, apesar da mortalidade
muito inferior à de outras doenças transmissíveis, como a tuberculose e a
malária. Que fatores influíram na definição dessa ordem de prioridades? Por ser
um estudo histórico da formação dos serviços sanitários no Estado de São Paulo,
ele foi realizado através da recuperação de elementos da história social
paulista, encontrados nos relatórios estaduais de saúde pública, em especial os
relatórios anuais da Secretaria do Interior e da Diretoria do Serviço Sanitário
de São Paulo, além dos debates no Legislativo estadual. Em 1905 o governo
estadual criou o primeiro de uma série de órgãos que teriam por atividade o
controle do tracoma e da ancilostomíase, mas apenas na reforma sanitária de
1917/1918 o controle dessas doenças foi definitivamente institucionalizado,
passando a receber ações permanentes. O que parece ter sido decisivo para a
ênfase assumida por essas endemias, então muito comuns em São Paulo, foi a
conjunção de alguns fatores: a) a natureza extremamente debilitante dessas
doenças, num momento em que a eugenia e a formação de uma nacionalidade
brasileira eram questões muito presentes junto aos políticos e intelectuais
nativos; sob essa perspectiva, retirando do trabalhador as energias, essas
doenças comprometiam o futuro da nação; b) noinício do século XX essa
preocupação com a ancilostomíase aparece em toda a América Latina, capitaneada
pelas campanhas coordenadas pela Fundação Rockefeller; a existência de uma
tecnologia que permitia controlar essas doenças, através de ações específicas,
sem que fosse necessário abordar ou interver sobre as condições de vida ou de
habitação, como na tuberculose e na malária.
TELAROLLI
JR., Rodolpho. Fundamentos tecnológicos das ações sanitárias no Estado de São
Paulo na Primeira República. In: Anais do IX Encontro Nacional de Estudos
Populacionais. Belo Horizonte: ABEP, 1994, v. 3, p. 45-58.
RESUMO:
Na Primeira República a prioridade da ação sanitária em São Paulo foi o
controle das doenças epidêmicas, em especial a febre amarela, que
desestabilizava a vida política e administrativa do Estado, ameaçando as
atividades da cafeicultura em diferentes etapas, da produção à exportação. A
defesa do fluxo de imigrantes estrangeiros contra as epidemias, garantindo a
mão-de-obra indispensável para o café, era um aspecto fundamental da dinâmica
demográfica, sempre presente para o poder estadual, dos legisladores aos
técnicos dos serviços sanitários. As ações sanitárias em defesa da imigração
embasavam-se na combinação dos conhecimentos científicos da nascente
bacteriologia com a teoria ancestral dos miasmas. Através de uma série de
medidas que tinham por objetivo controlar a propagação das epidemias através
dos mecanismos do contágio e da transmissão, doenças como a febre amarela foram
extintas antes mesmo de se conhecer seu agente causal e inseto vetor.
TELAROLLI
JR., Rodolpho. Doenças de notificação compulsória: um indicador de prioridades.
In: Anais do III Congresso Brasileiro, II Congresso Ibero-Americano e I
Congresso Latino-Americano de Epidemiologia. Salvador, abril de 1995, p. 367.
RESUMO:
Esse trabalho teve por objetivo identificar as prioridades sanitárias no Estado
de São Paulo nas três primeiras décadas da República, a partir das sucessivas
mudanças nas listas de doenças de notificação compulsória. O estudo baseou-se
numa análise estruturada da história da saúde pública. Além da legislação
sanitária, utilizamos fontes historiográficas, a literatura médica, a imprensa
diária e os debates legislativos, para identificar as principais tendências nas
ações sanitárias. Em 1893 foi publicada a primeira relação de doenças
notificáveis, incluindo exclusivamente doenças transmissíveis epidêmicas, como
a febre amarela, a varíola e o cólera, padrão que se repetiu nas reformas
legais de 1894 e 1896. Essas doenças eram as que mais prejudicavam a vida
social no período, em especial as atividades produtivas do complexo cafeeiro.
Vencidas as principais epidemias no início do século XX, as doenças endêmicas
ganham importância, detectada com a inclusão do tracoma em 1906. Seguindo esse
tendência, em 1911 foi incluída a malária, a ancilostomose e a lepra, listagem
acrescida da paralisia infantil e epizootias, em 1917. As relações de doenças
de notificação compulsória em São Paulo nas três primeiras décadas da República
acompanharam as prioridades sanitárias do poder estadual. A utilização desse
indicador mostrou-se adequada para validar os resultados do estudo histórico
das práticas sanitárias nesse período.
TELAROLLI
JR., Rodolpho. Origens da municipalização da saúde no Estado de São Paulo: a
Primeira República. In: Anais do IV Congresso Paulista de Saúde Pública. São
Paulo, julho de 1993, p. 16.
RESUMO:
A formação dos serviços sanitários no Estado de São Paulo confunde-se com a
criação de uma estrutura administrativa estadualizada, após a Proclamação da
República. O modelo de gestão dos serviços sanitários, variando entre os pólos
municipalização X estadualização, foi um dos focos das tensões entre os grupos
oligárquicos que se enfrentavam na definição do perfil do Estado republicano.
No campo do ideário político, o princípio da autonomia municipal era um dos
pontos mais tradicionais no republicanismo, desde a década de 1870,
destacando-se no debate que acompanhou a definição de um modelo gerencial para
os serviços sanitários. Apesar das diferenças em relação ao processo
contemporâneo, a municipalização das práticas sanitárias no início do período
republicano foi o primeiro embate importante dos muitos em que a
municipalização esteve em destaque em São Paulo. Nesse momento a concentração
tributária era mais aguda, tornando os municípios mais dependentes política e
administrativamente, de acordo com a estrutura de poder coronelista. A natureza
oligárquica do regime, limitando a participação política, reduzia as
possibilidades progmáticas da ação municipal em saúde.
RESUMOS -
REVISTA DO INSTITUTO DE ESTUDOS BRASILEIROS
Segue-se
abaixo uma relação de artigos publicados na Revista do Instituto de Estudos Brasileiros
cujos temas referem-se à área de história demográfica, acompanhados dos
respectivos resumos quando disponíveis.
BEIGUELMAN,
Paula. A grande imigração em São Paulo - I. (3): 99-116,1968.
COSTA,
Iraci del Nero da. A estrutura familiar e domiciliária em Vila Rica no
Alvorecer do século XIX. (19): 17-36, 1977.
COSTA,
Iraci del Nero da. Nota sobre a posse de escravos nos engenhos e engenhocas
fluminenses (1778). (28):111-113, 1988.
FURTADO,
Joaci Pereira & POLITO, Ronald. Da organização de acervos à descrição de
fontes: Um guia para os documentos de Mariana. (31): 217-226, 1990.
HOLANDA,
Sérgio Buarque de. Movimentos da população em São Paulo no século XVIII. (1):
55-111, 1966.
LUNA,
Francisco Vidal & COSTA, Iraci Del Nero da. Estrutura da massa escrava de
algumas localidades mineiras (1804). (23):137-142, 1981.
