A COPA QUE FOI E A LIÇÃO QUE FICOU

Antonio Sebastião de Lima, advogado, juiz de direito aposentado, professor de direito constitucional 

 

A seleção mexicana de futebol mereceu ganhar a copa das confederações patrocinada pela FIFA, neste sombrio mês de agosto do último ano dos mil e novecentos e noventa e nove da era cristã. Os atletas mexicanos mostraram força, determinação e disciplina tática, dirigidos por um técnico sóbrio e lúcido, todos firmes no propósito de vencer a competição e dar alegria ao seu povo. Demonstraram essa disposição desde o início do certame. A torcida mexicana apoiou a equipe, incentivando-a e comparecendo em massa ao estádio. Vaiou e importunou, sempre que teve oportunidade e durante o jogo, a seleção que ela mais admira: a brasileira. Por três vezes silenciou no estádio, mostrando respeito e  admiração, quando os brasileiros marcaram os seus gols. Mas, logo tal sentimento era superado pela paixão à  camisa e à bandeira mexicanas, mantendo aceso o ânimo dos jogadores em campo. E o técnico afirmando, como fervorosa oração, que aquela taça seria do México. Não havia nisso, menoscabo algum à seleção adversária. Era um ato de fé.   

Como o genial Garrincha - que forma com Leônidas, Domingos da Guia, Zizinho, Didi, Gerson e Pelé a galeria dos maiores jogadores de todos os tempos - alguém devia ter prevenido o técnico da seleção brasileira que haveria adversário naquele jogo. Os mexicanos sabiam que a seleção brasileira não contava com alguns dos seus melhores jogadores, observaram os esquemas luxemburguianos e aproveitaram bem a ocasião. Tecnicamente bons, os atletas brasileiros exibiam insegurança psicológica. Como explicar a presença de psicólogos na comissão técnica, ante aquele despreparo de tantos jogadores? E por que o jogador brasileiro precisa de assistência psicológica? Talvez, para vencer o seu cultural complexo de inferioridade: a) de súdito colonizado; b) de oriundo das camadas pobres da população. Parodiando Saramago, em sua entrevista ao Jô Soares, era tempo de o brasileiro deixar de justificar seus erros lançando a culpa na colonização lusitana, pois, 499 anos são passados, dos quais, os últimos 177, de independência política. As raízes culturais, porém, são muito fortes, e os brasileiros não se empenham em afastar os seus aspectos negativos e destrutivos. Daí a permanência desse complexo, do jeitinho, da corrupção, da esperteza enganosa, do parvo olhar para a metrópole européia (agora, norte-americana), e do apreço pelas bugigangas do primeiro mundo.

A seleção brasileira é o retrato do país: tem talento e riqueza, mas os desperdiça; não sabe aproveitá-los ou valorizá-los; exibe-os para, em seguida, entrega-los de bandeja ao estrangeiro. No jogo com a seleção mexicana os brasileiros comportaram-se como amadores. Atrapalharam-se no conjunto, passes mal feitos e exagerados, jogadas lentas e bisonhas. O técnico ajudou muito neste desacerto. Quando a equipe estava empolgada com o segundo e o terceiro gols, instruiu os jogadores para que “tocassem mais a bola”, ceifando-lhes o impulso e o entusiasmo. E aí foi o que se viu: passe para cá, passe para lá, mais para os lados do que para a frente, o tempo passando e o gol não saindo. Os psicólogos têm que assistir, também, ao técnico, esclarecendo-o, inclusive, sobre alguns pontos básicos, tais como: 1) que velocidade e rapidez não são sinônimos de afoiteza; 2) que não se deve retirar o apetite dos rapazes quando estão com fome de gol; 3) que os craques devem ter maior liberdade em campo para criar e decidir, e que isto não significa humilhação aos demais jogadores  - bons ou medíocres -  do passado e do presente; 4) que arrogância  é diferente de fé e determinação; 5) que humildade artificial retira a pujança da equipe e faz do jogador um idiota; 6) que força e técnica devem ser combinadas com inteligência e senso de oportunidade, durante o jogo; 7) que é nas adversidades que colocamos à prova nosso valor.

Outrossim, a maneira simples, humana e sensata de Feola dirigir uma equipe de futebol devia servir de exemplo aos técnicos brasileiros.

 

 

 

 

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