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Amália Rodrigues |
Se há uma voz que possa ser tomada como referência
e símbolo do povo português, esta é a voz da saudosa Amália Rodrigues. Quer seja por sua musicalidade imbatível,
quer seja por sua história de vida cativante, Amália tornou-se o retrato da música portuguesa em todo o mundo, reinando soberana
por décadas e décadas até sua morte, em 1999.
Amália da Piedade Rodrigues nasceu em 1920,
em Lisboa. Já em 1935, aos quinze anos de idade, a cantora debutou nos palcos ao apresentar-se, acompanhada da guitarra portuguesa,
em uma festa beneficente. Mas foi em 1939 que começou definitivamente sua carreira, no Retiro da Severa, a casa de fados mais
importante da época.
Sua estréia em palcos internacionais deu-se
em 1943, em Madrid, a convite do embaixador lusitano na capital espanhola. Em 1944, Amália viajou pela primeira vez para o
Brasil, mais especificamente para o Rio de Janeiro. Seu sucesso em terras brasileiras foi enorme, obrigando-a a estender uma
temporada prevista de seis semanas para três meses. Amália Rodrigues, inclusive, gravou os primeiros discos (78rpm) em 1945,
no Brasil, para o selo Continental. A grande fadista apresentou-se em muitíssimos países da América, Europa, Ásia e África
no decorrer de sua extensa carreira. Seu primeiro álbum, "Amália Rodrigues Sings Fado From Portugal and Flamenco from Spain",
foi lançado em 1954 nos EUA.
As modernas gerações provavelmente não sabem, mas Amália foi também presença constante nas telas de cinema.
Em 1947, com o filme " Capas Negras", teve sua estréia; a película bateu todos os recordes de exibição à época. Amália Rodrigues viria a atuar posteriormente
em diversas outras películas, tendo sido laureada por suas atuações e cotada para filmar nos EUA. A cantora, contudo, decidiu
à época continuar sua carreira como cantora.
Amália Rodrigues chegou a ser associada ao
regime ditatorial derrubado pela Revolução dos Cravos em 1974, em parte pelo fato de a cantora estar fora do país nos meses
que se seguiram àquele evento. Curiosamente, Amália regressou ao país para demonstrar que apoiava a libertação do povo português
e, como prova disso, passou a cantar em seus espetáculos a canção "Grândola Vila Morena", usada como código e símbolo durante
a revolução.
Em 1961, Amália casou-se, no Rio de Janeiro,
com o engenheiro César Seabra, e chegou a anunciar que iria abandonar a carreira artística e viver no Brasil. Um ano depois,
contudo, Amália regressou para Lisboa, onde viveria com o esposo até o falecimento deste, em 1997. As ligações de Amália com
o Brasil, em verdade, sempre foram muito estreitas, e, além de seu casamento com um brasileiro, por diversas vezes a cantora
portuguesa veio ao Brasil em turnê, sempre com enorme sucesso. Alguns de seus melhores registros ao vivo foram feitos no Brasil,
como "Amália ao vivo no Canecão", registro de um grandioso espetáculo realizado na década de 1970 na famosa casa de espetáculos
carioca, com orquestra e coro. Além disso, Amália foi retratada no palco por Bibi Ferreira, em 2001, em um espetáculo no qual
a grande atriz brasileira "incorporava" magistralmente a eterna rainha do fado. Em vida, a própria Amália chegou a dizer a
Bibi Ferreira, depois de assistir ao espetáculo da brasileira sobre Edith Piaf, que "adoraria ser vivida por ela no teatro".
Seu último álbum, lançado em 1997, o qual reunia
gravações inéditas feitas entre 1965 e 1975, e o lançamento de um livro de poesias, "Versos", marcaram as últimas manifestações
de Amália no cenário artístico. A fadista foi homenageada na Expo'98, realizada em Lisboa, como "símbolo maior da música portuguesa".
Após seu falecimento, em 1999, seus restos foram transladados para o Panteão Nacional, onde os portugueses celebram suas mais
importantes personalidades.
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