RESUMO:
Neste trabalho procuramos determinar em que medida assemelhavam-se
referentemente à sua composição, os contingentes de cativos de algumas
localidades mineiras as quais, embora espacialmente distanciadas, deveram sua
formação a u'a matriz sócio-econômica comum. Como sabido, ao abrir-se o século
XIX, a lida mineratória, em Minas, mostrava-se definitavamente superada. A
decadência abatia-se sobre os núcleos mineiros outrora florescentes; mesmo Vila
Rica, cabeça da Capitania, via-se duramente atingida pela recessão econômica. A
vista disso parece-nos lícito supor que as características da população escrava
identificadas neste estudo deviam-se, em última instância, às vicissitudes da
atividade exploratória e espelhavam o quadro de depauperamento acima aludido.
Selecionamos para estudo as seis unidades distritais componentes do atual
perímetro urbano de Vila Rica (hoje Ouro Preto), os distritos do Abre Campo e
Capela do Barreto -- pertencentes à Freguesia de Barra Longa -- e o de São
Caetano situado, como os dois últimos, no termo de Mariana. Baseamo-nos em
levantamentos censitários efetuados em 1804 e pertencentes ao acervo da Casa
dos Contos.
LUNA,
Francisco Vidal. Estrutura de posse de escravos e atividades produtivas em
Jacareí (1777 a 1829). (28):23-35, 1988.
RESUMO:
Estudou-se a estrutura de posse de escravos e atividades produtivas em Jacareí
entre 1777 e 1829. No período verificou-se expressivo crescimento da população
escrava, particularmente a partir da introdução do café, que substituiu a
produção de gêneros de subsistência e aguardente. Quanto às demais atividades,
como o artesanato e o comércio seu papel parece ter sido de mero suporte da
agricultura.
MARTINS,
Jair de Jesus & SOUZA, Laura de Mello e. O Senado da Câmara e as crianças
expostas: documentos inéditos e considerações sobre Minas Gerais no século
XVIII. (31): 207-216, 1990.
MOTT,
Luiz. A propósito de uma representação a El-Rei sobre a escravatura no Brasil.
(14): 127-136, 1973.
MOTT,
Luiz. Pardos e pretos em Sergipe: 1774-1851. (18): 7-37, 1976.
NOZOE,
Nelson & COSTA, Iraci del Nero da. Sobre a questão das idades em alguns
documentos dos séculos XVIII e XIX. (34): 175-182, 1992.
QUEIROZ,
Maria Isaura Pereira de. Viajantes, século XIX: negras escravas e livres no Rio
de Janeiro. (28):53-76, 1988.
RESUMO:
As narrativas dos viajantes podem ser particularmente proveitosas quando se
trata de levantar as primeiras questões num campo ainda pouco ou nada
explorado, como é o caso das relações entre mulheres negras e mulatas no
Brasil, no séc. XIX. Busca-se mostrar a utilidade deles, por um lado; por
outro, revelar que no interior da camada escrava havia níveis diversos; e ainda
chamar a atenção para o relacionamento entre mulheres negras e mulatas livres e
escravas, isto é, o relacionamento no interior da mesma coletividade étnica,
quando diferenciada segundo os estratos sociais.
QUEIROZ
JúNIOR, Teófilo de. Abolicionismo, um processo em questão. (28):101-108, 1988.
RESUMO:
O abolicionismo caracterizou-se como um processo composto de várias fases e
condicionado por fatores e interesses diversos. A partir de 1866 cresceu a
aspiração pelo fim da escravidão e 1871 marcou o início da campanha abolicionista.
A adesão de personalidades à causa e a reversão das tendências contrárias de
políticos, latifundiários e instituições foram marcantes para o desenrolar dos
acontecimentos. A estrutura social brasileira, baseada na escravidão, a partir
de 1850 começou a apresentar tensões que culminaram na abolição, a qual foi
realizada de acordo com os interesses dos donos do poder. A campanha
abolicionista faz parte do conjunto de fatos históricos que remoldaram a
sociedade brasileira, adaptando-a às condições impostas a nível internacional.
TAVARES,
Luís Henrique Dias. O capitalismo no comércio proibido de escravos. (28):37-52,
1988.
RESUMO:
Destaca-se o período de 1830 a 1858/62 para o estudo das relações entre o
comércio proibido de escravos no Brasil e a expansão do capitalismo mundial.
Sem desprezar as particularidades brasileiras -- como a condição escravagista e
a baixa tecnologia --, ressaltam-se os aspectos do capitalismo dos países
europeus e dos Estados Unidos, além da situação complexa do comércio de
escravos para o Caribe. Conclui-se que o tráfico negreiro se manteve no Brasil
depois de proibido porque ofereceu respostas ao capitalismo e só foi desativado
quando o desenvolvimento do mesmo capitalismo o superou.
Nesta
secção apresentam-se resumos elaborados com base nos arquivos da Fundação
SEADE/DOCPOP, atinentes a parte dos trabalhos catalogados sob a rubrica
"Demografia Histórica". Nos próximos números do BHD dar-se-á continuidade
à publicação desses resumos. Para o acesso aos informes do DOCPOP, contamos com
a preciosa colaboração de sua coordenadora, Sra. Magali Valente. Os
interessados em contatar o SEADE/DOCPOP devem dirigir-se ao endereço:
Fundação SEADE/DOCPOP.
Av. Cásper Líbero, 464, 4o. andar.
a/c Magali Valente.
01033-000 São Paulo, SP.
Tel. (011) 229-2433, ramal 138.
BACELAR,
Carlos de Almeida Prado. Herança em família: a partilha dos engenhos de açúcar
no oeste paulista, 1765-1855. Anais do V Encontro Nacional de Estudos
Populacionais. São Paulo, ABEP, 1986.
RESUMO:
Analisa-se a partilha dos engenhos de açúcar na região do Oeste Paulista, para
o período 1765-1855. Faz-se uma reconstituição dos padrões de comportamento
demográfico do restrito grupo dos senhores de engenho, visando a estabelecer
uma análise demográfica diferencial daqueles grandes proprietários frente à
sociedade paulista como um todo. Objetiva-se, assim, conhecer quais teriam sido
os mecanismos e as estratégias que permitiram a acumulação, reprodução e
transmissão dessas fortunas entre as gerações de cada linhagem familiar.
Diversos aspectos da questão são tratados, como parte do amplo e complexo
mecanismo que permitia a manutenção e reprodução da posição social daqueles
poucos privilegiados domicílios, a saber: migração, processo de escolha do
cônjuge, consangüinidade, regras de sucessão e herança e posse de terra.
BALHANA,
Altiva Pilatti. L'evolution démographique de Curitiba au XIXe. siécle. Sur
l'histoire quantitative du Brésil de 1800 a 1930. Paris, CNRS, 1973.
RESUMO:
Apresenta-se em linhas gerais, na primeira parte, o projeto de pesquisa em
andamento no Departamento de História da Universidade Federal do Paraná, cujos
estudos pretendem reconstituir a sociedade e a economia do Paraná através da
história econômica e social. O objetivo principal da pesquisa é o estudo da
população tradicional paranaense formada nos séculos XVIII e XIX. Ao contrário
dos estudos até então existentes, que se baseavam na avaliação da população
efetuada por viajantes e cronistas, esta pesquisa pretende fazer um
levantamento nos arquivos paroquiais. Na segunda parte, o artigo apresenta os
primeiros resultados obtidos dos estudos iniciados em 1971, com base nos
registros de nascimentos, casamentos e mortes dos arquivos da Paróquia de Nossa
Senhora da Luz de Curitiba. Os dados dos arquivos foram transcritos segundo
séries anuais, por ordem cronológica, de 1801 a 1900, em fichas de
levantamentos nominativos abreviados, adaptadas a partir dos modelos criados
por Michel Fleury e Louis Henry. Os primeiros resultados mostram que o número
de batismos quadruplicou nas duas últimas décadas do século e os gráficos
apresentam o desenvolvimento da população segundo três momentos: o primeiro
apresenta população mais ou menos estável; o segundo, ascendente, reflete o
afluxo de alemães a partir de 1855 e o terceiro representa o estabelecimento de
colônias agrícolas nas proximidades da capital.
BALHANA,
Altiva Pillati & WESTPHALEN, Cecília Maria. Demografia e economia: o
empresariado paranaense, 1829-1929. In: COSTA, Iraci del Nero da (org.).
Brasil: história econômica e demográfica. São Paulo, IPE-USP, 1986, 322 p.,
(Relatórios de Pesquisa, 27).
RESUMO:
Analisa-se a origem étnica dos proprietários de firmas comerciais no Paraná,
entre 1829 e 1929. Estudam-se três períodos: 1829-1853, através do Registro de
Estrangeiros; 1854-1889, pelos anúncios do jornal "O Dezenove de
Dezembro" e de 1890 a 1929, com base nos registros da Junta Comercial do
Paraná. Em 1829, funda-se a primeira colônia alemã, aparecendo mais duas até a
emancipação da província, em 1854. Analisam-se, entre 1854 e 1889, 650 anúncios
de firmas comerciais, das quais 37,25% já são dirigidas por imigrantes ou
descendentes, na maioria de origem alemã (20,0%). A partir de 1890, estuda-se a
cronologia da criação de empresas, destacando-se o crescimento correspondente a
brasileiros, alemães, italianos, sirio-libaneses e a eslavos, dentre outras
nacionalidades. Em relação à distribuição espacial, os fluxos migratórios se
dirigem ao interior do Estado, embora 52,7% das empresas estivessem em
Curitiba. Apresentam-se dados sobre os grupos étnicos existentes ou
predominantes em cada um dos 52 municípios paranaenses. Analisa-se a
distribuição étnica dos empresários em relação ao ramo de atividade da empresa
e ao capital declarado. Como conclusão indica-se que colonos, inicialmente
ligados à agricultura, passaram a atividades comerciais, nos centros urbanos de
maior expressão. Ao termo do período estudado, 60,5% das firmas comerciais eram
dirigidas por imigrantes ou seus descendentes, aos quais cabia 53,0% do capital
declarado.
BASSANEZI,
Maria Silvia C. Beozzo. O acesso à terra e a produção de subsistência do
colonato. Anais do V Encontro Nacional de Estudos Populacionais. São Paulo,
ABEP, 1986.
RESUMO:
Tem-se como objetivo a recuperação do maior número de informações possíveis
sobre uma subpopulação: trabalhadores para o café, de modo especial os colonos
da Fazenda Santa Gertrudes, São Paulo, de 1895 a 1930. Utilizando-se sobretudo
de fontes primárias, documentação da fazenda, relatos de viajantes, relatórios
de órgãos públicos e entrevistas com ex-colonos, estas notas visam a mostrar a
complexidade e diversidade que caracterizavam o usufruto da terra pelo colono,
no interior da grande lavoura. Por outro lado, procura-se estimar a produção de
subsistência a partir da produção para o café e em seguida os rendimentos
gerais obtidos pela família, tendo em vista o seu tamanho e a força de trabalho
que representava.
BASSANEZI,
Maria Silvia C. Beozzo & BAENINGER, Rosana. Uma fonte para os estudos de
população: os registros da hospedaria dos imigrantes de São Paulo. Textos NEPO.
Campinas, NEPO, n. 7, jun. de 1986, p. 25-40.
RESUMOS:
Estas notas visam a dividir com estudiosos da população, informações sobre uma
documentação muito rica existente na Hospedaria dos Imigrantes, do antigo
Departamento de Imigração e Colonização do Estado de São Paulo. A Hospedaria
dos Imigrantes foi criada no final do século XIX, com o objetivo de receber e
distribuir trabalhadores estrangeiros que desembarcavam no porto de Santos.
Estes trabalhadores, em sua grande maioria, dirigiam-se a fazendas de café
paulistas. Entretanto, a partir de 1927 acaba o subsidio à imigração
estrangeira, tomando maior impulso as migrações internas. Tanto os imigrantes
estrangeiros, já em menor número, como os migrantes internos continuaram a
passar pela Hospedaria, como forma de obtenção de emprego. A partir das
informações obtidas através desta fonte de dados, estas notas apresentam as
potencialidades e limitações da mesma, a qual, desde logo, deve ser tomada como
capaz de lançar luz sobre nosso passado populacional recente, bem como abrir
caminho para novos estudos no campo de nossa história demográfica.
BURMESTER,
Ana Maria de Oliveira. Contribuição metodológica para estimativas da
mortalidade: Curitiba, século XVIII. In: COSTA, Iraci del Nero da (org.).
Brasil: história econômica e demográfica. São Paulo, IPE-USP, 1986, 322 p.,
(Relatórios de Pesquisa, 27).
RESUMO:
Discute-se a metodologia para estimar a taxa de mortalidade da população
brasileira do passado. Utilizam-se dados referentes à população livre de
Curitiba (PR), entre 1831 e 1798, extraídos de registros paroquiais, listas de
habitantes e fichas de reconstituição de família. Para minimizar os efeitos
perturbadores das migrações, analisam-se, apenas, os elementos naturais, ou
seja, casais em que os cônjuges haviam nascido e casado em Curitiba e dos quais
se conhecia a idade precisa ao casar. Estima-se, também, a mortalidade
infantil. Pela análise das fichas de família, o nível da mortalidade geral
correspondia a uma esperança de vida de 30 a 35 anos ao nascer. Utilizando-se o
registro de óbitos e as listas nominativas, a esperança de vida ao nascer
colocava-se entre os 30 e os 40 anos. A mortalidade infantil foi estimada em
114/1.000. Relacionando-se as crianças presentes na lista nominativa de 1798
com os nascimentos ocorridos nos dez anos anteriores, verifica-se que a tábua
modelo de mortalidade da ONU mais adequada é a de nível 35, indicando uma
esperança de vida ao nascer de 37,5 anos na média para os dois sexos.
COSTA,
Iraci del Nero da (org.). Brasil: história econômica e demográfica. São Paulo,
IPE-USP, 1986, 322 p., (Relatórios de Pesquisa, 27).
RESUMO:
Reúnem-se quatorze textos sobre demografia histórica e história econômica do
Brasil, alguns dos quais já publicados em outras fontes. Os textos cobrem
diversos lapsos temporais e áreas geográficas, de 1550 a 1929 e do Piauí a
Santa Catarina. Utilizam-se várias metodologias e técnicas de análise, as quais
apresentam aspectos distintos da demografia e da economia brasileiras, a partir
de variada abordagem e tratamento de dados.
FREITAS,
José Luiz de. O mito da família extensa: domicilio e estrutura fundiária em
Jundiai. In: COSTA, Iraci del Nero da (org.). Brasil: história econômica e
demográfica. São Paulo, IPE-USP, 1986, 322 p., (Relatórios de Pesquisa, 27).
RESUMO:
Estuda-se a composição do domicílio no meio rural de Jundiaí (SP), a partir do
Inventário de Bens Rústicos e do levantamento de população, ambos de 1818.
Analisam-se dados referentes a 243 domicílios, com 1.221 habitantes livres e
998 escravos. Os proprietários, classificados quanto à área possuída,
distribuíam-se em pequenos (23,9%), médios (40,3%), grandes (20,6%) e latifundiários
(15,2%). Os domicílios são classificados em singulares (3,7%), desconexos
(4.9%), nucleares (60,9%) e extensos (30,5%). Destaca-se o número irrisório de
fogos chefiados por pessoas sós e o predomínio de domicílios nucleares, dos
quais 60,3% não apresentam escravos. Existe uma relação inversamente
proporcional entre presença de escravos e a presença de agregados nos
domicílios, havendo um maior número de escravos entre os grandes proprietários.
Não se define o modelo de família extensa tradicionalmente colocado como
predominante, observando-se, por fogo, a média de 5,1 pessoas livres e de um a
três filhos. Analisando-se a elite econômica da região não se notam diferenças
fundamentais da mesma com respeito às outras camadas econômicas no que tange à composição
dos domicílios.
HERRMANN,
Lucila. Evolução da estrutura social de Guaratinguetá num período de trezentos
anos. São Paulo, IPE-USP, 1986, 326 p., edição fac-similada.
RESUMO:
Analisam-se os motivos pelos quais em Guaratinguetá (SP) os valores tradicionais
não foram abalados pela difusão cultural externa, como em outras cidades.
Utilizam-se dados retirados de diversas fontes (Livro de Tombo da Matriz,
levantamentos populacionais etc.). Destacam-se quatro períodos históricos:
ciclo da economia de subsistência (1630-1775); ciclo dos engenhos (1775-1836);
ciclo do café (1805-1920) e ciclo atual (1920-1944). Em cada ciclo são
analisados os aspectos: evolução ecológica, estrutura econômica, estrutura das
famílias, estrutura política, composição da população e aspectos culturais. Por
evolução ecológica entende-se a dinâmica demográfica e o desenvolvimento urbano
e rural. Apresentam-se considerações gerais sobre cada ciclo e uma conclusão
final, nas quais se contempla o sentido da evolução histórica e as forças que
atuaram na formação da cidade. Indica-se que a causa determinante da estrutura
social de cada ciclo era proveniente muito mais da constituição do meio social
interno, criado por forças históricas locais, do que de causas externas. Além
disto, os períodos de transição entre os ciclos, quando originados de uma
substituição voluntária, eram curtos, a mudança era rápida e a população a
aceitava. Quando os períodos de transição resultavam de uma substituição
imposta, a sua duração mostrava-se longa e a população demorava a aceitar a
mudança, que se dava de maneira lenta e parcial.
KLEIN,
Herbert S. Os homens livres de cor na sociedade escravista brasileira. Dados -
Revista de Ciências Sociais. Rio de Janeiro, no. 17, 1978, p. 3-27.
RESUMO:
O papel dos homens livres de cor nas sociedades escravistas oferece indicações
importantes sobre o padrão de estratificação social das mesmas. Seus números
totais e taxas de crescimento, mobilidade ocupacional, estilo de vida e padrões
de integração apresentam pistas para o estudo da natureza da integração racial
após a início das manumissões, e também ajudam a definir os limites e
possibilidades da vida do escravo. Dentre as sociedades escravistas das
Américas, o Brasil possuía um dos maiores contingentes de homens livres de cor.
No artigo são oferecidas estimativas sobre os efetivos totais do aludido
segmento populacional e outras mais concernentes à sua distribuição, taxa de
mobilidade social e econômica. As fontes primárias utilizadas foram os censos
regionais e o de âmbito nacional. Considera-se que o crescimento natural, por
si, não poderia ser responsabilizado pelo grande aumento deste segmento, o qual
contava com mais da metade de toda a população afro-brasileira ao fim do
tráfico de escravos, em 1850. Provavelmente seria a constante manumissão de
mulheres jovens e crianças o principal fator explicativo do referido
crescimento. Enquanto os dados sobre mobilidade ocupacional ainda se apresentam
muito fragmentários para permitir o estabelecimento de conclusões definitivas,
os dados referentes às taxas de nupcialidade e de nascimentos de filhos
legítimos mostram que os homens libertos tornaram-se um grupo intermediário
colocado entre a população branca livre e a de cativos.
KLEIN,
Herbert S. O tráfico de escravos africanos para o Rio de Janeiro, 1795-1811.
In: COSTA, Iraci del Nero da (org.). Brasil: história econômica e demográfica.
São Paulo, IPE-USP, 1986, 322 p., (Relatórios de Pesquisa, 27).
RESUMO:
Analisa-se o volume do comércio de escravos entre a África e o Rio de Janeiro,
detalhando-se os portos de origem. Estuda-se a mortalidade dos escravos durante
a travessia transatlântica. Utilizam-se, como fonte de dados, listas navais de
desembarque, encontradas no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro. Tais listas
eram mantidas por oficiais reais a fim de controlar o pagamento de impostos.
Apresentam-se dados, comparados a informações concernentes a outras regiões da
América, sobre a quantidade de navios, a freqüência com que se realizavam as
viagens e a taxa de mortalidade ao final delas. Para 351 desembarques no porto
do Rio de Janeiro, obteve-se uma taxa média de mortalidade de 93/1.000, entre
1795 e 1811. Esta taxa, menor do que as encontradas no comércio de escravo para
outras áreas, é considerada alta em relação às que vigoravam, no período, na
Europa. Com respeito à variação das taxas em torno daquele valor médio são
aventadas hipóteses relacionadas a distintos fatores: surto local de doenças,
crises econômicas e/ou ecológicas nos pontos de partida, rebeliões a bordo etc.
LUNA,
Francisco Vidal. Estrutura da posse de escravos em Minas Gerais (1804). In:
COSTA, Iraci del Nero da (org.). Brasil: história econômica e demográfica. São
Paulo, IPE-USP, 1986, 322 p., (Relatórios de Pesquisa, 27).
RESUMO:
Analisa-se a estrutura demográfica e sócio-econômica de 10 localidades de Minas
Gerais, em 1804, após o esgotamento das ocorrências de ouro. Apresentam-se
dados coletados em listas nominativas de habitantes que se encontram no Arquivo
Nacional do Rio de Janeiro. Analisam-se os dados relacionados a proprietários e
escravos, tais como: quantidade de escravos possuídos, faixas etárias, sexo,
origem e atividades econômicas desenvolvidas.
MARCÍLIO,
Maria Luiza. Problemes de l'histoire quantitative du Brésil: mètrologie et
démographie. Sur l'histoire quantitative du Brésil de 1800 a 1930. Paris, CNRS,
1973.
RESUMO:
Salienta-se a dificuldade encontrada pelos pesquisadores no que se refere à
história quantitativa do Brasil. Escolhem-se dois aspectos do campo da
demografia histórica para se colocar o problema: a metrologia e a demografia.
Destaca-se entre os problemas mais espinhosos para a elaboração de séries
homogêneas o da conversão de pesos e medidas antigos em valores atuais, pois
além da diversidade das medidas empregadas o Brasil apresenta enorme extensão
territorial, donde a existência de discrepâncias regionais. No domínio da
demografia histórica brasileira é possível identificar três períodos distintos
quanto a natureza e existência de fontes: o período pré-estatistico, o proto-estatistico
e a era estatística; conclui-se que os pesquisadores deveriam concentrar-se
preferencialmente na época proto-estatistica visto que, entre outros motivos,
este material encontra-se em vias de desaparecer por estar em precário estado
de conservação e faltarem recursos para preservá-lo adequadamente.
MARCÍLIO,
Maria Luiza. População e força de trabalho em uma economia agrária em mudança:
a província de São Paulo no final da época colonial. Revista de História. São
Paulo, n. 114, jan./jun. de 1983, p. 21-30.
RESUMO:
Analisam-se as listas nominativas de habitantes da Capitania de São Paulo para
os anos: 1798, 1808, 1818 e 1828. Neste período, a população cresceu 77%,
passando de 162.345 a 287.645 almas. Historia-se o desenvolvimento da Capitania
que, após um longo período dedicado à agricultura de subsistência, passou a
conhecer um grande crescimento demográfico e da produção agrícola, estimulados
pela Coroa portuguesa. O aumento populacional foi diferenciado para as
populações livre e escrava. Entre 1798 e 1828, a razão de masculinidade dos
livres passou de 93,2 para 91,5, indicando certa estabilidade, enquanto entre
os cativos saltou de 117,3 para 154,1. O impacto do crescimento também se deu
diferencialmente nos dois grupos no tocante à estrutura etária. A população
livre manteve-se essencialmente jovem, com cerca de 53% de seus efetivos na
faixa dos 15 aos 64 anos. A porcentagem de escravos em tal faixa de idades
cresceu de 68 a 70% no mesmo período. Estudam-se as mudanças estruturais da
composição do domicilio e em relação à posse de escravos. Faz-se uma
classificação ocupacional, por setores econômicos, dos chefes de domicílios.
Quanto ao setor primário, indicam-se as localidades ligadas às principais
culturas e atividades pastoris. O setor secundário permaneceu estável no
período e o terciário apresentou leve aumento, crescendo em atividades ligadas
ao comércio. As evidências indicam mudanças demográficas e sócio-econômicas
numa fase de transição, na qual convivem a agricultura de subsist6encia e agricultura
capitalista de exportação.
MARCÍLIO,
Maria Luiza. O casamento e a família na demografia histórica: dados vitais e a
reconstituição de famílias. Cadernos CERU. São Paulo, CERU, n. 19, jun. de
1984, p. 35-43.
RESUMO:
Os estudos monográficos que vêm sendo efetuados, no campo da demografia
histórica, e em especial aqueles fundamentados na metodologia da reconstituição
de famílias, têm provocado uma verdadeira revolução nas formas de se fazer
história, nos enfoques, temáticas e perspectivas de se observar o homem em
coletividades, na compreensão de seus padrões de comportamento, de atitudes, de
normas e valores que regem as comunidades humanas e suas mudanças no passado.
Pretende-se, neste estudo, apresentar as potencialidades e as técnicas de
trabalhar os registros paroquiais de batismos, casamentos e óbitos (antes da
implantação do Registro Civil obrigatório no Brasil - 1890), com fins de se
chegar à reconstituição de famílias e, por aí, ao estudo do casamento e da
família no passado, conforme as propostas da demografia histórica.
MELLO,
Zélia Maria Cardoso de. Os escravos nos inventários paulistanos da segunda
metade do século XIX. In: BARRETO, Antonio E. M. et alii. História
econômica: ensaios. São Paulo, IPE-USP, 1983, 181 p.
RESUMO:
Analisam-se as informações sobre proprietários e escravos, levantadas em
inventários existentes no Arquivo do Fórum de São Paulo, de 1845 a 1895. Os
dados foram extraídos de 796 documentos relativos a 309 proprietários e 2.396
escravos. Destaca-se a pequena importância econômica da capitania de São Paulo
até o advento da ferrovia, o êxito da economia cafeeira e o surto da imigração
européia. A massa de escravos é apresentada segundo faixas etárias, origem e
sexo. Por fim, analisa-se os preços dos cativos quanto ao grupo etário e ao
sexo, concluindo-se por uma maior valorização dos escravos na faixa dos 15 aos
35 anos. No inicio do período sob análise não havia diferença maior entre os
preços de homens e mulheres, mas, na curso do tempo, revelou-se discrepância
favorável os homens, divergência esta que volta a desaparecer já ao fim do
lapso temporal contemplado.
MIRA,
Marly A. F. B. A história demográfica da ilha de Santa Catarina e o continente
fronteiriço. In: COSTA, Iraci del Nero da (org.). Brasil: história econômica e
demográfica. São Paulo, IPE-USP, 1986, 322 p., (Relatórios de Pesquisa, 27).
RESUMO:
Analisam-se os registros paroquiais de 17 paróquias e um curato da Ilha de
Santa Catarina e do continente fronteiriço, relativos a batismos, casamentos e
óbitos, para o período 1714-1910. Descreve-se o início da colonização com a
chegada de açorianos, entre 1748 e 1756. Entre 1778 e 1800, a taxa de
natalidade era de 35/1.000, mas o crescimento demográfico era freado pelo alto
índice de mortalidade. O movimento sazonal de concepções mostra, no início do
período estudado, um comportamento tradicional de respeito às normas
religiosas. A taxa de mortalidade, maior no inverno que no verão, manteve-se
quase sempre acima de 25/1.000, sendo as doenças infecciosas as principais
causas de morte. A família legitima era a regra, com o número de filhos
variando de 4 a 6, e decrescente no correr do tempo. A população escrava tinha
comportamento distinto, pois a mortalidade (30 a 45/1.000) e a natalidade não
apresentavam variação sazonal. Conclui-se que os imigrantes trouxeram padrões
demográficos tradicionais, enquanto os escravos compunham uma estrutura
demográfica paralela e distinta.
PAIVA,
Clotilde Andrade. Minas Gerais no século XIX: aspectos demográficos de alguns
núcleos populacionais. In COSTA, Iraci del Nero da (org.). Brasil: história
econômica e demográfica. São Paulo, IPE-USP, 1986, 322 p., (Relatórios de
Pesquisa, 27).
RESUMO:
Analisam-se as listas nominativas de habitantes de alguns distritos dos
municípios de Ouro Preto, Mariana e Pitangui (MG), em 1831. As listas cobrem a
população de Ouro Preto, do centro urbano de Mariana e de 30% de Pitangui. Tais
fontes indicam 12.253 habitantes no primeiro núcleo, 2.959 em Mariana e 8.079
naquele último; sendo livres, respectivamente: 68,2%, 71,3% e 69,4%. As
mulheres predominavam entre os livres e os homens no segmento de cativos. A
razão de masculinidade parece indicar uma saída de homens adultos livres.
Quanto à idade, considera-se elevada a proporção da população jovem livre em Ouro
Preto e Pitangui (acima de 40% para o grupo de 0 a 19 anos de idade), um pouco
superior ao valor encontrado para Mariana. A incidência de casamentos entre os
escravos revelou-se muito baixa, variando de 3,8% para os homens (Ouro Preto) a
22,78% quanto às cativas (Pitangui). A média de habitantes por domicilio era de
4,97 em Mariana, 6.68 em Ouro Preto e de 6,14 em Pitangui. Mais de 60% dos
fogos não contavam com escravos. Considerando-se os fogos com escravos chega-se
ao número médio de 3,82 escravos por domicílio em Mariana, 6,55 em Ouro Preto e
de 5,55 em Pitangui. Por fim, estima-se a taxa bruta de natalidade para livres
e escravos em Mariana, obtendo-se 31 por mil e 18 por mil, respectivamente.
Conclui-se que a situação de um modo geral coincide com a encontrada em outros
núcleos urbanos do século XIX, embora os níveis de fecundidade tenham-se
revelado inferiores aos esperados.
PENA,
Maria Valéria J. A participação das mulheres na luta dos trabalhadores e no
movimento sindical. In: CNDM (ed.), Mulher Trabalhadora. Brasília, Conselho
Nacional dos Direitos da Mulher, jan. de 1986.
RESUMO:
Analisa-se a trajetória da participação feminina no mercado de trabalho do
período do Império a 1919. Levantam-se os principais acontecimentos e mudanças
ocorridos no correr do tempo. Discute-se o acesso progressivo da mão-de-obra
feminina no mercado de trabalho industrial e os primeiros movimentos
reivindicatórios femininos, chegando-se às greves gerais por aumento de
salários ocorridas em 1917, São Paulo, e em 1919, Porto Alegre.
POSSE,
Zulmara Clara Sauner. Estudos de população pré-histórica. Revista Brasileira de
Estudos de População. Campinas, ABEP, v. 2, n. 2, jul./dez. de 1985, p. 99-127.
RESUMO:
A questão das populações pré-históricas encontra-se neste trabalho associada à
análise conjunta da depopulação indígena. Dois momentos caracterizam a
abordagem. No primeiro, a revisão bibliográfica para a América evidencia como a
combinação de métodos e técnicas arqueológicas e históricas tem permitido
analisar a população pré-colombiana no período imediatamente anterior à
conquista. Demostra o processo catastrófico da depopulação indígena, a partir
da ocupação européia. No segundo momento, coloca a problemática da metodologia
empregada através da paleodemografia, na avaliação das populações
pré-históricas que não tiveram contato com sociedades históricas. Mostra como
estas avaliações mantêm relações complexas com a estrutura social dos grupos,
interferindo na análise. Procura, utilizando cálculos, obter a população de sítios
pré-históricos do tipo sambaqui, no Paraná.
RABELLO,
Elizabeth D. A cidade de São Paulo e sua estrutura profissional: 1804-1825. In:
COSTA, Iraci del Nero da (org.). Brasil: história econômica e demográfica. São
Paulo, IPE-USP, 1986, 322 p., (Relatórios de Pesquisa, 27).
RESUMO:
Analisam-se a estrutura ocupacional e os setores econômicos existentes em São
Paulo (SP) em 1804 e 1825. Os dados, retirados dos Maços de População do
Arquivo Publico do Estado de São Paulo, foram organizados de sorte a apresentar
as ocupações dos habitantes livres segundo o sexo, cor, localidade e setor
econômico. Não se analisa a população escrava dada a inexistência de menção
especifica sobre a ocupação de cada cativo. São considerados os três setores
clássicos: primário (agropecuária), secundário (artesanato) e terciário
(profissões liberais, comércio etc.). Algumas "atividades", não
passíveis de classificação, foram computadas à parte: estudantes e pobres,
dentre outras. Para 1804 foram estudadas três companhias (áreas centrais da
cidade de São Paulo) e três freguesias: da Penha, do Ó e de Sant'Ana) nas quais
foram computados 1.458 fogos; já para 1825, além destas, foram consideradas
mais nove companhias, chegando-se ao total de 1.526 fogos. O setor primário,
quase inexistente nas companhias, predominava em larga medida nas freguesias.
Os setores secundário e terciário equilibravam-se nas companhias, em 1804, mas
o terciário já se mostrava predominante em 1825. Em relação ao sexo e cor, os
homens e os brancos compunham a maioria em ambos levantamentos; as mulheres e
os mulatos chegavam a 30% cabendo aos negros uma participação inexpressiva.
Apresentam-se as denominações das ocupações e análises cruzadas dos dados
relativos a todas as variáveis. Destaca-se uma presença maior de homens e de
brancos ligados ao terciário, com as mulheres, mulatos e negros mais presentes
no secundário. Indica-se, como conclusão, a intensificação do setor terciário a
marcar a solidificação da função comercial da cidade.
RESUMO
HISTÓRICO dos inquéritos censitários realizados no Brasil. São Paulo, IPE-USP,
1986, 83 p., edição fac-similada.
RESUMO:
Descreve-se a evolução dos trabalhos para a realização dos censos demográficos
do Brasil, entre 1872 e 1920 e analisa-se a legislação referente ao tema.
Apresentam-se os resultados globais dos levantamentos e estimativas da
população de cada uma das 20 unidades da federação e do Distrito Federal
(Município do Rio de Janeiro), realizados desde o período colonial; estes
levantamentos constam do trabalho de Joaquim Norberto de Souza e Silva, de
1870, intitulado "Investigações sobre os recenseamentos da população geral
do Império e de cada província de per si tentados desde os tempos coloniais até
hoje" (q.v.) e são complementados pelos dados disponíveis até 1920.
SBRAVATI,
Myriam. São José dos Pinhais, 1776-1852: uma paróquia paranaense em estudo.
Curitiba, 1980, 187 p., mimeografado.
RESUMO:
Estudo do movimento populacional de São José dos Pinhais, no qual se faz o
aproveitamento e interpretação quantitativa e qualitativa dos registros
paroquiais. É examinada, primeiramente, a conjuntura histórica da Freguesia nos
séculos XVIII e XIX. A seguir, analisa-se a dinâmica demográfica da paróquia
através de seus três momentos vitais básicos: nascimento, casamento e morte; procura-se
detectar as flutuações demográficas no tempo, bem como sua evolução a longo
prazo. Através da tabulação dos dados brutos são elaborados gráficos
específicos para a população livre e escrava. Observa-se que, em geral, o
desenvolvimento da população desta paróquia assemelha-se ao de outras
localidades, para o período estudado.
SCHWARTZ,
Stuart B. A população escrava na Bahia. In: COSTA, Iraci del Nero da (org.).
Brasil: história econômica e demográfica. São Paulo, IPE-USP, 1986, 322 p.,
(Relatórios de Pesquisa, 27).
RESUMO:
Analisam-se as características demográficas dos escravos da Bahia, entre o
século XVIII e início do XIX. Tal população apresentava uma taxa negativa de
crescimento natural devido à alta mortalidade e à baixa fecundidade, o que tornava
necessária uma constante importação de cativos africanos a fim de atender aos
interesses econômicos dos escravistas. Apresentam-se informações sobre o
tráfico, com locais de origem e quantidade de escravos trazidos para a Bahia,
de 1681 a 1830. Em sua maioria, estes escravos eram adultos do sexo masculino,
sendo poucas as crianças. A facilidade da importação, sendo Salvador um
importante porto de desembarque, era fator de manutenção da aludida taxa de
crescimento, pois se tornava mais barato comprar novos escravos do que criar
crianças até a idade produtiva. Uniões entre escravos não eram estimuladas a
não ser nas fazendas mantidas pela Igreja. A baixa fecundidade era decorrente
deste e de outros fatores, tais como: a prática do aleitamento materno prolongado,
o predomínio numérico de homens e, eventualmente, a própria atitude dos
escravos contrária à geração de filhos cativos. A taxa de mortalidade entre os
escravos, por outro lado, era alta, devido às duras condições de trabalho,
principalmente nas plantações de cana. Por fim, analisam-se dados retirados de
relações de escravos da Fazenda Saubará para o período 1750-1760.
SILVA,
Joaquim Norberto de Souza e. Investigações sobre os recenseamentos da população
geral do Império e de cada província de per si tentados desde os tempos
coloniais até hoje. São Paulo, IPE-USP, 1986, 163 p., edição fac-similada.
RESUMO:
Apresenta-se o resultado da primeira tentativa de realização de um censo
demográfico geral no Brasil, a partir de pedidos de informações endereçados aos
presidentes das 20 províncias existentes em 1870. Apenas 13 províncias enviaram
dados em resposta ao pedido, sendo a maioria das informações baseada em
levantamentos parciais, sem fundamentação estatística adequada. Comentam-se as
estimativas da população realizadas por vários autores, de 1776 a 1869 e
examina-se o desenvolvimento da legislação referente aos levantamentos
populacionais. Apresentam-se, separadamente, os dados relativos a cada
província e à Corte (município do Rio de Janeiro), desde os primeiros
levantamentos conhecidos, incluindo as populações de livres e escravos,
distribuídas por sexo. São descritas as várias formas utilizadas para o
arrolamento da população, em diversas épocas, tais como a estimativa de
crescimento, o uso de listas nominativas e levantamentos populacionais. Para a
Corte e algumas províncias apresentam-se dados quanto a raça, naturalidade,
estado conjugal, religião e grupos etários das populações livre e escrava, e
dados gerais da população indígena.
SLENES,
Robert W. Grandeza ou decadência? O mercado de escravos e a economia cafeeira
da província do Rio de Janeiro, 1850-1888. In: COSTA, Iraci del Nero da (org.).
Brasil: história econômica e demográfica. São Paulo, IPE-USP, 1986, 322 p.,
(Relatórios de Pesquisa, 27).
RESUMO:
Discute-se a bibliografia sobre o café e a escravidão no Rio de Janeiro,
examinando-se a evolução da população escrava e do volume do comércio de
escravos entre o fim do tráfico africano e a abolição. Apresentam-se dados que
contrariam a tese de que o auge da economia cafeeira do Vale do Paraíba
fluminense se deu nas décadas de 1850 e 1860, entrando em declínio a partir
deste último marco. Demonstra-se, ao contrário que houve um crescimento
econômico na área, a contar dos anos 70 até, praticamente, a abolição.
Descartam-se argumentos sobre a pretendida decadência como os baseados no apego
dos fazendeiros fluminenses às suas terras ancestrais ou à rotina agrícola,
concluindo-se que, tanto para estes, como para os fazendeiros do oeste
paulista, a escravidão ainda iria perdurar por muito tempo, parecendo ser uma
atividade lucrativa em 1870.
VENÂNCIO,
Renato Pinto. A madrinha ausente: condição feminina no Rio de Janeiro
(1750-1800). In: COSTA, Iraci del Nero da (org.). Brasil: história econômica e
demográfica. São Paulo, IPE-USP, 1986, 322 p., (Relatórios de Pesquisa, 27).
RESUMO:
Analisa-se a reclusão doméstica das mulheres na cidade do Rio de Janeiro,
apresentam-se dados retirados de 2.110 registros de batismo de crianças livres,
entre 1768 e 1783. Comentários extraídos de relatos de viajantes do século
XVIII indicam que as mulheres livres dificilmente apareciam nas ruas.
Constata-se que a cerimônia de batismo contava com o comparecimento maciço das
mães, mas com apenas 30 ou 40% das madrinhas, para o caso de filhos ilegítimos
ou legítimos, respectivamente. As madrinhas ausentes eram representadas por
procuração (maridos, filhos ou padres), ou pela indicação de Nossa Senhora do
Parto, com a finalidade de resguardar as mulheres da vida secular. Conclui-se pela
impossibilidade de existir homogeneidade na condição feminina, pois
encontram-se diversas categorias de mulheres: livres, forras, escravas; ricas e
pobres; brancas, pardas e negras; solteiras, casadas e viúvas; existindo, pois,
a várias possibilidades de diferenciação entre elas.
ALANIZ,
Anna Gicelle Garcia. Ingênuos e libertos: Estratégias de sobrevivência familiar
em épocas de transição (1871-1995). São Paulo: FFLCH-USP, 1994. (Dissertação de
Mestrado).
ALVES,
Maurício Martins. Caminhos da pobreza: a manutenção da diferença em Taubaté
(1680-1729). Rio de Janeiro: IFCS-UFRJ, 1995. (Dissertação de Mestrado).
ANDREAZZA,
Maria Luiza & NADALIN, Sérgio Odilon. O cenário da colonização no Brasil
Meridional e a família imigrante. Revista Brasileira de Estudos de População.
São Paulo, 11 (1), jan./jun. de 1994, p. 61-87.
BACELLAR,
Carlos de Almeida Prado. Família e sociedade numa economia de abastecimento
interno (Sorocaba, séculos XVIII e XIX). São Paulo: FFLCH-USP, 1994. (Tese de
Doutorado).
BARROSO,
Vera Lúcia Maciel. Novas fontes para a história da escravidão negra no
RS/ISCMPA (1850-1900). Estudos Ibero-Americanos. Porto Alegre, XVI (1,2),
jul./dez. de 1990, p. 57-67.
CARVALHO,
Cônego José G. de. Temas de história da igreja no Brasil. Viçosa: Folha de
Viçosa, 1994.
CARVALHO,
Cônego José G. de. A escravidão: convergências e divergências. Viçosa: Folha de
Viçosa, 1994.
CASTRO,
Hebe Maria da Costa Mattos Gomes de. A cor inexistente os significados da
liberdade no Sudeste escravista (Brasil: século XIX). Niterói: UFF, 1993. (Tese
de Doutoramento).
CENTRO
DE MEMÓRIA UNICAMP, Boletim. Campinas, 5 (10), jul./dez. 1993.
DEMOGRAFICA.
Publicação do Núcleo de Estudos Populacionais (CODEPLAN). Brasília, 1 (1),
jan./mar. de 1995.
FARIA,
Sheila Siqueira de Castro. A colônia em movimento fortuna e família no
cotidiano colonial (Sudeste, século XVIII). Niterói: UFF, 1994. (Tese de
Doutorado).
IRMANDADE
SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE PORTO ALEGRE. Negros cativos e livres na
Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Porto Alegre: Centro de
Documentação e pesquisa (CEDOP), 1994.
LEWKOWICZ,
Ida. As mulheres mineiras e o casamento: estratégias individuais e familiares
nos séculos XVIII e XIX. História. São Paulo, 12, 1993, p. 13-28.
NOTÍCIA
BIBLIOGRÁFICA E HISTÓRICA. Campinas, XXVII (157), jul./set. 1994.
NOTÍCIA
BIBLIOGRÁFICA E HISTÓRICA. Campinas, XXVII (157), jan./jun. 1995.
SALVADOR,
José Gonçalves. A capitania do Espírito Santo e seus engenhos de Açúcar
(1535-1700). Vitória: Secretaria de Produção e Difusão Cultural, 1994.
SAMARA,
Eni de Mesquita. Feminismo, cidadania e trabalho: o Brasil e o contexto
latino-americano nos séculos XVIII e XIX. São Paulo: FFLCH-USP, 1994. (Tese de
Livre-Docência).
TELAROLLI
JR., Rodolpho. Habitação, saúde e saneamento em São Paulo na República Velha.
D. O. Leitura. São Paulo, 12 (143), abril de 1994, p. 13-14.
TELAROLLI
JR., Rodolpho. A secularização do registro dos eventos vitais no Estado de São
Paulo. Revista Brasileira de Estudos de População. São Paulo, 10 (1/2),
jan./dez. de 1993, p. 145-159.
UNITED
NATIONS. Population Situation in 1993. New York: United Nations, 1994.
UNITED
NATIONS. The health rationale for family planning: Timing of births and child
survival. New York: United Nations, 1994.
UNITED
NATIONS. Population Newsletter. New York, 58, december 1994.
VILLALTA,
Luiz Carlos. Gonzaga ou o avesso do fanfarrão: o poder da linguagem e a
linguagem do poder. História. São Paulo, 12, 1993, p. 319-329.
Os
livros, cópias de artigos publicados e exemplares de monografias, de
dissertações e de teses que nos forem enviados, serão regularmente divulgados
nesta secção e incorporados ao acervo da Biblioteca da FEA-USP.
BHD - IRACI COSTA.
R. Dr. Cândido Espinheira, 823, Ap. 21.
05004-000, São Paulo, SP.
BRASIL.
Damos
prosseguimento à apresentação dos resultados parciais do Censo de Demografia
Histórica, cujo objetivo é proceder ao levantamento dos estudiosos da área, bem
como de suas respectivas produções científicas.
Os
endereços abaixo apresentam a seguinte forma:
Nome do
pesquisador
Logradouro
CEP Cidade,
Estado (caso se trate do Brasil)
Cidade, Estado
ZIP (caso não se trate do Brasil)
País (caso não
se trate do Brasil)
Telefone
Fax
Instituição à
qual se encontra vinculado
Lucila Reis Brioschi
Rua Boquim, 237
05454-000 - São Paulo - SP
Fone: (011) 818-3735 - Fax: (011) 831-2734
Centro de Estudos Rurais e Urbanos - CERU/USP
Luiz Mott
Rua Teodoro Sampaio, 87
40070-050 - Salvador - BA
Fone: (071) 242-3782 - Fax: (071) 242-3782
Universidade Federal da Bahia - Departamento de
Antropologia
Manolo Florentino
Rua Pinheiro Machado, 75 - ap. 404
22231-090 - Rio de Janeiro - RJ
Fone: (021) 552-7741
Universidade Federal do Rio de Janeiro - Departamento de
História
Wílson José Caritá
Rua Joaquim Ignácio de Campos, 145
13480-363 - Limeira - SP
Fone: (0194) 51-8172
Academia da Força Aérea e Centro de Preservação da Memória
Histórica
de Limeira
Vera Lúcia Maciel Barroso
Av. Des. André da Rocha, 67/91
90050-161 - Porto Alegre - RS
Fones: (051) 334-4680 / 225-6925
Faculdade Porto-Alegrense de Educação, Ciências e Letras e
Centro de
Documentação e Pesquisa da Irmandade da Santa Casa de
Misericórdia
de Porto Alegre (CEDOP)
RELAÇÃO
DE TRABALHOS PUBLICADOS NA ÁREA DE HISTÓRIA DEMOGRÁFICA
A
relação integral e atualizada dos trabalhos e resumos divulgados pelo BHD
acha-se no arquivo denominado ROL -- RELAÇÃO DE TRABALHOS PUBLICADOS --, que
está à disposição dos interessados. Para recebê-lo basta remeter, para o
endereço abaixo, dois disquetes já formatados e a competente solicitação. Tais
disquetes -- se compatíveis com a linha IBM-PC e de dupla face -- podem ser de
qualquer marca, especificação (3 1/2" ou 5 1/4"), densidade (DD-dupla
densidade ou HD-alta densidade) ou capacidade (360 Kb, 700 Kb, 1,2 Mb ou 1,44
Mb).
BHD - IRACI COSTA.
R. Dr. Cândido Espinheira, 823, Ap. 21.
05004-000, São Paulo, SP.
BRASIL.
A
assinatura deste Boletim será efetuada mediante o envio de 20 disquetes, já formatados,
para a Editoria do Boletim. Estamos interessados em receber notas de pesquisa
em andamento, resumos, resenhas e artigos concernentes à área de estudos
populacionais. Tais contribuições poderão ser escritas em português,
castelhano, italiano, francês ou inglês. Reiteramos, ademais, a solicitação da
remessa de trabalhos já publicados e concernentes à nossa área de
especialização. Além de divulgados no Boletim, serão eles incorporados ao
acervo da Biblioteca da FEA-USP. Caso remanesçam dúvidas entre em contato
conosco.